FACULDADE DE PARÁ DE MINAS Curso de Letras Patrícia da Silva Lacerda AS ESTRATÉGIAS DE LEITURA NA ESCOLA QUE FAVORECEM A FORMAÇÃO DE LEITORES COMPETENTES Pará de Minas 2013 1 Patrícia da Silva Lacerda AS ESTRATÉGIAS DE LEITURA NA ESCOLA QUE FAVORECEM A FORMAÇÃO DE LEITORES COMPETENTES Monografia apresentada à Coordenação de Letras da Faculdade de Pará de Minas como requisito parcial para a conclusão do curso de Letras. Orientadora: Prof. Ma. Renata Teixeira da Silva. Pará de Minas 2013 2 Patrícia da Silva Lacerda AS ESTRATÉGIAS DE LEITURA NA ESCOLA QUE FAVORECEM A FORMAÇÃO DE LEITORES COMPETENTES Monografia apresentada à Coordenação de Letras da Faculdade de Pará de Minas como requisito parcial para a conclusão do curso de Letras. Aprovada em: _____/_____/_____ __________________________ _______________ Prof. Ma. Renata Teixeira da Silva __________________________ _______________ Prof. Ma. Cristina Mara França Pinto 3 Dedico família. este trabalho à minha 4 Agradeço a Deus, pois sem ele nada seria possível. Aos professores que exerceram a profissão com ética e sabedoria, em especial a minha ori entadora Renata Teixeira, por sua atenção durante o desenvolvimento deste. A todos os meus amigos, em especial Lécia Freitas, Vicente de Paula e Estefânia Lisboa por todos os momentos preciosos caminhada. vivenciados durante esta 5 “Bem longe de serem escritores, fundadores de um lugar próprio, herdeiros dos lavradores de antanho – mas, sobre o solo da linguagem, cavadores de poços e construtores de casas –, os leitores são viajantes; eles circulam sobre as terras de outrem, caçam, furtivamente, como nômades através de campos que não escreveram, arrebatam os bens do Egito para com eles se regalar ”. Michel Certeau 6 RESUMO O presente trabalho consiste numa pesquisa orientada pelo estudo das habilidades e estratégias de leitura cognitivas e metacognitivas, uma vez que essas, aplicadas em sala de aula, funcionam como alicerce no processo de aquisição da leitura , segundo os pressupostos teóricos de autores renomados no tema em questão. Dessa maneira, temos como objetivo expor formas de se alcançar a formação de leitores competentes, críticos e reflexivos , capazes de se sobressaírem na sociedade letrada. A pesquisa foi realizada com turmas do 6° ao 9° ano do Ensino Fundamental da Escola Estadual “Ademar de Melo”, com o intuito de observar as estratégias de leitura utilizadas pelos alunos, além de procurar inferir se eles podem ser considerados leitores competentes. Para a coleta de dados, utilizamos questionários, distribuídos para os docentes de Língua Portuguesa das turmas acima indicadas. Por meio deste estudo, propomos uma prática pedagógica dirigida para a formação de alunos proficientes na leitura. Palavras-chave: Estratégias de leitura. Leitores competentes. Habilidades. 7 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO.................................................................................................... 08 2 PERSPECTIVAS TEÓRICAS .............................................................. ............... 2.1 Definição de Leitura ............................................................ ........................... 2.2 Breve histórico da leitura no Brasil .................................................... .......... 2.3 O ensino da leitura..................................................................... ................. 2.3.1 As fases da leitura no ensino fundamental .................................................... 2.3.2 O que é um leitor competente? ................................... .................................. 2.3.3 A leitura nos Parâmetros Curriculares Na cionais (PCNs)............................. 2.4 O papel da escola na formação de leitores competentes .......................... 2.5 Estratégias envolvidas na formação de leitores competentes.................. 12 12 15 16 17 19 20 22 25 3 METODOLOGIA.................................................................................................. 3.1 Procedimentos metodológicos ..................................................................... 3.2 Caracterização da escola pesquisada .......................................................... 3.3 A pesquisa............................................................................................ ........... 3.4 Resultados..................................................................................... ................. 30 30 30 31 31 4 CONCLUSÃO...................................................................................................... 38 REFERÊNCIAS...................................................................................................... 40 APÊNDICE............................................................................................................. 42 8 1 INTRODUÇÃO Atualmente, encontramo -nos em uma sociedade capitalista, em que o mercado de trabalho se mostra cada vez mais seletivo, buscando indivíduos qualificados, aptos a desempenhar em diversas funções. Dessa maneira, destacamos a necessidade de formar cidadãos críticos e reflexivos, fluentes tanto na oralidade quanto na escrita – função atribuída à escola. Tais h abilidades podem ser alcançadas através da leitura, uma vez que dessa desenvoltura dependem diversas outras competências a serem empregadas para a compreensão de todos os conteúdos curriculares. Sendo assim, torna -se essencial explorar a leitura na sala de aula. Diante desse contexto, quais as estratégias seriam relevantes e necessárias para que os alunos se tornem proficientes no processo de leitura? Que habilidades estratégicas os bons leitores utilizam? O presente trabalho tem como foco pesquisar as est ratégias cognitivas e metacognitivas, relacionadas à aquisição e estímulo da leitura, visando absorver conhecimentos teóricos, fundamentados por autores renomados no tema, a fim de expor uma prática pedagógica que seja capaz de promover a formação de leitores proficientes. Além disso, pretende mos investigar o papel da escola no que diz respeito à proficiência dos cidadãos para o ato de ler e a inserção deles em uma cultura letrada, bem como investigar quais habilidades e/ou estratégias os bons leitores utilizam. Portanto, o estudo se mostra bastante pertinente como mecanismo de exposição de boas práticas que estejam sendo implementadas quanto à formação do leitor competente, sendo que a divulgação dessas trará benefícios não só ao ambiente acadêmico, como também em diversos outros níveis em que possa ser empregado o conhecimento daqui extraído . É grande o número de alunos que têm apresentado dificuldades quanto à intelecção de textos. A maioria deles não está atenta à possibilidade de interromper a leitura e fazer uma análise do fragmento lido, tampouco de inferir sentido de vocábulos desconhecidos através do contexto. Conforme Corso (2012 , p. 44), os leitores que encontram mais dificuldades não percebem a possibilidade de parar a leitura e avaliar a própri a compreensão; têm dificuldade de resumir um texto, pois não sabem que informação selecionar; não usam o 9 contexto para descobrir o significado de palavras novas; acreditam que a ideia principal do parágraf o é a primeira frase e que resum ir é descrever tudo o que é possível lembrar da história. As estratégias de aprendizagem de leitura, quando aplicadas na sala de aula, funcionam como alicerce no processo de aquisição dessa, pois são elas que ajudam os alunos a apreenderem as informações do texto . Segundo Kleiman (2012, p. 74), quando falamos de estratégias de leitura, estamos falando de operações regulares para abordar o texto. Essas estratégias podem ser inferidas a partir da compreensão do texto, que por sua vez é inferida a partir do comportamento verbal e não verbal do leitor, isto é, do tipo de respostas que ele dá a perguntas sobre o texto, dos resumos que ele faz, de suas paráfrases, como também da maneira como ele manipula o objeto: se sublinha, se apenas folheia sem se deter em parte alguma, se pa ssa os olhos rapidamente e espera a próxima atividade começar, se relê. Podemos classificar as estratégias dos leitores como: Estratégias Cognitivas e Estratégias Metacognitivas. Segundo Kleiman (2012 , p. 74-75), As Estratégias Metacognitivas seriam aque las operações (não regras), realizadas com algum objetivo em mente, sobre as quais temos controle consciente, no sentido de sermos capazes de dizer e explicar a nossa ação. As Estratégias Cognitivas da leitura seriam aquelas operações inconscientes do leitor, no sentido de não ter chegado ainda ao nível consciente, que ele realiza para atingir algum objetivo de leitura. A leitura de diversos textos é capaz de proporcionar aos indivíduos o desejo de adentrar a narrativa, seja na busca de conhecimento , ou para entretenimento. Assim, cabe ao educador utilizar esse desejo de adentrar como forma de estimular mais o ato e o hábito de ler nos educandos. Ao término da leitura, é imprescindível não nos atermos somente ao que o texto retrata, mas também ao que ele p retende dizer, ou seja, o leitor deve fazer inferências quanto à real intenção do texto, como bem pontua Larrosa (1999 , p. 142): Na leitura da lição não se busca o que o texto sabe, mas o que o texto pensa, ou seja, o que o texto leva a pensar. Por isso, depois da leitura, o importante não é o que nós sabemos do texto, o que nós pensamos do texto, mas o que – com o texto, ou contra o texto ou a partir do texto – nós sejamos capazes de pensar. 10 A leitura resulta de um longo período de escolarização, pois t al proficiência não nasce com o indivíduo, essa é constituída no decorrer do processo de alfabetização. Existem fatores que interferem diretamente na habilidade dos alunos quanto à leitura; um deles é a influência da família. Um aluno proveniente de uma família que tem o h ábito de ler, automaticamente, passará a seguir os mesmos hábitos, pois a família serve como ponto de referência. Já a família que exclui totalmente a leitura do seu cotidiano não proporciona à criança e ao adolescente o gosto pela leitura; assim, o aluno terá dificuldades em adquirir interesse em ler. Outro fator relevante se dá por meio do conceito de leitura que os alunos produzem, ou seja, a maneira como os alunos veem a leitura. A maioria dos alunos que apresentam dificuldades em le r, vê a leitura como uma obrigação a ser cumprida em sala de aula. Assim, cabe ao professor eliminar esse conceito de obrigatoriedade, fundamentando -se em conhecimentos teóricos que, aliados à prática pedagógica, despertarão nos educandos o senso crítico e o gosto pela leitura. Sabemos que o leitor proficiente está mais propício a oportunidades no mercado profissional, além de se tornar um cidadão crítico e reflexivo , capaz de exercer a própria cidadania. Segundo Brandão e Michelitti (apud CHIAPPINI, 1998, p. 22), a leitura como exercício de cidadania exige um leitor privilegiado, de aguçada criticidade, que, num movimento cooperativo, mobilizando seus conhecimentos prévios (lingüísticos, textuais e de mundo), seja capaz de preencher os vazios do texto, qu e não se limita à busca das intenções do autor, mas construa a significação global do texto percorrendo as pistas, as indicações nele colocadas. Assim sendo, a tarefa que incumbe à escola no sentido de oportunizar, promover e incentivar a leitura dos educ andos consiste em uma prática pedagógica capaz de desvelar um mundo de oportunidades de aprendizado – não apenas no âmbito acadêmico, mas como algo que o cidadão em formação utilizará em toda sua vida. Por isso, a pertinência do tema em questão. A presente pesquisa foi estruturada da seguinte maneira: no primeiro capítulo , faremos a introdução do tema, abordando os seus objetivos. No segundo capítulo , 11 exibiremos as perspectivas teóricas, sendo apresentadas as considerações de alguns autores renomados no tem a em questão. O segundo capítulo foi fracionado para que, de forma organizada, demonstremos que estudar o processo de leitura vai além de analisar o processo de decodificar palavras. Este estudo compreende: analisar o contexto da leitura no Brasil; inferir qual é o papel do educador; demonstrar as fases da leitura e os materiais apropriados para cada etapa; definir as características de um leitor competente; demonstrar o que os PCNs dispõem para os alunos no fim da educação básica; inferir o papel das inst ituições na formação de leitores proficientes e apresentar as estratégias cognitivas e metacognitivas relacionadas à formação deste tipo de leitor. No terceiro capítulo, exibiremos a metodologia, etapa em que mostraremos quais procedimentos utilizamos par a a concretização da pesquisa; a caracterização da escola; como a pesquisa foi realizada e a análise dos dados coletados. Por fim, no capítulo 4, faremos a conclusão da nossa pesquisa, comparando o que foi analisado durante o desenvolvimento do trabalho c om os resultados obtidos através dos dados coletados durante a realização da pesquisa. 12 2 PERSPECTIVAS TEÓRICAS 2.1 Definição de Leitura É uma prática comum relacionarmos a leitura com a escrita e considerarmos o leitor como decodificador de letras do a lfabeto; porém, o processo de leitura vai além de decodificar palavras. Martins (1997), ao descrever a leitura, aponta que não é somente através do ato de ler textos, livros, jornais e informativos que ela se faz. Seu conceito mostra -se tão amplo, que ocorre até mesmo durante a percepção de pessoas e objetos, no momento em que atribuímos sentidos a eles. É comum passarmos várias vezes pelas mesmas pessoas e objetos e não observarmos o que nos rodeia. Isso acontece devido à correria cotidiana em que a sociedade se encontra, mas basta acontecer algo para que tal pessoa ou objeto seja notado – por exemplo, um encontrão na rua. A partir da reação despertada no indivíduo, podemos dizer que, naquele momento, ele fez a leitura daquela pessoa. Conforme Martins (1997, p .9): de repente se descobre um sentido, não o sentido, mas apenas uma maneira de ser desse objeto que nos provocou determinada reação, um modo especial de vê-lo, enxergá-lo enfim. Podemos dizer que afinal lemos o vaso ou o cinzeiro. Tudo ocorreu talvez de modo casual, sem intenção consciente, mas porque houve uma conjunção de fatores pessoais com o momento e o lugar, com as circunstâncias. O ser humano, a partir do seu nascimento , dá início aos primeiros passos para o desenvolvimento da leitura. Ess es são percebidos através dos estímulos que a criança capta. Como exemplo: uma canção de ninar, o cheiro do peito e a luz. “Começamos assim a compreender, a dar sentido ao que e a quem nos cerca. Esses também são os primeiros passos para aprender a ler .” (MARTINS, 1997, p. 11). A todo momento, estamos produzindo leitura , mesmo que inconscientemente, porque estamos vivenciando situações cotidianas que nos levam a uma possível reflexão, seja através de conhecimentos adquiridos ou através de conflitos solucionados: quando começamos a organizar os conhecimentos adquiridos, a partir das situações que a realidade impõe e da nossa atuação nela; quando 13 começamos a estabelecer relações entre experiências e a tentar resolver os problemas que nos apresentam , aí então estamos produzindo leitura s, as quais nos habilitam basicamente a ler tudo e qualquer coisa. (MARTINS, 1997, p. 17). Para o ato de ler, configuramos três níveis básicos de leitura ; os sensoriais, emocionais e racionais. Esses aproximam-nos do objeto lido: como a leitura é dinâmica e circunstanciada, esses três níveis são inter relacionados, senão simultâneos, mesmo que sendo um ou outro privilegiado, segundo a experiência, expectativas, necessidades e interesses do leitor e das condições do contexto ger al em que se insere. (MARTINS, 1997, p. 37). Ao visitarmos um museu ou uma feira, por exemplo, estamos inseridos em um ambiente propício a despertar emoções, sensações e pensamentos . Nesse momento, estamos também produzindo leitura, uma vez que atribuímos sentidos a coisas, pessoas, espaço e tempo. Segundo Martins (1997, p. 40), “a leitura sensorial corresponde à visão, ao tato, à audição, ao olfato e ao gosto. Esses podem ser apontados como referenciais mais elementares do ato de ler ”. Iniciamos a leitura sensorial muito cedo e a perpetuamos durante toda nossa existência : embora a aparente gratuidade de seu aspecto lúdico, o jogo com e das imagens, de cores, dos materiais, dos sons, dos cheiros e dos gostos incita o prazer, a busca do que agrada e a desco berta e rejeição do desagradável aos sentidos. E através dessa leitura vamos -nos revelando também para nós mesmos. (MARTINS, 1997, p. 41). Por meio da leitura sensorial, podemos distinguir o que gostamos do que não gostamos, mesmo que inconscientemente. Nesse tipo de leitura, não temos a necessidade de raciocinar durante o ato, pois o que define o conceito de gostar ou não é o que ela pode proporcionar à primeira vista. Para entendermos a leitura s ensorial de um livro, é preciso enxergá-lo primeiramente como um objeto antes de vê-lo como um texto escrito. Segundo Martins (1997, p. 42), “o livro tem forma, cor, textura, volume e cheiro. Pode -se até ouvi-lo se folhearmos suas páginas ”. O livro como objeto, contendo formato e imagem atrativa, é capaz de despertar nas crianças a curiosidade de abr i-lo para desvendar seu mistério : 14 ... é esse jogo com o universo que , escondido num livro, vai estimulando na criança a descoberta e aprimoramento da linguagem, desenvolvendo sua capacidade de comunicação com o mundo. Surgem as primeiras escolhas: o livro com ilustrações coloridas agrada mais; se não contém, atrai menos. (MARTINS, 1997, p. 43). Conforme Martins (1997, p. 48), “a leitura emocional também tem seu teor de inferioridade: ela lida com os sentimentos, o que necessariamente implicaria falta de objetividade, subjetivismo ”. Algumas situações, pessoas, fotos, caracte res ficcionais têm a capacidade de controlar nossas emoções e até mesmo fazer -nos viajar por terrenos nunca imaginados. Têm o poder de despertar em n ós o desejo, felicidade e angústia. Uma leitura feita às pressas , com fins avaliativos, pode despertar nos leitores sentimento de angústia, pelo fato de eles sentirem que têm a obrigação de dominar o conteúdo: ... na leitura emocional emerge a empatia, t endência de sentir o que se sentiria caso estivéssemos na situação e circunstâncias experimentadas por outro, isto é, na pele de outra pessoa, ou mesmo um animal, de um objeto, de uma personagem de ficção. Caracteriza -se, pois, um processo de participação afetiva numa realidade alheia, fora de nós. (MARTINS, 1997, p. 52). Segundo Martins (1997), várias pessoas, ao assistirem televisão, lerem revistas e livros, revelam o ato de ler como distração. Isso prova o quanto os indivíduos se envolvem com o texto lido, deixando transparecer a emoção. Na leitura racional, segundo Martins (1997, p. 66), “importa, pois, salientar seu caráter eminentemente reflexivo e dialético ”. O leitor, no momento em que faz a leitura, busca a realidade do texto , relacionando-o com o seu conhecimento de mundo, ocasionando uma reflexão acerca do contexto vivido , proporcionando, assim, uma interação entre o leitor e o texto : ... já na leitura racional o leitor visa mais o texto, tem em mira a indagação; quer mais compreendê-lo, dialogar com ele. Isso nos leva a considerar a leitura racional como sendo especialmente exigente, pois a disponibilidade emocional, o processo de identificação, agora se transformam em desprendimento do leitor, em vontade de aprender um processo de criação. (MARTINS, 1997, p. 71). Através de distintas maneiras de leitura, Martins (1997, p. 22), além de definir o conceito leitura, traz considerações que o ampliam: 15 se o conceito de leitura está geralmente restrito à decifração da escrita, sua aprendizagem, no entanto, liga-se por tradição ao processo de formação global do indivíduo, à sua capacitação para o convívio e atuação social, política, econômica e cultural. Segundo a autora, deve existir uma interação entre os níveis de leitura , considerando a importância deles no processo de formação dos leitores, pois estão interrelacionados. 2.2 Breve histórico da leitura no Brasil Analisando o contexto da leitura no Brasil, podemos constatar sua relevância desde o descobrimento até a atualidade. A história inicia -se em 22 de abril em 1500, com a chegada de Pedro Álvares Cabral em nossa terra. Segundo Cunha e Souza Filho (2013), o ato de ler pertencia a poucos e sua abrangência era limitada aos portugueses, senhores de engenhos, nobreza, jesuítas e ao clero. Dessa maneira, não era concedido às demais pessoas do Brasil -Colônia a oportunidade de ler e escrever. Na época, existiam poucos materiais disponíveis para leitura , constituindo-se em textos autobiografados, depoimentos de viajantes, cartas de familiares e alguns documentos registrados em cartório. Até por volta do século XIX, podemos dizer que não existiam livros, somente relatos, cartas, textos bíblicos e alguns documentos. As poucas escolas existentes na época utilizavam esses materiais citados acima como fonte para leitura. Durante o processo de colonização, as aulas eram ministradas nos engenhos e nas fazendas. Aos escravos não era concedido o direito de estudar ; quanto às mulheres, o estudo era permitido superficialmente, com o propósito de educá -las, a fim dos afazeres domésticos. Em 1800 , o Brasil começou a desenvolver -se bem vagarosamente: ... de 1800 a 1807 o Brasil mudou pouco em vários setores e, no ensino, nós continuávamos a trabalhar com a gramática de Reis Lobato, imposta por D. José I, rei de Portugal, que a exigiu não só na metrópole, mas em todas as suas colônias. A partir de 1808, começaram mudanças que se tornaram continuas até praticamente o fim do século... Com a vinda da família real para o Brasil e a abertura dos portos, ocorreram transforma ções significativas nas relações sociais econômicas e culturais, surgindo a necessidade da instrução para a capacitação da força de trabalho, pois o mundo passava por transformações. (SOUZA; CUNHA apud BASTOS, 1982, p. 92). 16 A partir de 1808, o país passou por transformações imprescindíveis para o desenvolvimento da sociedade. O poder da elite e do clero, com o passar do tempo , mostrou-se cada vez menor. No período do Romantismo, os jornais publicavam narrativas de ficção, cujo desfecho estava disponível tod a semana. Assim, o hábito pela leitura dos romances foi ganhando proporções maiores, aumentando o p úblico feminino. No final do século XVIII e no início do século XIX , a leitura começou a ganhar destaque. Nas residências das elites , havia um espaço reservado para leitura e para os livros: Certas casas mineiras e cariocas contavam com tinteiros, papeleiras, estantes – algumas com livros simulados – conservando penas de escrever, até para vendê-las, sem, contudo possuírem livros. Em outras, por sua vez, havia estantes e livros, acrescendo -se, em alguns casos, tinteiros e mapas. (VILLALTA 1997, p. 376). Dessa maneira, lentamente, a prática individual do ato de ler foi se configurando, permitindo, assim, o desenvolvimento da leitura . 2.3 O ensino da leitura Barbosa (1990) em sua obra “Alfabetização e Leitura” , aborda o processo de leitura e alfabetização. Com essas temáticas , o autor torna a nossa pesquisa ainda mais enriquecedora. Durante um período extenso, a aprendizagem foi vista como um processo imediato e direto, sendo necessário s, para seu desenvolvimento , somente os órgãos de sentido. No ensino da leitura, a visão constituída demonstrava que , para a leitura acontecer, bastava o docente apresentar uma palavra escrita, para que o aluno reproduzisse o estímulo a ela. Dessa maneira , o processo de aprendizagem era visto como um ato de repetição, um treinamento particular do aluno. Conforme Barbosa (1994, p. 128): Dentro dessa visão, para aprender a ler e escrever, a criança deveria incorporar um objeto exte rior – a língua escrita –, utilizando, para isso, os órgãos da percepção: para a forma da letra, os olhos; para o som da letra, os ouvidos. 17 Nos dias atuais, por meio de diversas pesquisas acerca sobre o tema, essa visão foi transformada: A percepção não se restringe ao registro passivo de estímulos exteriores, mas resulta de uma organização da estrutura do conhecimento, diante de um novo estímulo: é o cérebro que comanda os olhos e ouvidos na apreensão do mundo exterior. Isto quer dizer que a percepção é uma aprendizagem que depende das experiências anteriores do aprendiz. (BARBOSA,1994, p. 128). O papel do educador, diante o processo de aprendizagem dos educandos, não sintetiza-se somente em transmitir conhecimento, mas consiste também na função de produzir situações significativas, para que eles se tornem capazes de apropriar esse conhecimento ou essa prática. Segundo Barbosa, (1994, p. 129) “nesse sentido, não se ensina a criança a ler: ela aprende sozinha. Ao professor compete ajudá -la a conquistar esse comportamento”. 2.3.1 As fases da leitura no ensino fundamental Para alunos do ensino fundamental , constituem-se em cinco as fases de leitura. Segundo Zilberman (1993, p. 94), a primeira consiste na Pré-leitura estende-se dos três aos seis anos de i dades, período em que a criança freqüenta a pré- escola, desenvolvendo capacidades e habilidades que a tornarão apta à aprendizagem da leitura . Conforme Zilberman (1993), a literatura infantil auxiliará as crianças a captar em o mundo e a dominarem a linguagem. Sendo assim, os livros voltados para essa fase devem ser constituídos de mais gravuras e rimas e menos textos. A segunda fase compreende -se na leitura compreensiva : A partir dos seis anos de idade, a criança vive o processo de alfabetização. É um momento bastante compensador, na medida em que o aluno vai vivendo gradativamente as dificuldades do código escrito e começa a realizar uma leitura silábica e de palavras. Seu grande interesse é a leitura enquanto processo e domínio do texto em nível de compreensão. (ZILBERMAN, 1993, p, 94). 18 Nessa idade, o reino das crianças resulta -se na imaginação; ao mesmo tempo em que elas trabalham com a imaginação, adquirem conceitos de tempo, causa e espaço: Os livros para essa faixa retratam o universo infantil em t ermos de suas relações com os adultos, suas dificuldades na manipulação de situações novas de independência, seus problemas (lentidão, necessidade de usar óculos, o primeiro dia de aula, etc.) . (ZILBERMAN, 1993, p. 96). A terceira fase representa a leitur a interpretativa. Conforme Zilberman (1993, p. 98) “o estágio da leitura interpretativa, dos oito aos onze anos, é aquele em que a criança adquire fluência no ato de ler e evolui da simples compreensão imediata à interpretação das ideias do texto ”. Nessa fase, as crianças, através do imaginário, apreendem mais o real. Elas utilizam as situações mágicas para resolver conflitos existentes em seu mundo. Segundo Zilberman (1993), os livros infantis para essa fase devem ser voltados para estórias de contos de fa das tradicionais. Eles devem possuir textos curtos e ilustrações. A quarta fase constitui o desenvolvimento das habilidades críticas . Segundo Zilberman (1993, p. 101) “estende-se dos onze aos treze e corresponde ao início do estágio de desenvolvimento ”. Nessa fase, o leitor interpreta o texto e posiciona -se sobre ele, atribuindo valores. Assim, conforme Zilberman (1993), os livros mais indicados para essa faixa etária são textos extensos e complexos ricos em aventuras , englobando fantasia e realidade. A última fase corresponde à leitura crítica. Segundo Zilberman (1993, p. 103104): ... período que vai dos treze aos quinze anos, atingindo, portanto a adolescência. (...) os livros devem conter aventuras mais intelectuais, temas sociais e psicológicos, narrat ivas de viagens, biografias, História do Brasil, abrindo espaço para a literatura adulta (poesias, contos, crônicas, romance) que venha interessar ao jovem leitor. Nessa fase, o adolescente questiona s obre os problemas da sociedade , ao mesmo tempo em que indaga sobre o seu papel na comunidade adulta. O conhecimento das fases de leitura é estudado em nosso trabalho a fim de enriquecer o conhecimento dos docentes para que seja possível produzir pr áticas pedagógicas adequadas para cada faixa etária, visando ao desenvolvimento pelo gosto da leitura e contribuindo para a formação de leitores críticos. 19 2.3.2 O que é um leitor competente? Atualmente, para a formação de leitores competentes, devemos considerar o papel do educador para que ess a se cumpra. Sendo assim, o docente tem a função de ensinar os educandos a aprender a ler, usufruir da leitura e a ler para aprender. Segundo Solé (apud PISA, 2013, p. 1): a competência leitora consiste na compreensão e no emprego de textos escritos e na reflexão pessoal a par tir deles, com a finalidade de atingir as metas próprias, desenvolver o conhecimento e o potencial pessoal e participar na sociedade. A leitura está sempre presente em nosso cotidiano. A todo o momento , deparamos-nos com cartazes, livros, jornais, revist as e afins. Dessa maneira, torna -se essencial que todos os cidadãos tenham o letramento necessário para o ato de ler, pois esse nos possibilita acumular conhecimento e adquirir novos, durante nossa existência. Conforme Valle (2013 , p. 3): Deparamos-nos, no dia-a-dia escolar, com alunos que não gostam de ler ou que dizem não entender o que leram, ou ainda, que apenas conseguem indicar informações presentes no texto ; não é este o letramento necessário para o exercício da cidadania e para o combate aos desafi os da vida. Formar leitores competentes que gostem de ler, que leiam para estudar e adquirir conhecimentos ou para obter informações para as mais diversas finalidades é formar as bases para que as pessoas continuem a aprender durante a vida toda. Um leitor proficiente representa um indivíduo que sabe o que está lendo e para qual finalidade está lendo. Ele é capaz de perceber quando o texto deixa de produzir significados e passa a policiar sua leitura. Sabe como posicionar-se diante de situações problemáticas. Conforme Valle (2013, p. 6), um leitor competente representa: alguém que compreenda o que lê, que possa aprender a ler também o que não está escrito, identificando elementos implícitos, que estabeleça relações entre o texto que se lê e outros também já lidos, que saiba que vários sentidos podem ser atribuídos a um texto, que consiga justificar e validar a sua leitura a partir da localização de elementos discursivos. 20 A percepção diante de um texto mostra -se diferente para cada leitor, pois não reagimos da mesma forma perante a leitura do mesmo; podemos ler um quadro e perceber alguns detalhes que talvez outras pessoas não notariam. O cérebro controla o nosso processo de leitura, durante o qual é possível perceber que existem textos que lemos mais rapidamente e outros que lemos vagarosamente. O espaço de tempo entre as fixações de trechos demonstra a nossa dificuldade perante o texto. Como aponta Kleiman (2010 , p. 37): o movimento sacádico permite a leitura muito rápida (que não tem nada a ver com a chamada leitura dinâmica). Lemos 200 palavras por minuto quando o material for fácil, mas devagar quando o material for complexo. Os olhos se movimentam mais rapidamente do que a voz consegue pronunciar . Podemos perceber a dificuldade do texto, quando , num movimento progressivo, nossos olhos vão para frente e quando vão para trás , num movimento regressivo. Segundo Kleiman (2010, p. 76): o leitor experiente tem duas características básicas que tornam a sua leitura uma atividade consciente, reflexiva e intenc ional: primeiro, ele lê porque tem algum objetivo em mente, isto é, sua leitura é realizada sabendo para que está lendo, e, segundo, ele compreende o que lê, o que seus olhos percebem seletivamente é interpretado, recorrendo a diversos procedimentos para tornar o texto inteligível quando não consegue compreender. Sendo assim, o leitor competente é capaz de voltar em trechos complexos fazendo a releitura quando não compreende o assunto lido, ou seja, o próprio leitor tem o controle do seu processo de compr eensão do texto. 2.3.3 A leitura nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) Através da Lei de Diretrizes e Bases (LDB) n°9394/96, os Parâmetros Curriculares Nacionais foram criados e publicados pelo Ministério da Educação e Cultura em 1997. Segundo seu próprio texto, os PCNs foram desenvolvidos, a fim de direcionar os docentes, durante a elaboração do currículo, tornando -se assim, diretrizes para a construção de práticas pedagógicas e, dessa maneira, contribuindo para a formação de cidadãos críticos e r eflexivos: Nesse sentido, o propósito do Ministério da Educação e do Desporto, ao consolidar os Parâmetros, é apontar metas de qualidade que ajudem o aluno 21 a enfrentar o mundo atual como cidadão participativo, reflexivo e autônomo, conhecedor de seus direitos e deveres. (BRASIL,1997, p. 4). Conforme os PCNs, a disciplina de Língua Portuguesa tem como principal objetivo desenvolver a linguagem dos educandos. Nesse papel, destacamos o aprendizado da leitura. A leitura torna-se imprescindível, pois é atravé s dela que conseguimos nossa atuação social e política na sociedade letrada. Durante a leitura, utilizamos diversas estratégias, que nos possibilitam processar um texto, empregando o conhecimento prévio, linguístico, enciclopédico. Além disso, empregamos t ambém o conhecimento de mundo. Nesse momento, o texto torna -se referência para atribuições de sentido por parte do leitor, que deixa de ser agente e passa a ser paciente, pois utilizou os conhecimentos citados anteriormente. Um texto poderá ter vários sent idos, para distintos leitores, ou poderá ter sentido diferente para um mesmo leitor. Esse fato acontece porque , durante nossa vivência, acumulamos experiências diversas em nossas memórias, aumentando nossa bagagem de conhecimento. Durante o ato de ler, o l eitor relaciona seu conhecimento prévio e de mundo com o texto, tornando-se capaz de atribuir sentidos diferentes ao mesmo texto, dependendo da época em que fizer a leitura. Segundo os PCNs, os leitores são constituídos nos 3° e 4° ciclos, e as expectativas são de que, ao término da educação básica , o aluno: a) saiba selecionar textos segundo seu interesse e necessidade; b) leia, de maneira autônoma, textos de gêneros e temas com os quais tenha construído familiaridade (...); c) delimitando um problema levantado durante a leitura e localizando as fontes de informação pertinentes para resolvê -lo ( ...). (BRASIL, 1998, p. 4951). Para a leitura, torna-se necessário, de acordo com os PCNs: - explicitação de expectativas quanto à forma e ao conteúdo do text o em função das características do gênero, do suporte, do autor etc.; - seleção de procedimentos de leitura em função dos diferentes objetivos e interesses do sujeito (estudo, formação pessoal, entretenimento, realização de tarefa) e das características do gênero e suporte ( ...) - articulação entre conhecimentos prévios e informações textuais, inclusive as que dependem de pressuposições e inferências (semânticas, pragmáticas) autorizadas pelo texto, para dar conta de ambigüidades, ironias e expressões figuradas, opiniões e valores implícitos, bem como das intenções do autor; 22 - estabelecimento de relações entre os diversos segmentos do próprio texto, entre o texto e outros textos diretamente implicados pelo primeiro, a partir de informações adicionais oferecidas pelo professor ou conseqüentes da história de leitura do sujeito; - articulação dos enunciados , estabelecendo a progressão temática, em função das características das seqüências predominantes (narrativa, descritiva, expositiva, argumentativa e co nversacional) e de suas especificidades no interior do gênero; - estabelecimento da progressão temática em função das marcas de segmentação textual, tais como: mudança de capítulo ou de parágrafo, títulos e subtítulos, para textos em prosa; colocação em e strofes e versos, para textos em versos; - estabelecimento das relações necessárias entre o texto e outros textos e recursos de natureza suplementar que o acompanham (gráficos, tabelas, desenhos, fotos, boxes) no processo de compreensão e interpretação do texto; - levantamento e análise de indicadores lingüísticos e extralingüísticos presentes no texto para identificar as várias vozes do discurso e o ponto de vista que determina o tratamento dado ao conteúdo, com a finalidade de (...) - reconhecimento dos diferentes recursos expressivos utilizados na produção de um texto e seu papel no estabelecimento do estilo do próprio texto ou de seu autor (...). (BRASIL, 1998, p. 49-51). Sendo assim, é preciso propormos para a escola e educadores a tarefa de avaliar e reavaliar as práticas pedagógicas aplicadas, a fim de desenvolver um trabalho inovador, empregando as estratégias de leitura, visando alcançar a formação de leitores proficientes. 2.4 O papel da escola na formação de leitores competentes Sobre a instituição de ensino recai a função de ensinar os educandos a ler ; porém, a escola tem desempenhado essa função de maneira automática e estática : ... dota a crianças do instrumento necessário e automatiza seu uso, através de exercícios, que ocupam o primeiro – mas dificilmente o segundo – ano do primeiro grau. Ler confunde -se, pois, com a aquisição de um hábito e tem como consequência o acesso a um patamar do qual não mais se consegue regredir; porém, a ação implícita no verbo em causa não torna nítido seu objeto direto: ler, mas ler o quê? (ZILBERMAN,1993. p. 17) . A escola, desde o século XVIII, passa por transformações relevantes, pelo fato de ser uma instituição de ensino que participa do desenvolvimento dos indivíduos, desde a infância, juventude até a fase adulta: as afinidades entre escola e leitura se mostram a partir da circunstância de que é por intermédio da ação da primeira que o indivíduo se habi lita à segunda. Concebendo-se a alfabetização como um direito do homem, o que justifica sua franca expansão entre os diferentes povos e civilizações do 23 planeta, ela não se concretiza sem o concurso do aparelho escolar, de modo que este se equipa e se estrutura , para atingir aquela meta com eficácia. (ZILBERMAN,1993, p. 11). A instituição tem o papel de in termediar a cultura às crianças. Como mecanismo facilitador, destacamos a leitura, pois ela funciona como porta de entrada para o conhecimento. A leitura feita pelos alunos não deve se limitar a textos d e livros didáticos, pois tal atividade não garantirá as proficiências dos educandos. A autora propõe que os alunos tenham contato com outros tipos de livros, como por exemplo os literários, pois, por meio desses, eles podem ampliar seus limites, através da ficção: o livro didático exclui a interpretação e, com isso, exila o leitor. Propondo-se como auto-suficiente, simboliza uma autoridade em tudo contrária à natureza da obra de ficção que, mesmo na sua autonomi a, não sobrevive sem o diálogo que mantém com seu destinatário.(ZILBERMAN, 1993, p. 21). As crianças, antes mesmo de aprenderem a ler, devem ter contato com a leitura e descobrir o prazer que ela proporciona. Tais afirmações remetem à importância do ambiente familiar na formação do hábito de ler. Mas, embora a atuação dos pais seja fundamental, é par a o professor que convergem as maiores expectativas. (ZILBERMAN, 1993. p. 86). Segundo Zilberman (1993, p. 86), o primeiro passo que a escola deve seguir para alcançar um bom desempenho , durante a aprendizagem da leitura, corresponde à seleção do material. Para isso, alguns critérios devem ser pontuados . O primeiro deles é a finalidade da leitura: “As atividades de leitura em sala de aula atendem a dois objetivos básicos: informação e recreação ”. O segundo critério corresponde à qualidade do material: “A qualidade do material é fator decisivo para a eficácia do trabalho com a literatura infanto -juvenil na escola”. O terceiro e último critério é o interesse dos alunos conforme Zilberman (1993, p. 90),: “O interesse pela leitura é, assim, uma atitude favoráve l em relação ao texto, gerada por uma necessidade, que provoca a ação de ler.” Podemos promover algumas ações pedagógicas com o propósito demonstrar aos alunos a relevância de se fazer uma leitura com um objetivo : 24 Em primeiro lugar, o objetivo, que não pr ecisa ser altamente especificado, determina escolhas pessoais, daí que todo programa de leitura deva ter um componente livre, em que o aluno vai à biblioteca da escola e lê o que quiser, sem cobrança de nenhuma espécie. Em segundo lugar, o leitor proficien te faz escolhas baseando-se em predições quanto ao conteúdo do livro. ( KLEIMAN, 2012, p. 77). Segundo Kleiman (2012), a criança, ao fazer a leitura de um texto ou livro sem nenhum objetivo, pode ter falhas na interpretação e não detectá -las; assim, as chances de ativar as estratégias metacognitivas ficam restritas. A escola pode estabelecer uma leitura com o propósito de desenvolver essas estratégias nos alunos : O professor criativo e experiente poderá utilizar -se do conhecimento que tem a criança e da situação de aprendizagem para, a partir delas, propor atividades significativas que levem a criança a utilizar e desenvolver toda sua capacidade cognitiva e metacognitiva. (KLEIMAN, 2012, p. 138). Durante a leitura em sala de aula, o docente pode optar por trabalhar com assuntos da atualidade, ou seja, temas que estão inseridos no cotidiano dos alunos, para que eles possam fazer predições a partir de seu conhecimento de mundo : ... fazer predições baseadas no conhecimento prévio, isto é, adivinhar, informados pelo conhecimento (procedimento que chamamos de formulação de hipótese de leitura), constitui um procedimento eficaz de abordagem do texto desde os primeiros momentos de formação do leitor até estágios mais avançados, e tem o intuito de construir a autoc onfiança do aluno em suas estratégias para resolver problemas na leitura. (K LEIMAN, 2012, p. 84). O docente, durante a leitura, deverá servir de orientador dos alunos, pois ele detém o conhecimento sobre o texto, o que o possibilitará usar predições que servirão de pistas para que os educandos conquistem as suas próprias predições. Segundo Barbosa (2008), a escola, antes de impor às crianças os critérios iniciais para o aprendizado da leitura , deve proporcionar a elas situações significativas: Antes de obrigar a criança a observar, analisar ou escrever sílabas, palavras ou frases, é indispensável que a escola lhe proporcione oportunidades de utilizar a escrita em contextos significativos ; que estabeleça uma estreita familiarização com todos os suportes mat eriais da escrita: livros, jornais, prospectos, cartazes etc.; que permita à criança observar, explorar, questionar, experimentar os vários usos da escrita no mundo em que vive; que promova, ao mesmo tempo, a leitura constante de histórias infantis, álbuns ilustrados, revistas em quadrinhos, jornais etc. (BARBOSA, 2008, p . 128). 25 Dessa maneira, a escola contribui para a formação de leitores reflexivos e competentes, pois proporciona aos alunos a oportunidade de ter em contato com distintos suportes textuais , uma vez que alguns podem não ter acesso a esses em seu meio social e familiar. 2.5 Estratégias envolvidas na formação de leitores competentes Através dessa pesquisa, temos como proposta enriquecer o conhecimento dos docentes, para que seja possível al cançar a formação de leitores proficientes, capazes de argumentar, questionar e demonstrar seu ponto de vista na sociedade letrada. A escritora Kleiman (2010, p. 7), ao descrever teoria e prática , retrata a pertinência do desenvolvimento da leitura no âmb ito escolar, papel este que recai sobre as diversas disciplinas : Alarmam-se os professores de Ciências, História e Geografia pelo fato de seus alunos não lerem, e, entanto, nada fazem para remediar essa situação. A palavra escrita é patrimônio da cultura letrada, e todo professor é, em princípio, representante dessa cultura. Segundo Kleiman (2012, p. 74), “quando falamos de Estratégias de Leitura, estamos falando de operações regulares para abordar o texto ”. Essas podem ser inferidas através da maneira co mo o leitor comporta-se mediante a leitura de um texto, conforme salienta Kleiman (2012, p. 74): “se sublinha, se apenas folheia sem se deter de parte alguma, se passa os olhos rapidamente e espera a próxima atividade começar, se relê”. A autora demonstra também o quanto torna -se relevante a utilização de Estratégias de Leitura, uma vez que as mesmas estratégias poderão ser utilizadas durante a leitura de textos distintos : Levando em conta as considerações sobre a leitura enquanto ato individual, uma questão bastante pertinente em relação ao ensino de leitura diz respeito à viabilidade desse ensino. Em outras palavras, não seriam as tentativas de ensino da leitura incoerentes com a natureza da atividade ? De fato, essa tentativa seria incoerente se o ensino de leitura seguisse a prática escolar, tanto do professor como do livro didático, que privilegia uma leitura, a do professor, como a única leitura correta, autorizada. (KLEIMAN, 2012, p. 73). 26 Para produzirmos uma prática pedagógica voltada para o desenvo lvimento de estratégias cognitivas, é de suma importância conhecer seus aspectos psicológicos, para que, ao aplicá-las, possamos fazê-lo com desenvoltura: As estratégias cognitivas da leitura seriam aquelas operações inconsciente s do leitor, no sentido de não ter chegado ainda ao nível consciente, que ele realiza para atingir algum objetivo de leitura. Por exemplo, o fatiamento sintático é uma operação necessária para a leitura que o leitor realiza, ou não, rápida ou cuidadosamente, isto é, de diversas man eiras, dependendo das necessidades momentâneas, e que provavelmente não poderá descrever. (KLEIMAN, 2012, p . 75). Segundo Kleiman (2010), durante o processamento de um texto, primeiramente o leitor percebe o objeto de trabalho através dos olhos. Em seguid a, faz o fatiamento dos dados, organizando-os em unidades significativas que representam a memória de trabalho. A partir daí, a memória intermediária é ativada. Ela representa a seleção dos conhecimentos relevantes, ativados dentro do texto lido. Posteriormente, a memória profunda ou semântica é executada. Ela corresponde à ligação entre o conhecimento ativado dentro do texto e o conhecimento de regras que estaria em nossa memória profunda. Conforme Kleiman (2010), ao iniciarmos a leitura, os olhos se fixam em trechos do texto que nos possibilita m reconhecer o material trabalhado. Durante essa operação, o leitor não enxerga nitidamente todas as palavras do trecho ; assim, grande parte das fixações são inferidas ou adivinhadas : Daí que a leitura seja considerada, do ponto de vista cognitivo, um jogo de adivinhações. Assim como podemos reconhecer , à distancia, uma pessoa conhecida a partir de algumas características (altura, cor, maneira de caminhar, por exemplo), assim também, durante a leitura, podemos reconhecer estruturas e associar um significado a elas, a partir de apenas algumas pistas: mediante a identificação da forma da palavra (sendo que a configuração acima ou abaixo da linha parece se r extremante relevante): a nossa familiaridade com a palavra (que pode permitir o reconhecimento instantâneo, sem necessidade de análise). Esse reconhecimento está estreitamente relacionado ao nosso conhecimento sobre o assunto, o autor, a época em que ele escreveu, aos nossos objetivos, aspectos estes que determinam a direção de nossas expectativas sobre o assunto (KLEIMAN, 2010, p. 37-38). Kato (1999), durante a abordagem de leitura em sua obra “O Aprendizado da Leitura”, traz contribuições enriquecedoras para o estudo do tema em questão, onde aborda os princípios que regem as Estratégias Cognitivas. 27 Segundo Kato (1999), o Princípio da Canonicidade rege as estratégias cognitivas de natureza sintática e semântica. Esse princípio resulta na ordem natural dos fatos, como exemplo: em nível sintático, a ordem da estruturaçã o da oração (sujeito, verbo e objeto); a nível semântico, a causa antes do efeito. Outro princípio seria o da Coerência. Ele rege tanto o comportamento do leitor acerca do texto lido como também o posicionamento do leitor como produtor de texto. Segundo Kato (1999, p. 128), esse princípio se subdivide em três níveis : O primeiro nível, a que eles chamam global, tem a ver com o objetivo do produtor de efetuar com o texto alguma mudança no mundo. O segundo nível – o local – tem a ver com o que o autor objetiv a fazer em algum lugar do texto. Uma maneira de ser coerente é, por exemplo, dizer o que acontece em seguida; outra é elaborar sobre o que foi dito; outra ainda é estabelecer um paralelo, contraste, etc. O terceiro nível – o temático – tem a ver com o uso recorrente de uma mesma fatia de informações no texto e se confunde com o Princípio da Parcimônia. Quanto aos princípios que regem as estratégias cognitivas, Kato (1999, p. 129) pondera: podemos dizer que pelo menos dois princípios básicos regem nosso comportamento inconsciente na leitura: a) o Princípio da Canonicidade e b) o Princípio da Coerência, este último englobando o Princípio da Parcimônia. Outra estratégia pertinente para trabalharmos em sala de aula, durante a leitura de textos complexos são a s metacognitivas. Segundo Kleiman (2010, p. 74), “as estratégias metacognitivas seriam operações (não regras), realizadas com objetivo em mente, sobre as quais temos controle consciente, no sentido de sermos capazes de dizer e explicar a nossa ação ”. As estratégias metacognitivas resultam do controle consciente do leitor durante a leitura. No momento em que o leitor estiver lendo um texto e não conseguir entendê-lo, existem várias atividades flexíveis, para que ele alcance a eficiência na leitura. Conforme Kleiman (2010, p. 75), se o leitor perceber que não está entendendo , ele poderá voltar para trás e reler, ou poderá procurar o significado de uma palavra -chave que recorre no texto, ou poderá fazer um resumo do que leu, ou procurar um exemplo de um conceito. Enfim, dependendo do que ele detectar como causa, ele adotará diversas medidas para resolver o problema. Para a realização desses diversos comportamentos , faz-se primeiro necessário que ele esteja ciente de sua falha na compreensão. 28 Detalharemos a seguir algumas atividades em leitura de caráter metacognitivo expostas por Kato (1999,p.130) : a) explicitação dos objetivos da leitura; b) identificação de aspectos da mensagem que são importantes; c) alocamento de atenção em áreas que são importantes; d) monitoração do comportamento para ver se está ocorrendo compreensão; e) engajamento e revisão e auto -indagação para ver se o objetivo está sendo atingindo; f) tomada de ações corretivas quando são detectadas falhas na compreensão; g) recobramento de atenção quando a mente se distrai ou faz digressões. (KATO apud BROWN, 1980, p. 130). Kato (1999, p. 134), além de listar as estratégias metacognitivas , também faz considerações imprescindíveis para nossa pesquisa : A falha no ensino da leitura pode estar na fa lha de objetivos claros para a leitura. Se a criança enfrenta o texto sem nenhum objetivo prévio, ela dificilmente poderá monitorar sua compreensão tendo em vista esse objetivo. Sua monitoração, quando muita, poderá se dar apenas a nível de uma compreensão vaga e geral. A utilização de estratégias de leitura favorece o desenvolvimento das habilidades leitoras, no sentido de os educandos se tornarem capazes de interpretar e compreender textos complexos. Segundo Valle (apud SOLÉ, 1988, p. 2) “as estratégias de leitura são as ferramentas necessárias para o desenvolvimento da leitura proficiente”. Sendo assim, torna-se pertinente o emprego das estratégias de leitura, pois elas serão as bases necessárias para alcançar -se a proficiência na leitura. Conforme Valle (apud SOLÉ, 1988, p. 5), as estratégias de compreensão leitora se dividem em três; antes da leitura; durante a leitura e depois da leitura: para antes da leitura: Antecipação do tema ou idéia principal a partir de elementos paratextuais (...) Levantamento do conhecimento prévio sobre o assunto; Expectativas em função do suporte; Expectativas em função da formatação do gênero; Expectativas em função do autor ou instituição responsável pela publicação. Durante a leitura: Confirmação, rejeição ou retificação das antecipações ou expectativas criadas antes da leitura; Localização ou construção do tema ou da idéia principal; Esclarecimentos de palavras desconhecidas a partir da inferência ou consulta do dicionário; 29 Formulação de conclusões implícitas no texto, com base em outras leituras (...) Formulação de hipóteses a respeito da seqüência do enredo; Identificação de palavras-chave; (...) Construção do sentido global do texto; Identificação das pistas que mostram a posição do autor; Relação de novas informações ao conhecimento prévio (...) Depois da leitura: Construção da síntese semântica do texto; Utilização do registro escrito para melhor compreensão (...) Relação de informações para tirar conclusões; Avaliação das informações ou opiniões emitidas no texto; Avaliação crítica do texto. ( VALLE apud SOLÉ, 1988, p. 5-6). Acima, foram citadas algumas estratégias, que servem como norte para o desenvolvimento da competência leitora. Mas, para que essa aconteça , faz-se necessário que o leitor vincule essas estratégias em atividades significativas de leitura. É importante salientar que o educador tem um importante papel no ensino das estratégias, uma vez que, aliando teoria e prática, torna -se capaz de produzir situações reais de leitura, proporcionando aos alunos a oportunidade de vivenciar as estratégias utilizadas pelo docente, durante as práticas pedagógicas. No próximo capítulo, teremos a inves tigação de como ocorrem essas práticas numa escola específica. 30 3 METODOLOGIA 3.1 Procedimentos metodológicos Nesta pesquisa, visamos adquirir conhecimentos teóricos sobre o tema sob análise, com o intuito de aliar teoria e prática no que se refere à formação de leitores competentes, críticos e reflexivos, capazes de expressar suas opiniões, independentemente do ambiente em que estiverem inseridos. Dessa maneira, optamos por realizar a pesquisa qualitativa, pois segundo Maanen (1979, p. 520): ela compreende um conjunto de diferentes técnicas interpretativas que visam descrever e codificar os componentes de um sistema complexo de significados, e tem como objetivo traduzir e expressar o sentido dos fenômenos do mundo social; trata -se de reduzir a distância entre o indicador e o indicado, entre teoria e dados, entre contexto e ação. Trabalhamos também com a pesquisa quantitativa, pois ela nos possibilitará traduzir em números as respostas dos docentes, obtidas nos questionários. Essa nos proporciona também a possibilidade de analisar as informações coletadas. Ainda neste contexto, dentro da linha dos procedimentos empregamos a pesquisa bibliográfica, pois , por meio técnicos, dela, teremos mais embasamento teórico devido aos diversos materiais que podem se r utilizados no decorrer da pesquisa. Optamos pela pesquisa descritiva, porque, segundo Manning (1979, p. 668), “o trabalho de descrição tem caráter fundamental em um estudo qualitativo, pois é por meio dele que os dados são coletados ”. Utilizamos também o método etnográfico, pois é através dele que se tornará possível investigar, perante as respostas apresentadas nos questionários, a realidade e o saber dos educandos da escola citada a seguir. 3.2 Caracterização da escola pesquisada A Escola Estadual “Ademar de Melo”, foi inaugurada em 1° de fevereiro de 1981, sob o Decreto de criação 22.130 de 25 de junho de 1982. Por não haver sede própria, a Escola foi sediada no prédio anexo à Escola Estadual “Ângela Maria de 31 Oliveira”, na atual FAPAM e na Associação Hilda Vilaça (Praça Presidente Castelo Branco, nº 23), tendo sido transferida para as instalações próprias no ano de 1985, na gestão do Prefeito Antônio Júlio de Faria. A escola atende a alunos da zona urbana, nos turnos diurno, matutino e noturno, oferecendo formação em todos os anos do Ensino Fundamental para 695 alunos, Ensino Médio para 280 alunos, Programa Educação em Tempo Integral , para 58 alunos e Programa Aceleração para Vencer para 24 alunos. A escola possui 13 salas de aula, 04 banheiros, 01 biblioteca, 01 cantina, 01 cozinha, 02 despensas de alimentos e utensílios, 01 quadra, 01 sala de rádio, 01 sala de informática e 05 salas administrativas. A equipe gestora da escola compõe -se de uma diretora e três vice-diretoras. 3.3 A pesquisa Durante a pesquisa, analisamos os questionários direcionados aos docentes de Língua Portuguesa, que lecionam do 6° ao 9° ano do Ensino Fundamental da Escola Estadual “Ademar de Melo”, situada na área urbana de Pará de Minas - Minas Gerais. O nosso público-alvo para a concretização da pesquisa foram quatro educadoras. Para a coleta de dados, utilizamos como recurso um questionário com quatro perguntas de múltipla escolha e uma aberta, transcrito no apêndice deste estudo. O nosso intuito com essa pesquis a foi investigar o desempenho dos alunos quanto ao ato de ler; observar se os educandos podem ser considerados leitores competentes, além de verificar se eles utilizam algumas estratégias, durante a leitura de textos em geral. Sendo assim, as informações o btidas nos questionários nos nortearão a investigar as estratégias de leitura, cognitivas e metacognitivas, que auxiliam no processo de aquisição de leitura e contribu em para a formação de cidadãos críticos e reflexivos. 3.4 Resultados A seguir, cada gráfico representa a avaliação dos dados coletados do Ensino Fundamental do 6° ao 9° ano. 32 GRÁFICO 1 - Capacidade dos alunos de ler e atribuir significado ao que leem Fonte: pesquisa realizada pela autora Diante do questionamento “ Os alunos possuem capa cidade de ler e atribuir sentido ao que leem?’’, 50% das entrevistadas responde ram positivamente e os outros 50% responderam negativamente (GRAF.1). GRÁFICO 2 - Capacidade dos alunos em relacionar o que leem com seu conhecimento prévio Fonte: Pesquisa realizada pela autora 33 Diante do questionamento “ Os alunos são capazes de relacionar o que leem com seu conhecimento prévio? ”, 75% das respondentes afirmara m que os alunos não utilizam tal estratégia e 25% responderam afirmativamente (GRAF.2). GRÁFICO 3 - Déficit em habilidades relacionada s à leitura Fonte: Pesquisa realizada pela autora Diante do questionamento “ Os alunos possuem algum déficit em habilidades relacionadas a leitura? ”, 75% das entrevistadas responderam afirmativamente, enquanto 25% responderam negativamente (GRAF.3). GRÁFICO 4 - Déficits apontados pelas professoras Fonte: Pesquisa realizada pela autora 34 Complementando a resposta ao questionamento anterior, as educadoras marcaram alguns déficits apresentados pelos alunos, em se tratando de habilidades de leitura. 40% declararam que os educandos não compreende m o texto lido, enquanto 60% declararam que os alunos não conseguem relacionar textos diferentes (GRAF.4). GRÁFICO 5 - Estratégias de leitura mais utilizadas pelos alunos Fonte: Pesquisa realizada pela autora 35 Diante do questionamento “ Quais estratégias são mais utilizadas pelos alunos em se tratando de leitura? ”, podemos observar, por meio do GRÁF. 5, que todas as estratégias a seguir, segundo os apontamentos das professor as, possuem um percentual de 11,5%: consultar o dicionário; deduzir informações do texto; fazer perguntas referentes ao texto; ler com atenção e devagar, e reler o texto. Analisando novamente o gráfico, podemos perceber que as estratégias que se seguem tam bém possuem o mesmo percentual (7,7%): fazer anotações sobre o texto; fazer resumo do texto; grifar termos desconhecidos e ler em voz alta. As estratégias seguintes apresentam 3,9% de utilização: destacar as ideias principais; fazer suposições sobre o significado de um trecho; interpretar o que o autor quis dizer. Diante do questionamento “ Qual atividade relacionada à leitura contou com maior interação e interesse por parte dos alunos? ”, as professoras responderam que leituras de textos literários feitas em duplas, letras de música, poemas, histórias em quadrinhos, anedotas, reportagens e textos produzidos em diálogo são as atividades de leitura preferidas dos alunos. Perante os dados expostos anteriormente, pudemos perceber que, considerando todos os alu nos do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental, metade das professoras aponta que são capazes de ler e atribuir significado ao que leem; 25% aponta que os educandos são capazes de relacionar o que leem com seu conhecimento prévio e não possuem algum déficit em habilidades relacionadas à leitura. Dentre os déficits apontados por 75% dos docentes , destacamos, em primeiro lugar, a incapacidade dos alunos em relacionar textos diferentes (60%) e depois sua incapacidade de compreender o texto lido (40%). Isso nos indica que 40% dos alunos pesquisados não são leitores experientes, pois conforme nos diz Kleiman (2010), esses tipos de leitores tem duas características. Primeiro o leitor sabe porque está lendo um texto , e segundo, ele compreende o que lê. Outro dado alarmante apontado é que mais da metade das educadoras considera que os alunos não são capazes de relacionarem o que leem ao seu conhecimento prévio. Isso nos traz uma importante indicação de uma falha em uma das habilidades esperadas dos alunos do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental . Esse resultado demonstra o perfil dos alunos do Ensino Fundamental como não sendo leitores competentes, pois conforme prescrevem os Parâmetros Curriculares 36 Nacionais de Língua Portuguesa, espera-se que, nesta fase, os educandos sejam capazes de unir o seu conhecimento prévio com as informações do texto, pois utilizando essa estratégia de leitura é possível o leitor interpretar figuras de linguagem, ambiguidades, interpretar e inferir o que o autor quis dizer. Conforme Kleiman (2012, p. 85) “para a elaboração de uma hipótese de leitura é necessário ativar o conhecimento prévio do leitor sobre o assunto. Quanto mais o leitor souber sobre o assunto, mais seguras serão suas predições ”. Quanto ao déficit em alguma das habilidades rela cionadas à leitura, mais da metade das professoras respondeu afirmativamente, considerando que esses alunos não compreendem o texto lido, e, em maior escala, não conseguem relacionar textos diferentes. Analisando as respostas apontadas pelos professores, podemos concluir que a atividade que mais desperta o interesse dos alunos são textos produzidos com diálogos, em que eles participam ativamente da leitura, interpretando as falas dos personagens. Quanto às estratégias metacognitivas , foi possível perceber que as mais utilizadas pelos alunos pesquisados foram: consultar o dicionário; deduzir informações do texto; fazer perguntas referentes ao texto; ler com atenção e devagar, e reler o texto, enquanto as menos utilizadas correspondem a: destacar as ideias principais; fazer suposições sobre o significado de um trecho; interpretar o que o autor quis dizer. Por fim, diante das diversas estratégias que podem ser utilizadas pelos alunos durante a leitura, tiveram maior incidência a consulta ao dicionário; deduç ão das informações do texto; elaboração de perguntas referentes ao texto; leitura vagarosa e atenta do texto e releitura. As estratégias de fazer anotações sobre o texto; fazer resumo do texto; grifar termos desconhecidos e ler em voz alta sucederam as primeiras em termos de frequência, sendo que destacar as ideias principais , fazer suposições sobre o significado de um trecho e interpretar o que o autor quis dizer foram apontadas como as estratégias que os alunos menos utilizam. Essa indicação faz-nos refletir sobre o que considera m os PCNs: a leitura é o processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de compreensão e interpretação do texto, a partir de seus objetivos, de seu conhecimento sobre o assunto, sobre o autor, de tudo o que sabe sobre a linguagem etc. Não se trata de extrair informação, decodificando letra por letra, palavra por palavra. Trata -se de uma atividade que implica estratégias de seleção, antecipação, inferência e verificação, sem as quais não é 37 possível proficiência. É o uso desses procedimentos que possibilita controlar o que vai sendo lido, permitindo tomar decisões diante de dificuldades de compreensão, avançar na busca de esclarecimentos, validar no texto suposições feitas. (BRASIL, 1998, p. 69-70). Portanto, por meio deste estudo, foi possível comprovar a relevância da utilização de estratégias de leitura, pois sua aplicação em textos diversos é capaz de facilitar a compreensão de textos complexos . 38 4 CONCLUSÃO De acordo com os objetivos propostos neste trabalho, consideramo s que foi pertinente nossa pesquisa voltada para a s estratégias cognitivas e metacognitivas de leitura, uma vez que essas, aplicadas em sala de aula, funcionam como alicerce no processo de aquisição da leitura . Isso porque ajudam os alunos a apreenderem as informações de um texto, contribuindo para a formação de leitores proficientes . Atingindo essa formação, os alunos estarão propensos a terem mais oportunidades no mercado profissional. Por meio da pesquisa realizada , foi possivel constatar que os alunos do Ensino Fundamental (6° ao 9° ano) da Escola Estadual “Ademar de Melo” não podem ser considerados ainda leitores competentes, pois grande parte deles não consegue associar o que leram ao seu conhecimento prévio, além de possuirem um déficit considerável nas habilidades de compreender o texto lido e relacionar diferentes textos. Podemos perceber ainda, que apesar de os alunos utilizarem várias estratégias metacognitivas, eles apresentam um déficit nas habilidades de leitura , apesar de as práticas pedagógicas serem coerentes, voltadas para o desenvolvimento da leitura por meio de distintos gêneros textuais como poemas, músicas, anedotas, reportagens e histórias em quadradinhos, não se atendo somente aos recursos que os livros didáticos proporcionam. Acreditamos que, para esses alunos se tornarem competentes na leitura, é necessário que eles sejam capazes de perceberem quando o texto deixa de produzir significados e passem a policiar sua leitura, fazendo associações do texto com seu conhecimento prévio, além de serem capazes de identificar elementos implícitos em um texto. Isso pode ser solucionado por meio de aulas em que os professores definam um objetivo específico para leitura, com a finalidade de produzir situações em que os alunos necessitem empregar as estratégias metacognitivas expostas no gráfico 5 desta pesquisa. Para que esses leitores tornem-se proficientes, é imprescindível que os educadores lhes ensinem a desenvolver, de maneira adequada, algumas estratégias metacognitivas que , em nossa pesquisa, tiveram um percentual de utilização baixo: destacar as ideias principais, fazer associações sobre o significado do texto e interpretar o que o autor quiz dizer. 39 Como proposta, sugerimos, ainda, que os professores, antes de solicitarem a leitura de um texto na sala de aula, façam com os alunos a pré -leitura do texto, pois assim, eles poderão inferir uma série de informações acerca do tema a ser desenvolvido. Essa leitura, que obedecerá à pontuação adequada e poderá ter palavras cujo significado será escla recido pelo professor, fará com que os alunos acessem seu conhecimento prévio, o que lhes proporcionará uma maior compreensão do texto. Dessa maneira, através do estudo apresentado, esperamos que os alunos da escola em questão, aprimorem suas estratégias de leitura para, futuramente, serem leitores competentes, capazes de exercer sua cidadania em uma sociedade letrada. 40 REFERÊNCIAS AGUIAR, Vera Teixeira. Leitura em crise na escola: as alternativas do professor . 11. ed. os] Porto Alegre: Mercado Aberto, 1993. BARBOSA, José Juvêncio. Alfabetização e Leitura. 2. ed. São Paulo: Cortez. 2008. BARREIROS, Ruth Ceccon. Nas Trilhas da Leitura: Os desafios para Formar Leitores. Disponível em: < http://www.fflch.usp.br/dlcv/lport/pdf/slp39/13.pdf >. Acesso em: 19 fev. 2013. BRANDÃO, H; MICHELITTI, G. (Coord.). Aprender e ensinar com textos didáticos e paradidáticos. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1997. BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: língua portuguesa . Brasília: MEC/SEF, 1998 . CORSO, Luciana Vellinho. O apagão da leitura. Revista Língua, ano 8, n. 83, 2012. CUNHA, Geremias Dourado da; SOUZA FILHO, Marinho Celestino de. Breve história da leitura e da escrita. Disponível em: <http://artigos.netsaber.com.br/resumo_artigo_29993/artigo_sobre_breve_hist%C3% 93ria_da_leitura_e_da_escrita>. Acesso em: 15 ago. 2013. ESCOLA Brasil. A formação de leitor crítico: uma contribuição interdisciplinar no processo ensino- aprendizagem. Disponível em: <http://monografias.brasilescola.com/educacao/a -formacao-leitor-criticoumacontribuicao-interdisciplinar-.htm. Acesso em: 19 fev. 2013. KATO, Mary Aizawa. O aprendizado da leitura . 5. ed. São Paulo: Martins Fontes,1999. KLEIMAN, Angela. Oficina de leitura- teoria e prática.14.ed. Campinas, São Paulo: Pontes Editores, 2012. KLEIMAN, Angela. Oficina de leitura: teoria e prática. 13.ed. São Paulo: Pontes Editores, 2010. LOMBARDI, Roseli Ferreira; ARBOLEA, Tâ nia Aparecida. Estratégias de Leitura nos Parâmetros Curriculares Nacionais . Disponível em: http://www.filologia.org.br/ileel/artigos/artigo_347.pdf >. Acesso em: 15 ago. 2013. MAANEN, John Van. Reclaiming qualitative methods for organizational research; a preface. Administrative Science Quartirly, v.24, dec. 1979. MANNING, Peter K. Metaphors of the field: varieties of organizational discourse. Admistrative Science Quarlerly, v. 24, dec. 1979. MARTINS, Maria Helena. O que é Leitura. 19. ed. São Paulo: Brasiliense, 1997. 41 PARREIRAS, Ninfa. Confusões de línguas na literatura: o que o adulto escreve, a criança lê. Belo Horizonte: RHJ, 2009. PEPSIC. Algumas estratégias de compreensão em le itura de alunos do ensino fundamental. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1413 85572001000100003&script=sci_arttext >. Acesso em: 19 fev. 2013. SILVA, Vera Maria Tietzmann. Literatura infantil brasileira: um guia para professores e promotores de leitura . 2. ed. rev. Goiânia: Cânone Editorial, 2009. SOLÉ, Isabel Gallart. Competência leitora e aprendizagem. Disponível em: <http://www.vila.com.br/html/outros/2010/30_anos/pdf_30/30_textos/16_Isabel_sol% E9.pdf>. Acesso em: 21 out. 2013. VALLE, Maria de Jesus Ornela. A formação do leitor compet ente: Estratégias de leitura. Disponível em: <http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/306 -4.pdf>. Acesso em: 21 out. 2013. VILLATA, Luiz Carlos. O que se fala o que se lê: língua, instrução e leitura. In: SOUZA, Laura Melo (Org.). Historia da vida privada no Brasil . São Paulo: Companhia das letras, 1997. v. 1. 42 APÊNDICE A – Questionário Instituição:_______________________________ ________________________ Professor (a):____________________________________________________ Data:________________Série:_________________ Sala:_________________ 1) Você considera que a maior parte dos alunos do 6º. ano são capazes de ler e atribuir significado ao que leem? ( ) Não. ( ) Sim. 2) Os alunos são capazes de relacionar o que leem com seu conhecimento prévio (informações que já possuem sobre o assunto)? ( ) Não. ( ) Sim. 3) Você considera que a maior parte dos alunos do 6º. ano possui d éficit em alguma habilidade relacionada à leitura? ( ) Não. ( ) Sim. Especifique: ( ) ler corretamente um encadeamento de frases. ( ) compreender o texto lido ( ) relacionar textos diferentes. ( ) Outra(s). Especifique: ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________ ______________________ __ 4) Quais estratégias os alunos mais utilizam em se tratando da leitura? ( ) Consultar o dicionário. ( ) Deduzir informações do texto. ( ) Destacar as ideias principais. ( ) Fazer anotações sobre o texto. 43 ( ) Fazer perguntas referentes ao texto. ( ) Fazer resumo do texto. ( ) Fazer suposições sobre o significado de um trecho. ( ) Grifar termos desconhecidos. ( ) Interpretar o que o autor quis dizer. ( ) Ler com atenção e devagar. ( ) Ler em voz alta. ( ) Relacionar o assunto com conhecimento prévio. ( ) Reler o texto. ( ) Outra(s). Especifique: ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ______________________________________________________ _____________ 7) Em qual atividade relacionada à leitura você percebeu uma maior interação e interesse por parte dos alunos? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________ ________________________________________