MOÇAMBIQUE
ACTUALIZAÇÃO DA
SEGURANÇA ALIMENTAR
JANEIRO 2006
TIPO DE ALERTA S:
SEM ALERTA
VIGILÂNCIA
AVISO
EMERGÊNCIA
CONTEÚDOS
SUMÁRIO E
Sumário e implicações .............1
Actuais riscos ...........................1
Sumário da segurança
alimentar ..................................1
Actualização sobre a precipitação
e campanha agrícola...............2
Preços do milho ......................4
A segurança alimentar dos agregados familiares em Moçambique está a melhorar
como resultado de uma maior disponibilidade de água e frutos sazonais e da
distribuição da ajuda alimentar para as populações que se encontram a recuperar
da seca registada na última época. O pipeline da reserva alimentar do PMA
encontra-se bem abastecida. Todavia, com a intensificação da época chuvosa, os
rios no sul e centro de Moçambique encontram em estado de alerta de cheias, e
muitas vias de acesso cortadas. No sul e centro de Moçambique, estas chuvas
beneficiam a produção agrícola e animal, excepto em zonas onde as machambas
foram inundadas. No norte, porém, grande parte da Província de Cabo Delgado e
norte da Província do Niassa têm registado chuvas insignificantes até o presente
momento, merecendo, por conseguinte, uma atenção especial.
IMPLICAÇÕES
CALENDÁRIO SAZONAL
SUMÁRIO DOS ACTUAIS RISCOS
•
•
•
Chuvas intensas no sul e centro de Moçambique causaram inundações localizadas e dificultaram o transporte
de alimentos e outros produtos. Uma ameaça de cheias prevalece no baixo Zambeze uma vez que se receia
uma continuidade de chuvas intensas a montante e ao longo dos maiores afluentes daquele rio.
Em Cabo Delgado e norte de Niassa no norte de Moçambique, a época chuvosa iniciou com um atraso de 4
decadas, e em Cabo Delgado em particular as precipitações até o presente momento situam-se muito abaixo
da média.
Os preços de milho em Dezembro nos mercados de referência de Maputo, Beira e Nampula continuam altos e
representam o dobro dos preços do período homólogo do ano passado.
SUMÁRIO DA SEGURANÇA ALIMENTAR
A maioria das regiões de Moçambique encontram-se no meio de um período mais crítico da segurança alimentar
(Dezembro a Fevereiro), uma vez que as reservas alimentares existentes encontram-se esgotadas. Porém, espera-se
que a segurança alimentar esteja melhorar. A reserva alimentar bem abastecida ajudará o PMA a alcançar 90% das
necessidades identificadas na avaliação realizada em Outubro no sul e centro de Moçambique pelo Secretariado
Técnico para a Segurança Alimentar e Nutrição (SETSAN), mas o seu transporte e subsequente distribuição poderão
ser dificultados pelas chuvas intensas. A ameaça de cheias prevalece, particularmente ao longo do baixo Zambeze, e
chuvas intensas poderão continuar em toda a bacia do rio. Os distritos em alto risco são Caia, Chinde, Marromeu,
Mopeia, e Mutarara.
No sul e centro de Moçambique, o inicio das chuvas trouxe o muito esperado alívio ás zonas afectadas pela seca. A
água torna-se cada vez mais disponível para o consumo humano e animal, e as culturas registam um bom
desenvolvimento, excepto nas zonas onde as machambas encontram-se inundadas. O acesso melhorado à água
também reduziu o tempo gasto pelos agregados familiares à busca do precioso líquido possibilitando-os a passar mais
tempo cuidando das suas machambas. Ao mesmo tempo, o transporte para, de e dentro de algumas zonas está
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January 2006
severamente condicionado com a destruição das vias de acesso.
Dadas as precipitações favoráveis e o nível das sementeiras até o presente momento, é provável que a presente
época agrícola venha a ser mais produtiva em relação à campanha passada. Estas condições favoráveis fortalecerão
igualmente a demanda do emprego agrícola casual (ganho-ganho), uma importante fonte de rendimento para os
agregados familiares mais pobres, da qual muitos agregados familiares foram privados no ano passado devido à seca.
No norte de Moçambique, a época teve um arranque lento, particularmente no nordeste de Cabo Delgado, onde as
chuvas registam um atraso de 4 decadas. É provável que algumas zonas já estejam a enfrentar um período
prolongado de escassez.
O Grupo de Avaliação de Vulnerabilidade do SETSAN e os seus parceiros planeiam uma rápida avaliação ao nível
nacional em Fevereiro para monitorar o progresso da campanha agrícola e avaliar as actuais intervenções e situação
da segurança alimentar nas zonas que sofreram a seca severa no ano passado.
ACTUALIZAÇÃO SAZONAL
Chuvas intensas no sul de Moçambique
Na primeira decada de Janeiro,
as
zonas
costeiras
de
Inhambane foram atingidas por
chuvas intensas, causadas por
uma depressão tropical (Figura
1a). Nas zonas costeiras dos
distritos
de
Massinga,
Morrumbene e Inhambane, as
chuvas ultrapassaram 150 mm
em menos de 7 dias nos
princípios de Janeiro, muito
acima da precipitação total
normal de todo o mês. A
velocidade dos ventos variou
entre 52 a 65 km/h enquanto
que
a
média
máxima
sustentável atingiu os 46 km/h.
Na costa de Inhambane, as
intensas
chuvas
causaram
cheias
localizadas
e
danificaram as culturas de
milho, arroz e caju ao longo das
margens dos rios e em zonas
baixas. As vias de acesso
secundárias também foram
cortadas. Os relatórios de
campo indicaram que os danos
à
infra-estrutura
foram
insignificantes. Porém, como
resultado das chuvas intensas
no sul, a região norte de Gaza,
encontra
actualmente
inacessível por via rodoviária,
impossibilitando a o movimento
para e daquela região. (O PMA
conseguiu
preposicionar
reservas alimentares na região,
e existem camiões com tracção
6x6 à sua disposição.)
Figura 1a: A trajectória da
Perturbação Tropical, 2 de Janeiro –
8 de Janeiro, 2006
Figura 1b: Estimativas da precipitação
baseadas em dados recolhidos via
satélite, 2 de Janeiro – 8 de Janeiro,
2006
Fonte:
http://www.meteo.fr/temps/domtom/L
a_Reunion/
Fonte:
http://www.cpc.ncep.noaa.gov/products/fe
ws/africa/briefing.html
Uma zona de perturbação tropical (07-20052006) formou-se nos finais de
Dezembro no Oceano Índico, nordeste de Madagáscar. Uma zona de
perturbação tropical é uma zona de um estado de tempo perturbado, na qual uma
área de baixas pressões é cercada por áreas sem qualquer circulação ordenada.
No dia 1 de Janeiro, o sistema entrou no Canal de Moçambique tendo se
movimentado até atingir a costa no dia 5 de Janeiro. Já no interior, o sistema
movimentou-se para o sudoeste ao longo das zonas costeiras das províncias de
Inhambane e Gaza até atingir a Província de Maputo. As Figuras 1a e 1b
mostram a rota da depressão e o volume da precipitação estimada via satélite
durante o período mais activo da perturbação tropical.
No centro de Moçambique, apesar do atraso das chuvas, as chuvas intensas recentemente registadas na Província de
Sofala saturaram os solos, e os rios Buzi e Pungué transbordaram e encontram-se actualmente num estado de cheias.
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De 21-30 de Dezembro, em particular, a precipitação situou-se muito acima do normal no centro do país (províncias de
Sofala, Manica, Tete e Zambézia) e no norte da Província de Inhambane. As fortes correntes no Rio Pungué
danificaram a estrada Tica-Buzi, impossibilitando a evacuação das pessoas afectadas pelas inundações bem como o
transporte da assistência de emergência para as populações isoladas.
Figura 2b: Previsão da precipitação
Contudo, no norte de Figura 2a: Anomalias da precipitação
26 de Janeiro a 2 de Fevereiro de 2006
Moçambique, em grande (mm) no mês Dezembro de 2005
parte a Província de Cabo (comparadas com a média de longo
Delgado e na parte norte da termo)
Província do Niassa, os
níveis de precipitação desde
o início da presente época
têm estado muito abaixo do
normal. A Figura 2 (a)
mostra
anomalias
da
precipitação de mais de
100mm abaixo da média do
mês de Dezembro. Em
Dezembro e princípios de
Janeiro,
os
totais
da
precipitação
situaram-se
abaixo de 50% da média.
Nos primeiros 10 dias de
Janeiro, partes de Cabo
Fonte:
Delgado registaram uma
http://www.cpc.ncep.noaa.gov/products/f
:
precipitação de 0-75 mm. A
ews/africa/briefing.html
http //wxmaps.org/pix/prec10.html
FEWS NET recomenda às
autoridades agrícolas e seus
parceiros para a necessidade de monitorar os possíveis impactos negativos destes défices no desempenho da
produção agrícola e reservas de água. Não obstante, os modelos de previsão meteorológica (Figura 2b) indicam a
probabilidade de chuvas intensas nas três províncias do norte, nomeadamente Niassa, Nampula e Cabo Delgado, a
partir dos finais de Janeiro até os princípios de Fevereiro.
Ameaças de cheias
Como resultado das precipitação excessiva registada no sul de Moçambique e países vizinhos, os caudais dos rios
Limpopo, Umbeluzi, e Incomati continuam a subir e estão próximos do nível de alerta. As autoridades têm estado a
alertar as populações a tomar precauções e a afastar das margens dos rios.
Chuvas intensas inundaram o sul do Malawi, centro de Moçambique e zonas adjacentes durante na última semana de
Dezembro e nos primeiros dias de Janeiro. Precipitação normal a acima do normal continua sendo um possível risco
no sul e centro de Moçambique, onde os solos já estão saturados podendo ocorrer cheias localizadas nestas regiões.
O nível dos rios Pungué, Save e Buzi aproximam-se nos níveis de alerta.
O vale da bacia do Zambeze recebeu uma precipitação extraordinariamente acima do normal durante a segunda
metade de Dezembro, tendo resultado numa subida rápida dos níveis dos rios. A precipitação continua sendo o factor
chave para redução ou aumento do risco de cheias nas maiores bacias. De acordo com os modelos de previsão, as
chuvas intensas poderão continuar ao longo de toda a bacia do Zambeze, aumentando cada vez mais o risco de
cheias. Nas próximas semanas a precipitação será crítica para o Vale do Zambeze com a expectativa de chuvas a
montante do rio, e chuvas provenientes do Malawi (que fluem para o rio Zambeze através do rio Chire, seu afluente).
Estas chuvas poderão aumentar o risco de cheias particularmente na região baixa.
Boa perspective da produção agrícola
No geral, a situação das chuvas e da humidade é muito favorável à produção agrícola em quase todo o país
particularmente nas zonas altas (contrariamente às zonas baixas), incluindo zonas afectadas pela seca severa do ano
passado. A sementeira iniciou com a evolução das chuvas em Novembro no sul e centro um pouco mais tarde. O
governo e os seus parceiros realizaram feiras de insumos por forma a fazer chegar estes insumos (sementes e
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instrumentos) aos agricultores de forma pontual, embora as reservas sejam baixas. Contudo os agricultores
conseguem obter o mínimo de sementes, através da sua própria produção e partilha entre eles, ou através doutras
fontes. A seguir é um resumo da campanha agrícola:
Região
Províncias
Norte
Cabo Delgado,
Nampula e Niassa
Centro
Sul
Sofala, Manica,
Zambézia e Tete
Maputo, Gaza e
Inhambane
Observações
Em Cabo Delgado, em particular, as chuvas foram fracas e tardias. O
desenvolvimento das culturas germinadas está sendo afectado ela
insuficiência das chuvas. Nampula também registou um arranque tardio
das chuvas mas a situação hoje conhece melhorias, permitindo o
desenvolvimento de culturas sazonais. Niassa possui até um melhor
desempenho em relação a Cabo Delgado e Nampula. Não existe
qualquer impacto significativo de pestes e doenças, embora as doenças
dos animais permanecem um potencial risco.
Culturas na região:
Mandioca, milho, mapira, mexoeira, feijões,
amendoim e arroz.
O centro de Moçambique também teve um atraso do começo da época
chuvosa, embora não ao grau registado no norte. As áreas semeadas
poderão ser maiores em relação ao ano passado, uma vez que mais
terra encontra-se em preparação para cereais tais como a mapira e
milho. Contudo, devido às fortes chuvas, algumas machambas foram
inundadas, afectando as culturas já em pé bem como a sacha.
Registam-se nestas regiões perdas de algumas culturas. Existe uma
preocupação crescente com a eclosão da lagarta invasora (Spodoptera
exempta) em Manica e Tete. Os cereais e legumes encontram-se em
diferentes etapas de desenvolvimento satisfatório da emergência às
fases vegetativas, e o nível da água é satisfatório. A batata-doce
encontra-se em colheita em diferentes lugares, tornando numa
importante fonte de alimentação dos agregados familiares. Na Província
da Zambézia, em particular, o milho está na fase de florescimento, e o
arroz está pronta para o transplante.
Culturas na região:
milho, mapira, mexoeira, feijões, mandioca,
amendoim, batata-doce e arroz
A precipitação no sul permitiu uma sementeira generalizada. As chuvas
intensas nos finais de Dezembro trazidas pela depressão tropical
causaram inundações ao longo das zonas baixas de Inhambane e o
baixo Limpopo. As culturas que encontravam-se em pleno
desenvolvimento estão amarelecendo como resultado do excesso de
água. As machambas de arroz foram varridas pelas águas em
Inhambane. Dada a situação geral satisfatória em termos de humidade,
as culturas encontram em diferentes fases de crescimento e registam
um desenvolvimento satisfatório da emergência às fases vegetativas e
o milho a criar pendão.
Culturas na região:
Milho, feijão nyemba, mandioca, batata-doce,
melancia e arroz
Fonte: Departamento de Aviso Prévio do Ministério da Agricultura e informação do terreno
PREÇOS DO MILHO
Preços do milho subindo em flecha
A análise dos preços ao nível do retalhista registadas nos mercados monitorados pelo Sistema de Monitoria dos
Mercados Agrícolas (SIMA) revela que os preços desde Maio de 2005 têm sido mais altos do que os preços do
período homólogo em 2004. Os preços estão actualmente próximos da média de 2000-05, após terem estado muito
abaixo da média todo ao longo de todo ano até Setembro.
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Os preços de 2004 especialmente no sul e centro de Moçambique foram mais baixos devido a boa colheita na
principal época agrícola em Maio-Junho 2003/04 e as acções de mitigação realizadas pelo governo e seus parceiros.
Estas acções incluíram intervenções em alimentos e acções agrícolas de mitigação da seca consistindo na distribuição
de sementes, reabilitação dos reservatórios de água, e a multiplicação da mandioca e batata-doce. Contrariamente ao
ano de 2004, os preços reais em 2005 (ajustados pelo Índice do Preço ao Consumidor) de Junho em diante
aumentavam continuamente nos três maiores mercados de referência.
Figura 3: Evolução dos preços reais a retalho em 2005, comparadas aos preços em 2004 e a média de cinco anos
nos principais mercados
9000
12000
8000
10000
7000
6000
8000
5000
6000
4000
3000
4000
2000
2000
1000
Maputo
Beira
2004
2005
Dez
Nov
Set
Out
Jul
Aug
Jun
Abr
Mai
Mar
Jan
Fev
Dez
Nov
Set
Out
Jul
Ago
Jun
Abr
Mai
Mar
Jan
Fev
Dez
Nov
Set
Out
Jul
Ago
Jun
Abr
Mai
Mar
Jan
0
Fev
0
Nampula
Media 2000-2005
Em Nampula nos últimos quatro meses de 2005, os preços estiveram próximos da média, mas quase o dobro do
preço do ano passado em Dezembro. Adicionalmente o esgotamento de produtos alimentares, os altos preços de
combustível e subsequentes custos de transporte têm uma influência directa sobre os preços do milho uma vez que
este produto é transportado das zonas excedentárias às deficitárias.
Figure 4. Evolução do Indice de Preço do Consumidor (IPC) , 2005
225.0
220.0
215.0
IPC
210.0
205.0
200.0
195.0
190.0
185.0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
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Os preços mais altos em 2005 não só reflectem
a fraca produção de milho do ano passado, mas
também os efeitos da subida da inflação (vide
Figura 4). A taxa de inflação subiu rapidamente
nos últimos dois meses, reflectida num Índice do
Preço ao Consumidor mais alto, e reduziu o
poder de compra do consumidor.
O impacto da inflação será fortemente mais
sentida pelos agregados familiares mais pobres
dependentes dos mercados para a aquisição dos
alimentos e outros produtos e serviços básicos.
Estes agregados familiares não possuem
estratégias alternativas e diversificadas para a
geração de rendimento para fazer face ao
agravamento generalizado dos preços.
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