Ciência e Tecnologia no Brasil do século 21: do paradoxo de Prebisch ao triângulo de Capricórnio Gilberto Câmara, INPE Seminário “Perspectivas da Ciência no Brasil” Academia Brasileira de Ciências, nov/2009 (versão revista e ampliada) Projetos nacionais – Brasil 1950-2010 1950s 1970s Itaipu, Angra, Embraer, dívida externa, subst importações Industria, ABC, Petrobrás 1990s 2010s Privatização, superávit, real celular, carroças, internet Amazônia, soja, flex, biodiesel, clima Projetos nacionais – Brasil 1950-2010 1950s 1970s Industrialização (capital externo) Gdes infraestruturas (divida externa) 1990s 2010s Inserção internac (capital externo) Potência ambiental (capital interno) Anos 70: CEPAL e substituição de importações Prebisch (CEPAL): Relação desigual entre os preços dos produtos manufaturados do centro e os preços dos produtos primários da periferia. Solução: substituição de importações e internalização do setor industrial Anos 70: CEPAL e substituição de importações Prebisch (CEPAL): Relação desigual entre os preços dos produtos manufaturados do centro e os preços dos produtos primários da periferia. Solução: substituição de importações e internalização do setor industrial O que diria Prebisch hoje? 1992 IBM ThinkPad 700, Windows 3.1, 25 MHz 486 processor, 120 MB hard disk drive, 10.4″ display, 3 kg 2009 Lenovo ThinkPad T500, Windows Vista, Intel® Core™2 Duo processor (2.26GHz), 14.1” display, 3 kg, 160 GB Hard Disk. 1992 – US$ 4,350 2009 – US$ 750 O que diria Prebisch hoje? Tonelada de minério de ferro 1992 – US$ 29 2009 – US$ 140 fonte: Index Mundi (www.indexmundi.com/commodities) O paradoxo de Prebisch: mudança nos termos de troca Efeito China: Transferência de fábricas para a China reduziu preço de bens manufaturados e aumentou demanda por produtos básicos Gráfico: G. Câmara, INPE Idéia original: J. Furtado, USP Brasil: economia do conhecimento da natureza Brazil´s innovation system is in large part built upon its natural and environmental resources, endowments and assets. Brasil: economia do conhecimento da natureza Nossa tendência é considerar vantagens comparativas com base em recursos naturais como sinal de uma economia numa fase relativamente imatura no seu desenvolvimento. O Brasil do século 21 desafia essa visão tradicional. Brasil: economia do conhecimento da natureza Brasil é líder mundial em desenvolvimento Reduzimos o desmatamento em 200% desde 2004 Monitoramento ambiental por satélites sustentável Competência em agricultura tropical 46% da matriz energética vem de fontes renováveis O efeito China sobre as exportações do Brasil Exportações Brasileiras - Participação relativa dos tipos de produtos (fonte: MDIC-Brasil) Básicos 90 Semimanufaturados 80 Manufaturados Participação relativa (%) 70 60 50 40 30 20 10 0 1964 1968 1972 1976 1980 1984 1988 1992 1996 2000 2004 2008 Participação (%) dos setores intensivos em recursos naturais na exportação dos países, 2005 Fonte:BNDES, Visão de Desenvolvimento, nº 36, 2007 Participação (%) dos setores intensivos em tecnologia diferenciada e baseada em ciência na exportação dos países, 2005 Fonte:BNDES, Visão de Desenvolvimento, nº 36, 2007 14 Hora de rever os conceitos? Setores considerados intensivos em tecnologia: máquinas, informática, eletrônicos, aviação, instrumentos. Hipótese: Setores primários não são intensivos em tecnologia (será?) Participação (%) dos setores intensivos em tecnologia diferenciada e baseada em ciência na exportação dos países, 2005 (BNDES, 2007) 15 Exportações brasileiras de segundo as categorias da OECD Fonte:Estado de S.Paulo, 02/05/2010 Intensidade em tecnologia não diz tudo Onde se realiza a agregação de valor? Diamantes: exportados por Serra Leoa, valor agregado em Amsterdam Intensidade em tecnologia não diz tudo Ipod: alta tecnologia (OECD) ipod: exportados pela China, valor agregado na Califórnia Intensidade em tecnologia não diz tudo Petróleo e naval: baixa tecnologia (OECD) Plataforma de petróleo construída no BR Petroleo exportado pela BR (560 milhões de barris/dia) Petróleo: produzido e exportado pelo Brasil, valor agregado aqui Intensidade em tecnologia não diz tudo Minério de ferro: baixa tecnologia pela OECD Mina de ferro em Carajás Minério exportado pela Vale Ferro: produzido e exportado pelo Brasil, valor agregado aqui Intensidade em tecnologia não diz tudo Aeroespacial: alta tecnologia - OECD EMBRAER EMB-190 (projetado e montado no Brasil) aviões: exportados pelo Brasil com grande valor agregado nos aviônicos feitos nos EUA Aviônicos do EMB-190 (Honeywell) Fonte:Estado de S.Paulo, 02/05/2010 O efeito China sobre as exportações do Brasil Exportações Brasileiras - Participação relativa dos tipos de produtos (fonte: MDIC-Brasil) 90 Básicos Semimanufaturados 80 Manufaturados Participação relativa (%) 70 60 Qual é o impacto do crescimento da exportação de 50 produtos básicos na C&T brasileira? 40 É bom ou ruim? (Pense bem antes de responder…) 30 20 10 0 1964 1968 1972 1976 1980 1984 1988 1992 1996 2000 2004 2008 De onde vem o crescimento da exportação de produtos básicos pelo Brasil? Brasil: Produtividade agrícola (1975-2005) Produção agrícola cresceu 3x, produtividade dobrou Fonte: Geraldo Barros (CEPEA-USP) Impacto de P&D sobre produtividade do etanol Produtividade do etanol de cana aumentou de 2.800 litros/ha em 1975 para 6.000 litros/ha em 2005 Fonte: CH Brito Cruz (FAPESP) O valor da produção eficiente Produção eficiente permite uso racional dos recursos naturais Fonte: CH Brito Cruz (FAPESP) C&T Brasileira: ainda presa ao século 20? Fonte: CH Brito Cruz (FAPESP) Baixa presença de P&D no setor produtivo brasileiro reflete política de substituição de importações dos anos 70 O paradoxo de Prebisch fonte: CH Brito Cruz (FAPESP) A “economia do conhecimento natural” oferece mais oportunidades para C&T brasileira do que a indústria de manufaturados hoje instalada no Brasil O paradoxo de Prebisch e a economia do conhecimento natural Exportações Brasileiras - Participação relativa dos tipos de produtos (fonte: MDIC-Brasil) 90 Básicos Semimanufaturados 80 Manufaturados Participação relativa (%) 70 60 O crescimento da exportação de produtos básicos é uma 50 grande chance para a C&T brasileira: associar pesquisa de excelência a ganhos de produtividade em áreas competitivas 40 30 20 10 0 1964 1968 1972 1976 1980 1984 1988 1992 1996 2000 2004 2008 Impacto do paradoxo de Prebisch na C&T brasileira Carlos Chagas C&T brasileira poderá ser a grande indutora da economia do conhecimento natural... se nossa P&D se reorganizar para engajar-se no projeto do Brasil para o século 21 C&T brasileira de relevância no sec 21 será cada vez mais interdisciplinar Xyllela fastidiosa (10.000x) Foto: E. Kitajima (ESALQ/USP). Biotecnologia aplicada ao aumento da produtividade agrícola C&T brasileira de relevância no sec 21 será cada vez mais interdisciplinar Redução da área potencial em função do aumento da temperatura entre 1 ºC e 5,8 ºC Área Pontecial (1000 km2) 6000 Milho 5000 Feijão 4000 Arroz 3000 2000 Soja 1000 Café Arábica 0 Atual T + 1ºC T + 3 ºC T + 5,8 ºC Aumento na temperatura média Aumento temperatura 2100 (C. Nobre e J. Marengo, INPE) Impactos das mudanças do clima na agicultura (E. Assad, EMBRAPA) Cenários de mudanças climáticas e seus impactos potenciais na agricultura C&T brasileira de relevância no sec 21 será cada vez mais interdisciplinar Tecnologia espacial aplicada ao monitoramento do desmatamento na Amazônia C&T brasileira de relevância no sec 21 será cada vez mais interdisciplinar Modelagem numérica do tempo para prevenção e mitigação de desastres naturais C&T brasileira de relevância no sec 21 será cada vez mais interdisciplinar Hidrólise ácida para geração de etanol de celulose Fonte: CH Brito Cruz, FAPESP Qualidade de Pesquisa e Agenda Científica Qualidade da pesquisa: geralmente medida pela publicação em revistas científicas de prestígio Agenda científica: conjunto de temas de pesquisa definidos por uma comunidade Ciência Brasileira e o triângulo de Capricórnio 100% Matemática Física Ciência Espacial Agenda externa Computação Geociências Ecologia e Meio Ambiente Biologia tropical Agricultura tropical Agenda interna 100% O triangulo de Capricórnio posiciona as áreas da Ciência Brasileira com o percentual típico entre agendas de pesquisa externa (internacional) e interna (exógena) Ciência no Sul: o triângulo de Capricórnio Impacto relativo dos papers brasileiros (2003-2007) comparados à média mundial (fonte:ISI) 100% -11% Matemática -14% Física -31% Ciência Espacial Agenda externa -31% Computação Geociências -12% Ecologia e Meio Ambiente Biologia tropical Agricultura tropical Agenda interna -12% -66% -45% 100% Ciência do Sul: percentual relativo típico entre agenda externa e interna Ciência no Sul: o triângulo de Capricórnio Impacto relativo dos papers brasileiros (2003-2007) comparados à média mundial (fonte:ISI) 100% -11% Matemática -14% Física -31% Ciência Espacial Agenda externa -31% Computação Geociências -12% Ecologia e Meio Ambiente Biologia tropical Agricultura tropical Agenda interna -12% -66% -45% 100% As áreas mais diferenciadas (e de maior relevância potencial) da Ciência brasileira são as que tem menor impacto no Exterior. Como ser feliz, mesmo sendo um cientista brasileiro? Quanto mais você conhecer as regras da Ciência, mais vai se preocupar com a qualidade e a relevância do seu trabalho e menos com o QUALIS e os índices de impacto Ou será que você quer ser apenas mais um deles?