Coprodução do Bem Público Paula Chies Schommer UDESC/ESAG 2012 Coprodução do Bem Público Accountability e modelos de administração pública Old Public Administration New Public Management New Public Service (Denhardt e Denhardt (2003) Hierarchical – Administrators are responsible to democratically elected political leaders Market-driven – The accumulation of selfinterests will result in outcomes desired by broad groups of citizens (or customers) Multifaceted – Public servants must attend to law, community values, political norms, professional standards, and citizen interests Déficits de accountability Déficit de accountability institucional (sobre os resultados) Déficit de accountability social (sobre a decisão discricionária ) e institucional (sobre a conformidade) Déficit de accountability social (sobre a decisão discricionária ) e institucional (e/ou social sobre o “dever”) Approach to accountability (Rocha, 2011) 2 Coprodução do Bem Público Visões sobre accountability Texto: Concepções alternativas de accountability: o exemplo da gestão da saúde – Amitai Etzioni (2009) Comentário: Ética de responsabilidade: sensibilidade e correspondência a promessas e expectativas contratadas - Francisco G. Heidemman (2009) Concepções alternativas de accountability: o exemplo da gestão da saúde Amitai Etzioni -Accountability como gesto – norma pura, pouca ou nenhuma instrumentalidade -Accountability como slogan político (tranquilizador) – a renovação das garantias simbólicas pode ser suficiente para sossegar os ânimos dos menos organizados – corta intensidade da insatisfação e aumenta dificuldade de mobilização -“Quando dissociado de quaisquer esforços sistemáticos para promover o alcance efetivo dos valores desejados, a accountability torna-se um pretexto sutil para a inação, um valor “apenas de domingo”, reconhecido mecanicamente como uma forma mundana de protestos meramente verbais.” (ETZIONI, 2009:288) -Accountability como bandeira de campanha de educação moral – educador moral – o pastor e sua congregação, seus fiéis -Processos de accountability: Accountability como política realista; Abordagem formal, ou legal; Abordagem de orientação 4 Paula Chies Schommer Concepções alternativas de accountability: o exemplo da gestão da saúde Amitai Etzioni Accountability como política realista (realismo político, realpolitik) Accountability como padrão de administração que reflete a totalidade das forças que atuam no sistema – as que atuam no sentido de manter o status quo e as que buscam alterá-lo Organização como comunidade política ; variável fundamental (poder) Exemplo da administração hospitalar: processo político pelo qual os vários grupos negociam, confrontam ou ajustam suas demandas; respostas às demandas de interesse de médicos, enfermeiros, militantes sindicais, pacientes etc. O administrador como bola de bilhar Relação com teoria dos Stakeholders (Freeman - responsabilidade social corporativa) A quem os administradores são mais accountable? De que fatores depende? 5 Concepções alternativas de accountability: o exemplo da gestão da saúde Amitai Etzioni Abordagem formal / legal Regras que definem quem participa, quais os instrumentos de controle, divulgação das informações, procedimentos internos, avaliação e auditoria Ênfase aos freios e contrapesos (checks and balances) ; teoria dos jogos Quem pode ser legalmente incriminável? Padrões formais e legais de accountability não explicam tudo sobre os comportamentos ou decisões; padrões informais ou “estrutura informal” que emergem da prática são também determinantes Limites: Nem sempre os representantes do consumidor são os “do povo” Poder formal de representação nem sempre corresponde a poder real de influência Aura de competência que cerca médicos e administradores Necessidade de fontes independentes de informação Pouco incentivo para participação nas reuniões 6 Concepções alternativas de accountability: o exemplo da gestão da saúde Amitai Etzioni Abordagem de “orientação” Accountability – baseada em uma variedade de forças interativas, não em um atributo ou mecanismo isolado Administradores respondem, em parte, a critérios formais/legais, em parte, aos reclamos ou demandas das partes interessadas; e também são influenciados por seus próprios valores morais internalizados Administradores não são seres neutros; seus valores e compromissos são influenciados por sua educação Capacidade de liderança (criativa) para ajudar a moldar, mobilizar a combinar vetores que determinam comportamentos; papel de educador moral Busca do que se considera legal, ético e justo, mudando desenho da relação de forças entre vetores Importância das coalizões e da formulação de alternativas inovadoras Para isso, o administrador precisa conhecer como funcionam os sistemas sociais, as comunidades políticas, os valores de cada um, e buscar alternativas de solução Importância da interação contínua com os diversos grupos que lhe dizem respeito; o que passa pelos mecanismos de comunicação institucional 7 Ética de responsabilidade: sensibilidade e correspondência a promessas e expectativas contratadas Francisco G. Heidemman -A accountability, em sentido amplo, corresponde à preocupação central da ética da responsabilidade -Em sentido estrito e aplicado, restringe-se a relações sociais circunscritas, como as regras de sistemas racionais-burocráticos Ética da responsabilidade (de origem social, externa) – ação racional referida a fins; racionalidade funcional ou pragmática como critério fundamental (Guerreiro Ramos, Voegelin) x Ética da convicção ou do valor absoluto (de origem individual, pessoal) - Sentido lato de accountability: “obrigação de prestar contas a portadores de expectativas” -Responsabilidade (do latim re + spondere): prometer em retorno, em resposta; corresponder -Accountability (do latim ad + computare): prestar contas a, dar satisfação a, corresponder à expectativa de. 8 Ética de responsabilidade: sensibilidade e correspondência a promessas e expectativas contratadas Francisco G. Heidemman Accountability como estratégia para administrar expectativas Tipos de sistemas de “prestação de contas” (pg. 305) Graus de controle sobre a ação da repartição Fontes de controle da repartição Internas Externas Elevados 1. Burocrático 2. Legal Baixos 3. Profissional 4. Político 9 Ética de responsabilidade: sensibilidade e correspondência a promessas e expectativas contratadas Heidemman (2000) O melhor sistemas de prestação de contas Depende de três fatores, em cada situação ou organização específica: 1. Da natureza das tarefas (“prestação de contas” de nível técnico) 2. Da estratégia gerencial adotada pelos dirigentes (“prestação de contas” de nível gerencial) 3. Do contexto institucional das operações (“prestação de contas” de nível institucional) O ideal é que cada repartição estabeleça mecanismos de accountability que dêem conta dos três níveis, ao mesmo tempo Por melhor que sejam desenhados os arranjos e sistemas, a responsabilidade pelas ações segue associada a sujeitos morais e não entidades artificiais abstratas (relação com responsabilidade corporativa) 10 Coprodução do Bem Público 1. Sistemas de accountability e o contexto brasileiro (de Anna Maria Campos ao Mensalão) 2. The Monitoring State / Accountability sistêmica – diversidade de atores e mecanismos: para além da metáfora vertical/horizontal e relaxando as hierarquias 3. Pesquisa Politeia: coprodução do controle 4. IRSPM: accountability, inovação e aprendizagem Coprodução do Bem Público E por falar no contexto brasileiro... Coprodução do Bem Público Administração Pública no Brasil: a contribuição analítica de Tânia Keinert Período Contexto Institucional Paradigmas 1900-29 Estado Regulador-Liberal Administração Pública como Ciência Jurídica 1930-79 1. 2. 3. Estado Administrativo Administração para o Desenvolvimento Estado Intervencionista Administração Pública como Ciência Administrativa Fases Características do campo de AP •Legalismo 1930-45 1946-64 •Racionalização •Desenvolvimentismo 1965-79 •Racionalidade e Competência Técnicas 1980-89 Mobilização Social Administração Pública como Ciência Política •Democratização •Conflito de Interesses •Recursos Escassos 1990-... Redefinição do Papel do Estado Administração Pública como Administração Pública •Capacidade Política aliada à Competência Técnica Fonte: Keinert (2000) - Administração Pública no Brasil: crises e mudanças de paradigmas – Anexo – Quadro II– Periodização Inicial - Pg. 210 13 Coprodução do Bem Público Administração Pública no Brasil: a contribuição analítica de Tânia Keinert Paradigma Conceito de Público Paradigma do Público enquanto estatal (1930-1979) A N O S Paradigma Emergente: O Público enquanto “Interesse Público” (Pós-90) 80 Relação EstadoSociedade Estadocêntrica Estilo de Gestão Pública Burocrática C R I S E Sociocêntrica Pós-Burocrática Fonte: Keinert (2000) - Administração Pública no Brasil: crises e mudanças de paradigmas – Anexo – Quadro I – Referencial Analítico – Pg. 209 14 Coprodução do Bem Público Noção ampliada de público? Que pode incluir diferentes campos de atuação e de interação? 15 Organizações Governamentais Projetos Organizações Sociais (lato Senso) Sindicatos, Escolas Agências Financiadoras Programas Movimentos Associativos arranjos pactos tramas fóruns Organizações Sociais (Stricto Senso) ONGs,OSCIPs teias parcerias Empresas Sociais alianças Cooperativas Fundações Bancos Sociais Consultorias consórcios Empresariais Coprodução do Bem Público •Democratização •Ampliação direitos Marta Farah (2003) Articulação de agendas e novos arranjos •Inovações gerenciais •Descentralização •Privatização •Novas formas de regulação Agenda democrática •Parcerias público-privadas •Novas formas de participação na formulação, implementação e avaliação de políticas públicas Agenda neoliberal (gerencial) •EXEMPLOS: PROGRAMA GESTÃO PÚBLICA E CIDADANIA Paula Chies Schommer 17 Coprodução do Bem Público Articulações público-privadas (APP) Fernando Coelho - Enapegs (2009) Diferentes formas de articulação entre o Estado e 2º ou 3º setor para provisão de políticas públicas e/ou prestação de serviços públicos, considerando-se uma relação de ganha-ganha 18 Paula Chies Schommer Coprodução do Bem Público Articulações público-privadas (APP) Coelho (2009) O conceito e a prática das APP dependem do focus do campo do saber e do contexto institucional do Estado. Evolução da administração pública no século XX (elementos jurídicos, gerenciais, econômicos e sociopolíticos) Caso do Brasil (inflexões na história político-administrativa) Papel do Estado Autoritarismo vs Democracia Patrimonialismo, organização burocrática e pós-burocrática Enfoque disciplinar Articulações público-privadas (APP) Coelho (2009) Áreas de conhecimento que discutem as APP Direito Economia Gestão Ciência Política Administração I. Articulações público-privadas (APP) Coelho (2009) Administração Pública Contemporânea (contexto de crise e “onda” global de reformas) Crise do Modelo de Gestão Pública desde meados dos anos 70 Modelo econômico (incapacidade fiscal, intervenção) Modelo político (insuficiência de governabilidade) Modelo administrativo (disfunções burocráticas) Nova Gestão Pública (teoria, práxis) • dimensão econômico-financeira • dimensão administrativa-institucional • dimensão sociopolítica Articulações público-privadas (APP) Coelho (2009) A Nova Gestão Pública e as APP – a vertente econômica Associado ao Ajuste estrutural (neoliberal) + incapacidade fiscal • Privatização • Concessão de Serviços Públicos Primeira Geração • Project Finance • PPP • … A Nova Gestão Pública e as APP – a vertente administrativa + Associado à Qualidade de Serv. Públicos + Aperf. Processos Decisórios e Transparência Estado Rede (terceiro setor) OS, OSCIPS Processo de Desencentralização Conselhos Aval. Independentes (a partir de ONG´s) … Segunda Geração = • • • • • • Reformas Articulações público-privadas (APP) Coelho (2009) A Nova Gestão Pública e as APP – a vertente sociopolítica Associada à Cidadania Deliberativa • Mecanismos de Democracia Participativa • Cooperativismo, Solidariedade e Ação Coletiva • Empoderamento (desconcentração do poder com aprendizagem social) Terceira Geração Experiências Inovadoras em âmbito local Articulações público-privadas (APP) Coelho (2009) Em suma ECONÔMICA Foco na economicidade & eficiência “fazer mais com menos” ADMINISTRATIVA Foco na eficácia & qualidade “fazer melhor” SOCIOPOLITICA Foco na equidade & efetividade “fazer diferença para o beneficiário” Contribuintes Usuário (cliente) Cidadãos Articulações público-privadas (APP) Coelho (2009) A vertente Econômica e as APP (parte I) Análise de Sistemas • Influências do Positivismo, visão estodocêntrica • Administração Pública = Gestão Estatal = Engenharia Social • Ciclo das Políticas Públicas é uma mediação técnica • Predições Únicas, Certeza, Controle • Valores de Economicidade, Produtividade, Eficiência • Poder do Técnicos Ex: áreas de APP em projetos de infra-estrutura Articulações público-privadas (APP) Coelho (2009) A vertente Econômica e as APP (parte II) Análise Econômica • Influências do Positivismo, visão estodocêntrica • Administração Pública = Gestão Estatal = Ajuste Estrutural • Ciclo das Políticas Públicas é um empreendimento científico (insulamento burocrático) • Predominância da legalidade e/ou eficiência (princípio) • Modelos Estocásticos (probabilidade), Cenários Ex: áreas de APP que envolvem concessão Articulações público-privadas (APP) Coelho (2009) A vertente Administrativa e as APP Enfoque Administrativo • n visões • Administração Pública = Gestão Pública = Qualidade dos Serviços Públicos • Planejamento é uma função técnico-política (de cima para baixo – reforma) • Planejamento provém da experiência e é validado na prática (de baixo para cima - inovação) • Eficácia, modernização administração, melhoria dos serviços/pol. públicas • Mudanças incrementais/graduais Ex: áreas de APP que envolvem o Estado Rede (Conselhos, OS) Articulações público-privadas (APP) Coelho (2009) A vertente sociopolítica e as APP Mobilização Social • Contribuições da Teoria Crítica • Administração Pública = Ação Coletiva = Transformação Social • Ciclo de Pol. Públicas é uma mediação política (com aporte de tecnologia de gestão) • Aprendizagem social, lutas emancipatórias, economia solidária, gestão social • Política confrontacional e mudanças do status quo Ex: áreas de APP que envolvem coprodução de pol. públicas. Coprodução do Bem Público Como as características de cada modelo combinam-se ou articulam-se entre si, em cada contexto? 29 Coprodução do Bem Público Combinação de características de diferentes modelos • • • • • • Modelos mistos de provisão de bens e serviços públicos (Salm e Menegasso, 2009) O novo e a reiteração do tradicional são movimentos coexistentes, seja deliberadamente, seja como adaptação não-estruturada às alterações do contexto Novo e tradicional articulam-se e influenciam-se Perspectiva da diversidade inserida no novo: mudanças não ocorrem em direção única, não são unívocas e previamente definidas Pode-se mudar para resgatar aspectos da tradição No Brasil: – elementos de diferentes gramáticas presentes na relação entre Estado e Sociedade, nos diferentes períodos, de acordo com Edson Nunes: clientelismo, corporativismo, insulamento burocrático e universalismo de procedimentos – Combinação entre o arcaico e o moderno nas práticas político-institucionais brasileiras – Experiências inovadoras, sobretudo no âmbito local Fontes: Farah (1996); Schommer (2003); Pinho e Sacramento (2009); Salm e Menegasso (2009) 30 Coprodução do Bem Público Desafios às organizações na contemporaneidade Lidar bem com os paradoxos e explorar a tensão gerada pela dupla pressão: Ser consistente e confiável e ter flexibilidade Não são novidade, mas são hoje mais reconhecidas como potenciais para resolver problemas complexos Diferentes em contato geram material para o equivalente a recombinações genéticas Ser eficiente e ser inovadora Explorar conhecimento existente e explorar novas possibilidades Cumprir padrões e normas x incentivar inovação e mudança Cooperação/Competição x Negociação/Colaboração Conflito construtivo gera ampliação de possibilidades Novas formas institucionais interagem com arranjos existentes para criar vários novos processos e estruturas, fugindo do isomorfismo Fonte: Child e McGrath, 2001 31 Paula Chies Schommer Coprodução do Bem Público • Desafios à gestão na contemporaneidade • • • Todas as relações sociais implicam em luta-cooperação e isso precisa ser considerado na gestão Estratégias híbridas, mestiças, de “luta-cooperação”, nas quais o mais importante é o tracinho do meio, que reflete a tensão constante entre essas duas dinâmicas Identidade – processo de singularização – – – Luta – Cooperação Inovação – Imitação Individualização – Assimilação Fonte: Martinet (2007) • • Contradição, conflito e paradoxos no centro Articulados pelo diálogo, pela intermediação, pela construção coletiva, pela política, pela gestão Preocupação com instrumentos (pactos, normas, indicadores,...) de gestão e de regulação, sem abdicar da liberdade Antigos (e atuais) dilemas... Competir x cooperar Objetividade x subjetividade Valores x instrumentos Liberdade x Civilização Curto prazo x longo prazo Sustentabilidade x competitividade 32 Paula Chies Schommer Coprodução do Bem Público Comunidade, sociedade, bem comum e bem público • • O sonho da comunidade: porto seguro para os navegantes perdidos no mar da mudança – sonho da pureza, nós e eles – condomínios fechados e nacionalismos A “boa ordem” (que livraria o mundo das contingências, da ambigüidade, das contradições) Para Bauman, falando sobre a tarefa da crítica, a grande questão é: “Como voltar a lutar pelo bem comum reconhecendo, ao mesmo tempo, que existem múltiplas versões do bem e que o totalitarismo sempre ronda aqueles que querem impor sua versão aos outros?” Ou... • Ordem republicana – unidade pela negociação e reconciliação e não pela supressão das diferenças • Diversas definições do bem Fonte: Bauman (2001) 33 Coprodução do Bem Público Novos conceitos e experiências em suas dimensões Ética Estrutural/ Institucional / Organizacional • Valor • Conceito • Ideal Ética Estrutural • Instituições • Organizações • Tecnologias • Metodologias • Ferramentas Instrumental Paula Chies Schommer Instrumental Coprodução do Bem Público Quais conceitos passaram a figurar no debate sobre as relações Estado-sociedade e sobre as relações público-privadas no Brasil, nas últimas décadas? Quais correntes, abordagens, autores, grupos de pesquisa ou agências? Quais os campos de manifestação desses conceitos?? Quais estruturas e instrumentos para promovê-los, para colocá-los em prática? Qual sua relação com coprodução do bem público? 35