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23 mar 2015 O Globo antonio. gois@ oglobo. com. br ANTÔNIO GOIS
O novo ministro
Nos últimos 20 anos, apenas dois titulares do MEC conseguiram permanecer
no cargo tempo suficiente para deixar um legado
Após a saída intempestiva de Cid Gomes do MEC, Dilma prometeu indicar rapidamente o novo ministro
da área. Em suas palavras, será “uma pessoa boa para a educação”, que não seja “desse ou daquele
partido”. Seja lá o que isso signifique, a escolha do novo gestor deveria considerar o histórico recente de
sucessos e fracassos no cargo. Nos últimos 20 anos, sete ministros se revezaram no posto. Apenas dois
tiveram tempo suficiente para deixar algum legado: Paulo Renato Souza e Fernando Haddad.
Paulo Renato, já falecido, foi o único ministro da pasta nos oitos anos do governo Fernando Henrique.
Criou um fundo que redistribuiu recursos da educação de acordo com o número de alunos do ensino
fundamental (o Fundef ). Ampliou significativamente as matrículas no ensino superior privado, concebeu
instrumentos de avaliação da educação básica e superior, e implementou um programa de avaliação de
livros didáticos. Ele e sua equipe ainda tomaram uma decisão corajosa: fizeram o Brasil se tornar parte do
Pisa, exame internacional da OCDE, mesmo sabendo que, na comparação com nações mais ricas,
daríamos vexame.
Fernando Haddad foi o terceiro ministro de Lula, e permaneceu no cargo por seis anos. Em sua gestão,
todas as escolas e redes públicas passaram a ter metas e a ser avaliadas pelo Ideb, indicador de qualidade
do ensino que leva em conta tanto o aprendizado quanto a aprovação dos alunos. Médias de escolas
privadas pela primeira vez foram divulgadas no Enem, exame que foi ampliado e reestruturado. Foi
Haddad também quem criou o ProUni. Ainda expandiu o Fundef (que passou a se chamar Fundeb) para
toda a educação básica, ampliando de forma expressiva seus recursos.
Nenhum dos dois foi unanimidade, e também tiveram seus erros. Porém, gostando ou não das ações
implementadas por eles, são políticas que estão aí até hoje.
O mesmo não se pode dizer dos outros cinco ministros do período. Cristovam Buarque, ex­governador
de Brasília e educador respeitado, durou pouco mais de um ano. Foi demitido pelo telefone pelo então
presidente Lula. Seu sucessor, Tarso Genro, era um peixe fora d’água. Entrou com a promessa de fazer
uma grande reforma universitária, que, ao final, não passou de um arremedo de regras sem grande
impacto. Depois de Haddad, assumiu Aloizio Mercadante. Encantado com novas tecnologias, começou seu
mandato prometendo distribuir tablets para alunos e professores. A ação deu em nada. Ao final, pouco
falava de ensino. Já era o responsável pela articulação política do governo, mesmo sentado na cadeira de
ministro da Educação.
Em seguida veio José Henrique Paim, hoje cotado para voltar ao MEC. Em seu favor, registre­se que,
sabendo ter apenas nove meses no cargo, resistiu à tentação de querer inventar a roda, tocando adiante
as políticas já em curso. O último da lista foi Cid Gomes. Chegou com a expectativa de repetir no país os
bons resultados de Sobral, mas caiu na semana passada ao comprar com o Congresso uma briga que nada
tinha a ver com os desafios da educação.
Paulo Renato e Fernando Haddad tinham uma característica em comum: militavam em seus
respectivos partidos (PSDB e PT), mas não eram políticos tradicionais. O tucano havia sido secretário de
Educação em São Paulo e reitor da Unicamp, enquanto Haddad, um quadro da USP, fez parte da gestão de
Marta Suplicy na prefeitura paulistana. Somente se candidataram a um cargo público depois de saírem do
MEC. E, coincidência ou não, suas gestões começaram a se desgastar no momento em que decidiram se
aventurar na política tradicional.
Já tivemos no Brasil bons ministros de áreas técnicas que eram políticos tradicionais. E também já
houve nomes considerados técnicos que fracassaram. Mas, na educação, a história recente indica que
misturar política partidária com os desafios da pasta é sempre uma péssima escolha.
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