BAINHA DE SEGURANÇA PARA FERRAMENTAS MANUAIS
UTILIZADAS NO CORTE DA CANA-DE-AÇUCAR
SAFETY LINER FOR HAND TOOLS USED IN CUTTING OF CANE SUGAR
Queiroz, Frederico R. C. de; Engenheiro de segurança do trabalho, mestrando em Design,
PPG Design – FAAC/UNESP-Bauru-SP,
[email protected]
Santos, João E. G. dos; PhD Professor livre-docente do depto de Eng. Mecânica UNESP FEB - Bauru - SP
[email protected]
Resumo
A agricultura é considerada pela Organização Internacional do Trabalho – OIT como uma das
atividades profissionais de maior risco, equiparando-se à construção civil e à exploração do
petróleo. O Ministério do Trabalho não certifica a bainha como um EPI. O objetivo deste
trabalho foi sugerir uma bainha (capa protetora) para ferramentas manuais, utilizadas no corte
da cana-de-açúcar, para eliminar os acidentes no seu armazenamento, transporte,
comercialização e quando solicitado para sua utilização. Podemos afirmar que a bainha de
segurança para lâminas cortantes proposta neste trabalho atende as exigências da NR-31 e
NR-6, dando total segurança ao trabalhador e podendo vir a receber CA do ministério do
trabalho.
Palavras Chave: bainha; segurança; agricultura.
Abstract
Agriculture is considered by the International Labour Organization - ILO as one of the
professional activities of higher risk, equating to the construction and operation of oil. The
Labor Department does not certify the sheath as PPE. The objective was to suggest a sheath
(protective covering) for hand tools used in cutting sugar cane in order to eliminate accidents
in storage, transport, marketing and when prompted for your use. We can affirm that the
sheath cutting blades for safety proposed in this paper meets the requirements of NR-31 and
NR-6, giving full security to the worker and could expect to receive the ministry of labor CA.
Keywords: Hem; security; agriculture.
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1 INTRODUÇÃO
Segundo a Organização Mundial da Saúde – OMS (1994), “a cada 3 minutos morre um
trabalhador, em alguma parte do mundo, vítima de acidente de trabalho”. Neste sentido, a
agricultura é considerada pela Organização Internacional do Trabalho – OIT como uma das
atividades profissionais de maior risco, equiparando-se à construção civil e à exploração do
petróleo.
No Brasil existem cerca de 35 milhões de trabalhadores no setor agrícola. Segundo a
Fundacentro, cerca de 64% das operações de risco na agricultura estão ligadas às atividades
de colheita e tratos culturais, onde se registram 56% dos acidentes. Entre os principais fatores
causadores de acidentes, estão os equipamentos manuais.
Todos os estudos e dados obtidos com relação a acidentes do trabalho, estão relacionados
à utilização das ferramentas manuais no ato do trabalho.
Alguns autores como Antenor Pelegrino (1988) e José Luis Viana do Couto (2006)
sugerem cuidados no transporte e armazenamento de ferramentas manuais com a utilização de
bainhas (capa protetora) para ferramentas de corte. Porém, não são todos os locais de
comercialização que oferecem este item, e quando possuem, se restringem a poucos modelos
ou tamanhos.
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Na pré-história, em torno de 12000 A.C., começaram a surgir as primeiras formas de
agricultura (domesticação de espécies vegetais) e pecuária (domesticação de
animais), junto com a formação das primeiras aldeias agrícolas. Nesse período, o
uso do fogo e de algumas ferramentas, assim como do esterco animal, passou a fazer
parte do cotidiano dos aglomerados urbanos, os quais deram origem às cidades (De
Jesus, 1996).
A devastação das vegetações litorâneas brasileiras iniciou-se com os colonizadores
europeus desde o século XVI, com a exportação do pau-brasil como matéria-prima
para tingir tecidos. Posteriormente, essa devastação continuou devido às culturas de
exportação (“plantations”) como a cana-de-açúcar seguida pela pecuária extensiva,
passando pelos ciclos do ouro até chegar à exploração do café. Toda a economia era
voltada para a exportação. Um continente com terras inexploradas a milhões de anos
seria extremamente fértil a qualquer tipo de exploração agrícola, conforme escreveu
Pero Vaz de Caminha : “...em se plantando tudo dá...” (De Jesus, 1996).
Atualmente, a agroindústria canavieira emprega um milhão de brasileiros no corte da
cana-de-açúcar, sendo que mais de 80% do que colhido é cortado à mão, segundo a União da
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Agroindústria Canavieira de São Paulo (ÚNICA, 2003). O corte da cana é precedido da
queima da palha da planta, o que torna o trabalho mais seguro e rentável para o trabalhador.
Nenhuma planta possui açúcar em tão grande quantidade como a cana-de-açúcar. Esta
contém cerca de 90% de suco, do qual pode-se extrair de 10 a 20% de açúcar
(MARAFANTE, 1993).
O Brasil é o maior produtor mundial de cana-de-açúcar, seguido pela Índia e
Austrália. Em média, nas últimas cinco safras, 52% dessa produção destinaram-se às
fábricas de etanol (anidro e hidratado) e 48% às de açúcar (refinado, cristal e
demerara). Sua cultura espalha-se pelo Centro-Sul e pelo Norte-Nordeste do país em
dois períodos de safra (maio a novembro e de setembro a março), ocupando 2,4% da
área agriculturável do solo brasileiro, perto de 5,5 milhões de hectares (ÚNICA,
2004).
O Estado de São Paulo produz 60% da cana-de-açúcar e teve na safra 2003/2004 o
seguinte desempenho: 207,871x106 toneladas de cana moída e produção de 15,171x106
toneladas de açúcar e 8,807x106 m3 de etanol total (fonte: IEA-Instituto de Economia
Agrícola de São Paulo / ÚNICA).
2.1 Acidentes com ferramentas manuais de corte
O maior número de acidentes na cultura da cana-de-açúcar ocorre durante a
atividade do corte manual. Mesmo que, para ser encaminhada ao setor industrial da
usina, envolva inúmeras atividades pós-corte, como por exemplo, o enleiramento ou
amontoamento e o carregamento. Os equipamentos manuais estão entre os principais
fatores causadores de acidentes. Somente o uso do facão é responsável por 65% das
ocorrências de acidentes registradas. No corte manual da cana-de-açúcar, por
exemplo, o trabalhador rural está sujeito a uma série de riscos de acidentes, próprios
da operação, dos quais pode-se destacar: cortes nas mãos, pernas e pés, provenientes
da utilização do facão, foice ou podão, além de lombalgias, dores musculares, lesões
oculares, irritação da pele, quedas e ferimentos (COUTO, 2006).
2.2 Uso de bainha nas ferramentas manuais de corte
O ministério do trabalho e emprego possui a cartilha do trabalhador rural (Lei 5.889 de
08/06/1973 e decreto 73.626 de 12/02/1974), onde no item- ferramenta, determina:
“Gratuitas, seguras, eficientes, cabos aderentes e em perfeito estado de uso. As que possuem
corte devem estar afiadas e guardadas em bainhas.”
De acordo com a Norma Regulamentadora Rural (NRR-4) de 12/04/1988 – especifica-se
no item 4.1 os Equipamentos de proteção individual (EPI): “Considera-se EPI, para fins de
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aplicação desta Norma, todo dispositivo de uso individual destinado a preservar e proteger a
integridade física do trabalhador”.
Na NR-31 (Norma regulamentadora que vem para atualizar e substituir as NRR’s) de
03/03/2005 –Segurança e saúde no trabalho, na agricultura, pecuária, silvicultura, exploração
florestal e aqüicultura, especifica-se no item 31.11: Ferramentas manuais; sub-item 31.11.4 as
ferramentas de corte devem ser:
A) guardadas e transportadas em bainha;
B) mantidas afiadas.
O transporte de ferramentas deve ser feito com bastante responsabilidade e nunca
devem ser transportadas junto a pessoas. Em hipótese alguma o trabalhador pode
carregá-las nos bolsos, na cintura e demais partes do corpo. O correto é transportálas em sacolas, caixas ou bolsas de lona. Ferramentas de corte ou pontudas, como
facas, machados, serrotes ou punções, devem ser guardadas em bainhas, o que
garante uma melhor conservação das mesmas e elimina o risco de acidentes
(PELEGRINO, 1988; COUTO, 2006).
Analistas da Fundação Seade/Fundacentro fizeram uma pesquisa sobre acidentes no
trabalho rural no interior paulista em 2001. Nas 115 agências do INSS do interior paulista,
levantou-se que 58.204 acidentes do trabalho foram ocorridos em área rural, no período entre
1997 e 1999. Foi realizada coleta manual nos arquivos do INSS, por meio do rastreamento de
todos os processos existentes, identificando e selecionando os acidentes do trabalho
registrados na Comunicação de Acidente do Trabalho – CAT.
Neste estudo, observou-se que cerca de 49,9% dos acidentes-tipo foram causados por
ferramentas de trabalho, entre elas o facão e o podão, as quais são utilizadas, sobretudo, pelos
cortadores de cana-de-açúcar, com força e de forma precisa. De acordo com Teixeira e Freitas
(2001), 44,3% dos acidentes ocorrem com objetos cortantes/contundentes e 11,7% são
causados por traumatismos ou lesões devido a instrumentos de trabalho.
Gonzaga (2002), pesquisadora da divisão de ergonomia da fundacentro, analisou o uso de
equipamentos de proteção individual e das ferramentas de trabalho durante a execução da
atividade do corte manual da cana-de-açúcar. A metodologia adotada constou de reuniões
entre representantes da fundacentro, do Sindicato dos Empregados Rurais de Araraquara
(cidade do interior de São Paulo) e da empresa Usina Santa Cruz, durante todo o período de
negociação tripartite, durante o período de execução do estudo.
De acordo com a autora, para a escolha dos EPI, torna-se importante considerar a
proteção oferecida pelo equipamento bem como o conforto e mobilidade para os
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trabalhadores, pois o uso satisfatório de qualquer produto está relacionado à eficácia em
interface com os usuários dos mesmos.
Através deste estudo, a autora (GONZAGA, 2002) sugere que haja o envolvimento dos
fabricantes e instituições de pesquisa para testes em projetos ergonômicos que objetivem
projetar estes produtos, respeitando detalhes referentes ao conforto e a segurança.
Na concepção de produtos de segurança é importante: selecionar os materiais
apropriados para o processo de fabricação; definir dimensões ergonômicas básicas
do produto e componentes; construir modelo ou protótipo; testar a concepção;
verificar pontos ergonômicos fracos e corrigi-los (DIAS et al, 2000).
Tecnologias novas têm sido utilizadas no setor rural, promovendo a mecanização do
corte da cana-de-açúcar. Alguns estudos sugerem que o uso de mais tecnologia na
colheita da cana poderia beneficiar a saúde do trabalhador rural, eliminando a
insalubridade, a periculosidade e a penosidade nas frentes deste tipo de trabalho,
além de trazer inúmeras vantagens econômicas e ambientais (SCOPINHO et al.,
1999).
Finalmente, é válido destacar que os resultados desta investigação confirmam as hipóteses
levantadas por Scopinho et al. (1999), apontando que a mecanização tem trazido importantes
mudanças nas relações e condições de trabalho na lavoura canavieira. Porém, tais mudanças
não têm logrado melhorar substancialmente as condições de vida e de trabalho dos
assalariados rurais canavieiros.
Como a colheita manual de canaviais sem queima prévia é inviável, alguns
apregoam que tal operação possa ser realizada com o auxílio de máquinas, o que na
realidade pode ser feito com restrições. É necessário lembrar que a cana-de-açúcar
produz matéria-prima em quantidade que, não raro, ultrapassa o valor de 150
toneladas por hectare e nessa mesma área, descarta-se 30 toneladas de resíduos a
cada safra. Não é tarefa simples processar tamanha quantidade de material. Essa
matéria-prima possui grande quantidade de açúcar e quando colhida por colhedoras
aumenta muito a possibilidade de deterioração, devido à maior área de exposição e
conseqüentemente contaminação (SCOPINHO, et al., 1999).
As dificuldades enfrentadas na colheita de cana-de-açúcar qualificam a operação
agrícola como uma atividade muito complexa. Sua realização e planejamento estão
envolvidos com inúmeros fatores relacionados o comportamento biológico da
cultura até o momento em que a matéria-prima está na indústria, pronta para a
moagem. Entre estes extremos, há que se considerar fatores como o relevo da região,
legislação ambiental e de transporte, condições viárias de estradas, recursos
disponíveis para aquisição de equipamentos e capacidade de processamento da
indústria. Além disso, as condições climáticas podem, repentinamente, fazer com
que todo plano seja revisto (LOPES, 1992).
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Apesar das necessidades da maioria das fábricas de açúcar serem a mesma, a cultura
se dá, ao redor de todo o planeta, em áreas de variado relevo e condições climáticas
e com isso são criados inúmeros sistemas de colheita, os quais apresentam
características extremamente adversas. Mais do que qualquer prática agronômica na
cultura canavieira, o sistema de colheita é intrinsecamente casualizado ao nível de
cada agroindústria (MEYER & RICHARD, 1996).
3 PROPOSTA DE PESQUISA
A proposta desta pesquisa foi criar uma bainha como um EPI obrigatório para as
ferramentas manuais de corte. Para isto, foi desenvolvido um modelo de bainhas para facão,
foice, podão e machadinha utilizada por trabalhadores rurais da região de Jaú. Este estudo
torna-se importante uma vez que o fornecimento da bainha de proteção não é item obrigatório
aos fabricantes de ferramentas, dificultando sua aquisição no mercado devido à variedade de
modelos e tamanhos, conforme mostra as Figuras 1 e 2.
Figura 1 - Ferramentas de lâminas cortantes
Figura 2 - Ferramentas de lâminas
utilizados no corte de cana-de-açúcar
cortantes com as bainhas propostas
3.1 Material e métodos
Esta pesquisa experimental foi desenvolvida através de raciocínio dedutivo, com
dados colhidos em modelos pré-existentes de bainhas para facão, foice, podão e machadinha e
análise das condições de utilização destes pelos trabalhadores rurais. Todos os modelos de
bainha foram desenvolvidos e fabricados na Empresa Fibrapeli.
3.1.1Sujeitos (casuística)
Foram observados trabalhadores rurais da usina Santa Cândida que fazem corte
manual da cana-de-açúcar.
3.1.2 Bainha de segurança
Foram desenvolvidos 2 tamanhos de bainha de segurança para ferramentas manuais
utilizadas no corte da cana-de-açúcar da região de Jaú.
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As bainhas de segurança foram fabricadas com material de raspa de couro, respeitando a
norma ABNT NBR 13712-1996, aprovada pelo IPT de Franca em 23/08/2002 sob o CA
12.487.
3.1.3 Desenho Industrial para fabricação da bainha de segurança
A bainha de segurança foi confeccionada em couro raspa e/ou vaqueta, possuindo botões
de pressão e/ou velcro para fechamento e acondicionamento das lâminas. É do tipo carteira,
constituindo-se em um equipamento de proteção individual – EPI, tendo como principal
consumidor o mercado canavieiro.
O corpo da bainha é dividido em três planos: A, B e C, com formato de um polígono, com
quatro lados, os quais apresentam medidas e ângulos diferentes, lembrando um trapézio. Os
lados da figura geométrica podem sofrer variações, proporcionando formato côncavo ou
convexo, de forma a acomodar e assegurar as lâminas cortantes das ferramentas.
Os planos A e B são interligados em um de seus lados através de costura, em nylon ou
algodão, de modo que o outro lado fique aberto. Já o plano C é responsável pelo fechamento
da bainha, originando o formato tipo carteira conforme pode ser observado na Figura 3.
Figura 3 -. Bainha de segurança proposta
Embora sejam apresentadas algumas variantes construtivas ou configurativas do produto,
as quais são: uso alternativo de velcro e botão de pressão, ou uma combinação deles, bem
como uma pequena variação nas medidas dos lados e ângulos do trapézio proporcionado uma
Figura côncava ou convexa, vale ressaltar que é mantida a unidade técnico-funcional e
corporal do produto.
A bainha apresenta grande distinção quando comparada com qualquer outro produto
similar conhecido até o momento. Possui características distintivas preponderante,
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singularidade, tecnologia inovadora e original, com princípios diferenciados em relação aos
demais.
As bainhas encontradas no mercado apresentam o formato das lâminas das ferramentas,
ou seja, triangular. Na armazenagem das ferramentas de corte o usuário fica facilmente
exposto a acidentes.
Levando em consideração as desvantagens apresentadas pelas bainhas atualmente
existentes, esta bainha poderá ser a solução para os problemas de acidentes e de manuseio das
ferramentas cortantes, devido ao seu formato de carteira, acondicionando seguramente e
facilmente as lâminas cortantes das ferramentas.
3.1.4 Material utilizado
Para a fabricação das bainhas de segurança, foram usados os seguintes equipamentos:
•
Rebaixadeira de couro modelo svit;
•
Faca de corte para balancinho;
•
Balancinho da marca Klein;
•
Máquina de costura da marca Sun Special, modelo SS-810;
•
Máquina fotográfica digital Sony, modelo DSC-W50;
•
Couro wet Blue de raspa;
•
Produtos químicos (bicarbonato de sódio, óleo vegetal sulfatado, sebo de origem animal);
•
Fulão de experiência de bater couro;
•
Linhas de algodão e nylon;
•
Botões de pressão e velcro;
Todos os equipamentos estão à disposição na Empresa Fibrapeli, localizada na Rua
Cerqueira Cezar, 597 na Cidade de Bocaina – SP
3.1.5 Etapas de fabricação da bainha de segurança
3.1.5.1 Engraxe do couro
No curtume, a raspa wet blue foi rebaixada com o auxílio de rebaixadeira de 1200mm de
modo que sua espessura passou a ser uniformemente de 1,4 a 1,8mm
Após rebaixamento, foram colocadas três peles em um fulão de experimento para seu
engraxe. como demonstra a Figura 4. Junto com as peles foram adicionadas 200% de água e
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3% de bicarbonato de sódio. Estes foram batidos por 20 minutos, para elevar o PH de 3,2
(raspa wet blue) para próximo de 6,2.
Após os 20 minutos, o fulão foi aberto para adicionar 8% de óleo vegetal sulfatado e 6%
de sebo animal emulgado, e batido mais 40 minutos.
Figura 4 – Fulão de experiência
Após os 40 minutos, o couro foi descarregado e secado em um varal a sombra para,
posteriormente, ser batido em fulão a seco por uma hora e meia para abertura de suas fibras,
tornando a raspa mais macia e maleável .
O engraxe nutre o couro dando resistência e proporcionando a sensação de vellour a
pessoa que o toca. Se este material não for engraxado de forma correta, o PH não será
neutralizado, o que deixa o material seco e desnutrido, perdendo, assim, sua resistência
mecânica e sensação de maciez.
Deste modo, o material deve ser aprovado com normas que lhe propiciem a garantia de
sua eficácia. Lembrado que isto será somente aceito pelo ministério do trabalho e emprego
desde que ele seja feito em uma instituição credenciada.
3.1.5.2 Corte e costura da Bainha
A raspa, em sua forma final de utilização, foi cortada em um balancinho hidráulico
(Figura 5), tomando-se o cuidado de ser sobre um cepo de madeira e com uma superfície de
polietileno, para que não estrague o corte das facas que serão as matrizes.
Todo procedimento foi realizado por um profissional qualificado, já que o balancinho
possui um fechamento de 5 toneladas. Este equipamento é acionado somente quando o
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trabalhador aperta as duas abotoeiras. Deste modo, as duas mãos permanecem fora do local de
corte faca (Figura 5).
Figura 5 – Balancinho para o corte da raspa de couro.
Após o corte do couro, sua lateral foi costurada e o velcro colocado, com o auxílio de uma
máquina de costura industrial
Quando o fechamento da bainha for somente de botão de pressão, não é necessária a
costura do velcro, somente de sua lateral.
Após sua costura e colocação dos botões de pressão (quando desejado), a bainha está
pronta para o seu uso, conforme mostra figura 6.
Figura 6 – Bainhas de segurança prontas.
3.1.6 Ambiente do teste
O acompanhamento dos trabalhadores rurais foi junto com ônibus da empresa Arotur que
presta serviço de Transporte a Usina Santa Cândida
A análise da necessidade da utilização das bainhas de segurança em ferramentas manuais
foram feitas com o acompanhamento de um dia de trabalho dos cortadores de cana-de-açúcar
na cidade de Bocaina (São Paulo).
Através de registro fotográfico foram avaliados as condições de transporte e
armazenamento das ferramentas manuais até o momento de sua utilização, e o retorno do
mesmo após o término do trabalho.
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3.1.7 Análise dos dados
A análise da confiabilidade da bainha foi feita através do modelo proposto observando
necessidade da mesma no ambiente de trabalho, pelos dados fotográficos adquiridos na
pesquisa de campo.
4 – RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1Ambientes de risco
4.1.1 No campo
Foi detectado que as ferramentas de corte muitas vezes não possuem proteção
adequada ao serem acondicionadas (Figura 7). Freqüentemente, as ferramentas utilizadas não
garantem confiabilidade, pois não passam por vistorias de qualidade e aprovação em sua
fabricação.
Figura 7 – Ferramenta de lâmina cortante acondicionada incorretamente.
Os cortadores ficam constantemente expostos às ferramentas cortantes em seu ambiente
de trabalho, mesmo durante as refeições, pois na maioria das vezes permanecem longe do
veículo de transporte, tendo que levar consigo tudo que necessitam, inclusive suas
ferramentas.
Pessoas que trabalham em outras atividades no local de colheita, também tornam-se alvo
de prováveis acidentes, mesmo não estando diretamente ligados a atividade com as
ferramentas cortantes.
4.1.2 No transporte dos trabalhadores
Apesar de muitas vezes estarem atendendo as exigências da NR-31, percebe-se que não
há uma total conscientização ao tamanho do risco que essas pessoas se encontram. È comum
encontrar ferramentas de corte sem devida proteção em seus caminhos de trabalho e nos
momentos de descanso.
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As ferramentas cortantes são transportadas em maleiros, mas muitas não possuem
acondicionamento
de
proteção
segura,
podendo
ocasionar
acidentes
durante
o
descarregamento, a abertura do maleiro ou um casual acidente do veículo (Figura 8).
Figura 8 – Ferramentas de lâmina cortantes no maleiro do ônibus de transporte rurais
Apenas o isolamento das ferramentas não é o suficiente se elas não possuírem proteções
adequadas.
4.1.3 No transporte da cana-de-açúcar
Após a colheita da cana-de-açúcar, o risco de um acidente com ferramenta cortante
não é eliminado. As ferramentas são transportadas junto ao veículo, sem proteção individual
colocando em risco os trabalhadores, motoristas e pessoas que trafeguem nas mesmas
rodovias utilizadas pelos caminhões de transporte do produto (Figura 9).
Figura 9 – Ferramenta de lâmina cortante junto ao veículo sem nenhuma proteção individual.
4.1.4 No almoxarifado da usina
As ferramentas cortantes são transportadas, da fábrica ao seu destino final, sem proteção
individual e em embalagens que não são suficientemente adequadas para tamanha distância.
Deste modo, cria-se ambiente de risco para várias pessoas.
Somente após sua entrega à usina, que a ferramenta cortante receberá alguma proteção
individual, mas ainda assim não possui garantia de sua qualidade e eficiência para o uso
(Figura 10).
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Figura 10 – Proteção individual para ferramentas cortantes sem garantia de qualidade e eficiência.
4.1.5Descarga da cana-de-açúcar na usina
Ao chegarem à usina, os caminhões carregados com a cana-de-açúcar, ficam
estacionados em um pátio esperando a pesagem. As ferramentas cortantes continuam
colocando em risco as pessoas que ali transitam por não estarem devidamente acondicionadas.
Durante a descarga da cana-de-açúcar no moinho, as ferramentas cortantes ficam junto ao
caminhão, colocando em risco os trabalhadores dentro da própria usina .
O condutor do caminhão e seus auxiliares correm perigo ao entrar e sair do caminhão
devido a falta de proteção individual das ferramentas junto a cabine do veículo. Este perigo
ainda persiste durante o percurso ou no retorno do caminhão a sua garagem, em postos de
combustíveis, oficinas, vias e outros ambientes (Figura 11).
Figura 11 – Ferramenta de lâmina cortante e outras junto a cabine do motorista sem nenhuma proteção.
5 – CONCLUSÕES
Através da análise visual de campo realizada, torna-se evidente a necessidade da bainha
para eliminar os acidentes com ferramentas de lâminas cortantes no momento de seu
transporte e armazenamento.
Apesar da bainha ser citada por muitos autores como um elemento importante de
segurança e mencionado o uso obrigatório na NR-31, item 31.11.4, ela não é considerada um
EPI pelo ministério do trabalho. Pode-se comprovar isto quando analisamos a lista de EPI’s
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do ministério do trabalho (anexo I da NR -6) para atender a NR-6 onde não é mencionada a
bainha como um EPI e nem descritos ensaios para comprovar a eficiência do material.
“NR 6 - EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL – EPI
6.1. Para os fins de aplicação desta Norma Regulamentadora - NR, considera-se
Equipamento de Proteção Individual - EPI, todo dispositivo ou produto, de uso individual
utilizado pelo trabalhador, destinado à proteção de riscos suscetíveis de ameaçar a segurança e
a saúde no trabalho.
6.1.1. Entende-se como Equipamento Conjugado de Proteção Individual, todo aquele
composto por vários dispositivos, que o fabricante tenha associado contra um ou mais riscos
que possam ocorrer simultaneamente e que sejam suscetíveis de ameaçar a segurança e a
saúde no trabalho.
6.2. O equipamento de proteção individual, de fabricação nacional ou importado, só
poderá ser posto à venda ou utilizado com a indicação do Certificado de Aprovação - CA,
expedido pelo órgão nacional competente em matéria de segurança e saúde no trabalho do
Ministério do Trabalho e Emprego.”
Encontra-se no mercado bainhas que atendem a NR-31, mas não podem ser consideras
EPI’s, pois o material utilizado não possui normas especificas que garantam sua eficiência,
nem tão pouco, laboratórios para executar ensaios do mesmo, conforme mostra a Figura 12.
Figura 12 – Bainha de segurança sem CA (Certificado de Aprovação) ou material adequado
Podemos afirmar que a bainha de segurança para lâminas cortantes proposta neste
trabalho, atende as exigências da NR-31 e NR-6, promovendo total segurança ao trabalhador
(Figura 13). Sendo assim, este tipo de bainha poderá vir a receber CA do ministério do
trabalho, já que seu material pode ser ensaiado em laboratórios já credenciados atendendo as
seguintes normas:
NBR 11055 - 2005: Couro - Determinação da força de rasgamento progressivo.
NBR 11041- 1997: Couro – Determinação da resistência à tração e alongamento.
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NBR 11030 - 1997: Couro – Determinação de substâncias extraíveis em diclorometano. (teor
de graxa)
NBR 11054 - 1999: Couro – Determinação de óxido crômico.
NBR 13335 - 2001: Couro – Determinação da retração.
NBR 11052 - 2005: Couro – Determinação da espessura
NBR 11057 - 1999: Couro – Determinação do PH e da cifra diferencial.
Figura 13 – Bainha de segurança para acondicionamento de lâminas de ferramentas cortantes.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Engenharia de Segurança do Trabalho)-Faculdade de Engenharia de Bauru- FEB/UNESP.
Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) 2001/2003 cartilha do trabalhador
rural (Lei 5.889 de 08/06/1973 e decreto 73.626 de 12/02/1974).
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