JANAÍNA PIMENTA DE OLIVEIRA
A VOZ DO NEGRO
“Monografia apresentada ao CEFACCENTRO DE ESPECIALIZAÇÃO EM
FONOAUDIOLOGIA CLÍNICA para a
finalização do curso de ESPECIALIZAÇÃO
EM VOZ .”
Salvador
1999
FICHA CATALOGRÁFICA:
OLIVEIRA, Janaína Pimenta. A voz do
negro.
Salvador,1999
(Monografia
-
Especialização - Fonoaudiologia - Cursos
de
especialização
em
fonoaudiologia
clínica – CEFAC).
Descritores: Voz, raça negra, acústica.
Curso de Pós- Graduação.
Área de Concentração- Voz
Coordenador do curso: Prof. Dr. Sílvia M. Rebelo Pinho.
Especialista na área de voz pela UNIFESP-EPM. Mestre e Doutora em
Distúrbios da Comunicação Humana pela UNIFESP – EPM
Orientador de conteúdo: Prof. Dr. Sílvia M. Rebelo Pinho.
Especialista na área de voz pela UNIFESP-EPM. Mestre e Doutora em
Distúrbios da Comunicação Humana pela UNIFESP – EPM
Orientador metodológico: Prof. Maria Helena Caetano
Mestra em Distúrbios da Comunicação humana pela UNIFESP –EPM.
Doutoranda em Fisiopatologia Humana pela Universidade Federal de SP.
AGRADECIMENTOS
À minha mãe, grande amiga, que tanto me ensinou e apoiou em
todas as etapas da minha vida.
Ao meu pai, pelo carinho.
À toda minha família, pelo amor a mim atribuído.
À Fga Valéria pelas incalculáveis contribuições tanto em minha
vida profissional quanto pessoal, pela amizade que construímos com
todo o meu carinho.
À Raquel, negritude alegre e encantadora, pelo interesse e auxílio.
.
Ao Netinho, pelas inúmeras contribuições .
À Alda, origem de toda a minha inspiração, pela amizade e ajuda.
Ao Paulo Perazzo, amigo e profissional que tanto admiro, pelo
apoio e carinho.
À Mara Behlau, por suas inúmeras contribuições científicas à
fonoaudiologia.
À Mônica Claure, a quem sempre tomo como referência em meu
trabalho, meu profundo agradecimento e admiração.
Aos cantores Lazzo Matumbi e Dino Brasil, pela paciência e
colaboração.
Aos residentes do NOOBA, tão dipostos em auxiliar-me.
Às atrizes Andréa Elia ,Katia Leal ,Elídia , Mª Menezes, Najla
Andrade, Marilda Santana que tanto me estimularam a pesquisar, meu
carinho e admiração.
À todos os meus pacientes, pela compreensão.
Ao bando de teatro do Olodum, por muito me ensinar.
“…Os negros de gênio que se ocidentalizaram galhardamente, sem um
gemido de rancor impotente, e que enriqueceram a cultura ocidental com
suas criações imortais fizeram mais pelos seus irmãos – da sua e de todas
as raças – do que os demagogos e palhaços que hoje querem apenas não
escravizar os negros na adoracão regressiva de cultos museológicos, mas
africanizar todo o Brasil.”
Olavo de Carvalho
Folha de São Paulo
20/11/97
À
Sílvia
Pinho,
pessoa
maravilhosa,
que
consegue transpor o sucesso por ela merecido e
conquistado para ,simplesmente, ensinar com
toda a humildade.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO…………………………………………..01
LITERATURA……………………………………………04
DISCUSSÃO………………………………………….....10
CONCLUSÕES……………………………………….... 17
RESUMO….................................................................19
SUMMARY….............................................................. 21
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS …………….…... 23
INTRODUÇÃO
Desde muito, ao som do tambor e atabaque, na África, tribos distantes já
cantavam para adorar seus deuses negros.
Este canto foi aprisionado e passou a acompanhar os estalos dos chicotes,
o choro contido, os acordes de desejo do negro escravo. Com a música, eles
conversavam, dançavam e ritmavam o árduo trabalho, mantinham suas origens
negras e demonstravam sua única forma de liberdade. Logo suas vozes,
potentes e melodiosas passaram a ser requisitos verificados na aquisição de
novos escravos, pois eram utilizadas pelos proprietários para dar força e
entusiasmo no trabalho.
Em seus rituais religiosos, os instrumentos de percussão tocaram alto e
influenciaram a música de muitos povos. Criaram tipos musicais, cantos e
deste modo, o negro foi marcando seu som pelo mundo.
A arte musical negra tem sido objeto de muitos estudos pela diversidade
de ritmos e estilos que oferece. A voz do negro constitui-se no principal
instrumento que ressoa e encanta. Tradicionalmente, ela é conhecida e
caracterizada como
cheia, potente e grave. É de consenso popular que a voz do negro é distinta
das vozes nas demais raças.
Este trabalho visa correlacionar as características perceptivas e acústicas da
voz do negro com seus respectivos
literatura, objetivando esclarecer
achados fisiológicos descritos na
as causas da diferenciação vocal nos
falantes desta raça.
A
partir
de
um
extensivo
levantamento
bibliográfico,
englobando,
principalmente, as áreas da laringologia, acústica, ortodontia e dermatologia
pudemos evidenciar importantes variações constitucionais, existentes na raça
negra. Estas variações são, possivelmente,
compreensão deste padrão vocal tão diferenciado.
uma premissa para a
LITERATURA
A primeira menção sobre a voz do negro foi realizada por BERNSTEIN
(1932). Segundo o autor, garotas negras na faixa etária de 10 a 20 anos de
idade apresentavam o tom vocal, em geral, mais grave que garotos e garotas
brancas germânicas da mesma idade.
BOSHOFF (1945) comprovou ser a musculatura da laringe do negro sulafricano mais vigorosa do que a dos caucasianos. Alguns músculos eram
mais fortes, largos e, freqüentemente, com
inserções musculares
mais
complicadas e complexas o que ajudaria a fortalecer os movimentos do
aparato vocal. Observou também que o músculo ariepiglótico é geralmente,
inexistente na raça negra. Esta ausência é, normalmente, associada à
presença de variações
e aberrações musculares como: (a) os músculos
cricoaritenóideos posteriores, aritenóideos oblíquos e transverso mais largos;
(b) o músculo tireoepiglótico contínuo com o aritenóideos oblíquos e
transversos terminando, superiormente, junto a inserção do tireoaritenóideo
superior que estaria, consistentemente, presente.
KINERBERG (1966) descreve os tipos raciais e aponta os lábios espessos
e evertidos, nariz largo, índice cefálico dolicofacial, ângulo facial tendendo ao
prognatismo entre outros como algumas das características da raça negra.
DRUMOND & RICHARD (1968) descreveram que o negro teria a tendência
a ser dolicofacial com biprotrusão dentária e anteriorização da maxila.
RICHARDSON (1980) realizou estudo, em
população de negros
americanos; analisando seus traços faciais em comparação a outros grupos
étnicos. Observou características cefalométricas específicas com tendência a
ser dolicofacial, com a base do crânio mais aberta e a maxila mais
anteriorizada.
HUDSON & HOLBROOK (1981) descreveram
que falantes negros, se
comparados a falantes brancos de mesmo sexo e idade, apresentavam em
geral, freqüência fundamental modal média mais grave e maiores inflexões
vocais em torno desta durante leitura e fala espontânea, principalmente, em
direção aos agudos.
LASS, TRAPP, BALDWIN, SHERBICK, WRIGHT (1982) realizaram estudo
perceptivo no julgamento distintivo entre falantes negros e brancos durante a
emissão de sentenças padronizadas. Tais sentenças eram emitidas de três
maneiras: forma habitual; imitando falante do sexo oposto; imitando falante da
raça oposta.
Para a análise perceptiva das amostras vocais, utilizaram ouvintes
experientes que identificaram diferenças entre as raças em 50% dos casos
reforçando, desta forma, a existência de variações interraciais.
STEINSAPIR, Forner, Stemple (1986) mencionaram significativa tendência
a desvios de “jitter” em vogal prolongada de crianças negras, se comparadas a
crianças brancas.
BAKEN (1987), em seus estudos, demonstrou terem os negros americanos,
freqüência fundamental mais grave
e com maior variabilidade do que os
caucasianos.
MAYO (1990) observou significativa diminuição das frequências dos
formantes das vogais /a/, /i/, /u/ em sujeitos negros de mesmo sexo, idade,
estatura física, condições sócio-econômicas, nível educacional e dialeto que
brancos.
LA ROUCHE & CESARINI (1992) buscaram verificar fatores fisiológicos e
histológicos que caracterizassem
a pele negra, sem abordar patologias
específicas. O autor observou ter o negro um extrato córneo mais compacto,
o que conferiria maior permeabilidade cutânea e epiderme menos hidratada.
WALTON & ORLIKOFF
(1994), em estudo com brancos e negros
americanos oriundos de uma mesma região, referiram que ouvintes treinados
e não treinados puderam identificar a raça dos falantes com 60% de acerto, a
partir de uma amostra de vogal sustentada afim de eliminar a influência do
dialeto. Hipotetizou-se que a principal pista perceptiva seria a presença de
ruído durante a fonação de indivíduos negros. Os autores, realizando a análise
das mesmas amostras vocais, identificaram a presença de
“shimmer” em
“jitter”
e
normalidade “boderline” nos negros, além de evidenciarem menor
proporção harmônico ruído. As medidas de freqüência fundamental
e
estrutura do
formante não apresentaram diferenças significativas. Entretanto, o autores
levantaram a possibilidade de haver variações na distribuição de energia nos
harmônicos que justificariam as diferenças de “pitch”.
MAYO & GRANT (1994) relataram diferenças significativas entre a
freqüência dos formantes de vogais emitidas por brancos e negros, nas quais,
especialmente, os três primeiros formantes se apresentaram
significativamente mais rebaixados.
DUSTAN (1995), buscando melhor compreensão das causas da
diferenciação do crescimento celular em negros, realizou um estudo sobre a
patogênese do quelóide , tumor benigno resultante de trauma mais
comumente encontrado na pele de negros. Esclareceu, que tal patologia
desenvolve-se mais nesta raça, por apresentar excessiva quantidade de
colágeno e fibronectina na epiderme em comparação a outras raças.
KOUFMAN, RADOMSKI, JOHARJL, RUSSELL, PILLSBURY (1996)
realizaram estudo comparativo entre o nível de tensão muscular em vários
estilos musicais e observaram fenda glótica posterior em grande parte dos
cantores negros, além de maior tensão muscular nos estilos musicais,
predominantes desta cultura, como o “gospel e bluegrass”.
RYALLS, ZIPPRER & BALDAUFF (1997) verificaram tendência a um “
voice onset time” mais negativo em falantes negros americanos em relação a
falantes
brancos.
SAPIENZA (1997) em medidas de variação do fluxo glótico, fluxo glótico
mínimo, coeficiente de abertura do fluxo aéreo, declinação média do fluxo
máximo e medidas acústicas de freqüência fundamental e nível de pressão
sonora em negros americanos, não detectou diferenças significativas em
relação aos brancos, com excessão da medida de declínio de fluxo máximo
que apresentava-se maior em brancos. A autora relatou ter o negro a mucosa
das pregas vocais mais espessa.
CANBAY & BHATIA (1997) observaram menor resistência nasal ao fluxo
aéreo em negros.
DISCUSSÃO
A caracterização de uma raça abrange, entre outros aspectos ,a descrição
de sua conformação física que apresenta íntima relação com a configuração
do aparato vocal e suas inúmeras performances sonoras, o que justifica a
existência da diferenciação vocal interrracial possibilitando o julgamento
distintivo entre falantes brancos e negros (LASS e col., 1982; WALTON &
OLIKOFF, 1994).
A raça negra é, freqüentemente, apontada por suas inúmeras contribuições
à música. A diversidade de ritmos somada a vozes tão peculiares fizeram do
canto negro um canto expressivo e de destaque no mundo. A voz do negro
costuma ser diferenciada das demais raças por muitos devido a suas
características perceptivas e acústicas peculiares, porém poucos foram
aqueles que se dedicaram a explicar as causas destas diferenças.
O “pitch” rebaixado foi característica pertinente citada por vários autores
(BERNSTEIN, 1932; BOSHOFF, 1945; HUDSON & HOLBROOK, 1981;
BAKEN, 1987;
MAYO, 1990; MAYO & GRANT,1994) podendo ser
conseqüência de modificações na fonte glótica , no trato vocal ou em ambos.
A
menor freqüência fundamental nos negros observada por HUDSON &
HOLBROOK,1981; BAKEN, 1987;
MAYO,1990; MAYO & GRANT,1994,
poderia ser justificada pelo maior comprimento e espessura das pregas vocais
encontrados nos negros, segundo achados de BOSHOFF (1945).
Além disto, o trato vocal do negro é constituído por cavidades maiores
devido à presença de lábios evertidos (KINENBERG, 1966),
tendência a
biprotrusão dentária e tipologia dolicofacial (DRUMOND & RICHARD, 1968);
maxila anteriorizada (RICHADSON, 1980) e cavidade nasal ampla (CANBAY &
BHATIA, 1997). Tais aspectos são compatíveis com uma maior ressonância
de harmônicos graves (PINHO, 1998) e formantes rebaixados nesta raça
resultando na percepção de voz com menor “pitch”. Este resultado é
congruente com os achados acústicos obtidos por GRANT & MAYO (1994).
O “loudness” aumentado é outra característica atribuída a voz do negro
(BOSHOFF, 1945) podendo estar vinculado à
maior adução das pregas
vocais. Este comportamento glótico poderia ser explicado pelas variações
anatômicas, descritas pelo mesmo autor, presentes na raça negra. Entre elas ,
musculatura laríngea mais vigorosa e mais larga com inserções musculares
mais complexas, cartilagem tireóide mais flexível, propiciando, possivelmente,
a maior adução glótica o que contribui com o aumento da pressão subglótica.
Entretanto, seria importante questionar, se o maior “loudness” não poderia ser
justificado também pelo incremento de energia dos harmônicos ocasionado
pela presença de cavidades ressonantais maiores como já referimos
anteriormente
(KINENBERG,
1966;
DRUMOND
&
RICHARD,
1968;
RICHADSON, 1980; CANBAY & BHATIA, 1997).
SAPIENZA (1997) realizando pesquisa, na qual compara as características
aerodinâmicas e acústicas de amostras vocais de negros e brancos
americanos,
pode constatar maiores valores do declínio máximo do fluxo nos brancos do
que nos negros. Este fato, porém, é incompatível com os achados de maior
intensidade vocal e maior firmeza glótica na raça negra (BOSHOFF, 1945) uma
vez que, segundo SCHERER (1991), certas características anatômicas como
maior tamanho e espessura das pregas vocais que, possivelmente estariam
presentes no negro, resultariam no aumento do declínio do fluxo máximo e
não na sua diminuição conforme afirma SAPIENZA (1997).
Contudo, SAPIENZA (1998) descreve também que a medida de declínio
máximo do fluxo pode ser usada para definir hipo ou hiperfunção nas
configurações glóticas e deste modo nas hipofunções, se nenhuma estratégia
compensátoria existir, tal medida seria prevista como rebaixada pela
inabilidade de fechamento glótico. Já, nos casos hiperfunção, o que poderia
estar ocorrendo nos negros, esta medida não seria previsível, uma vez que
ocorrendo um aumento da rigidez das pregas vocais ela também poderia ser
rebaixada. Deve-se levar em consideração ainda que, poucas pesquisas
foram feitas em relação à anatomia da laringe do negro, sendo que no trabalho
de referência (BOSHOFF,1945), o
autor ao relatar ter os negros pregas
vocais maiores, não diferencia a porção membranosa da porção cartilaginosa,
além disto, sua
amostra foi constituída por negros africanos sem o efeito da miscigenação
observada no estudo realizado por SAPIENZA (1998).
O “voice onset time” diferiu também entre negros e brancos apresentandose mais negativo nos primeiros (RYALLS, ZIPPRER, BALDAUFF, 1997). Este
achado parece estar relacionado à forte adução glótica mencionados por
BOSHOFF(1945), KOUFMAN e col. ( 1996). Contudo, devemos ressaltar que
o dialeto diferenciado dos negros poderia estar influênciando neste parâmetro
acústico, uma vez que o estudo referido foi realizado levando em
consideração apenas negros americanos.
Outra ressalva feita seria em relação a qualidade vocal do negro, geralmente
entremeada por ruídos vocais caracterizando-a como uma voz levemente
rouca, soprosa ou áspera. A hipótese levantada por OLIKOFF e WALTON
(1994)
para seus estudos é que talvez a principal pista perceptiva para
identificação da voz do negro fosse a presença de ruído, durante a fonação.
Estes dados corroboram com os dados acústicos relatados por STEINSAPIR,
FORNER, STEMPLE (1986) que identificaram um aumento das medidas de
“jitter” e “shimmer”, embora ainda dentro da normalidade, de amostras vocais
de negros.
Em um estudo relalizado por KOUFMAN, RADOMSKI, JOHARJL,
RUSSELL, PILLSBURY (1996) observou-se maior tensão muscular e vocal,
nos estilos musicais predominantes da raça em questão, sendo frequente a
presença de
fenda posterior na configuração glótica. SAPIENZA (1996) parece confirmar a
presença
de
fenda
glótica
quando
compara
medidas
acústicas
e
aerodinâmicas entre vozes de brancos e negros americanos e encontra
valores para o fluxo mínimo maiores para os negros, mesmo não sendo
estatísticamente significativos. Este achado glótico parece justificar a
percepção de qualidade vocal soprosa.
ISSHIKI (1980) descreveu que fendas glóticas, em geral, poderiam causar
irregularidades vibratórias. Este estudo poderia justificar a rouquidão detectada
na voz dos negros que frequentemente apresentou fenda posterior à
laringoscopia (KOUFMAN e col., 1996).
A qualidade vocal áspera apresenta como correlatos fisiológicos a rigidez
de mucosa ou rigidez de sistema referida por PINHO (1998). Na raça negra, o
que parece elucidar a qualidade vocal áspera seria a rigidez de sistema em
consequência à excessiva adução glótica (BOSHOFF, 1945).
LA ROUCHE & CESARINI (1992) identificaram maior desidratação da
epiderme do negro. Em outro estudo, DUSTAN (1995) relatou ter o negro
excessiva quantidade de colágeno e fibronectina na epiderme. Estes achados
nos fazem questionar, se estas
diferenças na epiderme especialmente
relativas à desidratação, não poderiam estar presentes no revestimento das
pregas vocais. Tal correlação, se procedente, adicionaria justificativas à
qualidade vocal
áspera, encontrada nesta raça, e aos parâmetros acústicos de “jitter” e
“shimmer” aumentados, possivelmente, devido a menor hidratação da mucosa
(VERDOLINE, TITZE, FISHER, GARDNER, 1997; SCHNEIDER, 1997).
Merece também destaque, a ausência do músculo ariepiglótico na raça
negra (BOSHOFF, 1945). Este músculo é responsável pela composição do
esfíncter ariepiglótico (ESTILL, 1986) que está preso anteriormente na
epiglote, posteriomente na cartilagem aritenóide e, lateralmente, na Cartilagem
de “Wrisberg” e músculo ariepiglótico. Acredita-se ser este esfíncter
responsável pela qualidade sonora metalizada, comumente encontrada nos
cantores de “belting”, “twang” e “ópera” (YANAGISAWA, ESTILL, KMUCHA,
1989) e acusticamente identificada como formante do cantor, incremento de
energia em regiões mais altas do espectro que propicia à voz projeção e
volume (SATALOFF, 1997).
O estudo realizado por BOSHOFF
(1945) descreve outras junções
e
variações musculares, presentes na laringe do negro que possivelmente
poderiam realizar a função exercida pelo músculo ariepiglótico. Na literatura,
não foi encontrado nenhuma referência sobre a existência do formante do
cantor em negros.
Vale ressaltar ainda, que o presente trabalho não contou com pesquisa em
campo, o que nos faz sugerir maiores estudos, afim de se obter dados
quantitativos possibilitando confirmar as hipóteses levantadas.
CONCLUSÕES
O presente trabalho pode concluir que:
- A voz do negro parece revelar um “pitch” mais rebaixado, “loudness”
aumentado e qualidade vocal ,levemente, rouca, áspera ou soprosa. Estes
aspectos vocais teriam seus correspondentes fisiológicos, anatômicos e
acústicos.
- As características vocais e anatômicas mencionadas parecem ser mais
marcantes nos negros africanos do que nos negros americanos. Estas
variações talvez possam ser justificadas pelos efeitos da miscigenação,
dialetos diferentes e características particulares de cada grupo.
- Questionamos se a ausência do músculo ariepiglótico encontrada em
negros implicaria na ausência do formante do cantor.
- Questionamos se a reduzida participação da raça negra no estudo do
canto lírico estaria, apenas, relacionada a questões culturais e econômicas ou
seu material vocal caracterizado pela presença de certa aspereza que não
teria o refino exigido por este estilo.
- Conhecer os mecanismos fisiológicos e correlacioná-los com os dados
perceptivos e acústicos torna-se fundamental para compreender as diferenças
entre as raças, especialmente, a raça negra que é diferenciada por sua voz de
extrema beleza.
RESUMO
Referida como uma voz cheia, potente, grave e de perfil característico, a
voz do negro se difere na população e é, freqüentemente, apontada por sua
beleza.
Este trabalho teve como objetivo correlacionar as características
perceptivas e acústicas com os achados fisiológicos, descritos na literatura, a
partir de um levantamento bibliográfico, na tentativa de esclarecer as causas
da diferenciação vocal na raça negra. Tais correlações parecem proceder
caracterizando a produção vocal na raça negra. Contudo, elas parecem mais
evidentes nos negros africanos se comparado aos negros americanos o que
poderia ser justificada pelos efeitos da miscigenação, dialetos diferentes e
características particulares de cada grupo.
Deste modo, maiores pesquisas são necessárias para a obtenção de
dados quantitativos afim de se sancionar as correlações feitas.
SUMMARY
The voices of people of African descent are generally considered fullbodied, powerful, deep, and, frequently, incredibly beautiful.
The objective of this study is to correlate the perceptual and
acousticcharacteristics of these voices with the physiological findings
described in the literature in an attempt to clarify the causes of the vocal
differentiation of people of African descent. Such correlations seem to affect
the configuration of the vocal production of this group, yet they seem to be
more evident in Africans themselves when compared to African Americans.
This may be due to the effects of miscegenation, the different dialects spoken
and the particular characteristics of each group.
Thus, further research is required to obtain the quantitative data
necessary to confirm said correlations.
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JANAÍNA PIMENTA DE OLIVEIRA A VOZ DO NEGRO