genera 19 Analisar o contexto para melhorar a estratégia Novembro 09 Uma organização não é um elemento independente no mercado. Pelo contrário. Interactua com outras organizações que sobre ela exercem influência directa ou indirecta. Antes de se definir a estratégia de uma organização, deve-se realizar uma análise do contexto onde ela actua ou pretende actuar, de modo a antecipar possíveis riscos ou oportunidades de negócio. Neste artigo, apresentamos dois modelos de análise que poderão ser de grande utilidade para conhecer o contexto em que uma organização actua. Quem são os stakeholders e como podem afectar uma organização? Nos últimos anos o conceito de stakeholders foi ganhando importância. Por stakeholders entende-se os “interessados ou intervenientes”, ou seja, qualquer pessoa, individual ou colectiva, que esteja ligada à actividade de uma organização – os externos, ligados aos investidores, aos fornecedores, aos meios de comunicação, às comunidades, à administração pública, etc, e os internos tais como empregados, os gestores e o conselho de administração. Fazer uma análise dos stakeholders é um elemento muito importante para definir a estratégia de uma organização. Imaginemos que uma autarquia pretende transferir o campo de futebol situado no centro da cidade para fora desta. Se não tivermos em conta os stakeholders do projecto podemos deparar-nos com vários obstáculos ao longo do processo. Por exemplo, os familiares dos jogadores que treinam naquele campo podem insurgir-se contra a decisão da autarquia, uma vez que a localização do novo campo implica transportar os jovens (o que antes não acontecia). Como responsáveis do projecto teremos de prever situações como estas para poder encontrar soluções adequadas. Uma possível solução para o caso em apreço, seria colocar à disposição dos jovens um serviço de transporte municipal que os conduzisse ao novo campo. Caso não se considerasse este hipotético problema e a respectiva solução, os familiares dos jovens poderiam apresentar uma queixa à autarquia, fazer uma manifestação, contactar os meios de comunicação social, etc. Todas estas acções poderiam atrasar ou travar o desenvolvimento do projecto. O mapa de stakeholders O mapa de stakeholders é construído a partir de um eixo de coordenadas com duas variáveis: poder e nível de interesse relativamente à estratégia de uma organização. A partir deste eixo surgem 4 quadrantes onde se enquadram os diferentes tipos de stakeholders. Figura I. Matriz Poder/Nível de interesse Manter satisfeitos Jogadores chave Mínimo esforço Manter informados PODER NÍVEL DE INTERESSE Tempo aproximado de leitura: 10 minutos A) Quando os stakeholders não exercem poder nem manifestam interesse sobre a organização não há necessidade de lhes prestar grande atenção. B) Embora não exerçam grande preponderância sobre a actuação da organização, teremos de os manter informados uma vez que podem ter influência sobre os stakeholders do grupo D. C) Este grupo releva um comportamento passivo, pois exercem poder mas não interesse pela estratégia da organização. Não obstante, devemos mantê-los satisfeitos. Caso contrário, o despertar do seu interesse poderá posicioná-los positiva ou negativamente face à organização. D) São o grupo mais importante de stakeholders porque têm muito poder e estão interessados na nossa organização. É necessário assegurar que este grupo aceite as nossas estratégias. Por exemplo, se fossemos proprietários de uma empresa fornecedora de máquinas de fitness, como classificaríamos os nossos stakeholders, tendo em conta o mapa apresentado? A) Empresas sem interesse nem força como, por exemplo, fornecedores de material não desportivo dos centros que servimos. B) No quadrante B teríamos de manter informado o pessoal do centro: os técnicos/as da sala de fitness e as pessoas responsáveis pela manutenção das máquinas. C) As empresas de certificação de qualidade das nossas máquinas de fitness terão de estar satisfeitas, porque sem certificação não podemos vendê-las. D) Os nossos clientes. Os nossos clientes têm um elevado nível de interesse e poder de decisão. Qualquer falha pode levar o cliente a mudar de fornecedor. Como organização, podemos criar diferentes eixos de coordenadas para perceber onde nos situamos relativamente à concorrência ou que posições são adoptadas pelos stakeholders relativamente ao lançamento de um novo serviço ou produto. Seguidamente, apresentaremos diferentes alternativas: Apoio ao projecto | Grau de impacto sobre o projecto: a partir deste eixo podemos ver a posição adoptada pelos stakeholders e, caso se revele necessário, desenvolver estratégias para alterar esse posicionamento. Serviço de excelência | Serviço ao melhor preço: qual o posicionamento da empresa? Opta por entrar no segmento preço vs qualidade ou opta por posicionar-se no mercado da excelência, com independência do preço que pratica? Os concorrentes directos serão todos aqueles que se encontram dentro do posicionamento escolhido pela empresa. “Tens de encontrar um vazio no mercado no qual os teus competidores se tenham tornado preguiçosos e tenham perdido o contacto com os leitores ou espectadores”. Rupert Murdoch As 5 forças de Porter 5. No ano de 1979, o economista Michael Porter elaborou um modelo onde descreveu as 5 forças que influenciam a estratégia competitiva de uma organização. Figura II. Esquema das 5 forças de Porter Ameaça de novos serviços ou produtos: a ameaça de serviços/ produtos substituíveis no mercado pode causar uma perda significativa de receitas. Por exemplo, a moda dos ginásios rápidos, baseados num circuito de 30 minutos de trabalho intensivo, pode ser um substituto dos centros desportivos tradicionais. Uma vez analisadas as cinco forças que afectam uma organização, abaixo descrevemos as possíveis barreiras de entrada que se podem utilizar para fazer frente à concorrência. Ameaça de novos competidores Ainda que Porter identifique 6 barreiras, neste artigo consideraremos apenas as que apresentam relação directa com o sector do desporto e do lazer. Poder negocial dos fornecedores Rivalidade entre competidores Poder negocial dos clientes Ameaça de novos serviços/produtos 1. Diferenciação do produto: tentar diferenciar o serviço que se oferece no nosso centro desportivo relativamente ao oferecido pela concorrência. Um exemplo seria enveredar pela excelência, personalizando diferentes serviços do centro. Não obstante, temos que ter em conta que é relativamente fácil para a concorrência reagir à diferenciação, copiando os serviços. 1. Ameaça de novos competidores: a possibilidade de entrarem novos competidores no mercado pode diminuir as nossas vendas. Por exemplo, se outra empresa constrói um centro desportivo dentro da área de influência do nosso centro, possivelmente perderemos quota do mercado. 2. Investimentos de capital: uma organização com mais recursos financeiros tem uma posição competitiva mais forte no mercado. Porém, as pequenas organizações podem formar alianças para competir contra os grandes complexos desportivos municipais. 2. Rivalidade entre os competidores: se o serviço e/ou produto que se oferece é muito similar à da concorrência, mais forte será a rivalidade entre as empresas, sendo este facto motivo de guerra de preços, constante inovação nos serviços/produtos, campanhas agressivas de captação de clientes, etc. 3. Política governamental: a política de oferta desportiva municipal pode constituir uma forte barreira à entrada de privados no mercado. Se uma empresa privada pretende construir um ginásio num município com uma forte oferta desportiva a preços baixos, ou mesmo gratuitos, seguramente que este contexto constituiu uma barreira a considerar pela empresa. 3. Poder negocial dos fornecedores: neste caso a força da negociação está relacionada com o leque de fornecedores que temos. Quanto maior for esse leque, maior é a capacidade de negociação da empresa. Como tivemos oportunidade de observar no presente artigo, o mercado é um elemento dinâmico e em constante mudança. 4. Poder negocial dos clientes: os clientes terão maior ou menor força de negociação em função dos produtos ou serviços existentes no mercado. Se num município somos o único centro de ténis, seguramente que os utentes do centro terão pouco poder de negociação. Porém, se vier a existir outro centro de ténis no município, os utentes ganharão maior poder de negociação. www.itik.es Comentários: [email protected] Como responsáveis de uma organização desportiva, teremos que conhecer o contexto em que agimos, a evolução do mercado, a influência e o reposicionamento dos stakeholders, etc. Definitivamente, devemos ter uma atitude proactiva e ser visionários se queremos conquistar uma vantagem competitiva no mercado em que desenvolvemos o nosso negócio. Artigo baseado em: Gardner, JR; Rachlin & Sweeny, HWA (1986) Handbook of Strategic Planning Porter, M (1998) Competitive Strategy: Techniques for Analyzing Industries & Competitors