Conferência Nacional de Cartografia e Geodesia 2009 Caldas da Rainha, 7-8 Maio Testes para a Determinação de Coordenadas ETRS89/PT-TM06 de Vértices Geodésicos não observados com GNSS Manuela Vasconcelos ([email protected]), Ana Carla Bernardes ([email protected]), Paulo Patrício ([email protected]) Resumo Em Portugal Continental realizaram-se observações geodésicas com GPS nos vértices geodésicos de 1ª e 2ª ordens, num total de cerca de 950 pontos, tendo ainda sido observados 170 VG de 3ª ordem. As coordenadas resultantes destas medidas representam o referencial geocêntrico adoptado para o Continente (PT-TM06/ETRS89), realização do ETRS89 (European Terrestrial Reference System 1989) para Portugal. Este conjunto de VG representa cerca de 15% do total dos vértices existentes no Continente, sendo a distância média entre pontos inferior a 10km. No entanto, muitos utilizadores necessitam para apoio aos seus trabalhos de uma maior densidade de pontos coordenados. Consequentemente, e tendo em vista a resposta às solicitações dos utilizadores, decidiu-se obter coordenadas PT-TM06 para os cerca de 7000 VG de 3ª ordem existentes no Continente, através de transformação a partir das coordenadas HGD73 (Hayford-Gauss Datum 73). Uma das principais preocupações a considerar nesse trabalho foi a obtenção de um conjunto homogéneo de coordenadas, de modo a que não existissem zonas de fronteira, onde os erros resultantes da transformação de coordenadas fossem díspares. Neste trabalho apresentam-se os resultados preliminares dos testes realizados para esta transformação de coordenadas. 1. Introdução 4. Resultados Em Portugal Continental foram efectuadas observações geodésicas com GPS em cerca de 1100 vértices geodésicos (Figura 1)). Com base nestas observações e sua ligação à restante rede europeia, foi estabelecido o referencial ETRS89/PT-TM06 no território de Portugal Continental. Os vértices das redes de 1ª e 2ª ordens e 170 vértices da rede 3ª ordem, distribuídos de forma homogénea, já possuem coordenadas no sistema ETRS89/PT-TM06, obtidas por observação directa. Os restantes VG da rede de 3ª ordem ainda não possuem coordenadas neste sistema. Porém, a rede geodésica clássica é constituída por aproximadamente 8000 vértices geodésicos. Consequentemente, existe um elevado número de vértices que ainda não possui coordenadas ETRS89, estando fora de questão a sua coordenação por observação directa no campo, uma vez que este procedimento seria demasiado moroso e dispendioso. A única forma de obter as coordenadas no sistema ETRS89 para estes vértices geodésicos, passível de ser realizada num espaço de tempo relativamente reduzido Figura 1 – Vértices Geodésicos com coordenadas e, como tal, viável, será através da transformação das em ETRS89/PT-TM06 e HGD73. respectivas coordenadas do Datum 73. 2. Dados Os dados disponíveis para este trabalho foram as coordenadas Datum 73 e ETRS89 dos VG onde se realizaram observações GPS. Numa primeira fase foi necessário efectuar uma análise cuidada às bases de dados, de forma a verificar se os pontos observados em ETRS89 correspondiam exactamente aos pontos estacionados aquando das observações clássicas para o Datum 73. Com vista a utilizar um conjunto de dados com uma distribuição espacial o mais homogénea possível, foram ainda retirados dos cálculos pontos que se encontrassem a uma distância inferior a 1km de outro existente. Optouse por testar métodos de transformação de coordenadas a 2D, uma vez que: • se encontra em fase de conclusão um modelo de geóide para o território de Portugal Continental com uma precisão melhor do que 10cm; • as transformações no espaço implicam o conhecimento da altitude elipsoidal referente ao Datum 73. Na Figura 2 apresentam-se os vectores das diferenças de coordenadas cartográficas entre ETRS89/PT-TM06 e HGD73, para os pontos da rede de 1ª ordem. Da sua análise pode-se inferir a dificuldade em encontrar um método de transformação global que modele as distorções entre os sistemas. Figura 2 – Diferenças de coordenadas entre os sistemas ETRS89/PT-TM06 e HGD73 para os VG de 1ª ordem Os erros médios quadráticos das amostras dos resíduos dos pontos de controlo, resultantes das funções polinomiais do grau 2 ao grau 8 variam entre 11 e 8 cm, com os resíduos máximos próximos de 60 cm. A partir do 9º grau estas funções tornam-se instáveis, produzindo resultados inconsistentes. O métodos das grelhas será tanto melhor quanto maior for a densidade de pontos utilizada para a sua criação. No entanto, de modo a testar de forma independente a qualidade do modelo obtido, optou-se por não incluir na sua construção um conjunto de pontos, que serviram para avaliar a qualidade desta metodologia. Uma vez que eventuais incorrecções em qualquer coordenada têm uma forte repercussão na transformação de pontos situados na sua vizinhança, foram efectuados diferentes testes, com diferentes grelhas, por forma a que todos os vértices fossem utilizados tanto como pontos base como de controlo. Esta estratégia permitiu detectar alguns VG com coordenadas incoerentes com as dos seus circundantes. Após esta filtragem, o ideal seria efectuar a transformação de coordenadas recorrendo a grelhas construídas com o conjunto de todos os VG disponíveis. No entanto, desse modo seria impossível avaliar de forma independente a qualidade da transformação. Assim, numa fase preliminar, de modo a poder aferir a qualidade do método, optou-se por não incluir nas grelhas o conjunto dos 170 VG de 3ª ordem, uma vez que apresentam uma distribuição homogénea e possuem uma precisão em Datum 73 similar à dos pontos a transformar. Os resultados globais obtidos com o método das grelhas para esta amostra estão expostos na Tabela 1 e a distribuição geográfica dos erros pode ser observada nas Figuras 3 e 4. As grelhas finais a aplicar serão construídas com base em todos os pontos disponíveis. m Tabela 1 – Estatísticas dos resíduos obtidos para a amostra independente dos 170 VG usando o método das grelhas. Resíduos e.m.q média máximo mínimo M (m) 0.058 0.002 0.220 -0.386 P(m) vector (m) 0.055 0.080 -0.007 0.057 0.224 0.394 -0.311 0.001 Figura 3 – Distribuição geográfica dos módulos dos vectores dos resíduos obtidos para a amostra independente dos 170 VG usando o método das grelhas. m 3. Métodos Foram realizados vários estudos com o objectivo de avaliar a melhor estratégia para realizar a transformação de coordenadas do sistema HGD73 para o sistema ETRS89. Dos vários métodos analisados os dois que produziram os melhores resultados globais para todo o território continental – transformações polinomiais e grelhas de diferenças de coordenadas. Transformação Polinomial Foram testados polinómios completos do 2º grau ao 12º, e independentes para cada uma das componentes (M e P), com a forma: 2 2 2 2 Figura 4 – Distribuição geográfica dos resíduos obtidos para a amostra independente dos 170 VG usando o método das grelhas. Esquerda: para a componente M; direita: para a componente P. M 2 = c 0 + c1 ⋅ M1 + c 2 ⋅ P1 + c 3 ⋅M1 + c 4 ⋅ M1 ⋅ P1 + c 5 ⋅ P1 + K P2 = d 0 + d1 ⋅ M1 + d 2 ⋅ P1 + d 3 ⋅M1 + d 4 ⋅ M1 ⋅ P1 + d 5 ⋅ P1 + K em que: (M1 , P1 ) coordenadas no sistema de partida (m) (M 2 , P2 ) coordenadas no sistema de chegada (m) (ci , d i ) coeficientes a determinar Grelhas de Diferenças de Coordenadas Este método consiste na construção de um modelo de diferenças entre as coordenadas nos dois sistemas de referência. Com base num conjunto discreto de pontos é produzido, por krigagem, um modelo regular que permite inferir por interpolação as correcções a aplicar às coordenadas no sistema de partida. Esta metodologia tal como a anterior, é aplicada de forma independente para cada uma das componentes planimétricas. 5. Conclusões Os estudos realizados até agora permitem concluir que o método das grelhas de diferenças de coordenadas se apresenta como a melhor solução para realizar a transformação das coordenadas planimétricas dos vértices geodésicos de 3ª ordem do sistema HGD73 para o sistema ETRS89-PT-TM06. Uma análise mais detalhada aos resultados permite ainda concluir que existem alguns vértices geodésicos da rede de 2ª ordem que apresentam resíduos superiores à média global. Estes pontos serão alvo de um exame mais aprofundado, de forma a averiguar se efectivamente se tratam de outliers. Os vértices geodésicos de 3ª ordem que pretendemos transformar, e que se situam próximos dos vértices que exibem as incoerências atrás referidas, não serão objecto de transformação e as suas coordenadas no sistema ETRS89 serão obtidas por observação directa no campo.