1 ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA Delegação Portuguesa à Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa Bureau Subcomissão do Médio Oriente Comissão dos Assuntos Políticos Comissão de Acompanhamento das Obrigações dos Estados-Membros (Paris, 11 a 15 de Dezembro de 2011) Relatório do Deputado João Bosco Mota Amaral 2 ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA RELATÓRIO 1. Participei, em Paris, em trabalhos da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa, na semana que começou em 12 de Dezembro corrente. 2. No Domingo 11, representei o Presidente do Grupo Político do PPE na reunião do Comité de Presidentes preparatória da reunião do Bureau. 3. A reunião do Bureau teve lugar no dia 12. O primeiro tema controverso foi a eleição do Secretário-Geral-Adjunto. O actual Secretário-Geral propõe uma nova descrição de funções e uma alteração do mandato do novo titular, que seria, por esta vez, reduzido de cinco para três anos. Futuramente, o SGA seria eleito um ano depois do SG, o que alargaria a sua capacidade de escolha do titular. Não encontrando razões de fundo para alterar as regras existentes, que separam claramente os mandatos do SG e do SGA, manifestei-me contra a alteração do prazo do mandato. Em anterior reunião do Grupo Político do PPE manifestei-me também contra uma proposta do SG para prorrogar o mandato da actual SGA, que vai já completar 10 anos no cargo… A decisão do Bureau foi de 14 contra 2 em favor das pretensões do SG. 4. A agenda da reunião de Janeiro foi aprovada. Ficou em aberto a escolha dos temas para debates de urgência, tendo sido mencionados os seguintes: crise económica na Europa; eleições na Rússia e acusações de fraude e manifestações populares; prisão da ex-PM da Ucrânia. 5. O Bureau deliberou enviar missões pós-eleitorais à Tunísia e à Rússia. No primeiro caso, ter-se-á em vista o estabelecimento de uma futura relação de parceria para a democracia com o Parlamento tunisino. 6. Diversos membros do Bureau manifestaram o seu descontentamento pelo facto de o Comité de Ministros não ter incluído na lista dos candidatos a Comissário dos Direitos Humanos da Assembleia Parlamentar personalidade prestigiada oriunda da própria Assembleia. É já a segunda vez que tal acontece. 7. Na terça-feira teve lugar a reunião da Subcomissão do Médio Oriente. Estiveram persentes delegações de Israel, Palestina, Egipto e Líbia, o que proporcionou uma interessante troca de impressões acerca da situação política nesses países. Sobre o Egipto, interroguei acerca da futura influência dos militares e o livre acesso dos partidos políticos aos media, em especial a TV, tendo recebido respostas pouco precisas. Dirigi 3 ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA à delegação israelita felicitações pela libertação do jovem soldado Shalit, a qual em diversas ocasiões eu próprio, em reuniões deste tipo, tinha reclamado. À delegação líbia perguntei pela data esperada para eleições livres e pela finalidade das mesmas: assembleia constituinte, caso da Tunísia ou parlamento, caso do Egipto. Foi-me respondido que as eleições serão em Junho de 2012, para uma assembleia constituinte. A declaração de um ministro do governo transitório aludindo à aplicação da sharia, foi contestada em grandes manifestações de mulheres. 8. A reunião da Comissão dos Assuntos Políticos realizou-se na quartafeira, 14. O primeiro tema abordado foi a adopção de medidas para melhorar o carácter democrático das eleições nos países membros do Conselho da Europa. Um painel de académicos e altos responsáveis de organizações ligadas à fiscalização de processos de eleições apresentou reflexões sobre a matéria, à qual se seguiu debate. Interpelei os membros do painel sobre a obrigatoriedade de estar inscrito nos cadernos eleitorais e a liberdade de escolher ser ou não cidadão activo na sociedade; e sobre o financiamento das campanhas, público exclusivamente ou também privado. O Prof. Colliard, Presidente da Universidade da Sorbonne, que me deu a resposta, manifestou-se a favor do recenseamento automático e em favor da abertura ao financiamento privado das campanhas por cidadãos individuais, com expressa exclusão das empresas. 9. A propósito do relatório sobre a Parceria Ocidental da UE — que pretende estreitar a cooperação com os países pós-soviéticos — chamei a atenção para o facto de o Memorando de Entendimento não ser aplicado pelas instituições da UE, que sistematicamente ignoram o trabalho e os critérios do Conselho da Europa em termos de valores democráticos, duplicando trabalho, já feito, com desperdício de dinheiros públicos. Sugeri um aditamento urgindo o Secretário-Geral para tomar as medidas adequadas à efectiva aplicação do Memorando de Entendimento pela outra parte, o qual foi rejeitado por uma diferença escassa de votos. 10. No debate geral falei da evolução da situação pós-eleitoral na Rússia, que parece estar a agravar-se num sentido não democrático. Aludi também a factos preocupantes verificados em alguns países da Europa de Leste (Hungria, Roménia), que parece estarem a fazer uma evolução oposta às dos países da costa sul do Mediterrâneo, entusiasmados estes últimos em implantar e fortalecer instituições democráticas. 11. A Comissão aprovou propostas a submeter à Assembleia, designadamente uma, mantendo as posições que isolam o regime 4 ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA autoritário da Bielorrússia e outra contendo orientações sobre o acompanhamento da evolução política nos países árabes que obtiverem o estatuto de parceiro para a democracia. 12. A Comissão de Acompanhamento do Cumprimento das Obrigações dos Estados-Membros reuniu na quinta-feira, 15. Foram aprovados os relatórios referentes aos procedimentos em curso relativamente aos seguintes países: Sérvia, Bósnia-Herzegovina e Ucrânia. A Comissão propõe que os procedimentos sejam mantidos abertos, reconhecendo embora alguns progressos verificados em certos casos (Sérvia) e também a aparente falta de vontade noutros (Bósnia-Herzegovina e Ucrânia) para cumprir os compromissos assumidos ao tempo da adesão desses países ao Conselho da Europa. 13. Sobre a situação na Rússia após as eleições, alertei para a necessidade de se acompanhar o evoluir dos acontecimentos, que tem vindo a acelerar. As manifestações populares podem engrossar até à eleição presidencial. A liderança russa exagerou no exercício de troca de cadeiras no topo, pelos vistos rejeitada em certas faixas da população. Eleições livres e justas são a base da democracia. Se num país- membro do Conselho da Europa se verifica uma situação chocante de fraude eleitoral, a Assembleia Parlamentar não pode ficar indiferente. Por seu lado, o Parlamento Europeu reclamou já novas eleições, com a participação de todos os partidos, incluindo os que foram impedidos de concorrer pelo regime, que evolui assim numa linha de autoritarismo evidente. 14. Estava agendada uma troca de impressões sobre a situação no Azerbeijão e na Geórgia. Não pude, porém, participar na reunião da parte da tarde, porque antecipei o regresso a Portugal devido a previsão de forte tempestade em toda a França para sexta-feira, 16. Lisboa, 16 de Dezembro de 2011