Fundação Oswaldo Cruz Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães Departamento de Saúde Coletiva Mestrado em Saúde Pública ____________________________________________________________________ HANSENÍASE: CARACTERÍSTICAS AUDITIVAS E EPIDEMIOLÓGICAS ____________________________________________________________________ Rita de Cássia Rodrigues Orientadora: Profa. Dra. Zulma Medeiros Co-orientador: Prof. Fábio Lessa Recife, 2005 Fundação Oswaldo Cruz Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães Departamento de Saúde Coletiva Mestrado em Saúde Pública ____________________________________________________________________ HANSENÍASE: CARACTERÍSTICAS AUDITIVAS E EPIDEMIOLÓGICAS ____________________________________________________________________ Dissertação apresentada Examinadora, como à requisito Banca parcial à obtenção do Grau de Mestre do Curso de Mestrado em Departamento Saúde de NESC/CpqAM/FIOCRUZ. Recife, 2005 Pública Saúde do Coletiva À minha família, meu alicerce, pelo apoio incondicional que me foi dado em todos os momentos do mestrado. AGRADECIMENTOS À Profa. Dra. Zulma Medeiros, pela orientação e disponibilidade nas horas mais difíceis, contribuindo com seus conhecimentos e dissernimento para a realização desse trabalho. Ao Prof. Fábio Lessa, que apesar dos inúmeros compromissos e da saúde fragilizada, contribuiu com sua vasta e rica experiência como sanitarista e fonoaudiólogo. A você, Fábio, todo meu respeito e admiração pela sua luta e perseverança, pelo caminho construído, só tenho a agradecer por ser, acima de tudo, meu grande amigo. A Henrique, uma pessoa maravilhosa que sempre me incentivou com suas palavras de otimismo e apoio. Obrigada pela compreensão nos momentos de ausência, quando a minha presença se fazia necessária. A todos os pacientes que voluntariamente concordaram em participar dessa pesquisa, permitindo a realização das avaliações auditivas e a concretização do estudo. A minha irmã Poliana pelos seus conhecimentos de português dispensados para a revisão do texto. À Maria Luíza Timóteo, porque além de ser ter sido uma excelente professora foi também uma grande amiga nos momentos de indefinições. À Diretoria de Epidemiologia e Vigilância em Saúde (DIEVS) da Prefeitura de Recife, pela disponibilidade dos dados e acesso às informações importantes, sem as quais, esse trabalho não se realizaria. À Profa. Eduarda Cesse, Profa. Vera Gregório e Profa. Dra. Ana Augusta de Andrade, pelas valiosas sugestões na aula de qualificação. Aos meus colegas de turma do mestrado, Alda, André, Daniela, Kamila, Gerlane, Gisele, Luciana, Maristela, Naíde, Veruska, Rosimery, pela amizade sincera e auxílio quando as dúvidas surgiam. Ao Curso de Fonoaudiologia da Universidade Federal de Pernambuco, por disponibilizar local apropriado para a realização dos exames e, em especial, à Dona Celeste, à Da Paz e à Dona Zezé, secretárias eficientes e disponíveis que muito me ajudaram na etapa da coleta de dados. Às orientações estatísticas do Prof. Carlos Luna. Ao NESC, pelo acompanhamento e apoio durante todo o trabalho. Muito Obrigada! “Aquilo que vos peço é muito pouco. Peço um avião bombardeiro a cada um, porque sei que este avião custa cinco milhões de francos. Eu calculei que com o dinheiro desses aparelhos de morte se poderiam curar todos os leprosos do mundo". (trecho da carta de Raoul Follereau aos dois líderes máximos da terra em 1954, o norteamericano Dwight Eisenhower e o russo Georgi Malenkov) RESUMO A hanseníase, doença milenar, infecciosa e endêmica, vem, desde a última década, atingindo um número maior de pessoas e destacando-se no campo da saúde pública. Apesar de já se ter sua cura, muitas questões ainda são desafios, como as conseqüências ocasionadas na vida das pessoas que adoecem. Estudos evidenciaram, desde 1960, a relação entre hanseníase e audição, que pode ser explicada por três teorias fisiopatológicas: envolvimento coclear, comprometimento do VIII par craniano ou difusão de processos rinofaríngeos para o ouvido médio. O objetivo desse trabalho foi descrever o perfil auditivo, destacando também algumas características epidemiológicas de pessoas com hanseníase em Recife, no ano de 2003. Através do banco de dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), identificou-se a população alvo e, por uma amostragem sistemática, determinou-se a amostra, no total de 119 pacientes. Foram investigados 71 portadores de hanseníase, compreendidos entre 12 e 59 anos, os quais passaram por entrevista inicial, meatoscopia e audiometria tonal. Os resultados mais relevantes encontrados foram: sexo feminino (52%), média de anos (33,5 anos), forma clínica tuberculóide (33,8%), avaliação do grau de incapacidade do diagnóstico 0 (zero) (62%), classificação operacional multibacilar (50,7%), esquema terapêutico inicial PQT/PB/06 doses (40,8%). Houve 54% de casos que apresentaram alteração de audição e o mais freqüente achado da avaliação foi a perda auditiva sensorioneural (50,7%), com predominância bilateral (81,6%). Comprovou-se associação estatisticamente significante entre alteração auditiva e faixa etária, classificação operacional, queixas auditivas, doenças gerais associadas, bem como entre faixa etária e tipo de perda auditiva sensorioneural. Em virtude do elevado percentual de perda auditiva encontrado, resta aos profissionais de saúde envolvidos no programa de controle atentarem para a necessidade de encaminhamentos para avaliações audiológicas. Recomenda-se que outros estudos sejam realizados, considerando as particularidades da amostra, para investigar a associação existente entre perda auditiva e hanseníase. ABSTRACT The Hansen’s disease or leprosy, a millennium disease, is an endemic and infectious disease that has laced the majority of people up since the last decade. It has got worse and worse and it has got top line on public health field so far even though Physic have already demonstrated healing. There are still many questions up to challenge these findings, for instance, consequences arisen on people’s lives as soon as they get ill. Some studies have proven, since the 60´s decade, a relationship between Leprosy and hearing function that may be explained through three physiopathological theories: cochlear wrapping, eighth cranial nerve lacing up and some diffusion rhinal-pharyngal process leading to middle ear. This present study aimed to describe the hearing profile and also underline some clinical and epidemiological characteristics of people with leprosy in Recife – 2003. According to SINAN data (Deep Noting Information Department) it was noticed 119 patients (through systematic sample following up). There were 71 cases of leprosy identified, aged between 12 and 59 years. Patients were submitted to an interview firstly, then meatuscopy and tonal audiometry examinations. The results found, the most detached ones, were the following: feminine sex – 52%; 33-35 aged; tuberculoid clinical form – 33,8%; unableness grade assessment on diagnosis 0 (62%); operational multibacilar classifying (50,7%); initial therapeutical outline PQT/PB/06 doses (40,8%). There was hearing alteration (54%) and the recently found assessment result hearing loss (sensorineural one) (50,7%) showing bilateral predominancy (81,6%). It is statistically proven there is a significant association between the auditive alteration and the age range, operational classifying, hearing claims, general related diseases and also age versus sensorioneural hearing loss kind. Because high percentual level of hearing loss registered, it is necessary that health specialists who are included in control programmes turn up their attention to serious hearing evaluations whenever episodes come up. It is recommended that other studies be realized, considering the particulary samples to investigate an existant association between auditive loss and the Hansen´s disease. LISTA DE GRÁFICOS Pág. GRÁFICO 1 Distribuição dos casos de hanseníase, segundo alterações auditivas, Recife – 2003....................................................... GRÁFICO 2 44 Distribuição das médias das audiometrias, por freqüências agrupadas e por orelha dos casos de hanseníase, Recife – 2003....................................................................................... 47 LISTA DE TABELAS Pág. TABELA 1 Distribuição da amostra final dos casos de hanseníase – recife, 2003............................................................................... TABELA 2 Distribuição dos casos de hanseníase, segundo a faixa etária – Recife, 2003............................................................... TABELA 3 Distribuição dos casos de hanseníase, 41 segundo unidade/centro de saúde – Recife, 2003................................ TABELA 4 33 42 Distribuição dos casos de hanseníase, segundo a forma clínica, a avaliação do grau de incapacidade no diagnóstico, a classificação operacional, a baciloscopia e o esquema terapêutico inicial – Recife, 2003............................................. TABELA 5 Audiometrias dos casos de hanseníase, por freqüências, de acordo com a orelha testada – Recife, 2003............................ TABELA 6 auditiva, queixas auditivas referidas, ruído ocupacional, doenças gerais associadas – Recife, 2003......... 48 Resultados da avaliação auditiva dos casos de hanseníase, segundo a faixa etária (anos) – Recife, 2003........................... TABELA 9 46 Alterações auditivas nos casos de hanseníase, segundo sexo e faixa etária (anos) – Recife, 2003.............................. TABELA 8 45 Distribuição dos casos de hanseníase segundo resultado da avaliação TABELA 7 43 48 Alterações auditivas em pessoas portadoras de hanseníase, segundo forma clínica, avaliação do grau de incapacidade no diagnóstico, classificação operacional, baciloscopia e esquema terapêutico inicial – Recife, 2003.............................. 49 TABELA 10 Alterações em pessoas portadoras de hanseníase, segundo presença de queixas auditivas, queixas referidas, ruído ocupacional, presença de doenças gerais e doenças gerais associadas – Recife, 2003....................................................... 51 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ANSI – American National Standards Institute CPqAM – Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães HD – hanseníase dimorfa HDT – hanseníase dimorfa tuberculóide HDV – hanseníase dimorfa virchowiana HI – hanseníase indeterminada HT – hanseníase tuberculóide HV – hanseníase virchowiana MAE – meato acústico externo MB – multibacilar ROM – rifampicina, ofloxocina e minociclina OMS – Organização Mundial de Saúde PB – paucibacilar PQT – poliquimioterapia SINAN – Sistema de Informação de Agravos de Notificação TCLE – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido UFPE – Universidade Federal de Pernambuco SUMÁRIO 1. Introdução....................................................................................................... 13 2. Marco Teórico................................................................................................. 15 2.1. Aspectos clínicos............................................................................. 16 2.2. Aspectos epidemiológicos da hanseníase...................................... 20 2.3. Audição e Hanseníase.................................................................... 23 3. Objetivos......................................................................................................... 28 3.1. Objetivo geral.................................................................................. 29 3.2. Objetivos específicos....................................................................... 29 4. Procedimentos metodológicos....................................................................... 30 4.1. Desenho de estudo........................................................................ 31 4.2. Área de estudo................................................................................ 31 4.3. População de estudo....................................................................... 31 4.4. Seleção da amostra......................................................................... 32 4.5. Elenco de variáveis......................................................................... 33 4.5.1. Variável dependente............................................................... 33 4.5.2. Variáveis independentes......................................................... 33 4.6. Coleta de dados.............................................................................. 35 4.6.1. Dados secundários................................................................. 35 4.6.2. Dados primários...................................................................... 36 4.6.3. Plano de descrição, processamento e análise dos dados...... 37 4.7. Controle de bias............................................................................. 37 4.8. Considerações éticas..................................................................... 39 5. Resultados...................................................................................................... 40 6. Discussão....................................................................................................... 52 7. Comentários finais.......................................................................................... 61 8. Referências bibliográficas.............................................................................. 63 9. Apêndices....................................................................................................... 70 10. Anexo........................................................................................................... 78 1. INTRODUÇÃO Doença milenar, infecciosa crônica, causada pelo Mycobacterium leprae, a hanseníase ficou conhecida universalmente pelas deformidades físicas incapacidades, as quais na Antigüidade foram responsáveis pela rejeição e segregação de milhares de pessoas. A quantidade de casos novos detectados por ano no Brasil é elevada, infectando grande número de pessoas. Pernambuco mantém-se na segunda posição em ocorrências do Nordeste. Recife, capital do estado pernambucano apresenta a maior parte dos casos do estado, o qual pode ocorrer pela melhoria da qualidade das notificações e/ou pela própria magnitude da endemia. Investigar o comprometimento auditivo na hanseníase é um desafio, principalmente, se for considerado que essa doença ainda constitui um sério problema de saúde pública, apesar de sua cura já ser conhecida. Mesmo com os elevados números da doença na cidade de Recife, ela não é incluída no Brasil como um risco para a audição. A orelha humana pela sua complexidade e especialidade é suscetível a inúmeras doenças que podem causar graus e tipos variados de perdas auditivas. Em relação ao envolvimento da hanseníase nesse órgão, existem três teorias fisiopatológicas importantes: por problemas relacionados à orelha média, secundários aos processos infecciosos da rinofaringe; por comprometimento coclear (orelha interna) ou por envolvimento do VIII par craniano. Diante da ausência de pesquisas no Brasil que enfoquem a relação entre alteração auditiva e hanseníase, torna-se fundamental descrever alguns aspectos importantes, visto que pesquisas relatam a possibilidade de disfunção na audição entre casos de hanseníase. Para tanto, torna-se apropriado descrever, além do perfil auditivo, alguns aspectos epidemiológicos desses pacientes, de forma que os dados possam contribuir para o programa de controle da hanseníase nesta cidade. 2. MARCO TEÓRICO 2.1. Aspectos clínicos da hanseníase A hanseníase é uma doença infecciosa crônica causada pelo M. leprae, podendo afetar o sistema nervoso periférico, a pele e alguns outros tecidos humanos (JOPLING; McDOUGALL, 1991; BRASIL, 2002a). O M. leprae tem como principal característica a capacidade de infectar grande número de indivíduos, mas poucos adoecem tendo em vista sua baixa patogenicidade. Apresenta afinidade por células cutâneas e pelos nervos periféricos, localizando-se, preferencialmente, em regiões frias do corpo humano como nariz, testículos e locais próximos à pele, como os lóbulos de orelhas (FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE, 2002). Também apresenta predileção pela mucosa do trato respiratório e artérias vasculares (KOYUNCU et al., 1994a). As vias de eliminação, o mecanismo de transmissão, a via de saída e a porta de entrada do bacilo ainda não são inteiramente conhecidos. No entanto, sabe-se que o principal meio de eliminação são as vias aéreas superiores. A pele intacta não apresenta bacilos, mas as lesões ulceradas ou exculceradas podem representar uma outra via de eliminação de bacilos (URA; OPROMOLLA, 2000). São também admitidas como vias de eliminação, as secreções como esperma, suor, lágrima, sendo relatado ainda, o contágio indireto por vetores animais e objetos contaminados (MARCHESE; MARCHESE; RIVITTI,1996). A maioria dos estudos considera o homem o único reservatório de importância comprovada. Assim, para que a transmissão do M. leprae bacilo ocorra, é necessário um contato direto com o doente não tratado (BRASIL, 2001). O tempo de incubação da doença é longo, entre três a sete anos, mas faz-se referência a períodos mais curtos, de sete meses (FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE, 2002; BRASIL, 2002a). Os principais sinais e sintomas da hanseníase são: manchas esbranquiçadas ou avermelhadas (alteração da cor da pele sem relevo), pápulas (lesões sólidas com elevação superficial e circunscrita), madarose (queda dos supercílios), tubérculos (lesões sólidas externas elevadas) e nódulos (lesões sólidas internas palpáveis). Qualquer distúrbio de pele com alteração de sensibilidade, característica diferencial, deve ser devidamente investigado e tratado (BRASIL, 2001). O M. leprae acomete o sistema nervoso periférico (os ramos sensitivos cutâneos), provocando dormências nas lesões de pele, além dos troncos nervosos periféricos, ocasionando as conhecidas incapacidades e deformidades. Tais lesões podem surgir com a evolução da doença ou, simplesmente, serem a única forma de manifestação Também podem ocorrer processos inflamatórios dos nervos, causados pela ação direta do bacilo ou pela reação do organismo a este. As neurites podem se manifestar por dor e/ou espessamento dos nervos periféricos, diminuição e/ou perda de sensibilidade nas áreas de inervação (principalmente olhos, mãos e pés), diminuição e/ou perda de força nos músculos inervados (principalmente pálpebras, membros inferiores e superiores) (BRASIL, 2001). As diferentes formas de manifestações clínicas da doença evoluem de acordo com o sistema imunológico de cada pessoa. A fase inicial da doença denomina-se hanseníase indeterminada (HI), que pode curar-se espontaneamente ou evoluir para umas das formas clínicas descritas a seguir, dependendo do potencial da resposta celular do hospedeiro ao M. leprae (NOGUEIRA et al., 2000). A forma denominada hanseníase tuberculóide (HT) possui lesões bem delimitadas, com raros bacilos e os pacientes podem se curar espontaneamente. No lado oposto, encontra-se a forma de baixa resistência, denominada de hanseníase virchowiana (HV), que apresenta numerosas lesões, mal definidas, com excessiva multiplicação de bacilos e disseminação das lesões para vísceras e nervos. Entre esses dois pólos, existe a forma chamada de hanseníase dimorfa (HD), que apresenta manifestações clínicas, baciloscópicas e imunológicas intermediárias, predominando lesões bem delimitadas como na HT e/ou lesões disseminadas como na HV. A HD pode adquirir características tuberculóides, denominada hanseníase dimorfa tuberculóide (HDT) ou virchoviana (HDV) (NOGUEIRA et al. 2000). A OMS, em 1982, simplificou a classificação da hanseníase, utilizada para fins do tratamento, baseando-se no número de lesões apresentadas pelo paciente. Assim, os casos de hanseníase dividem-se em paucibacilares (PB), com até cinco lesões de pele, englobando a HT e a HI; e os multibacilares (MB), com mais de cinco lesões, compreendendo a HD e a HV (BRASIL, 2001; OPROMOLLA, 2000c). Por meio da baciloscopia, sugere-se uma outra classificação, a qual determina que são considerados PB, os casos que apresentam baciloscopia negativa e MB, aqueles com baciloscopia positiva. Geralmente, os casos HI e HT apresentam baciloscopia negativa e os HD e HV apresentam baciloscopia positiva. No entanto, a HD pode apresentar resultado de baciloscopia positivo ou negativo (FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE, 2002). No Brasil, a classificação do grau de incapacidade física do doente é feita no momento da alta ao paciente. Existem três graus de incapacidade física, de acordo com determinados critérios: grau 0 - não há incapacidade (sem comprometimento neural nos olhos, mãos e pés); grau I - há incapacidade (diminuição ou perda de sensibilidade nos olhos, mãos ou pés); grau 2 - há incapacidade e deformidade nos olhos, mãos e pés (OPROMOLLA, 2000c). A OMS define como critério para tratamento quimioterápico de hanseníase um indivíduo que apresente um dos critérios listados a seguir: lesão de pele, alteração de sensibilidade, acometimento de nervo com espessamento neural ou baciloscopia positiva. É importante destacar que mesmo a baciloscopia negativa não afasta o diagnóstico de hanseníase (BRASIL, 2002a). Atualmente, o tratamento da hanseníase é ambulatorial, chamado de Poliquimioterapia (PQT/OMS) e constitui-se pela associação dos seguintes medicamentos: rifampicina, dapsona e clofazimina, tendo como objetivo evitar a resistência do bacilo, o que ocorre com freqüência quando se utiliza um único medicamento (FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE, 2002). Nos casos PB é utilizada a associação da rifampicina e dapsona, no seguinte esquema: dose mensal de rifampicina de 600 mg (2 de 300 mg), com administração supervisionada e dose diária de dapsona auto-administrada de 100 mg; a duração do tratamento é de 6 a 9 meses e o critério da alta é de 6 doses em até 9 meses (BRASIL, 2001). Nos casos MB, utilizam-se as três drogas, rifampicina, dapsona e clofazimina, no esquema: dose mensal de rifampicina de 600 mg (2 de 300 mg), com administração supervisonada, dose mensal de clofazimina de 300 mg (3 de 100 mg) e dose diária auto-administrada de 50 mg, dose diária de dapsona auto-administrada de 100 mg; a duração do tratamento é de 12 a 18 meses e o critério de alta é de 12 doses em até 18 meses (BRASIL, 2001). Alguns casos MB podem necessitar de 12 doses adicionais do esquema-padrão MB, por conta da pouca melhora. Para as crianças, as doses dos medicamentos devem ser ajustadas de acordo com a sua idade. Ambos os esquemas são acondicionados em cartelas para utilização mensal (de 28 em 28 dias) (BRASIL, 2002a). Os esquemas alternativos de tratamento são aqueles em que se substitui um ou mais medicamentos do esquema-padrão por medicamentos equivalentes. Esses esquemas só devem ser utilizados em pacientes que apresentarem contra-indicação formal ou intolerância confirmada (FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE, 2002). Existe um esquema de tratamento, conhecido como ROM, que corresponde ao conjunto de rifampicina, ofloxacin e minociclina, devendo ser administrado através de dose única supervisonada, sendo recomendado para pacientes PB com lesão única de pele, sem comprometimento neural. O esquema ROM não pode ser usado por gestantes e crianças menores de 5 anos e deve ser indicado apenas em unidades/centros de referência (BRASIL, 2001; FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE, 2002). A regularidade do tratamento é fundamental para a cura do doente. Os prazos estabelecidos devem ser rigorosamente cumpridos. Quando não tratado de maneira adequada, cada doente MB contagia cerca de cinco pessoas por ano, sendo que apenas 1/3 destas são diagnosticadas. Muitos dos casos fazem tratamento irregular ou o abandonam, favorecendo a disseminação de bacilos resistentes às medicações (MARCHESE; MARCHESE; RIVITTI et al., 1996). Outra consideração importante é que, quando o doente inicia seu tratamento quimioterápico, deixa de transmitir a doença, pois as primeiras doses da medicação deixam o bacilo incapaz de infectar outras pessoas (BRASIL, 2001). Um paciente com hanseníase só será internado diante da gravidade dos efeitos colaterais aos medicamentos e dos estados reacionais ou pela necessidade de correção cirúrgica devido às limitações físicas (BRASIL, 2002a). 2.2. Aspectos epidemiológicos da hanseníase Doença que constitui grave problema de saúde pública, com cerca de 10 a 15 milhões de pessoas doentes no mundo, distribuídas especialmente nas regiões tropicais e subtropicais. De todos os casos registrados, 83% localizam-se em cinco países em ordem decrescente de prevalência - Índia, Brasil, Nigéria, Myanmar e Indonésia. Estima-se que a Ásia tenha a maior parte dos doentes do mundo, cerca de 62% (com 59% dos casos localizados na Índia), seguida pela África com 34%; pela América do Sul com 3% e o resto do mundo com 1% (ARAÚJO, 2003) Em termos de intensidade, a hanseníase da África é três vezes mais intensa que a da Ásia (MARCHESE; MARCHESE; RIVITTI, 1996). Embora tenha avançada tecnologia nuclear, a Índia, juntamente com o Brasil que possui uma economia cujo produto interno bruto (PIB) está entre os doze maiores do planeta, são os mais prevalentes em casos de hanseníase (ARAUJO, 2003). Somente a partir de 1980, depois da introdução da poliquimioterapia, os números da hanseníase começaram a reduzir e a prevalência global diminuiu em mais de 80% nos últimos dez anos. Em 1997, a estimativa global era de 1,15 milhões de casos em contraste com 10 a 12 milhões de casos estimados na década de 70 (URA; OPROMOLLA, 2000). No entanto, ainda existe cerca de 2 bilhões de pessoas que vivem em regiões com prevalência maior do que 1 doente para cada 10.000 habitantes e aproximadamente cerca de 2 milhões de doentes encontram-se incapacitados devido à hanseníase (MARCHESE; MARCHESE; RIVITTI, 1996). Na Índia e no Havaí, cerca de 50% dos doentes têm menos de 20 anos; na África, não é tão grande o número de casos de hanseníase na infância, assim como na América do Sul, especialmente na Venezuela e no Brasil (URA; OPROMOLLA, 2000). As crianças menores de quinze anos adoecem mais, geralmente quando há maior endemicidade da doença, por exposição precoce em focos domiciliares (BRASIL, 2002a; FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE, 2002). A influência do sexo na hanseníase, assim como a idade, também é variável. Considerando-se apenas os casos de HV, a prevalência é constantemente mais elevada no sexo masculino depois da puberdade, em uma proporção geralmente de dois para um. Quanto às deformidades, também parece haver uma freqüência menor no sexo feminino. Um estudo realizado na Índia mostrou que a incidência de deformidades é duas vezes maior no sexo masculino que no feminino (URA; OPROMOLLA, 2000). A distribuição irregular da prevalência desta doença no Brasil é uma característica importante, com diferenças marcantes entre os estados, os municípios e até entre os núcleos familiares (URA; OPROMOLLA, 2000). O coeficiente de prevalência da hanseníase no Brasil, em 2003 (dados preliminares), foi de 3,86/10.000 habitantes e taxa de detecção foi de 2,39/10.000 habitantes. A cada ano são diagnosticados no Brasil em torno de 43.000 casos novos da doença e a prevalência atual está em torno de 4 doentes/10.000 habitantes (BRASIL, 2005). Se for considerada que a prevalência de 1/10 mil significa cerca de 20 mil casos, ainda há muito o que ser feito em cada estado brasileiro, principalmente naqueles com alta prevalência, como os da Região Norte e alguns do Nordeste e do CentroOeste (BRASIL, 2005). Uma iniciativa concreta para atingir o objetivo de eliminação da hanseníase está sendo adotada pelo governo brasileiro em parceria com a Organização das Nações Unidas (ONU). Recentemente, foi feito um acordo para reestruturar o banco de dados para calcular o índice de casos de hanseníase por 10 mil habitantes. Agora, só ficam na base os casos diagnosticados e ainda em tratamento. Com essa mudança, acredita-se que o Brasil cumprirá a meta de eliminar a doença até 2005. Esse novo critério fez os centros de saúde do país detectar casos de pacientes que estavam há dez anos em tratamento, mas que não tinham sido computados como curados. Acredita-se que, com tal medida, os dados sejam mais fiéis, facilitando a tomada de decisões para os problemas encontrados (GOIS, 2005). No Brasil, do total de casos detectados, cerca de 4 mil (13,43%) são de pessoas com menos de 15 anos, o que demonstra de certa forma, falha na detecção da doença em adultos ou no tratamento. Para conseguir diminuir a prevalência até dezembro de 2005, com atenção especial às crianças infectadas, é preciso investir no tratamento adequado, para que seja quebrada a cadeia de transmissão familiar, o que é um dos principais objetivos do Programa Nacional de Eliminação da Hanseníase. Com a segunda edição das Cartas de Eliminação da Hanseníase, chama-se a atenção das secretarias municipais e estaduais de Saúde, para que novas ações sejam desencadeadas e, com isso, a doença seja detectada e tratada mais precocemente (BRASIL, 2005). Souza et al. (2001) afirmam, inclusive, que, para se alcançar o objetivo do Plano de Eliminação da Hanseníase, os programas de controle necessitam incorporar estratégias direcionadas aos grupos populacionais mais acometidos. Pois, quando crianças são infectadas muito cedo, o processo de transmissão é intenso, o que pode também ser conseqüência da resposta imune ligada ao seu estado nutricional O Nordeste é a região com maior número de casos (209.699) no Brasil e Pernambuco é o segundo estado mais endêmico (42.218 casos), numa série de 1980 até 2003 (dados preliminares) (BRASIL, 2005). No final de 1990, 60% dos casos comprovados de hanseníase no estado pernambucano se concentravam em Recife (RECIFE, 2001). No ano de 2003, esta cidade detectou cerca de 1.115 casos de hanseníase, mantendo-se com alta taxa de prevalência (coeficiente de detecção anual maior que 4,0 casos por 10000 habitantes) (RECIFE, 2003). 2.3. Audição e hanseníase A audição é uma sensação de vital importância para os seres humanos, pois ela é a base da sua comunicação (MUNHOZ et al., 2000). O limiar auditivo é definido pela American National Standards Institute - ANSI (1973) como o nível mínimo de pressão sonora de um sinal acústico capaz de produzir sensação auditiva (YANTIS, 1999). Muitas são as patologias que podem se instalar nas orelhas externa, média e interna, nas vias auditivas e no sistema nervoso central, acometendo a audição. As perdas auditivas podem ser classificadas topograficamente quanto ao seu tipo em: condutiva, sensorioneural, mista, central e funcional (LOPES FILHO, 1994). A perda auditiva condutiva possui limiares por via óssea normais e por via aérea rebaixados, sugerindo alterações de orelha externa e/ou média (cerume, oclusão do meato acústico externo, presença de corpo estranho, perfuração de mambrana timpânica, otite média). A sensorioneural é aquela que engloba desde lesões sensoriais (orelha interna ou órgão de Corti) até neurais, desde o nervo coclear até os núcleos auditivos, no tronco encefálico, havendo conservação para os sons graves, com perda auditiva mais acentuada em agudos. A morfologia da curva audiométrica poderá ser descendente, com audição pior nas agudas, mas também é possível não haver uma configuração típica para as curvas audiométricas (LOPES FILHO, 1994; FRAZZA et al., 2000). A perda auditiva mista é a que apresenta componentes condutivos e sensorioneurais em uma mesma orelha, depende do predomínio do fator de condução ou da gravidade da lesão sensorial. A central ocorre quando o comprometimento da audição localiza-se nas vias auditivas e sistema nervoso central. O paciente, portanto, ouve, mas não compreende. Geralmente está associada aos distúrbios neurológicos. Por último, a alteração auditiva funcional é aquela em que paciente não apresenta lesões orgânicas no aparelho auditivo, periférico ou central, podendo ser atribuída aos problemas emocionais ou psíquicos (LOPES FILHO, 1994). A fisiopatologia da perda auditiva na hanseníase foi objeto de vários estudos na Índia, no Egito e na Turquia. Esta se baseia em três teorias: envolvimento coclear, comprometimento do VIII par craniano (nervo vestibulococlear) ou problemas na orelha média secundários a processos rinofaríngeos (SINGH et al., 1984; MANN et al., 1987). O primeiro a investigar a relação entre perda auditiva e hanseníase foi Latif em 1967 (apud ARINI; SHEHATA; ZEID, 1970), evidenciando a ocorrência de 25% de perda auditiva como conseqüência do envolvimento do VIII nervo. A dúvida sobre o envolvimento auditivo na doença teria surgido a partir de um grande número de pacientes que apresentaram queixa de diminuição auditiva. Singh et al. (1984), consideram que a principal discussão sobre a fisiopatologia da perda auditiva na hanseníase é se esta disfunção é de origem coclear ou não. Awasthi et al. (1990) só confirmam que as duas hipóteses de comprometimento auditivo na hanseníase ocorrem por conta do envolvimento secundário do processo da doença no trato respiratório superior ou devido ao envolvimento do VIII nervo (vestibulococlear), descartando a possibilidade de um problema coclear. A perda auditiva, então, seria devido à afecção do nervo vestibulococlear, sem relação com idade dos pacientes ou duração da doença. A principal patogenia da perda sensorioneural de audição seria a afecção bilateral do nervo vestibulococlear, sem lesões detectáveis na orelha interna e média ou nas conexões centrais da audição. O envolvimento do VIII par craniano, sem mudanças nas fibras terminais da orelha interna ou conexões centrais é devido ao fato da hanseníase afetar as células de Schwann, envolvendo as fibras nervosas individuais, mas não os tratos cerebrais. Portanto, seria afetado o nervo vestibulococlear, devido à infiltração celular e edema que causam relativa isquemia do referido nervo, evoluindo para sua gradual destruição até irreversível prejuízo, sendo a mais provável patogenia de afecção auditiva na hanseníase (ARINI; SHEHATA; ZEID, 1970). É freqüente observar processos secundários de hanseníase na rinofaringe, apesar de não serem produzidos pelo bacilo. Por conta desses processos infecciosos, poderia haver propagação para a orelha média, através da tuba auditiva, ocasionando uma diminuição da audição do tipo condutiva de maior ou menor intensidade. Então, devido ao envolvimento do trato respiratório superior, existiria a possibilidade de doença secundária na orelha média, a qual acarretaria uma alteração auditiva (SACHERI, 1963). No entanto, Mann et al. (1987) afirmam que, na ausência de uma doença local ou sistêmica e/ou descartando-se o uso prolongado de drogas ototóxicas, a hanseníase seletivamente poderia vir a envolver apenas a cóclea (orelha interna). Inclusive, Koyuncu et al. (1995) relataram que existem poucos casos documentados na literatura de envolvimento do nervo vestibulococlear na hanseníase. Somente a hanseníase de longa duração aumentaria o risco de envolvimento de lesões nos nervos cranianos. Assim, para estes autores, a perda auditiva na hanseníase seria de origem coclear. A utilização da ultrasonografia com Doppler mostrou que houve diminuição do fluxo sangüíneo da artéria vertebral, a qual afetaria a nutrição das estruturas que contém o vestíbulo, a cóclea, o labirinto e os núcleos cerebrais. Alguns sintomas relatados podem ocorrer justamente por causa da má nutrição destas estruturas, incluindo perda auditiva, zumbidos e tonturas, resultado da diminuição do fluxo sangüíneo para o núcleo cócleo-vestibular, o labirinto ou núcleos cerebrais. Essa redução do fluxo sangüíneo aumentaria mais ainda devido às lesões na artéria vertebral, diante da ocorrência da hanseníase. Portanto, a perda auditiva sensorioneural na hanseníase poderia ser atribuída à diminuição do fluxo de sangue para a cóclea (KOYUNCU et al., 1995). Em estudos realizados por Awasthi et al. (1990), não foi verificada disfunção audiovestibular nos pacientes submetidos ao tratamento com rifampicina, clofazimina e dapsona, no período de um ano, revelando que não há efeito adverso destas drogas relacionado à audição nos portadores de hanseníase. Esses acreditam que haveria depósitos de complexos imunes, associados à reação tipo II, mais comuns em pacientes na forma MB, as quais causariam vasculites generalizadas, envolvendo a orelha interna e danificando a cóclea. As perdas auditivas condutivas que foram encontradas nesse estudo estavam associadas às otites médias crônicas supurativas, não se evidenciando a presença do bacilo nas secreções da orelha média. As afecções puramente vestibulares são menos comuns que as afecções cocleovestibulares e cocleares (AWASTHI et al., 1990; KOYUNCU et al., 1994; KOYUNCU et al., 1995), as quais, para seu diagnóstico, indicam-se os testes que compõem a bateria de exames audiológicos. A avaliação auditiva é utilizada para quantificar e qualificar a perda auditiva, dentre outros aspectos, em relação ao tipo. Também serve para monitorar um problema de audição já existente. Por meio dela, o tratamento será definido, podendo incluir intervenção cirúrgica ou medicamentosa, habilitação/reabilitação ou, simplesmente, monitoramento da alteração, por meio de entrevista inicial (anamnese), da metatoscopia e do teste de audiometria tonal por via aérea e por via óssea, além de outros procedimentos (American Speech - Language - Hearing Association, 2004). A audiometria por tons puros (na faixa de freqüências convencional de 250 Hz a 8000 Hz) é um exame que deve ser realizado em cabine acústica isolada de ruídos externos. Seus resultados são anotados em um gráfico (audiograma), onde as freqüências são referidas em Hertz (Hz) e a intensidade em decibel (dB). A associação entre os testes por via aérea e por via óssea permite saber se a perda auditiva é devido a um problema na orelha média, na interna, ou nas duas (American Speech - Language - Hearing Association, 2004). Para Wilber (2001), a audiometria tonal é a base da avaliação audiológica. Após a realização da entrevista inicial (anamnese) e da pesquisa dos limiares de audibilidade para tons puros, o audiologista tem condições de dizer se o paciente tem ou não perda auditiva. Sua finalidade é mensurar a intensidade mínima audível (limiar auditivo) para tons puros. Mesmo aceitando que existem outros procedimentos necessários para essa confirmação, o quadro geral de um caso clínico só deve estar claro diante da audiometria de tons puros por via aérea e óssea. Portanto, torna-se a ferramenta principal dentro da avaliação auditiva. Considera-se, portanto, fundamental aprofundar-se nos aspectos auditivos envolvidos na hanseníase, em virtude do elevado número de casos desta enfermidade em Recife e da possibilidade do envolvimento discutido por estudos realizados fora do Brasil, configurando um risco para a audição. 3. OBJETIVOS 3.1. • OBJETIVO GERAL Estudar a prevalência de alterações auditivas e as características epidemiológicas de pessoas que tiveram hanseníase no município de RecifePE, no ano de 2003. 3.2. • OBJETIVOS ESPECÍFICOS Descrever as características da amostra de estudo, segundo sexo, faixa etária, unidade/centro de saúde, distritos sanitários (por local de residência), forma clínica, avaliação do grau de incapacidade no diagnóstico, classificação operacional, baciloscopia, esquema terapêutico inicial, resultado da avaliação auditiva, lateralidade da alteração auditiva, limiares auditivos por freqüências isoladas, queixas auditivas referidas, ruído no trabalho e doenças gerais associadas; • Relacionar as alterações auditivas encontradas na amostra pesquisada, de acordo com sexo, faixa etária, forma clínica, avaliação do grau de incapacidade no diagnóstico, classificação operacional, baciloscopia, esquema terapêutico inicial, além de queixas auditivas referidas, ruído no trabalho, doenças gerais associadas. 4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 4.1. Desenho de estudo Trata-se de um desenho descritivo do tipo transversal ou seccional porque produzem “instantâneos” da situação de saúde de uma população ou comunidade com base na avaliação individual do estado de saúde de cada um dos membros do grupo. Esse tipo de estudo, também chamado estudo de prevalência utiliza uma amostra representativa da população, devido às óbvias dificuldades para a realização de investigações que incluam a totalidade dos membros de grupos numerosos. Portanto, faz-se valer da teoria estatística para seleção da amostra aleatoriamente, pois cada indivíduo tem a mesma chance de participar da amostra (ALMEIDA FILHO; ROUQUAYROL, 2003). Considerando o objetivo desse trabalho estudar a prevalência das alterações auditivas, enfocando também características epidemiológicas de pessoas que tiveram hanseníase, pretende-se, portanto, levantar questões que poderão, no futuro, serem respondidas. 4.2. Área de estudo O estudo foi realizado no município de Recife, capital do estado de Pernambuco, situado no litoral oriental da região nordeste do Brasil. Este município possui 22 unidades de saúde voltadas para o controle da hanseníase, distribuídas em 06 distritos sanitários da seguinte forma: 03 unidades no distrito sanitário I, 06 unidades no distrito sanitário II, 05 unidades no distrito sanitário III, 02 unidades no distrito sanitário IV, 03 unidades no distrito sanitário V e 03 unidades no distrito sanitário VI (RECIFE, 2004). 4.3. População de estudo O total de 1.115 casos de hanseníase foram notificados em Recife, no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), em 2003 (RECIFE, 2004). A população-alvo correspondeu ao total de número de casos de hanseníase pertencentes ao banco de dados do SINAN, classificados de acordo com a forma HT, HD, HV ou HI em 2003, compreendidos na faixa etária entre 12 e 59 anos, o que corresponde a 844 pessoas que tiveram hanseníase. Para a seleção da amostra foi utilizado o programa SPSS 8.0. Foram excluídos os casos abaixo de 12 anos, devido às dificuldades que porventura poderiam surgir nas idades inferiores, tendo em vista que a audiometria tonal é um exame que depende da cooperação do paciente, tendo a criança ser capaz de responder de forma sistemática aos sons apresentados (FRAZZA et al, 2000) Também foram excluídos os casos acima de 59 anos, pois a partir de 60 anos de idade há forte influência da presbiacusia, que, segundo HUNGRIA (1995), é a deficiência auditiva que surge em virtude da idade mais avançada, com o declínio da audição, que envelhece como tudo o mais no organismo. 4.4. Seleção da amostra Para o cálculo de dimensionamento da amostra, foi utilizado o software EPI INFO 6.04, admitindo uma população alvo de 844, erro de 5%, precisão de 5% e intervalo de confiança de 95%, resultando na amostra final de 119 indivíduos portadores de hanseníase. A estimativa de prevalência da doença considerada foi de 10%. Os trabalhos existentes sobre o tema mostram uma variação de percentuais de alteração auditiva na hanseníase, apresentando prevalências de 7% a 28%, confirmando a polêmica discussão existente sobre o assunto (SACHERI, 1963; ARINI et al., 1970; AWASTHI et al., 1990; KOYUNCU et al., 1994; MANN et al., 1987; SINGH et al., 1984). Devido aos possíveis problemas operacionais foi realizado o sorteio de mais de 25% da amostra calculada, totalizando 148 indivíduos selecionados do universo de 844 casos de hanseníase. Para convidar os 148 pacientes foram enviadas aos domicílios cartas registradas informando o propósito do trabalho e agendados os dias e horários para a realização dos exames de audição. As cartas continham telefones para contato em caso do paciente apresentar impossibilidade de comparecimento naquele dia e hora sugerido. Diante das cartas que retornaram informando problemas nos endereços realizaramse visitas domiciliares na tentativa de resgatar os casos não localizados, que se mudaram ou se recusaram a participar da pesquisa. Abaixo, destaca-se a situação da amostra ao final da coleta. TABELA 1 – Distribuição da amostra final dos casos de hanseníase – Recife, 2003 Situação da amostra final Participaram da pesquisa Não foram localizados Negaram-se a participar Total N 71 66 11 148 % 48,0 44,6 7,4 100,0 É importante destacar que as características epidemiológicas e clínicas encontradas nos pacientes que não foram localizados e se negaram a participar são equivalentes à maioria das variáveis pesquisadas na amostra, como pode ser observado no apêndice A. 4.5. Elenco de variáveis 4.5.1. Variável dependente: Alterações auditivas: alterações ocorridas na audiometria com a presença de limiares acima de 20 dB NA na (s) freqüência (s) testada (s). 4.5.2. Variáveis independentes: Sexo: é referido como sendo feminino ou masculino no momento do nascimento. Faixa etária: idade, em anos completos, categorizada de 12 a 19 anos, 20 a 29 anos, 30 a 39 anos, 40 a 49 anos e 50 a 59 anos. Unidade/Centro de saúde: representa o local em que o paciente foi registrado através da ficha de notificação para hanseníase, sendo diagnosticado e tratado. Distrito sanitário: é uma divisão política-administrativa. Foi determinado através do bairro residencial que a pessoa informou no preenchimento da ficha de notificação. A distribuição dos 6 distritos sanitários contendo os seus bairros encontra-se no apêndice B. Forma clínica: refere-se à classificação clínica, que pode ser HI, HT, HV, HD ou não classificada. Avaliação do grau de incapacidade no diagnóstico: refere-se ao grau de incapacidade que o paciente apresenta no momento da avaliação médica, sendo classificada em graus – grau 0, grau I, grau II, grau III, podendo ainda não ser avaliado ou ignorado na ficha de notificação. Classificação operacional: é baseada no resultado da baciloscopia, diante de resultado negativo – PB, resultado positivo – MB. Baciloscopia: é o resultado do teste bacteriológico relação à presença do bacilo no material biológico examinado, que pode ser positivo, negativo, não realizado ou ignorado. Esquema terapêutico inicial: é o tratamento que foi indicado inicialmente para a pessoa com hanseníase, de acordo com os esquemas PQT/PB/06 doses, PQT/MB/12 doses, PQT/MB 24 doses, ROM, ou ignorado. Resultado da avaliação auditiva: refere-se à conclusão do exame audiométrico, categorizada em perda auditiva do tipo sensorioneural, quando na audiometria em qualquer freqüência testada, os limiares auditivos por via aérea e por via óssea estão iguais e ambos abaixo de 20 dB NA ou quando houver alteração apenas na via aérea das freqüências de 6000 e 8000 Hz; perda auditiva condutiva, aquela em que os limiares nas freqüências testadas estão normais por via óssea e abaixos de 20 dB NA na via aérea, com diferença aéreo-óssea (gap) de pelo menos 15 dB e de no máximo 60 dB em uma freqüência; perda auditiva mista, quando os limiares obtidos estão abaixo de 20 dB NA por via aérea e por via óssea, existindo entre estas, uma diferença de pelo menos 15 dB, ou quando houver presença de componente condutivo e sensorioneural concomitantemente na mesma curva audiométrica. Quando não existir perda auditiva, os limiares estão dentro do limite da normalidade, ou seja, abaixo de 20 dB NA (LOPES FILHO, 1994). Lateralidade da alteração auditiva: refere-se ao lado das alterações auditivas, que constam na audiometria, podendo ser bilateral ou unilateral para orelha direita ou unilateral para orelha esquerda. Limiares auditivos por freqüências isoladas e agrupadas: é o registro dos limiares (o mínimo de audição que o sujeito ouve) no audiograma em freqüências de 250 Hz a 8000 Hz. Queixas auditivas referidas: são os sinais e sintomas relatados ou não pelo paciente no momento da entrevista, como dificuldade para ouvir, dor, zumbido, ardor, dificuldade para ouvir associada ao zumbido. Ruído no trabalho: quando o paciente refere que é possível conversar no ambiente de trabalho sem a interferência do ruído ambiente. Doenças gerais associadas: entendidas como aquelas enfermidades que o paciente tem ou teve e foram citadas na anamnese, como hipertensão arterial, diabetes, aids e tuberculose. 4.6. Coleta de dados 4.6.1. Dados secundários As informações epidemiológicas das pessoas que tiveram hanseníase foram obtidas na base de dados do SINAN em Recife-PE. Somente após a autorização da Diretoria de Epidemiologia do Município (Secretaria de Saúde de Recife), as variáveis do estudo foram disponibilizadas em um banco de dados do EPI-INFO 6.04. Assim, todos os pacientes investigados tiveram as informações retiradas do SINAN, para posterior análise (APÊNDICE C). O SINAN foi implantado em todo território nacional a partir das Secretarias Estaduais de Saúde em 1993, mas, seus bancos de dados foram melhores estruturados em 1995, sendo idealizado para racionalizar o processo de coleta e transferência de dados relacionados às doenças e agravos de notificação compulsória (CARVALHO, 1998). Portanto, seu objetivo principal é coletar dados sobre agravos de notificação compulsória no território nacional, podendo ser ativado a partir do município, gerando informações por distrito e bairro. É a principal fonte da Vigilância Epidemiológica para desencadear medidas de controle (FERREIRA, 2001). 4.6.2. Dados primários Com base nos dados do SINAN, os indivíduos sorteados aleatoriamente para compor a amostra receberam cartas-convite registradas (APÊNDICE D) lhes convocando para comparecerem à Clínica-Escola do Curso de Fonoaudiologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) em data e horário definido. Todos os pacientes foram agendados de acordo com uma ordem previamente estabelecida, no período de agosto a novembro de 2004. Portanto, fizeram parte dos dados primários, a entrevista inicial, a meatoscopia e a audiometria tonal. Previamente às avaliações auditivas propriamente ditas, os pacientes responderam às entrevistas realizadas pela própria pesquisadora, contendo perguntas fechadas e abertas relacionadas aos dados clínicos (APÊNDICE E). Posteriormente, foi feita meatoscopia (inspeção do meato acústico externo), a qual objetivou revelar a presença ou ausência de obstrução de cerúmen na orelha, condição esta que impossibilita a realização do exame. Por fim, realizou-se a audiometria tonal. A audiometria utilizada foi a de tom puro convencional, utilizado rotineiramente no diagnóstico de perdas auditivas. Foram testadas as freqüências de 1000, 2000, 3000, 4000, 6000, 8000, 500 e 250 Hz, para via aérea e as freqüências de 1000, 2000, 3000, 4000 e 500Hz, para a via óssea. O estímulo do tipo pulsátil foi apresentado do som para o silêncio (audibilidade para inaudibilidade). O audiômetro utilizado é da marca DAMPLEX, com dois canais e fones TDH39, com calibração segundo o padrão ANSI S 3.6, 1989. Realizou-se calibração biológica, ou seja, verificação do funcionamento geral dos equipamentos antes da realização dos exames. Os limiares auditivos obtidos até 20 dB NA foram considerados dentro da normalidade e a classificação do tipo de perda auditiva foi baseada em Lopes Filho (1994). 4.6.3. Plano de descrição, processamento e análise dos resultados Para a análise dos dados, utilizou-se o programa Epi-info 6.04, produzido pelo Centers for Disease Control (CDC). Nos cálculos da estatística descritiva foram necessários: apresentação tabular e gráfica (distribuição de freqüências), média aritmética e desvio padrão. Utilizaram-se os testes da estatística analítica para a análise das associações: risco relativo, cálculo do intervalo de confiança, teste do Qui-quadrado (através de tabelas de contingência 2x2 e a correção de Yates), teste de Fisher (quando indicado para substituir os teste do X2) e teste de t-Student para amostras independentes. Através das tabelas de dimensão 2x2, envolvendo as alterações auditivas, obteve-se a razão das proporções de perda e um intervalo de 95% para a proporção da perda populacional. O nível de significância considerado para a decisão dos testes foi de 5%. 4.7. Controle de bias Os possíveis bias a serem encontrados: de seleção, de memória, de classificação e de aferição foram minimizados no desenvolvimento do projeto (durante a coleta de dados). O controle do bias de seleção ocorreu à medida que os casos de hanseníase notificados em 2003 (provindos do banco de dados do SINAN), passaram por uma seleção aleatória, através de uma amostragem sistemática. Considera-se que o instrumento de coleta de dados é o elemento de maior controle no processo de obtenção de informações, quer seja no tocante ao conteúdo, à forma ou às respostas obtidas com a aplicação, o conteúdo deve ser coerente com o objeto estudado e a forma, o mais simples possível, evitando-se assim, o uso de palavras vagas, ambíguas e embaraçantes (ALMEIDA FILHO, 1989). Por isso, a entrevista elaborada possui perguntas claras e objetivas, aplicadas antes da avaliação auditiva, constituindo o momento em que serão tomadas todas as precauções para a obtenção fiel das respostas dos participantes. Portanto, o bias de memória foi suavizado também a partir dos cuidados durante a realização das entrevistas por parte da pesquisadora. Já na correspondência houve informação sobre o objeto do estudo para que os participantes soubessem do que trata a pesquisa. Isso facilitou para que, se possível, eles referissem informações relevantes sobre a audição, inclusive, outros exames, se houvesse. O bias de aferição foi evitado através da calibração biológica dos aparelhos usados para realização das audiometrias (coleta de dados), sendo feita previamente aos exames, a aferição em 20 alunos do Curso de Fonoaudiologia da UFPE que possuíam limiares auditivos dentro da normalidade. Em relação ao bias de classificação houve a preocupação com todas as classificações clínicas existentes: da perda auditiva, considerada a sugerida por Lopes Filho (1994); da hanseníase (forma clínica, avaliação do grau de incapacidade no diagnóstico e classificação operacional, referidas por meio dos manuais consultados (JOPLING, McDOUGALL, 1991; BRASIL, 2001; 2002a, 2002b; FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE, 2002). 4.8. Considerações Éticas Após a autorização do Comitê de Ética do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães (CPqAM) (ANEXO A), o projeto foi devidamente encaminhado para a Diretoria de Epidemiologia do Município do Recife, a fim de se obter o consentimento para o início da pesquisa, utilizando-se do banco de dados de hanseníase referente ao ano de 2003. Somente com a autorização da Secretaria de Saúde do Município, foram iniciados os procedimentos de coleta de dados, por meio de correspondências enviadas para os participantes do estudo, com todas as informações relevantes sobre o objeto da pesquisa. Aqueles que se dispuseram à realização dos exames assinarão um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - TCLE (APÊNDICE F), elaborado em duas vias (uma para ficar em posse do participante e outra da pesquisadora). Em seguida, foram feitas as avaliações auditivas (entrevista, meatoscopia e audiometria tonal). Cada participante avaliado recebeu o resultado de seu exame, bem como orientação e encaminhamento apropriados, diante das alterações auditivas encontradas. Para todos os participantes foram fornecidos vales-transporte (ida e volta) e comprovante de presença somente para aqueles que necessitaram, conforme comunicado na carta-convite. 5. RESULTADOS Das 71 pessoas que tiveram hanseníase, 37 pessoas (52%) pertenciam ao sexo feminino e 34 (48%) ao sexo masculino. A idade mínima foi de 12 anos e a máxima de 59 anos, sendo a média de 33,5 anos e desvio-padrão de 13,3 anos. A tabela 2 apresenta a distribuição dos pacientes, segundo a idade, verificando-se percentuais aproximados em cada faixa etária. Percebe-se que a maior dos casos estudados parte pertencia à faixa etária de 30 a 39 anos (24,0%). Tabela 2 – Distribuição dos casos de hanseníase, segundo a faixa etária – Recife, 2003 Faixa etária (anos) 12-19 20-29 30-39 40-49 50-59 Total N 14 15 17 12 13 71 % 19,7 21,1 24,0 16,9 18,3 100,0 Quanto à distribuição das pessoas que tiveram hanseníase, por unidade/centro de saúde, a maioria dos participantes (39,5%) é ou foi acompanhada pelo Centro de Saúde Lessa de Andrade (localizado no distrito sanitário IV) confirmando sua posição como unidade referência no atendimento da hanseníase e a segunda posição foi para o Centro de Saúde Agamenon Magalhães (localizado no distrito sanitário V) (TABELA 3). Do ponto de vista da distribuição das residências das pessoas investigadas segundo o distrito sanitário, observa-se que a maior parte das pessoas da amostra moravam no distrito sanitário II (24,0%), seguido pelo distrito sanitário IV (21,1%) e o que apresentou o menor percentual de pessoas foi o distrito I (7,0%). Tabela 3 – Distribuição dos casos de hanseníase, segundo unidade/centro de saúde – Recife-PE, 2003 Unidade/centro de saúde Centro de Saúde Lessa de Andrade¹ Centro de Saúde Agamenon Magalhães² Centro Integrado de Saúde Amauri de Medeiros³ Centro de Saúde Clementino Fraga Unidade Mista 53-Policlínica Arnaldo Marques PSF Brasilit PSF Guabiraba Unidade mista 40-Posto de Dois Unidos Unidade Mista 36-Posto do Córrego do Deodoro PSF Aderbal Jurema PSF Barreiras PSF Alto do Curió PSF Córrego da Bica PSF Alto do Céu Junta Médica da Prefeitura de Recife Hospital das Clínicas Total 1- Distrito sanitário IV 2 - Distrito sanitário V 3 - Distrito Sanitário II N 28 14 9 3 3 3 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 71 % 39,5 19,7 12,8 4,2 4,2 4,2 2,8 1,4 1,4 1,4 1,4 1,4 1,4 1,4 1,4 1,4 100,0 Quanto à forma clínica da hanseníase, verifica-se que o maior percentual, de 33,8% ocorreu na forma HT, seguido por 31,0% da forma HV. Em relação à avaliação do grau de incapacidade no diagnóstico, destacam-se o percentual de pessoas avaliadas no grau 0 (62%), além de 14,1% dos casos não avaliados ou ignorados no preenchimento da ficha de notificação. A classificação operacional evidenciou que 50,7% das pessoas apresentaram classificação multibacilar e 49,3% classificação paucibacilar. No exame baciloscópico, 60,6% das pessoas com hanseníase apresentaram resultado negativo e para o esquema terapêutico inicial 53,6% fez uso do PQT/MB (38,1% usaram o PQT/MB 12 doses e 15,5% usaram o PQT/MB 24 doses) (TABELA 4). Tabela 4 – Distribuição dos casos de hanseníase, segundo a forma clínica, a avaliação do grau de incapacidade no diagnóstico, classificação operacional, baciloscopia e esquema terapêutico inicial – Recife, 2003 Variáveis Forma clínica Tuberculóide (HT) Virchowiana (HV) Dimorfa (HD) Indeterminada (HI) Não classificada Total Avaliação do grau de incapacidade no diagnóstico Grau 0 Grau I Grau II Grau III Não avaliado Total Classificação operacional Multibacilar Paucibacilar Total Baciloscopia Positivo Negativo Não realizado Ignorado Total Esquema terapêutico inicial PQT/PB/06 doses PQT/MB/12 doses PQT/MB/24 doses ROM Ignorado Total N % 24 22 10 09 06 71 33,8 31,0 14,1 12,7 8,4 100,0 44 13 03 01 10 71 62,0 18,3 4,2 1,4 14,1 100,0 36 35 71 50,7 49,3 100,0 43 20 07 01 71 60,6 28,2 9,8 1,4 100,0 29 27 11 02 02 71 40,8 38,1 15,5 2,8 2,8 100,0 A distribuição das 71 pessoas que tiveram hanseníase em 2003 na cidade de RecifePE, submetidas à avaliação auditiva, mostra que 38 (54%) apresentaram alteração de audição, como ilustra o gráfico 1. Sem alterações auditivas 46% (N = 33) Com alterações auditivas 54% (N = 38) GRÁFICO 1 – Distribuição dos casos de hanseníase, segundo as alterações auditivas – Recife, 2003 Apenas a freqüência de 1000Hz apresentou diferença estatística significante para a orelha direita, predominando o resultado biilateral nas audiometrias (TABELA 5). Tabela 5 – Audiometrias dos casos de hanseníase, por freqüências, de acordo com a orelha testada - Recife, 2003 Freqüências 250 Estatísticas Orelha Direita Esquerda 20,7 19,7 5,4 5,9 26,2 30,2 Média Desvio-padrão Coeficiente de variação³ Média 20,7 500 Desvio-padrão 6,1 29,8 Coeficiente de variação 1000 Média 20,2 Desvio-padrão 7,1 35,1 Coeficiente de variação 2000 Média 18,9 Desvio-padrão 7,8 Coeficiente de 41,1 variação 3000 Média 18,2 Desvio-padrão 9,7 Coeficiente de 53,0 variação 4000 Média 19,3 Desvio-padrão 8,7 Coeficiente de 44,9 variação 6000 Média 20,3 Desvio-padrão 11,1 54,9 Coeficiente de variação 8000 Média 17,1 Desvio-padrão 10,7 Coeficiente de 62,8 variação * Diferença significativa em nível de 5% 1 – Teste de t-Student para amostras independentes 2 – Medidas em dB 3 – Medidas em percentual (%) Valor de P P¹ = 0,270 19,4 6,0 31,1 P¹=0,193 17,9 6,5 36,5 P¹=0,045* 17,2 7,5 43,8 P¹=0,209 18,1 8,8 48,8 P¹=0,928 18,1 10,1 55,5 P¹=0,450 19,1 11,3 59,1 P¹=0,526 17,5 11,9 67,8 P¹=0,825 O resultado audiológico mais encontrado foi o sensorioneural (50,7%), sendo a lateralidade bilateral a mais evidente (81,6%). Em relação aos itens investigados na entrevista, houve 56,3% que negaram a existência de queixas auditivas; 83,1% que afirmaram não trabalhar em ambiente ruidoso e 81,7% que não referiram a presença de doenças gerais associadas (TABELA 6). Tabela 6 – Distribuição dos casos de hanseníase, segundo resultado da avaliação auditiva, queixas auditivas referidas, ruído ocupacional, doenças gerais associadas – Recife, 2003 Variáveis Resultado da avaliação auditiva Perda sensorioneural Audição normal Perda mista Total Lateralidade da alteração auditiva Bilateral Unilateral para orelha direita Unilateral para orelha esquerda Total Presença de queixas auditivas Não Sim Total Queixas referidas Dificuldade para ouvir Dor Ardor Dificuldade para ouvir e prurido Zumbido Total Ruído ocupacional Não Sim Total Presença de doenças gerais Não Sim Total Doenças gerais associadas Hipertensão arterial Diabetes N % 36 33 02 71 50,7 46,4 2,8 100 31 04 03 38 81,6 10,5 7,9 100,0 40 31 71 56,3 43,7 100 14 05 05 04 03 31 45,2 16,1 16,1 12,9 9,7 100,0 59 12 71 83,1 16,9 100,0 58 13 71 81,7 18,3 100,0 04 04 30,8 30,8 Tuberculose Aids Total 03 01 13 23,0 15,4 100,0 O gráfico 2 ilustra as médias das intensidades (em dB) por freqüência (em Hz), segundo as orelhas (direita e esquerda) de todos os casos de hanseníase com perda auditiva. 250Hz 500Hz Freqüências (Hz) 1000Hz 2000Hz 3000Hz 4000Hz 6000Hz 8000Hz Médias das audiometrias (dB) 0 5 10 15 20 25 30 Esquerdo Direito GRÁFICO 2 – Distribuição das médias das audiometrias, por freqüências agrupadas e por orelha dos casos de hanseníase com perda auditiva – Recife, 2003 A tabela 7 mostra 32,4% pessoas do sexo feminino e 21,1% do sexo masculino com alteração auditiva (P>0,05). Quanto à presença de alterações auditivas segundo a faixa etária, observa-se o percentual de 70,6% para a faixa etária entre 30 e 39 anos, (média de 36,92 e desvio-padrão de 11,21). O maior percentual sem alteração auditiva (92,9%) foi para a faixa etária entre 12 e 19 anos, média de 29,55 e desviopadrão de 14,48. Tabela 7 – Alterações auditivas nos casos de hanseníase, segundo o sexo e a faixa etária (anos) – Recife, 2003 Variáveis Sim Alterações auditivas Não N % Total N % N Sexo1 Feminino 23 32,4 14 19,7 37 Masculino 15 21,1 19 26,8 34 Total 38 53,5 33 46,5 71 Faixa-etária (anos)2 12-19* 01 7,1 13 92,9 14 20-29* 10 66,7 05 33,3 15 30-39 12 70,6 05 29,4 17 40-49 07 58,3 05 41,7 12 50-59 08 61,5 05 38,5 13 Total 38 53,5 33 46,5 71 1 – Teste do Qui-quadrado: P = 0,198/RP = 1,41; IC = 0,8 a 2,22 2 – *Teste do Qui-quadrado: P = 0,004/RP = 0,11; IC = 0,02 a 0,73 % 52,1 47,9 100 19,7 21,1 24,0 16,9 18,3 100 A perda auditiva sensorioneural foi a mais encontrada nas audiometrias na faixa etária entre 30 e 39 anos (70,6%) (P< 0,05) (TABELA 8). Tabela 8 – Resultados da avaliação auditiva dos casos de hanseníase, segundo a faixa etária – Recife, 2003 Faixa etária (anos) Resultados da avaliação auditiva Sensorioneural* Mista Audição normal* N % N % N % 12-19* 01 7,1 13 92,9 20-29 * 10 66,7 05 33,3 30-39 12 70,6 05 29,4 40-49 06 50,0 01 8,3 05 41,7 50-59 07 53,8 01 7,7 05 38,5 Total 36 50,7 02 2,8 33 46,5 * Teste do Qui-quadrado: P = 0,004/ RP = 0,11; IC = 0,02 a 0,73 TOTAL N % 14 15 17 12 13 71 19,7 21,1 24,0 16,9 18,3 100,0 As maiores casuísticas de alteração auditiva ocorreram para a forma clínica HT (66,7%; P>0,05); para o grau I de incapacidade no diagnóstico (69,2%; P>0,05); para a classificação operacional do tipo MB (66,7%; P<0,05); para a baciloscopia negativa (55,9%; P>0,05) e para o esquema terapêutico inicial (PQT/MB;P>0,05) (TABELA 10). Tabela 9 – Alterações auditivas nos casos de hanseníase, segundo a forma clínica, a avaliação do grau de incapacidade no diagnóstico, a classificação operacional, a baciloscopia e o esquema terapêutico inicial– Recife, 2003 Variáveis Sim N % Alterações auditivas Não N % Total N % 1 Forma clínica Tuberculóide (HT) * Dimorfa (HD)* Indeterminada (HI) Virchowiana (HV) Não classificada Total Grau de incapacidade no diagnóstico2 Grau 0* Grau I * Grau II Grau III Não avaliado Total Classificação operacional3 MB PB Total Baciloscopia4 Negativo* Positivo* Não realizado Ignorado 16 66,7 08 33,3 24 33,8 05 04 50,0 44,4 05 05 50,0 55,6 10 09 14,1 12,7 09 40,9 13 59,1 22 31,0 04 38 66,7 53,5 02 33 33,3 46,5 06 71 8,4 100,0 22 09 01 06 38 50 69,2 33,3 60,0 53,5 22 04 02 01 04 33 50 30,7 66,7 100 40,0 46,5 44 13 03 01 10 71 62,0 18,3 4,2 1,4 14,1 100,0 24 14 38 66,7 40,0 53,5 12 21 33 33,3 60,0 46,5 36 35 71 50,7 49,3 100,0 24 09 03 01 55,8 45,0 42,9 100,0 19 11 04 - 44,2 55,0 57,1 - 43 20 07 01 60,6 28,1 9,9 1,4 Total 38 53,5 33 46,5 71 Esquema terapêutico inicial5 PQT/PB/06 12 41,4 17 58,6 29 doses * PQT/MB/12 18 66,7 09 33,3 27 doses * PQT/MB/24 06 54,5 05 45,5 11 doses * ROM 01 50,0 01 50,0 02 Não informado 01 50,0 01 50,0 02 Total 38 53,5 33 46,5 71 1 – *Teste do Qui-quadrado: P = 0,6/ RP = 1,33; IC = 0,67 a 2,64 2 – *Teste do Qui-quadrado: P = 0,36/ RP = 0,72; IC = 0,45 a 1,15 3 – Teste do Qui-quadrado: P = 0,043/ RP = 1,67; IC = 1,04 a 2,66 4 – *Teste do Qui-quadrado: P= 0,6/RP = 1,24; IC = 0,71 a 2,16 5 – Teste do Qui-quadrado: P = 0,16 100,0 40,9 38,0 15,5 2,8 2,8 100,0 A seguir, observa-se que para os 31 casos que referiram queixas auditivas na entrevista, 71,0% apresentaram alteração auditiva (P<0,05). Observa-se que 45,2% queixaram-se de dificuldade para ouvir e destes, 78,6% tiveram perda auditiva. Todos os casos com ardor e zumbido tiveram alterações auditivas, comprovadas pelo exame audiométrico. Quanto à presença de ruído ocupacional, dentre as 12 pessoas que alegaram trabalhar em ambientes com ruído, houve 75% com perda auditiva (P>0,05). Percebe-se que as alterações auditivas foram 38% mais elevadas nos casos de presença de doenças gerais (84,6%; P>0,05). Em relação às principais doenças, percebe-se que dos 14 (18,3%) pacientes que referiram possuir doenças, a hipertensão arterial esteve presente em 30,8% dos pacientes, sendo que 75% destes, tiveram alteração auditiva. Não foram realizados testes estatísticos em virtude do pequeno número de casos para cada doença, que pudessem justificar a associação entre tais variáveis. Tabela 10 – Alterações auditivas nos casos de hanseníase, segundo presença de queixas auditivas, queixas referidas, ruído no trabalho, presença de doenças gerais e doenças gerais associadas– Recife, 2003 Variáveis Alterações auditivas Não N % Sim N % Presença de queixas auditivas1 Não 16 40,0 24 60,0 Sim 22 71,0 09 29 Total 38 53,5 33 46,5 Queixas referidas2 Dificuldade para 11 78,6 03 21,4 ouvir* Dor* 02 40,0 03 60,0 Ardor 05 100,0 Dificuldade para 02 50,0 02 50,0 ouvir e prurido Zumbido 03 100,0 Total 22 74,2 08 25,8 Ruído no trabalho3 Não 09 75,0 03 25,0 Sim 29 49,1 30 50,9 Total 38 53,5 33 46,5 Presença de doenças gerais4 Não 27 46,6 31 53,4 Sim 11 84,6 02 15,413 Total 38 53,5 33 46,5 Doenças gerais associadas5 Hipertensão 03 75,0 01 25,0 arterial* Diabetes* 04 100,0 Tuberculose 02 66,7 01 33,3 Aids 02 100,0 Total 11 84,6 02 15,4 1 – Teste do Qui-quadrado: P = 0,018/RP = 1,77;IC = 1,14 a 2,76 2 – *Teste do Qui-quadrado: P = 0,3/ RP = 1,96; IC = 0,65 a 5,95 3 – Teste do Qui-quadrado: P = 0,18/RP = 0,66; IC = 0,43 a 0,99 4 – Teste do Qui-quadrado: P = 0,03/RP = 0,55; IC = 0,38 a 0,79 5 – *Teste do Qui-quadrado: P = 1,0/RP = 0,75; IC = 0,43 a 1,32 Total N % 40 31 71 56,3 43,7 100,0 14 45,2 05 05 04 16,1 16,1 12,9 03 31 9,7 100,0 12 59 71 16,9 83,1 100,0 58 43 71 81,7 18,3 100,0 04 30,8 04 03 01 13 30,8 23,0 15,4 100,0 6. DISCUSSÃO A hanseníase é uma doença antiga que carrega em sua história as marcas do desprezo, do preconceito e a imagem de um mal incurável. Estima-se que no período compreendido entre 2000 e 2005 existam mais de dois milhões de casos da doença em todo o mundo (BRASIL, 2005). A partir da dapsona e seus derivados, a cura tornou-se possível e atualmente, seu tratamento engloba uma associação de medicamentos, a poliquimioterapia. Para a saúde pública a hanseníase é um problema com alguns desafios a serem vencidos. As seqüelas podem ser minimizadas, quando realizados o diagnóstico precoce e o tratamento adequado. Mas, ainda hoje, há uma forte associação entre hanseníase e pobreza, como a falta de higiene e as condições mínimas de vida. Além disso, várias pessoas já curadas, permanecem seqüeladas (BRASIL, 2001). As investigações revelam que a doença continua a incidir em maior proporção entre homens, embora nos últimos anos, a diferença entre os sexos tenha diminuído, acometendo mulheres em plena capacidade de reprodução (OLIVEIRA; GOMES, 2000). Embora a maior parte dos estudos revelem que a influência do sexo é variável para cada região ou país, as mulheres parecem ter uma resposta imune mais efetiva contra a infecção do que os homens, como revelam Ura e Opromolla (2000). No entanto, observa-se que no presente estudo, do total de 71 diagnosticados com hanseníase, 52% pertencia ao sexo feminino. Pode-se explicar o maior número da amostra pesquisada pertencer ao sexo feminino, pelo fato de haver maior preocupação das mulheres com a saúde, assim, ao receberem as cartas-convite, elas tendem a comparecer para a realização das avaliações auditivas. Como afirma Gregório (1999), é da mulher a tarefa de conduzir ao serviço de saúde os seus familiares, estando, portanto, mais informada e disponível ao diagnóstico da própria doença e de suas conseqüências. Os homens, geralmente, são mais temerosos em relação aos seus problemas de saúde. No presente trabalho, do total de 38 pessoas investigadas com alteração auditiva, 23 eram do sexo feminino. No entanto, concordando com Nogueira (2000) não existe influência dos sexos na determinação da hanseníase. Quanto à faixa etária, o Brasil possui menor quantidade de casos em crianças do que em adultos em comparação a países como Índia e Havaí. Mas, a influência da idade, assim como ocorre com o sexo, é também variável (URA; OPROMOLLA, 2000). A faixa etária de 12 a 19 anos foi a que possuía menos casos de alteração auditiva (7,1%), enquanto a de 30 a 39 anos (24,0%) foi a que apresentou maior comprometimento na audição (70,6%), indo de acordo com os achados de Koyuncu et al. (1994), que também evidenciou maior números de casos de alteração auditiva na faixa etária acima de 30 anos. Considerando os percentuais encontrados, houve 92,9% de pessoas entre 12 e 19 anos que não apresentaram alteração de audição, em contrapartida, existiu cerca de 70,6% e 66,7% de pessoas entre 30 e 39 anos e entre 20 e 29 anos, respectivamente, que apresentaram perda auditiva, o que comprova a associação estatisticamente significante entre a faixa etária e as alterações auditivas nos casos investigados de hanseníase, ou seja, com o avançar da idade, a partir dos 20 anos até os 39 anos existiu maior possibilidade de encontrar-se alteração auditiva entre os casos de hanseníase avaliados. Mesmo tendo sido eliminado à influência da presbiacusia, excluindo-se aqueles pacientes com mais de 59 anos, a partir dos 30 anos existe uma concomitância de doenças metabólicas e cardiovasculares que podem ocasionar alterações auditivas, dependendo da susceptibilidade individual, da gravidade da doença, do diagnóstico precoce, bem como tratamento adequado (MAUDONNET; FRANCIS; MAUDONNET, 1999). Os estudos realizados por Mann et al. (1987) e Singh et al. (1984) também evidenciaram maior número de casos de alteração auditiva em pacientes com hanseníase na faixa etária acima de 30 anos. Em relação ao resultado da avaliação auditiva de acordo com a faixa etária, o tipo de alteração auditiva mais freqüente na faixa etária de 30 a 39 anos foi o sensorioneural (61,9%), o qual pode ser dividida em surdez de percepção (na cóclea) e surdez retrococlear (no nervo auditivo e vias auditivas centrais), embora para tal topodiagnóstico seja preciso a realização dos testes audiométricos supralimiares, da audiometria de tronco cerebral, além de estudos radiológicos (MINITE; BENTO; BUTUGAN, 2000). A distribuição da amostra pesquisada de acordo com os distritos sanitários, seguindo o local da residência, mostra que o distrito sanitário II foi o que apresentou maior número de casos de hanseníase (24,0%), seguido pelo distrito sanitário IV (21,1%), enquanto o distrito I foi o que apresentou menos pessoas com hanseníase (7,0%). Estudos da Diretoria de Epidemiologia e Vigilância à Saúde (RECIFE, 2004) em relação ao ano de 2003, mostram uma inversão na primeira posição, possuindo o distrito sanitário IV, 22,6% dos casos e o distrito II, 22,3%. Provavelmente tal inversão na primeira posição deve-se ao fato de que nesses estudos, foi considerado o distrito sanitário do paciente pelo local de realização do tratamento e não pela sua residência. Dessa forma, localiza-se no distrito sanitário IV o Centro de Saúde Lessa de Andrade, uma unidade referencial para o atendimento da hanseníase no município. A forma clínica da doença predominante foi a HT (33,8%), seguida pela HV (31%); tais resultados estão próximos aos de Gregório (1999), onde a forma HT foi a mais comum num período estudado de 10 anos. Sabe-se que quanto mais alto a proporção de casos HT em relação aos demais, maior a endemia, apontando para o acometimento de indivíduos imunologicamente competentes. Enquanto o aumento dos coeficientes da HI significa uma melhora nas ações de busca e controle da doença, sendo um indicador bastante utilizado para medir a precocidade da detecção de casos novos com menores riscos de seqüela (PEREIRA, 1995), o que não foi evidenciado no presente estudo, pois houve apenas 12,7% da forma HI em comparação com as outras formas. O maior número de casos (66,7%) com perda auditiva corresponderam a HT, provavelmente por conta dessa forma clínica ser a mais encontrada no estado, como afirma Gregório (1999). Sabe-se que a classificação do grau de incapacidade física do doente é feita através da avaliação neurológica, que deve ser realizada ao final do processo de diagnóstico da doença (BRASIL, 2001). Como foi mostrado em relação a esta avaliação, o maior percentual, de 62% foi para o grau 0, significando que mais da metade da amostra estudada não possuía incapacidade neural nos olhos, nas mãos ou nos pés. Esse resultado merece desataque porque, na verdade, muitos profissionais no momento do diagnóstico, freqüentemente avaliam seus pacientes com grau de incapacidade 0, sem, no entanto, realizar exame físico mais detalhado (NASCIMENTO, 2001). A classificação do grau de incapacidade seria um excelente indicador da precocidade do diagnóstico, se fosse realmente confiável, demonstrando que em Recife o programa de controle da hanseníase vem conseguindo detectar, em tempo, os casos da doença, antes de maiores complicações (como aumento do grau de incapacidade física). Sem dúvida, as incapacidades constituem o principal problema decorrente da hanseníase, por isso, a avaliação é fundamental também por identificar todos os fatores de risco envolvidos e, assim, acompanhar os pacientes com maiores riscos (PIMENTEL et al., 2003). Evidenciou-se que a classificação operacional mais encontrada na amostra estudada foi a MB. Essa classificação da doença baseia-se no número de lesões, podendo utilizar-se da baciloscopia, quando disponível; é indicada para o tratamento poliquimioterápico e é recomendada para as unidades básicas de saúde (BRASIL, 2001). As alterações auditivas foram mais freqüentes nos casos MB (P<0,05). Apesar dessa classificação englobar pacientes dimorfos e virchowianos e existir no presente trabalho um maior número de casos da forma clínica tuberculóide, é sabido que existe uma recomendação para diante de dúvidas na classificação pelo número de lesões de pele, que o paciente seja considerado como MB. Informação que deverá ser analisada diante do maior número de casos encontrados pertencerem ao tipo MB, refere-se ao fato de que as formas MB têm grande responsabilidade epidemiológica na transmissão da doença, enquanto as pessoas que têm contato intra domiciliar com pacientes PB estão 2 vezes mais propensas a contrair a doença do que os sem-contato, as pessoas em contato com os casos MB correm o risco de 4 a 10 vezes maior (QUEIROZ; PUNTEL 1997). O esquema terapêutico inicial para o tratamento da hanseníase evidenciou que mais da metade da amostra pesquisada foi tratada pelo esquema PQT/MB (53,6%), acordando com o resultado da classificação operacional MB (50,7%). Por serem portadores de uma maior quantidade de bacilos, esses casos recebem um número maior de medicamentos do que os PB e são tratados durante um período mais longo (BRASIL, 2001). Do total de 38 pessoas com alteração auditiva, 24 pessoas usaram o esquema PQT/MB e 12 o PQT/PB (P>0,05). É necessário comentar que esses resultados confirmam aqueles estudos realizados pelo Ministério da Saúde sobre os efeitos colaterais das drogas usadas no tratamento da doença, de que não há qualquer aspecto relacionado à presença de substâncias tóxicas para a orelha (ototoxidade). Inclusive, Jopling (1985) refere que todas as reações adversas e efeitos colaterais da PQT são conhecidos, não havendo nenhuma referência na literatura que indique presença de ototoxidade. Awasthi et al. (1990) estudaram um grupo de doentes que se submeteram ao tratamento no período de 1 ano e não houve evidências de que as drogas ocasionaram prejuízo à audição. A perda auditiva sensorioneural foi o resultado predominante das audiometrias (50,7%) de todos os pacientes investigados. Para Singh et al. (1984), a perda auditiva sensorioneural é a mais freqüente em pacientes com hanseníase, com queda maior para freqüências agudas, estando as outras também prejudicadas. Tais autores acreditam que a perda condutiva está presente quando associada às alterações rinológicas, as quais seriam as responsáveis pelos quadros de otites médias. No estudo realizado por Arini, Shehata e Zeid (1970), o maior percentual também foi para os casos de perda auditiva sensorioneural e o único caso de perda condutiva foi devido à otite média crônica supurativa. Para Sacheri (1963), as alterações condutivas são mais comuns na forma clínica HV e as sensorioneurais na forma HT. Quanto maiores os processos infecciosos na rinofaringe, mais intensas são as queixas como a diminuição auditiva e os zumbidos. Os exames realizados por este autor não demonstraram presença do M. leprae nas secreções da orelha média. Portanto, percebe-se que a literatura refere relação entre a HV e a presença de alteração auditiva condutiva. Sabe-se que essa forma clínica se caracteriza por infiltração difusa de lesões na face e pavilhões auriculares, constituindo, principalmente, nos estados reacionais, uma doença sistêmica com manifestações viscerais importantes, o que justifica a perda auditiva condutiva. Neste trabalho, 31% pertenciam à forma clínica HV, sendo que, 40,9% apresentou perda auditiva; os 2 únicos casos que tiveram perda auditiva mista pertenciam exatamente à forma HV, o que reforça ainda mais a relação entre alteração condutiva com a forma clínica HV. Sacheri (1963) refere que todo dano causado ao ouvido pela hanseníase decorre por causa dos processos infecciosos originados das vias aéreas superiores que se estendem para a orelha média por meio da tuba auditiva. Mas, até a última década, a maioria das pesquisas é unânime em afirmar que o envolvimento da hanseníase na audição é coclear (MANN et al., 1987). O resultado de lateralidade nas alterações auditivas aponta para 81,6% bilateral. Esse achado condiz com os estudos realizados por Awasthi et al. (1990) que encontraram 10 casos com perda auditiva sensorioneural bilateral, dentre 16 no total com alteração de audição. O prejuízo auditivo é atribuído por estes autores a própria doença. Sua conclusão equivale aos achados do presente estudo, verificando-se que os limiares auditivos se mantiveram próximos em todas as freqüências. Apesar de ter havido piores limiares auditivos para a orelha direita, percebe-se que houve uma variação pequena entre as médias de cada freqüência, comparando as duas orelhas. Quanto à presença de queixas auditivas na amostra pesquisada, percebe-se que 43,7% da amostra apresentaram queixas auditivas e destes, 71% tiveram perda auditiva (P<0,05). Considerando que existe óbvia relevância entre as queixas apresentadas pelo paciente e os resultados audiométricos, é imprescindível que se dê a devida importância para tais problemas, à medida que podem ser sugestivas de um comprometimento na audição. Nesse caso, os profissionais de saúde precisam encaminhar para os serviços de Otorrinolaringologia e Fonoaudiologia, todos aqueles pacientes com hanseníase que apresentarem quaisquer queixa relacionada à audição. A queixa de dor, assim como a de ardor referida cada uma por 16,1% dos pacientes, difere dos principais sintomas relatados por Arini, Shehata e Zeid (1970) e Mann et al. (1987), que encontraram a diminuição auditiva, o zumbido e a vertigem como principais sintomas correlacionados à hanseníase. Entretanto, é possível que infiltrados da doença localizem-se no lóbulo da orelha, aparecendo nos primeiros estados da doença ou posteriormente (SACHERI, 1963) e, provavelmente, estas lesões explicariam a presença da dor e do ardor que muitos doentes referem sentir. O diabetes, a hipertensão, a tuberculose e a aids são as doenças associadas identificadas. Dentre as patologias que podem se instalar e lesar a orelha interna ou as vias auditivas, Hungria (1995) relata que as perdas auditivas sempre se relacionam ao local afetado pela doença e na orelha interna, o diabetes mellitus inclui-se como uma das causas pós-natais mais freqüentes para a surdez, além de ser um fator de predisposição para a surdez súbita. Segundo Azevedo et al. (1985), dentre as alterações endócrinas mais comuns que se relacionam com as perdas auditivas estão o diabetes mellitus e a hipertensão. A tuberculose é uma doença bacteriana que atinge primordialmente os pulmões, mas pode propagar-se para outros órgãos secundariamente, como a orelha (PINHO; KOS, 2003). Ainda existe a possibilidade do efeito tóxico das drogas utilizadas no seu tratamento, as quais poderão trazer conseqüências desastrosas para a audição e para o sistema vestibular, como indaga Lima (2003). O percentual de pessoas que possuía doenças gerais associadas foi de 16,9%, destas, 84,6% apresentaram alteração auditiva (P<0,05). Entretanto, considerando que algumas afecções podem causar alterações auditivas, é necessário que outras pesquisas sejam desenvolvidas. O presente estudo aborda um tema novo relacionado à hanseníase no Brasil, a possibilidade de alteração auditiva. Sem dúvida, é um problema que o Sistema de Saúde terá que resolver, por meio de ações ofertadas em serviços especializados de Otorrinolaringologia/ Fonoaudiologia. Os achados apontam para a necessidade de mais investigações, tendo em vista que os resultados são “desafiadores”. Se faz parte do Programa de Controle da Hanseníase minimizar as seqüelas que a doença pode deixar no indivíduo, torna-se imprescindível realizar também um acompanhamento de todos os sintomas que os pacientes venham a queixar-se, inclusive os auditivos, porque essas pessoas, convivem com sérios problemas no seu cotidiano, sendo importante evitar mais uma dificuldade, no caso, a de ouvir. 7. COMENTÁRIOS FINAIS Percebe-se, pela descrição dos principais aspectos epidemiológicos e auditivos relacionados a um grupo de pessoas diagnosticadas com hanseníase, no ano de 2003 na cidade de Recife, que houve associação estatística entre alterações auditivas e as seguintes variáveis: faixa etária; faixa etária e tipo de perda, com predominância da perda auditiva do tipo sensorioneural para as idades mais avançadas; classificação operacional do tipo MB; queixas auditivas e doenças gerais associadas. A partir do percentual (54%) encontrado de perda auditiva, deve-se considerar que um problema auditivo poderá comprometer muitas atividades diárias como manter um diálogo, escutar TV ou programações em público, conversar em lugares com ruído ambiente, usar o telefone, etc. Tais dificuldades parecem simples quando descritas, mas são muito importantes na rotina de qualquer pessoa, acarretando em limitações que prejudicam, sem dúvida, sua qualidade de vida. Sugere-se como fundamental a existência de um monitoramento auditivo para a hanseníase. Isto implicaria na presença de um serviço especializado de Otorrinolaringologia e Fonoaudiologia nos serviços de referência para realização de avaliações auditivas nas pessoas diagnosticadas com hanseníase, justificado pelo alto percentual de perda auditiva encontrado na amostra investigada. Portanto, é preciso um olhar diferenciado para a realização de avaliações auditivas para os casos de hanseníase, principalmente àqueles compreendidos entre a faixa etária de 20 a 40 anos, pertencentes à classificação operacional MB, à forma clínica HT e que apresentam queixas relacionadas à audição, não esquecendo de que em todos os casos, deve haver preocupação com os aspectos auditivos. 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALBERT, P. W. Deficiência auditiva induzida por ruído. In: CAMPOS, C. A. H.; LOPES FILHO, O. Tratado de Otorrinolaringologia. São Paulo: Roca, 1994, p. 935-949. ALMEIDA FILHO, N. Desenvolvimento de instrumentos na pesquisa epidemiológica. In:______. Epidemiologia sem números: uma introdução crítica à ciência epidemiológica. Rio de Janeiro: Campus, 1989. p. 40-42. ALMEIDA FILHO, N.; ROUQUAYROL, M. Z. Elementos de metodologia epidemiológica. In:ROUQUAYROL, M. Z.; ALMEIDA FILHO, N. Epidemiologia e saúde. 6 ed. Rio de Janeiro: Medsi, 2003. p. 149-177. 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APÊNDICES APÊNDICE A: Tabela 12- DISTRIBUIÇÃO DOS CASOS NÃO PARTICIPANTES SEGUNDO AS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS EPIDEMIOLÓGICAS E AUDITIVAS – RECIFE, 2003 Variáveis Sexo Feminino Masculino Total Faixa etária 12-19 20-29 30-39 40-49 50-59 Total Centro/Unidade de saúde Centro de Saúde Lessa de Andrade Centro de Saúde Agamenon Magalhães Centro Integrado de Saúde Amauri de Medeiros Demais Forma clínica Tuberculóide (HT) Virchowiana (HV) Dimorfa (HD) Demais Total Avaliação do grau de incapacidade no diagnóstico Grau 0 Grau I Demais Total Classificação operacional Multibacilar Paucibacilar Total Baciloscopia Positivo Negativo Outros N % 42 35 77 54,5 45,5 100,0 16 19 22 10 10 77 20,8 24,7 28,5 13,0 13,0 100,0 32 16 10 41,5 20,8 13,0 19 24,7 28 20 11 18 77 36,3 26,0 14,3 23,4 100,0 49 11 17 77 63,6 14,3 22,1 100,0 41 36 77 53,2 46,8 100,0 45 22 10 58,4 28,6 13,0 Total Esquema terapêutico inicial PQT/MB PQT/PB Outros Total 77 100,0 51 22 04 77 66,2 28,6 5,2 100,0 APÊNDICE B: DISTRIBUIÇÃO DOS DISTRITOS SANITÁRIOS SEGUNDO OS BAIRROS EM RECIFE-PE Quadro 1 - DISTRIBUIÇÃO DOS DISTRITOS SANITÁRIOS SEGUNDO OS BAIRROS EM RECIFE-PE Distrito Sanitário Distrito Sanitário I Distrito Sanitário II Distrito Sanitário III Distrito Sanitário IV Distrito Sanitário V Distrito Sanitário VI Bairros Boa Vista, Cabanga, Coelhos Ilha Joana Bezerra, Ilha do Leite, Paissandu, Recife, Santo Amaro, Santo Antônio, São José e Soledade Arruda, Campina do Barreto, Campo Grande, Encruzilhada, Hipódromo, Peixinhos, Ponto de Parada, Rosarinho, Torreão, Água Fria, Alto Santa Terezinha, Bomba do Hemetério, Cajueiro, Fundão, Porto da Madeira, Beberibe, Dois unidos e Linha do Tiro Aflitos, Alto do Mandu, Apipucos, Derby, Dois Irmãos, Espinheiro, Graças, Jaqueira, Monteiro, Parnamirim, Poço, Santana, Sítio dos Pintos, Tamarineira, Alto José Bonifácio, Alto José do Pinho, Mangabeira, Morro da Conceição, Vasco da Gama, Brejo da Guabiraba, Brejo de Beberibe, Córrego do Jenipapo, Guabiraba, Macaxeira, Nova Descoberta, Passarinho, Pau Ferro, Casa Amarela e Casa Forte Cordeiro, Ilha do Retiro, Iputinga, Madalena, Prado, Torre e Zumbi, Engenho do meio, Torrões, Caxangá, Cidade Universitária e Várzea Afogados, Areias, Barro, Bongi, Caçote, Coqueiral, Curado, Estância, Jardim São Paulo, Jiquiá, Mangueira, Mustardinha, San Martin, Sancho, Tejipió e Totó Boa Viagem, Brasília Teimosa, Cohab, Ibura, Imbiribeira, Ipsep, Jordão e Pina APÊNDICE C – FICHA DE DADOS RETIRADOS DO SINAN No. de ordem da pesquisa ________ Unidade ou outra fonte notificadora _________________ Sexo: ( ) feminino ( ) maculino Idade: ( )12-19anos ( )20-29 anos ( ) 30-39 anos ( )40-49 anos ( )50- 59 anos Forma clínica: ( ) hanseníase indeterminada/HI ( ) hanseníase tuberculóide/HT ( ) hanseíase virchowiana/HV ( ) hanseníase dimorfa/HD ( ) não classificada Avaliação do grau de incapacidade no diagnóstico: ( ) grau 0 (1) ( )grau II ( )grau III ( )não avaliado Classificação operacional: ( ( ) não avaliado Baciloscopia: ( ( ) positiva ) PQT/MB/24 doses ( ) ignorado ( ) multibacilar ( ) ignorado ( ) não realizada ( ) ignorada ) ignorado Esquema terapêutico inicial: ( ) paucibacilar ( )grau I (2) ( ( ) negativa ) PQT/PB/6doses (1) ( ) ROM ( )PQT/MB/12 doses (2) ( ) ignorado FIOCRUZ Centro de Pesquisas AGGEU MAGALHÃES Ministério da Saúde APÊNDICE D – CARTA-CONVITE AO PARTICIPANTE Prezado (a) senhor(a): Através do Programa Nacional de Controle de Hanseníase do Ministério da Saúde, tivemos conhecimento que o (a) senhor (a) vem sendo ou foi acompanhado para o tratamento desta doença. Considerando que a hanseníase poderá estar associada a alguns problemas de saúde, vimos por meio desta, solicitar seu comparecimento à Clínica de Audiologia do Curso de Fonoaudiologia da UFPE, para realizarmos uma investigação na sua audição (exames no ouvido), gratuitamente. A clínica de Fonoaudiologia está situada na Av. Prof. Artur de Sá (atrás do Hospital das Clínicas), s/n, Bairro: Cidade Universitária, Recife-PE. O seu atendimento foi agendado para o dia ____de __________ de 2004 entre ______e ______. Caso haja impossibilidade nesta data e/ou horário, você poderá marcar uma outra, o telefone para contato ou esclarecimento de dúvidas é: 2126-8929. Procurar a Fonoaudióloga Rita Rodrigues. Se você possuir informações importantes e/ou exames relacionados a sua audição, favor trazer na data marcada. Caso compareça em horário de trabalho, serão fornecidos declaração de comprovação da sua presença e vale-transporte tipo A ida e volta. _______________________________________ Assinatura do responsável Recife, ____________________________ APÊNDICE E - ENTREVISTA I – Você tem algum problema atual no ouvido? ouvir ( ) dor dificuldade para ( ) zumbido ouvir e ( ( ) ardor ) não ( ) dificuldade para ( ) prurido (coceira) zumbido ( ( ) ) outros ________________________________________________ II – Há quanto tempo? mais de 4a ( ( ) de 1a a 2 a ( ) de 2a a 3a ( ) de 3a a 4a ( ) ) não se aplica III – Você se enquadra em uma dessa situações? ( ) não ( ) já fez cirurgia no ouvido ( ) tem uma doença no ouvido ( ) possui hábitos prejudiciais como uso de walkman, pratica vôo livre, mergulho, tiro ao alvo, vai a boates e shows e boates com freqüência. Qual destes? ____________________ IV – Onde você trabalha tem ruído (barulho)? ( ) sim ( ) não V – Qual a sua ocupação? __________________________ VI – Você possui alguma dessas doenças abaixo? ( ( ) diabetes ( ) AIDS ( ) Outras__________________ ( ) tuberculose ) não ( ) hipertensão FIOCRUZ Centro de Pesquisas AGGEU MAGALHÃES Ministério da Saúde APÊNDICE F - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE) Eu,________________________________________________,RG____________, Participarei voluntariamente da pesquisa intitulada “Hanseníase: características epidemiológicas e auditivas”, desenvolvida pela mestranda Rita de Cássia Rodrigues, do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães/NESC/Fundação Oswaldo Cruz. Segundo me foi informado este trabalho tem o propósito de investigar a hanseníase e a audição de pessoas que tiveram a doença em 2003 e caso apresente qualquer alteração auditiva, serei orientado e devidamente encaminhado para acompanhamento adequado na Clínica de Audiologia do Curso de Fonoaudiologia da UFPE. Voluntariamente, participarei da entrevista e da avaliação auditiva, exame que me foi dito ser de rápida execução, simples e indolor, sem nenhum ônus da minha parte. Autorizo a pesquisadora a conservar sob sua guarda, os resultados dos exames, com objetivo de estudos futuros. Autorizo ainda a utilização das informações sobre meu caso em congressos, reuniões e publicações científicas, desde que seja garantido o sigilo na minha identificação. Este termo de consentimento me foi apresentado e entendi perfeitamente seu conteúdo. Estou ciente de que poderei recusar ou retirar meu consentimento, em qualquer momento da investigação, sem qualquer penalidade. Recife, _____________________________________ ___________________________ Participante _______________________________ Pesquisadora (Rita de Cássia Rodrigues) 10. ANEXO ANEXO A – APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA