ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA A CONSULTA PÚBLICA 15/2014 NT 353/2014-SFF-ANEEL 1. VISÃO GERAL No âmbito da Consulta Pública 15/2014, Nota Técnica 353/2014, é louvável a preocupação da agência com a qualidade do serviço ofertado pelas concessionárias de energia aos seus consumidores. Para tanto, é razoável supor que haja uma ligação entre as atividades operacionais de companhias e sua situação econômico-financeira. Essa ligação é ainda mais forte em setores de infraestrutura, pois estes têm como características: grande volume de imobilização de capital e retorno de longo prazo. Adicionalmente, é suposto que exista um lapso temporal entre dispêndios insuficientes e a piora da qualidade dos serviços prestados, apontando a importância de detectar esse ciclo com antecedência, de forma a evitar prejuízos aos consumidores. Por essa razão, a Superintendência, por sua vez, acompanha a situação econômico-financeira das distribuidoras, de modo a avaliar sua capacidade de investimentos para manutenção/melhora da qualidade do serviço prestado. Contudo, não há um processo formal pelo qual este acompanhamento é feito. Entende-se que a formalização do acompanhamento supracitado seja benéfica tanto para o setor quanto para a sociedade. Para tanto, algumas contribuições serão feitas ao longo do texto para aprimorar a proposta de acompanhamento econômico-financeiro distribuidoras de energia elétrica, são elas: Demonstrações Societárias e Regulatórias; Má gestão e insuficiência tarifária; Necessidade da publicação; Gatilho da fiscalização; Limites. ELEKTRO ELETRICIDADE E SERVIÇOS S.A ENDEREÇO: RUA ARY ANTENOR SOUZA, 321, CAMPINAS, JD NOVA AMÉRICA, CEP 13053-024 das 2. DEMONSTRAÇÕES SOCIETÁRIAS E REGULATÓRIAS A pré-condição para uma boa análise de demonstrações financeiras é uma boa contabilidade, que siga padrões e convenções aceitas por todo o setor, permitindo o acesso às informações adequadas para avaliação da saúde operacional, econômica e financeira da companhia. Desde 2011, com a convergência às normas internacionais de contabilidade e a respectiva incompatibilidade destas normas com o sistema de reajustes tarifários, a ANEEL implantou os demonstrativos contábeis regulatórios. Desse modo, as elétricas passaram a conviver com dois sistemas oficiais de demonstrativos financeiros. É importante uma definição clara de qual será a fonte utilizada pela agência para o acompanhamento proposto. Vale ressaltar as diferenças entre as duas contabilidades (pré-assinatura dos aditivos ao contrato de concessão em 2014): Desde o Programa Emergencial de Redução do Consumo de Energia Elétrica de 2001, quando as variações entre reajustes dos custos não gerenciáveis da chamada “Parcela A” passaram a ser contempladas na tarifa, criou-se um importante ativo/passivo regulatório (Conta de Compensação de Variação de Valores de Itens da Parcela A- CVA). Todavia, em obediência ao padrão do International Financial Reporting Standards (IFRS), a contabilidade societária eliminou a contabilização desses ativos, sendo que sua falta na contabilidade societária (de 2011-2013) leva a divergências marcantes na análise em períodos em que tais ativos/passivos tenham volumes consideráveis, tais quais os dos anos recentes. A Elektro concorda com a Superintendência na utilização das demonstrações societárias. Como é interessante para a agência um levantamento histórico dos indicadores propostos, sugere-se a utilização de demonstrativos regulatórios, ademais, o envio desses demonstrativos já é uma obrigação regulatória da distribuidora na forma dos Relatórios de Informações Trimestrais RITs. Sendo assim, a proposta da agência não criaria uma nova obrigação para a distribuidora. ELEKTRO ELETRICIDADE E SERVIÇOS S.A ENDEREÇO: RUA ARY ANTENOR SOUZA, 321, CAMPINAS, JD NOVA AMÉRICA, CEP 13053-024 3. MÁ GESTÃO OU INSUFICIÊNCIA TARIFÁRIA É importante que a Superintendência tenha em mente a distinção entre má gestão e insuficiência tarifária, uma vez que a primeira deve ser tratada de maneira distinta da segunda. Do ponto de vista da distribuidora, a tarifa é a principal entrada de caixa para fazer frente aos dispêndios, sendo o maior deles o dispêndio relativo à compra de energia. Sabe-se que variações nos gastos entre os reajustes são considerados no próximo processo tarifário da distribuidora, de maneira a “neutralizar” seus efeitos. Todavia, nos anos recentes, estes custos se tornaram tão elevados que causaram um descasamento no fluxo de caixa das companhias dentro do ano tarifário, fenômeno notado pela agência, tendo em vista a abertura da Audiência Pública Nº 7/2015 com o objetivo de definir a metodologia que será utilizada nas Revisões Tarifárias Extraordinárias. Com a utilização dos demonstrativos regulatórios, os resultados das companhias não são afetados por um salto tanto para baixo quanto para cima dos custos dos Itens da Parcela A. Contudo, enquanto o saldo da CVA representa apenas uma expectativa de recebimento futuro, os custos acontecem no momento presente, criando um descompasso entre gasto e receita, e levando à possibilidade de descasamento de caixa que potencialmente afetaria as operações rotineiras das concessionárias. Os indicadores de endividamento, eficiência e rentabilidade propostos pela Superintendência não conseguem fazer a distinção entre a má gestão e a insuficiência tarifária. Seria ideal, tanto para a sociedade quanto para as distribuidoras, que a Superintendência pudesse fazer esse diagnóstico, de tal modo que atue corretamente preservando o bem-estar dos consumidores. Para tanto, é necessário que se compare o volume dos ativos e passivos da distribuidora frente à geração de caixa. Caso estes estejam descolados é apropriado um processo tarifário para correção de tal disparidade, protegendo tanto a distribuidora quanto seus consumidores. É importante que as regras para tal processo sejam conhecidas a priori e que as estas sejam discutidas amplamente com a sociedade. ELEKTRO ELETRICIDADE E SERVIÇOS S.A ENDEREÇO: RUA ARY ANTENOR SOUZA, 321, CAMPINAS, JD NOVA AMÉRICA, CEP 13053-024 4. NECESSIDADE DA PUBLICAÇÃO A sugestão da publicação periódica dos indicadores em sitio oficial da ANEEL é questionável, porque os dados para o cálculo já são amplamente divulgados pela agência. Questiona-se portanto a divulgação dos mesmos dados, apenas em formatos diferentes. Idealmente, seria interessante que a sociedade tivesse expertise para realizar suas próprias considerações sobre o serviço e gestão de sua distribuidora. 5. GATILHO DA FISCALIZAÇÃO Entende-se que o objetivo da Superintendência é evitar que a situação econômico-financeira afete o serviço oferecido pela concessionária. Para realizar tal diagnóstico, a Superintendência sugere a formatação de uma fiscalização periódica da situação econômica, financeira e operacional de todas as distribuidoras do país. Idealmente, visando a otimização de recursos do consumidor, deve-se apenas realizar a fiscalização daquelas distribuidoras que apresentam qualidade do serviço prestado inferior aos limites regulatórios. A Elektro sugere que haja gatilhos que podem ser utilizados pela agência no sentido de otimizar a utilização de recursos. Para tanto, sugere-se que a agência selecione apenas as distribuidoras que se encontram na metade inferior do Indicador de Desempenho Global de Continuidade, criando mais um incentivo para melhoria da qualidade. Dentre essas, ainda há a possibilidade de empresas com situação econômica e financeira saudáveis, porém com qualidade inferior à mediana do setor. Três motivos podem explicar tal situação: (1) Limites regulatórios irreais com a área de concessão da companhia; (2) Investimentos realizados para melhorar a qualidade ainda não surtiram efeito na qualidade do produto; (3) insuficiência de investimento da rede. Apenas no último caso, deve-se elaborar planos de melhorias. Como a trajetória de melhoria é importante sugere-se que entre as distribuidoras com qualidade inferior à mediana do setor por dois anos ELEKTRO ELETRICIDADE E SERVIÇOS S.A ENDEREÇO: RUA ARY ANTENOR SOUZA, 321, CAMPINAS, JD NOVA AMÉRICA, CEP 13053-024 seguidos, a agência observe, primeiramente, o nível de endividamento. Caso o mesmo se encontre fora dos padrões, realiza-se o monitoramento detalhado. Desse modo, sugere-se que se realize o monitoramento completo apenas para distribuidoras com qualidade inferior à mediana do setor por dois anos seguidos e nível de endividamento fora dos limites definidos. 6. LIMITES É importante que limites para os indicadores sejam discutidos de maneira ampla e transparente e que as condições mínimas exigidas pela agência sejam conhecidas a priori, permitindo o planejamento das companhias e monitoramento de partes interessadas. Atualmente, a Superintendência exige um plano de ação para companhias com situação de endividamento incompatível com o seu fluxo, ou seja, indicador de sustentabilidade superior a 7. Adicionalmente, existe um processo de anuência introduzido pela REN Nº532/2013 que também apresenta limites de endividamento. Contudo, uma discussão deve ser feita para trazer transparência para esses limites sugeridos. Também não é claro, na Nota Técnica Nº353/2014SFF/ANEEL, quais seriam os limites que determinariam se uma distribuidora se encontra em: (1) boa situação; (2) situação intermediária e (3) situação crítica. Sugere-se a abertura de Audiência Pública para discussão futura de níveis aceitáveis de endividamento. ELEKTRO ELETRICIDADE E SERVIÇOS S.A ENDEREÇO: RUA ARY ANTENOR SOUZA, 321, CAMPINAS, JD NOVA AMÉRICA, CEP 13053-024