MONTAGEM DE UM BIODIGESTOR ANAERÓBIO DE BAIXO CUSTO PARA PRODUÇÃO DE BIOGÁS Flávia Rosa de Andrade1, Polyana Brustolin, Haroldo Gregório de Oliveira 2 1. Bolsista do Edital 05/2015 IFC Campus Luzerna do Curso de Ensino Médio Integrado em Segurança do Trabalho, 2. Orientador do IFC Campus Luzerna, docente EBTT, Doutor em Química Introdução A busca por fontes alternativas de energia tem sido uma preocupação constante, devido ao aumento do consumo e da dependência mundial das fontes de energia “nãorenováveis” (Centro de Gestão e Estudos Estratégicos, 2010). No Brasil este cenário não é muito diferente. Para acrescentar, a maior fonte de energia em nosso país, a hidroelétrica, sofre variações de produção, principalmente da região Sudeste devido à estiagem prolongada (Rosa, 2009). Este cenário econômico, social e científico atual apresenta grande oportunidade para avaliação de outras fontes de energia, como por exemplo, o biogás (Ereno, 2009). Santa Catarina é o estado com maior criação de suínos no Brasil e por isso bastante promissor na produção de bioenergia através da utilização de dejetos destes animais. O processo de biodigestão envolve diversas etapas como a hidrólise seguida da fermentação ácida do material orgânico e finalmente a formação de gases como CH4, H2, H2S, CO (Souza e Martins, 2011). O processo de digestão anaeróbia é promovido por colônia de bactérias que tentam obter uma fermentação auto-regulada através de assimilação, transformação e decomposição de matéria orgânica residual em biogás. As bactérias promotoras da degradação anaeróbia são classificadas em 4 grupos, as das bactérias fermentativas (Bacteroides, Clostridium, Butyrivibrio, Eubacterium, Bifidobacterium e Lactobacillus), bactérias acetogênicas produtoras de hidrogênio, bactérias homoacetogênicas (produtoras de etanol) que incluem Acetobacterium woodii e Clostridium aceticum, e as bactérias metanogênicas (produtoras de metano), especificamente a Clostridia (Olvera e Lopez-Lopez, 2012). De modo geral, o processo de digestão ocorre em 3 etapas: a) a hidrólise do material orgânico a polissacarídeos, aminoácidos e glicerol; b) fermentação ácida obtendo-se ácidos de baixo peso molecular; c) geração de gases CO2, CH4, H2, H2S, CO, N2, O2 e H2O. A produção de gás depende principalmente da temperatura e do pH do meio reacional. As faixas de temperatura de crescimento biológico são classificadas em psicrofílicas (< 20ºC), mesofílica (20-40ºC) e termofílicas (> 45ºC). A velocidade de reações biológicas é maior em elevadas temperaturas, mas um máximo de produção de biogás com elevado teor de CH4 deve ser produzido na região mesofílica. O pH ótimo para a biodigestão anaeróbia esta entre 6,8 e 7,5. Meios ácidos reduzem a atividade enzimática e meios alcalinos favorecem a produção de anidro sulfuroso e gás hidrogênio. O poder calorífico, ou seja, a quantidade de energia liberada na combustão do biogás está diretamente relacionada ao teor de CH4 presente na mistura gasosa. Por outro lado, gases como o H2S, produzido em menor quantidade são indesejáveis pois apresentam capacidade de corrosão no ambiente onde está armazenado (Cremonez et al., 2012). O CH4 produzido pode ser aproveitado, através de tecnologias apropriadas, em microturbinas a gás e em motores de combustão interna de ciclo Otto. Existe a possibilidade de utilização do biogás em motores de ciclo Diesel mediante a ottolização ou a conversão de biocombustível diesel/gás (Pereira, 2005). Basicamente, o assunto envolve questões sobre acidez, poder calorífico dos diferentes combustíveis e influência da temperatura nas velocidades de reação química. Desta forma, este projeto tem a pretensão de promover o desenvolvimento de uma investigação sobre o tema “biogás como fonte alternativa de energia” realizada por estudantes do ensino médio. Material e métodos Os biodigestores foram construídos com capacidades distintas. O primeiro biodigestor construído é constituído por uma garrafa de plástico de 5 L contendo como matéria orgânica cerca de 300 g de cascas de banana. O segundo biodigestor anaeróbico foi construído utilizando quatro garrafas PET onde foi adicionado cerca de 1100 g de matéria orgânica (esterco bovino). O biodigestor de 5 L de volume e o conjunto de biodigestores foram conectados por mangueiras de plástico a um reservatório (garrafa PET de 2,5 L contendo CaO em meio aquoso) e as conexões seladas com silicone para evitar a perda de biogás. Inicialmente, o processo de biodigestão foi realizado a temperatura ambiente. O primeiro biodigestor não apresentou eficiência na geração de biogás. Visando aumentar a eficiência na geração de biogás, os biodigestores foram acondicionados em banho termostatizado (CIENTEC, Banho Maria CT-226) a 37ºC. Resultados e discussão Devido à baixa eficiência na geração de biogás a partir de cascas de banana foram realizadas adaptações à metodologia inicialmente prevista o que permitiu uma reavaliação do processo de bioconversão de dejetos em gases que podem ser utilizados como fontes energéticas. Como previsto no projeto, foi utilizado esterco animal, com a ressalva que este foi de origem bovina. O processo fermentativo com controle de temperatura promoveu uma maior eficiência na produção de biogás. O controle da temperatura do biodigestor permitiu, após cerca de duas semanas com o biodigestor acondicionado, a formação de bolhas de biogás. Após este período, foi observada a formação de biogás a uma velocidade de aproximadamente uma bolha a cada 5 minutos. Com o objetivo de aumentar a quantidade relativa de CH 4, o CO2 do biogás gerado foi borbulhado em solução aquosa de CaO resultando na formação de um precipitado insolúvel de CaCO3. O biogás gerado após este tratamento está sendo armazenado no reservatório para futuras aplicações. Conclusão A construção de um biodigestor “caseiro” com materiais de baixo custo (garrafa PET) e mangueiras de borracha, cujas conexões foram vedadas com silicone, foi bem sucedida. O sistema de geração de biogás apresentou baixa eficiência quando foi utilizado casca de banana no biodigestor. Mudanças realizadas no procedimento como a utilização de esterco bovino e controle da temperatura permitiu que fosse formada uma maior quantidade de gases no reservatório. Pretende-se utilizar um sensor de gás metano para avaliar a quantidade deste biogás gerado durante o processo de fermentação anaeróbica. Os alunos do ensino médio integrado tiveram a oportunidade de construir um sistema de geração de energia de baixo custo possibilitando um primeiro contato com atividades de pesquisa durante esta etapa do processo de ensino/aprendizagem. Referências bibliográficas 1. Química verde no Brasil: 2010-2030 - Ed. rev. e atual. - Brasília, DF: Centro de Gestão e Estudos Estratégicos, 2010. 2. Rosa, P. L. Perspectivas hidrelétricas no Brasil. Scientific American Brasil. V. 32, p. 36-41, 2009. 3. Ereno, D. Eletricidade do lixo. Revista FAPESP, v. 165, p. 78-79, 2009. 4. Souza, F. L.; Martins, P. (2011). Ciência e tecnologia na escola: Desenvolvendo cidadania por meio do projeto “Biogás –Energia renovável para o futuro”. Química Nova na Escola, v. 33, p. 1924, 2011. 5. Olvera, J. R.; Lopez-Lopez, A. Biogas Production from Anaerobic Treatment of Agro-Industrial Wastewater. Biogas. Croacia, Editora InTech,, 2012, 408 p. 6. Cremonez, P. A.; Feiden, A.; Zenatti, D. C.; Camargo, M. P.; Nadaleti, W. C.; Rossi, E.; Antonelli, J. Biodigestão anaeróbia no tratamento de resíduos celulósicos. Revista Brasileira de Energias Renováveis, v. 2, p. 21-35, 2013. 7. Pereira, R. H. Geração Distribuída de Energia Elétrica – Aplicação de Motores Bicombustível Diesel/Gás Natural, In: 3º Congresso Brasileiro de P&D em Petróleo e Gás, Salvador – BA, 2005.