VALE DO AÇU: UMA REGIÃO ESTRATÉGICA PARA A ECONOMIA POTIGUAR1
Joacir Rufino de Aquino & Raimundo Inácio da Silva Filho
(Economistas e professores da UERN)
O novo governador do Rio Grande do Norte (RN), Robinson Faria (PSD), assumiu
seu posto com muitos obstáculos pela frente. Praticamente tudo no RN é prioridade: saúde,
educação, segurança, entre outras demandas da vida social. No entanto, é na área econômica
que se encontram os maiores desafios. O nosso estado vem enfrentando dificuldades em
vários segmentos produtivos e é preciso gerar empregos, ampliar as exportações e melhorar a
arrecadação de impostos visando garantir o funcionamento adequado da máquina pública.
Nessa perspectiva, cada uma das 19 microrregiões que formam o espaço estadual tem um
papel particular a desempenhar, mas, entre elas, sem dúvida, é a microrregião do Vale do Açu
àquela que pode contribuir mais rapidamente para o crescimento da economia potiguar.
A microrregião do Vale do Açu ocupa uma área de 4.756,1 km2, o que corresponde a
9,06% do espaço geográfico norte-rio-grandense. Em termos políticos-administrativos, de
acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ela se divide entre nove
municípios: Alto do Rodrigues, Assú, Carnaubais, Ipanguaçu, Itajá, Jucurutu, Pendências,
Porto do Mangue e São Rafael. Neles, segundo o último Censo Demográfico, realizado em
2010, residiam 140.534 pessoas (4,4% da população estadual).
É consenso no meio acadêmico e governamental que o Vale do Açu se apresenta
como uma das localidades do RN com maior potencial para atividades produtivas ligadas ao
agronegócio, tanto patronal, quanto familiar. Detentora da maior oferta de recursos hídricos
do estado, com especial destaque para a Barragem Engenheiro Armando Ribeiro Gonçalves, e
de solos de alta fertilidade, a região agrega todas as condições naturais necessárias à
realização de projetos na área da fruticultura irrigada e demais setores da indústria extrativa e
de transformação.
Grosso modo, do ponto de vista geoeconômico, o território açuense se destaca por ser
uma das áreas do semiárido nordestino mais bem provida de recursos naturais. É rico em água
doce, solos de ótima qualidade, petróleo, gás natural, minerais, ventos (recentemente
explorados pela indústria energética) e outros elementos da biodiversidade. Ademais, situa-se
próximo dos principais centros consumidores do RN e dos estados vizinhos, o que lhe garante
vantagens competitivas capazes de atrair investidores e pessoas de várias partes do Brasil e do
mundo.
Apesar do seu grande potencial e do sucesso isolado de alguns empreendimentos, a
participação dos municípios do vale açuense na economia potiguar ainda é relativamente
baixa. De acordo com o levantamento recente do IBGE, entre 2002 e 2012, a riqueza
produzida na região tem oscilado em torno de 4,5% do Produto Interno Bruto (PIB) estadual.
E o que é mais preocupante: a sua participação neste indicador macroeconômico vem
declinando ao longo do tempo em relação às demais microrregiões potiguares. Enquanto em
2002 os nove municípios do Vale ocupavam conjuntamente o 4º lugar no PIB norte-riograndense, em 2012, eles caíram para a 5ª posição, sendo superados pelas microrregiões de
Natal, Mossoró, Macaíba e Macau.
Mas por que uma unidade geográfica que concentra tantas vantagens naturais e
locacionais apresenta um desempenho econômico tão modesto e tem perdido importância
relativa no PIB potiguar? Uma parte da explicação para essa pergunta está associada à
1
Artigo publicado no jornal O Mossoroense, Mossoró/RN, 10 de janeiro de 2015. p. 5. Disponível em:
<http://p.download.uol.com.br/omossoroense/mudanca/pics/pdf/EDICAO.pdf>.
desestruturação das atividades produtivas locais causada pelas enchentes de 2008/2009 e pela
grande seca que atingiu todo o semiárido nos últimos três anos. Todavia, há muitas evidências
de que o desempenho econômico açuense tem sido emperrado principalmente pela carência
de investimentos públicos e privados capazes de potencializar suas energias produtivas em
escala ampliada.
De fato, basta dizer que parcela significativa do peixe consumido diariamente por
nossa população é proveniente do estado do Ceará porque até agora não foram instalados
nenhum dos 10.000 tanques-rede possíveis de serem implantados na barragem Armando
Ribeiro. Na área de fruticultura, o Distrito Irrigado Baixo Açu enfrenta dificuldades
estruturais e metade da sua área de 6.000 hectares ainda não foi ocupada desde a criação do
projeto no início da década de 1990. Ademais, as frutas da região continuam sendo vendidas a
atravessadores sem qualquer beneficiamento, pois faltam, por exemplo, fábricas de doce e
suco para agregar valor à produção. A maioria dos agricultores familiares da região também
não conta com assistência técnica regular ou sistemas de irrigação e os produtores de manga
apresentam dificuldade em exportar a produção e gerar divisas para o erário público por falta
de um Packing House (galpão padronizado de processamento e embalamento pós-colheita)
para adequar as frutas às exigências do mercado internacional.
Na esfera industrial, a história se repete. Faz tempo que os ceramistas locais tentam
viabilizar a instalação do gás natural para melhorar a competividade de suas fábricas e não
conseguem obter êxito em seu pleito. A mineração em Jucurutu e em outras áreas, foi
inviabilizada por problemas de logística e o projeto do terminal graneleiro em Porto do
Mangue caminha a passos lentos sem previsão de implantação. Já a Zona de Processamento
de Exportação (ZPE do Sertão), projeto promissor que representaria um grande impulso para
agregar valor aos produtos exportados pela economia do RN, praticamente não saiu do papel e
corre o sério risco de ser completamente extinta por falta de apoio governamental.
Em relação ao setor de comércio e serviços, por sua vez, o Vale do Açu padece com
um limitado padrão educacional e com a falta de qualificação técnica. Os índices de
desempenho dos estudantes nos exames nacionais de avaliação ainda estão bem abaixo do
recomendado. No Ensino Superior, instituições públicas importantes como a Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte (UERN) apresentam problemas de infraestrutura e faz tempo
que não consegue ampliar a oferta de novos cursos para ajudar na melhoria do capital humano
e na oferta de serviços de qualidade para a população em geral. O rico patrimônio históricocultural e ambiental da localidade, que poderia ser explorado para impulsionar as atividades
ligadas ao turismo, tem sido dilapidado ano a ano, por falta de regulação, proteção e
investimentos.
Esses e outros problemas atuam, assim, como fatores bloqueadores das
potencialidades da microrregião em tela. Registre-se que a maioria dos gargalos mencionados
já foi identificada em debates calorosos em diferentes fóruns e comissões nos últimos 15
anos. O que falta é, então, vontade política e investimentos público/privados capazes de
remover os fatores que entravam o avanço regional. Isso porque o Vale do Açu é uma região
estratégica para o futuro da economia do RN no curto, médio e longo prazo. A questão é
apenas criar os incentivos necessários para recolocar a locomotiva nos trilhos. Para tanto, será
preciso planejamento estratégico, eficiência na aplicação dos recursos escassos e o
estabelecimento de um pacto entre o governo estadual, os prefeitos e os empreendedores
privados. É desse pacto pelo desenvolvimento que depende a expansão da economia açuense,
e, por tabela, da combalida economia norte-rio-grandense.
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