Universidade Federal do Rio de Janeiro Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza - CCMN Instituto de Química – IQ Departamento de Bioquímica Ayla Sant’Ana da Silva PRÉ-TRATAMENTO DO BAGAÇO DE CANA-DE-AÇÚCAR COM LÍQUIDOS IÔNICOS: EFEITO NA DESESTRUTURAÇÃO DA PAREDE CELULAR E NA EFICIÊNCIA DA HIDRÓLISE ENZIMÁTICA Tese de doutorado apresentada ao Programa de Pósgraduação em Bioquímica, Instituto de Química, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Doutor em Ciências - Bioquímica. Orientadora: Elba P. S. Bon Rio de Janeiro Março de 2013 Silva, Ayla Sant’Ana da. Pré-tratamento do bagaço de cana-de-açúcar com líquidos iônicos: efeito na desestruturação da parede celular e na eficiência da hidrólise enzimática/ Ayla Sant’Ana da Silva. – Rio de Janeiro: IQ/UFRJ, 2013. 127f.: il.; 31 cm. Orientador: Elba P. S. Bon Tese (doutorado) – UFRJ/ Instituto de Química/ Programa de Pósgraduação em Bioquímica, 2013. Referências bibliográficas: f. 128-149. 1. Etanol lignocelulósico. 2. Pré-tratamento. I. Bon, Elba P. S. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Química. III. Título FOLHA DE APROVAÇÃO Ayla Sant’Ana da Silva PRÉ-TRATAMENTO DO BAGAÇO DE CANA-DE-AÇÚCAR COM LÍQUIDOS IÔNICOS: EFEITO NA DESESTRUTURAÇÃO DA PAREDE CELULAR E NA EFICIÊNCIA DA HIDRÓLISE ENZIMÁTICA Tese de doutorado apresentada ao Programa de Pósgraduação em Bioquímica, Instituto de Química, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Doutor em Ciências - Bioquímica. Aprovada em ______/______/_______: _____________________________________ Elba P. S. Bon, Ph.D., Instituto de Química/UFRJ ____________________________________ Denise M. G. Freire, D.Sc., Instituto de Química/UFRJ _____________________________________ Elis C. A. Eleuthério, D.Sc., Instituto de Química/UFRJ _____________________________________ Nei Pereira Junior, Ph.D., Escola de Química/UFRJ ____________________________________ Luiz Pereira Ramos, Ph.D., Instituto de Química/UFPR ____________________________________ Anderson de Sá Pinheiro, D.Sc., Instituto de Química/UFRJ (suplente externo) ____________________________________ Leda M. F. Gottschalk, D.Sc., Embrapa Agroindústria de Alimentos (suplente externo) Rio de Janeiro 2013 Aos meus pais Carlos Alberto e Maria Lucimar pelo amor e suporte. Agradecimentos Durante os últimos três anos, tive o prazer e o privilégio de conviver com muitas pessoas que contribuíram não só diretamente na execução deste trabalho, mas em vários aspectos da minha formação profissional e pessoal. Gostaria de agradecer, em especial: À Prof.ª Elba P. S. Bon, por sua orientação nesses quase dez anos em que faço parte do Laboratório de Tecnologia Enzimática, por sua confiança no meu trabalho, pelas inúmeras oportunidades proporcionadas desde que nos conhecemos, que muito contribuíram para o meu desenvolvimento profissional e pessoal e, principalmente, por sempre se mostrar disponível quando precisei, mesmo estando sempre muito ocupada. Ao Ricardo S. S. Teixeira, por sua valiosa parceria no desenvolvimento de várias etapas deste trabalho, por nossas incessantes discussões, pelas sugestões e pela amizade; à Marcella F. Souza, pela revisão cuidadosa deste documento e pela parceria em outros projetos desenvolvidos em paralelo a esta tese; à Maria Antonieta Ferrara, pela leitura da revisão bibliográfica e pelas sugestões feitas. A toda equipe do Laboratório de Tecnologia Enzimática, por tornarem o dia a dia agradável e pelo companheirismo. A todos os professores do Departamento de Bioquímica do Instituto de Química da UFRJ que de alguma forma contribuíram na minha formação profissional e pessoal ao compartilharam seus conhecimentos e experiência. Em especial, aos professores Rodrigo Volcan Almeida e Gilberto B. Dumont, por me fazerem pensar e refletir sobre a Ciência de outra forma. I am also grateful to the members of the Biomass Technology Refinery Center from National Institute of Advanced Industrial Science and Technology (AIST), in Japan. Especially, I would like to thank Dr. Seung-Hwan Lee for his never ending flow of ideas, excitement with the work and for introducing me to new research areas. À Usina Itarumã (Complexo Bionergético Itarumã S.A, Goiás, Brasil), pelo fornecimento do bagaço e da palha de cana-de-açúcar utilizados nesse trabalho. À Japan International Cooperation Agency (JICA), por proporcionar as viagens ao Japão. Ao CNPq/Petrobras, pela concessão da bolsa de estudos. À minha família e ao Bruno, que mesmo quando longe, estiveram sempre comigo me dando o apoio necessário para cumprir essa jornada. (...)Não há verdades primeiras, só erros primeiros. A primeira e mais rica função do sujeito é a de se enganar. Quanto mais completo for seu erro, mais rica será sua experiência. A experiência é a lembrança dos erros retificados. (Georges Canguilhem) RESUMO da SILVA, Ayla Sant’Ana. PRÉ-TRATAMENTO DO BAGAÇO DE CANA-DE-AÇÚCAR COM LÍQUIDOS IÔNICOS: EFEITO NA DESESTRUTURAÇÃO DA PAREDE CELULAR E NA EFICIÊNCIA DA HIDRÓLISE ENZIMÁTICA. Rio de Janeiro, 2013. Tese (Doutorado em Bioquímica). Instituto de Química, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Em um processo de produção de etanol lignocelulósico, o pré-tratamento é crucial para aumentar a acessibilidade das enzimas ao substrato durante a hidrólise. O pré-tratamento com líquidos iônicos (LIs) é uma alternativa promissora que resulta em rendimentos e produtividade de hidrólise superiores aos pré-tratamentos convencionais. Neste trabalho, em uma primeira etapa, seis LIs foram avaliados para o pré-tratamento do bagaço de cana-deaçúcar utilizando a concepção convencional dos LIs como solventes da biomassa lignocelulósica. Uma razão de bagaço:LI de 1:20 foi utilizada em todos os ensaios de prétratamento, que foram realizados a 120 °C por 120 min. Verificou-se que o LI acetato de 1etil-3-metil-imidazólio ([Emim][Ac]) foi o mais eficiente para o pré-tratamento do bagaço, tendo a hidrólise enzimática do material pré-tratado resultado em um rendimento de conversão da celulose em glicose de 98%. Os produtos pré-tratados apresentaram considerável redução da cristalinidade e acentuado aumento na área de superfície específica. Além disso, foi constatado que o bagaço e a celulose microcristalina pré-tratados com [Emim][Ac] podem ser hidrolisados com eficiência por misturas enzimáticas deficientes em celobioidrolases. Em uma segunda etapa, foi proposta uma nova abordagem para o uso do LI no pré-tratamento, onde o [Emim][Ac] foi utilizado em um processo de pré-tratamento com alta carga de sólidos, contrariando a concepção de que os LIs devem exercer a função de solventes e serem utilizados em grande excesso em relação à biomassa. Para tal, uma extrusora de rosca-dupla foi utilizada como um reator de pré-tratamento para promover uma mistura eficiente do [Emim][Ac] com o bagaço nas razões de bagaço:[Emim][Ac] de 1:1, 1:3, 1:5 e 1:8, a fim de avaliar a influência da quantidade de LI na eficiência do pré-tratamento. Quando o pré-tratamento foi realizado a 140 °C, por 8 min utilizando uma razão de bagaço:[Emim][Ac] de 1:3, um rendimento em glicose de 90% foi alcançado em 24 h de sacarificação. Esse rendimento em glicose foi comparável ao obtido na hidrólise do bagaço pré-tratado com uma razão de bagaço:[Emim][Ac] de 1:20 por 120 min, a 120 °C. A utilização da razão de bagaço:[Emim][Ac] de 1:1 também resultou em um rendimento satisfatório de 76,4% em 24 h de hidrólise. Dessa forma, o uso da extrusora para facilitar o pré-tratamento do bagaço em alto teor de sólidos com [Emim][Ac] possibilitou não só uma redução significativa na quantidade de LI requerida por grama de bagaço (cerca de sete vezes), como também reduziu o tempo necessário de interação entre o [Emim][Ac] e o bagaço de 120 min para 8 min. Além disso, o uso da extrusora permitiu um processo de prétratamento contínuo, que é vantajoso para o processamento de grandes quantidades de biomassa em comparação a métodos operados em batelada. Assim, abriu-se um espaço importante para o avanço no uso dos LIs em condições economicamente mais favoráveis. Palavras-chaves: bagaço de cana-de-açúcar, pré-tratamento, líquido iônico, hidrólise enzimática, acetato de 1-etil-3-metilimidazólio ABSTRACT da SILVA, Ayla Sant’Ana. PRETREATMENT OF SUGARCANE BAGASSE WITH IONIC LIQUIDS: EFFECT ON PLANT CELL WALL DISSASSEMBLY AND ON THE ENZYMATIC HYDROLYSIS EFFICIENCY. Rio de Janeiro, 2013. Tese (Doutorado em Bioquímica). Instituto de Química, Universidade Federal do Rio de Janeiro. In a process for ligncellulosic ethanol production, the pretreatment step is essencial to increase the enzyme’s accessibility to the substrate during hydrolysis. The pretreatment with ionic liquids (ILs) is a promising option that results in superior hydrolysis rates and yields when compared to conventional pretreatment methods. In this study, in a first step, six ILs were evaluated for the pretreatment of sugarcane bagasse as solvents of lignocellulosic biomassa. A bagasse:IL ratio of 1:20 was used in all pretreatment assays, conducted at 120 °C, for 120 min. The IL 1-ethyl-3-methylimidazolium acetate ([Emim][Ac]) was found to be the most efficient for bagasse pretreatment, as the hydrolysis of the pretreated material resulted in 98% conversion of cellulose to glucose. The pretreated products presented a considerable reduction in the crystallinity and a prominent increase in the specific surface area. Additionally, a set of experiments performed with purified endoglucanases indicated that bagasse and microcrystalline cellulose samples pretreated with [Emim][Ac] could be efficiently hydrolysed by enzyme blends which are deficient in celobiohydrolase activity. In a second step, a new concept for the use of IL in the pretreatment was evaluated, where the IL [Emim][Ac] was used in a process with high solid loadings, which is in opposition with the idea that ILs should be used as solvents and in high excess in relation to the biomass content. In this sense, a twin-screw extruder was used as a pretreatment reactor to promote the effective mixture of [Emim][Ac] with bagasse in bagasse:[Emim][Ac] ratios of 1:1, 1:3, 1:5 and 1:8, to evaluate the effect of IL loading in the pretreatment efficiency. When the pretreatment was performed at 140 °C, for 8 min using a bagasse:[Emim][Ac] ratio of 1:3, a glucose yield of 90% was obtained in 24 h hydrolysis. This glucose yield was comparable to that obtained by the hydrolysis of samples pretreated with a bagasse:[Emim][Ac] ratio of 1:20, for 120 min, at 120 °C, and applying the same conditions for enzymatic hydrolysis. The use of a higher bagasse:[Emim][Ac] ratio of 1:1 also afforded a high glucose yield of 76.4% in 24 h. Thus, the use of the extruder for facilitating the pretreatment of bagasse in high solid contents allowed a significantly reduction on the requirement per gram of bagasse (around 7fold) and reduced the necessary interaction time between bagasse and [Emim][Ac] from 120 min to 8 min. In addition, the extruder allowed a continuous reactive process, which is advantageous for the pretreatment of large amounts of biomass in comparison to batch procedures. Thus, this work improves the outlook of using ILs in a cost-effective pretreatment of lignocellulosic biomass. Keywords: sugarcane bagasse, pretreatment, ionic liquid, enzymatic hydrolysis, hidrólise enzimática, 1-ethyl-3-methylimidazolium acetate LISTA DE ILUSTRAÇÕES Página Figura 1. Composição da biomassa lignocelulósica. .......................................................... 30 Figura 2. Estrutura molecular da celulose (n= grau de polimerização). Adaptado de Klemm et al., 2005. ............................................................................................................ Figura 3. Interconversão dos polimorfos da celulose. ........................................................ 31 32 Figura 4. Modelo da estrutura da microfibrila (em corte transversal), constituída por fibrilas elementares. Adaptado de Fengel e Wegener, 1984. ............................................. Figura 5. Estrutura esquemática da glucuronoarabinoxilana, descrita 33 como predominantes em monocotiledôneas. “Fer” representa a esterificação com ácido ferúlico. Adaptado de Scheller e Ulvskov, 2010. ............................................................... 35 Figura 6. Tipos de monolignóis mais comumente encontrados como precursores da lignina. (1) álcool p-coumarílico, (2) álcool coniferilíco e (3) álcool sinapílico. Adaptado de Gellerstedt e Henriksson, 2008. .................................................................... 36 Figura 7. Ilustração da cana-de-açúcar e denominação de suas diferentes partes (SEABRA et al., 2010). ...................................................................................................... 36 Figura 8. Produção de etanol no Brasil e nos Estados Unidos de 2001 a 2012. Fonte dos dados brasileiros: UnicaData (www.unicadata.com.br); fonte dos dados americanos: US Energy Information Administration (www.eia.gov). ......................................................... 38 Figura 9. Esquema simplificado de uma possível configuração para o processo de produção de etanol lignocelulósico. SSF: fermentação e sacarificação simultâneas (simultaneous saccharification and fermentation). ............................................................ 40 Figura 10. Possíveis aplicações dos componentes da biomassa lignocelulósica (Adaptado de Sun et al., 2011). .......................................................................................... 41 Figura 11. Visão esquemática do sistema celulolítico. Uma rota de formação de soforose pela atividade de transglicosilação da β-glicosidase também está apresentada. (Adaptado de Aro et al., 2005). .......................................................................................... 42 Figura 12. Estrutura química do anel imidazólico. ............................................................. 46 Figura 13. Reprodução do título do artigo de Paul Walden publicado em 1914 sobre a síntese de nitrato de etilamônio. ......................................................................................... 48 Figura 14. Título da patente americana de 1934 (US 1943176) e da patente suíça original de 1930 (CH 283446) (Sun et al., 2011). .............................................................. 49 Figura 15. Representação esquemática do mecanismo de dissolução da celulose no líquido iônico cloreto de 1-butil-3-metilimidazólio (Feng e Chen, 2008). ........................ 51 Figura 16. Estudo in-situ da dissolução de switchgrass em acetato de 1-etil-3metilimidazólio. Imagens de fluorescência confocal da biomassa (a) antes do prétratamento; (b) 20 min depois; (c) 50 min depois; (d) 120 min depois (Singh et al., 2009). .................................................................................................................................. 52 Figura 17. Estrutura química de líquidos iônicos comumente descritos para o prétratamento da biomassa: (a) cloreto de 1-alquil(ou alil)-3-metilimidazólio; (b) acetato de 1-alquil-3-metilimidazólio; (c) formato de 1-alquil-3-metilimidazólio; (d) brometo de 1butil-3-metil-imidazólio; (e) dialquil fosfato de 1-alquil-3-metilimidazólio; (f) cloreto de 1-butil-3-metilpiridínio. ................................................................................................. Figura 18. Representação esquemática simplificada de uma extrusora. ............................ 53 61 Figura 19. (a) Exemplos de diferentes modelos de elementos de mistura e transporte; (b) Montagem de uma rosca de extrusão (Adaptado de KOLTER et al., 2010). ..................... 62 Figura 20. Características de dupla-roscas corrotantes e contrarrotantes (Adaptado de Kolter et al., 2010). ............................................................................................................. Figura 21. Líquidos iônicos utilizados nesse estudo. a) cloreto de 1-butil-3metilimidazólio ([Bmim][Cl]), b) acetato de 1-etil-3-metilimidazólio ([Emim][Ac]), c) cloreto de 1-alil-3-metilimidazólio ([Amim][Cl]), d) fosfato de dimetila de 1,3dimetilimidazólio ([Mmim][DMP]), e) bis(trifluormetanosulfonil) imida de 1-n-butil-3metilimidazólio ([Bmim][NTf2]) e f) sulfato de etila de 1-etil-3-hidroximetil piridina. 62 70 Figura 22. Fluxograma de utilização das de diversas frações da biomassa moída. ............ 71 Figura 23. Representação das etapas realizadas para o pré-tratamento da biomassa. ........ 73 Figura 24. Configuração experimental utilizada em ensaios contendo 1 g de bagaço e 20 g de [Emim][Ac]. O frasco ao fundo contém apenas o líquido iônico. .............................. 74 Figura 25. Extrusora utilizada neste estudo. ....................................................................... 74 Figura 26. Configuração da dupla-rosca utilizada neste estudo. Os números representam o tamanho da rosca, dos elementos ou dos passos dos elementos, em mm. ...................... 75 Figura 27. Equipamento utilizado para o pré-tratamento por moinho de bolas. (a) visão geral do moinho; (b) copos e bolas utilizadas para a moagem. .......................................... 76 Figura 28. Esquematização do perfil de difração de raios-X de uma biomassa lignocelulósica. I200: intensidade de difração do plano cristalino 200; I am: intensidade de difração no valor mínimo obtido entre os picos de difração 200 e 110; I 110: intensidade de difração do plano cristalino 110. ................................................................................... Figura 29. Efeito do pré-tratamento utilizando diferentes líquidos iônicos na hidrólise enzimática do bagaço pré-tratado a 120 °C, por 120 min. (a) Rendimento em glicose e (b) rendimento em xilose. ♦: in natura, ▲: [Bmim] [Cl], ●: [Emim] [Ac], ◇: [Amim] [Cl], □: [Mmin] [DMP], ○: [Bmim] [NTf2], ∆: Sulfato de etila de 1-etil-3-hidroximetil piridina. Os rendimentos de conversão de celulose em glicose e xilana em xilose foram calculados com base no conteúdo de celulose do bagaço in natura, levando em consideração o percentual de sólidos que foram extraídos durante o pré-tratamento com cada líquido iônico. ............................................................................................................ 82 88 Figura 30. Solução obtida após rotaevaporação da fração líquido iônico-água obtida após o pré-tratamento em diversas temperaturas. ............................................................... 91 Figura 31. Efeito do pré-tratamento com [Emim][Ac] por diferentes tempo de incubação na hidrólise enzimática do bagaço pré-tratado a 120 °C. ◆: in natura, ▲: 5min, ●: 15 min, ◇: 30 min, □: 60 min, ○: 120 min. ............................................................................ 93 Figura 32. Perfil de difração de raios-X do bagaço in natura e pré-tratado com [Emim][Ac] por diferentes tempos de reação. As linhas, de baixo para cima, representam (a) bagaço in natura e bagaço tratado por (b) 5 min, (c) 15 min, (d) 30 min, (e) 60 min, (f) 120 min. As linhas verticais foram traçados para facilitar a visualização do deslocamento/desaparecimento dos picos referentes à difração de planos cristalinos da celulose. ......................................................................................................................... 94 Figura 33. Morfologia do bagaço in natura e pré-tratado com [Emim][Ac]. (a) in natura (X5.000), (b) in natura (X60.000), (c) tratado com [Emim] [Ac] por 120 min (X20.000), e (d) tratado com [Emim] [Ac] por 120 min (X60.000). A marcação em vermelho em (c) representa a área magnificada, mostrada em d. ...................................... 95 Figura 34. Perfis das fermentações dos hidrolisados da biomassa pré-tratada com [Emim][Ac] (linhas sólidas) e das soluções controle (linhas tracejadas). (a) concentração de (●) glicose e (□) etanol ao longo da fermentação; (b) concentração de (∆) xilose ao longo da fermentação com a linhagem de S. cerevisiae IR-2. ...................... 96 Figura 35. (a) Etapas experimentais realizadas para a avaliação da necessidade de celobioidrolases na hidrólise de biomassas com cristalinidade reduzida. (b) Bagaço e celulose pré-tratados com moinho de bolas (MB) e líquico iônico (LI). ........................... 99 Figura 36. Perfis de hidrólise enzimática do bagaço pré-tratado com (a) MB e (b) LI utilizando as enzimas EGPh/BGPf, Optimash e Acremonium Cellulase. A linha tracejada representa o rendimento teórico em glicose obtido com a Optimash considerando a conversão da celobiose em glicose. ........................................................... 101 Figura 37. Perfis de difração de raios-X do bagaço in natura e pré-tratado com (a) moinho de bolas e (b) líquido iônico antes e após a hidrólise enzimática com Optimash e EGPh/BGPf. ..................................................................................................................... 103 Figura 38. Perfis de hidrólise enzimática da celulose pré-tratada com (a) MB e (b) LI utilizando as enzimas EGPh/BGPf, Optimash e Acremonium Cellulase. A linha tracejada representa o rendimento teórico em glicose obtido com a Optimash considerando a conversão da celobiose acumulada em glicose. ........................................ 103 Figura 39. Perfis de difração de raios-X da celulose não tratada e pré-tratada com (a) moinho de bolas e (b) líquido iônico antes e após a hidrólise enzimática com Optimash e EGPh/BGPf. ..................................................................................................................... 106 Figura 40. Efeito da razão de bagaço:[Emim][Ac] utilizada e do número de ciclos de extrusão realizados durante o pré-tratamento nos rendimentos em glicose e xilose obtidos após 24 h de hidrólise enzimática das amostras pré-tratadas. NT representa o bagaço não tratado (in natura). Todos os experimentos de pré-tratamento foram realizados a 140 °C. ............................................................................................................ 112 Figura 41. (a) Perfil de hidrólise enzimática do bagaço (×) in natura; (♦) extrusado sem adição de [Emim][Ac]; extrusado utilizando as razões de bagaço:[Emim][Ac] de: (■) 1:1; (+) 1:3; (●) 1:5; (▲)1:8; (b) Produtividade da hidrólise enzimática após 9h de sacarificação. Todos os experimentos de pré-tratamento foram realizados a 140 °C e os resultados são relativos às amostras tratadas por dois ciclos de extrusão . ............................... 114 Figura 42. Evolução do torque ao longo da extrusão do bagaço sem aditivo e da mistura bagaço-[Emim][Ac]. ........................................................................................................... 115 Figura 43. Perfil da difração de raios-X das amostras de bagaço in natura e pré-tratadas por dois ciclos de extrusão utilizando diferentes razões de bagaço:[Emim][Ac]. (a) bagaço in natura; bagaço extrusado com [Emim][Ac] em uma razão de: (b) 1:1; (c) 1:3; (d) 1:5; (e) 1:8. As setas indicam o ângulo de difração do maior pico. .............................. 116 Figura 44. Micrografias do bagaço de cana-de-açúcar pré-tratado a 140 °C com uma razão de bagaço:[Emim][Ac] de (a) 1:1 por três ciclos de extrusão; (b) 1:3 por dois ciclos de extrusão; (c) 1:5 por dois ciclos de extrusão. ...................................................... 117 Figura 45. Efeito da temperatura do cilindro de extrusão e do número de ciclos realizados nos rendimentos em glicose e xilose obtidos após 24 h de hidrólise enzimática das amostras pré-tratadas. NT representa o bagaço não-tratado (in natura). ... 118 Figura 46. (a) Mistura de bagaço-[Emim][Ac] na razão de 1:5 a 180 ºC; (b) Parafusos de extrusão após o pré-tratamento da mistura bagaço-[Emim][Ac] na razão de 1:5 a 180 ºC. ....................................................................................................................................... 119 Figura 47. Perfis de difração de raios-X das amostras pré-tratadas em diferentes temperaturas com a razão de bagaço:[Emim][Ac] de 1:3. As setas indicam o ângulo de difração do maior pico. ....................................................................................................... 120 Figura 48. Micrografias do bagaço de cana-de-açúcar pré-tratado com uma razão bagaço:[Emim][Ac] de 1:3 por um ciclo de extrusão a (a) 80 °C, (b) 120 °C, (c) 140 °C, (d) 160 °C, (e) 180 °C. ....................................................................................................... 121 Figura 49. Comparação dos rendimentos em glicose obtidos após a hidrólise enzimática das amostras pré-tratadas com as razões de bagaço:[Emim][Ac] de 1:20, por 30 min e 120 min, e bagaço:[Emim][Ac] de 1:3, por até 3 ciclos de extrusão. ................................ 121 LISTA DE TABELAS Página Tabela 1. Composição média do colmo da cana-de-açúcar. .............................................. 37 Tabela 2. Principais enzimas necessárias para a hidrólise dos polissacarídeos presentes em materiais lignocelulósicos a monômeros. ..................................................................... 42 Tabela 3. Vantagens e desvantagens de processos de pré-tratamento comumente reportados. .......................................................................................................................... Tabela 4. Ponto de fusão de alguns sais contendo o ânion Cl (RODRIGUES, 2010). ...... 45 47 Tabela 5. Comparação dos rendimentos de sacarificação de biomassas pré-tratadas com diversos LIs, evidenciando as diferentes condições de processo utilizadas. ...................... 54 Tabela 6. Condições de pré-tratamento do bagaço de cana-de-açúcar utilizadas em estudos publicados e resultados de sacarificação obtidos. ................................................. 56 Tabela 7. Condições utilizadas para o pré-tratamento por extrusão de diversos tipos de biomassas e rendimentos obtidos após hidrólise enzimática do material pré-tratado. ....... Tabela 8. Composição das biomassas in natura expressa em percentual da matéria seca. 63 85 Tabela 9. Concentrações de glicose e xilose obtidas após 48 h de hidrólise enzimática do bagaço e da palha de cana-de-açúcar pré-tratados com diferentes líquidos iônicos. .... 86 Tabela 10. Percentual de sólidos que foram extraídos e que permaneceram solúveis na fração líquido iônico-água após adição do antissolvente (com base na matéria seca). ...... 89 Tabela 11. Efeito da temperatura utilizada no pré-tratamento com [Emim][Ac] na hidrólise enzimática do bagaço pré-tratado por 120 min e no percentual de sólidos que foram extraídos e que permaneceram solúveis após adição do antissolvente. ................... 90 Tabela 12. Percentual de sólidos extraídos, rendimentos em glicose e xilose obtidos após 72 h de hidrólise enzimática e área de superfície específica (ASS) do bagaço prétratado a 120 °C por diferentes tempos de pré-tratamento. ................................................ 92 Tabela 13. Composição do hidrolisado, produção de etanol e rendimentos de etanol após 24 horas de fermentação com a cepa industrial floculante S. cerevisiae IR-2. .......... Tabela 14. Composição do bagaço pré-tratado expressa em percentual da matéria seca. 97 99 Tabela 15. Rendimentos da hidrólise enzimática do bagaço pré-tratado com moinho de bolas utilizando as enzimas EGPh/BGPf, Optimash BG e Acremonium Cellulase. .......... 100 Tabela 16. Rendimentos da hidrólise enzimática do bagaço pré-tratado com o LI [Emim][Ac] utilizando as enzimas EGPh/BGPf, Optimash BG e Acremonium Cellulase. ............................................................................................................................ 100 Tabela 17. Rendimentos da hidrólise enzimática da celulose pré-tratada com moinho de bolas utilizando as enzimas EGPh/BGPf, Optimash BG e Acremonium Cellulase. .......... 104 Tabela 18. Rendimentos da hidrólise enzimática da celulose pré-tratada com o líquido iônico utilizando as enzimas EGPh/BGPf, Optimash BG e Acremonium Cellulase. ........ 104 Tabela 19. Área de superfície específica do bagaço e da celulose não tratados, tratados com moinho de bolas (MB) e tratados com líquido iônico (LI) antes da hidrólise enzimática e após 72 h de hidrólise com EGPh/BGPf e Optimash BG. ............................ 107 Tabela 20. Composição química das amostras pré-tratadas com diferentes razões de bagaço:[Emim][Ac] e por diferentes ciclos de extrusão. Os resultados representam a média de pelo menos duas replicatas. ................................................................................. 111 Tabela 21. Efeito da razão de bagaço:[Emim][Ac] utilizada para o pré-tratamento na área de superfície específica (ASS) do bagaço pré-tratado. ............................................... 117 Tabela 22. Composição química das amostras pré-tratadas em diferentes temperaturas e por diferentes ciclos de extrusão com a razão de bagaço:[Emim][Ac] de 1:3. Os resultados representam a média de pelo menos duas replicatas. ........................................ 118 Tabela 23. Efeito da temperatura utilizada durante o pré-tratamento na área de superfície específica (ASS) do bagaço pré-tratado com a razão bagaço:[Emim][Ac] de 1:3. ...................................................................................................................................... 119 LISTA DE ABREVIAÇÕES 1G Etanol de primeira geração 2G Etanol de segunda geração AFEX Explosão com amônia (Ammonia Fiber Explosion) AIST National Institute of Advanced Industrial Science and Technology BG β-glicosidase BGPf β-glicosidase de Pyrococcus furiosus BGU Unidade de atividade de β-glicosidase (β-glucosidase unit) CMC Carboximetilcelulose CMCase Atividade de endoglucanases sobre o CMC CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CONAB Companhia Nacional de Abastecimento DNS Ácido 3,5-dinitrosalicílico EG Endoglucanase EGPh Endoglucanase de Pyrococcus hoshikoshii FPase Atividade de celulases total sobre o papel de filtro (Fiter paper activity) FPU Unidade de papel de filtro (Filter paper unit) HPLC Cromatografia líquida de alta eficiência (High Performance/Pressure Liquid Chromatography) ICr Índice de cristalinidade IR-2 Cepa industrial de Saccharomyces cerevisiae MB Moinho de bolas LI Líquido iônico NREL National Renewable Energy Laboratory SSF Fermentação e sacarificação simultâneas (Simultaneous saccharification and fermentation) UI Unidades internacionais Lista de Líquidos Iônicos [Amim][Cl] Cloreto de 1-alil-3-metilimidazólio [Bmim][Cl] Cloreto de 1-butil-3-metilimidazólio [Bmim][HSO4] Sulfato hidrogenado de 1-butil-3-metilimidazólio [Bmim][NTf2] Bis(trifluormetanossulfonil) imida de 1-n-butil-3-metilimidazólio Ch[Ac] Chlorine acetate [Emim][Ac] Acetato de 1-etil-3-metilimidazólio [Emim][Cl] Cloreto de 1-etil-3-metilimidazólio [Emim][DEP] Fosfato de dietila de 1-etil-3-metilimidazólio [Bmim][MeCO2] Metanossulfonato de 1-butil-3-metilimidazólio HEMA Sulfato de metila de tris-(2-hidroxietil)-metil amônio [Mmim][DMP] Fosfato de dimetila de 1,3-dimetilimidazólio SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 24 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................... 29 2.1. A biomassa lignocelulósica ............................................................................... 30 2.1.1. Celulose ................................................................................................. 30 2.1.2. Hemiceluloses ....................................................................................... 33 2.1.3. Lignina ................................................................................................... 35 2.1.4. A biomassa da cana-de-açúcar .............................................................. 36 2.2. Produção de etanol a partir da biomassa lignocelulósica .................................. 38 2.3. Hidrólise Enzimática ......................................................................................... 41 2.4. O pré-tratamento ............................................................................................... 44 2.4.1. Pré-tratamento com líquidos iônicos (LIs) ............................................. 46 2.4.1.1. Características gerais dos líquidos iônicos ................................ 46 2.4.1.2. Histórico da aplicação de líquidos iônicos para o processamento da celulose ......................................................... 48 2.4.1.3. A técnica de pré-tratamento ........................................................ 49 2.4.1.4. Efeito do pré-tratamento com líquidos iônicos na hidrólise enzimática da biomassa .............................................................. 53 2.4.1.5. Efeito dos líquidos iônicos na atividade e estabilidade de celulases ...................................................................................... 56 2.4.1.6. Efeito dos líquidos iônicos em Saccharomyces cerevisiae ........ 59 2.4.1.7. Vantagens e desvantagens do pré-tratamento com líquidos iônicos ......................................................................................... 59 2.4.2. Pré-tratamento por extrusão ................................................................... 60 2.4.2.1. Vantagens e desvantagens do pré-tratamento por extrusão ........ 64 3. JUSTIFICATIVA .................................................................................................... 65 4. OBJETIVOS ............................................................................................................ 67 5. MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................... 70 5.1. Materiais ........................................................................................................... 71 5.2. Determinação da composição química da biomassa ......................................... 71 5.2.1. Método gravimétrico ............................................................................. 71 5.2.2. Método baseado na análise de açúcares ................................................ 72 5.3. Condições de pré-tratamento............................................................................ 72 5.3.1. Processo de pré-tratamento para seleção do líquido iônico mais eficiente .................................................................................................. 72 5.3.2. Processo de pré-tratamento de alto teor de sólidos com líquidos iônicos .................................................................................................... 74 5.3.3. Processo por moinho de bolas ............................................................... 75 5.4. Dosagens enzimáticas ....................................................................................... 76 5.4.1. Preparo do reagente DNS ...................................................................... 76 5.4.2. Atividade FPase ..................................................................................... 76 5.4.3. Atividade CMCase ................................................................................ 77 5.4.4. Atividades de β-glicosidade, β-xilosidase e α-L-arabinofuranosidase .. 77 5.4.5. Atividade de xilanase ............................................................................ 78 5.4.6. Dosagem das enzimas hipertermofílicas ............................................... 78 5.5. Hidrólise enzimática ......................................................................................... 78 5.5.1. Hidrólise para avaliação da eficiência de pré-tratamento ..................... 78 5.5.2. Hidrólise para avaliação do requerimento de celobioidrolases ........... 80 5.6. Fermentação alcoólica ...................................................................................... 80 5.7. Quantificação dos monossacarídeos, dissacarídeos e etanol ............................ 81 5.8. Análise da cristalinidade por difração de raios-X.............................................. 81 5.9. Análise da área de superfície específica e morfologia....................................... 82 6. RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................ 84 PARTE I 6.1. Seleção de um líquido iônico para o pré-tratamento da biomassa de cana-deaçúcar ............................................................................................................... 85 6.1.1. Composição da biomassa utilizada ......................................................... 85 6.1.2. Escolha da biomassa de estudo ............................................................. 86 6.1.3. Avaliação do efeito dos líquidos iônicos testados no bagaço de canade-açúcar ................................................................................................ 87 6.1.4. Avaliação do efeito da temperatura e do tempo de pré-tratamento do bagaço com o líquido iônico [Emim][Ac] .............................................. 90 6.1.5. Fermentação alcoólica dos hidrolisados do bagaço tratado com [Emim][Ac] ............................................................................................ 95 6.1.6. Considerações finais – Parte I ………………....................................... 97 PARTE II 6.2. Avaliação da necessidade de celobioidrolases (CBH) nas misturas enzimáticas para a hidrólise de materiais pré-tratados com líquido iônico ....... 98 6.2.1. Requerimento de celobioidrolases (CBH) para a hidrólise do bagaço pré-tratado .............................................................................................. 99 6.2.2. Requerimento de celobioidrolases (CBH) para a hidrólise da celulose pré-tratada ................................................................................. 6.2.3. Avaliação da área de superfície específica ............................................ 103 106 6.2.4. Considerações finais - Parte II ................................................................ 108 PARTE III 6.3.Pré-tratamento do bagaço em alta carga de sólidos com o líquido iônico [Emim][Ac] ........................................................................................................ 110 6.3.1. Efeito da carga de biomassa e do número de ciclos de extrusão na eficiência do pré-tratamento .................................................................. 110 6.3.2. Efeito da temperatura do cilindro de extrusão na eficiência do prétratamento ............................................................................................... 117 6.3.3. Comparação da extrusão com o processo de dissolução do bagaço...................................................................................................... 121 6.3.4. Considerações finais – Parte III .............................................................. 122 7. CONCLUSÕES ....................................................................................................... 124 8. TRABALHOS FUTUROS ...................................................................................... 126 REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 128 ANEXOS .................................................................................................................. 150 1. Introdução 25 Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva Introdução A produção de etanol a partir da biomassa lignocelulósica é uma das tecnologias mais pesquisadas atualmente visando a produção de combustíveis renováveis. A rota de transformação da biomassa em etanol que é comumente reportada é constituída das seguintes etapas: pré-tratamento da biomassa, produção de enzimas celulolíticas e hemicelulolíticas, hidrólise enzimática da biomassa pré-tratada, fermentação dos açúcares a etanol e destilação do produto final. No passado, a hidrólise ácida da biomassa com ácido sulfúrico concentrado ou diluído, sem adição de enzimas, foi um método muito pesquisado para a obtenção de um xarope de monossacarídeos a partir dos polissacarídeos da biomassa lignocelulósica (FARONE e CUZENS, 1996). No entanto, cada vez mais esse enfoque tem sido abandonado por diversas razões, entre elas: (i) a utilização de ácidos causa a corrosão de equipamentos, o que requer altos investimentos em equipamentos resistentes à corrosão; (ii) o alto gasto energético com o processo e com etapas de recuperação do ácido; (iii) geração de efluentes tóxicos; (iv) necessidade de correção do pH para a etapa de fermentação; (v) produção de subprodutos que inibem a fermentação alcoólica (TAHERZADEH e KARIMI, 2007a). Nesse sentido, a hidrólise enzimática da biomassa se mostra como uma alternativa interessante, já que esta não apresenta as desvantagens descritas para a hidrólise catalisada por ácidos (GALBE e ZACCHI, 2007). Por outro lado, esse processo apresenta outras dificuldades, como a baixa velocidade da reação de hidrólise, que ocorre devido à acessibilidade limitada das enzimas aos polissacarídeos presentes na biomassa in natura. Por isso, ao se optar por um processo de hidrólise enzimática, uma etapa de pré-tratamento da biomassa faz-se necessária. O pré-tratamento tem o objetivo de desorganizar a estrutura compacta da parede celular dos vegetais, aumentando assim a acessibilidade das enzimas ao substrato durante a hidrólise (JØRGENSEN et al., 2007; TAHERZADEH e KARIMI, 2007b). Nos últimos 30 anos, diversos métodos de pré-tratamento foram desenvolvidos, incluindo processos biológicos, físicos, químicos e físico-químicos (ALVIRA et al., 2010). Apesar dos esforços contínuos para o desenvolvimento de pré-tratamentos efetivos e economicamente viáveis, as pesquisas ainda estão em andamento. Recentemente, o uso de líquidos iônicos para o pré-tratamento da biomassa lignocelulósica ganhou bastante evidência, principalmente devido à denominação desses reagentes como “solventes verdes” (EARLE e SEDDON, 2000). Os líquidos iônicos podem ser classificados como materiais constituídos puramente por íons que apresentam uma temperatura de fusão abaixo de 100 °C, sendo muitos deles 26 Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva Introdução líquidos a temperatura ambiente. Os líquidos iônicos apresentam características muito interessantes, podendo ser projetados de acordo com as características físico-químicas almejadas através da combinação de diferentes cátions e ânions. Além disso, normalmente, apresentam pressão de vapor não mensurável e, geralmente, uma estabilidade térmica em uma ampla faixa de temperaturas (FENG et al., 2010). Como resultado, os líquidos iônicos têm sido utilizados com sucesso na substituição de solventes tradicionais em diversos processos industriais e apresentam potencial para diminuir a dependência da indústria química de compostos orgânicos voláteis (ROGERS e SEDDON, 2003). No entanto, é importante ressaltar que os líquidos iônicos não são intrinsecamente “verdes” (alguns são de fato extremamente tóxicos), mas eles podem ser projetados para serem inócuos ao meio ambiente, apresentando assim muitas oportunidades para o desenvolvimento de processos químicos sustentáveis. Os líquidos iônicos já foram relatados como capazes de dissolver a celulose e materiais lignocelulósicos, como palha de arroz, palha de trigo, gramíneas como Panicum virgatum (switchgrass), madeira, entre outros (LI et al., 2010; MÄKI-ARVELA et al., 2010; NGUYEN et al., 2010; SUN et al., 2009; ZHU et al., 2006). Lee e colaboradores (2009a) mostraram que alguns líquidos iônicos podem ser utilizados para realizar uma extração seletiva da lignina e propuseram uma nova rota de fracionamento da biomassa. No tratamento da biomassa com líquidos iônicos, após a dissolução, a fração da biomassa rica em celulose pode ser precipitada através da adição de um antissolvente como, por exemplo, a água. A lignina extraída e outros extrativos podem ser removidos com a lavagem. O mais relevante é que, após o pré-tratamento com líquidos iônicos, o tempo de hidrólise enzimática pode ser reduzido drasticamente e rendimentos de conversão de celulose em glicose próximos a 100% podem ser obtidos. Os resultados são ainda mais relevantes quando se compara a eficiência do pré-tratamento com líquidos iônicos com outros métodos já bem descritos. Li e colaboradores (2010) mostraram que foram necessárias apenas 12 h de hidrólise enzimática da gramínea Panicum virgatum (switchgrass) pré-tratada com líquido iônico para atingir mais de 90% de rendimento, enquanto a hidrólise da mesma biomassa tratada com ácido diluído necessitou de 72 h de sacarificação para atingir 80% de conversão da celulose a glicose. Apesar de existirem muitas vantagens relacionadas ao pré-tratamento mediado por líquidos iônicos, a utilização desses reagentes em larga escala para essa aplicação é ainda uma realidade distante, principalmente devido ao seu custo atual (MORA-PALE et al., 2011). A maioria dos métodos de pré-tratamento da biomassa com líquidos iônicos descritos tem 27 Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva Introdução utilizado uma razão de biomassa:líquido iônico em uma faixa de 1:15 – 1:20 (p/p) (MORAPALE et al., 2011), assumindo que os líquidos iônicos precisam ser utilizados em grande excesso em relação à biomassa, exercendo dessa forma a função de um solvente e não de um aditivo químico capaz que promover modificações na estrutura da biomassa. Tais quantidades de liquido iônico (15 a 20 vezes maiores que a quantidade de biomassa a ser tratada) podem constituir um impedimento futuro para a utilização desses reagentes, mesmo que o custo tenda a diminuir com o aumento da demanda. Apesar disso, pouca atenção tem sido dada a este fato e ainda existem informações insuficientes sobre qual seria realmente a quantidade mínima necessária de líquidos iônicos para um pré-tratamento efetivo da biomassa. Dessa forma, este trabalho buscou selecionar um líquido iônico para o pré-tratamento da biomassa da cana-de-açúcar e propor um novo método de pré-tratamento da biomassa com líquidos iônicos utilizando uma razão de biomassa:líquido iônico maior do que a usualmente reportada. Ao se propor um processo de pré-tratamento onde o líquido iônico atuará como um aditivo químico e não mais como um solvente, ou seja, com altos teores de biomassa, deve-se considerar a dificuldade de se obter uma agitação eficiente. Em geral, quando sistemas operacionais usuais são utilizados, isto é, através do emprego de reatores equipados com um sistema de agitação contínuo, as transferências de massa e calor não são realizadas de forma ideal quando o teor de sólidos é maior que 20%. Vale resaltar que, como o efeito da temperatura é primordial para a atuação efetiva do líquido iônico na biomassa, uma transferência de calor homogênea é de extrema importância para o pré-tratamento. Por isso, um sistema de mistura eficiente seria necessário para promover a interação efetiva do líquido iônico com toda a estrutura da biomassa na temperatura correta. Nesse sentido, foi proposta a utilização de uma extrusora de dupla-rosca, já que esta poderia representar um sistema interessante, onde seria possível promover uma mistura eficaz da biomassa com o líquido iônico e ao mesmo tempo, controlar a temperatura de reação, além do tempo de pré-tratamento (através do design da rosca e da velocidade de alimentação). O sistema de extrusão é de fácil operação e economicamente viável para aplicação em larga escala (LEE et al., 2010a). A extrusão da biomassa lignocelulósica sem aditivos é um processo difícil, devido à baixa propriedade de fluxo da matéria fibrosa dentro do cilindro de extrusão, ocasionando acúmulo de biomassa e bloqueio da extrusão durante o processo (YOO et al., 2011). No entanto, na proposta desse trabalho foi pensando um sistema onde o material extrusado seria uma mistura de materiais lignocelulósicos com líquidos iônicos, o que aumentaria a viscosidade e a capacidade de fluxo, reduzindo drasticamente o torque 28 Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva Introdução operacional, transpondo assim os problemas citados acima. Através dessa abordagem, seria possível diminuir a quantidade de líquido iônico necessária ao processo, utilizando um sistema de mistura eficiente, melhorando assim as perspectivas de uso desses reagentes de forma economicamente favorável. Nesse contexto, o presente estudo teve como objetivo explorar o pré-tratamento da biomassa de cana-de-açúcar com líquidos iônicos, buscando em uma primeira etapa a seleção de um líquido iônico eficiente e a otimização das condições de pré-tratamento. Em uma segunda etapa, pretendeu-se aplicar uma nova visão para o uso de líquido iônico no prétratamento, buscando investigar o uso de tais reagentes não somente como solventes da biomassa, mas também como aditivos químicos capazes de causar transformação na estrutura da parede celular. 2. Revisão Bibliográfica 30 Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva Revisão Bibliográfica 2.1. A biomassa lignocelulósica A biomassa lignocelulósica é um recurso renovável derivado da parede celular vegetal cujos principais componentes são a celulose, a hemicelulose e a lignina, contendo também pequenas quantidades de pectina, proteínas, extrativos e cinzas. O completo potencial energético e tecnológico dessa matéria-prima ainda não é explorado pelo homem, em parte devido à formação de uma cadeia produtiva mundial baseada na produção de insumos pela indústria petroquímica, desenvolvida a partir do século XX. Outros fatores estão relacionados à natureza recalcitrante da biomassa e à dificuldade de modificar as propriedades de seus constituintes, tornando seu processamento dispendioso. Tipicamente, a distribuição dos componentes da biomassa varia entre 40-50% de celulose, 20-40% de hemicelulose e 18-35% de lignina (SUN et al., 2011) (Figura 1). Cada um desses componentes será descrito em mais detalhes a seguir. Figura 1. Composição média da biomassa lignocelulósica. 2.1.1. Celulose A celulose é o polímero orgânico mais abundante na natureza e o principal constituinte da parede celular vegetal, sendo a sua produção na natureza estimada em 1,5 x 1012 toneladas anualmente (KLEMM et al., 2005). A celulose é definida como um polímero linear formado por resíduos de glicose conectados por ligações do tipo β-(1,4). A formação da ligação glicosídica β-(1,4) requer que os resídudos glicosídicos adjacentes estejam posicionados 180 ° em relação um ao outro, formando a unidade de celobiose (O’SULLIVAN, 1997). O grau de polimerização da celulose de plantas varia entre 500-15.000 resíduos de D-glicose, dependendo da sua localização na parede celular primária ou secundária (Figura 2) (ALBERSHEIM et al., 2011). 31 Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva Revisão Bibliográfica Os resíduos de D-glicose estão posicionados de forma que as moléculas adjacentes podem formar ligações de hidrogênio entre os átomos de oxigênio de uma unidade glicosídica com o grupo hidroxil do átomo C-3 de outra unidade. Estas ligações de hidrogênio dificultam a livre rotação dos anéis em torno das ligações glicosídicas, resultando no enrijecimento da cadeia. O caráter linear observado nas cadeias de celulose permite que cadeias adjacentes se posicionem próximas uma das outras (DUFRENSE, 2012). Dessa forma, nas celuloses naturais, as cadeias se alinham formando fibrilas organizadas que apresentam regiões com estrutura cristalina (ordenada) e regiões com estrutura amorfa (menos ordenadas). Figura 2. Estrutura molecular da celulose (n+4= grau de polimerização). Adaptado de Klemm et al., 2005. Nos vegetais superiores, dois tipos de estrutura cristalina podem ocorrer, as celuloses Iα e Iβ, conjuntamente referidas como celulose I, sendo o sistema Iβ descrito como predominante (SILVA e D’ALMEIDA, 2009). No entanto, as proporções entre as formas Iα e Iβ, o percentual de cristalinidade e o tamanho das fibras variam de acordo com a origem da celulose e da sua localização na parede celular (LANGAN et al., 2011). Além da celulose I, outros alomorfos da estrutura cristalina podem ser obtidos após processamento mecânico, témico ou químico da celulose (celulose II, III e IV). A celulose II, um alomorfo comumente reportado na literatura, pode ser formada pela dissolução da celulose em um solvente compatível, seguida de uma etapa de recristalização por precipitação/regeneração ou pelo tratamento com solução aquosa de hidróxido de sódio (também chamado de mercerização) (O’SULLIVAN, 1997). Em uma solução alcalina, alguns átomos de hidrogênio dos grupos hidroxil da celulose são substituídos por átomos de sódio, sendo estabelecido um sistema iônico. Por causa da osmose, a água tende a entrar no sistema e outras ligações de hidrogênio tendem a se quebrar e serem substituídas por ligações com o álcali. Quando a solução alcalina é removida, a pressão osmótica diminui e a as fibras de celulose, antes inchadas pelo tratamento, se contraem. Durante a contração, as ligações de hidrogênio são refeitas, mas em uma orientação diferente, formando a celulose II (DINAND et al., 2002). 32 Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva Revisão Bibliográfica Os alomorfos celulose IIII e celulose IIIII podem ser formados, em um processo reversível a partir da celulose I e II, respectivamente, pelo tratamento com amônia líquida (80 °C) ou algumas aminas e a subsequente evaporação do excesso de amônia. Os alomorfos IVI e IVII podem ser preparados pelo aquecimento das celuloses IIII e IIIII, respectivamente, a 260 °C, na presença de glicerol (O’SULLIVAN, 1997). A conversão dos alomorfos da celulose está mostrada na Figura 3. Figura 3. Interconversão dos polimorfos da celulose. A dissolução da celulose em um solvente compatível ou o seu tratamento com uma solução concentrada de NaOH ocasiona a formação irreversível do polimorfo cristalino cellulose II. O tratamento da celulose I ou cellulose II com amônia líquida gera, reversívelmente, os polimorfos IIII e IIIII, respectivamente. Já o tratamento por aquecimento dos polimorfos IIII e IIIII gera, respectivamente, os polimorfos IVI e IVII. Adaptado de O’SULLIVAN, 1997. A conversão da celulose I em II é irreversível, devido à conformação da celulose II ser termodinamicamente mais estável (DUFRENSE, 2012). Enquanto na celulose I é formada por cadeias orientadas de forma palarela, na celulose II as cadeias estão arranjadas de forma antiparalela (LANGAN et al., 1999; NISHIYAMA et al., 2002). Ainda não se entende bem como essa transição ocorre sem que haja uma dispersão das cadeias de celulose (KLEMM et al., 2005). Foi sugerido que as interações de van der Walls são as forças que determinam a formação do cristal de celulose II (NISHIYAMA et al., 2000). O sistema de ligações de hidrogênio cria uma estrutura extremamente organizada, que pode ser classificada hierarquicamente de acordo com a sua morfologia, podendo formar fibrilas elementares, microfibrilas e agregados de microfibrilas. As dimensões laterais dessas estruturas estão entre 1,5 e 3,5 nm para fibrilas elementares, entre 10 e 30 nm para 33 Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva Revisão Bibliográfica microfibrilas e na ordem de 100 nm para agregados de microfibrilas. O comprimento das microfibrilas está na ordem de várias centenas de nm (KLEMM et al., 2005). A Figura 4a apresenta um modelo para a estrutura da microfibrila de celulose em um material lignocelulósico, enquanto a Figura 4b mostra uma esquematização mais detalhada de um corte transversal da parede celular secundária de madeira conífera. Essa associação íntima entre os três componentes majoritários da parede celular vegetal é um dos principais fatoresresponsáveis pela recalcitrância desse material (HIMMEL e PICCATAGGIO, 2008). Figura 4. (a) Modelo da estrutura da microfibrila (em corte transversal), constituída por fibrilas elementares. Adaptado de Fengel e Wegener, 1984. (b) Ilustração esquemática de um corte transversal da parede celular secundária (S2) de madeira de pinheiro, rica em glucomanana na fração hemicelulósica (Adaptado de Fahlén e Salmén, 2005). 2.1.2. Hemiceluloses As hemiceluloses são heteropolímeros ramificados com baixa massa molecular, apresentando um grau de polimerização de 80-200 (PENG et al., 2012). Recentemente, Scheller e Ulvskov (2010) revisaram a estrutura e a biossíntese das hemiceluloses, definindoas como um grupo de polissacarídeos caracterizados por serem estruturalmente diferenciados da celulose ou da pectina e por terem esqueletos constituídos por resíduos de glicose, xilose ou manose unidos por ligações β-(1→4). As hemiceluloses podem conter pentoses (xilose e arabinose), hexoses (manose, glicose, galactose) e/ou ácidos urônicos (ácidos glucurônico e galacturônico), que se ligam uns aos outros essencialmente por ligações glicosídicas β-(1→4), sendo também possível encontrar ligações glicosídicas β-(1→3), β-(1→6), α-(1→2), α-(1→3) e α-(1→6) nas 34 Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva Revisão Bibliográfica ramificações. Outros açúcares como ramnose e fucose também podem estar presentes em pequenas quantidades e os grupos hidroxil dos açúcares podem estar parcialmente substituídos por grupos acetil (GÍRIO et al., 2010). A variedade de ligações e de ramificações, assim como a presença de diferentes unidades monoméricas, contribuem para a complexidade da estrutura hemicelulósica, sendo necessário um sistema enzimático complexo para a sua degradação. No entanto, a ausência de propriedade cristalina e de uma estrutura microfibrilar, como ocorre na celulose, torna a hemicelulose mais susceptível à hidrólise ácida (PARAJÓ et al., 1998). Na parede celular, as hemiceluloses estão associadas a vários componentes, como celulose, proteínas, pectina e lignina (SUN et al., 2000). As hemiceluloses aderem fortemente à superfície das microfibrilas de celulose via ligações de hidrogênio, sendo sugerido que essa adesão evitaria a formação de fibrilas maiores de celulose por agregação lateral (ALBERSHEIM et al., 2011). Ainda, a formação de ligações covalentes entre a pectina e a xiloglucana já foi reportada, mas os aspectos químicos envolvidos neste tipo de ligação ainda são desconhecidos (POPPER e FRY, 2005; BRETT et al., 2005). A formação de ligações de hidrogênio com a celulose, ligações covalentes com a lignina (ligações do tipo éter) e ligações do tipo éster entre as unidades acetil e ácidos hidroxicinâmicos (principalmente ácidos ferúlico e p-coumárico) evitam a liberação dos polímeros hemicelulósicos da matriz da parede celular (XU et al., 2005). Grandes variações no percentual de hemicelulose e na sua estrutura química podem ocorrer entre diferentes biomassas e diferentes componente de uma única biomassa (caule, folhas, raízes, casca) (PENG et al., 2012). As hemiceluloses mais relevantes são as xilanas e as glucomananas. As xilanas são as mais abundantes e estão disponíveis em grandes quantidades em resíduos florestais e agroindustriais. Em relação às biomassas madeireiras, as hemiceluloses contendo manana, como glucomananas e galactomananas são os principais componentes da hemicelulose de coníferas ou softwoods (Pinus, Araucaria, entre outras), enquanto em madeiras folhosas ou hardwoods (maioria das árvores brasileiras e o eucalipto) as glucuronoxilanas são mais representativas (GÍRIO et al., 2010). Nas culturas agrícolas, o tipo de hemicelulose mais abundante é a arabinoxilana, constituída por um esqueleto de resíduos de xilose ligado por ligações β-(1→4). Ligados a estes resíduos, nas posições C-2 e/ou C-3, estão resíduos de L-arabinose e ácido glucurônico (ou seu derivado 4-O-metil) (PENG et al., 2009). Além disso, os resíduos de xilose podem conter grupos O-acetil substituindo alguns dos grupos hidroxil. No bagaço de cana-de-açúcar, o tipo de hemicelulose descrita como predominante é o 4-O-metil-glucuronoarabinoxilana 35 Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva Revisão Bibliográfica (PENG et al., 2009; BIAN et al., 2012). A estrutura esquemática da glucuronoarabinoxilana está representada na Figura 5. Figura 5. Estrutura esquemática da glucuronoarabinoxilana, descrita como predominante em monocotiledôneas. “Fer” representa a esterificação com ácido ferúlico. Adaptado de Scheller e Ulvskov, 2010. 2.1.3. Lignina A lignina é uma macromolécula presente em todas as plantas vasculares, sendo a sua produção anual estimada em 5–36 x 108 toneladas. A lignina não é homogeneamente distribuída na parede celular, estando ausente na parede celular primária e apresentando grande concentração na lamela média e na parede celular secundária (GELLERSTEDT e HENRIKSSON, 2008). É conhecida por conferir aos tecidos vegetais rigidez, impermeabilidade e resistência a ataques microbianos e mecânicos (GRABBER, 2005), sendo apontada como um dos principais fatores limitantes ao ataque enzimático da celulose (ZHU et al., 2008). A lignina é formada pela polimerização de alcoóis cinamílicos (monolignóis) que diferem em estrutura dependendo do tipo de planta. Em coníferas (softwood), a lignina é composta quase que exclusivamente pelo álcool coniferílico, apresentando pequenas quantidades de álcool p-coumarílico Em árvores folhosas (hardwoods), estão presentes os alcoóis coniferílico e sinapílico, enquanto em monocotiledôneas, como a cana-de-açúcar, os três alcoóis estão presentes como precursores da lignina (FENGEL e WEGENER, 1984; SJÖSTRÖM, 1993; SAKAKIBARA et al., 2001). A Figura 6 mostra a estrutura dos três principais monolignóis encontrados na composição da lignina de diversos vegetais. 36 Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva Revisão Bibliográfica Figura 6. Tipos de monolignóis mais comumente encontrados como precursores da lignina. (1) álcool pcoumarílico, (2) álcool coniferílico e (3) álcool sinapílico. Adaptado de Gellerstedt e Henriksson, 2008. 2.1.4. A biomassa da cana-de-açúcar No Brasil são produzidos cerca de 600 milhões de toneladas de resíduos agroindustriais por ano, incluindo resíduos de culturas de cana-de-açúcar, milho, arroz, mandioca, trigo, frutas cítricas, coco e gramíneas, sendo os resíduos provenientes do cultivo da cana-de-açúcar os mais representativos (FERREIRA-LEITÃO et al., 2010a). A estrutura da cana-de-açúcar é composta por um colmo e por folhas dispostas radialmente ao seu redor (Figura 7). Em geral, a massa do colmo corresponde a 80% da massa da planta. Rodrigues e coautores (1997) encontraram uma variação de 72,7 a 88,4% na proporção de massa dos colmos em relação a planta inteira, após avaliação de 11 variedades de cana-de-açúcar. Figura 7. Ilustração da cana-de-açúcar e denominação de suas diferentes partes (SEABRA et al., 2010). A composição química dos colmos é extremamente variável em função de diversos fatores como: variedade da cultura, idade fisiológica, condições climáticas durante o desenvolvimento e maturação, propriedades físicas, químicas e microbiológicas do solo, tipo 37 Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva Revisão Bibliográfica de cultivo, entre outros (PARANHOS, 1987). A composição média do colmo da cana-deaçúcar está apresentada na Tabela 1. Tabela 1. Composição média do colmo da cana-de-açúcar. Componentes do colmo (%) da massa no colmo Água Sólidos totais Sólidos insolúveis Sólidos solúveis 73-76 24-27 11-16 10-16 Constituintes dos sólidos solúveis Açúcares Sacarose Glicose Frutose Sais Ácidos orgânicos Ácidos carboxílicos Aminoácidos Outros Proteínas Amido Gomas Ceras, gorduras, fosfolipídeos (%) dos sólidos solúveis 71-92 70-88 2-4 2-4 3,0-0,45 1,5-5,5 1,1-3,0 0,5-2,5 0,5-0,6 0,001-0,100 0,3-0,6 0,05-0,15 FONTE: Chen e Chou (1993) – formatação modificada. Os resíduos fibrosos que podem ser obtidos após a colheita da cana-de-açúcar são denominados bagaço e palha. O bagaço é o material fibroso obtido após o processamento da cana-de-açúcar para a extração do caldo (DEEPCHAND, 1986). Já a palha, também conhecida como trash, é caracterizada pela mistura de folhas secas e verdes e dos ponteiros da cana-de-açúcar deixados no solo após a colheita. De acordo com a Tabela 1, cada tonelada úmida de colmo contém cerca de 150 kg de açúcares (seco) e 150 kg de resíduos fibrosos (seco). Hassuani et al. (2005) descreveram que para cada tonelada de colmo processado, 140 kg de palha são deixados no solo. Dessa forma, pode-se calcular que o bagaço e a palha da cana-de-açúcar contêm dois terços da energia armazenada na planta (PIPPO et al., 2011). A produção total de cana-de-açúcar no Brasil em 2012 foi estimada em 595 milhões de toneladas (CONAB, 2012). Logo, calcula-se que aproximadamente 90 e 85 milhões de toneladas de bagaço e palha (peso seco), respectivamente, tenham sido produzidas em 2012. No atual sistema de produção das usinas, 92% do bagaço são utilizados para a produção de 38 Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva Revisão Bibliográfica vapor e eletricidade (processo de cogeração) (MACEDO, 2005). Contudo, espera-se que a substituição gradual de caldeiras de baixa pressão (22 bar) por sistemas mais eficientes de cogeração aumente a disponibilidade de bagaço residual nas usinas (COELHO et al., 2006). A palha é atualmente um resíduo não aproveitado, sendo deixada no campo. Estima-se que 50% da palha possam ser recolhidos do campo sem que haja prejuízos para a qualidade do solo e para o controle de pestes (MACRELLI et al., 2012). Dessa forma, com a perspectiva da expansão do cultivo da cana-de-açúcar, o avanço das tecnologias de cogeração e a mecanização da colheita, há uma tendência ao aumento dos excedentes de bagaço e palha, que então estariam disponíveis para utilização em outros processos. A seguir, será apresentado um dos potenciais usos dessa biomassa no Brasil: a produção de etanol lignocelulósico. 2.2. Produção de etanol a partir da biomassa lignocelulósica Ao longo da última década, a produção de etanol mundial aumentou expressivamente. Considerando a produção conjunta dos dois principais produtores mundiais, Brasil e Estados Unidos, de 2000 a 2012 a produção aumentou de 18,4 para 71,7 bilhões de litros. O máximo da produção no Brasil foi registrado em 2008, correspondendo a 27,5 bilhões de litros, e em 109 litros 2011 nos Estados Unidos, equivalendo a 52,7 bilhões de litros (Figura 8). 50 Brasil 40 EUA 30 20 10 0 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 Safra (ano) Figura 8. Produção de etanol no Brasil e nos Estados Unidos de 2001 a 2012. Fonte dos dados brasileiros: UnicaData (www.unicadata.com.br); fonte dos dados americanos: US Energy Information Administration (www.eia.gov). 39 Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva Revisão Bibliográfica Atualmente, o etanol é majoritariamente produzido a partir de açúcares fermentáveis presentes em matérias-primas como cana-de-açúcar, milho, sorgo sacarino, mandioca e beterraba. No Brasil, a produção de etanol está baseada na fermentação alcoólica da sacarose presente no caldo da cana-de-açúcar. Já nos Estados Unidos, o amido de milho é hidrolisado enzimaticamente a glicose, que é fermentada a etanol pela levedura Saccharomyces cerevisiae. Em ambos os casos, as tecnologias e os mercados já são maduros e consolidados. O etanol produzido a partir desses processos é também conhecido como “etanol de primeira geração” (1G) (COELHO et al., 2006). No entanto, desafios do setor relacionados ao fornecimento e à disponibilidade da matéria-prima, competição entre alimentos e combustíveis, uso de água e terras agriculturáveis levam à busca por novas tecnologias alternativas para a produção de biocombustíveis. Nesse contexto, a biomassa lignocelulósica foi apontada como um dos recursos naturais mais importantes para a geração de biocombustíveis e outros produtos com valor agregado. A produção de combustíveis líquidos a partir de fontes lignocelulósicas, também conhecido como “etanol de segunda geração” (2G), além de não competir pelo uso de terras destinadas a produção de alimentos, pode promover benefícios ambientais e econômicos, representando um suprimento energético seguro e limpo (MACRELLI et al. 2012). Apesar de parecer um fenômeno atual, a proposta de utilização de materiais lignocelulósicos para obtenção de etanol não é recente e existem relatos que datam do final do século XIX, como as tentivas de comercialização de etanol produzido pela hidrólise ácida da madeira na Alemanha em 1898 e nos Estados Unidos em 1910 (RAPIER, 2009; SHERRARD, 1945). Em meados da década de 70, houve um reestímulo a esta pesquisa, devido à crise mundial do petróleo. Vários grupos de pesquisa estudaram a hidrólise ácida e enzimática da celulose e hemicelulose para a produção de etanol, inclusive no Brasil, contudo, a redução do preço do petróleo no cenário internacional tornou desinteressante o uso dessa matéria-prima, reconhecidamente recalcitrante, tendo muitos estudos sido retomados somente no início do século XXI. Como já descrito, os materiais lignocelulósicos mais atraentes no Brasil são o bagaço e a palha de cana-de-açúcar por já se encontrarem próximos às usinas, evitando o custo com transporte da biomassa ao local de processamento. Entretanto, o Brasil é um país de dimensões continentais e com atividade agrícola diversificada, o que abre várias possibilidades de utilização de diferentes resíduos agroindustriais na produção de etanol combustível (FERREIRA-LEITÃO et al., 2010a). 40 Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva Revisão Bibliográfica A produção de etanol a partir da biomassa lignocelulósica utiliza os açúcares fermentáveis obtidos após a hidrólise da celulose e hemicelulose. Em geral, processos descritos para o processamento da biomassa a etanol envolvem pelo menos as seguintes etapas principais: o pré-tratamento da biomassa, a sua hidrólise, a fermentação dos açúcares resultantes da hidrólise e a destilação do etanol (Figura 9). A etapa de hidrólise da biomassa a monômeros pode ocorrer por um processo enzimático ou químico. A hidrólise da celulose com ácidos foi bastante estudada no passado, mas é uma opção que está cada vez mais sendo abandonada, sendo a via que pressupõe a utilização de enzimas mais bem aceita entre os pesquisadores da área. No entanto, um dos principais obstáculos para o estabelecimento dessa tecnologia reside no custo das enzimas que, apesar de ter reduzido exponencialmente nos últimos anos, ainda é incompatível com o processo (VIIKARI et al., 2012). Outro desafio é o desenvolvimento de um sistema de pré-tratamento adequado e economicamente viável para cada tipo de biomassa. Essa etapa é crucial, pois as fibras vegetais são naturalmente organizadas de forma muito compacta, como descrito no tópico 2.1, o que dificulta a ação efetiva das enzimas. Em um pré-tratamento eficiente ocorre a desestruturação das fibras vegetais, o que facilita a conversão dos polissacarídeos da biomassa em açúcares pela ação das enzimas. Figura 9. Esquema simplificado de uma possível configuração para o processo de produção de etanol lignocelulósico. SSF: fermentação e sacarificação simultâneas (simultaneous saccharification and fermentation). Dependendo do pré-tratamento, a lignina pode ser recuperada também após essa etapa. Embora o pacote tecnológico que compreende a produção de etanol de biomassa necessite de investimentos importantes, o seu estabelecimento no Brasil significaria uma blindagem estratégica para o agronegócio da cana-de-açúcar. A diversidade de produtos possíveis, incluindo produtos de maior valor agregado, impulsionaria outras áreas, tais como indústrias químicas, alcoolquímica e produção de plásticos verdes, através do conceito de biorrefinaria (Figura 10). 41 Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva Revisão Bibliográfica Figura 10. Possíveis aplicações dos componentes da biomassa lignocelulósica (Adaptado de Sun et al., 2011). O conceito de biorrefinaria é análogo ao que se conhece hoje como “refinarias de petróleo”, que produzem múltiplos produtos a partir do petróleo. As biorrefinarias industriais têm sido consideradas como a rota mais promissora para criação de novas indústrias baseadas em biotecnologia (DEMIRBAS, 2009). A seguir, as etapas de hidrólise enzimática e pré-tratamento da biomassa, focos deste estudo, serão detalhadas. Apesar de a hidrólise enzimática ser uma etapa posterior ao prétratamento no processo de produção de etanol lignocelulósico, esta será apresentada anteriormente, a fim de facilitar o entendimento da etapa de pré-tratamento, que é muitas vezes avaliada de acordo sua eficiência em facilitar a hidrólise enzimática. 2.3. Hidrólise Enzimática A hidrólise dos polissacarídeos contidos em materiais lignocelulósicos requer uma grande variedade de enzimas com diferentes especificidades. A Tabela 2 faz um pequeno resumo dos tipos de enzimas necessárias para hidrolisar um substrato lignocelulósico complexo. Apesar das enzimas serem os agentes mais importantes nesse processo, existem indícios da contribuição de outras proteínas na degradação enzimática da lignocelulose, que possuem mecanismos de ação ainda pouco conhecidos, como as glicosilidrolases da família 61 (HARRIS et al., 2010) e a “suolenina” (swollenin) (proteína com sequência similar ao de uma expansina vegetal) (SALOHEIMO et al., 2002; MERINO e CHERRY, 2007). 42 Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva Revisão Bibliográfica Tabela 2. Principais enzimas necessárias para a hidrólise dos polissacarídeos presentes em materiais lignocelulósicos a monômeros. Polissacarídeo Enzima Celulose Hemicelulose Pectina Celobioidrolase, endoglucanase, β-glicosidase Endoxilanase, acetil-xilana esterase, β-xilosidase, endomananase, β-manosidase, α-L-arabinofuranosidase, α-glucuronidase, feruloil esterase, α-galactosidase, ácido p-coumárico esterase Pectina metilesterase, pectato liase, poligalacturonase, ramnogalacturonana liase Para que ocorra a hidrólise enzimática da celulose a glicose, pelo menos três de enzimas precisam atuar: as exoglucanases/celobioidrolases (CBH) (EC 3.2.1.91), as endoglucanases (EG) (EC 3.2.1.4) e as β-glicosidases (EC 3.2.1.21) (LYND et al., 2002). Individualmente, uma única enzima do complexo celulolítico é incapaz de hidrolisar a celulose de maneira eficiente, sendo necessária a ação sinérgica do complexo (BÉGUIN e AUBERT, 1994). As CBHs atacam o final da cadeia de celulose, podendo ter preferência em atacar os terminais redutores ou não redutores e liberam como produto moléculas de celobiose (TEERI, 1997). Além disso, as CBHs possuem alta eficiência de degradação da celulose cristalina. Já as EGs clivam as cadeias no seu interior e reduzem o grau de polimerização, sendo mais eficientes para a hidrólise de regiões amorfas (WILSON, 2009, 2011). Finalmente, as β-glicosidases hidrolisam a celobiose em duas moléculas de glicose (Figura 11). Figura 11. Visão esquemática do sistema celulolítico. Uma rota de formação de soforose pela atividade de transglicosilação da β-glicosidase também está apresentada. (Adaptado de Aro et al., 2005). Comumente, em ensaios laboratoriais de hidrólise enzimática da biomassa, um dos parâmetros mais importantes a ser avaliado é a dosagem enzimática das celulases e a proporção entre as atividades celulolíticas. Para uma hidrólise eficiente, na prática, leva-se em 43 Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva Revisão Bibliográfica conta as dosagens das atividades de FPase (Filter paper activity) e de β-glicosidase. A atividade FPase representa a atividade total de celulases na degradação de uma fita de papel de filtro (GHOSE, 1987). Como o papel de filtro apresenta um alto índice de cristalinidade, acredita-se que a atividade mais expressiva para a degradação do papel seja a de celobioidrolase. Assim, ao se dosar as atividades FPase e β-glicosidase, é possível balancear as atividades necessárias para degradação total da celulose à glicose. Alguns trabalhos relatam que para que haja a hidrólise completa da celulose uma relação de celobioidrolase:βglicosidases de 1:1 é necessária (JUHÁSZ et al., 2005). A maior parte dos estudos de hidrólise estabelece uma dosagem de 10-15 FPU (unidade de FPase – Filter paper unit) por grama de substrato a ser hidrolisado. Como já descrito, a hemicelulose possui uma composição mais variada que a celulose e, por isso, necessita de um número de enzimas maior para ser hidrolisada eficientemente. As enzimas que hidrolisam a hemicelulose podem ser divididas em enzimas que atuam na cadeia principal e em enzimas que clivam as ramificações, também chamadas de acessórias. As principais enzimas para a hidrólise da xilana são as endoxilanases, que clivam o esqueleto de xilana em oligossacarídeos, e as β-xilosidases, que clivam pequenos xilooligossacarídeos em xilose. Analogamente, as principais enzimas para a degradação da manana são as endomananases e β-manosidases. A remoção dos grupos laterais da xilana ou manana aumenta o acesso das xilanases/manases à cadeia principal. Dessa forma, enzimas acessórias como α-L-arabinofuranosidases, α-glucuronidase, feruloil esterase, α-galactosidase, acetilxilana esterase e acetil-manana esterase são geralmente reportadas como importantes para melhorar a eficiência de hidrólise. As feruloil esterases apresentam papel de destaque por clivarem ligações entre a hemicellulose e a lignina (MEYER et al., 2009). A presença de α-Larabinofuranosidases para a degradação da biomassa da cana-de-açúcar é extremamente importante, já que a hemicelulose da cana é uma arabinoxilana. As α-L-arabinofuranosidases apresentam especificidades diferentes, clivando ligações α-(12) ou α-(13), enquanto algumas são capazes de clivar resíduos com dupla substituição (SØRENSEN et al., 2007). Apesar da relevância, a presença e requerimento de hemicelulases é muitas vezes negligenciada em estudos que avaliam a eficiência de misturas enzimáticas para a hidrólise da biomassa. No entanto, mesmo em materiais tratados onde a maior parte da hemicelulose tenha sido removida, existe ainda uma pequena proporção que está em associação com a celulose e a lignina, limitando o acesso das celulases à celulose. Já foi demonstrado que a adição de hemicelulases melhora o desempenho das celulases, aumentando a conversão da celulose em glicose da palha de milho (GAO et al., 2011). 44 Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva Revisão Bibliográfica Apesar de todas as vantagens da hidrólise enzimática frente à hidrólise ácida, a hidrólise enzimática da lignocelulose pode enfrentar vários obstáculos que diminuem a velocidade da reação, relacionados à recalcitrância do substrato. Dessa forma, a fim de aumentar a acessibilidade das enzimas a seus substratos e, consequentemente, a eficiência de hidrólise, uma etapa de pré-tratamento da biomassa faz-se necessária. 2.4. O pré-tratamento Nas plantas, a parede celular atua como uma proteção física contra patógenos (CANTU et al., 2008). Portanto, materiais lignocelulósicos nativos são altamente resistentes à hidrólise enzimática (HIMMEL et al., 2007). Wei e coautores (2009) calcularam a dificuldade de degradar diferentes substratos definindo o índice de recalcitrância (IR), calculado pela razão de carbono residual após a hidrólise enzimática pelo carbono inicial presente na biomassa. O IR de diferentes substratos foi bastante diverso, sendo de 0,87 para softwoods, 0,56 para hardwoods e 0,25-0,45 para resíduos agroindustriais. Essa recalcitrância se deve a vários fatores físico-químicos e estruturais relacionados ao substrato, estando normalmente relacionada à presença de lignina, à sua composição e às ligações da lignina com a hemicelulose (GRABBER et al., 2008; BESLE, et al., 1994, CHANDRA et al., 2007), ao índice de cristalinidade da celulose (PARK et al., 2010), ao grau de polimerização dos polissacarídeos (MERINO e CHERRY, 2007) e a porosidade e superfície disponível (ISHIZAWA et al., 2007). Deste modo, para que ocorra uma conversão eficiente da biomassa em açúcares fermentáveis, é importante que as propriedades físicas e químicas da parede celular sejam modificadas através da etapa de pré-tratamento. O pré-tratamento é uma etapa crucial, já que a hidrólise de substratos nativos leva, geralmente, a menos de 20% de conversão da celulose em glicose (ZHANG e LYND, 2004). Dependendo do tipo de pré-tratamento, diferentes efeitos podem ser observados na biomassa pré-tratada, como: Remoção parcial ou quase total da lignina Rompimento da estrutura da lignina e de suas ligações com o restante da biomassa Redistribuição da lignina Remoção parcial ou quase total da hemicelulose Redução da cristalinidade da celulose Redução do grau de polimerização da celulose Aumento da porosidade e da área superficial 45 Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva Revisão Bibliográfica Ao longo dos anos, muitas técnicas de pré-tratamento foram desenvolvidas, incluindo métodos físicos, químicos, biológicos ou uma combinação desses métodos (MOSIER et al., 2005; ALVIRA et al., 2010; KUMAR et al., 2009). Exemplos de diferentes métodos já reportados são: pré-tratamento com ácido diluído (BITANCUR e PEREIRA JR, 2010; DIEN et al., 2006), pré-tratamento alcalino (PARK e KIM, 2012), explosão a vapor (RAMOS, 2003), explosão com amônia (ammonia fiber expansion - AFEX) (SENDICH et al., 2008), organosolv (BOZELL et al., 2011), pré-tratamento hidrotérmico (SAHA et al., 2013), por moagem (SILVA et al., 2010; HIDENO et al., 2008), com líquidos iônicos (MORA-PALE et al., 2011), por extrusão (LAMSAL et al., 2010), entre outros. Algumas vantagens e desvantagens de pré-tratamentos comumente descritos estão apresentadas na Tabela 3. Tabela 3. Vantagens e desvantagens de processos de pré-tratamento comumente reportados. Prétratamento Mecânicos (moagem, extrusão) Explosão a vapor AFEX Categoria Físico Desvantagens Ref. A energia necessária para tratamento de madeiras é alta A hemicelulose é parcialmente degradada; liberação de ácido acético Sousa et al., 2009; Silva et al., 2010 Redução da cristalinidade de celulose dependendo das condições; curto tempo de residência (15 min); grande aumento na digestibilidade resíduos agroindustriais; baixa produção de inibidores Curto tempo de residência; remoção parcial da hemicelulose e da lignina Requer um sistema de reciclo de amônia; Pouco efetivo para hardwoods Chundawat et al., 2010; Holtzapple et al., 1991; Jin et al., 2010; Krishnan et al., 2010 Corrosão e formação de inibidores Shuai et al., 2010; Llyod e Wyman, 2005; Um et al, 2003 Redução da cristalinidade da celulose e do grau de polimerização dos carboidratos; remoção da lignina Pequeno aumento na digestibilidade de softwoods Kim e Hotzapple, 2005; Rabelo et al., 2009; Zhao et al., 2008 Remoção da lignina; os solventes podem ser recuperados por destilação Traços remanescentes dos solventes podem inibir processos biológicos; Risco de incêndio e explosão Longos tempos de reação; degradação da lignina impede seu reaproveitamento em outros processos Zhao et al., 2009a; Ni e VanHeiningen, 1996 Efetivo para resíduos herbáceos e agroindustriais Efetivo para o tratamento de hardwoods Físicoquímico Ácido Alcalino Químico Solventes orgânicos Degradação fungíca Vantagens Biológico Degradação da lignina; baixo requerimento de energia; condições brandas de reação Adaptado de Mora-Pale e co-autores, 2011. Ramos, 2003; Kaar et al., 1998; Schultz et al., 1983 Singh et al., 2008; Müller e Trösch, 1986; Lee et al., 2007 46 Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva Revisão Bibliográfica Já que existe uma extensa variedade de materiais lignocelulósicos que diferem nas suas propriedades químicas e físicas, há uma interdependência entre o pré-tratamento e o tipo de substrato. É evidente que diferentes pré-tratamentos terão impactos diversos nas propriedades físico-químicas da biomassa pré-tratada. Essas propriedades afetarão processos à montante, como o pré-acondicionamento do material, e à jusante, como a escolha das misturas enzimáticas, a seleção de microrganismos, o tratamento de resíduos e a recuperação de etanol. Consequentemente, a escolha do pré-tratamento tem um impacto econômico em várias etapas de uma biorrefinaria. A seguir, o pré-tratamento com líquidos iônicos e por extrusão, focos deste estudo, serão detalhados. 2.4.1. Pré-tratamento com líquidos iônicos (LIs) 2.4.1.1. Características gerais dos líquidos iônicos Desde a organização do workshop “Green Industrial Applications of Ionic Liquids” (Creta, Grécia, 12-16 de abril de 2000), os LIs foram definidos como sais compostos apenas de espécies iônicas que apresentam uma temperatura de fusão inferior a 100 °C (SUN et al., 2011). Essa definição, bastante ampla, pode comportar uma grande variedade de sais, sendo relatada constantemente a síntese de novos compostos que se encaixam nesse perfil. Para compreender como certas substâncias iônicas podem ser líquidas a temperatura ambiente, é preciso observar as tendências do ponto de fusão. Em geral, a presença de fortes interações iônicas confere a uma substância um elevado ponto de fusão e ebulição, como ocorre nos sais inorgânicos. No entanto, como os LIs são sais compostos por cátions orgânicos grandes, constata-se uma redução na simetria dos íons, levando a uma dificuldade de empacotamento na estrutura cristalina (ROSA, 2003). Entre os sais inorgânicos, o ponto de fusão também se reduz com o aumento do tamanho do cátion, o que é esperado já que a maior distância entre os íons reduz as forças iônicas, o que é observado mais acentuadamente nos LIs (KROSSING et al., 2006). A Tabela 4 mostra a influência do tamanho do cátion no ponto fusão de sais inorgânicos e de LIs derivados do anel imidazólico (Figura 12). Figura 12. Estrutura química do anel imidazólico. 47 Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva Revisão Bibliográfica Tabela 4. Ponto de fusão de alguns sais contendo o ânion Cl (RODRIGUES, 2010). Sal Ponto de fusão Sal Ponto de fusão NaCl 803 °C [C1 mim]Cl 125 °C KCl 772 °C [C2 mim]Cl 87 °C CsCl 645 °C [C4 mim]Cl 65 °C [Cxmim] = alquil-metilimidazólio Da mesma forma como discutido para o ponto de fusão, outras propriedades dos LIs tais como solubilidade em outros solventes, densidade, hidrofobicidade, janela eletroquímica, resistência térmica, temperatura de transição vítrea, etc., podem ser alteradas variando-se aspectos como comprimento da cadeia carbônica, presença de grupos funcionais, substituintes em diversas posições do cátion e tipo de ânion, originando o conceito de LIs projetados para ter o melhor desempenho para determinada tarefa, o que ficou conhecido na literatura como task-specific ionic liquids ou designer solvents (SMIGLAK et al., 2007). Alguns autores estimam que com a variação de todos esses parâmetros seria possível obter mais de 10 18 sistemas diferentes, isto é, LIs com propriedades físico-químicas distintas (ROGER e SEDDON, 2003). Mais recentemente, as propriedades biológicas dos LIs também têm sido consideradas como alvos primários na síntese de novos LIs, o que pode promover a aplicação de uma nova tecnologia na produção de compostos com alto valor agregado na indústria farmacêutica (STOIMENOVSKI et al., 2009). Uma das características dos LIs mais ressaltada é a sua baixa pressão de vapor, já que grande parte dos LIs descritos são não voláteis e, portanto, a temperatura máxima que se pode atingir é próxima à de decomposição. Dessa forma, muitos trabalhos identificaram essa propriedade como vantajosa e apontaram os LIs como candidatos a substituir solventes moleculares com baixo ponto de ebulição, como tolueno, éter dietílico ou metanol, tendo por isso sido denominados “solventes verdes” (FREMANTLE, 1998; EARLE e SEDDON, 2000). No entanto, alguns autores apontaram para o fato desta associação com a Química Verde ter levado a generalizações errôneas ao longo dos últimos anos (FENG et al., 2010; SUN et al., 2011). Isso porque muitas das características dos LIs descritas hoje, como pressão de vapor não mensurável, baixa toxicidade, estabilidade química e física, etc., foram assinaladas quando variedades limitadas de LIs existiam e eram majoritariamente baseadas no cátion imidazólico. Com o desenvolvimento da área e a síntese de novos LIs, as descrições usuais se tornam em alguns casos incompletas ou inapropriadas. É preciso ter em mente que os LIs são reagentes muito heterogêneos, definidos apenas pelo seu ponto de fusão e sua 48 Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva Revisão Bibliográfica característica iônica. Logo, é de se esperar que nem todos os LIs apresentem todas as características descritas em muitos trabalhos, especialmente no que diz respeito a sua característica “verde”. 2.4.1.2. Histórico da aplicação de líquidos iônicos para o processamento da celulose Nas últimas décadas, o número de publicações reportando o uso de LIs para o processamento da biomassa cresceu exponencialmente. No entanto, o histórico do estudo de tais reagentes químicos não é tão recente. Muitos autores citam o trabalho de Paul Walden publicado em 1914 (Figura 13) como o primeiro relato de preparo de um LI (nitrato de etilamônio) (WALDEN, 1914), apesar de haver certo debate acerca desse fato, já que este composto em estado líquido apresenta espécies iônicas em um complexo equilíbrio químico com espécies neutras (SUN et al., 2011). Figura 13. Reprodução do título do artigo de Paul Walden publicado em 1914 sobre a síntese de nitrato de etilamônio. Em 1930, uma patente depositada na Suíça (e nos EUA em 1934) reivindicou o fato de certos líquidos orgânicos serem capazes de dissolver a celulose e alterar a sua reatividade (GRAENACHER, 1934). A Figura 14 mostra o título da patente original e do depósito americano. Essa patente tem sido citada como o marco do início da aplicação industrial dos LIs (PLECHKOVA e SEDDON, 2008). No entanto, um trabalho recente reportou a irreprodutibilidade dos experimentos descritos por Graenacher e alertou para o fato de ser discutível classificar a patente suíça como o primeiro registro de aplicação industrial de um LI, baseando-se somente no fato do reagente químico descrito se encaixar na classificação atual de um líquido iônico. Os autores discutem que, na verdade, o conceito moderno dos líquidos iônicos só foi definido quando se enxergou um conjunto de propriedades e possibilidades a partir da síntese de LIs binários (SUN et al., 2011; EARLE e SEDDON, 2000). 49 Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva Revisão Bibliográfica Figura 14. Título da patente americana de 1934 (US 1943176) e da patente suíça original de 1930 (CH 283446) (SUN et al., 2011). Foi apenas em 2002, então, que o grupo de pesquisa liderado pelo Dr. Robin D. Rogers, da Universidade do Alabama, começou a investigar se os líquidos iônicos binários modernos teriam a mesma propriedade dos “sais fundidos” descritos por Graenacher em 1934. Eles mostraram que o LI cloreto de 1-metil-3-butilimidazólio ([Bmim][Cl]) era capaz de dissolver a celulose em concentrações de até 10% sob agitação e aquecimento (100 °C) e que uma dissolução de até 25% poderia ser alcançada caso o aquecimento fosse realizado por micro-ondas (SWATLOSKI et al., 2002). Esse trabalho já foi citado mais de 1000 vezes e pode ser considerado um divisor de águas que estabeleceu as bases para um novo conceito de pré-tratamento da biomassa lignocelulósica. Desde então, os LIs foram estudados para o prétratamento da celulose cristalina (HA et al., 2011), biomassa de algas (ZHOU et al, 2012) e diversos materiais lignocelulósicos como, por exemplo, a palha de arroz (NGUYEN et al., 2010), o bagaço de cana-de-açúcar (SILVA et al., 2011; KIMON et al., 2011), a palha de trigo (LI et al., 2009), as gramíneas Panicum virgatum (switchgrass) (LI et al., 2010) e Miscanthus (BRANDT et al., 2011), madeira (LEE et al., 2009a; SUN et al., 2009; BRANDT et al., 2011), dentre outros. 2.4.1.3. A técnica de pré-tratamento Baseados no conceito de dissolução da celulose descrito por Swatloski e colaboradores (2002) e posteriormente por Fort e colaboradores (2007), que mostrou que o LI [Bmim][Cl] também era capaz de dissolver parcialmente amostras de madeira, muitos grupos de pesquisa estudaram o processamento da biomassa lignocelulósica com LIs, buscando tanto o 50 Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva Revisão Bibliográfica fracionamento dos seus componentes, quanto o estabelecimento de um pré-tratamento para facilitar um posterior ataque enzimático. Neste tópico, apenas processos de pré-tratamento da biomassa lignocelulósica serão evidenciados. A descrição de processos buscando o fracionamento parcial da lignocelulose com LIs para obtenção de outros bioprodutos pode ser encontrada na revisão de Sun e colaboradores (2011). Em geral, o pré-tratamento da biomassa com LIs pode ser divido em três etapas: (i) dissolução total ou parcial da lignocelulose sob aquecimento; (ii) recuperação da biomassa pré-tratada por precipitação com um antissolvente (em geral água); (iii) lavagem do resíduo para eliminar traços de LIs que possam ser inibitórios às etapas subsequentes. A seguir, as propriedades dos LIs que possibilitam a dissolução da celulose e da lignocelulose serão discutidas. Mecanismo de ação Os primeiros estudos que buscaram explicação para a dissolução da celulose em LIs propuseram que a basicidade do ânion e sua habilidade de formar ligações de hidrogênio eram os principais fatores a serem considerados no design de LIs para este fim (SWATLOSKI et al., 2002; ANDERSON et al., 2002; MÄKI-ARVELA et al., 2010). Para suportar essa ideia, o mecanismo envolvido na dissolução da celulose em LIs foi investigado através de diversos métodos analíticos. Em um estudo, medidas da relaxação por ressonância nuclear magnética (RMN) utilizando [Bmim][Cl] confirmaram que os íons cloreto formam ligações de hidrogênio com os grupos hidroxil da celulose em uma proporção estequiométrica de 1:1 (MOULTHROP et al., 2005). Essa interação causa o rompimento de ligações de hidrogênio inter e intramolecular entre as fibrilas de celulose, o que consequentemente leva a sua dissolução. Mais tarde, foi descrito que apesar do potencial de formação de ligações de hidrogênio do ânion do LI parecer ter contribuição majoritária para a habilidade de dissolução da celulose no mesmo, esse não seria o único fator atuante; o cátion também parece influenciar na dissolução, apesar desse não ser um fenômeno ainda completamente entendido. Um estudo de RMN da solvatação da celobiose em [Emim][Ac] sugeriu a formação de ligações de hidrogênio entre os oxigênios do grupo hidroxil da celobiose e os hidrogênios na posição C-2 do anel imidazólico (ZHANG et al., 2010). A Figura 15 ilustra o mecanismo proposto para a dissolução da celulose no LI [Bmim][Cl]. 51 Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva Revisão Bibliográfica Figura 15. Representação esquemática do mecanismo de dissolução da celulose no líquido iônico cloreto de 1-butil-3-metilimidazólio ([C4mim]Cl (Feng e Chen, 2008). Após a dissolução, a celulose pode ser recuperada pela adição de um antissolvente. No entanto, o produto regenerado não apresenta mais a estrutura cristalina e recalcitrante da celulose I nativa, sendo mais susceptível ao ataque enzimático por ser essencialmente amorfa, o que propicia o aumento da velocidade inicial de hidrólise e do rendimento final de conversão da celulose (DADI et al., 2006). Como já mencionado, após a demonstração da possibilidade de dissolver a celulose em LIs, outros trabalhos mostraram também a possibilidade de processar a biomassa lignocelulósica com esses reagentes (FORT et al., 2007; XIE et al., 2007). Foi demonstrado que, dependendo do tipo de LI utilizado, ocorre extração de grande parte da fração de lignina, que fica exposta ao solvente com a dissolução da celulose (FORT et al., 2007; LEE et al., 2009a). Dessa forma, como a lignina é altamente solúvel em certos LIs, após a recuperação dos polissacarídeos por adição do antissolvente, grande parte da lignina permanece solubilizada no LI. Estudos mostraram que os LIs geralmente não degradam as cadeias de celulose ou reduzem o seu grau de polimerização e que a estrutura da lignina e da hemicelulose permanecem inalteradas após o pré-tratamento (ZHU et al.; 2006; SAMAYAM e SCHALL, 2010). Singh e coautores (2009) utilizaram a autofluorescência da parede celular vegetal para rastrear o mecanismo de solubilização durante o pré-tratamento de switchgrass com [Emim][Ac]. Foi mostrado que após poucos minutos de incubação da biomassa com o LI ocorre a turgidez da parede celular, levando a um aumento de oito vezes no volume da parede, o que os autores relacionaram com o rompimento das ligações de hidrogênio inter e intramoleculares da celulose. Diferentemente do reportado por Lee e colaboradores (2009a), o estudo mostrou que todos os componentes da biomassa estudada foram solubilizados após 120 min de pré-tratamento (Figura 16). Após a adição de água como antissolvente, o produto regenerado não continha lignina. Foi observado que o pré-tratamento com LIs enfraqueceu as 52 Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva Revisão Bibliográfica interações de van de Waal’s entre os constituintes da parede celular e que ligações covalentes entre os mesmos foram rompidas. Como a hemicelulose forma ligações covalentes com a lignina, através de ácidos ferúlicos, e com a celulose, via pectina, os autores não conseguiram concluir qual ligação estaria sendo rompida e levando à formação de um produto regenerado deficiente em lignina. Figura 16. Estudo in-situ da dissolução de switchgrass em acetato de 1-etil-3-metilimidazólio. Imagens de fluorescência confocal da biomassa (a) antes do pré-tratamento; (b) 20 min depois; (c) 50 min depois; (d) 120 min depois (Singh et al., 2009). Considerando que a dissolução dos componentes da parede celular vegetal é afetada pela natureza do LI, diferentes combinações de cátions e ânions foram examinadas para o prétratamento de diversas biomassas. Apesar do crescimento exponencial na síntese de novos líquidos iônicos, a maior parte dos estudos ainda se baseia em LIs com ânions de caráter básico como cloretos, acetatos, formatos e fosfatos e cátions com um núcleo metilimidazólico ou metilpiridínico com cadeias laterais alil-, etil- ou butil- (TADESSE e LUQUE, 2011). As estruturas químicas dos LIs mais comumente reportados para a dissolução da celulose e prétratamento da biomassa estão mostradas na Figura 17. Apesar de os primeiros trabalhos de dissolução da celulose terem majoritariamente utilizado o [Bmim][Cl], o LI [Emim][Ac] foi mais tarde identificado como mais vantajoso, devido ao seu baixo ponto de fusão (-45 °C vs 69 °C), menor viscosidade (10 mPa vs 147 mPa, a 80 °C) e menor caráter corrosivo (muito pequeno vs forte). Adicionalmente, durante o registro de um processo utilizando LIs pela BASF para adequação à legislação europeia, testes de toxicidade indicaram o [Emim][Ac] como atóxico (LD 50 >2000 mg kg-1), enquanto o [Bmim][Cl] foi classificado como moderadamente tóxico (50 mg kg -1 < LD50 >300 mg kg-1) (SUN et al., 2011). 53 Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva Revisão Bibliográfica Figura 17. Estrutura química de líquidos iônicos comumente descritos para o pré-tratamento da biomassa: (a) cloreto de 1-alquil(ou alil)-3-metilimidazólio; (b) acetato de 1-alquil-3-metilimidazólio; (c) formato de 1-alquil-3-metilimidazólio; (d) brometo de 1-butil-3-metil-imidazólio; (e) dialquil fosfato de 1alquil-3-metilimidazólio; (f) cloreto de 1-butil-3-metilpiridínio. 2.4.1.4. Efeito do pré-tratamento com LIs na hidrólise enzimática da biomassa O pré-tratamento com LIs tem se mostrado como um método efetivo para promover uma sacarificação rápida e completa da celulose em glicose; após o pré-tratamento com LIs, o tempo de hidrólise enzimática pode ser reduzido drasticamente e rendimentos de conversão de celulose em glicose próximos a 100% podem ser obtidos. A Tabela 5 compara os resultados de sacarificação obtidos após o pré-tratamento de diversas biomassas com LIs diversos, evidenciando as diferentes condições de processo utilizadas. Muitos trabalhos correlacionaram a eficiência do pré-tratamento com LIs com diversos efeitos na estrutura e composição da biomassa pré-tratada capazes de aumentar a acessibilidade das enzimas, como: diminuição do percentual de lignina, diminuição do índice de cristalinidade da celulose, aumento do tamanho dos poros e aumento da área de superfície específica. Além de melhorar os rendimentos de sacarificação da celulose, alguns trabalhos também mostraram o aumento na eficiência de hidrólise da xilana do material pré-tratado (ZHAO et al., 2010a; WU et al., 2011). No entanto, dependendo das condições de processo utilizadas, a extração de grande parte da fração hemicelulósica também foi reportada (LI et al., 2011). Quando comparado a outros pré-tratamentos já bem descritos, os resultados provenientes do uso de LI são expressivos. Li e colaboradores (2010) mostraram que foram necessárias apenas 12 h de hidrólise enzimática do switchgrass pré-tratado com [Emim][Ac] para atingir mais de 90% de rendimento, enquanto a hidrólise da mesma biomassa tratada com ácido diluído necessitou de 72 h de sacarificação para atingir 80% de conversão. 54 Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva Revisão Bibliográfica Tabela 5. Comparação dos rendimentos de sacarificação de biomassas pré-tratadas com diversos LIs, evidenciando as diferentes condições de processo utilizadas. Condições de Hidrólise Condições de Pré-tratamento η glicose (%) Ref. Biomassa LI T (°C) Tempo (h) Teor de sólidos (%) Celulose [Emim][Ac] 110 0,5 2 NI 2,0 46 Switchgrass [Emim][Ac] 160 3 3 NI 0,5 96b Corn stover [Emim][Ac] 160 3 3 NI 0,5 90b [Emim][Ac] 130 1,5 5 NI NI 95 [Emim][Ac] 120/ 150 0,5 5 20 1,5 93/81 Torr et al., 2012 [Emim][Ac] 120 0,5 5 30a 1,0 87 Qiu et al., 2012 [Emim][Ac] 160 3 15 NI 15 90 PerezPimienta, 2013 [Emim][Ac] 125 2 33 4.9 1,0 80 [Emim][Ac] 125 2 33 4.9 1,0 72 [Emim][Ac] 125 2 33 4.9 1,0 65 Bambu [Emim][Ac] 110 3 25 >1000 0,6 80 Ninomiya et al., 2013 Bambu Ch[Ac] 110 3 25 >1000 0,6 90 Ninomiya et al., 2013 [Emim][Cl] 150 1 5 180 5,0 30 [Emim][Cl] 150 0,5 5 180 5,0 40 Celulose [Bmim][Cl] 130 2 5 115 1,7 72 Celulose [Bmim][Cl] 110 0,5 2 NI 2,0 51 Palha de trigo [Emim]DEP 130 0,5 4 30 1,0 55b Miscanthus [Bmim][HSO4] 120 22 10 60 a 2,0 90 [Bmim][HSO4] 120 22 10 60 a 2,0 80 [Bmim][HSO4] 120 22 10 60 a 2,0 30 [Bmim]MeCO2 120 22 10 60 a 2 60 [Bmim]MeCO2 120 22 10 60 a 2 25 Serragem de Bordo Pinus radiata Cana selvagem Bagaço de agave Corn stover Serragem de Bordo Populus nigra Eucalyptus globulus Nathofagus pumilo Salix viminalis Pinus sylvestris Salix viminalis Pinus sylvestris a FPU/g Biomassa (%) Ha et al., 2011 Li et al., 2010 Li et al., 2011 Lee et al., 2009a Wu et al., 2011 Wu et al., 2011 Wu et al., 2011 Pezoa et al., 2010 Pezoa et al., 2010 Dadi et al., 2006 Ha et al., 2011 Li et al., 2009 Brandt et al., 2011 Brandt et al., 2011 Brandt et al., 2011 Brandt et al., 2011 Brandt et al., 2011 Dosagem de enzima por grama de celulose; NI – não informado; b Rendimento calculado com base em açúcares redutores; η = rendimento. 55 Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva Revisão Bibliográfica Em outro estudo (LI et al., 2011), o pré-tratamento de corn stover por AFEX foi comparado ao pré-tratamento com [Emim][Ac]. Os resultados mostraram que o corn stover pré-tratado com LI exibiu uma cinética de sacarificação mais rápida, atingindo 78,9% de conversão da celulose em açúcares redutores em 24 h, enquanto a biomassa pré-tratada por AFEX atingiu somente 51,6% após o mesmo intervalo. A velocidade inicial de hidrólise do corn stover pré-tratado com LI foi 2,9 vezes maior que do tratado por AFEX e 15,2 vezes mais rápida que o corn stover não tratado. Efeito do pré-tratamento com LIs na hidrólise enzimática do bagaço de cana-de-açúcar Ainda existem poucos trabalhos relatando o pré-tratamento do bagaço de cana-deaçúcar com LIs. Foi reportado um rendimento de 69,7% em açúcares redutores após a hidrólise enzimática (30 FPU/g de substrato) de bagaço pré-tratado com [Emim][Ac] por 15 min, a 145 °C utilizando um teor de sólidos de 14% durante o pré-tratamento (YOON et al., 2012). Os autores sugeriram que o pré-tratamento não foi tão eficiente devido ao alto teor de sólidos utilizado, o que impediu que o [Emim][Ac] propiciasse uma deslignificação efetiva, apesar do índice de cristalinidade ter sido reduzido. Outro trabalho reportou rendimento 62% de conversão da celulose após pré-tratamento do bagaço a 140 °C por 90 min utilizando somente [Bmim][Cl] (KIMON et al., 2011). Alguns grupos combinaram outras estratégias de pré-tratamento do bagaço de cana-deaçúcar com o uso de LI, de forma a reduzir o tempo de incubação e aumentar a eficiência do processo. Zhang e colaboradores (2012) realizaram o pré-tratamento em soluções aquosas de LIs catalisado com HCl. Nesse trabalho, as condições ótimas de pré-tratamento do bagaço de cana-de-açúcar foram incubação a 130 °C, por 30 min, utilizando uma solução de água/[Bmim][Cl]/HCl de 20/78,8/1.2 (%). Rendimentos de hidrólise correspondentes a 94,5% foram alcançados após 24 h de sacarificação utilizando enzimas comerciais em uma dosagem de 20 FPU/g de glucana, enquanto o pré-tratamento por 120 min utilizando somente [Bmim][Cl] resultou em 29,5% de conversão da celulose. Outros estudos realizaram o pré-tratamento do bagaço com LIs catalisado por ácidos utilizando misturas de HCl-[Bmim][Cl] (ZHANG et al., 2013) ou H2SO4-1-butil-3metetilimidazólio metilsulfato ([Bmim][MeSO4]) (DIEDERICKS et al., 2011) mostrando que apesar da cristalinidade da celulose ter se mantido inalterada, um aumento significativo na digestibilidade da celulose foi atingido, devido a remoção simultânea de xilana e lignina. A Tabela 6 apresenta as condições de pré-tratamento do bagaço de cana-de-açúcar com LIs utilizadas em diversos trabalhos e rendimentos de hidrólise obtidos. 56 Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva Revisão Bibliográfica Tabela 6. Condições de pré-tratamento do bagaço de cana-de-açúcar utilizadas em estudos publicados e resultados de sacarificação obtidos. LI Prétratamento associado T (°C) Tempo (min) Carga de sólidos (%) FPU/g [biomassa](%) η glicose (%) [Emim][Ac] - 120 30 5 15/1,0 87,0 [Emim][Ac] - 145 15 14 30/1,0 69,7b [Bmim][Cl] - 140/150 90 5 15 a/1,0 62,0/100 [Bmim][Cl] - 130 120 10 20 a/2,0 29,5 [Bmim][Cl] H2SO4/HCl 130 30 10 20 a/2,0 93,5/94,5 100 60 3 20/2,0 90,0b 100 60 3 20/2,0 91,4b [Bmim][Cl] [Amim][Cl] NH4OHH2O2 NH4OHH2O2 [Bmim][MeSO4] - 125/150 120 10 60/1,0 79,0/100 [Bmim][MeSO4] H2SO4 100 120 10 60/1,0 74,0 a Ref. Qui et al., 2012 Yoon, et al., 2012 Kimmon et al., 2011 Zhang et al., 2012 Zhang et al., 2012 Zhu et al., 2012 Zhu et al., 2012 Diedericks et al., 2012 Diedericks et al., 2012 b Dosagem de enzima por grama de celulose; Rendimento calculado com base nos açúcares redutores. 2.4.1.5. Efeito dos líquidos iônicos na atividade e estabilidade de celulases Logo após o aparecimento das primeiras publicações reportando a dissolução de celulose em LIs, surgiram estudos sobre a verificação dos possíveis efeitos desses sais nos sistemas celulolíticos (TURNER et al., 2003). Como os LIs são sais e as celulases, assim como a maioria das enzimas, desnaturam em ambientes com alta concentração de sais, os pesquisadores rapidamente concluíram que traços de LIs que permanecessem na biomassa após o pré-tratamento poderiam afetar negativamente a hidrólise enzimática ou impedir que a hidrólise ocorresse in situ após a dissolução (ZHAO et al., 2009b; ENGEL et al., 2010). De fato, estudos posteriores demonstraram que os LIs podem afetar as reações enzimáticas através da alteração da estrutura, da atividade, da enantioseletividade e da estabilidade das enzimas (NAUSHAD et al., 2012). Como diferentes LIs apresentam propriedades físico-químicas que variam amplamente dependendo da natureza dos cátions ou 57 Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva Revisão Bibliográfica ânions, os efeitos observados nas diversas enzimas dependem muito da combinação entre o LI estudado e a enzima alvo, podendo resultar em efeitos positivos ou negativos. Enquanto efeitos negativos foram reportados em geral para enzimas que atuam em meios aquosos, efeitos positivos foram relatados para reações que normalmente ocorrem em meios não aquosos, como processos de síntese orgânica mediados por lipases (LAU et al., 2000). Em geral, foi reportado que os LIs que apresentam cátions com uma cadeia alquil longa ou ânions apresentando uma alta capacidade de formar ligações de hidrogênio têm um impacto negativo na atividade enzimática, pelo fato de interagirem fortemente com a enzima levando a alterações na conformação nativa (KAAR et al., 2003; ZHAO, 2010b). Um dos primeiros trabalhos que estudaram a atividade de celulases em LIs demonstrou que as celulases de Trichoderma reesei se inativavam na presença do líquido iônico cloreto de 1-butil-3-metilimidazólio ([Bmim][Cl]) e sugeriram que a inativação foi induzida por desenovelamento e consequente desnaturação da proteína. Foi concluído que os íons Cl- são, em parte, responsáveis pela inativação das celulases, pelo fato de os LIs com alta basicidade produzirem um ambiente de desidratação que é desvantajoso para a maioria das enzimas. No entanto, o mecanismo de desenovelamento das celulases observado na presença de LIs, determinado por medidas de emissão de fluorescência, foi diferente daquele observado em NaCl. Logo, os autores sugeriram que outros fatores além dos íons Cl- poderiam estar envolvidos no processo de desnaturação (TURNER et al., 2003). Em uma tentativa de entender os efeitos dos LIs nas enzimas do complexo celulolítico individualmente, foram avaliadas as enzimas endoglucanase I e celobioidrolase I, purificadas de uma preparação comercial derivada de T. reesei (Celluclast 1.5L, Novozymes), em ensaios contendo até 30% (v/v) de fosfato de dimetila de 1,3-dimetil imidazólio ([Mmim][DMP]). As enzimas purificadas retiveram cerca de 60% da sua atividade original em soluções de até 10% [Mmim][DMP]; no entanto, as atividades diminuíram para menos de 30% em concentrações de 30% do LI (ENGEL et al., 2012). Esses resultados mostraram que as celulases de T. reesei são mais ativas e estáveis na presença de [Mmim][DMP] que de [Bmim][Cl], sugerindo que a inativação total das celulases na presença de LIs não é um fenômeno que pode ser generalizado. Wolski e colaboradores (2011) também confirmaram que o [Mmim][DMP] é um LI que resulta em menor decréscimo da atividade celulolítica de T. reesei, mostrando que a conversão completa de Avicel em glicose pode ser obtida após 16 h de hidrólise em misturas contendo 10 e 20% (p/p) do LI. Além de buscar novos LIs, alguns estudos identificaram a necessidade de desenvolver/isolar celulases estáveis na presença de pequenas quantidade de LIs 58 Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva Revisão Bibliográfica coprecipitados com a biomassa. Nesse sentido, muitos grupos de pesquisa iniciaram o screening de novas celulases provenientes de outros microrganismos não pertencentes ao gênero Trichoderma ou por metagenômica (SINGER et al., 2011; POTTKÄMPER et al., 2009). Também foi sugerido que melhores resultados podem ser obtidos através da obtenção de celulases de ambientes extremos, já que organismos hipertermofílicos têm condições de crescimento nativas em ambientes altamente redutores (TURNER et al., 2007). De fato, foi descrito que as endoglucanases hipertermofílicas de Thermatoga maritime (Tma Cel5A) e Pyrococcus horikoshii (EGPho) apresentaram uma tolerância significativamente maior ao ([Emim][Ac]) que as celulases de T. viride (DATTA et al., 2010). Outro estudo propôs o uso de um coquetel enzimático composto por celulases termofílicas para um processo pré-tratamento e hidrólise simultâneo. Um sobrenadante rico em endoglucanases produzido por um consórcio de bactérias termofílicas foi suplementado com celobioidrolase de Caldicellulosiruptor saccharolyticus e β-glicosidase de Thermatoga petrophila. Enquanto o coquetel comercial Cellic CTec2 (Novozymes) reteve somente 23% da atividade em 10% (p/v) de [Emim][Ac] a 50 °C, o coquetel termofílico reteve 97% e 65% de sua atividade a 70 °C e 80 °C, respectivamente (PARK et al., 2012). No entanto, apesar de todos os estudos citados acima reportarem certo nível de inativação das enzimas na presença de LIs, recentemente foi publicado um estudo em que uma endoglucanase de Aspergillus niger foi estabilizada na presença de sulfato de metila de tris-(2-hidroxietil)-metil amônio (HEMA). A temperatura de desnaturação e precipitação da enzima mudou de 55 °C, quando em tampão, para 75 °C, na presença de HEMA, tendo a enzima adquirido maior tolerância à temperatura na presença do LI. Os autores concluíram que esta propriedade está relacionada ao cátion do LI em questão e discutiram que LIs baseados no cátion imidazol podem ter um efeito desestabilizante na endoglucanase (BOSE et al., 2011).. Este fato também está de acordo com outro estudo que mostrou que uma peroxidase de raiz forte tem sua atividade melhorada na presença de trifluoro metano sulfonato de tetraquis-(2-hidroxietil) amônio, que apresenta um cátion similar ao LI HEMA (DAS et al., 2007) O design de LIs que tenham alta habilidade de transformar a biomassa e simultaneamente não afetar as enzimas celulolíticas e hemicelulolíticas ainda permanece um desafio. O desenvolvimento de LIs menos nocivos às enzimas combinado ao screening de novas celulases tolerantes a LIs podem levar ao desenvolvimento futuro de processos biotecnológicos muito atraentes. 59 Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva Revisão Bibliográfica 2.4.1.6. Efeito dos líquidos iônicos em Saccharomyces cerevisiae Ainda existem poucos estudos relatando o efeito dos LIs em microrganismos fermentativos. Oulelet e coautores (2011) avaliaram o impacto da utilização de açúcares derivados da hidrólise de biomassas pré-tratadas com [Emim][Ac] no crescimento aeróbico e fermentativo de Saccharomyces cerevisiae. Os resultados indicaram que o crescimento e a produção de etanol foram influenciados por resíduos de LIs (10-15%) na biomassa recuperada após o pré-tratamento e que traços de [Emim][Ac] (0,1%) não tiveram impacto no resultado final. Foi mostrado que existe um efeito sinérgico de inibição do cátion e do ânion, já que experimentos controle contendo a mesma concentração de acetato, conhecido inibidor do metabolismo de S. cerevisiae, resultaram em rendimentos maiores de fermentação da glicose a etanol. Apesar de ser um indicativo da toxicidade do [Emim][Ac] para S. cerevisiae, o estudo de Ouletet e coautores (2011) utilizou uma cepa laboratorial e concentrações relativamente altas de LIs. Ainda são necessários estudos que testem a resistência de cepas industriais mais robustas e que utilizem concentrações de LIs intermediárias à faixa utilizada no estudo (entre 0,1-10%). Em outro estudo, uma linhagem modificada geneticamente de S. cerevisiae expressando celulases de T. reesei e β-glicosidase de Aspergillus aculeatus foi utilizada para a realização de um bioprocesso consolidado, onde as etapas de pré-tratamento, hidrólise enzimática e fermentação ocorreram todas dentro de um mesmo reator. O líquido iônico utilizado foi o [Emim][DEP], que foi identificado como tendo pouco efeito na viabilidade das células em concentração <200 mM. Como o pré-tratamento com líquidos iônicos gera uma biomassa de alta digestibilidade e parcialmente amorfa, a hidrólise de materiais tratados com LIs por celulases expressas em S. cerevisiae, normalmente menos eficientes que enzimas comerciais, atingiu níveis de conversão elevados. Dessa forma, o pré-tratamento com LIs pode possibilitar a realização de um bioprocesso consolidado eficiente, o que pode representar um sistema atraente no futuro (NAKASHIMA et al., 2011). 2.4.1.7. Vantagens e desvantagens do pré-tratamento com líquidos iônicos Como discutido nos tópicos anteriores, os LIs são capazes de romper a estrutura da parede celular e fracionar parcialmente os seus componentes, alterando também a cristalinidade da celulose e sua estrutura. Essa combinação de fatores resulta em um material pré-tratado que pode ser facilmente hidrolisado em açúcares monoméricos e aumenta as taxas iniciais de hidrólise acentuadamente em relação a outras tecnologias de pré-tratamento. Para 60 Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva Revisão Bibliográfica se obter altas taxas de conversão da celulose (>80%) utilizando outros processos de prétratamento, a hidrólise enzimática precisa ser mantida por períodos de 48-72 h. No entanto, para biomassas pré-tratadas com LIs, esse rendimento pode ser obtido em menos de 24 h de hidrólise. Ainda, a possibilidade de recuperar uma fração de lignina relativamente pura é uma oportunidade para a produção de produtos com alto valor agregado em adição à produção de etanol, o que pode favorecer a economicidade de uma biorrefinaria baseada no pré-tratamento com LIs. De fato, estudos mostraram que a venda da lignina pode abaixar efetivamente o preço mínimo de venda do etanol a ponto de a lignina se tornar a maior fonte de renda de uma biorrefinaria baseada no uso de LIs (KLEIN-MARCUSCHAMER et al., 2011). No entanto, ainda existem muitos desafios a serem resolvidos antes que os LIs possam ser considerados uma opção real de pré-tratamento, começando pelo seu alto custo e a necessidade de recuperação e reciclo. Até o momento, a maior parte dos processos de prétratamento com LIs propôs métodos utilizando baixo teor de sólidos (em torno de 5%). No entanto, Klein-Marcuschamer e colaboradores (2011) mostraram que na verdade é muito mais importante reduzir a quantidade de LI que aumentar a taxa de reciclo. Alguns trabalhos também relataram o reciclo de LIs por até 10 ciclos sem que houvesse perda significativa da eficiência de pré-tratamento (LEE et al., 2009a; WU et al., 2011; ZHANG et al., 2012a). No entanto, o desenvolvimento de métodos de reciclo energeticamente eficientes para aplicações em larga escala ainda precisa ser estudado em detalhe. Também é importante ressaltar que estudos de hidrólise enzimática da biomassa prétratada com LIs com alto teores de sólidos (>20%) precisam ser avaliados para validar a eficiência do pré-tratamento, já que a maior parte dos estudos publicados utiliza concentrações de biomassa pré-tratada menores que 5% na etapa de hidrólise. A toxicidade de traços de LIs para enzimas e microrganismos fermentativos também precisa ser avaliada em detalhes, já que podem afetar negativamente o desempenho hidrolítico (TURNER et al., 2010) e a produção de etanol (OUELLET et al., 2011). Apesar das atuais limitações, os LIs apresentam um grande potencial para o desenvolvimento de uma biorrefinaria baseada não somente na produção em larga escala de etanol, mas também de produtos de alto valor agregado. 2.4.2. Pré-tratamento por extrusão Nos últimos 30 anos, o número de estudos sobre a utilização da extrusão para o processamento da biomassa vem crescendo, sendo as aplicações mais expressivas voltadas para extração de compostos (ISOBE et al., 1992; N’DYANE et al., 1996), densificação 61 Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva Revisão Bibliográfica (RIAZ, 2000; KALIYAN e MOREY, 2009) e pré-tratamento da biomassa para a hidrólise enzimática (LEE et al., 2009b, 2010a, 2010b; KARUNANITHY e MUTHUKUMARAPPAN, 2010a, 2010b, 2011a, 2011b). A extrusão é uma tecnologia de pré-tratamento atraente, de alta versatilidade, eficiência e produtividade, de baixo custo e curto tempo de reação, sendo vantajosa quando comparada a processos em batelada (LEE et al., 2009b). As extrusoras foram originalmente desenvolvidas com o objetivo de processar polímeros e matérias-primas na indústria de alimentos (MERCIER e FEILLET, 1975). O equipamento consiste em um cilindro com um ou dois parafusos (roscas) rotatórios que comprimem e carreiam o material continuamente de uma porta de alimentação até uma saída. O cilindro é normalmente divido em seguimentos, o que permite que a temperatura seja controlada ao longo do comprimento, além de permitir a alimentação de aditivos por portas posicionadas em pontos selecionados (Figura 18). Figura 18. Representação esquemática simplificada de uma extrusora. Uma extrusora pode ter muitas funções, tais como amassar, desgaseificar, desidratar, expandir, homogeneizar, esterilizar, misturar, densificar, cozer e promover o cisalhamento (GONZALEZ-VALADEZ et al., 2008). Em um mesmo processo, a extrusora pode desempenhar simultaneamente diversas funções, dependendo de seu tamanho e do design das roscas. Os diferentes tipos de elementos que compõe a rosca de extrusão, tanto de transporte (diretos ou reversos) ou mistura, podem ser dispostos em diferentes combinações de forma a promover a homogeneização, o cisalhamento, alongar o tempo de retenção e aumentar a pressão. A possibilidade de alterar a configuração das roscas faz com que o processo de extrusão seja bastante flexível. A utilização de elementos de mistura, que podem estar dispostos em diferentes ângulos (tipicamente 30°, 45°, 60° e 90°), aumenta a força de cisalhamento, já que o material é forçado a passar por espaços menores entres os discos e a 62 Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva Revisão Bibliográfica parede do cilindro (KALYON e MALIK, 2007; SENTURK-OZER et al., 2011). A Figura 19 ilustra exemplos de elementos que podem compor uma rosca de extrusão. Figura 19. (a) Exemplos de diferentes modelos de elementos de mistura e transporte; (b) Montagem de uma rosca de extrusão (Adaptado de KOLTER et al., 2010). Existem diferentes tipos de extrusoras, que podem ser classificadas como monorrosca, dupla-rosca ou múltiplas roscas. A extrusora monorrosca é mais indicada para a obtenção de misturas homogêneas sem que haja mudanças nas características dos materiais. Já as extrusoras dupla-rosca, que podem ser classificadas como corrotantes ou contrarrotantes, são normalmente utilizadas para obter mudanças nas propriedades físicas das matérias-primas pela aplicação de forças de cisalhamento (SENTURK-OZER et al., 2011). As roscas contrarrotantes são utilizadas para obtenção de alto grau de cisalhamento; no entanto, podem resultar em desgaste excessivo do material. Já as roscas corrotantes podem ser operadas em velocidades maiores, resultando em alta produtividade e ainda assim mantendo considerável eficiência de cisalhamento, mistura e fluxo (Figura 20). Figura 20. Características de dupla-roscas corrotantes e contrarrotantes (Adaptado de Kolter et al., 2010) O uso de extrusoras dupla-rosca é ideal para promover a extração da fração de hemicelulose da biomassa lignocelulósica, já que é possível comprimir o material entre os elementos de mistura e de transporte reverso, permitindo que ocorra simultaneamente a 63 Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva Revisão Bibliográfica extração e a separação líquido/sólido de forma eficiente (N'DIAYE et al., 1996), sendo as roscas corrotantes apontadas como as mais promissoras para o processamento da biomassa (LEE et al., 2010a). No entanto, em geral, a extrusão da biomassa lignocelulósica é um processo difícil, levando ao acúmulo e queima da biomassa e consequente bloqueio da matriz de saída (YOO et al., 2011). Para transpor tais dificuldades, o material pode ser misturado com água ou aditivos, como bases (CARR e DOANE, 1984; DALE et al., 1999) ou ácidos (CHEN et al., 2011; CHOI e OH, 2012), que visem aumentar a viscosidade e as propriedades de fluxo, reduzindo assim o torque operacional. A Tabela 7 lista exemplos de trabalhos que estudaram o pré-tratamento por extrusão de diversas biomassas, ressaltando as condições utilizadas e os rendimentos obtidos após hidrólise enzimática das biomassas pré-tratadas. Tabela 7. Condições utilizadas para o pré-tratamento por extrusão de diversos tipos de biomassas e rendimentos obtidos após hidrólise enzimática do material pré-tratado. Aditivo ou prétratamento combinado η glicose (%)* tratamento hidrotérmico, 170 27,7/34,3 °C (48h) etilenoglicol 62,4 (48h) Lee et al., 2009b 73,0/36,0a Lamsal et al., 2010 Biomassa Tipo de extrusora Douglas fir/Eucalipto dupla-rosca corrotante Douglas fir dupla-rosca contrarrotante Farelo de trigo / casca de soja dupla-rosca corrotante Casca de soja dupla-rosca corrotante amido 94,8 (72h) Spartina pectinata (praire cordgrass) extrusora monorrosca tratamento alcalino 86,8 (72h) Miscanthus dupla-rosca corrotante tratamento alcalino 69,4 (72h) Panicum virgatum (switchgrass) extrusora monorrosca - 41,4 (72h) dupla-rosca corrotante dupla-rosca corrotante H2SO4 diluído (1-3%) 65,5 (72h) H2SO4 diluído (3,5%) 70,9 (48h) extrusora monorrosca - 75,0 (72h) Palha de arroz Palha de canola Palha de milho mistura de NaOH, ureia e tioureia Ref. Lee et al., 2010 Yoo et al., 2011 Karunanithy et al., 2011 De Vrije et al., 2002 Karunanithy et al., 2011b Chen et al., 2011 Choi et al., 2012 Karunanithy et al., 2010 Dale et al., 1999 dupla-rosca 2,4 vezes AFEX corrotante maiorb * Rendimento em glicose alcançado após a hidrólise enzimática do resíduo sólido obtido. Os números entre parêntesis representam o tempo de sacarificação. a Calculado com base nos açúcares redutores b Os autores não mencionam os rendimentos absolutos, citando apenas que o rendimento em glicose aumentou em 2,4 vezes em relação ao material não tratado. Palha de milho 64 Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva Revisão Bibliográfica O mecanismo de ação do pré-tratamento por extrusão está relacionado à fibrilação da parede celular e ao aumento da área de superfície (LEE et al., 2009b; 2010a, 2010b; KARUNANITHY e MUTHUKUMARAPPAN, 2011a, 2011b) e do tamanho dos poros, fatores que facilitam o acesso das enzimas à celulose. Alguns autores já relataram que a cristalinidade da celulose não é alterada significativamente na biomassa extrusada (LEE et al., 2009b; LAMSAL et al., 2010), enquanto um aumento de 82% na cristalinidade de casca de soja pré-tratada foi reportada após o pré-tratamento termomecânico utilizando uma extrusora dupla-rosca (YOO et al., 2011). Como a composição do material não foi alterada com o prétratamento por extrusão, foi sugerido que o tratamento resultou na cristalização de estruturas amorfas. Assim, ainda que a extrusão não reduza a cristalinidade da celulose, a desestruturação da parede celular em nível nanoscópico é suficiente para obter uma hidrólise enzimática eficiente, independentemente do índice de cristalinidade (LEE et al., 2009b). 2.4.2.1. Vantagens e desvantagens do pré-tratamento por extrusão O pré-tratamento por extrusão, além de ser um processo contínuo, apresenta a vantagem de possibilitar o pré-tratamento com alto teor de sólidos e, consequentemente, a redução do consumo de água. Em geral, a extrusão requer menos energia que outros prétratamentos mecânicos, como a moagem. No entanto, a extrusão da biomassa lignocelulósica requer, na maior parte das vezes, o uso de aditivos para aumentar as propriedades de fluxo. Ainda assim, a extrusão combinada a tratamentos químicos apresenta vantagens, pois o requerimento de reagentes é menor, reduzindo o volume de efluentes tóxicos gerados quando comparada a tratamentos realizados em batelada por processos convencionais. Ainda, a combinação com pré-tratamentos térmicos e/ou químicos pode levar à remoção de parte da hemicelulose e da lignina, facilitando a digestibilidade da biomassa. Apesar dos diversos benefícios inerentes ao processo de extrusão, alguns estudos reportaram rendimentos máximos de hidrólise enzimática inferiores a 70% (ver Tabela 7), demonstrando que este tipo tratamento não é adequado para todos os tipos de biomassa. 3. Justificativa 66 Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva Justificativa A escolha do pré-tratamento pode gerar impactos em várias etapas do processo de produção de etanol lignocelulósico, tanto à montante (como condicionamento da biomassa), quanto à jusante (aproveitamento de frações extraídas, escolha da mistura enzimática e microrganismos, etc). Por isso, é dito que o pré-tratamento terá um papel central no planejamento de biorrefinarias de produção de etanol baseadas no aproveitamento da integral da biomassa. Nesse contexto, o pré-tratamento com líquidos iônicos é uma alternativa promissora, resultando em rendimentos e produtividade de hidrólise enzimática muito superiores aos prétratamentos convencionais. Além disso, a recuperar uma fração de lignina relativamente pura extraída durante o pré-tratamento é uma oportunidade para a produção de produtos com alto valor agregado em adição a produção de etanol, o que pode favorecer a economicidade de uma biorrefinaria baseada no pré-tratamento com líquidos iônicos. Independentemente da viabilidade econômica atual desses processos, esse é um tópico de elevado interesse acadêmico e tecnológico e por isso, o desenvolvimento da área deve ser estimulado visando não só o melhor entendimento dos mecanismos que fazem dos líquidos iônicos reagentes extraordinários para a desestruturação da biomassa, como também o aprofundamento de estudos de caráter mais prático que enfoquem o desenvolvimento de técnicas de barateamento e reuso. Na ocasião da apresentação do projeto de tese durante o processo seletivo do Programa de Pós-Graduação em Bioquímica (fevereiro de 2010), o estudo do pré-tratamento da biomassa com líquidos iônicos encontrava-se em seu estágio inicial, não havendo, até então, nenhum estudo publicado que avaliasse o pré-tratamento da biomassa da cana-deaçúcar com esses reagentes. Dessa forma, identificou-se uma lacuna a ser preenchida, tendo este estudo sido planejado para suprir a necessidade de se explorar essa nova técnica de prétratamento, tanto nos seus aspectos fundamentais como mais aplicados, além de contribuir para o aumento do conjunto de dados disponíveis sobre a biomassa da cana-de-açúcar, que é reconhecidamente de enorme relevância para o país. 4. Objetivos 68 Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva Objetivos 3.1. Objetivo Geral Avaliar a eficiência do pré-tratamento da biomassa da cana-de-açúcar com líquidos iônicos, buscando entender a correlação entre as transformações observadas na estrutura da biomassa tratada com os dados de hidrólise enzimática. Além disso, propor uma nova abordagem para o uso de líquidos iônicos, visando o desenvolvimento de um processo no qual seja possível realizar o pré-tratamento com alto teor de sólidos. 3.2. Objetivos Específicos Selecionar um líquido iônico que seja eficiente para o pré-tratamento do bagaço e da palha de cana-de-açúcar; A partir dos dados iniciais de conversão enzimática da celulose, escolher a biomassa de estudo (bagaço ou palha) de acordo com os melhores rendimentos obtidos nas condições testadas; Otimizar as condições de reação em relação à temperatura e ao tempo de prétratamento; Avaliar as modificações estruturais e morfológicas na biomassa pré-tratada; Avaliar o requerimento de celobioidrolases para a hidrólise de amostras tratadas com líquidos iônicos; Avaliar a possibilidade de utilização de uma extrusora de dupla-rosca como um misturador para promover o pré-tratamento com líquido iônico em alto teor de biomassa; Estudar a quantidade mínima de líquido iônico necessária para promover um prétratamento eficiente, estudando diferentes razões de biomassa:líquido iônico para o tratamento. 5. Materiais e Métodos 70 Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva Materiais e Métodos 5.1. Materiais Os líquidos iônicos (LIs) utilizados nesse trabalho foram: cloreto de 1-butil-3metilimidazólio ([Bmim][Cl]), acetato de 1-etil-3-metilimidazólio ([Emim][Ac]), cloreto de 1-alil-3-metilimidazólio ([Amim][Cl]), fosfato de dimetila de 1,3-dimetilimidazólio ([Mmim][DMP]), bis(trifluormetanosulfonil) imida de 1-n-butil-3-metilimidazólio ([Bmim][NTf2]) e sulfato de etila de 1-etil-3-hidroximetil piridina. Figura 21. Líquidos iônicos utilizados nesse estudo. a) cloreto de 1-butil-3-metilimidazólio ([Bmim][Cl]), b) acetato de 1-etil-3-metilimidazólio ([Emim][Ac]), c) cloreto de 1-alil-3-metilimidazólio ([Amim][Cl]), d) fosfato de dimetila de 1,3-dimetilimidazólio ([Mmim][DMP]), e) bis(trifluormetanosulfonil) imida de 1-nbutil-3-metilimidazólio ([Bmim][NTf2]) e f) sulfato de etila de 1-etil-3-hidroximetil piridina. Todos os líquidos iônicos foram obtidos de fontes comerciais (Ioliec, Alemanha – [Emim][Ac] e Sigma-Aldrich, EUA – todos os outros) e utilizados sem nenhuma purificação adicional. O bagaço e a palha de cana-de-açúcar foram gentilmente fornecidos pelo Complexo Bioenergético Itarumã localizado no estado de Goiás, Brasil. As amostras de bagaço e palha de cana-de-açúcar foram moídas em um moinho de facas e as partículas que passaram através de uma peneira de 2,0 mm foram coletadas para experimentos e fracionadas com o auxílio de um peneirador em frações com tamanhos de partículas de 125 µm a 250 µm, de 250 µm a 425 µm e de 425 µm a 1000 µm, que foram utilizadas para diferentes propósitos (Figura 21). 71 Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva Materiais e Métodos Figura 22. Fluxograma de utilização das de diversas frações da biomassa moída. 5.2. Determinação da composição química da biomassa 5.2.1. Método gravimétrico No primeiro procedimento utilizado, a composição foi determinada de acordo com Teramoto e coautores (2008), com algumas modificações descritas a seguir. As amostras (tamanho de partícula entre 125 e 250 µm) foram secas a vácuo (40 °C) por 24 h e subsequentemente extraídas em um extrator Soxhlet por 6 h com uma solução mista de etanol:tolueno (1:2 em volume). A solução contendo os extrativos foi então submetida à rotaevaporação e o percentual de extrativos calculado gravimetricamente. O conteúdo de holocelulose (celulose + hemicelulose) foi determinado como o resíduo proveniente da deslignificação com NaClO2, de acordo com procedimento a seguir: 0,2 g de NaClO 2 foram adicionados a 30 mL de solução de ácido acético 7,5% contendo 0,5 g da amostra extraída. A mistura foi incubada em banho de água a 80 °C por 1 h e a adição de NaClO 2 repetida 3 vezes, totalizando 4 h de deslignificação. O produto deslignificado foi filtrado, lavado diversas vezes com água destilada e seco a vácuo (40 °C) por 24 h, sendo então pesado para determinação do percentual de holocelulose (WISE et al., 1946). A hidrólise ácida da holocelulose para a determinação do conteúdo das frações xilana e arabinana foi realizada como descrito em Silva et al. (2010). O conteúdo de α-celulose foi determinado como o resíduo insolúvel em uma solução aquosa de 17,5% de NaOH, de acordo com o procedimento a seguir: 5 mL de uma solução de 17,5% de NaOH foram adicionados a 0,2 g de amostra de holocelulose obtida como descrito acima e a mistura homogeneizada em um frasco com o auxílio de um bastão de vidro. Após essa etapa, 5 mL de água destilada foram adicionados e a mistura filtrada, sendo então a bomba de vácuo interrompida após a filtragem e 5 mL de uma 72 Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva Materiais e Métodos solução 10% de ácido acético adicionados. A nova mistura foi homogeneizada, filtrada e lavada diversas vezes com água destilada. Depois de secar o resíduo a vácuo (40 °C) por 24 h, o percentual de α-celulose foi determinado gravimetricamente. O conteúdo de lignina Klason foi determinado como o resíduo insolúvel em uma solução aquosa de ácido sulfúrico em uma concentração de 72%, como descrito a seguir: 3 mL de uma solução 72% de ácido sulfúrico foram adicionados a 0,2 g da amostra extraída com a solução de etanol:tolueno. A mistura foi agitada à temperatura ambiente por 4 h. A seguir, 112 mL de água destilada foram adicionados e a mistura incubada à temperatura elevada de modo que a água fosse recirculada por mais 4 h. A mistura foi então filtrada e o resíduo obtido lavado com água destilada, seco a 105 °C e então pesado para o cálculo do percentual de lignina Klason (BROWNING, 1967). 5.2.2. Método baseado na análise de açúcares O segundo procedimento de caracterização da composição química seguiu o protocolo analítico descrito por Slutier e coautores (2011), conforme detalhado a seguir. As amostras moídas e peneiradas de bagaço in natura ou pré-tratado foram secam a 40 °C em uma estufa a vácuo até atingirem menos de 10% de umidade. As amostras secas (300 ± 10 mg) foram hidrolisadas com ácido sulfúrico 72% (4.92 ± 0.02 g) a 30 °C por 1 h, sob agitação, seguido de uma diluição para uma concentração final de ácido de 4% pela adição de água destilada (84 mL). As misturas foram autoclavadas a 121 °C por 1 h, resfriadas e filtradas em um filtro de fibra de vidro (Whatman GF/A 47 mm, Whatman International Ltd., Inglaterra), utilizando uma bomba a vácuo. A fração sólida obtida foi seca a 105 °C e utilizada para a derterminação gravimétrica da lignina insolúvel e cinzas insolúveis em ácido. Uma amostra do líquido recuperado como filtrado (20 mL) foi neutralizada com CaCO3, filtrada por filtros com 0,2 µm de poro e analisada por cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC) para determinar as concentrações dos açúcares monoméricos, descrita no item 5.7. As análises foram realizadas em duplicata para todas as amostras e em triplicata ou mais repetições quando se julgou necessário. 5.3. Condições de pré-tratamento 5.3.1. Processo de pré-tratamento para seleção do líquido iônico mais eficiente Os líquidos iônicos (4,0 g) foram adicionados em tubos de vidro contendo 200 mg de bagaço ou palha de cana-de-açúcar (razão de biomassa:líquido iônico de 1:20 p/p) e incubados em temperaturas que variaram de 60 a 120 °C, por 120 min, utilizando o 73 Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva Materiais e Métodos equipamento Carousel 12 Plus (Radleys, Reino Unido). O tamanho de partícula da biomassa utilizado foi de 425 µm a 1,0 mm. Após o tempo de pré-tratamento estabelecido, os tubos foram resfriados em banho de água e 10 mL de água foram adicionados, sendo os tubos agitados para promover a regeneração e precipitação da biomassa dissolvida. A biomassa foi recuperada por centrifugação e filtração, sendo lavada com 1 L de água destilada, visando a remoção de resíduos de líquidos iônicos. Os ensaios de pré-tratamentos foram realizados em duplicata. A Figura 22 mostra a sequência de etapas realizadas durante o pré-tratamento. Figura 23. Representação das etapas realizadas para o pré-tratamento da biomassa. A biomassa foi mantida úmida para evitar a coagregação das fibras durante o processo de secagem, visando manter a morfologia da biomassa pré-tratada, sendo o conteúdo de umidade determinado antes dos ensaios de hidrólise enzimática. Experimentos paralelos foram realizados para determinar o conteúdo de sólidos extraídos e que permaneceu solúvel na mistura líquido iônico-água após o pré-tratamento e adição do antissolvente. O percentual de sólidos extraídos foi determinado através da Equação [1]. Sólidos extraídos (%) = ; Eq. [1] Onde a massa do resíduo recuperado por filtração foi medida após secagem a peso constante em forno a 105 °C. Para determinar o efeito do tempo de pré-tratamento, entre 5 e 120 min de incubação, experimentos em escala maior foram conduzidos a 120 °C, utilizando 20 g do líquido iônico [Emim][Ac] e 1g de bagaço, em ensaios utilizando uma placa de agitação com aquecimento controlado, conforme mostrado na Figura 23. 74 Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva Materiais e Métodos Figura 24. Configuração experimental utilizada em ensaios contendo 1 g de bagaço e 20 g de [Emim][Ac]. O frasco ao fundo contém apenas o líquido iônico. 5.3.2. Processo de pré-tratamento de alto teor de sólidos com líquidos iônicos Foi utilizada uma unidade motora (Labo Plastomill, modelo 30C150, Toyo Seiki, Tóquio, Japão), equipada com uma extrusora de dupla-rosca (2D15W, Toyo Seiki, Tokyo, Japão), apresentando uma razão de comprimento do cilindro para o diâmetro da rosca (L/D) de 17:1 (Figura 24). Figura 25. Extrusora utilizada neste estudo. A configuração da dupla-rosca utilizada nesse trabalho, de 272 mm de comprimento, está representada na Figura 25, mostrando o arranjo entre os elementos de transporte e mistura utilizados. 75 Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva Materiais e Métodos Figura 26. Configuração da dupla-rosca utilizada neste estudo. Os números representam o tamanho da rosca, dos elementos ou dos passos dos elementos, em mm. Para o pré-tratamento, 6,0 g de bagaço de cana-de-açúcar (tamanho de partícula 425 µm a 1000 µm) foram misturados a quantidades determinadas do liquido iônico [Emim][Ac], a fim de preparar quatro razões diferentes de bagaço:[Emim][Ac] (p/p), equivalentes a 1:8, 1:5, 1:3 e 1:1. As misturadas foram agitadas por 15 min e alimentadas manualmente na extrusora, que foi pré-aquecida a temperaturas que variaram de 80 a 180 ºC e programada para uma velocidade de extrusão de 15 rpm. Após toda a amostra inicial ter sido extrusada, cerca de 30% da massa da mistura de bagaço-líquido iônico foi recuperada para ensaios de determinação da composição da biomassa e hidrólises enzimáticas, sendo o produto remanescente extrusado novamente. Essa operação foi repetida por até 3 ciclos. Após as misturas de bagaço-líquido iônico terem sido recuperadas, 50 mL de água destilada foram adicionados. A biomassa foi lavada com 1L de água destilada, dispersa com a ajuda de um homogeneizador de alta velocidade (Ultra Turrax T 25 Basic, Ika), filtrada e mantida úmida para os experimentos de hidrólise enzimática e avaliação da morfologia. O conteúdo de umidade foi determinado antes dos ensaios de hidrólise enzimática. Os ensaios de prétratamento foram realizados pelo menos em duplicata. 5.3.3. Processo por moinho de bolas Para estabelecer uma comparação com o pré-tratamento com líquidos iônicos, em alguns experimentos de hidrólise foram utilizados também materiais pré-tratados por moinho de bolas, conforme descrito previamente (SILVA et al., 2010). Resumidamente, as matériasprimas foram tratadas utilizando um moinho de bolas do tipo planetário (Planetaty Micro Mill pulverisette 7, Frisch, Alemanha) (Figura 26). As amostras (1 g) foram moídas a 400 rpm em um copo de 45 mL contendo 7 esferas (φ = 15 mm) por 120 minutos a temperatura ambiente. O moinho foi operado em modo cíclico de tal forma que a cada 10 minutos de moagem houve 76 Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva Materiais e Métodos uma pausa de 10 minutos. O tempo de moagem a que se refere neste trabalho corresponde ao tempo de moagem real, excluindo as pausas. Figura 27. Equipamento utilizado para o pré-tratamento por moinho de bolas. (a) visão geral do moinho; (b) copos e bolas utilizadas para a moagem. 5.4. Dosagens enzimáticas 5.4.1. Preparo do reagente DNS O reagente DNS foi utilizado para a dosagem da concentração dos açúcares redutores liberados durantes algumas reações enzimáticas. O reagente foi preparado pela adição em água destilada de 10 g de ácido 3,5-dinitrosalicílico, 16 g de hidróxido de sódio e 300 g de sal de Rochelle (tartarato duplo de sódio e potássio) para perfazer um volume final de 1000 mL. O reagente foi preparado sem a adição de fenol e metabissulfito (TEIXEIRA et al., 2012). 5.4.2. Atividade de FPase A atividade de papel de filtro (FPase - Filter paper activity) foi determinada de acordo com a metodologia padrão descrita pela IUPAC e expressa em FPU/mL (GHOSE, 1987). O método baseia-se na dosagem da concentração de açúcares redutores liberados durante a degradação de uma fita de papel de filtro. O meio reacional constituiu-se de 0,5 mL do extrato enzimático (diluído em tampão citrato de sódio 50 mmol/L, pH 4,8, quando necessário), 1,0 mL de tampão citrato de sódio 50 mmol/L, pH 4,8 e uma tira de papel de filtro Whatman no 1 medindo 1,0 cm X 6,0 cm (aproximadamente 50 mg). A mistura reacional foi incubada a 50º C, durante 60 minutos. A reação foi interrompida pela adição de 3,0 mL de DNS, fervida por 5 min e resfriada em banho de gelo. Para a determinação da concentração de açúcares 77 Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva Materiais e Métodos redutores pelo método do DNS, 0,2 mL da mistura resultante após a adição de DNS foram adicionados a cubetas descartáveis contendo 2,5 mL de água destilada e a absorbância da mistura foi lida a 540 nm. Para a determinação da concentração de açúcares, uma curva padrão de glicose foi construída de acordo com o recomendado por Ghose (1987). É importante ressaltar que para a obtenção de resultados comparativos, as preparações enzimáticas precisam ser dosadas com base em níveis equivalentes de conversão. Na metodologia da IUPAC foi determinado um valor padrão para se calcular unidades de papel de filtro (FPU), correspondente a liberação de 2,0 mg de açúcares redutores a partir de 50 mg da fita de papel de filtro (~4% de conversão) em 60 minutos. Como a concentração de açúcares redutores não é uma função linear da quantidade de enzima na mistura reacional, a unidade de FPU pode ser definida somente nessa faixa de conversão. O procedimento, então, tem o objetivo de encontrar o fator de diluição da enzima original que resulte em 4% de conversão em 60 minutos de reação. O cálculo da atividade (em FPU/mL) da enzima deve ser feito com base na diluição requerida para obter a conversão estabelecida (ou em termos práticos, achar duas diluições, uma que catalise um pouco menos de 4% de conversão e outra um pouco mais, sendo possível achar a diluição exata por interpolação com certa precisão). 5.4.3. Atividade de CMCase O método se baseia na dosagem da concentração de açúcares redutores liberados durante a degradação de carboximetilcelulose (CMC). A atividade de CMCase foi determinadas de acordo com Ghose (1987), com pequenas modificações, descritas a seguir. O mistura reacional constituiu-se de 0,25 mL de uma solução de CMC 2% p/v em tampão citrato de sódio 50 mmol/L, pH 4,8 e 0,25 mL do extrato enzimático (diluído em tampão citrato de sódio 50 mmol/L, pH 4,8, quando necessário). A mistura reacional foi incubada a 50 ºC, durante 30 minutos. A reação enzimática foi interrompida pela adição imediata de 0,5 mL de DNS, sendo em seguida fervida por 5 minutos, resfriada em banho de gelo e diluída com 6,5 mL de água destilada antes da leitura da absorbância a 540 nm. Para a determinação da concentração de açúcares, uma curva padrão de glicose foi construída de acordo com o recomendado por Ghose (1987). 5.4.4. Atividades de β-glicosidade, β-xilosidase e α-L-arabinofuranosidase As atividades de β-glicosidade, β-xilosidase e α-L-arabinofuranosidase foram determinadas utilizando 100 µL de 10 mmol/L p-nitrofenil-β-D-glucopiranosídeo, pnitrofenil-β-D-xilopiranosídeo, p-nitrofenil-α-L-furanosídeo, respectivamente, 200 µL de 78 Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva Materiais e Métodos tampão acetato de sódio 0,5 mol/L, pH 5,0, 650 µL de água Milli-Q e 50 µL da diluição apropriada da enzima. Após incubar a mistura reacional a 50 ºC por 10 minutos, a reação foi interrompida pela adição de 500 µL de Na2CO3, 1 mol/L. A absorbância das misturas reacionais foi medida a 400 nm e concentração de p-nitrofenol liberada foi calculada contra uma curva padrão de p-nitrofenol construída com as seguintes concentrações (mmol/L): 0,2, 0,1, 0,05, 0,025, 0,0125, 0,006125. Uma unidade de β-glicosidade, β-xilosidase e α-Larabinofuranosidase foi definida como a concentração de enzima capaz de liberar 1 µmol de p-nitrofenol a 50 ºC em 1 minuto. 5.4.5. Atividade de xilanase A atividade de xilanase determinada de acordo com Milanezi e coautores (2012). As misturas reacionais contendo 100 µL de 2% de xilana solúvel (xilana birchwood, Sigma) e 50 µL do extrato enzimático apropriadamente diluído em tampão acetato de sódio, 50 mmol/L, pH 5,0, foram incubadas a 50 ºC por 10 minutos. A reação foi interrompida pela adição de 300 µL de DNS, fervida por 5 min, resfriada em banho de gelo e diluída com 1,5 mL de água destilada antes da leituta da absorbância a 540 nm. Uma unidade de atividade de xilanase foi definida como a quantidade de enzima requerida para produzir 1 µmol de açúcares redutores em 1 minuto a 50 ºC. 5.4.6. Dosagem das enzimas hipertermofílicas Enzimas hipertermofílicas de Pyrococcus horikoshii (endoglucanase - EGPh) e de Pyrococcus furiosus (β-glicosidase - BGPf) expressas em Escherichia coli e purificadas de acordo com Ando et al. (2002) e Kado et al. (2011) também foram utilizadas em alguns experimentos deste trabalho. As dosagens enzimáticas das atividades de CMCase e βglicosidase foram realizadas conforme descrito anteriormente, porém utilizando uma temperatura de incubação de 85 °C. 5.5. Hidrólise enzimática 5.5.1. Hidrólise para avaliação da eficiência de pré-tratamento Os ensaios de hidrólise enzimática foram conduzidos a 45 ºC, 230 rpm, por até 72 h, utilizando uma concentração de biomassa pré-tratada de 2,5% e um coquetel enzimático contendo 15 FPU da enzima comercial Acremonium Cellulase (Meiji Seika Co, Japão) e 0,2% (v/v) da enzima OptimashTM BG (Genencor ® International, EUA), como um suplemento da 79 Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva Materiais e Métodos atividade de β-xilosidase, porém sem nenhuma atividade de FPase. O coquetel enzimático utilizado nos experimentos continha a uma dosagem enzimática, por grama de biomassa, de 15 FPU de FPase, 79,7 BGU de β-glicosidase, 262,4 UI de CMCase, 576,3 UI de xilanase, 1,4 UI de β-xilosidase e 22,5 UI de α-L-arabinofuranosidase. Para os experimentos de hidrólise enzimática da biomassa pré-tratada com uma razão de biomassa:líquido iônico de 1:20, 2,0 mL do coquetel enzimático preparado em tampão acetato de sódio, 50 mmol/L, pH 5,0, foram adicionados a 0,05 g de biomassa pré-tratada ou in natura. Os rendimentos de hidrólise para esses ensaios foram calculados de acordo com a Equação [2] para glicose e xilose e [3] para celobiose. η= ; Eq. [2] onde mg açúcar corresponde à quantidade de glicose ou xilose absoluta obtida após a hidrólise enzimática e f açúcar corresponde ao fator de conversão da celulose (0,9) ou xilana (0,88) em glicose ou xilose. η celobiose= ; Eq. [3] onde os rendimentos em celobiose foram calculados considerando a sua conversão total para glicose, sendo então o valor obtido divido pelo máximo teórico de concentração de glicose que seria possível obter na hidrólise. Já os ensaios de hidrólise enzimática dos materiais que foram pré-tratados com o auxílio da extrusora consistiram de 10 mL do coquetel enzimático preparado em tampão acetato de sódio 50 mM, pH 5,0 e 0,250 g de biomassa. Os rendimentos de hidrólise para esses ensaios foram calculados de acordo com a Equação [4] para glicose e xilose. η gli,xil = ; Eq. [4] Onde [açúcar] corresponde à concentração de glicose ou xilose absoluta obtida após a hidrólise enzimática e f açúcar corresponde ao fator de conversão da celulose (0,9) ou xilana (0,88) em glicose ou xilose. Em todos os ensaios de hidrólise enzimática foram adicionados os antibióticos tetraciclina e aureobasidina A em concentrações de 50 µg/mL e 5 µg/mL, respectivamente, para evitar contaminação microbiana. Os ensaios de hidrólise enzimática foram realizados em triplicata. 80 Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva Materiais e Métodos 5.5.2. Hidrólise para avaliação do requerimento de celobioidrolases A endoglucanase de Pyrococcus horikoshii (EGPh) e a β-glicosidase de Pyrococcus furiosus (BGPf), ambas expressas em Escherichia coli e purificadas de acordo com Ando et al. (2002) e Kado et al. (2011), respectivamente, foram utilizadas para a hidrólise enzimática de amostras de bagaço de cana-de-açúcar e de celulose microcristalina pré-tratadas com [Emim][Ac] e moinho de bolas. Essas enzimas foram misturadas na razão de EGPh/BGPf de 5:1 (utilizando soluções de EGPh e BGPf de 10 µM, preparadas em tampão citrato 50 mM, pH 5.0) e utilizadas para os ensaios de hidrólise. As enzimas purificadas foram gentilmente cedidas pelos Dr. Kazuhiko Ishikawa e Dr. Han-Woo Kim, do AIST. Uma solução de 4% (v/v) da enzima comercial OptimashTM BG (Genencor® International, EUA) contendo diversas atividades enzimáticas, como CMCase (223,9 IU/mL), β-glicosidase (3,31 IU/mL) xilanase (54,93 IU/mL), α-L-arabinofuranosidases (1,39 IU/mL), β-xilosidase (0,65 IU/mL) e nenhuma atividade de FPase também foi utilizada para avaliar a performance hidrolítica de uma preparação enzimática com baixa atividade de celobioidrolase. A enzima comercial Acremonium Cellulase (Meiji Seika Co., Japão), que contém alta atividade de celobioidrolase (CBH), foi testada para avaliar a necessidade de CBHs para a obtenção de altos rendimento na hidrólise de biomassas pré-tratadas com LIs e por moinho de bolas A hidrólise enzimática de 1% de substrato, em um volume final de 35 mL, foi realizada a 85 °C, para EGPh/BGPf, e a 45 °C, para OptimashTM BG ou Acremonium Cellulase, no equipamento Carousel 12 Plus (Radleys, United Kingdom) ou em um shaker, respectivamente. A dosagem das enzimas utilizadas para hidrólise foi equivalente a 345 UI de CMCase por grama de substrato. As enzimas foram diluídas em tampão citrato de sódio, 50 mM, pH 5,0 e adicionadas a 0,350 g de bagaço ou celulose pré-tratados com LIs ou por moinho de bolas. Os ensaios foram realizados em duplicata. 5.6. Fermentação alcoólica A cepa floculante industrial Saccharomyces cerevisiae IR-2 foi utilizada neste trabalho (KURIYAMA et al., 1985). As pré-culturas para as fermentações, inoculadas de placas de meio YPD (yeast extract, peptone e dextrose - 10 g/L de extrato de levedura, 20 g/L de peptona, 20 g/L de glicose), foram crescidas em 10 mL de meio YPD a 30 ºC overnight em frascos de 100 mL sob agitação de 120 rpm. As células foram recolhidas por centrifugação a 4 ºC, 500 rpm por 5 minutos e lavadas duas vezes com água destilada. A densidade inicial de 81 Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva Materiais e Métodos células foi ajustada em 2,4 g (peso seco celular)/L (MATSUSHIKA et al., 2009). Os experimentos de fermentação foram realizados a 30 ºC em frascos fechados (20 mL) contendo 10 mL de hidrolisado suplementado com nutrientes correspondendo a uma concentração final de 1 g/L de extrato de levedura, 0,5 g/L de (NH4)2SO4, 0,025 g/L de MgSO4 . 7 H2O e 1,38 g/L NaH2PO4. O pH inicial foi ajustado em 5,5 com NaOH 2 mol/L. Agitadores magnéticos foram utilizados e as culturas agitadas a 100 rpm. Como controle, a fermentação de soluções contendo 35 g/L de glicose e 15 g/L de xilose, suplementadas com os mesmo nutrientes citados acima, foi realizada. Os hidrolisados utilizados para as fermentações foram preparados com as mesmas enzimas e utilizando as mesmas dosagens descritas no item 5.5.1, porém a concentração de biomassa foi aumentada para 7,5% e o volume final da hidrólise foi de 10 mL, a fim de obter uma concentração de glicose mais elevada para a fermentação. O tampão acetato utilizado na preparação das enzimas e utilizado para as hidrólises descritas anteriormente também foi substituído pelo tampão citrato de sódio, pH 5,0, 50 mM, para não interferir no crescimento do microrganismos, já que o acetato é um conhecido inibidor do metabolismo de S. cerevisiae. 5.7. Quantificação dos monossacarídeos, dissacarídeos e etanol Os monossacarídeos e dissacarídeos presentes nos hidrolisados foram analisados utilizando um sistema de HPLC equipado com um detector de índice de refração (RI-2031 Plus, Jasco Co., Japão), utilizando uma coluna Aminex HPX-87P (7,8 mm I.D. x 30 cm, BioRad, EUA) equipada com uma pré-coluna Carbo-P (Bio-Rad, EUA) e um sistema de remoção de cinzas (deashing system, Bio-Rad, EUA). A fase móvel utilizada foi água deionizada em um fluxo de 0,7 mL/min e a temperatura do forno da coluna foi de 80 ºC. A concentração de etanol, no meio de fermentação foi determinada utilizando a coluna Aminex HPX-87H (7.8 mm I.D. x 30 cm, Bio-Rad, EUA), equipada com uma pré-coluna Cation H (Bio-Rad, EUA). A coluna foi eluida com H2SO4 1 mM em um fluxo de 0,6 mL/min, 60 ºC. 5.8. Análise da cristalinidade por difração de raios-X Pastilhas em forma de disco (1 cm de diâmetro, 0,8 cm de espessura e 0,1 g de peso) foram preparadas por compressão a 2 ton para a análise de difração de raios-X, empregando uma prensa de pastilhas tipicamente utilizada para o preparo de amostras para análises de espectroscopia de infravermelho. As amostras foram liofilizadas, de acordo com estudos 82 Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva Materiais e Métodos prévios que relataram que a estrutura cristalina original da celulose é mais bem preservada quando esse método de secagem é utilizado (HEYN, 1965). Os experimentos foram realizados utilizando o difratômetro Ringaku RINT-TTR III. A radiação Cu Kα (λ = 0,1542 nm), filtro de níquel, foi utilizada a 50 kV e 300 mA. A intensidade da difração foi medida na faixa de 2θ = 2 – 60º utilizando uma variação de 0,02º e uma frequência de 2º/min. O índice de cristalinidade (ICr) foi medido de acordo com a Equação [5] (SEGAL et al., 1959) e a indicação dos parâmetros utilizados no cálculo está demonstrado na Figura 27. ICr = ; Eq. [5] onde I200 representa a contribuição para a intensidade de difração dada pela presença de frações cristalinas e amorfas e Iam representa a contribuição para a intensidade dada apenas pela fração amorfa (o valor mínimo obtido entre os picos de difração 200 e 110). Figura 28. Esquematização do perfil de difração de raios-X de uma biomassa lignocelulósica. I200: intensidade de difração do plano cristalino 200; Iam: intensidade de difração no valor mínimo obtido entre os picos de difração 200 e 110; I110: intensidade de difração do plano cristalino 110. 5.9. Análise da área de superfície específica e morfologia Para as análises da área de superfície específica (ASS) e a observação da morfologia por microscopia eletrônica de varredura de emissão de campo (MEV), as amostras de biomassa pré-tratadas foram cuidadosamente lavadas com terc-butanol diversas vezes, de forma a trocar o conteúdo de água nas amostras pelo terc-butanol, sendo subsequentemente liofilizadas, com o objetivo de manter a superfície e morfologia da biomassa o mais próximo possível do original. Para as análises da área superficial específica, após liofilização, as 83 Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva Materiais e Métodos amostras foram inicialmente degasadas a 105 ºC por 6h. O equipamento utilizado foi o BELSORP-Max (Bel Japan Inc., Japão) e os valores de ASS foram obtidos pela análise das isotermas de adsorção-dessorção do gás nitrogênio, na temperatura de 77K do nitrogênio líquido, pelo método de Brunaue-Emmett-Teller (BET) (BRUNAUE et al., 1938). As características morfológicas da superfície dos materiais in natura ou pré-tratados foram observadas através da utilização de um microscópio eletrônico de varredura de emissão de campo de alta resolução (>100.000X) (S-4800 Hitachi High Technologies Co., Tóquio, Japão). Uma baixa aceleração de voltagem de 1,5 kV foi utilizada, a fim de evitar danos causados pelo feixe de elétrons na estrutura da amostra. As amostras foram impregnadas com uma camada ultrafina de ósmio (cerca de 1 nm), utilizando um equipamento de impregnação de ósmio sob forma de plasma (NEOC-NA, Meiwa Fosis, Tóquio, Japão) imediatamente antes da observação. Um dia antes das análises, as amostras foram mantidas em uma estufa a vácuo na temperatura de 40 ºC, com o objetivo de reduzir sua umidade. 6. Resultados e Discussão 85 Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva Resultados e Discussão Os resultados deste trabalho foram divididos em três partes. A primeira parte irá abordar sobre a escolha de um líquido iônico para o pré-tratamento da biomassa da cana-deaçúcar em condições similares às usualmente reportadas na literatura e avaliar as características do material pré-tratado que favorecem a sua hidrólise enzimática. Na segunda parte, será feita uma discussão sobre a necessidade de celobioidrolases para a hidrólise do bagaço pré-tratado com líquidos iônicos. Por fim, na terceira parte, será discutida uma nova proposta de pré-tratamento do bagaço com líquidos iônicos, utilizando alta carga de sólidos. PARTE I 6.1. Seleção de um líquido iônico para o pré-tratamento da biomassa de cana-de-açúcar 6.1.1. Composição da biomassa utilizada A composição do bagaço e da palha in natura utilizados nos experimentos de prétratamento para a seleção do líquido iônico mais promissor está representada na Tabela 8. Os valores correspondem às médias de duplicatas independentes. Tabela 8. Composição das biomassas in natura expressa em percentual da matéria seca. Componente Composição da biomassa (%) Bagaço Palha Holocelulose 74,7 71,8 α-Celulose 46,0 42,4 Hemicelulose* 28,7 1 29,5 2 Lignina Klason 22,6 21,8 Cinzas 2,8 5,7 Extrativos em etanol e tolueno 2,04 2,23 *Valor obtido através da subtração do valor da α-celulose do valor total obtido para a holocelulose; O valor obtido através da hidrólise ácida de acordo com o método do NREL foi de 23,5% de xilana e 2,5% de arabinana para o bagaço1 e de 25,5% de xilana e 3,4% de arabinana para a palha2. Os valores obtidos para a composição das biomassas são compatíveis com os obtidos em outros estudos. Rocha e coautores (2010) analisaram a composição de 50 amostras de bagaço de cana-de-açúcar provenientes de diferentes usinas localizadas em diversas regiões do Brasil e obtiveram uma composição média (%) de 43,03 (máx. = 46,17, mín. = 40,54) de glucana, 25,42 (máx. = 28,31, mín. = 18,90) de hemicellulose, 23,05 (máx. = 26,48, mín. = 86 Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva Resultados e Discussão 19,95) de lignina, 2,92 (máx. = 5,50, mín. = 1,01) de cinzas e 4,78 (máx. = 13,29, mín. = 1,96) de extrativos. Ferreira-Leitão e colaboradores (2010b) também reportaram uma composição de bagaço similar à obtida neste estudo (41,4% de celulose, 28,5% de hemicelulose e 23,6% de lignina), enquanto a composição da palha foi ligeiramente diferente (33,3% de celulose, 24,2% de hemicelulose, 36,1% de lignina), o que pode estar correlacionado ao caráter mais heterogêneo da palha de cana-de-açúcar, que é composta tanto por folhas como pelos ponteiros da planta. Em contrapartida, uma composição da palha de cana-de-açúcar similar à obtida neste estudo, correspondente a 39,4% de celulose, 26,2% de hemicelulose e 21,5% de lignina, foi obtida em outro estudo (SAAD et al., 2008) 6.1.2. Escolha da biomassa de estudo Um primeiro conjunto de ensaios foi realizado para avaliar se haveria diferença na eficiência dos seis líquidos iônicos estudados para o pré-tratamento a 120 °C, por 120 min, das duas biomassas utilizadas. A Tabela 9 apresenta as concentrações de glicose e xilose medidas nos hidrolisados após 48 h de hidrólise enzimática das biomassas pré-tratadas com os diferentes líquidos iônicos. Os dados de experimentos controles, utilizando o bagaço e a palha in natura, também estão apresentados. Tabela 9. Concentrações de glicose e xilose obtidas após 48 h de hidrólise enzimática do bagaço e da palha de cana-de-açúcar pré-tratados com diferentes líquidos iônicos. Líquido iônico utilizado Bagaço Palha Glicose (g/L) Xilose (g/L) Glicose (g/L) Xilose (g/L) --2,9 0,9 3,3 1,1 [Emim][Ac] 15,9 5,1 14,0 5,2 [Bmim][Cl] 5,2 1,9 4,8 1,7 [Bmim][NTf2] 3,7 2,0 3,5 1,4 [Mmim][DMP] 8,2 3,0 6,3 2,5 [Amim][Cl] 5,7 1,1 5,5 1,1 Sulfato de etila de 1-etil-34,7 2,1 4,3 2,1 hidroximetil piridina A partir dos resultados obtidos foi possível concluir que o pré-tratamento com os seis líquidos iônicos testados resultou em melhorias na digestibilidade enzimática das biomassas. O efeito de um mesmo líquido iônico para o pré-tratamento do bagaço ou da palha foi semelhante, tendo o líquido iônico [Emim][Ac] resultado no maior aumento de digestibilidade enzimática de ambas as biomassas. Além disso, a concentração de glicose no hidrolisado do bagaço tratado com [Emim][Ac] foi superior à concentração de glicose no hidrolisado da 87 Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva Resultados e Discussão palha tratada com este mesmo líquido iônico. Contudo, não é possível afirmar que o prétratamento foi mais eficiente para o bagaço do que para a palha, pois os rendimentos de conversão de celulose em glicose não foram calculados nessa etapa do trabalho, já que as biomassas pré-tratadas não foram caracterizadas quanto a sua composição. Como não foi observada uma grande diferença no efeito de um mesmo líquido iônico para ambas as biomassas, para dar continuidade ao trabalho, o bagaço foi escolhido como a biomassa de estudo. Dessa forma, visou-se reduzir o número de experimentos e o consumo de líquidos iônicos. 6.1.3. Avaliação do efeito dos líquidos iônicos testados no bagaço de cana-de-açúcar A Figura 28 apresenta o perfil de hidrólise enzimática do bagaço in natura e prétratado com diferentes líquidos iônicos a 120 °C por 120 min e os rendimentos de conversão de celulose e xilose, calculados com base no conteúdo inicial de glucana e xilana contidos na biomassa in natura, levando em consideração o percentual de sólidos que permaneceram solúveis na fração líquido iônico-água após o pré-tratamento (Tabela 10). O [Emim][Ac], o líquido iônico mais eficiente para o pré-tratamento, resultou em rendimentos em glicose e xilose de 98,2% e 60,7%, respectivamente, após 48 h de sacarificação, o que correspondeu a um rendimento em glicose 4,5 vezes superior ao obtido na hidrólise do bagaço in natura. Também foi observado que a produtividade de conversão da celulose em glicose aumentou drasticamente quando o [Emim][Ac] foi utilizado para o prétratamento do bagaço. A produtividade, calculada a partir dos dados de concentração de glicose obtidos após 6 h de reação, foi de 35,5 mg/L.h, um valor seis vezes maior que o calculado para o bagaço in natura (5,9 mg/L.h). Como rendimentos em glicose próximos ao máximo teórico foram obtidos, é possível afirmar que a perda da fração celulósica foi pouco significativa durante o pré-tratamento com [Emim][Ac]. No entanto, como o rendimento máximo em xilose foi relativamente menor, de 60,7%, é possível que parte da fração de hemicelulose tenha sido removida ou degradada durante o pré-tratamento, não estando disponível para a hidrólise enzimática. Lee e colaboradores (2009a) relataram resultados semelhantes, onde 26% da hemicelulose da serragem de madeira foi removida após pré-tratamento com [Emim][Ac]. O pré-tratamento de palha de cevada com [Emim][Ac] também resultou em uma recuperação da fração hemicelulósica no sólido precipitado na faixa de 77,3 a 94,1%, dependendo da condição de pré-tratamento (SÁEZ et al., 2012). Já foi descrito que o líquido iônico [Emim][Ac] tem habilidade de extrair parte da fração de lignina, que permanece solúvel após a adição do 88 Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva Resultados e Discussão antissolvente (LEE et al., 2009a; SINGH et al., 2009). Assim, como a hemicelulose está ligada à lignina por ligações covalentes, é possível que parte da hemicelulose seja removida conjuntamente com a lignina para a fração líquido iônico-água, o que reduz sua disponibilidade no sólido precipitado para a hidrólise enzimática. No entanto, foi reportado que, apesar de haver remoção de parte da hemicelulose dependendo das condições de prétratamento, a sua degradação não é significativa já que a concentração de monossacarídeos reportada na fração líquido iônico-água foi de menos de 1g para cada 100g de material prétratado (SÁEZ et al., 2012; UJU et al., 2012) Figura 29. Efeito do pré-tratamento utilizando diferentes líquidos iônicos na hidrólise enzimática do bagaço prétratado a 120 °C, por 120 min. (a) Rendimento em glicose e (b) rendimento em xilose. ♦: in natura, ▲: [Bmim] [Cl], ●: [Emim] [Ac], ◇: [Amim] [Cl], □: [Mmin] [DMP], ○: [Bmim] [NTf2], ∆: Sulfato de etila de 1-etil-3hidroximetil piridina. Os rendimentos de conversão de celulose em glicose e xilana em xilose foram calculados com base no conteúdo de celulose do bagaço in natura, levando em consideração o percentual de sólidos que foram extraídos durante o pré-tratamento com cada líquido iônico. 89 Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva Resultados e Discussão A Tabela 10 lista o percentual de sólidos que permaneceram solúveis na fração de líquido iônico-água após o pré-tratamento com cada líquido iônico testado. A massa do sólido precipitado recuperado variou entre 79,3 e 99,6% da massa inicial de bagaço utilizada para o pré-tratamento. O [Emim][Ac] foi o mais eficiente na extração de componentes do bagaço, resultando em 20,70% de dissolução de sólidos na fração de líquido iônico-água. A rápida atuação do [Emim][Ac] na dissolução da biomassa pode ser observada pela mudança de coloração da mistura para marrom escura poucos minutos após o início da reação, sendo este um indicativo da excelente habilidade desde líquido iônico de extrair lignina do bagaço. Tabela 10. Percentual de sólidos que foram extraídos e que permaneceram solúveis na fração líquido iônico-água após adição do antissolvente (com base na matéria seca). Líquido iônico Sólidos extraídos (%) [Emim][Ac] 20,70 [Bmim][Cl] 4,17 [Bmim][NTf2] 2,75 [Mmim][DMP] 2,17 [Amim][Cl] 0,38 Sulfato de etila de 1-etil-3-hidroximetil piridina 3,61 A diferença entre as duplicatas foi menor que 2%. De acordo com os resultados de sacarificação, o segundo líquido iônico mais efetivo foi o [Mmim][DMP], que resultou em rendimentos em glicose e xilose de 61,9% e 43,9%, respectivamente. No entanto, o percentual de sólidos extraídos por esse líquido iônico foi de apenas 2,75%. Os rendimentos em glicose e xilose obtidos a partir da hidrólise do bagaço prétratado com [Mmim][DMP] foram superiores aos obtidos com [Bmim][Cl], apesar deste líquido iônico ter extraído 4,17% de sólidos do bagaço. Logo, esses dados em conjunto indicam que não existe uma relação direta entre os rendimentos de hidrólise e o percentual de sólidos extraídos quando líquidos iônicos com baixa capacidade de extração de sólidos são comparados. É provável que outras modificações promovidas pelos líquidos iônicos na biomassa além da extração de componentes, como de porosidadade e cristalinidade, estejam influenciando no melhor desempenho do [Mmim][DMP] em relação ao [Bmim][Cl]. Alguns estudos relataram o [Bmim][Cl] como um líquido iônico efetivo para dissolver e facilitar a hidrólise enzimática da celulose microcristalina (OHNO e FUKUYA, 2009; HA et al., 2011). Apesar disso, sua utilização para 90 Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva Resultados e Discussão o pré-tratamento do bagaço nas condições empregadas neste estudo resultou em baixos rendimentos de hidrólise. Analogamente, outros trabalhos reportaram baixos rendimentos de hidrólise enzimática do bagaço e de amostras de madeira pré-tratadas com [Bmim][Cl] a 130 ºC (ZHANG et al., 2012; KILPELÄINEN et al., 2007). Kimmon e coautores (2011), no entanto, mostraram que rendimentos em glicose maiores puderam ser obtidos após o prétratamento do bagaço com [Bmim][Cl] em temperaturas mais altas, chegando a 62% após tratamento a 140 ºC e a 100% de conversão quando o pré-tratamento foi realizado a 150 ºC. Com base nos resultados obtidos, o líquido iônico [Emim][Ac] foi selecionado para a continuação do estudo, onde as condições de pré-tratamento, como temperatura e tempo de reação, foram estudadas e algumas características estruturais e morfológicas dos materiais pré-tratados foram analisadas. 6.1.4. Avaliação do efeito da temperatura e do tempo de pré-tratamento do bagaço com o líquido iônico [Emim][Ac] O efeito da temperatura na eficiência do pré-tratamento foi avaliado em ensaios onde a temperatura de reação foi variada em uma faixa de 60-120 °C, mantendo um tempo de prétratamento de 120 min. Os rendimentos de hidrólise e o percentual de sólidos extraídos obtidos para cada condição estão sumarizados na Tabela 11. Tabela 11. Efeito da temperatura utilizada no pré-tratamento com [Emim][Ac] na hidrólise enzimática do bagaço pré-tratado por 120 min e no percentual de sólidos que foram extraídos e que permaneceram solúveis após adição do antissolvente. Sólidos extraídos (%) Rendimento em glicose (%)a Rendimento em xilose (%)b - 21,9 13,0 60 ºC 1,9 48,8 35,7 80 ºC 5,7 51,1 41,2 100 ºC 9,5 81,5 68,1 120 ºC 20,7 98,2 60,7 Temperatura in natura A diferença entre as duplicatas foi menor que 5%. a Calculado com base no conteúdo inicial de celulose (92 mg) em 200 mg de bagaço in natura utilizados para o pré-tratamento e levando em consideração o percentual de sólidos extraídos em cada condição. Resultados obtidos após 48 h de hidrólise enzimática. b Calculado com base no conteúdo inicial de xilana (47 mg) em 200 mg de bagaço in natura utilizados para o pré-tratamento e levando em consideração o percentual de sólidos extraídos em cada condição. Resultados obtidos após 48 h de hidrólise enzimática. 91 Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva Resultados e Discussão Foi observado um aumento crescente na extração de sólidos com o aumento da temperatura, chegando ao máximo de extração de 20,7% da massa inicial de bagaço, ocorrido a 120 °C, confirmando o valor obtido no experimento de seleção do melhor líquido iônico. O rendimento de conversão de celulose em glicose também seguiu o mesmo perfil, aumentando de 48,8%, quando o tratamento foi feito a 60 °C, para 98,2%, quando a temperatura foi de 120 °C. O rendimento em xilose aumentou paralelamente com o aumento da temperatura na faixa de 60 °C a 100 °C, atingindo um máximo de 68,1%, e decaiu quando a temperatura foi elevada de 100 °C para 120 °C. Esse resultado indica que a extração conjunta da hemicelulose com a lignina ou sua degradação em compostos de baixa massa molecular que são solúveis na fração de líquido iônico-água, como já discutido anteriormente, é influenciada pela temperatura de pré-tratamento. Dessa forma, é possível que o percentual de xilana disponível na biomassa pré-tratada a 100 °C seja maior, devido à menor extração ocorrida, que na biomassa pré-tratada a 120 °C. A influência da temperatura na extração de parte da ligninahemicelulose pelo [Emim][Ac] também pode ser acompanhada visualmente pela coloração da solução obtida após rotaevaporação da fração líquido iônico-água, mostrada na Figura 29. Figura 30. Solução obtida após rotaevaporação da fração líquido iônico-água resultante do prétratamento em diversas temperaturas. Numa segunda etapa, o efeito do tempo de incubação na eficiência do pré-tratamento foi investigado em ensaios onde a temperatura foi mantida a 120 °C e os tempos de incubação variados entre 5 min e 120 min. Os resultados obtidos estão sumarizados na Tabela 12. Esses experimentos foram realizados utilizando 20 g de [Emim][Ac] e 1,0 g de bagaço, de forma a obter material pré-tratado suficiente para realizar as análises de área de superfície específica, da cristalinidade e da morfologia dos materiais pré-tratados. 92 Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva Resultados e Discussão Tabela 12. Percentual de sólidos extraídos, rendimentos em glicose e xilose obtidos após 72 h de hidrólise enzimática e área de superfície específica (ASS) do bagaço pré-tratado a 120 °C por diferentes tempos de pré-tratamento. Tempo de préSólidos Rendimento em Rendimento em ASS tratamento (min) extraídos (%) glicose (%) a xilose (%) b (m2/g) in natura 23,3 14,1 1,4 5 3,5 84,5 69,2 33,0 15 7,2 93,5 75,4 35,1 30 9,7 95,3 76,0 61,2 60 12,2 99,7 74,5 106,4 120 20,1 99,8 60,0 131,9 A diferença entre as duplicatas foi menor que 5%. a Calculado com base no conteúdo inicial de celulose (460 mg) em 1,0 g de bagaço in natura utilizado para o prétratamento e levando em consideração o percentual de sólidos extraídos em cada condição. Resultados obtidos após 72 h de hidrólise enzimática. b Calculado com base no conteúdo inicial de xilana (235 mg) em 1,0 g de bagaço in natura utilizado para o prétratamento e levando em consideração o percentual de sólidos extraídos em cada condição. Resultados obtidos após 72 h de hidrólise enzimática. O resultado obtido com o tratamento de 1g de bagaço a 120 °C por 120 min foi similar ao alcançado com a configuração experimental utilizando 0,2 g de bagaço (20,1 vs 20,7% de extração de sólidos), mostrando a reprodutibilidade do efeito do pré-tratamento nas duas escalas experimentais. O aumento no tempo de pré-tratamento resultou em um aumento no percentual de sólidos extraídos, de 3,5%, quando o tempo foi de 5 min, para 20,1%, quando o pré-tratamento durou 120 min. Esse processo de extração é capaz de gerar estruturas porosas na parede celular, o que acarreta uma melhor dissolução da celulose no líquido iônico durante o pré-tratamento. Após a adição de água para a precipitação do produto dissolvido, um material rico em celulose pode ser obtido, como consequência da perda de parte do material inicial que foi extraída durante a reação e permaneceu solúvel após adição do antissolvente. Como a lignina age como uma “capa” de proteção às fibras na biomassa in natura, sua remoção resulta na obtenção de um produto muito mais acessível às enzimas hidrolíticas, deixando as fibras mais expostas, o que consequentemente ocasiona também o aumento de quase 100 vezes na área de superfície apresentada na Tabela 12, de 1,4 m2/g para o bagaço não tratado para 131,9 m2/g para o bagaço pré-tratado por 120 min. Os rendimentos de conversão da celulose em glicose atingiram mais de 90% após 72 h de hidrólise enzimática quando tempos de pré-tratamento superiores a 15 min foram testados. No entanto, quando comparados os rendimentos nas primeiras horas de hidrólise, o tempo de pré-tratamento teve influência na cinética inicial de hidrólise (Figura 30). Este resultado 93 Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva Resultados e Discussão indica que, apesar de o tempo de pré-tratamento não ter uma influência muito grande no rendimento final após 72 h de hidrólise, tempos de pré-tratamento mais longos são importantes para manter uma alta taxa de conversão na fase inicial da sacarificação. Figura 31. Efeito do pré-tratamento com [Emim][Ac] por diferentes tempo de incubação na hidrólise enzimática do bagaço pré-tratado a 120 °C. ◆: in natura, ▲: 5min, ●: 15 min, ◇: 30 min, □: 60 min, ○: 120 min. Também já foi reportado que o pré-tratamento com [Emim][Ac] pode desestruturar a parede celular da biomassa através da ruptura da ligações de hidrogênio inter e intramoleculares das fibras de celulose (Singh et al., 2009). Neste trabalho, o grau de cristalinidade relativa da celulose também foi alterado de acordo com o tempo de prétratamento. A Figura 31 mostra o perfil de difração de raios-X (DRX) do bagaço in natura e prétratado por diferentes tempos. A cristalinidade do bagaço in natura diminui como consequência do pré-tratamento com [Emim][Ac], o que pode ser notado com o desaparecimento, após 60 min de tratamento, da intensidade de difração do pico observado no valor de 2θ de 15,8°, correspondente à sobreposição dos picos que equivalem aos planos cristalinos da celulose (1,-1,0) e (1,1,0), de acordo com o índice de Miller utilizados por Sarko e Muggli (1974). Adicionalmente, o pico correspondente ao plano cristalino (2,0,0), correspondente a 21,9° no bagaço in natura, também diminuiu de intensidade nas amostras pré-tratadas por 5 e 15 min, indicando a redução da cristalinidade nas amostras. Ocorreu um 94 Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva Resultados e Discussão considerável deslocamento do mesmo pico para materiais pré-tratados por 60 e 120 min, sendo os ângulos de difração correspondentes a 20,8 e 20,6°, respectivamente. Esses perfis são equivalentes ao de amostras predominantemente amorfas com provável presença de uma pequena fração de celulose II, que pode ser formada após dissolução da celulose I, seguida da regeneração com antissolvente (KLEMM et al., 2005). No entanto, a confirmação da alteração do polimorfo da celulose de I para II não pode ser afirmada apenas pela técnica de DRX. Resultados semelhantes foram obtidos em um estudo que avaliou o pré-tratamento de switchgrass com [Emim][Ac] (SINGH et al., 2009). Figura 32. Perfil de difração de raios-X do bagaço in natura e pré-tratado com [Emim][Ac] por diferentes tempos de reação. As linhas, de baixo para cima, representam (a) bagaço in natura e bagaço tratado por (b) 5 min, (c) 15 min, (d) 30 min, (e) 60 min, (f) 120 min. As linhas verticais foram traçados para facilitar a visualização do deslocamento/desaparecimento dos picos referentes à difração de planos cristalinos da celulose. É sabido que a celulose cristalina apresenta uma rede de ligações de hidrogênio entre suas cadeias que acarreta em uma alta resistência à hidrólise enzimática, enquanto a celulose amorfa é prontamente digerida (NISHIYAMA et al., 2002). A habilidade do [Emim][Ac] de desestruturar essa rede cristalina e extrair lignina, causa, simultaneamente, o aumento da área de superfície e o decréscimo do grau de cristalinidade do bagaço pré-tratado, o que é primordial para melhorar os rendimentos e aumentar a velocidade inicial de hidrólise. A avaliação das modificações na morfologia do bagaço a nível nanoscópico ocorridas após o pré-tratamento com [Emim][Ac] foi realizada por análises de microscopia eletrônica 95 Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva Resultados e Discussão de varredura (MEV) de alta resolução. A Figura 32 compara a morfologia da superfície do bagaço in natura e após o pré-tratamento com [Emim][Ac]. O bagaço in natura apresentou uma superfície “lisa” e compacta, enquanto a biomassa pré-tratada exibiu estruturas fibrilares de morfologia nanoscópica da ordem de 50 nm de espessura. As estruturas observadas confirmam o aumento expressivo na área de superfície do bagaço, o que também pode explicar as altas taxas de hidrólise e rendimentos obtidos neste estudo, já que esse tipo de estrutura facilita o acesso das enzimas à superfície da celulose. Figura 33. Morfologia do bagaço in natura e pré-tratado com [Emim][Ac]. (a) in natura (X5.000), (b) in natura (X60.000), (c) tratado com [Emim] [Ac] por 120 min (X20.000), e (d) tratado com [Emim] [Ac] por 120 min (X60.000). A marcação em vermelho em (c) representa a área magnificada, mostrada em d. 6.1.5. Fermentação alcoólica dos hidrolisados do bagaço tratado com [Emim][Ac] A fermentação dos hidrolisados obtidos após sacarificação do bagaço pré-tratado com [Emim][Ac] foi avaliada através da utilização da cepa floculante industrial S. cerevisiae IR-2 (KURIYAMA et al., 1985). Este foi um experimento preliminar realizado apenas para verificar se a possível presença de traços de [Emim][Ac], remanescentes após a lavagem da biomassa pré-tratada, poderiam interferir na eficiência da fermentação alcoólica. Dessa forma, 96 Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva Resultados e Discussão as condições de fermentação utilizadas não foram estudadas, sendo utilizadas condições previamente reportadas na literatura (MATSUSHIKA et al., 2009). A Figura 33 mostra os perfis das fermentações realizadas. A composição dos hidrolisados, do meio de referência utilizado como controle e dos rendimentos de etanol estão presentes nas Tabelas 13. Figura 34. Perfis das fermentações dos hidrolisados da biomassa pré-tratada com [Emim][Ac] (linhas sólidas) e das soluções controle (linhas tracejadas). (a) concentração de ( ●) glicose e (□) etanol ao longo da fermentação; (b) concentração de (∆) xilose ao longo da fermentação com a linhagem de S. cerevisiae IR-2. Nas fermentações dos hidrolisados, foi observada uma depleção da glicose em 3 horas de fermentação (Figura 33a) e a xilose não foi metabolizada, como esperado (Figura 33b). Independentemente da maior concentração de glicose inicial na solução controle, a cinética de consumo da glicose neste meio foi um pouco mais lenta, tendo sido completamente consumida após 7 h de fermentação. Essa diferença não foi investigada, mas pode estar relacionada a uma variação no pH da solução controle ao longo da fermentação. Neste intervalo de tempo, as concentrações de etanol atingiram uma média de 12,6 g/L e 16,4 g/L a partir dos hidrolisados e das soluções controle, respectivamente. Os altos rendimentos em etanol próximos a 100% (Tabela 13), considerando o rendimento máximo teórico para o metabolismo da glicose, indicam que os xaropes de açúcares utilizados não contem inibidores da fermentação alcoólica ou que traços de LI presentes não interferiram no processo. O rendimento obtido para o hidrolisado 2 de 103% (Tabela 13) pode estar relacionado à fermentação de outros monossacarídeos presentes nos hidrolisados em menor concentração, como a galactose, ou por uma pequena evaporação do meio. 97 Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva Resultados e Discussão Tabela 13. Composição do hidrolisado, produção de etanol e rendimentos de etanol após 24 horas de fermentação com a cepa industrial floculante S. cerevisiae IR-2. Meio Hidrolisado 1 Hidrolisado 2 Controle 1 Controle 2 Composição do hidrolisado (g/L) Glicose Xilose Etanol (g/L) Rendimento em etanol (g/g) Rendimento teórico (%) 25,0 7,5 12,56 0,502 98,2 24,0 7,3 12,65 0,527 103,0 33,9 12,0 16,85 0,506 99,0 33,3 11,8 15,78 0,474 92,8 6.1.6. Considerações finais – Parte I O [Emim][Ac] foi selecionado entre seis líquidos iônicos testados por ser capaz de promover um aumento significativo nos rendimentos finais e nas taxas iniciais de sacarificação do bagaço. Um aumento na extração de componentes da biomassa para a fração líquido iônico-água, conjuntamente com o aumento na ASS e a diminuição da cristalinidade, foram observados paralelamente ao aumento na temperatura e tempo de pré-tratamento. A observação da morfologia mostrou que o bagaço pré-tratado apresentou uma característica com fibras finas em escala nanométrica. Os resultados apresentados foram publicados em 2011 na revista Bioresource Technology (Anexo 1), tendo sido o primeiro trabalho publicado a utilizar o [Emim][Ac] para o pré-tratamento do bagaço de cana-de-açúcar, que seja do nosso conhecimento. 98 Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva Resultados e Discussão Parte II 6.2. Avaliação da necessidade de celobioidrolases (CBH) nas misturas enzimáticas para hidrólise de materiais pré-tratados com líquido iônico Na Parte I deste trabalho, o pré-tratamento do bagaço de cana-de-açúcar com o líquido iônico [Emim][Ac] foi realizado com sucesso. Como discutido, uma das características do pré-tratamento com [Emim][Ac] que o fazem eficiente está relacionada ao fato deste reagente ser capaz de reduzir a cristalinidade da celulose drasticamente, tendo vários trabalhos reportado os materiais pré-tratados como praticamente amorfos. Adicionalmente, o pré-tratamento com moinho de bolas (MB), estudado pelo nosso grupo anteriormente (SILVA et al., 2010), também é comumente reportado como sendo capaz de reduzir a cristalinidade da celulose (HIDENO et al., 2008; INOUE et al., 2008; BUABAN et al., 2010) Logo, como as celobioidrolases (CBH) são enzimas conhecidas pela sua atuação eficiente nas regiões cristalinas da celulose (CAO e TAN, 2002), enquanto as endoglucanases (EG) são descritas como importantes para a despolimerização da celulose, atuando principalmente em regiões amorfas (CAO e TAN, 2002; AL-ZUHAIR, 2008), é possível conjecturar que a hidrólise efetiva de biomassas com reduzida cristalinidade requer uma menor dosagem de CBH e pode ser eficientemente realizada por EGs. Dessa forma, para investigar sobre a necessidade de CBH para a hidrólise de materiais celulósicos com reduzida cristalinidade, o desempenho de coquetéis enzimáticos livres de CBH foi avaliado na hidrólise do bagaço e da celulose microcristalina pré-tratados por 120 minutos com MB e LI. Para tal, foram utilizados três coquetéis enzimáticos diferentes: (i) uma mistura de duas enzimas hipertermofílicas purificadas, contendo uma endoglucanase de Pyrococcus horikoshii (EGPh) (ANDO et al., 2002) e uma β-glucosidase de Pyrococcus furiosus (BGPf) (KADO et al., 2011), ambas expressas em Escherichia coli; (ii) a enzima comercial OptimashTM BG (Genencor® International, EUA), caracterizada pelo fabricante como uma enzima para redução da viscosidade e neste estudo como uma mistura de hemicelulases, endoglucanases e β-glicosidase, sem atividade contra a celulose cristalina; (iii) a enzima comercial Acremonium Cellulase (Meiji Seika Co., Japão), um coquetel enzimático completo para a hidrólise da lignocelulose, rico em CBH. As hidrólises com a mistura hipertermofílica foram realizadas a 85 °C, enquanto com as outras duas enzimas a 45 °C. 99 Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva Resultados e Discussão Na Figura 34 está representado o esquema experimental utilizado nessa etapa do trabalho. Os resultados da hidrólise do bagaço e da celulose pré-tratados com MB e LI por essas enzimas estão descritos a seguir. Figura 35. (a) Etapas experimentais realizadas para a avaliação da necessidade de celobioidrolases na hidrólise de biomassas com cristalinidade reduzida. (b) Bagaço e celulose pré-tratados com moinho de bolas (MB) e líquico iônico (LI). 6.2.1 Requerimento de celobioidrolases (CBH) para a hidrólise do bagaço pré-tratado A composição dos bagaços pré-tratados com MB e LI utilizados nessa etapa do estudo está apresentada na Tabela 14. Enquanto o pré-tratamento com MB não alterou a composição do bagaço, o LI ocasionou a diminuição das frações de lignina e hemicelulose. O bagaço in natura utilizado nas Partes II e III deste trabalho foi proveniente de um lote diferente do utilizado na Parte I, apresentando a mesma composição descrita na Tabela 14 para o bagaço pré-tratado com MB. Tabela 14. Composição do bagaço pré-tratado expressa em percentual da matéria seca. Pré-tratamento Celulose (%) Xilana (%) Lignina (%) Moinho de bolas 41,9 ± 1,15 25,0 ± 0,65 22,7 ± 0,86 Líquido iônico 50,9 ± 0,92 22,5 ± 0,34 15,7 ± 0,35 Valores calculados como médias de triplicatas de análise. Os rendimentos de hidrólise do bagaço pré-tratado com MB e LI com as diferentes enzimas estão apresentados nas Tabelas 15 e 16, respectivamente. A hidrólise enzimática do bagaço in natura, que não está mostrada nas Tabelas, alcançou rendimentos máximos de conversão da celulose em glicose de apenas 20% e 3% utilizando as enzimas Acremonium Cellulase e a mistura EGPh/BGPf, respectivamente, mostrando que na ausência de CBH a hidrólise da biomassa não tratada é praticamente nula. 100 Resultados e Discussão Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva Tabela 15. Rendimentos da hidrólise enzimática do bagaço pré-tratado com moinho de bolas utilizando as enzimas EGPh/BGPf, Optimash BG e Acremonium Cellulase. Rendimento de hidrólise (%) Glicose Xilose Celobiosea Glicose Optimash Glicose BG teóricab Xilose Celobiose Acremonium Glicose Cellulase Xilose EGPh/BGPf 3h 10,3 0,0 9,8 15,6 6h 13,8 0,0 10,1 22,5 9h 18,2 2,0 10,2 27,6 24 h 25,7 4,1 10,6 42,3 48 h 32,4 10,8 9,3 55,3 72 h 33,4 10,8 6,1 62,1 25,32 15,5 13,2 58,6 6,4 32,6 23,9 9,2 76,2 9,5 37,8 30,2 7,3 86,4 11,6 52,9 43,2 3,8 91,1 16,5 64,7 49,3 0,00 93,2 21,6 68,1 51,8 0,00 93,3 24,7 a b Celobiose: rendimento considerando a conversão total da celobiose acumulada em glicose; Glicose teórica: rendimento considerando a soma da concentração da glicose obtida àquela que seria proveninete da conversãod a celobiose Tabela 16. Rendimentos da hidrólise enzimática do bagaço pré-tratado com o LI [Emim][Ac] utilizando as enzimas EGPh/BGPf, Optimash BG e Acremonium Cellulase. Rendimento de hidrólise (%) Glicose Xilose Celobiosea Glicose Optimash Glicose BG teóricab Xilose Celobiose Acremonium Glicose Cellulase Xilose EGPh/BGPf a 3h 33,7 0,0 21,6 18,1 6h 43,1 0,0 21,3 25,9 9h 50,7 6,7 22,7 32,5 24 h 65,4 15,9 24,9 46,6 48 h 70,9 24,8 21,9 58,9 72 h 72,4 27,5 20,2 67,5 39,6 25,1 12,5 58,2 6,4 47,1 38,4 9,1 73,3 10,5 55,2 46,0 6,66 84,0 11,9 71,4 53,8 2,04 98,9 16,4 80,7 58,3 0,00 100,0 23,1 87,7 61,7 0,0 100,0 22,01 b Celobiose: rendimento considerando a conversão total da celobiose acumulada em glicose; Glicose teórica: rendimento considerando a soma da concentração da glicose obtida àquela que seria proveninete da conversãod a celobiose Perfis de hidrólise análogos foram observados para a hidrólise do bagaço pré-tratado com MB e LI com a enzima Acremonium Cellulase, resultando em 93% e 100% de rendimento em glicose em 72 h de sacarificação, respectivamente. A hidrólise do bagaço prétratado com MB e LI com a enzima Optimash também resultou em perfis similares, tendo alcançado 62% e 67% de rendimento em glicose em 72 h, respectivamente. No entanto, quando a enzima Optimash foi utilizada, um acúmulo significativo de celobiose foi observado nos hidrolisados do bagaço pré-tratado com LI, o que indicou uma quantidade insuficiente de Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva 101 Resultados e Discussão β-glicosidase nessa preparação enzimática, já que essa enzima é essencial para evitar o acúmulo de celobiose. De fato, a razão das atividades de CMCase: β-glucosidase na Optimash de 67:1 foi significativamente maior que a calculada para as enzimas Acremonium Cellulase (3:1) e EGPh/BGPf (5:1), onde não se detectou um acúmulo de celobiose acentuado. A conversão da celobiose acumulada no hidrolisado do bagaço pré-tratado com LI em glicose resultaria em um aumento do rendimento em 72 h de 67% para 87%. Para facilitar a visualização, os rendimentos e as concentrações de glicose obtidas ao longo da hidrólise também estão representados na Figura 35. Figura 36. Perfis de hidrólise enzimática do bagaço pré-tratado com (a) MB e (b) LI utilizando as enzimas EGPh/BGPf, Optimash e Acremonium Cellulase. A linha tracejada representa o rendimento teórico em glicose obtido com a Optimash considerando a conversão da celobiose em glicose. Comparando a hidrólise do bagaço pré-tratado com MB utilizando a Optimash e EGPh/BGPf, os rendimentos em glicose obtidos com a Optimash foram cerca de duas vezes maiores. Os maiores rendimentos em xilose, de 51% e 61% para o bagaço pré-tratado com MB e LI, respectivamente, também foram observados na hidrólise com a Optimash. Logo, a presença de atividades hemicelulolíticas diversificadas na Optimash poderia estar contribuindo para o aumento da acessibilidade das endoglucanases à celulose, através da hidrólise da xilana. Já os baixos rendimentos em xilose obtidos com a enzima Acremonium Cellulase são reflexo da sua baixa atividade de β-xilosidase, já reportada por Inoue et al. (2008), o que leva a um acúmulo de xilobiose nos hidrolisados que não é convertida a xilose. No entanto, a Acremonium Cellulase é capaz de promover uma efetiva despolimeração da xilana a oligossacarídeos, pois a preparação é rica em endoxilanases, o que também reflete no aumento da acessibilidade das celulases à celulose, não obstante o baixo rendimento em xilose (SILVA, 2010). Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva 102 Resultados e Discussão A Optimash também teve melhor desempenho que a mistura EGPh/BGPf considerando a hidrólise do bagaço pré-tratado com LI. No entanto, a diferença de desempenho não foi tão acentuada quanto aquela observada na hidrólise do bagaço prétratado com MB, o que pode estar relacionado ao fato do pré-tratamento com LI remover parte da lignina e da hemicelulose. Essa remoção aumenta a razão de celulose/hemicelulose no material pré-tratado, o que pode, em parte, reduzir a necessidade de hemicelulases para expor a celulose ao ataque da EGPh. Esse sinergismo de atuação das celulases e hemicelulases já foi amplamente descrito (HU et al., 2011; BARR et al., 2012; GAO et al., 2011). Barr e colaboradores (2012) estudaram a hidrólise enzimática de amostras de switchgrass pré-tratada com [Emim][Ac] utilizando diferentes dosagens e misturas de CBH, EG, BG e hemicelulases e reportaram uma melhora significativa nos rendimentos tanto de xilana quanto de glucana após o aumento da atividade de xilanase, quando a dosagem de celulases foi mantida constante. A mistura EGPh/BGPf teve um desempenho melhor na hidrólise do bagaço prétratado com LI, alcançando um rendimento em glicose de 73%, contra apenas 33% na hidrólise do bagaço pré-tratado com MB. Esse resultado pode ser justificado também por outros fatores além da remoção de parte da lignina e da hemicelulose pelo LI, como pela avaliação da cristalinidade do resíduo obtido antes e após a hidrólise enzimática (Figura 36a). Após ambos pré-tratamentos, ocorreu uma variação significativa nos padrões de difração, como já discutido no item 6.1.4 para o pré-tratamento com LI e por Silva et al. (2010), para o pré-tratamento com MB. No entanto, os perfis de DRX do material residual obtido após a hidrólise enzimática com EGPh/BGPf e Optimash, mostrado na Figura 36b, indicam a presença de material cristalino, sugerindo que as técnicas de pré-tratamento não foram suficientes para destruir completamente a estrutura cristalina da celulose, que ficou exposta no resíduo recuperado após a hidrólise das porções amorfas. Park e colaboradores (2010) discutiram que a conversão da celulose amorfa produz mais regiões amorfas, pois a hidrólise das fibras superficiais mais desordenadas gera a exposição de cadeias internas que, quando expostas à superfície, se tornam menos ordenadas e mais susceptíveis ao ataque enzimático. No entanto, foi observado nesse estudo que a hidrólise de materiais com baixa cristalinidade por EG e BG leva à exposição de estruturas mais cristalinas e mais resistentes ao ataque enzimático. O material residual recuperado após a hidrólise do bagaço tratado com MB apresentou um padrão de difração que sugere que esse material é mais cristalino que o resíduo da hidrólise do bagaço tratado com LI, o que indica que o tratamento por MB é menos eficiente na redução da cristalinidade e corrobora os resultados de hidrólise obtidos. Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva 103 Resultados e Discussão Figura 37. Perfis de difração de raios-X do bagaço in natura e pré-tratado com (a) moinho de bolas e (b) líquido iônico antes e após a hidrólise enzimática com Optimash e EGPh/BGPf. 6.2.2. Requerimento de celobioidrolases (CBH) para a hidrólise da celulose pré-tratada A celulose microcristalina também foi utilizada como um modelo para entender melhor a correlação entre a diminuição da cristalinidade pelo pré-tratamento com LI e o requerimento de CBH, já que neste material não existe a interferência da presença de hemicelulose e lignina. Para facilitar a visualização, além nas Tabelas 17 e 18, os rendimentos em glicose estão representados também na Figura 37. Figura 38. Perfis de hidrólise enzimática da celulose pré-tratada com (a) MB e (b) LI utilizando as enzimas EGPh/BGPf, Optimash e Acremonium Cellulase. A linha tracejada representa o rendimento teórico em glicose obtido com a Optimash considerando a conversão da celobiose acumulada em glicose. 104 Resultados e Discussão Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva Tabela 17. Rendimentos da hidrólise enzimática da celulose pré-tratada com moinho de bolas utilizando as enzimas EGPh/BGPf, Optimash BG e Acremonium Cellulase. Rendimento de hidrólise (%) EGPh/BGPf 3h 6h 9h 24 h 48 h 72 h 6,3 10,4 13,2 26,8 43,1 54,9 Celobiose 2,6 2,8 3,2 4,9 5,5 5,7 Glicose 4,9 7,1 8,9 15,1 21,9 27,2 Glicose teóricab 7,5 9,9 12,1 20,0 27,4 32,9 Glicose 16,5 25,7 30,6 44,3 65,6 Glicose a Optimash BG Acremonium Cellulase a 77,6 b Celobiose: rendimento considerando a conversão total da celobiose acumulada em glicose; Glicose teórica: rendimento considerando a soma da concentração da glicose obtida àquela que seria proveninete da conversãod a celobiose Tabela 18. Rendimentos da hidrólise enzimática da celulose pré-tratada com o líquido iônico utilizando as enzimas EGPh/BGPf, Optimash BG e Acremonium Cellulase. Rendimento de hidrólise (%) EGPh/BGPf 3h 6h 9h 24 h 48 h 72 h 72,4 78,0 81,4 85,3 86,0 84,1 Celobiose 13,9 14,8 14,8 13,1 10,0 9,6 Glicose 11,4 15,2 17,7 26,2 34,1 37,3 Glicose teóricab 25,2 30,0 32,5 39,3 44,1 46,9 40,7 54,0 63,0 83,8 88,7 88,9 Glicose a Optimash BG Acremonium Cellulase a Glicose b Celobiose: rendimento considerando a conversão total da celobiose acumulada em glicose; Glicose teórica: rendimento considerando a soma da concentração da glicose obtida àquela que seria proveninete da conversãod a celobiose Em 72 h de hidrólise utilizando as enzimas Acremonium, EGPh/BGPf e Optimash, o rendimento em glicose foi de 77%, 55% e 27% para a celulose pré-tratada com MB e de 88%, 85% e 37% para a celulose pré-tratada com LI, respectivamente. Do mesmo modo que observado para o bagaço, o pré-tratamento com LI foi mais efetivo que o pré-tratamento com MB para reduzir a recalcitrância da celulose microcristalina. O pré-tratamento com LI favoreceu a hidrólise da celulose pela mistura EGPh/BGPf, o que pode ser observado não só pelo rendimento final em 72 h, mas pela rápida cinética de hidrólise, atingindo 72% de Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva 105 Resultados e Discussão conversão após 3 h de sacarificação. A produtividade em glicose atingida com a mistura EGPh/BGPf foi superior à obtida com a Acremonium Cellulase pelo menos até 9 h de hidrólise enzimática. Adicionalmente, o rendimento em glicose da hidrólise com EGPh/BGPf da celulose pré-tratada com LI e BM em 72 h foi mais de duas vezes superior ao da hidrólise com a Optimash, oposto ao que foi observado para a hidrólise do bagaço pré-tratado. Logo, apesar de todas as preparações enzimáticas terem apresentado a mesma carga enzimática, baseada na atividade de CMCase, a menor eficiência da Optimash na hidrólise da celulose também poderia estar relacionada à diferença no mecanismo catalítico das EG e BG contidas nessa preparação em relação ao mecanismo da EGPh e da BGPf. A EGPh, classificada como uma glicosil hidrolase da família 5 (GH5), foi descrita como capaz de hidrolisar celooligossacarídeos de até 5 unidades (ANDO et al., 2002) e de liberar celobiose eficientemente após o ataque inicial para despolimerizar as cadeias de celulose (KIM e ISHIKAWA, 2010). Já a BGPf, classificada como uma glicosil hidrolase da família 1 (GH1), foi descrita como sendo capaz de hidrolisar diversos substratos, sendo mais eficiente na hidrólise de celooligossacarídeos (BAUER et al., 1996; KAPER et al., 2000). O sinergismos de atuação na liberação/hidrólise de celo-oligosacarídeos pela EGPh e pela BGPf pode não ocorrer na Optimash, já que a especificidade por substratos varia muito de uma enzima para outra. Além disso, Ando e colaboradores (2002) também reportaram que a EGPh tem a capacidade de hidrolisar moderadamente a celulose cristalina, o que também poderia contribuir para o seu melhor desempenho em comparação com a Optimash. Esse dado foi confirmado no presente estudo, já que a hidrólise da celulose microcristalina não tratada resultou em rendimentos em glicose após 72 h de 13%, 2,8% e 68% utilizando as preparações EGPh/BGPf, Optimash e Acremonium, respectivamente, mostrando uma atividade modesta da EGPh na hidrólise da celulose microcristalina e uma alta eficiência da enzima Acremonium Cellulase. É interessante notar que a hidrólise da celulose microcristalina não tratada com a Acremonium Cellulase resultou em rendimentos em glicose 3,4 vezes maiores que os obtidos para a hidrólise do bagaço (68% vs 20%). Esse resultado corrobora as constatações de que a presença de lignina e hemicelulose dificulta a hidrólise eficiente da celulose presente na biomassa lignocelulósica. Os perfis de DRX da celulose não tratada, pré-tratada e dos resíduos obtidos após a hidrólise estão mostrados na Figura 38. A hidrólise da celulose pré-tratada com EGPh/BGPf não resultou em material residual suficiente após 72 h de hidrólise para realizar as análises de DXR. Três picos em 2θ igual a 15,00° (1-10), 16,38° (110) e 22,52°(200) confirmaram a estrutura cristalina reportada para a celulose I. No entanto, o padrão de difração observado Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva 106 Resultados e Discussão para o resíduo da hidrólise da celulose pré-tratada com MB indica a presença de um arranjo cristalino diverso, com dos dois picos em 2θ iguais a 20,1° e 21,53°, indicando a formação da celulose II. O perfil de DRX do material residual recuperado após hidrólise com Optimash do bagaço pré-tratado com LI também sugere a formação de celulose II, apesar dos picos serem mais discretos (ver Figura 36b). Alguns trabalhos já reportaram a transformação da celulose I em celulose II após o pré-tratamento da celulose com [Amim][Cl] (ZHANG et al., 2005) e [BMIM][Cl] (XIAO et al., 2012). No entanto, na busca bibliográfica realizada não foram encontrados relatos dessa transformação para a biomassa lignocelulósica, já que essa observação é difícil de ser feita no material pré-tratado, tendo sido possível somente após a hidrólise das estruturas amorfas por EG. Figura 39. Perfis de difração de raios-X da celulose não tratada e pré-tratada com (a) moinho de bolas e (b) líquido iônico antes e após a hidrólise enzimática com Optimash e EGPh/BGPf. 6.2.3. Avaliação da área de superfície específica A área de superfície específica (ASS) do bagaço e da celulose não tratados, prétratados e dos resíduos obtidos após as hidrólises enzimáticas estão apresentadas na Tabela 19. O pré-tratamento com MB teve um efeito pouco significativo na alteração da ASS. Apesar 107 Resultados e Discussão Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva de o pré-tratamento por MB resultar na pulverização do material, gerando uma distribuição de tamanho de partícula da ordem de 10 a 100 µm (SILVA et al., 2010) (Tabela 19), parece que não há influência na porosidade do material ou que há ocorrência de compactação/agregação do mesmo. Já o pré-tratamento com LI, além de aumentar a área de superfície do bagaço, como já reportado no tópico 6.1.4, também teve um efeito proeminente sobre a celulose microcristalina, aumentando a ASS de 1,2 para 336,5 m2/g. Tabela 19. Área de superfície específica do bagaço e da celulose não tratados, tratados com moinho de bolas (MB) e tratados com líquido iônico (LI) antes da hidrólise enzimática e após 72 h de hidrólise com EGPh/BGPf e Optimash BG. ASS (m2/g) Amostra Antes da hidrólise Hidrólise com EGPh/BGPf Hidrólise com Optimash BG Bagaço nativo 0,8 8,3 * 1,3 97,6 116,1 135,2 65,4 42,7 1,2 33,8 * 0,6 25,6 36,21 336,5 nd 171,3 Bagaço prétratado com MB Bagaço prétratado com LI Celulose nativa Celulose prétratada com MB Celulose prétratada com LI nd: não determinado, pois o material residual ao final da hidrólise não foi suficiente. * Experimento não realizado. As taxas iniciais de hidrólise mais baixas observadas para as hidrólises com EGPh/BGPf e a Optimash após pré-tratamento com MB tanto da celulose quanto do bagaço, podem estar relacionadas ao fato do pré-tratamento com MB afetar em parte a cristalinidade, mas não alterar a ASS, diferentemente do que ocorre com os materiais pré-tratados com LI, onde ambos efeitos são observados. Os valores da ASS dos produtos residuais após 72h de hidrólise do bagaço pré-tratado por MB com EGPh/BGPf e Optimash foi 78 e 92 vezes maiores que antes da hidrólise, respectivamente. Já os materiais pré-tratados com LI, que apresentaram uma ASS muito elevada após o pré-tratamento, tiveram a ASS diminuída no resíduo recuperado, devido à hidrólise enzimática efetiva das fibras expostas pelo prétratamento. Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva 108 Resultados e Discussão 6.2.4. Considerações finais - Parte II Nessa parte do estudo, a interdependência entre o tipo de pré-tratamento da biomassa e o requerimento de diferentes enzimas para a hidrólise foi discutida. Apesar de o bagaço e da celulose pré-tratados com MB terem apresentado um padrão de DRX com um pico largo em 20,5°, o que corresponde a um material predominantemente amorfo, a presença da atividade de CBH na enzima Acremonium Cellulase foi essencial para uma hidrólise eficiente desses materiais. A enzima Acremonium Cellulase aumentou os rendimentos de hidrólise da celulose e do bagaço pré-tratados com MB de 54% e 33%, obtidos com a mistura EGPh/BGPf, para 78% e 94%, respectivamente. Em contraste, uma hidrólise efetiva com a mistura EGPh/BGPf da celulose e do bagaço pré-tratados com LI foi obtida, sugerindo um requerimento menor de CBH para a hidrólise desses materiais. A mistura EGPh/BGPf resultou em 72% de rendimento em glicose após 72 h de hidrólise do bagaço pré-tratado com LI e após apenas 3 h de hidrólise da celulose pré-tratada com LI, alcançando um rendimento final de 84% após 72 h. Esses resultados estão de acordo com o relato de Barr e colaboradores (2012), que descreveram que baixos níveis de CBH foram necessários apenas para a hidrólisar a celulose cristalina residual em amostras de Poplus nigra e switchgrass pré-tratadas com o mesmo LI utilizado neste estudo, enquanto o aumento da carga de EG dobrou o rendimento em glicose para Poplus nigra e teve um aumento moderado para a hidrólise do switchgrass. Apesar de várias enzimas requeridas para uma hidrólise da celulose e da hemicelulose já terem sido expressas com alta eficiência em microrganismos fermentativos (VIIKARI et al., 2012), um menor requerimento de CBH para hidrólise de materiais pré-tratados pode facilitar a obtenção de um processo de conversão da celulose a etanol em uma única etapa. Isso porque os microrganismos fermentativos poderiam expressar somente endoglucanases e β-glicosidases ou serem expressas conjuntamente com uma CBH que não precisaria ser secretada em quantidades acentuadas. De fato, o aumento da atividade específica e da secreção de CBHs expressas em Saccharomyces cerevisiae é um grande desafio na construção de linhagens efetivas para a hidrólise da celulose cristalina, já que os relatos de secreção de CBHs clonadas em S. cerevisiae estão na faixa de 0,002-1% do total de proteínas celular (HANN et al., 2013). Apenas recentemente foram descritas construções de linhagens capazes de secretar níveis mais elevados, correspondentes a 4% do total de proteínas (ILMEN et al., 2011; YAMADA et al., 2010). Nesse sentido, Hann e co-autores (2007) expressaram genes da endoglucanase de T. reesei (EG I) e β-glicosidase de Saccharomycopsis fibuligera em S. cerevisiae e foram bem Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva 109 Resultados e Discussão sucedidos em obter etanol a partir de celulose amorfa, pré-tratada com ácido fosfórico. A expressão da CBH II e da EG II de T. reesei e da β-glicosidase de Aspergillus aculeatus em S. cerevisiae também levou à produção de etanol a partir da celulose pré-tratada com [Emim]DEP (NAKASHIMA et al., 2011). Além disso, as enzimas hipertermofílicas são promissoras para a hidrólise da biomassa em processos que utilizem LIs, já que foram descritas como tolerantes a quantidades de até 20% de [Emim][Ac] e [Bmim][Cl] (TURNER et al., 2007; DATTA et al., 2010; PARK et al., 2012), enquanto enzimas de fungos mesofílicos, como as celulases provenientes de T. reesei, são normalmente inativadas na presença de quantidades residuais da maioria dos LIs utilizados para o pré-tratamento da biomassa (TURNER et al., 2003). No entanto, é preciso avaliar a eficiência das enzimas termofílicas na temperatura de crescimento de microrganismos fermentativos para a obtenção de um bioprocesso consolidado efetivo. Em resumo, a possibilidade de utilização de coquetéis enzimáticos que não contêm CBH ou com reduzida quantidade da mesma, propiciada pelo tratamento com LI, pode reduzir o custo das enzimas ou facilitar o desenvolvimento de um processo de conversão da celulose a etanol em apenas uma etapa. Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva 110 Resultados e Discussão Parte III 6.3. Pré-tratamento do bagaço em alta carga de sólidos com o líquido iônico [Emim][Ac] Na primeira parte deste trabalho, descrita nos tópicos anteriores, o líquido iônico [Emim][Ac] foi utilizado para o pré-tratamento do bagaço de forma convencional, ou seja, aplicando o conceito do líquido iônico como um solvente parcial ou total da biomassa. Dessa forma, uma proporção de bagaço:[Emim][Ac] de 1:20 foi utilizada em todos os ensaios. No entanto, na etapa descrita a seguir, uma nova proposta de uso do líquido iônico foi colocada em prática, onde não mais se pensou em utilizar o [Emim][Ac] como um solvente, mas como um aditivo químico capaz de promover transformações na estrutura do bagaço, visando assim reduzir substancialmente a carga de líquido iônico necessária para um prétratamento eficiente. Para tal, o uso de um sistema de mistura eficiente foi necessário para promover a interação efetiva do líquido iônico com todo o bagaço em alta carga de sólidos na temperatura correta. Nesse sentido, uma extrusora de dupla-rosca foi escolhida como um sistema promissor, pois seria possível promover uma mistura eficaz da biomassa com o líquido iônico e, ao mesmo tempo, controlar a temperatura de reação, além do tempo de prétratamento (através do design da rosca e da velocidade de alimentação). Mais importante ainda, como a extrusão constitui um processo contínuo, grandes quantidades de biomassa podem ser processadas, representando assim uma grande vantagem em relação aos sistemas de pré-tratamento em batelada. 6.3.1. Efeito da carga de biomassa e do número de ciclos de extrusão na eficiência do pré-tratamento O efeito de diferentes razões de bagaço:[Emim][Ac] foi avaliado através de experimentos que utilizaram razões correspondentes a 1:1, 1:3, 1:5 e 1:8, a 140 °C. Com o objetivo de aumentar o tempo de pré-tratamento, as misturas de bagaço-[Emim][Ac] foram extrusadas e realimentadas no extrusor por até três ciclos de extrusão. A temperatura de prétratamento foi escolhida de acordo com testes preliminares realizados em uma faixa de 130150 °C, que indicaram a temperatura de 140 °C como potencialmente favorável. Para as condições que utilizaram as razões de 1:1 e 1:3, três ciclos de extrusão foram realizados, enquanto para os pré-tratamentos utilizando as razões de 1:5 e 1:8, apenas dois ciclos de extrusão foram efetuados. As amostras resultantes de um terceiro ciclo de extrusão, utilizando as razões de 1:5 e 1:8, apresentaram um endurecimento, provavelmente devido à carbonização parcial da biomassa, dificultando o processamento para as análises de Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva 111 Resultados e Discussão composição química; por isso estas amostras foram descartadas do estudo. A composição química das amostras pré-tratadas, caracterizadas de acordo com o protocolo do NREL, está mostrada na Tabela 20. Tabela 20. Composição química das amostras pré-tratadas com diferentes razões de bagaço:[Emim][Ac] e por diferentes ciclos de extrusão. Os resultados representam a média de pelo menos duas replicatas. Composição da biomassa (%) Amostra Lignina Glicana Xilana 22,7 41,9 25,0 Bagaço in natura 1:1 - 1 ciclo 21,5 45,6 26,1 1:1 - 2 ciclos 20,9 46,3 24,3 21,6 47,4 24,8 1:1 - 3 ciclos 20,9 44,8 26,5 1:3 - 1 ciclo 19,8 46,4 26,2 1:3 - 2 ciclos 20,4 46,7 26,8 1:3 - 3 ciclos 19,9 44,6 25,6 1:5 - 1 ciclo 19,0 45,8 25,0 1:5 - 2 ciclos 1:8 - 1 ciclo 18,6 46,9 26,5 1:8 - 2 ciclos 19,3 46,6 25,1 As condições de pré-tratamento utilizadas não resultaram em uma redução acentuada do conteúdo original de lignina, ao contrário dos resultados mostrados no item 6.2.1, onde o pré-tratamento do bagaço com a razão de 1:20 resultou em uma deslignificação acentuada. Outros estudos também já reportaram valores de deslignificação maiores que 40% em biomassas pré-tratadas com baixo teor de sólidos (~5%) com [Emim][Ac] (LEE et al, 2009a; DOHERTY et al., 2010). Em concordância com os resultados apresentados, Wu e coautores (2011) também reportaram uma deslignificação máxima de 15% quando o pré-tratamento da palha de milho foi realizado com uma razão de biomassa:[Emim][Ac] de 1:2 a 130 ºC, por 1 h. A Figura 39 apresenta os rendimentos em glicose e xilose após 24 h de hidrólise enzimática do bagaço tratado com [Emim][Ac] com o auxílio da extrusora de dupla-rosca. Todas as condições de pré-tratamento resultaram em rendimento em glicose e xilose após 24 h de hidrólise de no mínimo 3,5 e 6,9 vezes maiores, respectivamente, que o bagaço in natura. O número de ciclos de extrusão teve um efeito significativo nos rendimentos em glicose principalmente para as condições que utilizaram razões de bagaço:[Emim][Ac] de 1:1 e 1:3. O aumento do número de ciclos de um para três para a razão de 1:1 resultou em um aumento nos rendimentos em glicose de 59,4% para 76,4%, enquanto, para a razão de bagaço:[Emim][Ac] 112 Resultados e Discussão Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva de 1:3, a realização do segundo ciclo de extrusão promoveu um aumento nos rendimentos em glicose de 10% em relação ao primeiro ciclo (de 81,6% para 91%) e a execução de um terceiro ciclo não teve efeito significativo. Figura 40. Efeito da razão de bagaço:[Emim][Ac] utilizada e do número de ciclos de extrusão realizados durante o pré-tratamento nos rendimentos em glicose e xilose obtidos após 24 h de hidrólise enzimática das amostras pré-tratadas. NT representa o bagaço não tratado (in natura). Todos os experimentos de pré-tratamento foram realizados a 140 °C. Considerando as condições que utilizaram as razões de 1:3 (a partir do segundo ciclo de extrusão), 1:5 e 1:8, os rendimentos em glicose obtidos após apenas 24 h de sacarificação foram similares, estando numa faixa de 86,7% a 92,9%. Esses valores de rendimento são tão altos quanto os obtidos em estudos que utilizaram menores cargas de biomassa e períodos longos de incubação (o tempo de residência médio da mistura bagaço-LI no cilindro extrusão foi de apenas 4 min). Por exemplo, Zhang e coautores (2012a) reportaram um rendimento de 90,5% na hidrólise do bagaço pré-tratado com [Bmim][Cl]-HCl a 130 °C por 30 min utilizando uma razão de bagaço:LI de 1:10. Em outro estudo, 96% de digestibilidade da celulose foi obtido após pré-tratamento de switchgrass com uma razão de biomassa:[Emim][Ac] de 1:33 por 3 h e 160 °C (LI et al., 2010). Ainda, 90% de rendimento Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva 113 Resultados e Discussão em glicose foi reportado para a sacarificação de amostras de madeira pré-tratadas com uma razão de biomassa:[Emim][Ac] de 1:20 por 1,5 h e 110 °C (LEE et al., 2009a). A avaliação do efeito da carga de biomassa na eficiência do pré-tratamento da palha de milho também foi avaliada em um estudo recente (WU et al., 2011). Rendimentos em glicose de ~80% foram reportados para razões de palha de milho:[Emim][Ac] em uma faixa de 1:2 1:10 e de 55% para uma razão de palha de milho:[Emim][Ac] de 1:1. Esses rendimentos são menores que os observados neste estudo, que corresponderam 91% e 76% para o bagaço prétratado utilizando a razão de 1:3 e 1:1, respectivamente. De forma similar ao observado para os rendimentos em glicose, os rendimentos em xilose aumentaram com a realização de um segundo ciclo de extrusão. No entanto, não houve diferença significativa entre a realização de um ou dois ciclos de extrusão para a razão bagaço:[Emim][Ac] de 1:8, que resultou em rendimentos em xilose de 85,9% e 84,1%, respectivamente. Esses rendimentos em xilose são maiores que os obtidos para a hidrólise da hemicelulose de outras biomassas tratadas com [Emim][Ac]; rendimentos em xilose de 52,5% e 50% para a cana selvagem e palha de milho foram reportados por Qiu e coautores (2012) e Wu e colaboradores (2011), respectivamente. Experimentos controles, onde o bagaço foi extrusado sem a adição de [Emim][Ac], também foram realizados. A Figura 40 mostra o perfil e a produtividade de hidrólise do bagaço pré-tratado nas diferentes condições testadas. A produtividade em glicose (mg/mL·h) calculada em 9 h de hidrólise foi de 7 a 7,5 vezes maior para amostras pré-tratadas com razões de bagaço:[Emim][Ac] de 1:3, 1:5 e 1:8 do que para o bagaço in natura, enquanto produtividades 4,8 e 2,4 vezes maiores foram obtidas para amostras pré-tratadas com razão bagaço:[Emim][Ac] de 1:1 ou extrusadas sem adição de líquido iônico, respectivamente. Apesar do processo de extrusão de materiais lignocelulósicos já ter sido reportado como uma técnica de pré-tratamento eficiente, a extrusão é normalmente realizada na presença de aditivos, como álcalis, amido (YOO et al., 2011), etilenoglicol e glicerol (LEE et al., 2009), para diminuir o torque operacional. Os experimentos controle de extrusão realizados sem adição de [Emim][Ac] resultaram em baixos rendimentos em glicose de 43,3% após 72 h de hidrólise, o que pode estar relacionado a baixa fluidez e alta resistência do bagaço seco durante a extrusão. Além disso, esse resultado pode indicar que o aumento da velocidade de hidrólise e dos rendimentos se dá mais em função da atuação do líquido iônico do que do processo de extrusão em si. Essa constatação também pode ser correlacionada com o baixo torque durante o processo de extrusão com a adição do líquido iônico (Figura 41), Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva 114 Resultados e Discussão indicando que as forças de cisalhamento e pressão observadas no processo de extrusão do bagaço puro podem não ter um efeito acentuado durante a extrusão da mistura bagaço-líquido iônico, tendo a extrusora, nesse caso, o papel de um reator de mistura eficiente. Figura 41. (a) Perfil de hidrólise enzimática do bagaço (×) in natura; (♦) extrusado sem adição de [Emim][Ac]; extrusado utilizando as razões de bagaço:[Emim][Ac] de: (■) 1:1; (+) 1:3; (●) 1:5; (▲)1:8; (b) Produtividade da hidrólise enzimática após 9h de sacarificação. Todos os experimentos de prétratamento foram realizados a 140 °C e os resultados são relativos às amostras tratadas por dois ciclos de extrusão. Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva 115 Resultados e Discussão Figura 42. Evolução do torque ao longo da extrusão do bagaço sem aditivo e da mistura bagaço[Emim][Ac]. Apesar de um rendimento em glicose relativamente alto (73,5%) ter sido obtido após 24 h de hidrólise do bagaço pré-tratado com a razão de bagaço:[Emim][Ac] de 1:1, ficou claro que a quantidade de líquido iônico utilizada nesta condição limitou o efeito do pré-tratamento, já que as taxas iniciais de hidrólise do bagaço pré-tratado foram inferiores às obtidas para as amostras tratadas com uma maior quantidade de líquido iônico por grama de biomassa. Esse fato pode ser correlacionado com os resultados de DRX das amostras pré-tratadas (Figura 42). Os perfis de DRX do produto pré-tratado com a razão de bagaço:[Emim][Ac] de 1:1 mostraram apenas uma pequena variação em relação ao bagaço in natura. De fato, o índice de cristalinidade (ICr) calculado de acordo com o método de Segal e colaboradores (1959) foi de 57,9% para o bagaço pré-tratado com a razão 1:1 por dois ciclos de extrusão e de 58,9% para o bagço in natura. No entanto, o bagaço pré-tratado com as razões de bagaço:[Emim][Ac] de 1:3, 1:5 e 1:8 apresentaram perfis de DRX alterados com desaparecimento do pico I 110 e um deslocamento do ângulo de difração do pico principal (I 200) de 22,4° para ângulos menores (21,2°–20,9°), o que é consistente com a predominância de celulose amorfa nesses materiais. Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva 116 Resultados e Discussão Figura 43. Perfil da difração de raios-X das amostras de bagaço in natura e pré-tratadas por dois ciclos de extrusão utilizando diferentes razões de bagaço:[Emim][Ac]. (a) bagaço in natura; bagaço extrusado com [Emim][Ac] em uma razão de: (b) 1:1; (c) 1:3; (d) 1:5; (e) 1:8. As setas indicam o ângulo de difração do maior pico. Como a área de superfície específica (ASS) é um dos fatores mais importantes que afetam a acessibilidade das enzimas, o menor efeito do pré-tratamento com a razão 1:1 na ASS em comparação com as outras condições avaliadas também pode explicar os menores rendimentos de hidrólise obtidos (Tabela 21). Enquanto o pré-tratamento por dois ciclos de extrusão com as razões 1:3, 1:5 e 1:8 resultou em valores de ASS em uma faixa de 130 a 135 m2/g, o tratamento com a razão de 1:1 (considerando três ciclos de extrusão) resultou em um valor de ASS de 98,4 m2/g. No entanto, comparando com o valor da ASS do bagaço in natura com o do bagaço pré-tratado com a razão 1:1, uma aumento de mais de 100 vezes foi obtido. Logo, como a cristalinidade dos materiais tratados nessa condição permaneceu praticamente inalterada, é provável que o aumento na digestibilidade das amostras tratadas com a condição de bagaço:[Emim][Ac] de 1:1 seja majoritariamente devido ao aumento na ASS. Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva 117 Resultados e Discussão Tabela 21. Efeito da razão de bagaço:[Emim][Ac] utilizada para o pré-tratamento na área de superfície específica (ASS) do bagaço pré-tratado. Razão de bagaço:[Emim][Ac] In natura 1:1* 1:3 1:5 1:8 ASS (m2/g) 0,8 98,4 132,1 136,4 131,1 *Os valores correspondem a ASS de amostras obtidas após dois ciclos de extrusão a 140 °C, exceto a condição de pré-tratamento com a razão de 1:1, que corresponde a três ciclos de extrusão. As características morfológicas das amostras pré-tratadas (Figura 43) também evidenciaram o efeito da quantidade de líquido iônico utilizada na desestruturação da parede celular, o que está de acordo com os dados de hidrólise e ASS discutidos acima. Figura 44. Micrografias do bagaço de cana-de-açúcar pré-tratado a 140 °C com uma razão de bagaço:[Emim][Ac] de (a) 1:1 por três ciclos de extrusão; (b) 1:3 por dois ciclos de extrusão; (c) 1:5 por dois ciclos de extrusão. 6.3.2. Efeito da temperatura do cilindro de extrusão na eficiência do pré-tratamento O efeito da temperatura durante o pré-tratamento foi avaliado utilizando as razões de bagaço:[Emim][Ac] de 1:3 e 1:5 e a temperatura foi variada em um faixa de 80 °C a 180 °C, já que o [Emim][Ac] foi descrito como sendo termicamente estável até 192 °C (ALMEIDA et al., 2012). A composição química das amostras pré-tratadas nas condições citadas acima está mostrada na Tabela 22. Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva 118 Resultados e Discussão Tabela 22. Composição química das amostras pré-tratadas em diferentes temperaturas e por diferentes ciclos de extrusão com a razão de bagaço:[Emim][Ac] de 1:3. Os resultados representam a média de pelo menos duas replicatas. Bagaço:[Emim][Ac] Amostra -- Bagaço in natura 80 °C - 1 ciclo 80 °C - 2 ciclos 120 °C - 1 ciclo 120 °C - 2 ciclos 140 °C - 1 ciclo 140 °C - 2 ciclos 160 °C - 1 ciclo 180 °C - 1 ciclo 140 °C - 1 ciclo 160 °C - 1 ciclo 180 °C - 1 ciclo 1:3 1:5 Composição da biomassa (%) Lignina Glicana Xilana 22,7 41,9 25,0 21,1 45,5 26,2 21,2 45,3 26,0 20,3 45,8 27,0 19,9 45,8 26,9 20,9 44,8 26,5 19,8 46,4 26,2 17,7 47,9 24,4 15,7 49,1 26,8 19,9 44,6 25,6 18,8 48,1 26,1 13,7 50,0 22,9 Um único ciclo de extrusão foi realizado para as temperaturas de 160 °C e 180 °C, porque as amostras extrusadas por dois ciclos apresentaram sinais de carbonização parcial. A Figura 44 apresentra os rendimentos em glicose e xilose obtidos após 24 h de hidrólise enzimática. Figura 45. Efeito da temperatura do cilindro de extrusão e do número de ciclos realizados nos rendimentos em glicose e xilose obtidos após 24 h de hidrólise enzimática das amostras pré-tratadas. NT representa o bagaço não-tratado (in natura). Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva 119 Resultados e Discussão Os rendimentos em glicose obtidos com um ciclo de extrusão utilizando a razão de 1:5 nas temperaturas de 160 °C e 180 °C foram próximos a 90%. No entanto, como a biomassa se tornou mais solúvel no [Emim][Ac] nessas temperaturas, essas condições não são aconselháveis devido à excessiva perda de material nas roscas e no barril de extrusão (Figura 45). Figura 46. (a) Mistura de bagaço-[Emim][Ac] na razão de 1:5 a 180 ºC; (b) Parafusos de extrusão após o pré-tratamento da mistura bagaço-[Emim][Ac] na razão de 1:5 a 180 ºC. Para a razão de bagaço:[Emim][Ac] de 1:3, foram testadas também as temperaturas de 80 °C e 120 °C, que após dois ciclos de extrusão resultaram em rendimento em glicose de 42,3% e 68,9%, respectivamente, e em xilose de 39,9% e 63,2%. De acordo com os resultados apresentados na Parte I, utilizando uma razão de bagaço:[Emim][Ac] de 1:20 foram necessários pelo menos 30 minutos de incubação a 120 °C para atingir cerca de 90% de rendimento em 24 h. Considerando que o tempo de residência da biomassa no cilindro de extrusão foi de aproximadamente 4 minutos, é possível que os rendimentos de hidrólise possam aumentar com a execução de um maior número de ciclos ou pelo aumento do tempo de residência, que pode ser proporcionado pelo uso de extrusoras maiores. As diferenças nos rendimentos obtidos para as amostras extrusadas em temperaturas diferentes podem ser correlacionadas com o aumento da ASS (Tabela 23). Tabela 23. Efeito da temperatura utilizada durante o pré-tratamento na área de superfície específica (ASS) do bagaço pré-tratado com a razão bagaço:[Emim][Ac] de 1:3. Temperatura (°C) e n° de ciclos 80 – 1 ciclo 120 – 1 ciclo 140 – 1 ciclo 140 – 2 ciclos 160 – 1 ciclo 180 – 1 ciclo ASS (m2/g) 21,3 30,1 58,4 132,1 145,1 206,0 Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva 120 Resultados e Discussão Como mostrado na Tabela 23, a ASS aumentou com o aumento da temperatura. Comparando com os dados apresentados na Tabela 21, é possível dizer que um aumento acentuado na ASS (> 100 m2/g) é necessário para se obter um alto rendimento de hidrólise nas condições de pré-tratamento utilizadas. Ainda, analisando conjuntamente os dados das Figuras 39 e 44, observa-se que os pré-tratamentos com a razão de 1:3 a 140 °C por dois ciclos de extrusão ou a 160 °C por um ciclo de extrusão são igualmente eficientes. A Figura 46 mostra os perfis de DRX dos produtos extrusados por um ciclo na faixa de temperatura de 80 a 180 °C. Perfis de DRX das amostras tratadas na faixa de 80–140 °C indicaram a presença ainda de um percentual significativo de cristalinidade, evidenciado pela presença de difração relativa ao plano cristalino I 110 (em torno de 16,5º), enquanto os perfis das amostras pré-tratadas a 160 °C e 180 °C mostraram que a estrutura cristalina foi altamente modificada. Figura 47. Perfis de difração de raios-X das amostras pré-tratadas em diferentes temperaturas com a razão de bagaço:[Emim][Ac] de 1:3. As setas indicam o ângulo de difração do maior pico. A Figura 47 apresenta micrografias de amostras pré-tratadas nas diversas temperaturas. As imagens são consistentes com os resultados de hidrólise enzimática, mostrando uma maior desestruturação da morfologia da superfície com o aumento da temperatura (Figuras 47a-d). As amostras pré-tratadas a 160 °C exibiram uma morfologia com estruturas que apresentaram espessura menor que 100 mm e menos ordenadas que as tratadas a 80 °C e 120 °C. Na Figura 47e, correspondente à amostra tratada a 180 °C, estruturas mais agregadas foram observadas, o que pode estar relacionado ao preparo da amostra ou a efeitos negativos da temperatura elevada. Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva 121 Resultados e Discussão Figura 48. Micrografias do bagaço de cana-de-açúcar pré-tratado com uma razão bagaço:[Emim][Ac] de 1:3 por um ciclo de extrusão a (a) 80 °C, (b) 120 °C, (c) 140 °C, (d) 160 °C, (e) 180 °C. 6.3.3. Comparação da extrusão com o processo de dissolução do bagaço A Figura 48 apresenta uma comparação resumida dos dados apresentados na Parte I com os dados desta sessão do trabalho, mostrando os perfis de hidrólise do bagaço pré-tratado com uma razão de biomassa:[Emim][Ac] de 1:20, a 120 °C por 30 e 120 min e com a razão de 1:3, a 140 °C por até três ciclos de extrusão. Figura 49. Comparação dos rendimentos em glicose obtidos após a hidrólise enzimática das amostras prétratadas com as razões de bagaço:[Emim][Ac] de 1:20, por 30 min e 120 min, e bagaço:[Emim][Ac] de 1:3, por até 3 ciclos de extrusão. Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva 122 Resultados e Discussão Após 24 h de hidrólise, o rendimento em glicose para o pré-tratamento por 120 min foi de 94%, enquanto o pré-tratamento por dois ciclos de extrusão (aproximadamente 8 min), resultou em 90,6% de rendimento. O valor da ASS para ambas as condições foi semelhante, sendo de 131,8 m2/g (ver Tabela 12) para o tratamento com a razão de 1:20, por 120 min e 132,1 m2/g (ver Tabela 23) para o pré-tratamento com a razão 1:3 por dois ciclos de extrusão. Da mesma forma, o perfil de hidrólise e a ASS do bagaço pré-tratado com a razão 1:20 por 30 min foram semelhantes ao do bagaço pré-tratado com a razão 1:3 por um ciclo de extrusão (~4min), correspondendo a 61,2 m2/g (ver Tabela 12) e 58,4 m2/g (ver Tabela 23), respectivamente. Experimentos controles do pré-tratamento com a razão bagaço:[Emim][Ac] de 1:3 também foram realizados no mesmo equipamento utilizado para fazer os pré-tratamentos com razão de 1:20 (Carousel 12 Plus - Radleys, Reino Unido), empregando um tempo de incubação (12 min), que seria equivalente ao tempo de pré-tratamento utilizando 3 ciclos de extrusão. Nessas condições, o rendimento máximo de conversão da celulose em glicose obtido foi de 46%, mostrando a importância da utilização da extrusora. Este é o primeiro trabalho que mostra a possibilidade de uso de líquidos iônicos em um pré-tratamento contínuo e com um curto tempo de reação. Comumente, trabalhos de prétratamento do bagaço e de outroas biomassa com líquidos iônicos têm empregado tempos de reação de pelo menos 30 minutos (ver Tabelas 5 e 6 da revisão bibliográfica), sendo muitas vezes o pré-tratamento realizado por mais de uma hora para a obtenção de rendimentos satisfatórios. 6.3.4. Considerações finais – Parte III A síntese de líquidos iônicos mais baratos, preferencialmente derivados de compostos biológicos e a redução da carga de líquido iônico necessária para o pré-tratamento foram apontados como fatores chave para a viabilidade tecno-econômica de uma biorrefinaria baseada nesta tecnologia (KLEIN-MARCUSCHAMER et al., 2011). Estes autores também concluíram que reduzir a carga de líquido iônico é mais importante que aumentar a sua taxa de reciclo, pois traria mais benefícios para a biorrefinaria, como menor custo de capital e menor gasto de energia. Apesar disso, muitos trabalhos focam preferencialmente em estudar a taxa de reciclo e reuso do líquido iônico do que avaliar a possibilidade de redução de seu consumo (REF). Neste trabalho, o uso da extrusora para facilitar o pré-tratamento do bagaço em alto teor de sólidos com o líquido iônico [Emim][Ac] possibilitou não só uma redução Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva 123 Resultados e Discussão significativa na quantidade de líquido iônico requerida por grama de bagaço, como também reduziu o tempo necessário de interação entre o [Emim][Ac] e o bagaço para obter um prétratamento efetivo, de 120 min para 8 min, obtendo rendimentos em glicose de cerca de 90%, após 24 h de sacarificação. Adicionalmente, como uma extrusora de escala laboratorial com a razão L/D de 17 foi utilizada (27 cm de comprimento), a necessidade de ciclos de extrusão pode ser eliminada com o uso de extrusoras maiores e o estudo de designs de roscas mais eficientes para este propósito, possibilitando um maior tempo de interação entre a biomassa e o liquido iônico. Dessa forma, resultados ainda melhores talvez possam ser atingidos. É importante ressaltar que esta é uma proposta inovadora de um pré-tratamento contínuo empregando o uso de um líquido iônico. Apesar de atualmente os líquidos iônicos apresentarem um custo incompatível com sua aplicação para o pré-tratamento da biomassa, o desenvolvimento futuro de líquidos iônicos com menor custo (BRANDT et al., 2011; HU et al., 2007; FUKUYA et al., 2007; PLECHKOVA e SEDDON, 2008) pode viabilizar o uso dessa técnica. Além disso, o pré-tratamento com líquidos iônicos pode ser otimizado para a obtenção de uma fração de lignina altamente pura, com alto valor agregado. Este modelo pode representar uma opção para uma biorrefinaria autossustentável, já que o ganho com a fração de lignina pode ser relevante a ponto de tornar-se a principal fonte de renda da biorrefinaria, o que viabilizaria o preço do etanol de biomassa. 7. Conclusões 125 Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva Conclusões Apesar do atual cenário do alto custo dos líquidos iônicos, que pode restringir o seu uso, e da clara necessidade de mais investimentos em P&D, os líquidos iônicos apresentam um potencial único de uso na perspectiva de uma biorrefinaria, devido às suas características e capacidade incomuns de promover modificações na estrutura da biomassa e sua especificidade no processamento da mesma. Neste trabalho, o uso de líquidos iônicos para o pré-tratamento do bagaço de cana-deaçúcar foi planejado visando explorar essa nova técnica de pré-tratamento, tanto nos seus aspectos fundamentais como nos mais aplicados. Um resumo dos principais resultados e conclusões do estudo encontra-se listado abaixo: O [Emim][Ac] foi selecionado entre seis líquidos iônicos testados por ser capaz de promover um aumento significativo nos rendimentos finais e nas taxas iniciais de sacarificação do bagaço. Um aumento na extração de componentes da biomassa para a fração líquido iônico-água, conjuntamente com o aumento na ASS e diminuição da cristalinidade foram observados paralelamente ao aumento na temperatura e no tempo de pré-tratamento, sugerindo que esses são fatores importantes para o aumento da digestibilidade do bagaço; Uma hidrólise efetiva do bagaço e da celulose pré-tratados com [Emim][Ac] utilizando-se endoglucanases foi obtida, implicando em um requerimento menor de CBH para a hidrólise desses materiais. Esses resultados mostram que o pré-tratamento com [Emim][Ac] poderia facilitar o desenvolvimento de um processo de conversão da celulose a etanol em uma única etapa por linhagens de microrganismos fermentativos que expressem celulases, mesmo que a CBH destes microrganismos não seja secretada em altos níveis; Um pré-tratamento inovador e eficiente acoplando o uso de um líquido iônico com o processamento contínuo da biomassa foi desenvolvido. Essa abordagem permitiu uma considerável diminuição da quantidade de líquido iônico e do tempo necessários ao processamento da biomassa. Dessa forma, abre-se um espaço para o avanço do uso dos líquidos iônicos em condições economicamente mais favoráveis. 8. Trabalhos Futuros 127 Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva Trabalhos Futuros O uso de líquidos iônicos para o processamento da biomassa é uma área em expansão, com ainda muitos aspectos a serem explorados. Como continuidade deste trabalho, projetos futuros estão sendo planejados visando avaliar outros parâmetros e opções que não fizeram parte deste estudo, como: Realização de testes de novos líquidos iônicos para o pré-tratamento da biomassa da cana-de-açúcar, em parceria com o Instituto Nacional de Tecnologia (INT/MCTI). Os líquidos iônicos a serem testados são inéditos e estão sendo sintetizados na Universidade Federal de Juiz de Fora; Avaliação do desempenho de outros líquidos iônicos potencialmente mais baratos que o [Emim][Ac] no sistema de pré-tratamento com alta carga de sólidos acoplado à extrusão desenvolvido nesse trabalho. Para tal, uma extrusora de escala laboratorial de rosca-dupla da Thermo-Haake, modelo PTW16, está sendo adquirida e será instalada no prédio Bioetanol (IQ/COPPE), localizado no campus da UFRJ; Avaliação de outros parâmetros do pré-tratamento com líquido iônico acoplado à extrusão, como diferentes configurações das roscas de extrusão e controle da alimentação; Realização de estudos visando a avaliação dos aspectos econômicos do processo de pré-tratamento desenvolvido. Este estudo poderá ser realizado com o auxílio do software SuperPro Designer (Intelligen, EUA), que já foi utilizado por pesquisadores do Joint BioEnergy Institute (Berkeley, EUA) para a avaliação tecno-econômica de uma biorrefinaria baseada em líquidos iônicos; Avaliação do pré-tratamento por extrusão da biomassa da cana-de-açúcar com outros aditivos, já que experimentos preliminares realizados no decorrer desta tese, que não foram incluídos na descrição dos resultados, indicaram a possibilidade de realização de um pré-tratamento efetivo do bagaço de cana-de-açúcar por extrusão utilizando o glicerol como um aditivo. Referências 129 Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva Referências ALBERSHEIM, P.; DARVILL, A.; ROBERTS, K.; SEDERROFF, R.; STAEHELIN, A. The structural polysaccharides of the cell wall and how they are studied. In: ALBERSHEIM, P.; DARVILL, A.; ROBERTS, K.; SEDERROFF, R.; STAEHELIN, A. (Ed.). Plant Cell Walls. Nova York: Garland Science, 2011, p. 43-66. ALMEIDA, H. F. 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Publicações em periódicos e patente relacionadas ao tema da tese: Silva, A.S.; Lee, S-H.; Endo, T.; Bon, E.P.S. Major improvement in the rate and yield of enzymatic saccharification of sugarcane bagasse via pretreatment with the ionic liquid 1-ethyl-3-methylimidazolium acetate ([Emim] [Ac]). Bioresource Technology, v. 102, p. 10505-10509, 2011. Silva, A.S.; Teixeira, R. S. S.; Endo, T.; Bon, E.P.S.; Lee, S-H. Continuous pretreatment of sugarcane bagasse at high loading in an ionic liquid using a twinscrew extruder. Green Chem., v. 15 (7), p. 1991 – 2001, 2013. Teixeira, R. S. S*.; Silva, A.S.*; Kim, H-W.; Ishikawa, K.; Endo, T.; Lee, S-H.; Bon, E.P.S. Use of cellobiohydrolase-free cellulase blends for the hydrolysis of microcrystalline cellulose and sugarcane bagasse pretreated by either ball milling or ionic liquid [Emim][Ac]. Bioresource Technology, v. 149, p. 551-555, 2013. *os autores contribuiram igualmente para esse trabalho Silva, A. S.; Teixeira, R. S. S.; Bon, E. P. S.; Endo, T.; Lee, S-H. Processo de produção de moléculas orgânicas a partir da biomassa. 2013, Brasil. Patente: Privilégio de Inovação. Número do registro: BR10201301041, data de depósito: 30/04/2013, título: "Processo de produção de moléculas orgânicas a partir da biomassa", Instituição de registro:INPI - Instituto Nacional da Propriedade Industrial. 2. Outras publicações em periódicos no período do doutorado: Teixeira, R. S. S*.; Silva, A.S.*, Ferreira-Leitão V.; Bon, E.P.S. Amino acids interference on the quantification of reducing sugars by the 3,5-dinitrosalicylic acid assay mislead the measurement of carbohydrases activity. Carbohydrate Research, v. 363, p. 3337, 2012. *os autores contribuiram igualmente para esse trabalho Gottschalk, L.M.F.; Paredes, R.S.; Teixeira, R.S.S.; Silva, A.S.; Bon, E.P.S. Efficient production of lignocellulolytic enzymes xylanase, β-xylosidase, ferulic acid esterase and β-glucosidase by the mutant strain Aspergillus awamori 2B.361 U2/1. 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In: Reis, 152 Tese de doutorado - Ayla Sant’Ana da Silva Anexos R. A., Bernardes, T. F., Siqueira, G. F. (Editores) Forragicultura: Ciência, Tecnologia e Gestão dos Recursos Forrageiros. (Em processo final de editoração). 4. Prêmios: Student Award 2011 na 19th European Biomass Conference and Exhibition, Berlim. Menção Honrosa na categoria de doutorado do evento dos 50 anos do Programa de Pósgraduação em Bioquímica.