O ENSINO-APRENDIZAGEM DE PORTUGUÊS PARA FINS ESPECÍFICOS EM
CURSOS DE GRADUAÇÃO DA UFPI
Maria Araujo de Sousa (Discente de ICV/UFPI), Naziozênio Antonio Lacerda
(Orientador, Depto. de Letras - UFPI), Maria Thaís Monte da Silva (Colaboradora)
Introdução
O ensino de línguas para fins específicos é uma área de ensino e de investigação com uma
história relativamente nova (ORR, 2002). No Brasil, mais conhecido como português instrumental,
começa a ser implementado na década de 1980 para atender as pessoas que procuravam aprender
uma língua como necessidade de seus estudos e atividades específicas.
A denominação adotada inicialmente tem contribuído para gerar confusão terminológica entre
as expressões português instrumental e português para fins específicos. Lacerda (2010) observa que
o português para fins específicos está relacionado às profissões ou carreiras dos alunos ou a grupos
de profissionais que têm necessidade de fazer uso da língua em diferentes situações de comunicação,
possibilitando-lhes um desempenho satisfatório na leitura e na escrita. Já o português instrumental
envolve questões básicas sobre a língua e de natureza mais geral comum a todos os cursos.
O objetivo desta pesquisa é analisar o ensino-aprendizagem de português para fins específicos
na UFPI, mediante a análise da grade curricular dos cursos de graduação e apresentação de propostas
que possam contribuir para a implementação desse tipo de ensino na instituição pesquisada.
Metodologia
Para realização deste trabalho, utilizamos três tipos de pesquisa: a bibliográfica, a documental
e a de campo.
Na pesquisa bibliográfica, buscamos informações sobre o ensino de língua portuguesa para
fins específicos em cursos superiores. Para tanto, estudamos textos de Torres (2005), Adorno-Silva
(2006), Ghiraldelfo (2006), Marquesi (2007), Cintra e Passarelli (2008) e Lacerda (2010), além de
ementas de planos de ensino de outras instituições.
Depois visitamos a Coordenadoria de Currículos da Universidade Federal do Piauí (UFPI) no
mês de março/2014 para realização de pesquisa documental nos projetos pedagógicos dos cursos de
graduação da UFPI, mediante análise da matriz curricular de cada curso do Campus Ministro Petrônio
Portella, em Teresina-Piauí, para fins de análise dos cursos que possuem ou não disciplina de
português para fins específicos.
Na etapa da pesquisa de campo, entrevistamos coordenadores de cursos e alunos de
graduação. Foram entrevistados 15 (quinze) coordenadores de diversos cursos, por meio de roteiro
de entrevista semiestruturada, d e 60 (sessenta) alunos de diferentes cursos, mediante a utilização de
roteiro de entrevista estruturada ou padronizada, abrangendo todos os centros de ensino do Campus
Ministro Petrônio Portella, da UFPI.
Resultados e discussão
No que se refere à análise curricular dos cursos de graduação da Universidade Federal do
Piauí (UFPI), observamos que apenas os cursos de bacharelado em Ciências Contábeis, bacharelado
em Direito e bacharelado em Comunicação Social possuem em suas grades curriculares disciplina de
português para fins específicos.
Em relação à pesquisa de campo com os alunos, para a pergunta número 1 do roteiro de
entrevista: “Durante o curso de graduação, você gostaria de cursar uma disciplina de português para
fins específicos? (Justificar sucintamente a resposta)”, 73,33 % responderam que são favoráveis à
inclusão de uma disciplina de português para fins específicos, e apenas 26,67% disseram que não.
Pergunta 1 - Alunos
26,67%
73,33%
Sim
Não
Gráfico 1 - Posição dos alunos a respeito da inclusão de uma disciplina de português específico
na grade curricular do curso
Entre as justificativas a favor da inclusão, está a possibilidade de uma melhor desenvoltura na
modalidade escrita de gêneros textuais específicos. O principal argumento dos alunos que optaram
por responder “não”, o principal argumento foi a carga horária de seus cursos ser extensa.
No que concerne à pesquisa de campo com os coordenadores de curso, os colaboradores
apresentaram as seguintes propostas sobre o ensino de português para fins específicos: 40%
defendem que a disciplina deve priorizar gramática, escrita e leitura de textos; 26,67%, que deve ter
uma carga horária suficiente para preparar os alunos; 20%, ue deve ser um componente obrigatório
na grade curricular; e 13.33%, que deve ser ministrada por um profissional com domínio na área.
Quadro 1 – Propostas apresentadas pelos coordenadores de cursos
Propostas dos Coordenadores de Cursos
A disciplina de português para fins específicos deve ter uma
carga horária suficiente para preparar os alunos.
Quantidade de
Coordenadores
Porcentagem
4
26,67 %
A disciplina de português para fins específicos deve priorizar a
6
40 %
gramática, escrita e leitura de textos específicos.
A disciplina de português para fins específicos deve ser
2
13,33%
ministrada por um profissional com domínio na área
A disciplina de português para fins específicos deve ser um
3
20%
componente obrigatório em todos os cursos de graduação da
UFPI.
Observamos que as respostas dos coordenadores de curso estão em consonância com a visão
de Adorno-Silva (2006) sobre a receptividade do ensino de língua portuguesa voltado ao universo
profissional.
Conclusão
A pesquisa documental nos mostrou que apenas 03(três) cursos de graduação da UFPI
apresentam em suas grades curriculares uma disciplina de português para fins específicos; 04 (quatro)
cursos possuem disciplinas optativas relacionadas à linguagem ou língua portuguesa, porém sem um
conteúdo voltado para fins específicos; e que os demais cursos não têm disciplinas de linguagem ou
língua portuguesa.
Nas entrevistas com os alunos e com os coordenadores, constatamos que há uma receptividade
desses segmentos pela proposta de inserção do português para fins específicos nas grades
curriculares de seus cursos.
Em termos gerais, consideramos a análise desenvolvida nesta pesquisa relevante e pertinente
por revelar a necessidade de uma reflexão sobre a possibilidade da inclusão de uma disciplina de
português para fins específicos nos cursos de graduação da UFPI.
Apoio
UFPI.
Referências bibliográficas
ADORNO-SILVA, Dulce Adélia. O ensino de língua portuguesa na universidade: o discurso e a técnica.
In: GHIRALDELO, Claudete Moreno (Org.). Língua portuguesa no ensino superior: experiências e
reflexões. São Carlos, SP: Claraluz, 2006. p. 93-102.
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específicos. In: CINTRA, Anna M. M. Ensino de língua portuguesa: reflexão e ação. São Paulo:
EDUC, 2008.
GHIRALDELO, Claudete Moreno (Org.) Língua Portuguesa no ensino superior: experiências e
reflexões. São Carlos: CLARALUZ, 2006.
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LIMA, João Gabriel de. Falar e escrever, eis a questão. VEJA, ed. 1725, ano 34, n. 44, 07 nov. 2001,
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MARQUESI, Sueli Cristina. Novas perspectivas no ensino de língua portuguesa para fins específicos:
da sala de aula para o ensino via internet. In: FÁVERO, Leonor. Lopes; BASTOS, Neusa Barbosa;
MARQUESI, Sueli Cristina (Orgs.). Língua portuguesa: pesquisa e ensino - v. 2. São Paulo:
EDUC/FAPESP, 2007. p. 119-130.
ORR, T. (2002) The Nature of English for Specific Purposes. English for Specific Purposes, Thomas
Orr (Ed.), Case Studies in: TESOL Practice Series, Jill Burton (Series Editor), Teachers of English to
Speakers of Other Languages, Inc.
TORRES, Bernadeth Resende. O ensino de produção de textos para fins específicos. Dissertação
(Mestrado em Língua Portuguesa). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. São Paulo, 2005.
128 p.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ-UFPI. Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão. Resolução nº
004/94-CEPEX: extingue o 1º Ciclo Geral de Estudos-C.G.E. Teresina, 1994.
Palavras-chave: Ensino de língua. Português para fins específicos. Cursos de graduação.
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