Manuel Pinho Ministro da Economia e da Inovação Uma Nova ERA para a Energia 9 O actual contexto energético europeu, caracterizado por uma crescente procura e excessiva dependência externa de combustíveis fósseis, exige uma mudança importante e urgente para uma nova economia de baixo teor carbónico. Neste sentido, a Presidência Portuguesa da União Europeia apresentou um modelo de longo prazo para todo o sector energético, dando resposta aos objectivos estabelecidos no SET Plan e, simultaneamente, cumprindo as metas propostas para 2050. A «nova ERA para a energia», centrada na promoção dos pilares de Eficiência energética, Renováveis e tecnologias de produção limpas e numa infra-estrutura Avançada, constitui uma estratégia concreta e exequível de como cumprir os objectivos expressos para 2050. Os desafios são exigentes, mas a Europa está bem posicionada para assumir a liderança mundial no que se pode chamar a nova revolução industrial no sector energético. 10 The current European context in energy, characterized by a growing demand and an excessive external dependency on fossil fuels requires an important and urgent change, towards a new economy of low carbon contents. In this sense, the Portuguese Presidency of the European Union presented a long-term model for the whole energy sector, thus responding to the objectives established in the SET Plan, and at the same time complying with the goals set for 2050. The «new ERA for energy», centred in promoting the pillars of Energetic Efficiency, Renewable and clean production technologies and an Advanced infrastructure, constitutes a concrete and feasible strategy in order to comply with the goals set for 2050. The challenges are demanding, but Europe is well positioned to assume world leadership in what can be called the new industrial revolution in the energy sector. C om o preço do petróleo a superar a marca histórica dos 100 dólares por barril, as questões relativas à segurança de abastecimento energético, à estabilidade de preços e à sustentabilidade ambiental assumiriam uma prioridade absoluta na Política Energética Europeia. O actual contexto energético europeu, caracterizado por uma crescente procura e excessiva dependência externa de combustíveis fósseis, exige uma mudança importante e urgente para uma nova economia de baixo teor carbónico. veis e da eficiência energética marcam, de forma fundamental, a agenda Europeia até 2020. Em Novembro de 2007, o mais recente passo na definição da Estratégia Europeia para a Energia foi dado com a apresentação do SET Plan (Strategic Energy Technology Plan) pela Comissão Europeia do Plano Estratégico para as Tecnologias Energéticas. O SET Plan é mais ambicioso que as metas «20-20-20» e define um novo modelo energético baseado numa redução do teor carbónico através da promoção de tecnologias como as renováveis ou a captura e sequestro de carbono (CCS – carbon capture & Picos históricos do preço do petróleo foram O preço do petróleo duplicou acompanhados de importantes redução no storage). O SET Plan procuem apenas 3 anos (2004-2007) crescimento do PIB e aumentos na inflação ra igualmente estabelecer os US$ (2007)/ bbl OPEC modelos de governação e de Iraq/Iran crisis War implementação apropriados OPEC crisis de modo a coordenar o equiDemand 1 Gulf recovery War líbrio entre a oferta e a procura de energia nos diferentes Estados-Membros. Asian crisis Reconhecendo a necessidade Iraq/Iran War de dar continuidade às medi1970 1980 1990 2000 2007 1970 1980 1990 2000 2007 1975 1985 1995 2005 1975 1985 1995 2005 das tomadas para 2020, o ConOECD countries GDP annual OECD countries selho Europeu da Primavera, growth rate inflation rate (current prices) em Março de 2007, lançou A Europa está actualmente empenhada em o desafio para uma redução da ordem dos 60desenvolver uma agenda ambiciosa, identifican- -80% das emissões de GEE (Gases de Efeitos de do tecnologias e estratégias de governação que Estufa) até 2050 relativamente aos níveis de refesuportem esta profunda mudança, sem que isso rência de 1990. Estas metas indicativas constituem afecte negativamente o crescimento da econo- um novo marco capital na estratégia europeia. mia europeia. A aposta num mercado interno A questão principal que se coloca é a de sade energia competitivo e diversificado e numa ber o que uma redução de 60-80% das emisdefinição das conhecidas metas «20-20-20» para sões de GEE, aliadas às directrizes definidas a redução de emissões e aumento das renová- no SET Plan, podem significar para o modelo energético de futuro. Importa por isso analisar em termos concretos as implicações e desenvolver as medidas necessárias para assegurar o seu cumprimento. Neste sentido, a Presidência Portuguesa da União Europeia apresentou um modelo de longo prazo para todo o sector energético, dando resposta aos objectivos estabelecidos no SET Plan e, simultaneamente, 100 25% 90 20% 80 70 60 50 15% st 10% 40 30 20 5% 0% 10 0 -5% 11 cumprindo as metas propostas para 2050. A «nova ERA para a energia», centrada na promoção dos pilares de Eficiência energética, Renováveis e tecnologias de produção limpas e numa infra-estrutura Avançada, constitui uma estratégia concreta e exequível de como cumprir os objectivos expressos para 2050. 12 Não existe nenhuma «bala de prata» que por si só consiga resolver todos os desafios relativos à segurança de abastecimento e à redução de emissões. Porém, uma aposta num mix equilibrado de tecnologias actuais ou em fase final de desenvolvimento, coordenada com uma forte promoção de I&D em novas tecnologias limpas para sua implementação a médio prazo poderá assegurar o cumprimento dos objectivos de redução de emissões e de consumo de energia pretendidos. Esta estratégia de wedges assenta fundamentalmente na contribuição parcelar e complementar de todos os sectores da economia: transportes, residencial, indústria e energia. De acordo com os modelos de previsão desenvolvidos, uma forma concreta de garantir a desejada redução de 60-80% das emissões até 2050 pode passar por: 1. suprimir a quase totalidade das emissões actuais do sector eléctrico; 2. minimizar em 40% as emissões do sector dos transportes; 3. atenuar em 25% as emissões associadas à indústria; 4. tender para zero as emissões relativas ao sector residencial. Embora ambiciosos estes objectivos podem ser atingidos através de uma política concertada que imponha até 2050, entre outras medidas, a adopção das seguintes metas: • Duplicar os objectivos de eficiência energética definidos para 2020, i. e., obter em 2050 uma melhoria dos níveis de eficiência da ordem dos 40%; • Alargar o peso relativo das fontes de energia renovável para 1/3 do total da energia final consumida em 2050; • Reduzir a dependência europeia de combustíveis fósseis em 40%. Apesar de estabelecer metas globais concretas de âmbito europeu, a visão de «uma nova ERA para a energia» requer flexibilidade entre Estados-Membros. A cada Estado-Membro deve ser facultada a possibilidade de definição individual de estratégias que melhor reflictam as respectivas opções de política energética, a capacidade das diferentes entidades nacionais envolvidas e a disponibilidade de recursos. Em qualquer dos casos, esta visão também exige um olhar para as políticas europeias de forma transversal, implementando as estruturas e políticas de governação que garantam a necessária coordenação entre os esforços nacionais e comunitários. Os desafios são exigentes, mas a Europa está bem posicionada para assumir a liderança mundial no que se pode chamar a nova revolução industrial no sector energético. A crescente consciencialização dos cidadãos europeus para a problemática tanto das alterações climáticas como da dependência excessiva de combustíveis fósseis tem garantido uma aceitação pública cada vez maior na necessidade de convergência urgente para uma economia de baixo teor carbónico. Paralelamente, a tendência crescente dos preços do petróleo, gás natural e carvão, associada à progressiva maturação tecnológica, tem tornado mais competitivas do que nunca antes foram as fontes de energia renovável e outras formas de produção mais limpas de energia. Neste contexto, se a Europa actuar de forma célere, poderá assegurar a desejada «first mover advantage», em particular na inovação tecnológica. Esta posição de liderança poderá ter importantíssimos reflexos na economia, podendo mesmo viabilizar investimentos na ordem dos triliões de euros e a criação de mais de 1,5 milhões de novos empregos na indústria e no sector da investigação. Dada a necessidade de atrair o investimento privado numa escala sem precedentes e de vencer as barreiras naturais implícitas às alterações tecnológicas no sector da energia, os Governos dos diferentes Estados-Membros e a Comissão Europeia devem definir os sinais prioritários, nomeadamente os referentes à adopção de objectivos futuros vinculativos, à definição de modelos regulatórios estáveis e à criação dos incentivos correctos devidamente alinhados com o modelo pretendido. Um aumento do orçamento e outros recursos públicos para I&D é outra medida crucial para dinamizar o investimento no sector da energia. Em conjunto, todos teremos que investir mais e melhor. 13 Embora toda esta perspectiva seja condição necessária à mudança de paradigma, importa não esquecer que as decisões a serem tomadas pela Europa devem ser consideradas à escala global. As alterações climáticas não são um problema local, mas sim verdadeiramente global, à escala planetária. Presentemente, a Europa é responsável por cerca de 14% do total das emissões globais do planeta e por 16% do consumo de combustíveis fósseis. Deste modo, uma resposta unilateral, sem estar devidamente contextualizada com as políticas tomadas noutros pontos do globo, seria potencialmente redutora para a resolução do problema global e fortemente penalizadora para a competitividade europeia. As projecções de emissões e dos padrões de consumo de energia para 2050 levam a concluir que a Europa deve actuar já na promoção de uma economia de baixo teor carbónico. Os resultados das medidas tomadas hoje só serão visíveis daqui a vários anos. Tal como factualmente demonstrado no Review on the Economics of Climate Change da autoria de Sir Nicholas Stern, apesar de o custo da acção para a redução de emis- 14 sões ser elevado, o custo da inacção é ainda superior, não só em termos ambientais mas também a nível económico. Em conclusão, a Europa deve actuar e actuar já. Beneficiando de uma mudança dianteira para uma economia de baixo teor carbónico e estabelecendo os standards na tecnologia e na inovação, a Europa pode liderar o Mundo na nova revolução na energia. Todos nós devemos olhar para este desafio de forma responsável como uma oportunidade para construir um novo modelo energético mais independente e sustentável.