Epistemologia e Sociologia da Ciência da Administração: Uma Reflexão Inicial Sobre os Estudos do Campo no Brasil Autoria: Maurício Serva, Daniel Moraes Pinheiro Resumo O objetivo deste trabalho é, em primeira instância, analisar a produção sobre o campo científico da administração no Brasil, especificamente em uma determinada fonte de produção: a Divisão Acadêmica Ensino e Pesquisa em Administração e Contabilidade (EPQ), em sua subdivisão EPQ-C - Estudos Gerais e Reflexivos do Campo, do ENANPAD 2008. A escolha desta fonte segue algumas razões específicas. A primeira, a necessidade de um corte específico, que trate diretamente do tema, na academia brasileira. A segunda, considerando que um dos pressupostos deste trabalho é o de que a abordagem do campo científico é de natureza sociológica e, portanto, admite as concepções de comunidade científica e institucionalização, deveria ser escolhida uma comunidade reconhecida pela produção no campo da administração. Para o alcance do objetivo proposto, partimos da abordagem epistemológica e sociológica de Pierre Bourdieu sobre o campo científico, utilizando-se de alguns outros conceitos de outros autores para dar suporte à análise dos artigos sobre o campo apresentados no ENANPAD 2008. Na segunda parte, foi realizada a análise desses artigos e algumas observações sobre as abordagens utilizadas, observando algumas possibilidades de novos estudos sobre o campo a partir do quadro de análise proposto e das categorias definidas para dar suporte ao estudo. 1. INTRODUÇÃO O estudo do campo científico é um assunto ao mesmo tempo intrigante e motivador. Intrigante, pois defronta o pesquisador com ele mesmo, com seus pares e com seu campo de trabalho, colocando-o na posição de questionar a si próprio ou à sua produção, em um contexto muito mais amplo do que algumas vezes pode considerar em seus estudos. Motivador, pois se transforma em oportunidade de autoconhecimento, bem como abre espaço para discussões diversas sobre problemas coletivos, que por vezes são considerados apenas no plano individual. A análise do campo é, portanto, uma possibilidade de avanço da ciência a partir da compreensão daqueles que a produzem. Segundo Japiassu (1991, p.16) compreendemos a epistemologia, como “o estudo metódico e reflexivo do saber, de sua organização, de sua formação, de seu desenvolvimento, de seu funcionamento e de seus produtos intelectuais”. Portanto, faz-se necessário o estudo e reflexão de seu próprio processo de desenvolvimento. Neste sentido, a epistemologia pode ser concebida como um metadiscurso acerca da ciência. Tal concepção foi significativamente reforçada nas últimas décadas, a partir do momento em que a epistemologia contemporânea avançou para além da análise dos pressupostos lógicos da ciência e agregou os estudos da sociologia da ciência (e também a antropologia da ciência) à discussão epistemológica. Esse reconhecimento acabou por enriquecer o debate epistemológico atual. Japiassu (1991), por exemplo, em sua obra sobre a epistemologia, reconhece a estreita ligação com a sociologia do conhecimento ou sociologia da ciência. Para Japiassu (1991, p. 36) “uma sociologia do conhecimento deve ter, entre outras funções, a de estabelecer uma ruptura entre os saberes comuns e o saber científico, interrogando-se sobre as condições sociais que tornam inevitável esta ruptura com o conhecimento espontâneo e ideológico”. Afirma ainda que, ao conceber a ciência ou um conhecimento científico como possíveis, pressupõe-se que estes têm origens filosóficas ou ideológicas. A sociologia da ciência evidencia os pressupostos que são inconscientes nas teorias tradicionais e por isso, ao se propor apontar as condições históricas e sociais em que se 1 dá a prática sociológica para então ultrapassá-la, evidencia-se uma das funções da epistemologia. A prática da ciência pode ser vista num processo constante de reflexão, e tal reflexão passa, também, pelas suas bases de produção. Conforme explica Bourdieu (1976, p. 116): “Uma autêntica ciência da ciência só pode estabelecer-se sob condição de recusar radicalmente a oposição abstrata (...) entre uma análise imanente ou interna – que caberia mais à epistemologia e restituiria a lógica segundo a qual a ciência engendra seus problemas – e uma análise externa, que relacionaria estes problemas com as condições de seu surgimento. O campo científico (lugar de luta política pela dominação científica) é que designa a cada pesquisador, em função da sua posição, seus problemas políticos científicos, bem como seus métodos e estratégias que – por se definirem expressa ou objetivamente na referência ao sistema de posições políticas e científicas que formam o campo científico – são ao mesmo tempo estratégias políticas. Não há escolha científica (…) que não seja uma estratégia política de investimento objetivamente orientada para a maximização do lucro científico, a obtenção do reconhecimento dos pares-concorrentes.” O objetivo deste trabalho é, em primeira instância, analisar a produção sobre o campo científico da administração no Brasil, especificamente em uma determinada fonte de produção: a Divisão Acadêmica Ensino e Pesquisa em Administração e Contabilidade (EPQ), em sua subdivisão EPQ-C - Estudos Gerais e Reflexivos do Campo, do ENANPAD 2008. A escolha desta fonte segue algumas razões específicas. A primeira, a necessidade de um corte específico, que trate diretamente do tema, na academia brasileira. A segunda, considerando que um dos pressupostos deste trabalho é o de que a abordagem do campo científico é de natureza sociológica e, portanto, admite as concepções de comunidade científica e institucionalização, deveria ser escolhida uma comunidade reconhecida pela produção no campo da administração. Aqui, toma-se a noção de paradigma dada por Thomas Kuhn de que os membros de uma comunidade científica compartilham de um paradigma, a partir do momento em que passam por uma iniciação profissional e educacional comum ou similar, possuem uma literatura técnica em que compartilham e comunicam de forma ampla o resultado de suas pesquisas entre seus pares. É preciso compreender que, como ciência, a administração tem sua teoria formada por pesquisadores que compartilham de um paradigma. E, naturalmente, as concepções paradigmáticas são resultantes de escolhas epistemológicas, calcadas nas próprias bases científicas (KUHN, 1987). Apoiando nossa proposição nas observações de ORTIZ (2003, p.11): Para existir, as Ciências Sociais necessitam das idéias e das instituições que lhe dão um suporte efetivo – as universidades e os institutos de pesquisa. Daí o interesse em estudar a organização e o funcionamento destas instituições, mediante a produção de papers, a participação em congressos, as instâncias de legitimação, a ritualização das citações, a conformação das pesquisas e hierarquia acadêmica. Dentro dessa perspectiva, a elaboração teórica insere-se em fronteiras administradas pelas regras do campo. Portanto, neste trabalho, partiremos da abordagem epistemológica e sociológica de Pierre Bourdieu sobre o campo científico, utilizando-se de alguns outros conceitos de outros autores para dar suporte à análise dos artigos. Na segunda parte, será feita a análise dos artigos sobre o campo apresentados no ENANPAD 2008. Na segunda parte, será feita a análise desses artigos e algumas observações sobre as abordagens utilizadas, observando algumas possibilidades de novos estudos sobre o campo a partir do quadro de análise proposto e das categorias definidas para dar suporte ao estudo. 2 2. ASPECTOS DA EPISTEMOLOGIA E SOCIOLOGIA DA CIÊNCIA DE PIERRE BOURDIEU 2.1. Conceitos Básicos Considerando que o objetivo deste trabalho relaciona-se ao estudo do campo científico, deve-se observar que diversos conceitos dos estudos epistemológicos de Pierre Bourdieu estão relacionados ao conceito específico de campo, fazendo parte de sua construção. Faremos menção aqui aos conceitos básicos de espaço social, capital e habitus. Conforme Bourdieu (2007a, p.133-4), “a sociologia apresenta-se como uma topologia social. Pode-se assim representar o mundo social em forma de um espaço (a várias dimensões) construído na base de princípios de diferenciação ou de distribuição constituídos pelo conjunto de propriedades que atuam no universo social considerado”. Explica, ainda, que os agentes tomam suas posições em seus espaços, e que, como as propriedades de construção deste campo são dinâmicas – atuantes – há um conjunto de forças objetivas que se impõem sobre todos aqueles que entram no campo e irredutíveis às intenções dos agentes individuais ou mesmo às interações diretas entre os agentes. Para Merton (1979, p.37) “a ciência, como qualquer outra atividade que envolve colaboração social, está sujeita a mudanças de fortuna, (…) é evidente que a ciência não é imune aos ataques, à restrição e à repressão”. Sendo assim, autor reconhece que “os ataques incipientes e reais à integridade da ciência têm levado os cientistas a reconhecerem sua dependência de certos tipos de estrutura social”. O segundo conceito implica a adoção de uma noção ampliada de capital. Bourdieu distingue as diferentes formas de capital que estruturam o espaço social: a) capital econômico (fatores de produção); b) capital cultural (qualificações intelectuais); c) capital social (conjunto das relações); d) capital simbólico (conjunto dos rituais); e, por fim, o capital global que seria a união de todos os capitais. A intenção aqui é demonstrar em breves linhas como a concepção de Bourdieu de capital está relacionada com os espaços das posições sociais e espaços dos estilos de vida. Neste sentido, Bourdieu posiciona no espaço social a profissão do professor de ensino num ponto onde é maior o capital cultural e o global, e menor o capital econômico. Esta noção pode, em princípio, ser tomada como apenas de uma relação do indivíduo com seu estilo de vida, ou até mesmo uma relação de consumo. Porém, é possível inferir suas implicações no próprio jogo do campo científico, mais adiante, em que se percebe que a noção de capital e de seus vários tipos aparece com fortes relações a alguns dos comportamentos observados nos praticantes do campo, os cientistas. Para os estudos da antropologia da ciência, por exemplo, pode ser interessante observar o cotidiano do cientista, considerando o seu contexto social e, portanto, incluir na análise a categoria estilo de vida. O terceiro conceito básico é o de habitus. A obra de Pierre Bourdieu é um continuum onde, sua abordagem do particular (campo da ciência) possui fortes relações com o que por ele fora construído ao longo de seus estudos. Assim, é importante compreender, também que o habitus deve ser visto como produto da posição da trajetória social do indivíduo. Para o autor, Para compreender todas as implicações da noção de habitus – idéia pela qual tentei demonstrar que se podia escapar das alternativas estéreis do objetivismo e subjetivismo, do mecanismo e finalismo, nas quais ficam aprisionadas habitualmente as teorias da ação -, eu gostaria de analisar as relações entre os habitus (sistemas de disposição socialmente constituídos) e os campos sociais. Nesta lógica, a prática poderia ser definida como o resultado do aparecimento de um habitus, sinal incorporado de uma trajetória social, capaz de opor uma inércia maior ou menos às forças sociais, e de um campo social que funciona, nesse aspecto, como um espaço de obrigações (violências) que quase sempre possuem a propriedade de operar com a cumplicidade do habitus sobre o qual se exercem. Isso conduziria a uma teoria da eficácia simbólica (BOURDIEU,1980, p.38). 3 Sendo assim, explica Bonnewitz (2003, p.85), “se o habitus é o produto da filiação social ele se estrutura também em relação com um campo. O campo científico supõe a existência de agentes dotados de um habitus diferente daquele dos indivíduos inseridos no campo político”. Ainda, observa que “de modo geral, todo campo exerce sobre os agentes uma ação pedagógica multiforme, que tem como efeito fazê-los adquirir os saberes indispensáveis a uma inserção correta nas relações sociais” (BONNEWITZ, 2003, p.85). O habitus, para Bourdieu (2007b), é representado pela participação na coletividade, que exerce uma influência sobre o criador, o agente, de forma a que ele passa a produzir, sem perceber, sob a orientação da cultura que o influenciou. 2.2. O campo científico Conforme Bourdieu (1976, p.112), “a sociologia da ciência baseia-se no postulado de que a verdade do produto – mesmo desse produto particular que é a verdade científica – reside numa espécie particular de condições sociais de produção, num estado determinado da estrutura e do funcionamento do campo científico.” As condições particulares, inerentes à estrutura e a lógica de funcionamento do campo científico estão, portanto, relacionadas ao seu contexto, as relações de capital e à própria estrutura hierárquica por meio das quais as relações – inclusive de interesse – são estabelecidas. Ainda, complementa o autor, que “o universo “puro” da mais “pura” ciência é um campo social como outro qualquer, com suas relações de força e monopólios, lutas e estratégias, interesses e lucros, no qual todas essas invariantes assumem formas específicas” (BOURDIEU, 1976, p. 112). Portanto, é possível estabelecer como premissa para este trabalho, que as observações feitas em estudos sobre o campo científico, possuem em sua essência forte natureza sociológica e, desta forma, pressupõe a compreensão das relações inerentes aos fatos observáveis pela sociologia da ciência. De acordo com BOURDIEU (1976, p.143): Ao afirmar que a sociologia da ciência funciona segundo as leis de funcionamento de todo campo científico, de modo algum a sociologia da ciência se condena ao relativismo. Com efeito, uma sociologia científica da ciência (e a sociologia científica que ela contribui para tornar possível) só pode constituir-se com a condição de perceber claramente que às posições nesse campo são associadas representações da ciência, estratégias ideológicas disfarçadas de tomadas de posição epistemológicas por meio das quais os ocupantes de uma posição determinada visam a justificar sua posição e as estratégias que eles colocam em ação para mantê-la ou melhorá-la e, ao mesmo tempo, para desacreditas os detentores da posição oposta e suas estratégias. É possível, portanto, trazer a definição de campo científico de BOURDIEU (1976, p.112), como um “sistema de relações objetivas entre posições adquiridas em lutas anteriores – é o lugar e o espaço de uma luta concorrencial.” Assim, não se distancia o conceito da analogia ao mercado, onde os espaços são determinados pelo jogo da concorrência, e assim, imbricados os diversos tipos de capital que farão parte da luta entre as forças. Segundo o autor, “o que está em luta são os monopólios da autoridade científica (capacidade técnica e poder social) e da competência científica (capacidade de falar e agir legitimamente, isto é, de maneira autorizada e com autoridade) que são socialmente outorgadas a um agente determinado” (BOURDIEU, 1976, p.112). O autor complementa imagem da luta afirmando que “a definição do que está em jogo faz parte da luta científica: é dominante quem consegue impor uma definição da ciência pela qual a realização mais perfeita consiste em ter, ser e fazer aquilo que eles têm, são e fazem” (BOURDIEU, 1976, p. 118). Em última instância, não admitir a existência de luta, de interesses, pode ser o caminho para afastar-se da sociologia da ciência. No campo científico, está em disputa uma espécie em particular de capital social, a autoridade científica. Para BOURDIEU (1976), este capital assegura um poder sobre todos os mecanismos do campo e pode se transformar em outros tipos de capital. Uma das 4 características particulares desse capital, segundo o autor, é de que “quanto maior for a autonomia do campo, a ter como possíveis clientes só os próprios concorrentes.” Desta forma, continua, “ num campo científico fortemente autônomo, um produtor particular só pode esperar o reconhecimento do valor de seus produtos (reputação, prestígio, autoridade, competência) dos outros produtores que, sendo também seus concorrentes, são os menos inclinados a reconhecê-lo sem discussão ou exame” (BOURDIEU, 1976, p.117). O interesse está, portanto, intrinsecamente ligado ao processo de aquisição de autoridade científica, expressa pelo reconhecimento, prestígio, e até mesmo, pela celebridade. Desta forma, nos conflitos nos conflitos científicos, não é possível associar apenas uma dimensão política, ou mesmo, puramente intelectual. Percebe-se, portanto, que a distribuição do capital científico é parte determinante do processo de determinação do próprio campo, de sua estrutura e de suas relações, o que irá afetar o papel de seus participantes e sua postura em relação a si, ou mesmo, aos seus paresconcorrentes. Acerca disto, esclarece Bourdieu (1976, p.123): A cada momento, a estrutura do campo científico se define pelo estado das relações de força entre os protagonistas em luta (agentes ou instituições); isto é, pela estrutura da distribuição do capital específico, resultado das lutas anteriores objetivado nas instituições e disposições e que comanda as estratégias e chances objetivas dos protagonistas. (…) A estrutura da distribuição do capital científico está na base das transformações do campo e se manifesta por intermédio das estratégias de conservação (ou de subversão) da estrutura que ela mesma produz. Por um lado, a posição que cada agente singular ocupa em dado momento na estrutura do campo científico é a resultante (…) do conjunto de estratégias anteriores desse agente e de seus concorrentes (as quais dependem da estrutura do campo, pois resultam das propriedades estruturais da posição a partir da qual são engendradas). Por outro lado, as transformações da estrutura do campo são o produto de estratégias de conservação ou de subversão cujo princípio de orientação e eficácia situa-se nas propriedades da posição ocupada por aqueles que as produzem no interior da estrutura do campo. 3. O CAMPO DA CIÊNCIA DA ADMINISTRAÇÃO Postos os conceitos de campo científico, de forma geral, abordaremos aspectos particulares do campo da produção dos conhecimentos científicos da administração. Iniciaremos pela definição de campo elaborada por Audet (1986, p.1), ao examinar o campo da administração, podemos, inclusive, notar que o referido autor inspira-se em Bourdieu: Um campo é ao mesmo tempo um lugar e um sistema. Ele é o lugar das relações entre atores humanos que pretendem produzir conhecimentos definido ou que são reconhecidos como tal, e que estão em concorrência para obter o controle da definição das condições de produção e validação desses conhecimentos. Ele é também o sistema de posições que ocupam os atores-produtores, e de suas relações. O critério decisivo (…) é a pretensão ou o reconhecimento da produção do tipo de conhecimento definido que constitui o escopo do campo. Audet e Déry (1996), ao analisar a produção científica em administração, reforçam a idéia da necessidade de adoção de uma postura epistemológica para compreender o período (1900-1940) em que essa produção em administração foi caracterizada por esses autores como uma “apropriação do discurso cientificista”, em seguida o período (1940-1970) denominado “cientifização das práticas” e depois o período (1970 em diante) do “pluralismo epistemológico”. Segundos os autores, “há quinze anos assistimos dois fenômenos novos no campo: o surgimento de uma epistemologia derivada nas ciências da administração e, simultaneamente, a emergência de uma epistemologia derivando para os campos específicos das ciências da administração” (AUDET; DÉRY, 1996, p.4). Estas observações reforçam a necessidade levantada por este trabalho, de um tratamento adequado aos estudos do campo da administração. O campo dos conhecimentos da administração é discutido por AUDET (1986) num sentido de estreita relação dos atores-produtores com as transformações sociais. O autor vai 5 demonstrar isso mostrando que é a partir da evolução da sociedade industrial que o desenvolvimento do campo dos conhecimentos científicos da administração se dá. AUDET (1986) divide em dois grupos os pesquisadores neste campo: o dos praticantes e o dos nãopraticantes. Esta observação também deve ser considerada, portanto, para os estudos de campo ao qual este trabalho se refere. O campo da administração é essencialmente marcado pela diversidade dos atores. O resgate do contexto histórico é também empreendido por Serva (1992) para explicar como se dá, no Brasil, o processo de importação de metodologias administrativas, importante movimento fundador do campo científico da administração no país. Já na primeira fase, para o autor, “o veículo da mensagem ideológica, ou seja, a forma que abrigava o conteúdo ideológico, desde o início, já era, em si mesma, um desenvolvimento teórico-prático produzido fora do Brasil, isto é, uma metodologia administrativa importada” (SERVA, 1992, p.132). Na segunda fase, “com a industrialização representando a força propulsora do desenvolvimentismo, as metodologias são importadas para aplicação imediata” (SERVA, 1992, p.132). Este processo se institucionaliza a partir da década de 1950, com a criação das escolas superiores de administração, que têm sua inspiração essencialmente nas escolas norteamericanas. Harberer (1979) discute os aspectos em que a ciência e a política tornam-se próximos, e até mesmo as relações de um com o outro. O ponto de partida é a percepção do cientista sobre a ciência, no contexto da politização. No entanto, é importante observar que “a ciência como uma atividade humana multilateral não é só um corpo de conhecimentos ou teoria, é também uma metodologia, uma prática, uma rede de hábitos, e contém as formas como esse conhecimento é adquirido, verificado e transmitido”. (HARBERER, 1979, p. 110). Estas observações não nos distanciam do conceito de habitus ou, ainda, do próprio modo como Bourdieu demonstra as relações no campo científico. No que tange à profissão de pesquisador, a atuação no campo da administração não difere muito da atuação em outros campos científicos. A seguir, reportaremos algumas observações produzidas pela sociologia da ciência contemporânea. Dortier (2005) mostra como se organizam aqueles que trabalham com o conhecimento. Para ele, “o trabalhador do saber é um profissional ‘reflexivo’ cuja atividade não é ajustada por sistemas pré-estabelecidos. Ele deve permanentemente resolver os problemas, inventar ou reinventar soluções e interrogar-se sobre suas atividades” (DORTIER, 2005, p. 31). Leclerc (2005, p.34) afirma que “para pertencer ao mundo dos intelectuais, não é suficiente produzir uma obra artística, científica, literária, é preciso também saber impor-se em diferentes conexões de legitimação e de consagração: a pesquisa, o ensino e a edição”. Essas conexões seriam legitimadas, então, desde a formação do pesquisador, até mesmo o relacionamento com a comunidade científica, seus pares, e que o prestígio universitário evidencia-se em quatro dimensões: o prestígio da instituição, o reconhecimento de uma obra, editar e publicar, e dirigir um laboratório. Já Louvel (2005), inspirando-se em Bruno Latour, destaca cinco dimensões do mundo dos pesquisadores que podem auxiliar a ilustrar seu trabalho e sua legitimação: (1) Mobilizar o mundo; (2) Criar colegas; (3) Aliar-se a autores que se interessem pelas duas operações precedentes (a escola, o Estado, a indústria.); (4) Evidenciar a atividade científica pelas relações públicas, pela confiança, pela ideologia; (5) O quinto horizonte designa o conteúdo da atividade cientifica. Ele só existe graças aos quatro primeiros: a força das idéias e dos conceitos científicos leva à transformação de vários horizontes. Dortier (2000) comenta em seu texto sobre a vida do pesquisador, mais especificamente os caminhos que o pesquisador percorre, seus percalços, como se depara com a pesquisa e se posiciona sobre ela, ilustrando com algumas experiências. Dortier (2000, p.512) afirma que “a vida de pesquisador não se resume ao trabalho de laboratório ou de “campo”, 6 (...) é participar de colóquios, é também publicar e às vezes ensinar. Passar muito tempo assim na organização material da pesquisa. (…) As relações com os colegas são outro aspecto do trabalho e são sempre ambíguas”. Mas, sua rotina de vida pode ser tortuosa. Berry (1995, p.19) demonstra que “o pesquisador é um homem apressado: sua carga de trabalho ultrapassa freqüentemente o tempo que ele pode efetivamente consagrar. A semana do pesquisador ideal excede sete dias. Assim, ele é forçado a fazer as escolhas... às vezes é doloroso.” As esferas da vida do pesquisador, para ele, assemelham-se àquelas do cotidiano de um diretor de empresa. Limoges, Keating e Gingras (2000, p.32) reconhecem que “a ciência nada mais é que um negócio de ideais e de métodos, ela depende muito, também, do status daqueles que a fazem”. Mas, as relações vão mais além, incluindo programas de pesquisa de interesse econômico. Charle (1998) ressalta o aspecto do interesse, das relações de poder, que dificultam a difusão dos conhecimentos. Afirma que “à medida então que se institucionalizam os lugares de formação, de transmissão e de difusão de idéias, a concorrência entre grupos de intelectuais transformou-se numa luta pelo poder e pela legitimidade”. Sobre a difusão, é interessante observar o texto de Evangelista (2006), que de forma poética mostra que, para o pesquisador, a questão está nas formas de se perceber no dilema “publicar ou morrer”. 4. ANÁLISE: ESTUDOS GERAIS E REFLEXIVOS DO CAMPO (EPQ-C) Como já exposto na introdução deste trabalho, a área escolhida para estudo dos artigos publicados possui um forte alinhamento com a proposta deste trabalho. Sua própria descrição remete ao objetivo deste trabalho, conforme ANPAD (2008): Sempre que os pesquisadores desejarem olhar além de suas práticas correntes e das questões de sua especialidade para problematizar o grande campo (Administração e Contabilidade) como um todo vis-à-vis campos conexos, quer das ciências humanas e sociais, quer das ciências lógicas, físicas e biológicas, terão nesta Área um horizonte convidativo para seu pensamento. Aqui, igualmente, são esperados estudos sobre a própria comunidade ANPAD, sua vida interinstitucional, seu passado, presente e futuro, uma dimensão reflexiva importante para o seu desenvolvimento. Assim, parte-se do pressuposto que os estudos, além de tratar das questões do campo, poderão trazer em seu cerne questões relativas ao processo de institucionalização, as relações específicas de uma comunidade (ANPAD), ou mesmo, reflexões sobre a importância dos estudos do campo no desenvolvimento da ciência. Todos os trabalhos analisados são do ENANPAD do ano de 2007, ano em que a área foi criada e recebeu seus primeiros trabalhos. Ao total, serão analisados doze artigos da área de estudos. Como critério para análise, será considerado a abordagem sociológica do campo científico. Assim, na dimensão sociológica encontram-se os estudos que consideram os conceitos de espaço social e de campo científico como imbricados em relações sociais, considerando inclusive os aspectos institucionais e políticos, as regras e conflitos existentes. Abarcam também estudos sobre o aspecto da interdisciplinaridade, especificamente no que tange às relações entre cientistas de diversas áreas do conhecimento. Abrange estudos que contemplem a produção científica para a acumulação de capital social, o valor simbólico dos produtos científicos e o processo de produção e distribuição de conhecimento, bem como as relações de interesse ocorridas no campo. Considerando estas observações, foi elaborado um quadro de análise para melhor ilustrar as relações que aqui se pretende observar. Dimensão Quadro 1 – Representação dos estudos por Áreas Áreas Representações Relações Sociais no Campo - Estudos de organizações/instituições 7 Sociológica Interdisciplinaridade Interesse e Poder científicas - Estudos de formação das redes de cooperação científica no campo da administração - Estudos de aproximação dos diversos campos do conhecimento com o campo da administração - Estudos das relações entre os atores de diversos campos científicos com os pesquisadores da administração - Estudos sobre as relações de poder, hierarquização no campo e nas relações institucionais - Estudos sobre as relações de interesse e seu impacto nas políticas de financiamento de ensino e pesquisa Fonte: Elaborado pelos autores Apesar do escopo deste trabalho se direcionar para os estudos da dimensão sociológica, com forte base na obra de Pierre Bourdieu, deve-se destacar que há outra dimensão a ser considerada: a dimensão prática. A esta dimensão estão relacionados os estudos que revelem o trabalho do pesquisador em ciências da administração, seu cotidiano e suas particularidades, bem como, estudos particulares sobre as suas condições de trabalho e de sua inserção no mercado de trabalho. Ainda, podem ser considerados os aspectos de contribuição à ciência da administração pelo estudo das categorias dos praticantes e nãopraticantes. Sugere-se que esta abordagem seja tratada em futuros trabalhos, vislumbrando os enfoques da sociologia e da antropologia da ciência. Desta forma, as dimensões referem-se às proposições teóricas desenvolvidas no trabalho, e tem por objetivo auxiliar no processo de análise dos artigos, identificando o seu nível de aproximação com a abordagem sociológica de Pierre Bourdieu, ou mesmo, que considere aspectos relevantes para o desenvolvimento do conhecimento científico a partir do estudo do campo, especificamente, o campo da ciência da administração. As seções seguintes consistem nas análises dos artigos, de acordo com a visão sociológica pretendida neste estudo. 4.1. Artigo: O Túnel no Fim da Luz: A Educação Superior em Administração no Brasil e a Questão da Emancipação No primeiro texto analisado, Saraiva (2007) propõe com objetivos para o seu trabalho: a) apresentar e discutir o quadro atual da educação superior em Administração, tratando especialmente das incoerências da legislação e dos currículos, bem como de seus desdobramentos diretos e indiretos; b) analisar os principais impasses da perspectiva tecnicista da educação superior em Administração; e c) confrontar o quadro atual e os impasses com relação ao mercado de trabalho a partir da perspectiva da educação crítica. Saraiva (2007) usa palavras como fetiche e glamour relacionando-as à profissão, para auxiliar a justificar seu trabalho. Ainda, utiliza aspectos como a competitividade para fechar seus argumentos. No entanto seu trabalho parece tomar a intenção de criticar o processo de comercialização do ensino superior, mais do que discutir suas bases, como mesmo havia proposto. A abordagem proposta pelo autor não procura delimitar um campo ou espaço social e de influência na produção e reprodução do conhecimento, numa concepção sociológica. 8 Apenas o trata na dimensão da educação, rapidamente no sentido da relação entre professor e aluno, ou produtor e cliente. Os valores considerados neste estudo estão relacionados à lógica da mercantilização do ensino superior, no sentido de questionar a relevância em que se dá a formação técnica em contraposição à educação crítica. Assim, pode-se subentender uma produção, mas vista parcialmente sob a ótica do ensino, que poderia ser extensiva às discussões sobre a reprodução deste conhecimento. A proposta deste estudo poderia ser eminentemente relacionada à dimensão prática, ao tratar da formação do profissional de administração sob as bases de uma educação que privilegie a autonomia, e se pretender relacionar à sua inserção no mercado de trabalho. No entanto, parece o autor se prender às relações de mercantilização do que, necessariamente, às particularidades que levariam a um estudo mais profundo das temáticas relacionadas à dimensão prática. 4.2. Artigo: Por um Saber Administrativo que Compartilhe a História da Cultura Brasileira O artigo analisado é posto no sentido de uma proposta multidisciplinar de abordagem para o saber administrativo. Alves (2007), utilizando essencialmente da literatura, e de textos de relevância histórica e científica, procura reconstituir as bases sobre as quais são construídas diversas discussões sobre questões capitais à administração, procurando traçar em sua narrativa críticas aos modelos até então utilizados. No entanto, é preciso observar que não se trata especificamente de uma questão relativa à sociologia do campo. Quiçá, traz uma discussão que poderia retomar-se em sentido epistemológico, como proposta de uma abordagem multidisciplinar para a construção do ensino em administração. Assim, o estudo aproxima-se da área da interdisciplinaridade, a partir do momento que pode clamar por uma abordagem mais histórica dos fatos da administração. 4.3. Artigo: Perspectivas acadêmicas em São Luís: a aproximação entre o estudo do turismo e a ciência da administração. Segundo Miranda (2007, p.1), a proposta do artigo é “analisar a relação entre as áreas do conhecimento, turismo e administração, sob a ótica de contribuições em diferentes instâncias, estabelecendo analogias e reflexões, tendo como campo empírico, o caso do município de São Luís, no estado do Maranhão”. Assim, o trabalho trata da aproximação de duas disciplinas. Para isso, o autor utiliza-se do que irá chamar de epistemologia da análise do fenômeno turístico, justificando as bases para esta aproximação. Da mesma forma que o artigo anterior, trata de uma questão epistemológica geral, de uma aproximação disciplinar. Miranda (2007) considera apenas os grupos de diversas instituições de ensino como amostra para o seu estudo, não demonstrando de forma aparente nenhuma implicação prática de sua escolha, em relação à produção do campo científico ou ao posicionamento de seus participantes em relação à interação entre as disciplinas da administração e do turismo. Não consiste, portanto, numa caracterização aprofundada da dimensão sociológica nas relações interdisciplinares entre os produtores de conhecimento, no sentido de sua abertura para tal aproximação e as implicações deste esforço interdisciplinar. Porém, estudos desta natureza são relevantes para sinalizar as possíveis faixas de aproximação entre os campos. 4.4. Artigo: Desenvolvimento da Regionalidade: Novo Campo da Administração. Neste artigo, Gil, Oliva e Silva (2007, p.1) afirmam ter “como propósito estimular a reflexão acerca do Desenvolvimento da Regionalidade como função emergente da Administração”. Os autores lançam mão de conceitos de diversas áreas do conhecimento para demonstrar a disciplina como necessária nos cursos de administração. 9 A abordagem trazida pelos autores considera a diversidade das disciplinas e sua inserção nos contextos institucionais da ciência da administração, apenas quando finalizam seu estudo, justificando a necessidade de entrada dos participantes de diversas instituições nos debates sobre regionalismo e desenvolvimento, sendo, portanto, um estudo típico da área da interdisciplinaridade. 4.5. Artigo: Estudos Curriculares e Estudos Organizacionais: Campos Simétricos e Agendas em Intersecção. No estudo proposto por Fischer, Waiandt e Silva (2007, p.1), os autores trazem a seguinte afirmativa: “como as organizações podem variar infinitamente no tempo e no espaço, os currículos variam de instituição a instituição, de um curso a outro. Portanto, em ambas trajetórias, os estudos acumularam conhecimentos sobre as organizações e os currículos como construções sociais”. Assim, o estudo é percebido num conceito sociológico, e, portanto, os currículos são observados – conforme demonstram os autores – sob a ótica de Bourdieu, no que se refere à sua inserção no conceito de campo. Conforme afirmam os autores, “O pressuposto principal deste trabalho é a convergência dos Estudos Organizacionais e Estudos Curriculares como campo de conhecimentos e práticas. Estas convergências podem ser identificadas na natureza e estruturas destes campos, considerando o objeto de estudo (...) e o dilema colocado pelas práticas, relacionadas, principalmente, com as mudanças que ocorrem nas organizações em geral e nos currículos em particular. (FISCHER; WAIANDT; SILVA, 2007, p.14). Observase, portanto, que o estudo se enquadra na área das relações sociais do campo, mas também poderia ser visto sob a ótica do interesse e poder, considerando as forças presentes na relação entre organizações e currículos. 4.6. Artigo: Avaliação/Ensino/Pós-graduação no Contexto Brasileiro: uma Investigação sobre a Produção Científica constante na Scientific Electronic Library Online, no período entre 1974 e 2007 Igarashi et al (2007) lançam mão da análise bibliométrica para alcançar seu objetivo de analisar a produção científica brasileira sobre avaliação/ensino/pós-graduação. Um estudo como este tem sua importância em evidenciar temas e instituições que trabalham com o mesmo assunto, em campos científicos diferentes. Assim, destaca os artigos e sua natureza, de acordo com sua linha e objetivos. É possível, então, mencionar que um trabalho desta natureza pode servir como subsídio para investigação em cada uma das três áreas aqui propostas, a depender dos critérios posteriores de análise estabelecidos. No caso do estudo, os autores ao identificarem semelhanças entre as áreas, abrem espaço para análises como: possibilidades de cooperação entre instituições; verificação da capacidade de abordagens interdisciplinares que possam englobar os artigos definidos em categorias semelhantes; análise das relações intrínsecas de interesse e poder, quando observadas as características particulares e os direcionamentos dos estudos em cada campo do conhecimento. 4.7. Artigo: Nos Limites da Autonomia: Reflexões sobre o Modelo Brasileiro de ‘Blind Review’ Os autores trazem à discussão os modelos de avaliação de artigos no Brasil e, especialmente, a adoção de aspectos “internacionais” e sua influência nas instituições científicas no Brasil. Assim, Kirschbaum E Mascarenhas (2007) abrem a discussão que pode ser vista por duas frentes, na proposta deste trabalho. 10 Inicialmente, a discussão pode ser eminentemente fruto das relações sociais, considerando-se os aspectos institucionais e históricos dos modelos de importação de teorias. Os autores partem da narrativa de Fachin (2006) feitas no texto em que comenta o processo de institucionalização da ANPAD. O artigo trata de um tema de relevância e interesse para área de relações sociais no campo. Assim, avaliar o processo de institucionalização do modelo de avaliação de artigos, adotados no Brasil e no exterior, pode auxiliar os produtores a refletir sobre seu próprio papel na produção científica, inclusive o processo de distribuição, pois na medida em que se adotam padrões internacionais parece ficar mais claro o interesse numa distribuição mais global daquilo que é produzido localmente. No entanto, deve-se ter o cuidado de, em estudos desta natureza, identificar corretamente o viés do poder e interesse, presente nas relações políticas destas instituições. 4.8. Artigo: Pluralismo Metodológico e Transdisciplinaridade na Complexidade: Uma Reflexão para a Administração Cardoso e Serralvo (2007, p.1) trazem como objetivo de seu ensaio a reflexão “sobre os limites das abordagens teóricas e metodológicas do campo da administração e principalmente, questionar o apego à disciplinaridade institucionalizada e a busca sempre constante de procedimentos metodológicos unívocos, com fortes apelos quantitativos, deterministas e mecanicistas, que se inspiram na antiga e sempre atual abordagem positivistafuncionalista”. Este tipo de abordagem seria uma discussão tipicamente epistemológica, a qual os autores reforçam com a proposta de uma abordagem interdisciplinar, utilizando-se para isso da teoria da complexidade como linha de suporte para suas colocações. De acordo com as áreas propostas, este artigo corresponde aos estudos de aproximação dos diversos campos do conhecimento com o campo da administração. Utilizamo-nos deste estudo para fazer uma observação. De acordo com Cardoso e Serralvo (2007, p.12): Nesses novos discursos é necessário ainda salientar a necessidade de superar, ou mesmo relativizar o domínio do pensamento organizado e estruturado de acordo com os princípios lógicos-formais. Isso porque o formalismo não tem resposta para as questões fundamentais colocadas pela sociedade nos tempos atuais e pouco tem a dizer sobre as características evidentes dos seres vivos, como o seu cheiro, seu tato,as suas paixões e os seus amores e desamores. Dimensões humanas que não são passíveis de medição e não estão sujeitas a fundamentos exatos e precisos. Deste modo, nos parece claro que além de uma proposta de aproximação interdisciplinar, seja por qual abordagem for tomada, possam considerar como presente em seus estudos o papel do pesquisador, daqueles que produzem o conhecimento e trabalham no campo, neste processo de aproximação interdisciplinar. Um dos argumentos para isto é a observação deste trecho extraído do artigo de Cardoso e Serralvo (2007). Quem sofre a influência do campo, e, portanto, dos paradigmas dominantes, do habitus, é o pesquisador, o agente, que reproduz sistematicamente, muitas vezes sem ao menos perceber. Seria importante, então, entender esta relação do pesquisador com o campo, a partir da própria compreensão do habitus, observando a forma como os processos que levam à solidificação deste habitus estão presentes nas estruturas institucionais das organizações acadêmicas. 4.9. Artigo: Cooperação no Campo da Pesquisa em Administração: Evidências Estruturais nas Redes Institucionais de Quatro Áreas Temáticas Em seu artigo, Rossoni e Guarido Filho (2007) engendram por uma proposta tipicamente sociológica, utilizando-se da análise das instituições para a compreensão da estrutura sócio-organizacional do campo, como comentam. 11 Utilizando-se de um arcabouço bastante próximo ao da chamada teoria institucional para a avaliação das redes institucionais, Rossoni e Guarido Filho (2007) estabelecem algumas hipóteses, quais sejam: H1: A rede de colaboração interinstitucional das áreas de Administração objeto desse estudo apresenta estruturas do tipo small worlds. H2: A rede de colaboração interinstitucional das áreas de Administração objeto deste trabalho apresenta uma configuração do tipo centro-periferia. H3: Os relacionamentos entre instituições nas redes de colaboração interinstitucional das áreas de Administração analisadas nesse estudo são do tipo escolha preferencial. H4: Há relação significativa entre as medidas de centralidade das instituições e produção científica. Este tipo de estudo permitiu levantar uma série de informações sobre o processo de relação interinstitucional, que possibilita um posicionamento da estrutura de produção nacional nas áreas avaliadas. Conforme Rossoni e Guarido Filho (2007, p.15): Esses resultados em seu conjunto permitiram identificar padrões de relações compartilhados entre áreas, evidenciando que o exercício acadêmico do corpo científico nas diferentes áreas apresenta similaridade em termos de cooperação em nível estrutural de instituições, no entanto, explicações a respeito dos processos que definiram essas características áreas não podem ser generalizadas, sendo decorrentes de peculiaridades históricas de cada uma das áreas no decorrer da prática social de produção de conhecimento. Estudos desta natureza têm o seu lugar na compreensão das relações sociais no campo da administração, e podem ser complementados por uma abordagem que permita verificar os laços não apenas sob a ótica da produção, mas seguir adiante observando e qualificando os agentes dessa produção, no sentido de sua participação e do processo de construção desses laços. 4.10. Artigo: A Aplicação de Abordagens Feministas para o Estudo de Administração Cerchiaro e Ayrosa (2007, p.3) explicitam o objetivo de seu trabalho como sendo o de “rever as várias abordagens feministas existentes e explicar porque a abordagem multicultural é a mais adequada para o estudo da realidade feminina brasileira”. Apesar de o estudo fazer um apanhado das diversas correntes e suas respectivas abordagens, dentro do objetivo explicitado, não é possível, em primeira instância, caracterizar o estudo como essencialmente do campo, considerando que está mais para um posicionamento dos autores sobre determinada visão, do que necessariamente com vistas a contribuições para o estudo do campo da ciência da administração, apesar de dedicarem algumas linhas a explicitar as contribuições práticas e teóricas do estudo. Entende-se que é possível estabelecer um estudo do campo, numa abordagem como a proposta neste trabalho, a partir da visão de classes e determinantes sociais, como gênero, raça, etnia. Porém, é preciso estabelecer um objetivo definido disto com a produção, e aprofundar os sentidos que podem ser dados, se antropológicos ou sociológicos, por exemplos, com suas adequadas categorias de análise. 4.11. Artigo: Por uma convivência (não tão) harmônica entre paradigmas nos estudos organizacionais. Santana e Gomes (2007) propõem em seu estudo uma visão que, em princípio, pode ser interessante aos estudos referentes à epistemologia da administração, tratando das questões como o uso dos paradigmas, os autores iniciam seu texto utilizando abordagens como a de GUERREIRO RAMOS (1983) e até mesmo de Pierre Bourdieu para apresentar suas concepções de delimitação do campo. 12 No entanto, os autores seguem em seu artigo com uma busca teórica para retratar institucionalmente o campo (apesar de o fazerem de maneira não declarada, inicialmente), e acabam por desembocar na dicotomia: hegemonia e contra-hegemonia. Desta forma, não lançam contribuições mais profundas para o estudo do campo, além das tradicionais observações sobre o funcionalismo como hegemônico, e portanto, relacionado às forças de domínio, inclusive, do capital e do interesse científico, sem apresentar nada que possa ser considerado como relevante ou inovador no que vêm a chamar de contra-hegemonia. Tal estudo poderia ser mais rico, por exemplo, utilizando-se de posicionamentos sobre o paradigma crítico. Como afirma Santos (1988, p.70), “na ciência moderna a ruptura epistemológica simboliza o salto qualitativo do conhecimento do senso comum para o conhecimento científico; na ciência pós-moderna o salto mais importante é o que é dado do conhecimento científico para o conhecimento do senso comum”. Assim, propostas sobre estudos semelhantes precisam considerar o “salto”, e arriscar estudos mais contundentes, se a pretensão é discutir o paradigma dominante, não incorrendo no risco de justificar a contrahegemonia utilizando para isto a própria sistemática hegemônica, reafirmando sua força, sentido e direção. 4.12. Artigo: A Formação em Administração como Requisito para o Exercício da Função Gerencial no Brasil O artigo de Vergara (2007) propõe uma reflexão sobre o exercício da função gerencial, no que tange à obrigatoriedade da formação em administração e da filiação ao conselho de classe. É interessante, pois, o trabalho direciona, em última instância, para um foco tipicamente de relações institucionais, a partir do momento em que as determinações para o profissional são orientadas por regras e normas da entidade de classe. Neste contexto, está inserida a formação profissional. Uma abordagem complementar do artigo pode ser de relevante contribuição para os estudos do campo, e refere-se ao estudo destes profissionais no campo e sua relação com a formação universitária, como a autora já inicia em seu trabalho. Pode se desenhar, então, estudos que se direcionem para a dimensão prática, efetivamente, da contribuição que estes profissionais possam trazer para o processo de fortalecimento das instituições, sejam as instituições acadêmicas, ou as organizações que dão suporte e regulamentam o exercício da profissão, promotoras do desenvolvimento da administração, como ciência e como campo prático de aplicação do conhecimento. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Retomando as idéias expressas na introdução do presente texto, a nossa proposta de trabalho consiste na análise da produção sobre o campo científico da administração no Brasil, fazendo uso para isto de determinada fonte de produção: a Divisão Acadêmica Ensino e Pesquisa em Administração e Contabilidade (EPQ), em sua subdivisão EPQ-C - Estudos Gerais e Reflexivos do Campo, da ENANPAD – Encontro da Associação Nacional de Pós Graduação e Pesquisa em Administração. Tal escolha se justificaria, pois é a área que, em princípio, seria a única com a especificidade e delimitação do tema “campo”, para a produção científica em administração no Brasil. Neste sentido, era preciso desenhar uma abordagem coerente de análise, que nos permitisse indagar sobre questões inerentes ao campo científico, de modo a estabelecer uma linha de pensamento uniforme acerca da produção. Assim, foi desenvolvida uma proposta de investigação baseada nas propostas de Pierre Bourdieu, considerando a dimensão sociológica como direcionador para os estudos do campo. A opção deste trabalho, portanto, é a da abordagem crítica, considerando as descrições de Chanlat e Séguin (1983). 13 Assim, elaboramos um quadro de análise que permitisse a observação de algumas áreas, dentro da dimensão sociológica, durante o processo de análise dos artigos: relações sociais no campo, interdisciplinaridade e interesse e poder. Todas as áreas têm sua origem nos conceitos trabalhados nos referenciais deste trabalho, e para cada uma delas foram propostos alguns tipos de estudos. Foi possível perceber que os estudos, em sua maioria, não consideram o campo científico sob a perspectiva sociológica. O artigo de Rossoni e Guarido Filho (2007) foi o que demonstrou uma aproximação mais forte com a proposta de análise aqui pretendida, no sentido de considerar a observação de um fenômeno do campo a partir das relações sociais, ao abordar o tema de redes institucionais. Alguns artigos, como os de Miranda (2007), Alves (2007) e Gil, Oliva e Silva (2007), direcionam-se para a abordagem interdisciplinar. No entanto, é possível perceber que os estudos esboçam uma discussão sobre a importância da abordagem interdisciplinar, do diálogo entre as disciplinas, mas não o fazem sobre uma perspectiva mais profunda, de considerar os participantes destes diálogos como atores importantes neste processo. Observo o artigo de Cardoso e Serralvo (2007), que de um modo mais contundente, trazem a interdisciplinaridade numa análise crítica a partir da abordagem da complexidade, em um sentido libertário ao paradigma dominante. Este trabalho nos inspira a procurar, por exemplo, relações entre os atores-produtores e a compreensão do habitus no espaço social em que participam. De uma forma geral, percebeu-se nos artigos avaliados que há ligações mais diretas com a área de relações sociais no campo ou da interdisciplinaridade. Apesar disto, observa-se que há relativa vocação em alguns estudos para a área de interesse e poder, como a proposta de Kirschbaum e Mascarenhas (2007), ou até mesmo, o artigo de Fischer, Waiandt e Silva (2007). Ainda, o trabalho de Vergara (2007) nos remete à dimensão prática, que pode ser mais bem explorada em novos estudos com temáticas semelhantes. É uma área fértil, que pode abrir espaço para novas discussões e para uma visão mais realista do trabalho do pesquisador, ou mesmo, do profissional de administração, para daí entender suas formas de contribuição para o conhecimento científico. A partir das análises dos artigos, conclui-se que o tema “estudos do campo” está aberto para as mais diversas discussões. A área analisada representa uma abertura, um início para as discussões sobre o tema no Brasil. Porém, é preciso ousadia para a realização destes estudos, pois se trata de observar a própria área de atuação e de seus pares-concorrentes. Estudos desta natureza envolvem, sobretudo, valores políticos e pessoais. Envolve uma proposta de humanização da figura do próprio pesquisador, agente do campo, consciente das instituições que o cercam. Finalizando, incentivamos a adoção de uma postura epistemológica que não apenas se constitua como uma contra-força ao paradigma funcionalista dominante e tenha, nele, a sua própria razão de existência, mas, sim, uma postura verdadeiramente autônoma para a construção da ciência que, sobretudo, permita a compreensão de sua história e daqueles que trabalham para sua construção. REFERÊNCIAS ALVES, L. R. “Por um Saber Administrativo que Compartilhe a História da Cultura Brasileira”. In: Anais do XXXI ENANPAD: Rio de Janeiro, 2007. AUDET, M.; MALOUIN, J.-L. (orgs.) La production des connaissances scientifiques de l’administration. Quebec, Les Presses de l’Université Laval, 1986. AUDET, M.; DÉRY, R. “La science réfléchie. Quelques empreintes de l’épistémologie des sciences de l’administration”, in Anthropologie et Sociétés. Volume 20, número 1, 1996. ANPAD. Disponível em www.anpad.org.br. Acesso em 12 de julho de 2008. 14 BERRY, Michel. “L’agenda du chercheur. L’action individuelle”. 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