Informativo do Instituto Camiliano de Pastoral da Saúde e Bioética maio de 2008 Ano XXVI – no 263 Província Camiliana Brasileira ❒ Pastoral ❒ bioética ❒ humanização CURSO DE ESCUTATÓRIA RUBEN ALVES S empre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar. Ninguém quer aprender a ouvir. Pensei em oferecer um curso de escutatória. Mas acho que ninguém vai se matricular. Escutar é complicado e sutil. Diz Alberto Caeiro que “não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. É preciso também não ter filosofia nenhuma”. Filosofia é um monte de idéias, dentro da cabeça, sobre como são as coisas. Para se ver, é preciso que a cabeça esteja vazia. Parafraseio o Alberto Caeiro: “Não é bastante ter ouvidos para ouvir o que é dito; é preciso também que haja silêncio dentro da alma”. Daí a dificuldade: a gente não agüenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor, sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer. Como se aquilo que ele diz não fosse digno de descansada consideração e precisasse ser complementado por aquilo que a gente tem a dizer, que é muito melhor. Nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante e sutil de nossa arrogância e vaidade: no fundo, somos os mais bonitos. Tenho um velho amigo, Jovelino, que se mudou para os Estados Unidos estimulado pela revolução de 64. Contoume de sua experiência com os índios. Reunidos os participantes, ninguém fala. Há um longo, longo silêncio. (Os pianistas, antes de iniciar o concerto, diante do piano, ficam assentados em silêncio, abrindo vazios de silêncio, expulsando todas as idéias estranhas.). Todos em silêncio, à espera do pensamento essencial. Aí, de repente, alguém fala. Curto. Todos ouvem. Terminada a fala, novo silêncio. Falar logo em seguida seria um grande desrespeito, pois o outro falou os seus pensamentos, pensamentos que ele julgava essenciais. São-me estranhos. É preciso tempo para entender o que o outro falou. Se eu falar logo a seguir, são duas as possibilidades. Primeira: “Fiquei em silêncio só por delicadeza. Na verdade, não ouvi o que você falou. Enquanto você falava, eu pensava nas coisas que iria falar quando você terminasse sua (tola) fala. Falo como se você não tivesse falado”. Segunda: “Ouvi o que você falou. Mas isso que você falou como novidade eu já pensei há muito tempo. É coisa velha para mim. Tanto que nem preciso pensar sobre o que você falou”. Em ambos os casos, estou chamando o outro de tolo. O que é pior que uma bofetada. O longo silêncio quer dizer: “Estou ponderando cuidadosamente tudo aquilo que você falou”. E assim vai a reunião. Não basta o silêncio de fora. É preciso silêncio dentro. Ausência de pensamentos. E aí, quando se faz o silêncio dentro, a gente começa a ouvir coisas que não ouvia. Eu comecei a ouvir. Fernando Pessoa conhecia a experiência, e se referia a algo que se ouve nos interstícios das palavras, no lugar onde não há palavras. A música acontece no silêncio. A alma é uma catedral submersa. No fundo do mar — quem faz mergulho sabe — a boca fica fechada. Somos todos olhos e ouvidos. Aí, livres dos ruídos do falatório e dos saberes da filosofia, ouvimos a melodia que não havia, que de tão linda nos faz chorar. Para mim, Deus é isto: a beleza que se ouve no silêncio. Daí a importância de saber ouvir os outros: a beleza mora lá também. Comunhão é quando a beleza do outro e a beleza da gente se juntam num contraponto. 2 Ano XXVI – no 263 – maio de 2008 – boletim ICAPS NANOTECNOLOGIA: “O PEQUENO IRMÃO?” LEONARDO BOFF N os últimos anos, está ocorrendo de forma extremamente acelerada, não uma nova onda tecnológica, mas um verdadeiro tsunami tecnológico. É a nanotecnologia. Trata-se de uma tecnologia que produz elementos e coisas não presentes na natureza a partir do “mais pequeno”, como átomos e células que são colocados em lugares desejados. Um nanômetro é um bilionésimo de metro. A Wikipédia da Internet nos informa que “para se perceber o que isto significa, imagine uma praia com 1.000 km de extensão e um grão de areia de um mm; este grão está para a praia como um nanômetro está para o metro”. Trata-se, pois, de uma tecnologia do ínfimo, tão revolucionária que poderá tornar, em breve, a maioria das tecnologias obsoletas, especialmente aquelas aplicadas à agricultura, à indústria farmacêutica, à informática, à microeletrônica e aos computadores. Já existem atualmente cerca de 720 produtos em nanoescala desde camisas e calças feitas com fibras à prova de amassamento e de manchas (compráveis no Shopping Eldorado de São Paulo), protetores solares, alimentos, até nanotubos de carbono substituindo o cobre e sendo dez vezes mais eficientes na condução da eletricidade. Na nanotecnologia convergem a física, a química e a biologia, produzindo organismos ou partículas invisíveis com uma altíssima mobilidade. Por obedecerem às leis da física quântica são imprevisíveis. Especialmente a nanobiotecnologia começa a conhecer avanços insuspeitados. Criam-se, por exemplo, nanodispositivos que circulam no sangue e que podem detectar doenças ou fazer reparos em órgãos afetados. Todo o conteúdo da Biblioteca Nacional, com seus milhões de livros pode caber num na- expediente ` noaparelho do tamanho de um caramelo de doce de leite. Há grandes incertezas e riscos associados a este tipo de tecnologia. Nanosensores que hoje controlam todo o processo da assim chamada “agricultura inteligente” podem ser usados para controlar populações e pessoas. Seria a entronização “do pequeno Irmão” que realizaria as funções do “grande de Irmão” de A. Huxley. Como são aparelhos invisíveis e microscópicos, não há como se defender deles. Por isso a urgência de se observar o princípio de precaução e de se exigir do poder público códigos regulatórios. Se para todos os problemas sempre há uma solução adequada, quem sabe, pelo caminho da nanotecnologia não poderemos responder as três grandes questões que nos afligem: a escassez de recursos naturais, as mudanças climáticas e o aquecimento global. Com ela poder-seiam produzir abundância de alimentos, a recuperação dos solos e da natureza. Nanopartículas poderiam ser postas nas superfícies do oceano ou na estratosfera para resfriar a Terra e equilibrar os climas. No mar, entre a Nova Zelândia e a Antártica, foram espalhadas partículas de 20 nanômetros de ferro com o objetivo de produzir plâncton que, por sua vez, seqüestraria o dióxido de carbono, reduzindo assim a temperatura. O efeito foi tão surpreendente e aterrador que um dos cientistas disse “Se tivesse meio petroleiro de nanopartículas poderia causar uma nova era glacial no planeta”. Essas reflexões possuem caráter meramente inicial e fragmentário. Mas seu objetivo é despertar as pessoas para os riscos e as virtualidades que nos são oferecidas pela nanotecnologia e sua possível resposta ao clamor ecológico. O Boletim ICAPS é uma publicação do Instituto Camiliano de Pastoral da Saúdee Bioética – Província Camiliana Brasileira. Presidente: José Maria dos Santos Conselheiros: Niversindo Antônio Cherubin, Leocir Pessini, João Batista Gomes de Lima, André Luis Giombeli. Diretor-Responsável: Anísio Baldessin Secretária: Cláudia Santana Revisão: Fadwa Hallage Redação:Rua Barão do Bananal, 1.125 Tel. (11) 3862-7286 ramal 3 05024-000 São Paulo, SP e-mail: [email protected] Periodicidade: Mensal Prod. gráfica: Edições Loyola Tel. (11) 6914-1922 Tiragem: 3.500 exemplares PLANO DE AÇÃO DAS ATIVIDADES SOCIAIS EM 2008 Serviço de atendimento especializado — Destina-se ao atendimento da comunidade e de pessoas portadoras de deficiência, com objetivo de promover a habilitação e reabilitação física por meio de ações terapêuticas preventivas e curativas, favorecendo a integração à vida familiar e comunitária. • Centro de Promoção e Reabilitação em Saúde e Integração Social — Promove São Camilo – SP. • Centro de Reabilitação São Camilo – ES • Serviço de Podologia – MG Serviço de integração social e inclusão produtiva — Destina-se ao atendimento a famílias, com atividades que viabilizem o acesso à renda e o desenvolvimento de habilidades, potencialidades e capacidades, e ao atendimento a crianças, adolescentes e jovens, visando à proteção, à socialização e ao fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários, por meio de ações sócio-educativas continuadas. • Espaço Aprender São Camilo — Itanhaém – SP • Espaço Aprender São Camilo – São Paulo – SP • Espaço Aprender São Camilo – São Bernardo do Campo – SP Para mais informações ligue (11) 3868-5192, com a Assistente Social — Ana Lúcia Caro — Coordenadora das Atividades Sociais da União Social Camiliana. E-mail: [email protected]. Equipe Responsável pelos Programas e Serviços Assistenciais e Educacionais nas unidades camilianas: SP- Gil Emerson Aguiar — [email protected] ES- Profa. Janaína Dardengo — [email protected] ES- Maria Inês Brandolini — [email protected] RJ- Pryscila Simões Coelho — [email protected] MG- Ivia Carmelia de Oliveira Murici — servicosocial@ saocamilo-mg.br BA – Leandro Prata — [email protected] RS – Irmã Elise Sehnen– [email protected] “ A São Camilo realiza Serviços e Programas Assistenciais e Educacionais, que propiciam a inclusão de jovens no mercado de trabalho e promovem o acolhimento de crianças em situação de risco social. Trabalha no desenvolvimento humano e social de indivíduos e famílias para sua maior autonomia, participa do programa de erradicação do trabalho infantil, do programa universidade para todos, como também desenvolve um programa de bolsas de estudo institucional que prioriza os estudantes mais carentes das comunidades onde haja unidades educacionais camilianas. Ela atende aos idosos nas suas unidades educacionais com atividades culturais e de orientação à saúde, presta serviço de reabilitação, integração social e acolhimento às pessoas com deficiência e atua como co-responsável na luta pela garantia de direitos sociais dos usuários da assistência social”, explica a Assistente Social, Ana Lúcia Caro — Coordenadora das Atividades Sociais da União Social Camiliana. Assinatura: O valor de R$13,00 garante o recebimento, pelo Correio, de 11 (onze) edições (janeiro a dezembro). O pagamento deve ser feito mediante depósito bancário em nome de Província Camiliana Brasileira, no Banco Bradesco, agência 0422-7, conta corrente 89407-9. A reprodução dos artigos do Boletim ICAPS é livre, solicitando-se que seja citada a fonte. Pede-se o envio de publicações que façam a transcrição. Ano XXVI – no 263 – maio de 2008 – boletim ICAPS 3 CONHEÇA SÃO CAMILO A EDUCAÇÃO E AS AÇÕES SOCIAIS NA SÃO CAMILO A União Social Camiliana desenvolve ações de natureza educacional e de assistência social, promovendo os mínimos recursos sociais no atendimento direto à população em situação de vulnerabilidade e risco social. É reconhecida não só pelo trabalho de formação básica e profissional que realiza com seus alunos, mas também pelo atendimento social que presta à comunidade. As atividades de Assistência Social dos camilianos no Brasil, iniciaram-se em 1954. Foi uma resposta frente à necessidade de suprir as carências da região com o atendimento ambulatorial. Na União Social Camiliana, por meio da Comissão de Assistência Social, foi elaborada a Política de Assistência Social, com o objetivo de promover a inclusão social de pessoas, famílias e grupos de pessoas em situação de vulnerabilidade, risco social e pessoal, por meio dos serviços e programas assistenciais e educacionais de forma permanente e contínua. A assistência social compreende a acolhida, o abrigamento, a orientação sócio-educativa, a habilitação e reabilitação, a formação e capacitação para o trabalho, a formação e apoio a grupos de geração de emprego e renda, a orientação sócio-familiar, a provisão de bens e gêneros de primeira de necessidade, o assessoramento e apoio a usuários e movimentos sociais, e toda forma de garantia de acesso aos direitos sociais básicos. Além da atenção direta, desenvolvemos a assistência social por meio de parcerias com o Ministério de Desenvolvimento e Combate à Fome — MDS, PETI — Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, Secretarias Municipais de Assistência Social de Educação e Esportes de vários municípios e sistemas de apoio a outras instituições, como a Fundação Criança, e outras entidades prestadoras de assistência social. Programas Atendimento direto ao usuário, por meio das unidades administradas pela Mantenedora, com manutenção de corpo técnico próprio, custeio e conservação de imóveis, devendo ser estabelecido em orçamento anual, que garanta o cumprimento das metas de atendimento de forma permanente e contínua (USC – 2006). O programa compreende ações integradas e complementares, com objetivos, tempo e área de abrangência definidos, para qualificar, incentivar, potencializar e melhorar os serviços assistenciais e a comunidade, não se caracterizando como ações continuadas (USC – 2007). Usuário Famílias e indivíduos que estejam em situação de vulnerabilidade pessoal ou social, cujas relações e vínculos fami- liares ou comunitários não foram violados ou interrompidos, porém, que necessitem de proteção social preventiva e apoio para fortalecer suas relações familiares, comunitárias e para se emanciparem socialmente (USC – PNAS). Programas de Assistência Social Programa de apoio ao jovem — Destina-se ao atendimento de crianças, adolescentes e jovens, na faixa etária de 10 a 24 anos, visando a sua formação educacional, com o objetivo de orientá-los e acompanhá-los na construção da sua identidade, promovendo a reintegração social e a melhoria da qualidade de vida. Cidadão Campeão — ES. Jovem Cidadão – MG Programa de apoio ao idoso — Destina-se ao atendimento de idosos visando o fortalecimento dos vínculos familiares, a promoção da saúde integral e o resgate da auto-estima, segundo a perspectiva do envelhecimento com dignidade. • Universidade Aberta à 3ª Idade — ES • Capacitação de Agentes Visitadores de Doentes – RS • Grupo Bem Viver – MG Programa de convivência social e acolhida — Destinase ao atendimento a famílias, crianças, jovens, adultos e idosos, visando a promoção, reintegração e melhoria da qualidade de vida por meio de atividades sócio-educativas de conscientização quanto à saúde. • São Camilo Cuida – ES Programa de capacitação digital — Prepara crianças, jovens e adultos com aulas de informática, visando a inclusão social, por meio da capacitação digital e do favorecimento à inserção no mercado de trabalho, como um processo de resgate da cidadania. • Inclusão Digital – ES • Capacitação Digital – BA • Inclusão Digital – MG Programa de organização e desenvolvimento de comu nidade — Destina–se ao atendimento de crianças, jovens, adultos e idosos, com a finalidade de lhes proporcionar a reintegração social e a melhoria da qualidade de vida por meio de ações em saúde realizadas nas comunidades. • Centro Universitário São Camilo – ES Programa de apoio institucional — Instituído devido ao Convênio Assistencial entre Entidades, realizado pela unidade de São Paulo e União Social Camiliana — mantenedora, visando a adequar, assim, os convênios de parcerias entre Entidades que as unidades possam vir a estabelecer. • Associação Lar Ternura — Convênio Assistencial – SP 4 Ano XXVI – no 263 – maio de 2008 – boletim ICAPS Programa de assistência educacional A União Social Camiliana mantenedora dos Centros Universitários e Faculdades São Camilo desenvolve programas de assistência educacional como: alfabetização de adultos e programas de Bolsas de Estudo Assistencial e Governamental por situação de necessidade. Programa de alfabetização solidária — Destina-se à alfabetização de jovens e adultos que se encontram fora da idade escolar tradicional e não tiveram acesso ao ensino formal. Desenvolvido em parceria com a ONG AAPAS (Associação de Apoio ao Programa de Alfabetização Solidária). • Alfabetização Solidária – ES Programa universidade para todos — PROUNI — A União Social Camiliana aderiu ao Programa Universidade para Todos — PROUNI, instituído pela Lei 11.096, de 13 de janeiro de 2005, e disponibilizou Bolsas de Estudos em cinco unidades camilianas localizadas em: São Paulo, Espírito Santo, Bahia, Rio de Janeiro e Minas Gerais, por meio de critérios estabelecidos pelo PROUNI. Programa de concessão de bolsas de estudos — ASSIS TENCIAL — Bolsas de Estudos são oferecidas para a inclusão de alunos em situação de vulnerabilidade social, por meio dos diversos cursos ministrados nas unidades educacionais, com o objetivo de estender à comunidade atividades educacionais, com vistas à elevação de seu nível sócio-econômico e cultural. Programa de Concessão de Bolsas de Estudo — Assistenciais 2.759. Programa Universidade Para Todos — PROUNI 1.117. Programa de Alfabetização Solidária 500 somando um total de 4.376 pessoas beneficiadas. SÓ O ABORTO? JÚLIO SERAFIN MUNARO A s notícias da grande imprensa sobre o tema “Defesa da vida”, da Campanha da Fraternidade da Igreja Católica deste ano, deixam a impressão de que a campanha limita-se a combater o aborto e sua possível descriminalização ou legalização pelo governo. Sem dúvida, na moral da Igreja o aborto é condenado como crime nefando contra a vida de um ser inocente e indefeso, mas está longe de ser o único pecado contra a vida e a única razão da campanha em defesa da vida. Dados disponíveis indicam que em 2005 houve, no Brasil, 127.633 mortes por causas externas, isto é, homicídios, acidentes de trânsito, etc. Os acidentes de trânsito figuram entre as principais causas desse tipo de morte. Em apenas cinco dias das festas de Natal de 2007, morreram nas estradas federais do país 196 pessoas e outras 1.870 ficaram feridas em 2.561 acidentes. Vidas perdidas, vidas inutilizadas, vidas que de úteis que eram passaram a dependentes e dispendiosas, sofridas e causadoras de sofrimento. Grande parte por imprudência, excesso de velocidade e abuso de bebida alcoólica. Todas causas evitáveis. Outra causa externa de morte, disseminada em todo o mundo, é o hábito de fumar. Morte lenta, de custo elevado, mas efetiva. Segundo estimativas da OMS (Organização Mundial da Saúde), o fumo provocou ao longo do século XX mais de 100 milhões de mortes. O cigarro mata, no mundo, cerca de 5 milhões e 400 mil pessoas por ano, mais que a tuberculose, a malária e a aids juntas. A previsão é que no século XXI o tabagismo mate mais de 1 bilhão de pessoas. Um cenário trágico, de responsabilidade exclusiva do ser humano. E quem consegue deter essa investida contra a vida? Pior, em 70 países continua-se fazendo propaganda dessa causa de morte! No Brasil, acabou a propaganda, mas o consumo continua. Os vereadores de São Paulo derrubaram o veto do prefeito que proibia o fumo ao volante. Para especialistas a restrição é inconstitucional! E a vida? De acordo com um consenso médico internacional, o cigarro é a principal causa de morte evitável. E que dizer das drogas? Arruínam a vida dos usuários e provocam assassinatos entre os traficantes. As chacinas se tornam rotina entre eles. O saneamento básico é outro fator que afeta a vida de milhões de pessoas. Segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), em 2006 somente 46,77% da população brasileira dispunha de rede de recolhimento de dejetos domésticos. Onde falta rede de esgoto, a mortalidade infantil aumenta. E não é só. Também as gestantes e os bebês que trazem em seu ventre são afetados. Pesquisas demonstram que em áreas sem saneamento básico aumenta em até 30% o risco de mulheres grávidas terem bebês natimortos. Apesar da importância do saneamento básico para a vida e a saúde de todos, prevê-se que só em 2122 toda a população brasileira será atendida. Um século de espera. O governo investe apenas 0,22% do PIB (Produto Interno Bruto). O ideal seria 3 vezes mais. Quem decide? Pobreza, desemprego, favelas e tantas outras situações que não atendem às necessidades básicas e à dignidade humana precisam ser revistas se a sociedade quiser optar pela vida e assumir a sua defesa. Os desafios à defesa da vida “são grandes, variados e complexos”. Cabe aos discípulos de Cristo “defender, resgatar, restaurar e promover a vida”. É o que a Campanha da Fraternidade propõe a todos. Júlio Serafin Munaro, padre camiliano, Coordenador da Pastoral da Saúde da Arquidiocese de São Paulo. Ano XXVI – no 263 – maio de 2008 – boletim ICAPS 5 A DOÇURA DO MORRER WILSON JOÃO A vida e a morte se misturam. Ao mesmo tempo em que andam de mãos dadas, correm para lados opostos. Viver sempre? Seria muito bom! Para isso é necessário eternizar o melhor momento da vida e nesse momento permanecer. Viver caindo aos pedaços, não! Diante do fato da morte, realista, é a prece da criança feita ao Criador: “Deus, não seria melhor deixar sempre as mesmas pessoas na terra, em vez de fazer sempre gente nova? Daria menos trabalho para você!”. Nesta pergunta se esconde, também na criança, o desejo de não morrer. O TRÁGICO DO MORRER. Morrer criança. Morrer na juventude. Morrer na surpresa de um acidente. Morrer na violência de uma briga ou de uma guerra. Morrer destruindo-se a si mesmo. É trágico demais! Essa morte não está na lei da vida e muito menos no pensamento de Deus. A morte não está nos planos e nem no pensamento de Deus. Está apenas nos planos humanos egoístas, que rompem o ciclo da vida. A morte-surpresa é trágica para quem morre. Deixa um rastro de tristeza e de problemas em outras pessoas. Deixa choro e sonhos não realizados. É trágico para quem fica, porque a dor e a perda causam um transtorno muito grande. Por isso, o suicidar-se e o causar a morte num acidente ou num ato violento não é um ato isolado, que simplesmente passou. Traz dentro de si conseqüências, pois somos responsáveis pelo passado, pelo presente e pelo futuro problemático que deixamos. Morrer tragicamente é muito trágico! A DOÇURA DO MORRER. Já invejei mortes. Já quis estar ali, no lugar daquela pessoa morrendo. Parentes e amigos ao redor. Cantos de vida e de esperança. Rezas de serenidade. Olhos fechando-se ao olhar de tantos outros olhos! Morrer aos oitenta, aos noventa anos. Morrer porque o corpo não agüenta mais a vida. A vida é muito mais que um corpo. Morrer despedindo-se e agradecendo ao corpo que serviu para comunicar a vida. Morrer cheio de gente! Diferente da morte trágica, que é morte na solidão. Morrer escutando músicas e rezas. Morrer sem morrer. Apenas acenando um adeus. Morte de um Francisco de Assis, que pediu para ser deitado na terra, e ali deitado, rodeado de irmãos dizer: “vem, irmã morte”. VIVER PREPARANDO A MORTE. Diz o ditado: “como se vive, se morre”. Viver é uma escolha. Morrer também é uma escolha. Aprende-se a morrer vivendo. Aprende-se a viver morrendo. Viver intensamente como se fosse o único e último momento. Morrer aos poucos pelos atos de amor que vão sendo semeados na vida, como se fossem os últimos. Como diz o poeta: “morrer de amor”. LIBERTANDO A VIDA. É um corpo que fica, como um dia, em nosso nascimento, uma placenta com seu útero ficou no mundo do passado. Houve um nascimento para uma nova vida. A mesma vida. A morte é a libertação de uma outra placenta, que é o corpo, que é o mundo material, para viver a liberdade em plenitude. O corpo é sagrado e é um instrumento para a comunicação da vida. Ao mesmo tempo é um limite. A morte do corpo é a libertação dos limites. A vida, num corpo glorioso e vitorioso, ressuscitado e imortal, não terá mais nem espaço e nem tempo. Todos serão tudo em todos. Quer dizer, aqueles que fizeram a escolha da vida. Para aqueles que escolheram a doçura da morte. ANOTE AÍ!!! • 06 e 07 de setembro — XXVIII Congresso Brasileiro de Humanização e Pastoral da Saúde no Centro Universitário São Camilo — São Paulo. • 27 a 29 de outubro — VIII Congresso de Assistente Espiritual Hospitalar, que também ocorrerá em São Paulo. Mais informações nos próximos boletins. 6 Ano XXVI – no 263 – maio de 2008 – boletim ICAPS NÃO É O QUE PARECE (continuação do artigo do boletim 260) Flávia Mantovani Algumas mães têm leite fraco e o bebê fica com fome Não existe leite materno mais ou menos “fraco”. Ele é sempre adequado às necessidades do lactente, inclusive mudando sua composição conforme o bebê vai crescendo. O leite materno parece mais “ralo” e é mais translúcido do que o leite de vaca porque contém menos proteína, mas é o único que possui todas as substâncias necessárias para o desenvolvimento da criança, na forma que ela pode digerir. Crianças ente cinco e seis anos que não engordam precisam ser estimuladas a comer mais Na faixa etária entre cinco e seis anos, há uma desaceleração natural do crescimento e do ganho de peso. Isso é previsível e considerado absolutamente normal pelos médicos. Nessa fase, é importantíssimo respeitar o apetite e a saciedade da criança, para que ela possa desenvolver bons hábitos alimentares e corra menos risco de ter sobrepeso ou se tornar obesa. Remédios “naturais” são mais indicados para crianças porque não têm efeitos colaterais Todo remédio que funciona tem efeito colateral. Medicamentos à base de plantas, considerados “naturais”, ou drogas sintetizadas em laboratórios têm sempre um princípio ativo que leva ao efeito desejado em determinada dose. Essa não costuma ser a dosagem contida naturalmente em um vegetal. Se for menor do que a necessária para surtir efeito, pode contribuir para o agravamento da doença; se a dose for maior, aumenta a probabilidade de ocorrerem efeitos colaterais. Ver TV muito de perto prejudica os olhos Muitos pais ficam preocupados quando vêem que seus filhos estão assistindo à TV muito de perto e tentam afastá-los por acharem que isso causará prejuízo para a visão. Na verdade, o que ocorre é o inverso. Crianças que ficam muito próximas da TV o fazem, normalmente, por já possuírem alguma deficiência visual — daí a necessidade de ficar a curta distância. Ler em um veículo em movimento provoca descolamento da retina O descolamento de retina nunca é provocado pelo ato da leitura ou por um veículo em movimento nem pelos dois simultaneamente. Trata-se, na verdade, de um problema que ocorre por um trauma sobre os olhos ou, na maioria dos casos, de forma espontânea, devido a uma doença da própria retina chamada degeneração periférica. Água com sal combate a conjuntivite A conjuntivite é uma doença inflamatória da conjuntiva (membrana que reveste internamente as pálpebras), que pode ser causada por bactéria, vírus e alergias irritativas — a produtos químicos, por exemplo. A utilização de água com sal costuma deixar os olhos ainda mais vermelhos. Quando o nariz sangra, é preciso ficar com a cabeça para o alto Quando ocorre um sangramento do nariz, a reação quase instintiva é levantar o queixo e inclinar a cabeça para trás, para não deixar o sangue escorrer. Nessa posição, o sangue escorre do nariz em direção à garganta e pode, eventualmente, descer para o pulmão. A recomendação em caso de sangramento é abaixar a cabeça e, ao mesmo tempo, pressionar as narinas com o indicador e o polegar para estancar o sangue. Excesso de cera é prejudicial ao ouvido A cera produzida no ouvido tem substâncias bactericidas e protege da umidade as áreas internas do órgão. Não há indicação de que precise ser retirada regularmente. Se não provoca incômodo, zumbido, dor ou dificuldade de audição, não há por que removê-la. Instituto Camiliano de Pastoral da Saúde Tel. (11) 3862-7286, ramal 3 e-mail: [email protected] Rua Barão do Bananal, 1.125 05024-000 São Paulo, SP IMPRESSO