UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS CURSO DE BACHARELADO EM ADMINISTRAÇÃO Patrícia dos Santos Caldas Silva GESTÃO HUMANIZADA NO SETOR PÚBLICO: Um Estudo de Caso no Instituto Anísio Teixeira (IAT) FEIRA DE SANTANA 2006 ii Patrícia dos Santos Caldas Silva GESTÃO HUMANIZADA NO SETOR PÚBLICO: Um Estudo de Caso no Instituto Anísio Teixeira (IAT) Trabalho apresentado ao curso de Administração da Universidade Estadual de Feira de Santana, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Administração. Orientador: Prof. Dr. Jader Cristino de Souza Silva. FEIRA DE SANTANA 2006 iii FOLHA DE APROVAÇÃO Patrícia dos Santos Caldas Silva GESTÃO HUMANIZADA NO SETOR PÚBLICO: Um Estudo de Caso no Instituto Anísio Teixeira (IAT) Monografia para obtenção do grau de Bacharel em Administração EXAMINADORES: Prof. Jader Cristino Souza Silva Doutor em Educação, Universidade Federal da Bahia/ Michigan State University Universidade Estadual de Feira de Santana Prof. Luís Carlos Freire Doutor em Psicologia, Universidade de Brasília Universidade Estadual de Feira de Santana Prof. Eugênio Lima Mendes Doutor em Ciência Sociais, PUC Universidade Estadual de Feira de Santana FEIRA DE SANTANA 2006 iv AGRADECIMENTOS À minha mãe, em primeiro lugar, por sempre estar ao meu lado me apoiando nos momentos mais difíceis. Aos meus familiares, especialmente minha avó Flora e minha tia Ivete que foram pessoas essenciais para passagem desta etapa da minha vida. Ao meu namorado Paulo, pela força que transmite na certeza que tudo que almejamos conseguiremos. À minha irmã Paula e minhas queridas amigas Aline e Fernanda, por sempre demonstrarem confiança e consideração em qualquer situação. Aos meus colegas da UEFS, Fernanda, Pablo, Wellington, Leonardo, Andréia, Júnior, Cátia e, especialmente, Cléber e Janilda pela convivência enriquecedora ao longo destes cinco anos, demonstrando serem bons amigos. Ao meu estimado professor Jader Souza, por todo seu carinho, confiança e disposição para nos ensinar a sermos, não só bons profissionais, mas pessoas melhores. À UEFS, pelas lembranças inesquecíveis da minha vida estudantil. E finalmente, à Deus por sempre me guiar e me dar forças para eu continuar seguindo pelo caminho das pedras. v DEDICATÓRIA À Deus que ilumina minha vida todos os dias. À minha mãe pelo seu amor incondicional e razão da minha vida. À minha tia Ivete por proporcionar crescimento e inspiração para concretizar meus sonhos. Ao meu namorado Paulo pelo seu amor e confiança no meu sucesso. À minha irmã Paula e a minha grande amiga Aline pela amizade e apoio durante toda a minha jornada acadêmica. vi “De tudo ficaram três coisas: A certeza de que estamos sempre começando A certeza de que precisamos continuar A certeza que seremos interrompidos antes de terminar Portanto, devemos: Fazer da interrupção um caminho novo Da queda, um passo de dança Do medo, uma escada Do sonho, uma ponte Da procura, um encontro.” Fernando Pessoa vii LISTA DE ILUSTRAÇÕES FIGURA 1: Servidores participantes do PDGI.................................................................29 FIGURA 2: Habilidades gerenciais nos diversos níveis de administração......................36 FIGURA 3: Caracterização dos Entrevistados ................................................................51 FIGURA 4: Caracterização dos Entrevistados ................................................................52 viii LISTA DE TABELAS TABELA 1: Lista dos Entrevistados.................................................................................52 ix LISTA DE QUADROS QUADRO 1: Evolução dos estilos gerenciais no Brasil...................................................18 QUADRO 2: Síntese das diferenças entre a organização pública e a privada ...............26 QUADRO 3 : Habilidades gerencias para a implantação da gestão humanizada ..........46 QUADRO 4: Cronograma do período empírico-analítico ................................................48 x RESUMO O presente trabalho representa o projeto de monografia e traz uma proposta de explorar um modelo de gestão com ênfase nas pessoas no âmbito do setor público. Este modelo baseia-se em uma consistente revisão de literatura, a qual traz posicionamentos atuais que estão sendo requeridos no gerenciamento das organizações públicas. Tais posicionamentos referem-se ao novo perfil necessário para o gestor em face da globalização e da competitividade, além da responsabilidade de construir e liderar equipes de trabalho competentes e comprometidas com o sucesso organizacional. A pesquisa dá ênfase, também, ao emergente estilo gerencial público que está caracterizado nas premissas da Reforma do Estado iniciado no século XX, ressaltando inclusive a grande contribuição do novo paradigma organizacional de orientação humanista. Por fim, o Instituto Anísio Teixeira foi a unidade de análise escolhida para realizarmos o estudo empírico, explorando o problema de pesquisa, bem como para suscitar implicação para novas investigações. Palavras-chaves: organização pública; modelo de gestão; paradigma humanista. xi ABSTRACT The present study represents the monograph project and brings a proposal of exploring an management model with emphasis in the people within of public sector. This model bases on a solid literature revision which brings new positionings, that being requested in the management of public organizations. Such positionings it refers to new necessary profile for the manager in face of globalization and competitiveness, besides the responsibility to build and to lead competent work teams and compromises with the organization success. The research gives emphasis also to the emerging public management model that is characterized in the premises of State Reform begins in the century XX, emphasizing especial the great contribution of the new organization paradigm of humanist orientation. Finally, the Anísio Teixeira Institute was the unit of analysis chosen for us accomplish the empiric study, exploring the research problem as well as to raise implication for new investigations. Key-words: public organization; management model; humanist paradigm. xii SUMÁRIO CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO.........................................................................................15 1.1 Contextualização, Problemática e Justificativa da Pesquisa.....................................15 1.2 Contexto de Estudo ...................................................................................................19 1.3 Estrutura da Monografia ............................................................................................20 CAPÍTULO 2: A ORGANIZAÇÃO PÚBLICA .................................................................23 2.1 Conceito e Papel da Organização Pública ................................................................23 2.2 A Nova Gestão Pública no contexto da Reforma Administrativa do Estado .............27 CAPÍTULO 3: GESTÃO HUMANIZADA: TENDÊNCIAS GLOBAIS .............................32 3.1 O Novo Paradigma Gerencial....................................................................................33 3.2 Competências Gerenciais Requeridas para implantação da Gestão Humanizada...34 3.3 Impactos da Gestão Humanizada no Setor Público ..................................................38 CAPÍTULO 4: METODOLOGIA DE PESQUISA ............................................................42 4.1 Metodologia: Estudo de Caso Simples......................................................................42 4.2 Procedimentos Metodológicos ..................................................................................43 4.2.1 Unidade de Análise..............................................................................................43 4.2.2 Preliminares ao Estudo Empírico ........................................................................43 4.2.3 Coleta do Material Empírico ................................................................................44 4.2.3.1 As Entrevistas Semi-Estruturadas ............................................................45 4.2.3.2 A Observação ...........................................................................................46 4.2.3.3 A Análise dos Documentos .......................................................................47 4.2.4 Análise do Material Empírico ................................................................................47 4.2.5 Período da Etapa Empírico-Análitica ...................................................................48 xiii CAPÍTULO 5: ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DO ESTUDO DE CASO ......................50 5.1 Descrição e Análise dos Dados.................................................................................50 5.2 Análise Do Material Empírico ....................................................................................53 5.2.1 Competência Técnica...........................................................................................53 5.2.2 Competência Humana..........................................................................................55 5.2.3 Competência Conceitual ......................................................................................58 5.2.4 Clima Organizacional ...........................................................................................60 CAPÍTULO 6: CONCLUSÃO E IMPLICAÇÕES DA PESQUISA...................................64 REFERÊNCIAS ...............................................................................................................67 APÊNDICES....................................................................................................................70 Apêndice 1: Carta de Solicitação da Pesquisa Empírica ................................................70 Apêndice 2: Protocolo de Entrevistas .............................................................................71 ANEXOS .........................................................................................................................75 Anexo 1: Lei delegada n 67 de 1983 ..............................................................................75 CAPÍTULO 1: Introdução Começar ... Já é a metade de toda a ação. Provérbio Grego 15 CAPÍTULO 1: Introdução 1.1 Contextualização, Problemática e Justificativa da Pesquisa Estamos vivenciando um cenário de constantes mudanças sociais, econômicas, políticas e tecnológicas (VERGARA e BRANCO, 1995). Estas mudanças requerem das organizações um alto padrão de competitividade que se estenda em nível global. Para alcançar estes padrões de competitividade globais, as empresas precisam ter uma significativa capacidade de atrair, reter e desenvolver talentos profissionais. As organizações públicas, com suas devidas peculiaridades, também precisam seguir estas estratégias para cumprirem seu papel social. De acordo com Ferreira (1996), o desafio para enfrentar o contexto de mudança atual está no processo de reforma do aparelho do Estado. Esse processo de transformação e, conseqüente modernização, impõe ao Estado a necessidade de rever seus papéis, funções e, especialmente, mecanismos de gestão. Além disso, o modelo de governo burocrático de Max Weber, que funcionou bem durante muitas décadas e serviu para combater o modelo patrimonialista, não se aplica mais no ambiente globalizado. Isso se dá porque, nesse novo cenário, o rigor no cumprimento do ritual burocrático e o apego às rotinas e à formalidade dificultam o alcance dos objetivos organizacionais e contribuem para a resistência às mudanças (FERREIRA, 1996). Sendo assim, as organizações públicas e privadas, para sobreviverem neste contexto, precisam desenvolver a capacidade de antevisão e, além disso, necessitam de agilidade e flexibilidade para adaptar-se aos novos desafios e demandas externas. Segundo Menezes (2002), os pressupostos do novo modelo organizacional para o setor público refletem a ênfase na gestão de seus recursos humanos e na adoção de 16 estilos de gestão mais democráticos e participativos que desenvolvam as competências, bem como satisfaçam as necessidades dos funcionários. Menezes (2002, p 19) resume seu ponto de vista, ressaltando ainda que: Não poderia deixar de ser mencionado, como fator condicionante da paulatina mudança de estilo gerencial no Brasil, a crescente pressão a que está sendo submetido o Estado, em face do aumento da competição, inclusive internacional, na busca de qualidade, inovação e rápida reação aos desafios, ameaças e oportunidades existentes numa ambiência com fronteiras cada vez mais elásticas e caracterizada por rápidas transformações. Neste contexto, os talentos, a criatividade e a autonomia do empregado são de fundamental importância, tornando-se, assim, imperativa a adoção do estilo democrático (MENEZES 2002, pág 19). Dessa maneira, o novo estilo de gestão decorre da necessidade de rediscutir o papel e as formas de funcionamento do Estado, com intuito ao atendimento das demandas atuais através da implantação de programas voltados para o aumento da eficiência e melhoria da qualidade dos serviços prestados (FERREIRA, 1996). A reforma do aparelho do Estado passa a ser, portanto, orientada pelos valores de uma cultura gerencial e propulsora da nova Administração Pública Gerencial. A administração pública gerencial surgiu em resposta ao combate a crise do Estado que se instalou logo em seguida a época de grande expansão da economia mundial, conhecida como “Era Dourada”. Neste período, desenvolveu-se a figura do Estado-Provedor de bens e serviços, também chamado de Estado de Bem-Estar Social ou Welfare State, com grande expansão das funções estatais e, conseqüentemente, da Administração Pública (PEREIRA, 1996). A partir dos anos 70, no entanto, o ritmo de expansão da economia mundial diminui, e o Estado começa a ter problemas no desempenho de suas funções, perdendo gradativamente a capacidade de atender às demandas sociais. Segundo Pereira (1996), esta situação, aliada a um processo de crescente endividamento público, acarretou mais tarde (anos 80), na chamada crise fiscal do Estado, 17 caracterizada pela perda de sua capacidade de realizar os investimentos públicos necessários a um novo ciclo de expansão econômica. Assim, da crise fiscal o Estado passou à crise de gestão, uma vez que a percepção dos cidadãos sobre a prestação dos serviços públicos começou a se deteriorar gradativamente, na medida em que o Estado perdia a capacidade de realizar suas funções básicas. Deste modo, esta crise de gestão implica na tentativa de superar as limitações do modelo de gestão até então vigente, conhecido como modelo burocrático, transformando-o em um modo de gestão mais parecido com o do setor privado, ficando conhecido como modelo gerencial (PEREIRA, 1996). Para Pereira (1996), partindo de uma perspectiva história, verifica-se que a Gestão Pública evoluiu através de três modelos básicos: a administração pública patrimonialista, a burocrática e a gerencial. Essas três formas se sucedem no tempo, sem que, no entanto, qualquer uma delas seja inteiramente abandonada. O quadro a seguir reúne as principais características dos três estilos gerenciais: 18 PATRIMONIALISTA BUROCRÁTICA GERENCIAL Até o final do século XIX. Início do século XX. Segunda metade do séc XX. O aparelho do Estado funcionava como extensão do poder do soberano. Ausência de distinção entre o patrimônio público (res pública) e o privado (res principis). Modelo baseado em regras, normas. Busca da eficiência através dos princípios de: impessoalidade, formalidade e profissionalismo. Poder Racional-legal. Controle a priori (Ênfase nos procedimentos). Modelo baseado na flexibilidade para combater a rigidez burocrática, na redução de custos através da qualidade x produtividade. Os cargos públicos eram títulos de nobreza (prebendas) passíveis de negociação e sujeitos à discricionariedade do governante. Os cargos eram conseguidos através de sistemas de méritos e de carreiras para o combate da corrupção e nepotismo. Os cargos são conseguidos por concurso público. Há sistema de planos de carreira, capacitação e avaliação de desempenho. A corrupção e o nepotismo eram “Dominação” ou autoridade de dominantes na administração. caráter: carismático(o líder visto como um herói); tradicional (legitimidade reconhecida pela tradição); racional- legal ( decorre da legalidade das normas, leis racionais). Autonomia do administrador com delegação de autoridade, fixação de metas e objetivos. Utilização de mecanismos de competição (Competição Administrada). Centralização e Hierarquia Descentralização Desconcentração. Concebida estável. para Centralização e Hierarquia ambiente Concebida estável. para Controle a posteriori (Ênfase nos resultados). ambiente Concebida instável. para e ambiente QUADRO 1: Evolução dos estilos gerenciais no Brasil FONTE: PEREIRA, 1996 (adaptado) Diante dessas perspectivas, neste estudo, buscamos ressaltar a relevância da gestão no setor público voltado para as pessoas como fator chave para o alcance dos objetivos organizacionais e a própria sustentação e crescimento no contexto de mudança. Isso ocorre pela consciência de que são as pessoas que formulam e implementam as estratégias organizacionais necessárias à obtenção dos resultados desejados e que sua atuação constitui um elemento essencial no sucesso das organizações. São as pessoas, portanto, a fonte criadora e o elemento crítico no processo de construção e crescimento organizacional (CARVALHO, 1995). 19 Nesse sentido, justifica-se um estudo que busca explorar uma gestão voltada para as pessoas, apresentada no nosso trabalho como Gestão Humanizada, suas implicações e possíveis contribuições para o ambiente organizacional do setor público. Sendo assim, o problema de nossa pesquisa é: Como a gestão humanizada pode contribuir para um clima de satisfação dos funcionários no setor público? Por clima, entende-se o conjunto das percepções que os indivíduos têm a respeito da organização em que trabalham e que influenciam o seu comportamento e desempenho. As abordagens tradicionais nos estudos de clima organizacional têm associado este conceito ao de motivação e, portanto, a fatores comportamentais tais como liderança, relações interpessoais, satisfação no trabalho, entre outros (SIQUEIRA, 1996). Desta maneira, o propósito desta pesquisa é identificar, de forma mais específica, quais os impactos da gestão humanizada na satisfação dos funcionários públicos e, conseqüentemente, no desenvolvimento do potencial humano e profissional. 1.2 Contexto de Estudo O modelo de gestão estudado e sugerido tem como contexto de estudo o Instituto Anísio Teixeira (IAT) situado em Salvador. Dois foram os motivos da escolha: o primeiro por ser um órgão público apesar de possuir peculiaridades que não são comuns a todas organizações públicas e; o segundo por apresentar um modelo de gerenciamento que se aproxima das idéias aqui levantadas e que servirão para aprofundar a discussão do nosso problema de pesquisa. O Instituto Anísio Teixeira (IAT) foi criado pela Lei Delegada nº 67, de junho de 1983 como um órgão em Regime Especial da Administração Direta, integrante da estrutura da Secretaria da Educação e Cultura do Estado da Bahia. O Instituto Anísio Teixeira surgiu com a finalidade de planejar e coordenar estudos e projetos referentes a ensino, pesquisas, experimentações educacionais e capacitações de recursos humanos na área da educação. Para isso, concentra-se em 20 uma ampla ação mobilizadora, promovida pela alta administração da instituição, no sentido de adotar uma gestão participativa, tendo como estratégia a melhoria contínua do ambiente de trabalho de seus colaboradores e de seus processos e, portanto, um lugar fecundo para exploramos nosso problema de pesquisa. 1.3 Estrutura da Monografia O trabalho está estruturado, além desta introdução, em mais cinco capítulos que achamos suficiente para abordar o problema de pesquisa escolhido. Desta forma, o primeiro capítulo apresenta o tema, a problemática, a justificativa e os objetivos da pesquisa, além da explicação da escolha do contexto empírico do estudo, bem como a estruturação da monografia. O segundo capítulo busca conceituar a organização pública segundo as literaturas que se dedicam à administração pública e gerência, bem como salientar seu papel na sociedade. Em seguida, analisa as transformações do contexto em que está inserida para identificar suas novas características e posicionamento, que auxiliarão na definição dos objetivos e na reformulação da estrutura organizacional pública. Não obstante, dá um destaque a reforma administrativa gerencial como instrumento de inovação e estratégia de mudança no ambiente governamental. No terceiro capítulo, apresenta-se a idéia de gestão humanizada, surgida a partir do entendimento de estudiosos que identificam evidências de que o novo paradigma organizacional tem orientação humanista (LEITÃO e LAMEIRA, 2005). Assim, busca-se, também, elencar as competências gerenciais essenciais para a implantação da gestão humanizada. Ademais, os impactos e as possíveis contribuições da implantação da gestão humanizada no âmbito do setor público. O quarto capítulo faz referência à metodologia utilizada, apresentando o tipo de pesquisa, a definição do universo e da amostra, a escolha da técnica e do método. 21 Nossa escolha foi o estudo de caso simples por permitir um conhecimento amplo e detalhado a partir do estudo profundo e exaustivo do objeto em questão (GIL, 1999). O quinto capítulo trata da análise e interpretação do estudo de caso, apresentando a descrição dos dados coletados, a análise de suas relações com o problema, os objetivos e o referencial teórico, além de sua interpretação. A interpretação pode ser considerada como a parte mais importante de todo o relatório, na qual se faz a apresentação do significado mais amplo dos resultados, por meio de sua ligação a outros conhecimentos já obtidos (GIL, 1999). No sexto capítulo, apresentam-se as implicações e conclusões da pesquisa com finalidade de ressaltar o alcance e as conseqüências dos resultados obtidos, bem como indicar o que pode ser feito para torná-los mais significativos. Nesta parte, tentamos ser breve para melhor servir a finalidade, contudo suficiente para remontar as informações e procedimentos trabalhados. Ademais, convém ainda apontar as questões que não puderam ser respondidas e incentivar às futuras pesquisas que possam respondê-las, sugerindo inclusive sua leitura aos estudantes, professores, profissionais e interessados como um todo neste assunto. CAPÍTULO 2: A Organização Pública “Somente uma vida a serviço dos demais vale a pena ser vivida” Albert Einstein 23 CAPÍTULO 2: A Organização Pública 2.1 Conceito e Papel da Organização Pública A organização pública vem sendo reformulada ao longo dos anos em sintonia com as profundas mudanças do mercado, bem como com as novas exigências da sociedade. Isto se dá porque a organização pública, como toda organização, é um sistema social aberto que está em permanente interação com o meio ambiente, influenciando-o e sendo por ele influenciada (CARVALHO, 1995). Essa idéia também é afirmada em Schwella (2005, p 267) quando cita Owusuansah e outros: [...] O setor público numa sociedade moderna é cada vez mais afetado pelo ambiente no qual opera, transformando-se em um sistema aberto com contínuas relações de troca, no qual também se testemunham mudanças rápidas nas relações entre funcionários públicos e seus clientes. O ambiente externo das organizações do setor público agora pode ser caracterizado como altamente turbulento o que implica um conjunto de condições cada vez mais dinâmicas, hostis e complexas (SCHWELLA 2005, pág 267). Podemos, assim, definir a organização pública como um sistema complexo de estruturas e redes que interatuam para resolverem problemas públicos (MADUREIRA, 2005). Esta faz parte do conjunto de organismos que formam o aparelho do Estado que podem ser da Administração Direta, tais como os ministérios, as autarquias e as fundações, regidos pelo Direito Público, como também da Administração Indireta como as agências e as empresas públicas, as quais são regidas pelo Direito Privado. Nosso trabalho, contudo, não faz esta diferenciação ao mencionar a organização pública, pois nosso foco é o processo de gestão de pessoas que melhor favoreça às organizações públicas condições ideais para cumprirem o seu papel social. 24 Segundo Corrêa (1993), o papel social da organização pública é a prestação de serviços com qualidade, responsabilidade pelo atendimento ao público e a economia de seus recursos sem esquecer é claro de seus princípios fundamentais como a legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. Nos anos 50, Musgrave enunciou a definição clássica do papel do Estado que se enquadrava em três grandes categorias: função alocativa (promover os bens e serviços não fornecidos adequadamente pelo mercado); função distributiva (promover ajustamentos na distribuição de renda); e a função estabilizadora (manter a estabilidade econômica nos níveis de inflação e desemprego). Tal definição estava em sintonia como novo contexto vivenciado pelo Estado-Provedor de bens e serviços (REZENDE, 2001). Atualmente, presenciamos a mudança do Estado-Provedor para o EstadoRegulador com a transferência de muitas das funções do Estado para suas organizações extensivas como as autarquias, fundações, empresas públicas, agências reguladoras, entre outras. Duas ações caracterizam bem esta nova Administração: a Privatização (transferência de atividades econômicas para o setor privado) e a Publicização (transferência de atividades de cunho social para o terceiro setor). Isto ocorre, segundo Pereira (1996), para que haja maior dinamismo operacional por meio da autonomia e descentralização funcional. Nesse sentido, o novo modelo gerencial do Estado busca ferramentas até então só encontradas nas empresas privadas com o objetivo de revitalização e agilização das suas organizações públicas. Assim, para cumprir o seu papel social e enfrentar os desafios e problemas organizacionais, a organização pública se assemelha com a organização privada, na medida que necessita aplicar processos administrativos comuns ao gerenciamento como planejamento, organização, direção e controle. Por outro lado, segundo Kliksberg (1993), gerenciar organizações públicas é bem diferente de gerenciar organizações privadas, seja quanto às suas opções, aos problemas de compatibilização dos objetivos e aos problemas de restrições e proibições. Percebe-se que, enquanto o executivo de negócios pode usualmente 25 redefinir as metas da organização, modificar sua estrutura e mudar seu pessoal; o gestor público, paradoxalmente, deve ter habilidades que lhe permitam operar dentro de metas e com recursos fixados por lei, de estruturas organizacionais rígidas e com funcionários controlados e protegidos pelo sistema jurídico, além da constante pressão da política. Outro fator, é que a organização pública, diferentemente da privada, tem por finalidade atender aos mais variados interesses da coletividade, essenciais à ordem social e econômica. Assim, ela destina seus objetivos e ações ao cliente-cidadão, que manifesta suas necessidades e escolhas por ser detentor de direitos e deveres preconizados na constituição. Para Osborne (apud MACHADO et al, 2001), a organização pública deve seguir a estratégia do cliente, quer dizer, dar prioridade total para o cliente-cidadão. Assim, os gestores públicos, conseqüentemente, terão de aceitar padrões de desempenho exigidos pelos cidadãos, especialmente referentes à transparência e controle feitos por eles mesmos. Para tanto, os gestores necessitarão adquirir novas competências que priorizem o diálogo, através da construção de sistemas de comunicação, redes de parcerias, além de aprenderem a lidar com o compartilhamento de sua administração. Todas estas características tornam a organização pública diferente da organização privada e que, por conseqüência, faz com que os modelos de gestão pública apresentem certas especificidades. O quadro a seguir reúne alguns desses aspectos: 26 CRITÉRIO ORGANIZAÇÃO PÚBLICA ORGANIZAÇÃO PRIVADA 1- Forma de obtenção de Receitas derivadas de Tributos Receitas recurso. (impostos, taxas, contribuições) pagamentos de caráter compulsório. espontânea clientes. 2- Destinatário dos objetivos e O cidadão: possuidor ações executadas. direitos e deveres. 3- Interesses atendidos Coletivos, sociais, difusos. advindas de por livre e vontade dos de O cliente: manifesta escolhas no mercado. suas Particulares, privados, individualizados. 4- Mecanismo de controle do Controle político, por meio de Controle pelo mercado, através desempenho dos dirigentes. eleições dos governantes. da concorrência. Decisões mais lentas, Decisões mais rápidas, influenciadas por variáveis de buscando a racionalidade. 5- Características do Processo ordem política. de Tomada de decisão. Políticas Públicas de acordo Políticas empresariais voltadas com os programas de Governo. para objetivos de mercado. 6- Modo de criação, alteração Através de Lei. ou extinção da pessoa jurídica. Através de instrumento contratual ou societário. QUADRO 2: Síntese das diferenças entre a organização pública e a privada FONTE: PEREIRA, 1996 (adaptado). Nesse contexto, para que a organização pública possa cumprir com sucesso sua função social, ela precisa cada vez mais de funcionários qualificados e motivados para bem servir. Justifica-se, então, a implementação de uma gestão voltada para as pessoas que identifique e desenvolva as competências (conhecimentos, habilidades, atitudes) necessárias tanto dos funcionários como dos gestores e que propicie, também, uma cultura de valorização, satisfação e comprometimento de todos os colaboradores (GIACOMINI et al, 2001). É com esse propósito que a reforma administrativa surge na esfera governamental brasileira como uma ferramenta em busca de mudança, inovação e qualidade no setor público, através da implementação de ações estratégias fundamentais para atrair, manter e desenvolver talentos profissionais, além da adoção de novos modelos de gestão organizacional. 27 2.2 A Nova Gestão Pública no contexto da Reforma Administrativa do Estado O empenho em substituir a tradicional burocracia centralista e controladora por um conjunto de órgãos flexíveis, descentralizados e mais sensíveis às necessidades do público vem ocorrendo desde meados do século XX. No Brasil, as propostas de reforma administrativa são implantadas em 1995 com o Plano Diretor da Reforma do Estado pelo MARE – Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado. Este plano foi criado com intuito de responder com presteza e efetividade às demandas sociais advindas do processo de globalização (SOUZA, 2002). De modo geral, a reforma administrativa buscou atender às demandas por reestruturação do Governo onde suas organizações já se apresentavam desarticuladas, desmotivadas e sem condições de dar respostas às necessidades sociais (SOUZA, 2002). Através deste plano, delinearam-se novas diretrizes básicas para a gestão pública, como a racionalização e contenção dos gastos públicos, a formulação de novas políticas de recursos humanos e a racionalização da estrutura administrativa. Em síntese, o que se pretende é implantar o modelo de administração pública gerencial, baseado na adoção dos seguintes princípios: Focalização da ação do Estado no cidadão, o que significa o resgate da esfera pública como instrumento do exercício da cidadania; Reorientação dos mecanismos de controle para resultados - representa a evolução de uma lógica baseada tão somente no controle da legalidade e no rito burocrático para uma nova abordagem centrada no alcance de objetivos; Flexibilidade administrativa - trata de maior autonomia para as instituições e pessoas alcançarem os objetivos preestabelecidos; 28 Controle social – utilização de instrumentos de prestação social de contas e avaliação de desempenho com intuito de possibilitar maior transparência das ações realizadas; Valorização do servidor – representa, na verdade, a base do processo de construção do novo paradigma, orientado para o cidadão e realizado pelo conjunto de servidores de forma participativa. Segundo Ferreira (1996), a implantação do modelo de gestão pública gerencial não significa somente mudar sistemas, organizações e legislação e sim criar as condições ideais para o desenvolvimento das pessoas que conduzirão e realizarão as reformas. Neste sentido, valorizar o servidor significa estimular sua capacidade empreendedora, sua criatividade, destacando o espírito público de sua missão e o seu comportamento ético com vistas ao resgate da auto-estima, ou seja, proporcionar um clima satisfatório para os servidores. Sabe-se, no entanto, que todo processo de mudança organizacional é em longo prazo, ademais as organizações públicas, em especial, apresentam ainda resistências às mudanças e à efetiva implementação dos modelos e ferramentas de gestão contemporâneos (COELHO, 2004). Sendo assim, a visão de poder centralizado, burocracia elevada, atendimento insatisfatório e funcionários desinteressados prevalecem ainda no senso comum. A reforma administrativa apresenta-se, desta forma, como um instrumento estratégico de mudança e inovação, em busca de uma gestão eficiente e eficaz de recursos e problemas públicos e do atendimento às necessidades essenciais da sociedade (SCHWELLA, 2005). No intuito de atingir tais objetivos, os recursos humanos tem sido o principal alvo da Reforma Administrativa através de uma Administração Pública Gerencial que se espelha nos princípios de qualificação competitiva; aplicados, também, nas gestões empresariais (VIEIRA, 2000). Isto se dá porque funcionários capacitados e motivados que se vêem diante de oportunidades de “pensar” e não 29 apenas de executar tarefas trazem mais qualidade nos serviços oferecidos pelo setor público. A formação profissional, neste contexto, é realçada por meio de investimentos em conhecimentos e em habilidades profissionais (COELHO, 2004). Vários são os programas e planos de formação para atualização, reciclagem ou aperfeiçoamento de gestores e funcionários públicos elencados na reforma administrativa. Podemos citar o Programa de Desenvolvimento Gerencial Integrado (PDGI), desenvolvido pelo Governo do Estado da Bahia, que foi iniciado em sintonia com a Reforma do Estado em 1997. O PDGI ofereceu cursos com o objetivo de capacitar gestores do Estado, segundo uma perspectiva sintonizada com as novas tendências de gestão. Devido ao sucesso obtido, seus cursos foram transformados de extensão para pós-graduação lato sensu, sendo oferecidos os cursos de Gestão Organizacional Pública, Gestão em Segurança Pública, entre outros (SAEB, 2001). Até o ano de 2000, o programa capacitou quase dois mil servidores, conforme demonstra a figura abaixo: 670 534 494 63 1997 1998 1999 FIGURA 1: Servidores participantes do PDGI, 1997 a 2000. FONTE: SAEB/SRH, 2001 2000 30 Essa política de desenvolvimento dos recursos humanos abrange, também, outro desafio enfrentado pela organização pública: a atratividade e a retenção dos talentos profissionais. Como descreve Coelho (2004, p 104): As organizações públicas têm sido forçadas a encontrar maneiras de competir com o setor privado no recrutamento dos poucos talentos remanescente no mercado. Por razões políticas, uma organização pública não pode oferecer salários extremamente altos e “incentivos” exorbitantes. Uma organização pública pode, por outro lado, estimular um sentimento de orgulho no serviço público e fazer investimentos ativos no desenvolvimento pessoal e profissional de um indivíduo (COELHO 2004, pág 104) [...] A dificuldade das organizações públicas em atraírem e manterem profissionais capazes de atender demandas exigentes e com qualidade é um dilema que atinge diretamente ao alcance dos objetivos organizacionais. E é por isso que deve ser encarado como a pedra fundamental na estratégia política e organizacional da reforma administrativa (MADUREIRA, 2005). Conclui-se, portanto, que a modernização da gestão de pessoas no setor público é essencial para combater a perda de competitividade por talentos para o setor privado. Oportunidades de crescimento e de novos desafios é o que buscam os profissionais qualificados, especialmente, os recém graduados. Estes devem ser, portanto, um dos objetivos a seguir pelas organizações públicas para atrair e manter seus talentos profissionais. A partir dessa perspectiva, emerge a compreensão da necessidade de um novo estilo gerencial voltado para as pessoas que em nosso trabalho denominamos de gestão humanizada. Esta tem sido considerada como significativa ferramenta para mudança e inovação na relação de trabalho, especialmente por apresentar uma orientação humanista (CARVALHO, 1995; COELHO, 2004; LEITÃO e LAMEIRA, 2005; MENEZES, 2002). Assim, como no nosso problema de pesquisa contempla esta noção, é importante dedicarmos o próximo capítulo ao aprofundamento e compreensão deste assunto. CAPÍTULO 3: Gestão Humanizada: Tendências Globais “No dia em que deixarmos de exercer ao máximo nossa capacidade, matamos uma parte do Cristo, do Einstein e do da Vinci que temos em nós” Henry Miller 32 CAPÍTULO 3: Gestão Humanizada: Tendências Globais 3.1 O Novo Paradigma Gerencial As relações humanas no trabalho têm sido caracterizadas, ao longo da história, pela submissão dos dirigidos aos dirigentes (MENEZES, 2002). Devido às rápidas mudanças, muitos dos pressupostos utilizados, há uma década atrás, tornaram-se inadequados ao atual contexto organizacional. Assim, enfoques mecanicistas, correspondentes às primeiras teorias organizacionais, que privilegiam o poder e controle nas relações de trabalho não são mais eficazes perante as novas situações empresariais que requerem mudança e inovação (ARAÚJO, 2001 e MENEZES, 2002). Nesse sentido, é identificada uma transformação paradigmática organizacional emergente que começa exigir novas formas de lidar com as pessoas dentro das organizações, ou seja, com orientação humanista (CARVALHO, 1995; COELHO, 2004; LEITÃO e LAMEIRA, 2005; MENEZES, 2002). Na perspectiva humanista, e no âmbito da economia neoliberal, o homem deixa de ser meio, mero fator de produção subordinado aos interesses do capital e da técnica, para ser o fator essencial de todo processo produtivo. Ademais, reivindica-se a satisfação das necessidades humanas tais como a dignidade e a valorização do indivíduo no trabalho (LEITÃO e LAMEIRA, 2005). O processo evolutivo do estilo gerencial passa a ser, portanto, voltado para as pessoas e, assim, mais descentralizado e participativo, em contraposição à rigidez burocrática, buscando o aperfeiçoamento contínuo a fim de satisfazer as necessidades do indivíduo e da organização como um todo (MENEZES, 2002). Percebe-se assim, no novo modelo gerencial, uma perda gradual da importância dos chefes tradicionais que são valorizados pelas competências técnicas e o poder de influência através da supervisão constante e coação, para dar lugar ao gestor líder voltado para o resgate da humanização no ambiente de trabalho (ARAÚJO, 2001). 33 Segundo Viveiros (1997), o conceito de liderança, voltado para o amplo exercício do poder - dar ordens e manter o controle - já está superado: liderança depende dos liderados. A cada dia, percebe-se que as pessoas só se esforçam se seu trabalho resulta na satisfação de suas necessidades e proporciona oportunidade de demonstrar o máximo de suas capacidades. Viveiros (1997, p 57) salienta ainda que: O líder só pode obter resultados com e através das pessoas, se tiver capacidade de selecionar e desenvolvê-las, comunicar-se, motivá-las e tomar decisões que estimulem a sua realização. Com uma liderança adequada, as pessoas podem realizar muito, mesmo se lhes faltem planos e controles, com estes propósitos as pessoas tornam-se excepcionais (VIVEIROS 1997, pág 57). Desta forma, a conscientização de que a mudança organizacional passa primeiro pelas pessoas é fundamental. Paradoxalmente, deve-se salientar que não se humaniza uma organização com decretos e regulamentos (ARAÚJO, 2001). Provoca-se primeiro a mudança nas pessoas para depois se mudarem os métodos e processos. Além disso, é necessário promover uma vontade interior nas pessoas para a mudança; pois, só assim, a organização garantirá os melhores e mais eficazes resultados. A gestão humanizada - objeto de nossa pesquisa - apresenta-se, portanto, como uma evidência do novo paradigma organizacional. Esta tem como intuito propor uma mudança do perfil do gestor em substituição ao estilo autocrático para tornar-se um líder e poder captar e desenvolver a capacidade criativa e os talentos que a organização dispõe. Este novo paradigma com orientação humanista se estende, também, as organizações públicas, tornando-se o elemento construtivo dos novos estilos de gerenciamento público, a fim de contemplar as novas exigências da sociedade. Sendo assim, a construção e a implantação do modelo gerencial humanizado no setor público requerem o desenvolvimento de novas e múltiplas competências do gestor que caracterizem o perfil do gestor-líder. Este perfil de liderança, portanto, é dinâmico e 34 multifacetado que transforma o gestor em um agente de mudanças via a arte de liderar pessoas, mobilizando energias para a qualidade dos serviços públicos (FERREIRA, 2001). Para termos uma melhor compreensão desta perspectiva, aprofundaremos este tema no tópico seguinte. 3.2 Competências Gerenciais requeridas para a implantação da Gestão Humanizada A atual ruptura paradigmática exige um reposicionamento por parte dos gestores para poderem enfrentar as novas situações advindas da globalização e dos avanços tecnológicos (ARAÚJO, 2001). Tal reposicionamento reflete-se em novas formas de pensar e agir em busca do desenvolvimento de uma nova relação de trabalho. Esta deverá ser baseada na confiança, no respeito e no compartilhamento das decisões, construídos no tempo e no espaço, a fim de todos trabalharem comprometidos e satisfeitos (FERREIRA, 2001). Segundo Menezes (2002), uma das condições para a mudança e inovação é a presença de uma liderança capaz de tornar as pessoas aptas a enfrentarem os desafios de adaptação e, assim, maior garantia da sobrevivência e do sucesso organizacional. A responsabilidade do líder, portanto, é a busca da manutenção da motivação da equipe e o incentivo à mudança no trabalho de modo a melhorar a flexibilidade, inovação e prontidão de respostas para a busca de soluções e o alcance dos objetivos organizacionais (ARAÚJO, 2001). Nesse sentido, a competência gerencial é o aspecto essencial porque é através dela que se processa o conteúdo de mudança, o saber técnico e a cultura organizacional (VERGARA e BRANCO, 1995). Competência, aqui, compreendida como os conhecimentos e experiências aplicáveis em uma organização e confirmados pelo nível de formação profissional e pelo domínio das funções exercidas (SOUZA, 2002). 35 No século XX, Robert Katz (apud SILVA, 2004) enunciou pelo menos três tipos de habilidades essenciais para que o gerente possa executar eficazmente suas tarefas: HABILIDADE TÉCNICA – consiste na utilização dos conhecimentos, métodos, técnicas e equipamentos necessários para a realização de suas tarefas específicas, através de sua instrução, comunicação, experiência e educação; HABILIDADE HUMANA – consiste na capacidade de trabalhar com pessoas, compreender suas atitudes, necessidade e motivações, através de uma liderança eficaz; HABILIDADE CONCEITUAL – consiste na habilidade de compreender as complexidades da organização e do seu ambiente interno e externo, bem como promover o ajustamento do comportamento das pessoas dentro dela, ou seja, permite que as pessoas se comportem de acordo com os objetivos organizacionais. Ademais, Katz, em seu modelo de competências gerenciais, observa que conforme o gerente sobe na escada hierárquica, a importância da habilidade técnica diminui, enquanto que a habilidade conceitual torna-se mais necessária. Isto ocorre, pois, para um gerente de primeira linha, o qual está diretamente ligado ao trabalho operacional, o conhecimento técnico é muito mais importante do que para um diretor da alta administração. E este, por sua vez, necessita utilizar muito mais sua competência conceitual para a formulação de objetivos e adequação da organização aos cenários futuros almejados (SILVA, 2004). O diagrama a seguir ilustra essa idéia: 36 ADIMINISTRAÇÃO Habilidades SUPERIOR Conceituais GERÊNCIA Habilidades INTERMEDIÁRIA Humanas GERÊNCIA DE PRIMEIRA LINHA Habilidades Técnicas FIGURA 2: Habilidades gerenciais, nos diversos níveis de administração (adaptado) FONTE: SILVA, 2004. Vergara e Branco (1995) observam que, enquanto no passado a competência gerencial estava associada à posse de habilidades específicas (técnicas, humanas e conceituais), no presente ela parece envolver também o desenvolvimento de atitudes, valores e visões de mundo, de modo a permitir aos gestores apreender e lidar com uma grande variedade de forças dentro e fora das organizações. Assim sendo, a competência - no modelo de gestão humanizada - volta-se para a visão humanística, fazendo com que o gestor passe a ter uma compreensão mais ampla da natureza e das motivações humanas, bem como da influência do ambiente social externo à organização sobre o comportamento das pessoas (CARVALHO, 1995). Desta forma, para a efetiva implementação da gestão humanizada, o gestor deve reunir competências, ou seja, a capacidade de utilizar conhecimentos, habilidades e atitudes no exercício da liderança. De acordo com Bennis (1996), a liderança é algo que se ensina, pois está diretamente ligada ao caráter e à capacidade interpessoal e intrapessoal na interação de sujeitos. E se diferencia da gerência, pois esta é a ciência e àquela é arte de uma 37 característica desenvolvida. A liderança é, portanto, dimensão da ação humana em prol da eficácia organizacional (FERREIRA, 2001). Segundo Ferreira (2001), podemos constatar diversos tipos de lideranças nas organizações públicas, baseadas no modo de gerir sua equipe de trabalho: Coercitivo – o líder impõe decisões, exige obediência dos demais. Provê especificações detalhadas do trabalho, determina a atividade, dá instruções, faz uma planificação global do trabalho; Orientador – o líder participa aos membros da equipe a orientação geral do trabalho, dialoga, mas ele é quem toma a decisão final. É capaz de interpretar o pensamento da equipe, preocupando-se com o desenvolvimento das pessoas. Antecipa negociações. Educa e estimula, sugerindo processos alternativos; Autoritário – o líder centraliza as tarefas, controla e coage para trabalhar. Dá ordens. Cria sua própria direção e controla o que estão fazendo. Mantém-se psicologicamente longe da equipe, não participa da sua vida. Procura impor sua vontade, arbitrariamente. Apóia-se na capacidade de competir à obediência. Comanda, manipula, manobra; Paternalista – o líder motiva a equipe por meio de promoções e recompensas. Apresenta o problema, pede idéias aos colaboradores, mas quem decide é ele; Democrático – o líder confia e delega responsabilidade, dá liberdade à equipe para ser inovadora. Elogia e participa da vida da equipe, fazendo parte da mesma. Apresenta o problema e as limitações para que, coletivamente, a equipe decida. Aceita conselhos, recomendações e sugestões dos seus colaboradores. Implementa uma liderança participativa. 38 Educador – o líder estabelece uma gestão estratégica, com metas e guias. É dialógico e interativo. Dedica-se a um trabalho operativo na promoção de mudanças qualitativas. Nesse propósito, o gestor líder ideal é orientador de resultados de processo, democrático e também educador, pois consegue traçar e atingir metas e objetivos com as equipes que lideram (FERREIRA, 2001). Isso se dá, porque o líder ideal recusa a idéia de que a efetividade no trabalho depende exclusivamente de comando e formalidade, buscando obter o empenho das pessoas através do desenvolvimento de seus talentos como elemento-chave para assegurar o sucesso organizacional (CARVALHO, 1995). Desta forma, está claro que a motivação e comprometimento dos funcionários são fatores decisivos para a sobrevivência e o sucesso da organização. Para tanto, é necessário o desenvolvimento de competências gerenciais que contemplem o perfil do gestor líder para que este promova relacionamentos mais humanos no trabalho através do compartilhamento das decisões e formação de equipes, além da valorização e do desenvolvimento do potencial dos funcionários. Assim, a implantação da gestão humanizada no setor público traz, sem sombra de dúvidas, impactos diretos no modo de pensar e executar as tarefas tanto dos dirigentes quanto dos dirigidos. Tais impactos, no entanto, só mostrarão resultados positivos se a gestão humanizada for efetivamente preconizada nas políticas e práticas gerenciais públicas, ultrapassando os obstáculos intrínsecos na estrutura burocrática e tornando-se imperativa na cultura organizacional. 3.3 Impactos da Gestão Humanizada no Setor Público O grande propósito da implantação da gestão humanizada no setor público, como dito anteriormente, é a preocupação do gestor em ressaltar a humanização no ambiente organizacional. Esta preocupação reflete-se na busca do equilíbrio entre a 39 satisfação das necessidades dos funcionários e os objetivos organizacionais, que no caso da organização pública, é a excelência e qualidade no serviço público. Diante disso, percebe-se que a implantação da gestão humanizada trará mudanças significativas no gerenciamento relativas às competências do gestor público e ao clima de satisfação para os funcionários públicos. Isto ocorre, porque a gestão humanizada afetará sensivelmente o somatório das percepções, opiniões, atitudes e comportamentos individuais. A partir da substituição do tradicional gerente burocrático para o gestor líder, a decisão compartilhada, o trabalho em equipe, a liberdade de expressão e de criatividade, a delegação de responsabilidades e a menor formalidade no ambiente de trabalho serão os objetivos preconizados pela gestão humanizada com o intuito de atender algumas das necessidades humanas. Nesse contexto, as novas competências para o gestor se resumem em atitudes e comportamentos ideais, como descreve Souza (2002, p 86): [...] atitudes que possibilitem o uso do poder e da autoridade para obter comportamentos administrativos desejáveis; nessa dimensão pode-se, além de muitos fatores, considerar o empreendedorismo que, visto como a capacidade de inovação, leva ao desenvolvimento de atributos pessoais, tais como a criatividade, a perseverança, a capacidade de assumir riscos, a motivação para a realização, a responsabilidade pelos resultados, habilidades no relacionamento pessoal, liderança e visão de futuro (SOUZA 2002, pág 86). Ademais, no que tange ao estudo do clima organizacional, Lobo (2003) ressalta que os motivos, as atitudes e os comportamentos constituem fortes indicadores da configuração do clima. Tais percepções são abrangentes e incluem salários, benefícios extra-salariais, condições de trabalho, sociabilidade, estima, autoconfiança e autorealização. Nesse sentido, Herzberg (apud LOBO, 2003) estabelece certas relações significativas, considerando que: as motivações e percepções dependem de condições 40 extrínsecas ao trabalho e que, quando não existem, geram insatisfação – baixos salários, insegurança, baixo status, gerenciamento retrógrado e fraca supervisão, falta de qualidade nas relações interpessoais com os companheiros, subordinados e superiores; e as motivações e percepções dependem de fatores intrínsecos ao trabalho que, quando existem, constituem fortes indícios de satisfação – realização, reconhecimento, responsabilidade, progresso. Além do gosto pela responsabilidade e resolução de problemas, necessidade de afiliação e desejo de interação social ( MCCLELLAND APUD LOBO 2003, p 78). A este propósito, Vásquez (apud LOBO, 2003) afirma que quando o clima predominante é de apoio, permitindo realizar expectativas e necessidades individuais, resultará em comportamentos facilitadores de uma maior execução das tarefas. Sendo assim, a gestão humanizada contribuirá para o surgimento de fatores extrínsecos com a mudança das atitudes e habilidades do gestor com a proposta de um estilo mais democrático e voltado efetivamente para as pessoas; contribuindo, também, para as relações interpessoais no ambiente de trabalho. Bem como, para o clima de satisfação através dos fatores intrínsecos com a valorização do servidor e do seu trabalho desempenhado, além do exercício da boa liderança. Sabe-se, no entanto, que muitas das condições citadas para a construção do clima de satisfação não dependem somente de uma gestão intermediária. É preciso que as práticas gerenciais motivacionais sejam incentivadas pelas políticas e estratégias das organizações públicas, pois para que toda mudança organizacional dê certo, devese partir de cima para baixo na estrutura hierárquica. No próximo capítulo, daremos inicio à fase metodológica, a fim de constatar as evidências teóricas colocadas e aprofundarmos nossa investigação a partir do estudo empírico. Para tanto, daremos destaque ao método utilizado, suas ferramentas e objetivos que melhor se adequam à finalidade de nossa pesquisa. CAPÍTULO 4 – Metodologia de Pesquisa “O que vale a pena ser feito vale a pena ser bem-feito” N. Poussin 42 CAPÍTULO 4: Metodologia de Pesquisa 4.1 Metodologia: Estudo de Caso Simples Esta monografia trata de uma pesquisa qualitativa que possui como estratégia metodológica o estudo de caso. A pesquisa qualitativa se preocupa com um nível de realidade que não pode ser quantificado, respondendo a questões bastante particulares e por isso foi a abordagem metodológica que escolhemos para nossa pesquisa. Como explica Minayo (2004, p 22): [...] ela trabalha com o universo de significados, motivações, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis (MINAYO, 2004; pág 22). O método do estudo de caso foi escolhido por melhor se adequar à finalidade da pesquisa, pois com o estudo de caso podemos descrever a situação do contexto onde está sendo feita a investigação e explicar as variáveis causais que afetam-na (GIL, 1999). O estudo de caso é caracterizado pelo estudo profundo e exaustivo de um ou de poucos objetos, de maneira que permite o seu amplo e detalhado conhecimento (GIL, 1999). A nossa pesquisa foi caracterizada como sendo um estudo de caso simples, pois foi delimitada apenas uma unidade de análise. Nesta unidade, iremos explorar nosso problema de pesquisa (Como a gestão humanizada pode contribuir para um clima de satisfação dos funcionários no setor público?), a fim de corroborar com nossa revisão de literatura e poder fazer descobertas e questionamentos até então não levantados. 43 4.2 Procedimentos Metodológicos 4.2.1 Unidade de Análise Segundo Yin (2004), a unidade de análise está relacionada com a definição do que o caso é, podendo ser ela um indivíduo, uma decisão, um programa ou sobre a implantação de um processo ou uma mudança organizacional. A definição da unidade de análise está ligada à maneira pela qual as questões de estudo foram definidas. Nesse sentido, procuramos escolher uma unidade de análise que fosse um lugar fecundo para conseguirmos responder nosso problema de pesquisa, aprofundando na compreensão do conceito de gestão humanizada e como sua implantação pode contribuir para o clima de satisfação dos funcionários públicos. Desta forma, realizamos o estudo de caso simples junto ao Instituto Anísio Teixeira uma organização pública, tendo como foco seu estilo de gerenciamento. Este órgão escolhido está localizado em Salvador e foi criado pela Secretaria da Educação e Cultura do Estado da Bahia com a finalidade de promover a capacitação e aperfeiçoamento dos profissionais da área de educação. Escolhemos, dentre as estruturas hierárquicas do instituto, a Diretoria de Formação e Experimentação Educacional encarregada de fomentar, executar e coordenar experimentações educacionais e tecnológicas em unidades escolares, bem como acompanhar e avaliar seus resultados para apurar sua validade. 4.2.2 Preliminares ao Estudo Empírico Inicialmente, a organização escolhida foi contactada através da diretora geral Srª. Iara Vieira via e-mail, com pedido de solicitação para a realização da pesquisa, demonstrando inclusive como seria enriquecedor para ambos um estudo acadêmico na 44 área de gestão de pessoas. Além de ressaltar a grande contribuição desta organização pelo seu reconhecimento essencial para a sociedade. Após a resposta favorável, enviamos um outro pedido formalizado por uma carta, e procuramos marcar a primeira entrevista no local, esclarecendo inclusive a garantia do sigilo em todo processo investigatório. Solicitamos, também, a indicação de quatro funcionários, que deveriam fazer parte da mesma equipe de trabalho, ou seja, ligados a uma única gestora-líder, para serem entrevistados no dia e hora marcados. No dia combinado, a pesquisadora foi recebida pela diretora de formação e experimentação educacional que, primeiramente, buscou-se iniciar uma conversa de caráter informacional, levantando dados gerais sobre a instituição, tais como a missão, a estrutura hierárquica, projetos desenvolvidos, etc. Logo em seguida, iniciou-se a entrevista, baseada no protocolo analítico planejado em busca de informações mais detalhadas relativas à pesquisa monográfica e, satisfeitas estas, passaram-se para as entrevistas com os funcionários. Procurou-se passar uma relação de harmonia e segurança, através do caráter descontraído da pesquisadora e o destaque da garantia que os nomes dos entrevistados não seriam expostos nos questionários e que seu conteúdo não seria levado à publicação de forma leviana. Desta forma, acreditamos que estes cuidados permitiram que os entrevistados se sentissem à vontade, expondo sem receios suas percepções sobre a organização. 4.2.3 Coleta do Material Empírico Para contemplar o material empírico, utilizou-se, como instrumentos de coleta de dados, as entrevistas semi-estruturadas, a observação direta e a análise de documentos referentes à organização. De acordo com Yin (2004), a interpretação dos dados deverá ser feita em estudos de caso por analogia de situações, buscando 45 responder às questões “por que” e “como” inicialmente formuladas. Já a análise, será feita relacionando-se as informações obtidas com as proposições estabelecidas no início da elaboração do projeto de pesquisa. 4.2.3.1 As Entrevistas Semi-Estruturadas As entrevistas permitem a obtenção de dados referentes a percepções, posturas e atitudes dos servidores relativamente ao nosso problema de pesquisa explorado. As entrevistas semi-estruturadas foram escolhidas por permitirem uma condução mais flexível do processo de obtenção dos dados. Ademais, a técnica de entrevista admite a realização de correções de curso ao longo da abordagem e que possam ser prestados esclarecimentos acerca do procedimento em andamento (BERGUE, 2005). Para realizar-se as entrevistas foram elaborados dois questionários um para o líder e outro para os liderados, com aproximadamente 16 questões cada, divididos em quatro tópicos que achamos suficientes para responder nossa problemática. No primeiro tópico, buscou-se levantar dados gerais dos entrevistados; no segundo e terceiro, informações acerca das competências gerenciais, tomando-se como inspiração os três estilos de competências, proposto por Katz (SILVA, 2004) em seu modelo gerencial analisado em nosso referencial teórico. No último tópico, foi colocada uma questão complementar sobre clima, para levantarmos mais dados de forma específica e assim obter maior embasamento ao responder nosso problema de pesquisa. No total foram entrevistadas cinco (5) pessoas todas do mesmo setor e equipe de trabalho. A primeira a ser entrevistada foi a líder que levou aproximadamente 1h e 40 min para responder ao questionário e, logo em seguida, passou-se entrevistar os liderados que duraram em média 30 min cada entrevista, totalizando um total de 3h e 40min para a finalização. O quadro a seguir reúne as habilidades referenciais tomadas para a análise da gestão humanizada: 46 DIMENSÕES PARA A HABILIDADES DO GESTOR GESTÃO HUMANIZADA Capacidade de comunicar idéias Competência Técnica Capacidade de trabalhar com equipes Capacidade de formar substitutos Capacidade de resolver conflitos Práticas de valorização do ser humano Competência Humana Relacionamento interpessoal Capacidade de estimular pessoas Empatia Capacidade de pensar estrategicamente Competência Conceitual Capacidade reflexiva Capacidade empreendedora Visão Sistêmica QUADRO 3 : Habilidades gerencias para a implantação da gestão humanizada FONTE: Elaborado pela autora 4.2.3.2 A Observação Essa técnica de coleta de dados pode ser realizada em diferentes níveis (desde a observação direta até mesmo a participante). Essa abordagem, aliada às entrevistas, permite conhecer em maior profundidade a realidade em que as atividades são desenvolvidas pelos servidores. A partir desta modalidade de coleta, poderão ser levantados dados com detalhes que alcançam desde aspectos mais objetivos relacionados com o processo de trabalho e ambiente físico, até as relações pessoais, tensões e vetores de poder (BERGUE, 2005). 47 Nessa perspectiva, a pesquisadora pôde fazer a observação sobre dois aspectos. O primeiro no que tange ao ambiente físico, notando diferenciais na estrutura física, tais como espaço para lazer (área verde, quadra esportiva), refeição (restaurante) e entretenimento (biblioteca e auditório), além da definição do espaço de trabalho e a presença de recursos facilitadores como data-show e computadores individuais. E o segundo relacionado ao processo de trabalho e a relação interpessoal, observando a informalidade no trato entre os colegas e com o superior, a falta de receio em falar das percepções negativas da organização e a obrigatoriedade da assinatura do ponto como um controle retrógrado e propulsor de insatisfações no clima organizacional. 4.2.3.3 A Análise dos documentos A análise documental constitui a forma mais básica de obtenção de dados secundários, não excluindo que poderão ser extraídos também, a partir da análise, dados primários (BERGUE, 2005). Esses dados poderão ser obtidos através da leitura de periódicos publicados sobre a empresa, relatórios gerenciais, arquivos de registros funcionais, etc., assumindo juntamente com a observação, um caráter mais objetivo e concreto. A entrevistadora pôde ter conhecimento acerca de dados estatísticos sobre a abrangência do público-alvo do programa da Instituição e do plano de ação que foi realizado juntamente com a equipe de trabalho, além de buscar informações mais gerais no site da instituição. 4.2.4 Análise do Material Empírico Após a coleta de todo o material, a autora desta monografia passou a fase de transcrição. A transcrição e revisão de cada entrevista duraram em torno de 10 horas, 48 tempo considerado suficiente para que houvesse o máximo cuidado à fidelidade dos dados obtidos. Ademais, houve a preocupação dos dados serem transcritos literalmente, demonstrando na pesquisa o caráter direto e real das respostas. 4.2.5 Período da Etapa Empírico-Analítica Por último, a fim de ilustração, o período de coleta, transcrição e análise do material ocorreu no mês de novembro de 2006. Conforme visualizado no quadro a seguir, as duas primeiras semanas serviram para a coleta de dados (por meio das entrevistas semi-estruturadas, observações e análises dos documentos da organização) como também para a transcrição das entrevistas. Já as duas últimas semanas serviram para a interpretação e análise dos dados, levando à parte final dos capítulos empíricos por meio das implicações e conclusão da pesquisa monográfica. PERÍODOS CORRESPONDENTES/ Etapas do Estudo Empírico Mês de Novembro (semanas) 1 2 3 4 Coleta de Dados Transcrição dos dados Interpretação e Análise do material empírico QUADRO 4: Cronograma do período empírico-analítico FONTE: Elaborado pela autora A partir de então, iremos para o próximo capítulo, onde daremos aprofundamento à interpretação e análise dos dados empíricos para tentarmos responder ao nosso problema de pesquisa. CAPÍTULO 5 – Análise e Interpretação do Estudo de Caso: Instituto Anísio Teixeira “Não tenho tempo de desfraldar outra bandeira que não seja a da compreensão e do entendimento entre as pessoas” Elis Regina 50 Capítulo 5: Estudo de Caso no Instituto Anísio Teixeira (IAT) 5.1 Descrição e Análise dos Dados Obtidos Neste capítulo, daremos início à fase de análise e interpretação do estudo empírico, buscando responder como a gestão humanizada pode contribuir para um clima de satisfação dos funcionários no setor público. Para sabermos como pode contribuir precisamos explorar, preliminarmente, uma organização pública que possua uma gestão humanizada e seus efeitos para o clima de satisfação. Desta forma, procuramos investigar uma equipe de trabalho, na qual haja uma liderança voltada para as pessoas com um estilo democrático e participativo, bem como os liderados e suas percepções através de entrevistas semi-estruturadas. As entrevistas foram realizadas pela própria autora desta monografia, sendo realizada face a face no dia e horário previamente acordado. Como mencionado, as entrevistas caracterizaram-se como sendo do tipo semi-estruturadas, ou seja, com questões abertas que no decorrer das entrevistas permitiram um aprofundamento em outros questionamentos levantados acerca de nossa problemática. Antes de ir a campo, o protocolo de entrevistas foi conferido e validado pelo professor-orientador desta monografia. Como já descrito no capítulo metodológico, o protocolo de entrevista foi estruturado em cinco categorias para análise que, assim focamos, pois pesquisas sinalizam que essas categorias são importantes para o gestor humanizador. A primeira categoria buscou informações gerais dos entrevistados, a fim de elencar alguns atributos que pudéssemos caracterizar nossa amostra. Assim, identificamos nossos entrevistados por: idade, sexo, grau de escolaridade, categoria profissional, tempo de trabalho na organização e tempo de experiência no setor público. Dos cincos entrevistados, em relação ao sexo, todos foram do sexo feminino; com 51 relação à idade, a faixa etária foi de 35 a 65 anos; no que tange ao grau de escolaridade e a categoria sócio-profissional, todos possuíam nível superior e apenas 2 pós-graduação, destas uma tinha lato sensu em liderança organizacional e a outra mestrado em educação; 1 era professora aposentada e diretora; 3 eram coordenadoras pedagógicas, sendo 2 pedagogas e 1 professora formada em letras com inglês, e 1 técnica pedagógica, formada em pedagogia. Em relação ao tempo de trabalho no instituto, 2 tinham de 2 anos e meio a 3 anos e 3 possuíam de 8 meses a 1 ano e meio de tempo na casa. Por fim, concernente ao tempo de serviço público, 4 possuíam de 24 anos a 30 anos de serviço correspondentes ao tempo de magistério e 1 tinha 2 anos e meio como líder pedagógica. Nivel Profissional IDADE 40% 40% 20% 60% 40% De 35 a 40 anos De 41 a 50 anos Mais de 51 anos FIGURA 3: Caracterização dos Entrevistados Superior com Especialização Superior sem Especialização 52 Tempo na Organização Tempo de Serviço Público 40% 80% 60% 20% 2 a 3 anos mais de 5 anos 8 meses a 2 anos 2 anos e meio a 3 anos FIGURA 4: Caracterização dos Entrevistados É importante frisar que todos os entrevistados estavam vinculados à mesma diretoria de formação e experimentação educacional, ademais houve a idéia interessante de entrevistar pessoas da equipe de trabalho que exerciam também papel de liderança em suas funções, quer dizer, os liderados entrevistados também possuíam uma visão, mesmo que setorial/funcional, de líderes, o que acabou contribuindo para compreender diversas visões e versões acerca do fenômeno explorado, bem como corroborar para pontos levantados em nossa revisão de literatura. Diretoria do IAT Diretoria de Formação e Experimentação Educacional Nome Fictício dos entrevistados Categoria sócioprofissional Entrevistado 1(F1) Diretora Coordenadora Pedagógica Técnica Pedagógica Coordenadora Pedagógica Coordenadora Pedagógica Entrevistado 2(F2) Entrevistado 3(F3) Entrevistado 4(F4) Entrevistado 5(F5) TABELA 1: Lista dos Entrevistados Total de Entrevistados 05 53 A partir do referencial teórico, podemos inferir que as habilidades consideradas para uma gestão humanizada se classificam em três dimensões: competência técnica, competência humana e competência conceitual. Sendo que, uma não sucede a outra, pois todas são importantes para o gerenciamento humanizado no setor público. Sendo assim, a partir da segunda categoria, começamos a buscar informações que pudessem responder nosso problema de pesquisa, baseadas no capítulo teórico sobre gestão humanizada, especificamente nas competências gerencias. Assim, no segundo tópico formulamos questões com relação às habilidades do gestor em comunicar idéias, trabalhar em equipe, formar substitutos e a capacidade de resolver conflitos. No terceiro, nos referimos ao relacionamento interpessoal, capacidade de estimular pessoas, empatia e sobre as práticas de valorização do ser humano. Na quarta categoria, enfatizamos sobre a habilidade reflexiva, de pensar estrategicamente, empreendedora e de visão sistêmica. 5.2 Análise do Material Empírico Como vimos, buscamos identificar como uma gestão humanizada pode contribuir para um clima de satisfação para os funcionários no setor público. Para tanto, a gestão humanizada propõe resgatar o elemento humano através do desenvolvimento e/ou aprimoramento de habilidades gerenciais que, baseado no modelo de Katz (SILVA, 2004), achamos essenciais para a efetiva implantação da gestão humanizada. Assim, partimos do pressuposto que as três competências (técnica, humana e conceitual), quando reunidas, permitem ao gestor uma melhor compreensão do ambiente interno, considerando a natureza e as motivações humanas, como também a influência das forças sociais externas sobre o comportamento das pessoas e, conseqüentemente, no clima de satisfação. 54 5.2.1 Competência Técnica Nesta categoria de análise, procuramos levantar informações que estivessem relacionadas com as habilidades, conhecimentos e atitudes para a execução das tarefas específicas que conduzissem a gestão humanizada, através da comunicação, experiência, educação e trabalho grupal. Para tanto, a resposta à primeira pergunta sobre o formato de trabalho foi unânime, isto é, 100% das entrevistadas afirmaram que trabalhavam em equipe. Ademais, no tange ao papel do líder neste processo, foi colocado a ênfase na comunicação e participação tanto para o diálogo como para o planejamento da execução dos projetos de trabalho. Como frisou a entrevistada F1: [...] aqui nosso formato de trabalho é dialógico, procuro mostrar-me aberta a ouvir e discutir situações (...). Sempre fazemos nosso plano de ação com a participação de todos (ENTREVISTADA F1). Em relação à resolução de conflitos, 80% das entrevistadas colocaram que também se dá através do diálogo para tentar resolver da melhor forma possível. Para entrevistada F1, nos conflitos relacionados, especialmente entre os colegas de trabalho, é necessário inicialmente procurar saber quais os motivos do desentendimento de modo individual, para depois poder interferir e colocar sugestões para atenuar ou sanar as causas geradoras e assim retornar ao relacionamento amistoso. Ademais, procurou-se saber das oportunidades de aprendizagem e a maioria respondeu que ocorria no dia a dia, no decorrer do trabalho, uma ajudando a outra a resolver alguma dificuldade de acordo com as experiências individuais, conhecimento mútuo e atividades integradoras. Percebemos, assim, uma forma de aprendizagem que permite a troca de experiências e práticas de modo voluntário; contribuindo para um maior engajamento no relacionamento interpessoal e, portanto, favorece no clima de satisfação. A entrevistada F4 ressalta: 55 Sempre que tenho alguma dificuldade não tenho receio em pedir ajuda a minha colega (....) não quer dizer que ela é melhor do que eu e sim que, naquela tarefa ou problema, ela tem maior conhecimento ou experiência (...) aqui nós pregamos pela ajuda mútua (ENTREVISTADA F4). As entrevistadas também sinalizam para a importância da líder no processo de aprendizagem e maior engajamento no ambiente de trabalho. Para as entrevistadas F2 e F4, o líder funciona como um elemento motivador, incentivando os funcionários a contribuírem com suas experiências profissionais através de uma auto-imagem de humilde detentor de conhecimento que prioriza seu compartilhamento. Outra questão levantada foi sobre o posicionamento do líder com discordâncias à suas decisões, a maioria das entrevistadas salientou que, em muitos casos, não poderia ser resolvido por mero diálogo, pois o líder no setor público está limitado à estrutura burocrática, não tendo ele total autonomia de suas decisões. A entrevistada F2 explica: o gestor responde hierarquicamente (...) parece que o líder no trabalho, ele não é ele (...) dono da situação! Ele não tem o poder de barganha como na empresa privada (ENTREVISTADA F2). Como vemos, o gestor no setor público tem sua autonomia limitada o que inibe seu potencial de liderança e compromete na construção do clima de satisfação para os funcionários. Assim, percebe-se que o gestor público precisa ultrapassar barreiras que estão intrínsecas na estrutura organizacional para a pleno exercício da gestão humanizada. Para isso, o desenvolvimento integrado de competências técnicas, humanas e conceituais se torna fundamental. Nesse propósito, a entrevistada F4, resume bem as competências de um líder. Para ela, o líder deve gerar resultados, ter diplomacia e a concepção de todo o processo organizacional, habilidades que se encaixam nos três estilos do modelo de competências, enfatizado em nosso trabalho. 56 5.2.2 Competência Humana A competência humana se destaca na gestão humanizada por se caracterizar pela compreensão das necessidades, interesses e atitudes dos liderados, quer dizer, é a capacidade de entender, liderar e trabalhar com pessoas; permitindo, assim ao gestor, motivar e liderar a sua equipe de trabalho - principais objetivos da gestão humanizada. A partir desta perspectiva, buscamos conhecer, primeiramente, a relação líder-liderado e como essa relação impacta emocionalmente os correlacionados. Em resposta a esses questionamentos, a entrevistada F1 colocou que procura ter um relacionamento aberto, sem a imposição de autoridade, e sim como uma facilitadora com o intuito de solucionar problemas, dar sugestões criativas e inovadoras, promovendo uma relação amistosa e de apoio com os liderados. Para a entrevistada F2, ela salienta que um dos grandes desafios do gestor público é saber conciliar as decisões superiores - sem impor seu poder de mando - com as necessidades da equipe de trabalho. Sobre isso a entrevistada F5 coloca: Por causa da estrutura burocrática, o que vemos no setor público é lideres de diversos estilos, do formal e autocrático ao democrático e participativo (...) um pouco de cada a depender da situação (ENTREVISTADA F5). Como vemos, o perfil do líder numa organização pública tende, muitas vezes, a priorizar características da liderança baseada na dominação racional-legal, quer dizer, no exercício da autoridade formal decorrente de normas instituídas (PEREIRA, 1996). Apesar disso, percebemos também que tal relação de poder de mando pode ser amenizada e melhor exercida através do desenvolvimento de habilidades que busquem maior compreensão das atitudes e necessidades humanas, ou seja, o resgate da humanização no ambiente burocratizado. 57 Nessa linha, o relacionamento interpessoal terá resultados positivos para a motivação e satisfação dos funcionários no ambiente laboral. Sobre isso, a entrevistada F1 coloca que há um sentimento de integração e maior engajamento que é cultivado através de encontros como almoços, jantares, reuniões e outros entretenimentos que são realizados dentro da organização, como também fora, em outros locais como hotéis, restaurantes ou na casa de algum colega de trabalho. Em seguida, passou-se para a próxima questão analítica, que demonstrou ser conveniente e oportuno, perguntar de forma direta qual era o estado de espírito em trabalhar naquela organização pública e se a entrevistada sentia-se estimulada em trabalhar lá. A maioria das entrevistadas colocou que se sentia bem e satisfeita em trabalhar naquela instituição, no entanto 60% responderam que precisa haver mais estímulos por parte da própria estrutura governamental. A entrevistada F4 posicionouse bem diante desta questão: a máquina burocrática do governo carrega uma estrutura desumanizada (...) temos que assinar o ponto, não podemos chegar um pouco atrasadas e quando dá o horário, temos que sair correndo, deixar tudo que estamos fazendo para assinar o ponto, mesmo quando precisamos sair mais tarde (ENTREVISTADA F4). O que pôde ser observado é que a maioria das entrevistadas demonstrou insatisfação em relação à obrigatoriedade e atrelamento de seu controle através da assinatura do ponto, o que muitas vezes causa desconcentração na execução e finalização das tarefas. Percebe-se, assim, o que compromete um clima de satisfação no setor público, especialmente nesta organização, não é a atuação do líder e sim mecanismos de controle e limitações impostas, seja por lei ou não, pela administração governamental. Nesse sentido, percebemos que a gestão humanizada terá uma papel fundamental na escolha e implementação de alternativas de controle que estejam de acordo com as diretrizes legais, bem como com as necessidades do grupo, para que o modelo imposto não atinja negativamente no clima de satisfação dos funcionários. 58 Finalmente, em resposta a última questão, foi ressaltada a importância de práticas de valorização do ser humano, bem como de ser servidor público. Este ponto foi bastante enriquecedor, pois além de ser um dos pontos chaves de nossa pesquisa, foi o qual levantou maiores questionamentos e sugestões para o tema. Assim, questionou-se a visão do servidor em relação a seu trabalho e objetivo, colocando que muito dos servidores não tem internalizado para quem e para quê presta o serviço, isto é, qual é sua missão juntamente com a organização pública. Como descreve a entrevistada F5: muitos servidores não têm visão do todo (...) é tarefeiro, se limita à suas tarefas, não provoca mudanças (...) eu sei que como servidora tenho que servir à sociedade com qualidade, mas quem tem compromisso acaba ficando sobrecarregado (...) é um sofredor, pois não tem adeptos (ENTREVISTADA F5). Diante dessa reflexão, nos deparamos com outro grande desafio a ser enfrentado pelo gestor: a tênue internalização da missão dos serviços públicos pelos servidores. Essa constatação é mais comum que se imagina e isso decorre da falta de práticas de valorização do elemento humano dentro da organização pública, bem como da importância da boa execução de seu trabalho para a sociedade. Sobre esse assunto, foi sugerido pelas entrevistadas F1 e F2 a criação de um órgão humanizador na estrutura burocrática do governo que se voltasse para a difusão de práticas de valorização do servidor público, com intuito de desenvolver seu potencial humano e profissional, sem esquecer é claro do papel do gestor como mentor do processo. 5.2.3 Competência Conceitual A gestão humanizada, como toda a forma de gerenciamento, também requer um alto nível de compreensão conceitual por parte do gestor. Assim, a competência 59 conceitual consiste na habilidade do gestor em compreender e lidar com a complexidade de toda a organização e de formular estratégias, ou seja, formas pelas quais a organização se relaciona com o ambiente externo. Através dela, permite-se que as pessoas se comportem em sintonia com os objetivos gerais da organização e não apenas com os objetivos e as necessidades do seu grupo imediato. Como já vimos, na proposta de Katz (SILVA, 2004), a competência conceitual é essencial na subida hierárquica, isto é, quanto mais elevado seu cargo mais será necessária exercer e/ou desenvolver a capacidade conceitual. Sendo assim, buscou-se identificar se o gestor possuía habilidades para pensar estrategicamente, de forma reflexiva e empreendedora, bem como se utilizava de visão sistêmica no processo administrativo. No primeiro questionamento, todos assinalaram que trabalhavam em prol do atingimento de metas organizacionais e através de planos de ação. Em segundo, também houve unanimidade em afirmarem que a gestora possuía uma postura inovadora e criativa, especialmente na resolução de problemas, o que proporciona maior garantia na escolha da estratégia a ser seguida para o alcance dos resultados. A entrevistada F2 ressalta: não sobreviveríamos sem inovação e criatividade (...) deve haver a liderança situacional, ou seja, saber agir de acordo com cada situação e conjuntura (..) além disso, deve haver a visão do todo para se obter os melhores resultados (ENTREVISTADA F2). Nesse propósito, os gestores públicos inovadores, também têm o papel de fazerem todo o possível para localizar e aproveitar os outros inovadores na organização, com vistas a criar um ambiente em que os funcionários possam desafiar o saber tradicional e no qual aprenda-se com os erros cometidos. Em relação aos fatores que dão maior segurança e precisão na tomada de decisão, foi ressaltado a importância da prévia análise e discussão pelo grupo sobre os 60 dados e informações obtidos sobre a situação, quer dizer, uma reflexão para a tomada de decisão. As entrevistadas F1 e F5 colocaram que, quando isso não ocorre, é devido aos ditames legais e burocráticos que limitam a tomada de decisão a seguir normas e procedimentos que excluem a possibilidade da discussão. Como relata a entrevistada F5: nossas discordâncias se dão por concepções diferentes, mas sabemos que se a líder toma uma atitude que desagrada é por causa das limitações burocráticas impostas (ENTREVISTADA F5). Assim, vemos mais uma vez, que os condicionantes ao exercício das habilidades e atitudes da gestão humanizada no setor público referem-se à entraves da própria estrutura governamental que muitas vezes não permite práticas essenciais para a satisfação dos funcionários como o compartilhamento de responsabilidades e a autonomia decisorial. Por fim, fica claro que é necessário ao gestor público desenvolver habilidades conceituais que favoreçam a tomada de decisão, tanto a nível global quanto a nível de sua equipe de trabalho. Para tanto, é necessário saber intermediar as necessidades do grupo com as limitações impostas pela estrutura governamental, para que não comprometa seu desempenho e estimule o desenvolvimento dos talentos que a organização pública dispõe. 5.2.4 Clima Organizacional O estudo sobre clima objetiva mapear ou retratar os aspectos críticos que configuram o momento motivacional dos funcionários, apurando suas expectativas e aspirações, ou seja, é uma análise do ambiente interno a partir do levantamento das necessidades dos colaboradores. 61 Nessa perspectiva, buscou-se responder a problemática dessa pesquisa através da caracterização de uma gestão humanizada e como esta propiciaria um clima de satisfação para os funcionários no setor público. Vemos que, a existência de uma liderança com competências essenciais para uma gestão humanizada no setor público, não é completamente suficiente para proporcionar satisfação plena no ambiente de trabalho. Isto ocorre, porque o líder na organização pública sofre limitações (burocráticas e políticas) que estão acima de seu poder de decisão e que acabam gerando descontentamento entre os funcionários. Em relação a isso, as entrevistadas F2 e F5 comentaram um fato comum, que ocorre no setor público, e que acaba repercutindo na estabilidade emocional deles: O que mais compromete nossa satisfação aqui é a falta de continuidade do líder onde sua trajetória na organização está fadada à politicagem (...) sempre quando estamos caminhando bem, aí temos que nos defrontar com uma troca de liderança (ENTREVISTADA F2). O curto período de tempo do líder na instituição compromete o conhecimento mútuo, traz insegurança e o esfacelamento do serviço (...) De tempos em tempos, temos que nos acostumar com um novo estilo de liderança (...) ficamos então indagando quem será que vem agora? (ENTREVISTADA F5). Nessa situação, o líder se mostra como mero instrumento político, uma espécie de representante da conjuntura política que muitas vezes é escolhido não por suas competências e experiência profissional na área e sim por conveniência e oportunidade dos chefes políticos. Desta forma, tanto o líder quanto os funcionários, percebendo que o exercício da liderança é fadada à períodos conjunturais, sentem-se desestimulados, especialmente ao fim do mandato político, em continuarem com o mesmo vigor no desenvolvimento dos trabalhos pela ameaça da mudança e o estilo gerencial do novo líder. 62 Essa situação provoca perturbações ao clima da organização que atinge diretamente à satisfação dos servidores e, conseqüentemente, à real efetividade da prestação dos serviços públicos. Assim, percebe-se, também, que a boa liderança deve se comprometer, até mesmo, neste processo de transição para que a finalidade e os objetivos dos serviços prestados pela organização pública não sejam prejudicados em sua efetividade. O próximo capítulo tratará de apresentar algumas implicações trazidas por nosso estudo, bem como a conclusão do trabalho com intuito de promover maiores conhecimentos e estímulos à futuras investigações nesta área da administração. CAPÍTULO 6 – CONCLUSÃO E IMPLICAÇÕES DA PESQUISA “Uma pessoa sensata criará para a sua vida mais oportunidades do que a vida lhe proporcionará” Francis Bacon 64 Capítulo 6: Conclusão e Implicações da Pesquisa Nesta monografia, inicialmente, buscamos discutir conceitos chaves relacionados com o gerenciamento de pessoas no setor público, tais como paradigma humanista, modelos de gestão e organização pública. Por meio de um estudo de caso simples, propusemos, uma reflexão sobre uma gestão humanizada no setor público. Para tanto, buscamos nos aprofundar nos conceitos de humanismo, competências gerenciais e clima de satisfação, com o intuito de averiguar quais as possíveis contribuições de uma gestão humanizada para o clima de satisfação dos funcionários, especificamente, no setor público. Ao realizar a revisão teórica sobre gestão de pessoas no setor público, constatamos que este tema tem gerado vários estudos e suscitado perspectivas enriquecedoras, com vistas a um novo direcionamento das gestões públicas no que tange ao relacionamento e motivação dos funcionários. A partir disso, através de nítidas evidências do nosso estudo empírico, concluímos que, mesmo existindo uma gestão humanizada na organização pública e esta trazer uma substancial contribuição para satisfação dos funcionários, há condicionantes que a tornam limitada em seu pleno exercício. Sendo assim, este estudo sugere implicações de aspectos diferenciados. Como dito, a primeira implicação imediata de nossa pesquisa é que existem condicionantes e barreiras à plena eficácia da gestão humanizada, o que corrobora com nossa revisão de literatura ao ressaltar que o gestor público deve possuir competências para agir dentro de metas e recursos limitados, funcionários controlados e protegidos por regime específico, além da pressão política (KLIKSBERG, 1993). A segunda implicação é que, por mais que se deseje e tente modernizar a administração pública e seu gerenciamento, ainda permanecem enraizados em sua estrutura, vestígios do modelo burocrático defendido por Weber que, como vimos, produz efeitos inibidores para a motivação e satisfação no ambiente de trabalho. Isto se 65 dá, porque limita a autonomia e criatividade do líder, utiliza-se de formas de controle coercitivos e sustenta um modelo baseado na influência política. A terceira implicação surge a partir das duas anteriores, que ao nos depararmos com tais limitações, este estudo identificou que para construção do clima de satisfação dos funcionários no setor público é necessário mais que uma boa liderança humanizada, e sim uma remodelação em toda máquina pública, desde o direcionamento de seus princípios, sua estrutura e as políticas e práticas gerenciais. A quarta implicação é que os valores e crenças positivos difundidos na cultura das organizações públicas ainda são muito frágeis, o que torna o servidor público suscetível ao fraco comprometimento devido à falta de internalização de sua missão e, conseqüentemente, mau direcionamento de seu potencial para a prestação do serviço público. E assim, faz com que atitudes, posturas e a velha imagem do setor público de ineficiência se sobressaiam e comprometam o desempenho individual. A quinta implicação é que, sem sombra de dúvidas, uma gestão humanizada traz significativas contribuições para o clima de satisfação dos funcionários; pois, é através dela, que se tenta amenizar os efeitos da estrutura burocrática, propiciando um bom relacionamento interpessoal, abertura para o diálogo e comunicação de idéias, compreensão das necessidades humanas, práticas integradoras e de valorização do ser humano, ou seja, fatores que trazem mais qualidade ao dia a dia no serviço público. Em síntese, tentou-se no decorrer desta pesquisa, ressaltar a importância de um novo estilo de gerenciamento de pessoas no setor público, que produz efeitos positivos diretos para a sociedade, através da prestação de serviços públicos com mais qualidade, bem como evidenciar as transformações ocorridas na área de gestão, considerando o novo paradigma com orientação humanista. Desta forma, esta monografia sugere maior compreensão sobre gestão de pessoas no setor público, mostrando que a mesma não pode continuar com os mesmos métodos tradicionais, sendo imprescindível uma gestão voltada para propiciar um clima de satisfação. Assim, ela estimula a reflexão e maiores estudos sobre mecanismos 66 atuais que são comumente utilizados pelas empresas privadas, mas que possam ser também redimensionados para a gestão de pessoas no setor público. Nesse propósito, sugere-se também a busca de estímulos motivacionais através do incentivo pelo desempenho, propondo a utilização, pela gestão pública, de formas de pagamento que não sejam em dinheiro. Uma alternativa seria o “pagamento psicológico”, defendido por Osborne (apud MACHADO et al, 2001), que é a remuneração ou bonificação pela concessão de viagens, bolsas de estudos, seminários, cursos, concursos científicos, entre outros. Além destes, outros incentivos que podemos sugerir, baseado em nosso estudo analítico, são inovações ligadas ao uso do horário, tornando este mais flexível tanto na sua execução através de programações e rodízios de turnos, como também no seu controle e recompensas por sugestões, estimulando a criatividade, inovação e raciocínio lógico do servidor para a racionalidade e/ou aprimoramento dos serviços. Assim, busca-se reconhecer os servidores por merecimento, melhorando a disposição e o ânimo para o trabalho e, em troca, haverá melhor desempenho, produtividade e excelência nos serviços prestados ao público. Nesse percurso investigativo, a revisão de literatura e o estudo empírico foram consoantes em responder nosso problema de pesquisa, mas para efeito de confrontação e maiores constatações, sugere-se, à outros estudos, a realização do estudo de caso múltiplo, capaz de defrontar as formas de gerenciamento utilizadas pelo setor público em suas diversidades e averiguar se as mesmas estão utilizando as ferramentas de gestão contemporâneos, a fim de promover práticas humanizadoras e quais os efeitos diretos gerados para a sociedade. Por fim, esperamos sinceramente que esta monografia sirva de estímulo ao estudo da gestão pública, em busca de avanços teóricos e práticos, especialmente na graduação acadêmica, na qual percebe-se baixo estímulo nesta área que é tão singular e essencial à coletividade. 67 REFERÊNCIAS ARAÚJO, Volney Custódio. Gestão Empresarial do século XXI: a mudança necessária. Administração em Revista. Distrito Federal, v. 1, n. 1, p. 89-96, jan/jun. 2001. BENNIS, Warren. 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Como meu estudo trata dos impactos de uma gestão humanizada no ambiente das organizações públicas e, sabendo do trabalho de gestão desta organização com demonstração de uma profunda preocupação com seus colaboradores, acreditamos ser seu ambiente organizacional uma fonte rica para aprofundarmos nosso problema de pesquisa. Desta forma, gostaria de pedir o consentimento para que eu possa realizar minha pesquisa nesta organização durante o mês de novembro. Para maiores esclarecimentos, posso enviar meu projeto de pesquisa com o plano de trabalho empírico, caso deseje. Desde já aguardo sua resposta. Atenciosamente, Patrícia dos Santos Caldas Silva Formanda de Administração - UEFS 71 Apêndice 2: Entrevistas Semi-Estruturadas - LIDERADOS Este questionário faz parte desta pesquisa monográfica e somente será utilizada para este fim. Seu conteúdo tem caráter educacional e sigiloso e, por isso, não haverá nenhum tipo de identificação dos entrevistados, bem como a divulgação dos dados. I - INFORMAÇOES GERAIS 1. Qual sua idade e sexo? 2. Qual o seu grau de escolaridade? E qual a sua categoria profissional? 3. Há quanto tempo você trabalha nesta organização? E no setor público? II – Com relação à COMPETÊNCIA TÉCNICA 1. Como é o formato dos trabalhos dentro de seu departamento/ organização? Tende a ser mais individual ou grupal? Qual o papel de seu líder? Dê exemplos. 2. Como se dá a resolução de conflitos neste departamento? Poderia narrar neste processo algum exemplo que ilustra esta questão? 3. Quais são as oportunidades de aprendizagem que você possui em seu trabalho? Poderia ilustrar com exemplos? Você aprende com seu líder? Se sim, de que forma? 4. Quando você não concorda com alguma decisão de seu líder, como você procede no seu departamento/organização? Quais os resultados? III – Com relação à COMPETÊNCIA HUMANA 1. O que lhe marcou positivamente ou negativamente em termos de atitude do seu líder no que tange ao relacionamento com seus liderados? Como você se sentiu em cada uma dessas situações? 2. O que você imitaria ou não imitaria em relação às atitudes de seu líder? Ele é alguém que você admira? 72 3. Há um sentimento de integração entre os colegas e a organização? Se sim, de que forma este é cultivado? O líder tem algum papel neste processo? 4. Você se sente estimulado a trabalhar nesta organização? Qual o sentimento que expressa seu estado de espírito no trabalho? 5. A organização, juntamente com seu gestor, difunde práticas de valorização do ser humano que você considera importantes, tais como a valorização do trabalho e orgulho de ser servidor público? Explique e aponte outros. III – Com relação à COMPETÊNCIA CONCEITUAL 1. Você trabalha com intuito de alcançar alguma meta organizacional préestabelecida, mesmo que seja a nível setorial? Qual seria? 2. Na resolução de problemas, há soluções criativas e uma postura inovadora, de acordo com cada situação, por parte de seu gestor? Comente e exemplifique. 3. Na tomada de decisão, você percebe que o líder se concentra no foco da questão ou é mais abrangente, considerando outros aspectos ou informações de outros setores? Já houve decisões precipitadas por parte de seu líder? Se sim, comente as razões e possíveis efeitos. V – QUESTÕES COMPLEMENTARES: Com relação ao CLIMA ORGANIZACIONAL 1. Você sente que há no seu trabalho um clima de satisfação, que faz com que você tenha prazer em realizar suas tarefas? O que lhe leva a ter essa satisfação. Poderia citar alguns elementos ou fatos? 73 Apêndice 3: Entrevistas Semi-Estruturadas - LÍDER Este questionário faz parte desta pesquisa monográfica e somente será utilizada para este fim. Seu conteúdo tem caráter educacional e sigiloso e, por isso, não haverá nenhum tipo de identificação dos entrevistados, bem como a divulgação dos dados. I - INFORMAÇOES GERAIS 1. Qual sua idade e sexo? 2. Qual o seu grau de escolaridade? E qual a sua categoria profissional? 3. Há quanto tempo você trabalha nesta organização? E no setor público? II – Com relação à COMPETÊNCIA TÉCNICA 4. Qual o formato de trabalho que você propõe dentro de seu departamento/ organização? Tende a ser mais individual ou grupal? Qual o seu papel como líder? Dê exemplos. 5. Como você procede na resolução de conflitos no seu departamento? Poderia narrar neste processo algum exemplo que ilustra esta questão? 6. Quais são as oportunidades de aprendizagem que são oferecidas em seu trabalho? Poderia ilustrar com exemplos? Neste processo qual o seu posicionamento? 7. Quando há discordância com alguma decisão sua como você procede com seus liderados? Comente e exemplifique. III – Com relação à COMPETÊNCIA HUMANA 8. Qual o tipo de relacionamento que você busca com seus liderados? Tende a ser mais formal ou aberto? Poderia comentar alguma atitude que lhe marcou e como você se sentiu? 9. Há um sentimento de integração entre os colegas e a organização? Se sim, de que forma este é cultivado? Você como líder tem algum papel neste processo? 74 10. Você estimula os funcionários a trabalharem nesta organização? De que forma? Você já procurou se informar como eles se sentem? 11. A organização, juntamente com você, difunde práticas de valorização do ser humano que você considera importantes, tais como a valorização do trabalho e orgulho de ser servidor público? Explique e aponte outros. III – Com relação à COMPETÊNCIA CONCEITUAL 12. Você trabalha com intuito de alcançar alguma meta organizacional préestabelecida, mesmo que seja a nível setorial? Qual seria? 13. Você procura ter soluções criativas e uma postura inovadora, de modo que favoreça na tomada de decisão? Comente e exemplifique. 14. Na resolução de problemas, você considera imprescindível um tempo para você refletir e discutir a situação detalhadamente ou você prefere respostas rápidas com soluções mais eficazes? Poderia comentar com exemplos? 15. Quais os fatores que levam-na a tomar decisões mais confiantes e precisas? Estes tendem a ser mais a nível setorial ou mais abrangente? Poderia comentar as razões e ilustrar algum exemplo? IV – QUESTÕES COMPLEMENTARES: Com relação ao CLIMA ORGANIZACIONAL 16. Você sente que há no seu trabalho um clima de satisfação, que faz com que os funcionários tenham prazer em realizar as tarefas? O que você considera que leva a ter esta satisfação. Poderia citar alguns elementos ou fatos? 75 ANEXOS Anexos 1 - Lei Delegada nº 67 de 1983 LEI DELEGADA Nº 67 DE 01 DE JUNHO DE 1983 Reorganiza a Secretaria da Educação e Cultura e dá outras providências. O GOVERNADOR DO ESTADO DA BAHIA, no exercício da competência que lhe foi delegada pela Resolução nº 1.176, de 03 de dezembro de 1982, da Assembléia Legislativa do Estado, promulga a seguinte Lei: Art. 1º - Fica reorganizada, na forma indicada na presente Lei, a Secretaria da Educação e Cultura - SEC. CAPÍTULO I FINALIDADE E COMPETÊNCIA DA SECRETARIA Art. 2º - A Secretaria da Educação e Cultura tem por finalidade desempenhar as funções do Estado em matéria de Educação e Cultura, competindo-lhe: I planejar, orientar, coordenar, supervisionar e executar as atividades educacionais e culturais do Estado; II promover o cumprimento das leis federais e estaduais relativas à Educação e à Cultura; 76 III zelar pelo cumprimento das decisões dos Conselhos Federais e Estaduais de Educação e de Cultura; IV - exercer outras atividades correlatas. CAPÍTULO II ESTRUTURA DA SECRETARIA Art. 3º - A Secretaria da Educação e Cultura tem a seguinte estrutura: I- Órgãos da Administração Centralizada: a) Gabinete do Secretário b) Assessoria de Planejamento c) Inspetoria Setorial de Finanças d) Superintendência de Administração e) Departamento de Educação de 1º e 2º Graus 77 f) Departamento de Educação Física e Recreação g) Departamento de Educação Continuada h) Superintendências Regionais de Educação e Cultura i) Instituto de Estudos e Pesquisas em Ciência, Educação e Cultura Anísio Teixeira j) Centro de Desenvolvimento de Recursos Humanos k) Serviço de Construções Escolares l) Serviço de Assistência ao Estudante m) Arquivo Público do Estado da Bahia n) Conselho Estadual de Educação o) Conselho Estadual de Cultura 78 II - Entidades da Administração Descentralizada: a) Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural b) Universidade Estadual de Feira de Santana c) Universidade do Estado da Bahia d) Universidade do Sudoeste e) Instituto de Radiodifusão Educativa da Bahia - IRDEB f) Fundação Cultural do Estado da Bahia § 1º - Os órgãos da administração centralizada referidos nos itens a, b e h do inciso I deste artigo não terão subdivisões estruturais, podendo constituir grupos de trabalho, inclusive com a participação de consultores especiais. § 2º - Os demais órgãos da administração centralizada terão suas subdivisões estruturais estabelecidas e detalhadas, com as respectivas competências, no Regimento da Secretaria, segundo as conveniências do serviço. 79 § 3º - O Secretário terá Assessores Especiais com formação especializada de nível superior, lotados no Gabinete, cujas atribuições serão definidas no Regimento da Secretaria. § 4º - O assessoramento jurídico dos órgãos da administração centralizada da Secretaria da Educação e Cultura cabe à Procuradoria Geral do Estado, na forma da legislação em vigor. CAPÍTULO III ESTRUTURA E COMPETÊNCIA DOS ÓRGÃOS E ENTIDADES Art. 4º - Ao Gabinete do Secretário, que presta assistência ao titular da pasta no desempenho de suas atribuições, compete: I- coordenar a representação social e política do Secretário; II - preparar e encaminhar o expediente do Secretário; III coordenar o fluxo de informações e as relações públicas de interesse da Secretaria; IV - exercer outras atividades correlatas. Art. 5º - A Assessoria de Planejamento - ASPLAN, que desempenha as atividades de programação, orçamento, acompanhamento e modernização administrativa, no âmbito da Secretaria, em estreita articulação com as unidades centrais do Sistema Estadual de Planejamento, tem sua competência definida na legislação específica do respectivo sistema. 80 Art. 6º - A Inspetoria Setorial de Finanças, que executa as atividades de administração financeira e de contabilidade, tem sua competência definida na legislação específica do respectivo sistema. Art. 7º - A Superintendência de Administração, que executa as atividades da administração geral, tem a competência definida na legislação específica do respectivo Sistema de Administração Geral. Art. 8º - Ao Departamento de Educação de 1º e 2º Graus compete desempenhar as atividades do Estado no que se refere à educação pré-escolar, especial, e aos ensinos de 1º grau e 2º grau, por via regular. Art. 9º - Ao Departamento de Educação Física e Recreação, que desempenha atividades no que se refere à educação física, saúde e lazer, compete coordenar e difundir a prática da educação física e de atividades esportivas na rede de ensino do Estado da Bahia, bem como colaborar com os órgãos competentes na elaboração de programas de educação física, saúde e lazer. Art. 10 - Ao Departamento de Educação Continuada compete desempenhar atividades relativas à educação de adultos pela via supletiva, bem como à promoção do desenvolvimento cultural e do trabalho pela educação permanente. Art. 11 - Terão sua estrutura e competências definidas em regulamentos os seguintes órgãos em regime especial de administração centralizada: IO Instituto de Estudos e Pesquisas em Ciência, Educação e Cultura Anísio Teixeira que realiza estudos, pesquisas e experimentações objetivando ao desenvolvimento global e harmônico do homem; 81 II O Centro de Desenvolvimento de Recursos Humanos que desempenha atividades de seleção e desenvolvimento de recursos humanos na área de educação e cultura; III O Serviço de Construções Escolares que executa atividades inerentes à arquitetura e a engenharia e serviços de construção, ampliação e reforma; IV O Serviço de Assistência ao Estudante que executa atividades referentes à prestação de apoio, assistência alimentar e médico-odontológica ao estudante. Art. 12 - O Arquivo Público do Estado, órgão em regime especial de administração centralizada, que executa as atividades referentes ao recolhimento, guarda, preservação e conservação de documentos que evidenciem a memória histórica, geográfica, administrativa, técnica, legislativa e judiciária do Estado da Bahia, tem sua competência definida na legislação específica. Art. 13 - As Superintendências Regionais de Educação e Cultura, como órgãos de ação intermediária entre a administração centralizada e as unidades de ensino, executam atividades administrativas, de coordenação de ensino e de desenvolvimento cultural, dentro dos limites que lhes forem fixados pelo Secretário, visando à desconcentração das ações educacionais e culturais, no âmbito do Estado, sendo coordenadas pelo Superintendente de Educação e Cultura . Parágrafo único - Haverá em cada Região Administrativa uma Superintendência Regional de Educação e Cultura. Art. 14 - As entidades da administração descentralizada, vinculadas à Secretaria da Educação e Cultura têm a finalidade e competência estabelecidas na legislação específica, e a supervisão e controle far-se-ão no termos do artigo 8º da Lei nº 2.321/66. 82 Art. 15 - Os Conselhos Estaduais de Educação e de Cultura são regidos por legislação própria. CAPÍTULO IV DISPOSIÇÕES GERAIS E TRANSITÓRIAS Art. 16 - Ficam instituídas, no âmbito da Secretaria da Educação e Cultura, e a serem conferidas pelo titular da pasta, as seguintes honrarias: I Medalha do Mérito Educacional Barão de Macaúbas, a pessoa que se tenha distinguido por atividades e trabalhos em prol do desenvolvimento da educação; II Medalha do Mérito Cultural Castro Alves, a pessoa que se tenha distinguido por atividades e trabalhos em prol do desenvolvimento da cultura; III Diploma de Educador Emérito - ao educador que se tenha distinguido por atividades e trabalhos em prol do desenvolvimento do ensino no Estado da Bahia. Parágrafo único - O Regulamento disporá sobre a criação e as características das Medalhas e do Diploma, bem como sobre a composição da Comissão que deliberará a respeito de sua concessão. Art. 17 - A Secretaria da Educação e Cultura adotará, de modo sistemático, o uso da delegação de competência, de modo a aproximar, quanto possível, os níveis de decisão e de execução. 83 Art. 18 - Os cargos em comissão da Secretaria da Educação e Cultura, são os constantes do Anexo I desta lei. Art. 19 - Ficam criados os cargos do magistério relacionados nos Anexos II e III, para provimento mediante transferência de cargo, consoante os artigos 25 e 26 da Lei nº 3.375, de 31 de janeiro de l975. Art. 20 - Fica extinto o Centro de Estudos Supletivos de Narandiba - CESUN, - criado pela Lei Delegada nº 13 de 18 de março de l981, cujas atividades passarão a integrar o Departamento de Educação Continuada. Art. 21 - O Secretário da Educação e Cultura será substituído, em suas ausências e impedimentos, pelo Sub-Secretário, cujas atribuições serão definidas no Regimento da Secretaria da Educação e Cultura. Art. 22 - Fica autorizado o Poder Executivo a: I praticar, no prazo de 120 (cento e vinte) dias os atos regulamentares, estatutários e regimentais que decorram, implícita ou explicitamente, das disposições desta lei, inclusive os que se relacionem com o pessoal, material e patrimônio; II efetuar, mediante Decreto, as modificações orçamentárias decorrentes do disposto nesta lei. Art. 23 - Esta Lei entrará em vigor na data da sua publicação, revogadas as disposições em contrário. 84 PALÁCIO DO GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA, em 01 de junho de l983. JOÃO DURVAL CARNEIRO Governador Waldeck Vieira Ornelas Edivaldo Machado Boaventura Benito da Gama Santos This document was created with Win2PDF available at http://www.win2pdf.com. 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