BAINHA DE SEGURANÇA PARA FERRAMENTAS MANUAIS UTILIZADAS NO CORTE DA CANA-DE-AÇUCAR SAFETY LINER FOR HAND TOOLS USED IN CUTTING OF CANE SUGAR Queiroz, Frederico R. C. de; Engenheiro de segurança do trabalho, mestrando em Design, PPG Design – FAAC/UNESP-Bauru-SP, [email protected] Santos, João E. G. dos; PhD Professor livre-docente do depto de Eng. Mecânica UNESP FEB - Bauru - SP [email protected] Resumo A agricultura é considerada pela Organização Internacional do Trabalho – OIT como uma das atividades profissionais de maior risco, equiparando-se à construção civil e à exploração do petróleo. O Ministério do Trabalho não certifica a bainha como um EPI. O objetivo deste trabalho foi sugerir uma bainha (capa protetora) para ferramentas manuais, utilizadas no corte da cana-de-açúcar, para eliminar os acidentes no seu armazenamento, transporte, comercialização e quando solicitado para sua utilização. Podemos afirmar que a bainha de segurança para lâminas cortantes proposta neste trabalho atende as exigências da NR-31 e NR-6, dando total segurança ao trabalhador e podendo vir a receber CA do ministério do trabalho. Palavras Chave: bainha; segurança; agricultura. Abstract Agriculture is considered by the International Labour Organization - ILO as one of the professional activities of higher risk, equating to the construction and operation of oil. The Labor Department does not certify the sheath as PPE. The objective was to suggest a sheath (protective covering) for hand tools used in cutting sugar cane in order to eliminate accidents in storage, transport, marketing and when prompted for your use. We can affirm that the sheath cutting blades for safety proposed in this paper meets the requirements of NR-31 and NR-6, giving full security to the worker and could expect to receive the ministry of labor CA. Keywords: Hem; security; agriculture. BAINHA DE SEGURANÇA PARA FERRAMENTAS MANUAIS UTILIZADAS NO CORTE DA CANA-DE-AÇUCAR 1 INTRODUÇÃO Segundo a Organização Mundial da Saúde – OMS (1994), “a cada 3 minutos morre um trabalhador, em alguma parte do mundo, vítima de acidente de trabalho”. Neste sentido, a agricultura é considerada pela Organização Internacional do Trabalho – OIT como uma das atividades profissionais de maior risco, equiparando-se à construção civil e à exploração do petróleo. No Brasil existem cerca de 35 milhões de trabalhadores no setor agrícola. Segundo a Fundacentro, cerca de 64% das operações de risco na agricultura estão ligadas às atividades de colheita e tratos culturais, onde se registram 56% dos acidentes. Entre os principais fatores causadores de acidentes, estão os equipamentos manuais. Todos os estudos e dados obtidos com relação a acidentes do trabalho, estão relacionados à utilização das ferramentas manuais no ato do trabalho. Alguns autores como Antenor Pelegrino (1988) e José Luis Viana do Couto (2006) sugerem cuidados no transporte e armazenamento de ferramentas manuais com a utilização de bainhas (capa protetora) para ferramentas de corte. Porém, não são todos os locais de comercialização que oferecem este item, e quando possuem, se restringem a poucos modelos ou tamanhos. 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Na pré-história, em torno de 12000 A.C., começaram a surgir as primeiras formas de agricultura (domesticação de espécies vegetais) e pecuária (domesticação de animais), junto com a formação das primeiras aldeias agrícolas. Nesse período, o uso do fogo e de algumas ferramentas, assim como do esterco animal, passou a fazer parte do cotidiano dos aglomerados urbanos, os quais deram origem às cidades (De Jesus, 1996). A devastação das vegetações litorâneas brasileiras iniciou-se com os colonizadores europeus desde o século XVI, com a exportação do pau-brasil como matéria-prima para tingir tecidos. Posteriormente, essa devastação continuou devido às culturas de exportação (“plantations”) como a cana-de-açúcar seguida pela pecuária extensiva, passando pelos ciclos do ouro até chegar à exploração do café. Toda a economia era voltada para a exportação. Um continente com terras inexploradas a milhões de anos seria extremamente fértil a qualquer tipo de exploração agrícola, conforme escreveu Pero Vaz de Caminha : “...em se plantando tudo dá...” (De Jesus, 1996). Atualmente, a agroindústria canavieira emprega um milhão de brasileiros no corte da cana-de-açúcar, sendo que mais de 80% do que colhido é cortado à mão, segundo a União da 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design BAINHA DE SEGURANÇA PARA FERRAMENTAS MANUAIS UTILIZADAS NO CORTE DA CANA-DE-AÇUCAR Agroindústria Canavieira de São Paulo (ÚNICA, 2003). O corte da cana é precedido da queima da palha da planta, o que torna o trabalho mais seguro e rentável para o trabalhador. Nenhuma planta possui açúcar em tão grande quantidade como a cana-de-açúcar. Esta contém cerca de 90% de suco, do qual pode-se extrair de 10 a 20% de açúcar (MARAFANTE, 1993). O Brasil é o maior produtor mundial de cana-de-açúcar, seguido pela Índia e Austrália. Em média, nas últimas cinco safras, 52% dessa produção destinaram-se às fábricas de etanol (anidro e hidratado) e 48% às de açúcar (refinado, cristal e demerara). Sua cultura espalha-se pelo Centro-Sul e pelo Norte-Nordeste do país em dois períodos de safra (maio a novembro e de setembro a março), ocupando 2,4% da área agriculturável do solo brasileiro, perto de 5,5 milhões de hectares (ÚNICA, 2004). O Estado de São Paulo produz 60% da cana-de-açúcar e teve na safra 2003/2004 o seguinte desempenho: 207,871x106 toneladas de cana moída e produção de 15,171x106 toneladas de açúcar e 8,807x106 m3 de etanol total (fonte: IEA-Instituto de Economia Agrícola de São Paulo / ÚNICA). 2.1 Acidentes com ferramentas manuais de corte O maior número de acidentes na cultura da cana-de-açúcar ocorre durante a atividade do corte manual. Mesmo que, para ser encaminhada ao setor industrial da usina, envolva inúmeras atividades pós-corte, como por exemplo, o enleiramento ou amontoamento e o carregamento. Os equipamentos manuais estão entre os principais fatores causadores de acidentes. Somente o uso do facão é responsável por 65% das ocorrências de acidentes registradas. No corte manual da cana-de-açúcar, por exemplo, o trabalhador rural está sujeito a uma série de riscos de acidentes, próprios da operação, dos quais pode-se destacar: cortes nas mãos, pernas e pés, provenientes da utilização do facão, foice ou podão, além de lombalgias, dores musculares, lesões oculares, irritação da pele, quedas e ferimentos (COUTO, 2006). 2.2 Uso de bainha nas ferramentas manuais de corte O ministério do trabalho e emprego possui a cartilha do trabalhador rural (Lei 5.889 de 08/06/1973 e decreto 73.626 de 12/02/1974), onde no item- ferramenta, determina: “Gratuitas, seguras, eficientes, cabos aderentes e em perfeito estado de uso. As que possuem corte devem estar afiadas e guardadas em bainhas.” De acordo com a Norma Regulamentadora Rural (NRR-4) de 12/04/1988 – especifica-se no item 4.1 os Equipamentos de proteção individual (EPI): “Considera-se EPI, para fins de 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design BAINHA DE SEGURANÇA PARA FERRAMENTAS MANUAIS UTILIZADAS NO CORTE DA CANA-DE-AÇUCAR aplicação desta Norma, todo dispositivo de uso individual destinado a preservar e proteger a integridade física do trabalhador”. Na NR-31 (Norma regulamentadora que vem para atualizar e substituir as NRR’s) de 03/03/2005 –Segurança e saúde no trabalho, na agricultura, pecuária, silvicultura, exploração florestal e aqüicultura, especifica-se no item 31.11: Ferramentas manuais; sub-item 31.11.4 as ferramentas de corte devem ser: A) guardadas e transportadas em bainha; B) mantidas afiadas. O transporte de ferramentas deve ser feito com bastante responsabilidade e nunca devem ser transportadas junto a pessoas. Em hipótese alguma o trabalhador pode carregá-las nos bolsos, na cintura e demais partes do corpo. O correto é transportálas em sacolas, caixas ou bolsas de lona. Ferramentas de corte ou pontudas, como facas, machados, serrotes ou punções, devem ser guardadas em bainhas, o que garante uma melhor conservação das mesmas e elimina o risco de acidentes (PELEGRINO, 1988; COUTO, 2006). Analistas da Fundação Seade/Fundacentro fizeram uma pesquisa sobre acidentes no trabalho rural no interior paulista em 2001. Nas 115 agências do INSS do interior paulista, levantou-se que 58.204 acidentes do trabalho foram ocorridos em área rural, no período entre 1997 e 1999. Foi realizada coleta manual nos arquivos do INSS, por meio do rastreamento de todos os processos existentes, identificando e selecionando os acidentes do trabalho registrados na Comunicação de Acidente do Trabalho – CAT. Neste estudo, observou-se que cerca de 49,9% dos acidentes-tipo foram causados por ferramentas de trabalho, entre elas o facão e o podão, as quais são utilizadas, sobretudo, pelos cortadores de cana-de-açúcar, com força e de forma precisa. De acordo com Teixeira e Freitas (2001), 44,3% dos acidentes ocorrem com objetos cortantes/contundentes e 11,7% são causados por traumatismos ou lesões devido a instrumentos de trabalho. Gonzaga (2002), pesquisadora da divisão de ergonomia da fundacentro, analisou o uso de equipamentos de proteção individual e das ferramentas de trabalho durante a execução da atividade do corte manual da cana-de-açúcar. A metodologia adotada constou de reuniões entre representantes da fundacentro, do Sindicato dos Empregados Rurais de Araraquara (cidade do interior de São Paulo) e da empresa Usina Santa Cruz, durante todo o período de negociação tripartite, durante o período de execução do estudo. De acordo com a autora, para a escolha dos EPI, torna-se importante considerar a proteção oferecida pelo equipamento bem como o conforto e mobilidade para os 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design BAINHA DE SEGURANÇA PARA FERRAMENTAS MANUAIS UTILIZADAS NO CORTE DA CANA-DE-AÇUCAR trabalhadores, pois o uso satisfatório de qualquer produto está relacionado à eficácia em interface com os usuários dos mesmos. Através deste estudo, a autora (GONZAGA, 2002) sugere que haja o envolvimento dos fabricantes e instituições de pesquisa para testes em projetos ergonômicos que objetivem projetar estes produtos, respeitando detalhes referentes ao conforto e a segurança. Na concepção de produtos de segurança é importante: selecionar os materiais apropriados para o processo de fabricação; definir dimensões ergonômicas básicas do produto e componentes; construir modelo ou protótipo; testar a concepção; verificar pontos ergonômicos fracos e corrigi-los (DIAS et al, 2000). Tecnologias novas têm sido utilizadas no setor rural, promovendo a mecanização do corte da cana-de-açúcar. Alguns estudos sugerem que o uso de mais tecnologia na colheita da cana poderia beneficiar a saúde do trabalhador rural, eliminando a insalubridade, a periculosidade e a penosidade nas frentes deste tipo de trabalho, além de trazer inúmeras vantagens econômicas e ambientais (SCOPINHO et al., 1999). Finalmente, é válido destacar que os resultados desta investigação confirmam as hipóteses levantadas por Scopinho et al. (1999), apontando que a mecanização tem trazido importantes mudanças nas relações e condições de trabalho na lavoura canavieira. Porém, tais mudanças não têm logrado melhorar substancialmente as condições de vida e de trabalho dos assalariados rurais canavieiros. Como a colheita manual de canaviais sem queima prévia é inviável, alguns apregoam que tal operação possa ser realizada com o auxílio de máquinas, o que na realidade pode ser feito com restrições. É necessário lembrar que a cana-de-açúcar produz matéria-prima em quantidade que, não raro, ultrapassa o valor de 150 toneladas por hectare e nessa mesma área, descarta-se 30 toneladas de resíduos a cada safra. Não é tarefa simples processar tamanha quantidade de material. Essa matéria-prima possui grande quantidade de açúcar e quando colhida por colhedoras aumenta muito a possibilidade de deterioração, devido à maior área de exposição e conseqüentemente contaminação (SCOPINHO, et al., 1999). As dificuldades enfrentadas na colheita de cana-de-açúcar qualificam a operação agrícola como uma atividade muito complexa. Sua realização e planejamento estão envolvidos com inúmeros fatores relacionados o comportamento biológico da cultura até o momento em que a matéria-prima está na indústria, pronta para a moagem. Entre estes extremos, há que se considerar fatores como o relevo da região, legislação ambiental e de transporte, condições viárias de estradas, recursos disponíveis para aquisição de equipamentos e capacidade de processamento da indústria. Além disso, as condições climáticas podem, repentinamente, fazer com que todo plano seja revisto (LOPES, 1992). 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design BAINHA DE SEGURANÇA PARA FERRAMENTAS MANUAIS UTILIZADAS NO CORTE DA CANA-DE-AÇUCAR Apesar das necessidades da maioria das fábricas de açúcar serem a mesma, a cultura se dá, ao redor de todo o planeta, em áreas de variado relevo e condições climáticas e com isso são criados inúmeros sistemas de colheita, os quais apresentam características extremamente adversas. Mais do que qualquer prática agronômica na cultura canavieira, o sistema de colheita é intrinsecamente casualizado ao nível de cada agroindústria (MEYER & RICHARD, 1996). 3 PROPOSTA DE PESQUISA A proposta desta pesquisa foi criar uma bainha como um EPI obrigatório para as ferramentas manuais de corte. Para isto, foi desenvolvido um modelo de bainhas para facão, foice, podão e machadinha utilizada por trabalhadores rurais da região de Jaú. Este estudo torna-se importante uma vez que o fornecimento da bainha de proteção não é item obrigatório aos fabricantes de ferramentas, dificultando sua aquisição no mercado devido à variedade de modelos e tamanhos, conforme mostra as Figuras 1 e 2. Figura 1 - Ferramentas de lâminas cortantes Figura 2 - Ferramentas de lâminas utilizados no corte de cana-de-açúcar cortantes com as bainhas propostas 3.1 Material e métodos Esta pesquisa experimental foi desenvolvida através de raciocínio dedutivo, com dados colhidos em modelos pré-existentes de bainhas para facão, foice, podão e machadinha e análise das condições de utilização destes pelos trabalhadores rurais. Todos os modelos de bainha foram desenvolvidos e fabricados na Empresa Fibrapeli. 3.1.1Sujeitos (casuística) Foram observados trabalhadores rurais da usina Santa Cândida que fazem corte manual da cana-de-açúcar. 3.1.2 Bainha de segurança Foram desenvolvidos 2 tamanhos de bainha de segurança para ferramentas manuais utilizadas no corte da cana-de-açúcar da região de Jaú. 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design BAINHA DE SEGURANÇA PARA FERRAMENTAS MANUAIS UTILIZADAS NO CORTE DA CANA-DE-AÇUCAR As bainhas de segurança foram fabricadas com material de raspa de couro, respeitando a norma ABNT NBR 13712-1996, aprovada pelo IPT de Franca em 23/08/2002 sob o CA 12.487. 3.1.3 Desenho Industrial para fabricação da bainha de segurança A bainha de segurança foi confeccionada em couro raspa e/ou vaqueta, possuindo botões de pressão e/ou velcro para fechamento e acondicionamento das lâminas. É do tipo carteira, constituindo-se em um equipamento de proteção individual – EPI, tendo como principal consumidor o mercado canavieiro. O corpo da bainha é dividido em três planos: A, B e C, com formato de um polígono, com quatro lados, os quais apresentam medidas e ângulos diferentes, lembrando um trapézio. Os lados da figura geométrica podem sofrer variações, proporcionando formato côncavo ou convexo, de forma a acomodar e assegurar as lâminas cortantes das ferramentas. Os planos A e B são interligados em um de seus lados através de costura, em nylon ou algodão, de modo que o outro lado fique aberto. Já o plano C é responsável pelo fechamento da bainha, originando o formato tipo carteira conforme pode ser observado na Figura 3. Figura 3 -. Bainha de segurança proposta Embora sejam apresentadas algumas variantes construtivas ou configurativas do produto, as quais são: uso alternativo de velcro e botão de pressão, ou uma combinação deles, bem como uma pequena variação nas medidas dos lados e ângulos do trapézio proporcionado uma Figura côncava ou convexa, vale ressaltar que é mantida a unidade técnico-funcional e corporal do produto. A bainha apresenta grande distinção quando comparada com qualquer outro produto similar conhecido até o momento. Possui características distintivas preponderante, 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design BAINHA DE SEGURANÇA PARA FERRAMENTAS MANUAIS UTILIZADAS NO CORTE DA CANA-DE-AÇUCAR singularidade, tecnologia inovadora e original, com princípios diferenciados em relação aos demais. As bainhas encontradas no mercado apresentam o formato das lâminas das ferramentas, ou seja, triangular. Na armazenagem das ferramentas de corte o usuário fica facilmente exposto a acidentes. Levando em consideração as desvantagens apresentadas pelas bainhas atualmente existentes, esta bainha poderá ser a solução para os problemas de acidentes e de manuseio das ferramentas cortantes, devido ao seu formato de carteira, acondicionando seguramente e facilmente as lâminas cortantes das ferramentas. 3.1.4 Material utilizado Para a fabricação das bainhas de segurança, foram usados os seguintes equipamentos: • Rebaixadeira de couro modelo svit; • Faca de corte para balancinho; • Balancinho da marca Klein; • Máquina de costura da marca Sun Special, modelo SS-810; • Máquina fotográfica digital Sony, modelo DSC-W50; • Couro wet Blue de raspa; • Produtos químicos (bicarbonato de sódio, óleo vegetal sulfatado, sebo de origem animal); • Fulão de experiência de bater couro; • Linhas de algodão e nylon; • Botões de pressão e velcro; Todos os equipamentos estão à disposição na Empresa Fibrapeli, localizada na Rua Cerqueira Cezar, 597 na Cidade de Bocaina – SP 3.1.5 Etapas de fabricação da bainha de segurança 3.1.5.1 Engraxe do couro No curtume, a raspa wet blue foi rebaixada com o auxílio de rebaixadeira de 1200mm de modo que sua espessura passou a ser uniformemente de 1,4 a 1,8mm Após rebaixamento, foram colocadas três peles em um fulão de experimento para seu engraxe. como demonstra a Figura 4. Junto com as peles foram adicionadas 200% de água e 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design BAINHA DE SEGURANÇA PARA FERRAMENTAS MANUAIS UTILIZADAS NO CORTE DA CANA-DE-AÇUCAR 3% de bicarbonato de sódio. Estes foram batidos por 20 minutos, para elevar o PH de 3,2 (raspa wet blue) para próximo de 6,2. Após os 20 minutos, o fulão foi aberto para adicionar 8% de óleo vegetal sulfatado e 6% de sebo animal emulgado, e batido mais 40 minutos. Figura 4 – Fulão de experiência Após os 40 minutos, o couro foi descarregado e secado em um varal a sombra para, posteriormente, ser batido em fulão a seco por uma hora e meia para abertura de suas fibras, tornando a raspa mais macia e maleável . O engraxe nutre o couro dando resistência e proporcionando a sensação de vellour a pessoa que o toca. Se este material não for engraxado de forma correta, o PH não será neutralizado, o que deixa o material seco e desnutrido, perdendo, assim, sua resistência mecânica e sensação de maciez. Deste modo, o material deve ser aprovado com normas que lhe propiciem a garantia de sua eficácia. Lembrado que isto será somente aceito pelo ministério do trabalho e emprego desde que ele seja feito em uma instituição credenciada. 3.1.5.2 Corte e costura da Bainha A raspa, em sua forma final de utilização, foi cortada em um balancinho hidráulico (Figura 5), tomando-se o cuidado de ser sobre um cepo de madeira e com uma superfície de polietileno, para que não estrague o corte das facas que serão as matrizes. Todo procedimento foi realizado por um profissional qualificado, já que o balancinho possui um fechamento de 5 toneladas. Este equipamento é acionado somente quando o 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design BAINHA DE SEGURANÇA PARA FERRAMENTAS MANUAIS UTILIZADAS NO CORTE DA CANA-DE-AÇUCAR trabalhador aperta as duas abotoeiras. Deste modo, as duas mãos permanecem fora do local de corte faca (Figura 5). Figura 5 – Balancinho para o corte da raspa de couro. Após o corte do couro, sua lateral foi costurada e o velcro colocado, com o auxílio de uma máquina de costura industrial Quando o fechamento da bainha for somente de botão de pressão, não é necessária a costura do velcro, somente de sua lateral. Após sua costura e colocação dos botões de pressão (quando desejado), a bainha está pronta para o seu uso, conforme mostra figura 6. Figura 6 – Bainhas de segurança prontas. 3.1.6 Ambiente do teste O acompanhamento dos trabalhadores rurais foi junto com ônibus da empresa Arotur que presta serviço de Transporte a Usina Santa Cândida A análise da necessidade da utilização das bainhas de segurança em ferramentas manuais foram feitas com o acompanhamento de um dia de trabalho dos cortadores de cana-de-açúcar na cidade de Bocaina (São Paulo). Através de registro fotográfico foram avaliados as condições de transporte e armazenamento das ferramentas manuais até o momento de sua utilização, e o retorno do mesmo após o término do trabalho. 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design BAINHA DE SEGURANÇA PARA FERRAMENTAS MANUAIS UTILIZADAS NO CORTE DA CANA-DE-AÇUCAR 3.1.7 Análise dos dados A análise da confiabilidade da bainha foi feita através do modelo proposto observando necessidade da mesma no ambiente de trabalho, pelos dados fotográficos adquiridos na pesquisa de campo. 4 – RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1Ambientes de risco 4.1.1 No campo Foi detectado que as ferramentas de corte muitas vezes não possuem proteção adequada ao serem acondicionadas (Figura 7). Freqüentemente, as ferramentas utilizadas não garantem confiabilidade, pois não passam por vistorias de qualidade e aprovação em sua fabricação. Figura 7 – Ferramenta de lâmina cortante acondicionada incorretamente. Os cortadores ficam constantemente expostos às ferramentas cortantes em seu ambiente de trabalho, mesmo durante as refeições, pois na maioria das vezes permanecem longe do veículo de transporte, tendo que levar consigo tudo que necessitam, inclusive suas ferramentas. Pessoas que trabalham em outras atividades no local de colheita, também tornam-se alvo de prováveis acidentes, mesmo não estando diretamente ligados a atividade com as ferramentas cortantes. 4.1.2 No transporte dos trabalhadores Apesar de muitas vezes estarem atendendo as exigências da NR-31, percebe-se que não há uma total conscientização ao tamanho do risco que essas pessoas se encontram. È comum encontrar ferramentas de corte sem devida proteção em seus caminhos de trabalho e nos momentos de descanso. 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design BAINHA DE SEGURANÇA PARA FERRAMENTAS MANUAIS UTILIZADAS NO CORTE DA CANA-DE-AÇUCAR As ferramentas cortantes são transportadas em maleiros, mas muitas não possuem acondicionamento de proteção segura, podendo ocasionar acidentes durante o descarregamento, a abertura do maleiro ou um casual acidente do veículo (Figura 8). Figura 8 – Ferramentas de lâmina cortantes no maleiro do ônibus de transporte rurais Apenas o isolamento das ferramentas não é o suficiente se elas não possuírem proteções adequadas. 4.1.3 No transporte da cana-de-açúcar Após a colheita da cana-de-açúcar, o risco de um acidente com ferramenta cortante não é eliminado. As ferramentas são transportadas junto ao veículo, sem proteção individual colocando em risco os trabalhadores, motoristas e pessoas que trafeguem nas mesmas rodovias utilizadas pelos caminhões de transporte do produto (Figura 9). Figura 9 – Ferramenta de lâmina cortante junto ao veículo sem nenhuma proteção individual. 4.1.4 No almoxarifado da usina As ferramentas cortantes são transportadas, da fábrica ao seu destino final, sem proteção individual e em embalagens que não são suficientemente adequadas para tamanha distância. Deste modo, cria-se ambiente de risco para várias pessoas. Somente após sua entrega à usina, que a ferramenta cortante receberá alguma proteção individual, mas ainda assim não possui garantia de sua qualidade e eficiência para o uso (Figura 10). 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design BAINHA DE SEGURANÇA PARA FERRAMENTAS MANUAIS UTILIZADAS NO CORTE DA CANA-DE-AÇUCAR Figura 10 – Proteção individual para ferramentas cortantes sem garantia de qualidade e eficiência. 4.1.5Descarga da cana-de-açúcar na usina Ao chegarem à usina, os caminhões carregados com a cana-de-açúcar, ficam estacionados em um pátio esperando a pesagem. As ferramentas cortantes continuam colocando em risco as pessoas que ali transitam por não estarem devidamente acondicionadas. Durante a descarga da cana-de-açúcar no moinho, as ferramentas cortantes ficam junto ao caminhão, colocando em risco os trabalhadores dentro da própria usina . O condutor do caminhão e seus auxiliares correm perigo ao entrar e sair do caminhão devido a falta de proteção individual das ferramentas junto a cabine do veículo. Este perigo ainda persiste durante o percurso ou no retorno do caminhão a sua garagem, em postos de combustíveis, oficinas, vias e outros ambientes (Figura 11). Figura 11 – Ferramenta de lâmina cortante e outras junto a cabine do motorista sem nenhuma proteção. 5 – CONCLUSÕES Através da análise visual de campo realizada, torna-se evidente a necessidade da bainha para eliminar os acidentes com ferramentas de lâminas cortantes no momento de seu transporte e armazenamento. Apesar da bainha ser citada por muitos autores como um elemento importante de segurança e mencionado o uso obrigatório na NR-31, item 31.11.4, ela não é considerada um EPI pelo ministério do trabalho. Pode-se comprovar isto quando analisamos a lista de EPI’s 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design BAINHA DE SEGURANÇA PARA FERRAMENTAS MANUAIS UTILIZADAS NO CORTE DA CANA-DE-AÇUCAR do ministério do trabalho (anexo I da NR -6) para atender a NR-6 onde não é mencionada a bainha como um EPI e nem descritos ensaios para comprovar a eficiência do material. “NR 6 - EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL – EPI 6.1. Para os fins de aplicação desta Norma Regulamentadora - NR, considera-se Equipamento de Proteção Individual - EPI, todo dispositivo ou produto, de uso individual utilizado pelo trabalhador, destinado à proteção de riscos suscetíveis de ameaçar a segurança e a saúde no trabalho. 6.1.1. Entende-se como Equipamento Conjugado de Proteção Individual, todo aquele composto por vários dispositivos, que o fabricante tenha associado contra um ou mais riscos que possam ocorrer simultaneamente e que sejam suscetíveis de ameaçar a segurança e a saúde no trabalho. 6.2. O equipamento de proteção individual, de fabricação nacional ou importado, só poderá ser posto à venda ou utilizado com a indicação do Certificado de Aprovação - CA, expedido pelo órgão nacional competente em matéria de segurança e saúde no trabalho do Ministério do Trabalho e Emprego.” Encontra-se no mercado bainhas que atendem a NR-31, mas não podem ser consideras EPI’s, pois o material utilizado não possui normas especificas que garantam sua eficiência, nem tão pouco, laboratórios para executar ensaios do mesmo, conforme mostra a Figura 12. Figura 12 – Bainha de segurança sem CA (Certificado de Aprovação) ou material adequado Podemos afirmar que a bainha de segurança para lâminas cortantes proposta neste trabalho, atende as exigências da NR-31 e NR-6, promovendo total segurança ao trabalhador (Figura 13). Sendo assim, este tipo de bainha poderá vir a receber CA do ministério do trabalho, já que seu material pode ser ensaiado em laboratórios já credenciados atendendo as seguintes normas: NBR 11055 - 2005: Couro - Determinação da força de rasgamento progressivo. NBR 11041- 1997: Couro – Determinação da resistência à tração e alongamento. 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design BAINHA DE SEGURANÇA PARA FERRAMENTAS MANUAIS UTILIZADAS NO CORTE DA CANA-DE-AÇUCAR NBR 11030 - 1997: Couro – Determinação de substâncias extraíveis em diclorometano. (teor de graxa) NBR 11054 - 1999: Couro – Determinação de óxido crômico. NBR 13335 - 2001: Couro – Determinação da retração. NBR 11052 - 2005: Couro – Determinação da espessura NBR 11057 - 1999: Couro – Determinação do PH e da cifra diferencial. Figura 13 – Bainha de segurança para acondicionamento de lâminas de ferramentas cortantes. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CHRISTOFOLI JUNIOR, G. 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