UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE IC – INSTITUTO DE COMPUTAÇÃO GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DA COMPUTAÇÃO RENATO VIEIRA GUILARDUCCI E-GOV: PARA QUE E PARA QUEM? NITERÓI 2007 RENATO VIEIRA GUILARDUCCI E-GOV: PARA QUE E PARA QUEM? Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Ciência da Computação da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para a obtenção do grau de bacharel. Orientadora: Prof. Dr. ISABEL L. CAFEZEIRO NITERÓI 2007 ii RENATO VIEIRA GUILARDUCCI E-GOV: PARA QUE E PARA QUEM? Monografia apresentada ao Curso de Graduação Computação em da Ciência da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para a obtenção do grau de bacharel. Aprovado em julho de 2007. BANCA EXAMINADORA ___________________________________________________ Prof. Dr. ISABEL L. CAFEZEIRO - Orientadora UFF ___________________________________________________ Prof. Dr. LUIZ VÁLTER BRAND GOMES UFF ___________________________________________________ Prof. Dr. JOSÉ RAPHAEL BOKEHI UFF NITERÓI 2007 iii AGRADECIMENTOS A meus pais, exemplos de amor e sacrifício, meus tios João, Graça e Marta, outros pais com quem sempre contei, e meus irmãos, sempre prontos a me ajudar e presentes. A minha orientadora, pela paciência e guia, ao Professor Doutor José Raphael Bokehi, pela ajuda e paciência, aos colegas que contribuíram com este trabalho. À Marisa, minha companheira de todas as horas e força sempre que precisei. Sem vocês, nada disso aconteceria. iv RESUMO Análise crítica das políticas de Governo Eletrônico adotadas no Brasil, comparativamente às adotadas em outros países. Foi feito um estudo visando concluir como esta política vem sendo vista e conduzida no país, se como uma ramificação das práticas de mercado no âmbito público ou uma forma de aproximação e dinamização da relação Estado-cidadão. O e-gov é apresentado como o uso das Tecnologias da Informação e Comunicação, visando garantir o cumprimento dos princípios que legitimam um Governo, segundo a obra do filósofo suíço Jean-Jacques Rousseau. Analisam-se, ainda, os caminhos a que uma política de e-gov pode levar, com seus benefícios e críticas a cada tipo de iniciativa. Por fim, é apresentado um estudo de como essa política vem se desenvolvendo no país, analisando-se quem de fato é atendido pelo e-gov atualmente e quais as tendências futuras dessa política. Palavras-chave: Governo eletrônico. Sociedade da Informação. Globalização. Contrato Social. Inclusão Digital. E-Democracy. v ABSTRACT Critical analysis of the policies of Electronic Government adopted in Brazil, comparatively with the ones adopted in other countries. A study has been made in order to conclude how that policy is being considered and treated in the country, either as a ramification of market practices in the public area or an effort for proximity of the government and the citizens and a way to make the relations between them more dynamic. E-gov is presented as the use of Communication and Information Technologies, in order to guarantee the fulfilling of the very principles that legitimize a Government, according to the work of the Switzer Philosopher Jean-Jacques Rousseau. Yet, the ways to which an e-gov policy may lead are analyzed, as well as their benefits and critics to each kind of effort. Therefore, a study is presented about how that e-gov policy is being developed in Brazil, analyzing who in fact is sees the benefits of e-gov and what are the trends for the future of that policy. Keywords: Electronic Government. E-Gov. Information Society. Globalization. Social Contract. Digital Inclusion. E-Democracy. vi Índice CAPÍTULO I I.1 I.1.1 I.1.2 INTRODUÇÃO.............................................................................. Objetivos....................................................................................... Objetivo geral................................................................................ Objetivos específicos.................................................................... 1 2 2 3 O QUE É GOVERNO ELETRÔNICO?......................................... Origem do termo........................................................................... Aspectos históricos....................................................................... Os novos rumos da sociedade..................................................... Uso das TIC: setor privado x setor público – vanguarda e retaguarda..................................................................................... II.2.3 O e-gov no Brasil.......................................................................... II.3 Definições de Governo Eletrônico................................................ II.4 Definição adotada......................................................................... 4 4 5 5 CAPÍTULO II II.1 II.2 II.2.1 II.2.2 9 10 12 16 CAPÍTULO III III.1 III.1.1 III.1.2 III.1.3 III.2 III.3 E-GOV: PARA QUÊ?.................................................................... 20 E-gov: o que pode ser feito?......................................................... 20 E-Procurement: desburocratização e economia........................... 21 Electronic Services Delivery (ESD)............................................... 23 E-Democracy................................................................................ 26 Implantando a E-democracy: Um caso de estudo........................ 28 Para que serve o E-gov?.............................................................. 36 CAPÍTULO IV IV.1 IV.2 IV.3 IV.4 IV.5 IV.5.1 IV.5.2 IV.5.3 IV.5.4 IV.5.5 IV.5.6 E-GOV: PARA QUEM?................................................................. Caminhos do E-gov...................................................................... E-gov e as empresas.................................................................... E-gov e os cidadãos..................................................................... E-gov e o Livro Verde................................................................... Iniciativas atuais............................................................................ PBID – Programa Brasileiro de Inclusão Digital........................... Investimentos em Telecentros e Gestão Comunitária.................. Uso do Software Livre................................................................... Programa PC Conectado.............................................................. ProInfo - Programa Nacional de Informática................................. GESAC – Governo Eletrônico Serviço de Atendimento ao Cidadão......................................................................................... IV.5.7 Programa “Um Computador por Aluno”........................................ IV.6 Resultados das políticas: Evolução estatística entre 2005 e 2006.............................................................................................. IV.7 E-GOV para quem?...................................................................... 38 38 41 43 45 47 47 48 48 49 51 CAPÍTULO V CONCLUSÃO............................................................................... 57 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................. OBRAS CITADAS......................................................................... OBRAS CONSULTADAS............................................................. 60 60 62 51 52 53 55 vii Lista de figuras Figura II.1 Atores Institucionais em uso das TIC no Governo e suas relações.............................................................................................. 10 Figura III.1 Evolução de cadastro de empresas no SIASG (Sistema de Administração de Serviços Gerais) do Governo Federal, categorizado pelo tipo das empresas cadastradas............................ 23 Figura III.2 Porcentagem de sites com informações básicas............................... 30 Figura III.3 Porcentagem de sites com informações eleitorais............................. 32 Figura III.4 Porcentagem de sites com links para outras instituições................... 33 Figura III.5 Porcentagem de sites com informações sobre consultas.................. 34 Figura III.6 Página consultiva do Conselho Local da cidade de Bristol................ 35 Figura IV.1 Proporção de domicílios que possuem equipamentos TIC................ 41 Figura IV.2 Serviços de governo eletrônico utilizado na internet.......................... 42 Figura IV.3 Proporção de domicílios com computador, por renda........................ 44 Figura IV.4 Proporção de domicílios com internet, por classe social.................... 45 Figura IV.5 Proporção dos domicílios que possuem equipamentos TIC (2005 x 2006)................................................................................................... 54 viii Lista de quadros Quadro II.1 Crítica à visão oficial de governo eletrônico.................................... Quadro IV.1 Configuração mínima de Desktop do programa PC Conectado......... 15 50 Quadro IV.2 Lista dos 27 aplicativos instalados nos desktops do programa PC Conectado.......................................................................................... 50 1 CAPÍTULO I INTRODUÇÃO Muito se fala, nos dias atuais, em Globalização e Sociedade da Informação. Tratados como novidades advindas das novas descobertas e invenções tecnológicas, esses tópicos, quando analisados de forma mais geral dentro de um contexto histórico, nada mais são do que um movimento natural da Sociedade de Mercado, podendo ser comparados ao período das grandes descobertas, nos séculos XV e XVI, e às Revoluções Industriais dos séculos XVII e XIX. A Globalização, que já vinha se desenvolvendo, ainda que a passos curtos, desde a época das grandes descobertas, ganhou nova força com o advento das Tecnologias da Informação e Comunicação, à medida que elas permitiram a queda de várias barreiras até então intransponíveis. Desta feita, assim como as Revoluções Industriais criaram uma nova sociedade à época, as Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) trouxeram consigo mudanças no modo de interação social dos povos, introduzindo assim, o conceito da Sociedade da Informação. Nesta nova visão de mundo, cada vez mais se dá importância aos detentores do conhecimento e produtores de tecnologia, pois ela é base de todas as atividades econômicas dos países capitalistas. Impelida por esse movimento econômico-social, a iniciativa privada, pioneiramente, buscou adaptar seus processos e visões a essa nova forma de interação com o mundo, muito promissora economicamente, já que prometia diminuir as barreiras de espaço e tempo, maiores atravancadores do processo de mundialização do mercado consumidor. Assim, foi criado o que hoje conhecemos como e-business. Assim, hoje, as empresas se fazem presentes em qualquer parte do globo, a qualquer hora, à distância de apenas um “clique” do consumidor. Visando seguir as tendências modernizadoras trazidas pelo avanço tecnológico, e já bastante exploradas pela iniciativa privada, os Estados começaram a adaptar a metodologia do e-business às suas peculiaridades. Passaram, assim, a oferecer seus “produtos” a todos os que com ele interagiam (empresas, outras esferas governamentais ou mesmo os cidadãos), sem limitação de distância e 2 horários. Assim, seria possível a dinamização dos processos administrativos e da desburocratização da informação e serviços, no caso deste último, tanto a disponibilização quanto a contratação. Desta forma, vários países lançaram programas de governo eletrônico, fortemente baseados nas TIC, principalmente na computação e telecomunicações, tendo a internet como principal canal de interação com o seu “mercado consumidor” – os cidadãos e empresas. E, como criada a partir de um movimento de mercado, a iniciativa do chamado e-gov foi tratada e ainda o é, na grande maioria dos casos e segundo a grande maioria dos órgãos que tratam do assunto, como um provedor de serviços e informações; uma espécie de loja virtual pública, sustentada pelos impostos do contribuinte. Porém, após cerca de 10 anos de história no Brasil do principal meio utilizado pelo Governo Eletrônico, a internet, uma análise deste conceito e dos rumos que tomamos faz-se necessária. O que esperamos de um Governo Eletrônico? O que foi feito até hoje, baseado no conceito existente? O que podemos melhorar, utilizando as TIC nas relações de um governo? E, finalmente, para onde caminhamos atualmente? Estas são perguntas importantes, que se espera responder ao longo deste trabalho. I.1 - Objetivos I.1.1. Objetivo Geral Apresentar uma visão de governo eletrônico em que seja papel do Estado não só disponibilizar informação e serviços através das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC), mas fazer uso do potencial desse ferramental para a implantação do Estado Democrático de Direito no meio digital. Desta forma, será possível dinamizar a gestão governamental e aproximar a população dos processos de tomada de decisão do país, garantindo assim o pleno exercício da democracia, ou seja, o governo do povo. 3 I.1.2. Objetivos Específicos Apresentar benefícios do uso da TIC no âmbito governamental; Analisar em que patamar nos encontramos em relação ao governo eletrônico e qual o caminho que tomamos nesse assunto; se estamos indo em direção ao acesso de todos ao e-gov ou se evoluindo para um grande repositório de serviços e informações apenas. 4 CAPÍTULO II O QUE É GOVERNO ELETRÔNICO? II.1 - Origem do termo O termo Governo Eletrônico origina-se da prática adotada por vários Governos nos últimos anos, visando alinhar a administração pública ao dinamismo inerente à Era da Informação. A partir do fim da década de oitenta e início dos anos noventa, começaram a surgir tendências reformistas em diversos Estados, em que os governos buscavam um modelo de gestão e relacionamento com os cidadãos mais dinâmico e participativo. Com o avanço das tecnologias de informação e comunicação (TIC) e a popularização da internet, tornou possível essa dinamização, com a digitalização e disponibilização das informações e serviços governamentais, usando-se a rede mundial de computadores. As iniciativas, que têm como principal estandarte o programa do Ministério da Ciência e Tecnologia “Sociedade da Informação” (Socinfo/MCT), têm por finalidade [5]: “ Apoio à implantação do comércio eletrônico e a oferta de novas formas de trabalho, por meio do uso intensivo de tecnologias da informação e de comunicação (TIC); Estímulo a novas formas de comunicação e de acesso comunitário à internet, fortalecendo a cidadania e a coesão social; Apoio à aplicação das tecnologias da informação e de comunicação na educação formal e em projetos de educação à distância, por meio da internet ou de redes, utilizando metodologias inovadoras de educação; Estímulo à elaboração de conteúdos e de aplicações voltados para a preservação artística, cultural, histórica e para a pesquisa científica e tecnológica de interesse para a área cultural; Promoção da informatização da administração pública, a padronização dos seus sistemas aplicativos, o desenvolvimento de aplicações em serviços de governo e a disseminação de informações ao cidadão; Fomento ao desenvolvimento de tecnologias estratégicas, a implementação de projetos piloto e a formação de recursos humanos; 5 Implantação de uma infra-estrutura básica de informações no país, integrando as diversas redes e os setores do governo, iniciativa privada e comunidade científica e tecnológica.” De fato, todos os itens citados remetem a algum dos princípios regentes do Estado, que define o seu papel histórico na sociedade. Ao se apoiar o comércio eletrônico e as novas formas de trabalho advindas do uso das TIC, o governo age como patrocinador de uma política trabalhista, oferecendo mais emprego aos cidadãos que o elegeram. Ao se buscar a disponibilização de acesso a essas novas tecnologias às comunidades e o seu uso na educação formal, o governo cumpre o seu papel de promoção da inclusão social e da cidadania. A utilização de tecnologias atuais no campo da arte, história, ciência e cultura tem ligação direta no papel governamental de principal preservador da história e cultura de um povo, e ainda, fomentador de novas manifestações artísticas e científicas. Além da busca pela melhoria constante do serviço público, formação de recursos humanos e da estrutura física para que as novas tecnologias possam ser utilizadas para o progresso de um país. Basicamente, o que vemos nos sete pontos do documento do governo brasileiro acerca da Sociedade da Informação é a utilização das TIC para o exercício do papel histórico do governo na sociedade. Neste contexto, visando maior performance e alcance, com novas tecnologias. Portanto, numa análise superficial, o termo Governo Eletrônico representaria o esforço dos governos para implementar seu papel histórico nas sociedades, utilizando-se das ferramentas tecnológicas disponíveis na Era da Informação. Mais adiante, nos aprofundaremos na análise a fim de definir o termo de forma apropriada para os fins deste trabalho. II.2 - Aspectos históricos II.2.1 – Os novos rumos da sociedade Quando analisamos o assunto Governo Eletrônico, não podemos deixar de lado os movimentos sociais que nos trouxeram até esta realidade. Neste contexto, o primeiro movimento importante a se mencionar é o da Globalização. Vista por muitos teóricos e pela grande maioria da população mundial como uma novidade, um 6 movimento recente, a Globalização nada mais é, quando levamos em consideração o desenvolvimento histórico do Capitalismo, uma expansão da civilização européia a partir do final do século XV. Segundo Batista Jr. [15]: “(...) Esse antigo processo de internacionalização e de criação de um mercado de alcance mundial foi lançado pela colonização, tendo resultado em ampliação das desigualdades entre os países colonizadores e os demais.” A modernização da tecnologia, entre outros fatores, tem gerado grandes transformações no processo produtivo. Porém os princípios que regem essa dinâmica são os mesmos do fim do século XIX, quando ocorreram as chamadas Revoluções Industriais nos países, sobretudo europeus, situados hoje no grupo dos países desenvolvidos. De fato, há um paralelo entre o movimento de modernização das relações entre o capital observado naquela época e o movimento dos dias de hoje. Vivemos uma Revolução Tecnológica, liderada principalmente pela introdução da computação nos processos econômicos e, em última instância, no dia-a-dia das populações alinhadas à sociedade capitalista ocidental. Neste contexto, o desenvolvimento das TIC e sua popularização contribuíram enormemente para a construção das bases de uma sociedade sem fronteiras, a chamada Aldeia Global. Através do uso de redes de dados, satélites, computadores e sistemas de computadores, as relações tanto entre pessoas físicas quanto jurídicas foram elevadas a uma potência inimaginável antes do surgimento dessas tecnologias. Por exemplo, assim como a construção das caravelas diminuiu distâncias antes intransponíveis, o desenvolvimento das telecomunicações, com meios de transferência de dados cada vez mais rápidos e eficazes, não só encurtou distâncias, como praticamente as aboliu. O uso de sistemas computadorizados pelos mercados (financeiro, de bens, de serviços...), aliado ao advento da internet derrubou uma barreira – o tempo – como até então nunca se ousou fazer. Assim, a qualquer instante, em algum lugar do mundo e de qualquer lugar do mundo, um cidadão tem disponíveis possibilidades de consumo infinitas. Ou seja, a atividade econômica mundial se expandiu para além dos limites impostos pelo dia e noite. Alinhando-se a tendência econômica atual, em que a iniciativa privada busca ampliar o mercado e a abrangência do capital em níveis internacionais, com a política de vários governos, sobretudo os dos países em desenvolvimento, de não 7 intervenção na economia, tem-se a base ideal para a introdução das TIC como um catalisador das mudanças necessárias para o sucesso do processo de globalização. E isto é, em última análise, resultado do desenvolvimento gradual do Capitalismo durante seis séculos. Este novo modelo baseia-se no conhecimento e na informação ou, no termo mais ouvido atualmente, no know-how para a geração e concentração do capital. Assim, como os “desbravadores” do século XV exploraram os bens naturais das suas colônias, a então fonte de geração de riqueza, os detentores da informação de hoje exploram o seu know-how nas suas zonas de influência, países que consomem sua tecnologia. Essa nova forma de relacionamento entre as partes integrantes do Capitalismo é justificada em muitos países, sobretudo os chamados países em desenvolvimento, pela ideologia do Neoliberalismo. A definição deste termo, segundo a Wikipedia [22], e adotada neste trabalho, é: [O Neoliberalismo] “… defende a instituição de um sistema de governo em que o indivíduo tenha mais importância do que o Estado (minarquia), sob a argumentação de que quanto menor a participação do Estado na economia, maior é o poder dos indivíduos e mais rapidamente a sociedade pode se desenvolver e progredir, para o bem dos cidadãos.” Muitos Estados vêm se comprometendo categoricamente com esta ideologia, adequando suas economias, sociedades, estruturas e mídia a este tipo de organização das relações econômico-sociais. Alguns outros, os chamados países desenvolvidos, embora defendam o modelo de não intervenção econômica, já não o aplicam com tanto rigor, interferindo via de regra em suas economias nacionais, visando garantir o seu bom funcionamento e bem-estar social das suas populações. Teoricamente, um Estado comprometido com a Globalização deve se adequar e se preparar para oferecer uma infra-estrutura que garanta a integração com as economias de outros países, montando assim uma rede econômica mundial. Neste contexto, entra a reforma por que vêm passando países como o Brasil, em que o Estado passa a ser fomentador da iniciativa privada e regulador de seu papel na economia. Desta forma, a intervenção estatal em determinados assuntos, que até vinte anos atrás era completa, hoje em dia é apenas uma ponte entre aquela necessidade social e o investimento privado que a levará a cabo. 8 De uma forma mais ou menos comprometida, todos os Estados do Ocidente têm buscado essa parceria com a iniciativa privada e, seguindo as tendências de mercado, adequado sua infra-estrutura e processos para melhor se encaixar na nova tendência mundial. Assim, diversos países, sobretudo os em desenvolvimento, adotaram algum tipo de reforma administrativa, como, por exemplo [5]: “(...) Efetivamente, as mudanças contemplaram a revisão do modelo de intervenção direta na atividade econômica em direção à intervenção regulatória e de fomento à iniciativa privada. Isto se deu por duas vertentes: a primeira, de privatização das atividades industriais mantidas pelo Estado e a segunda, de criação de entidades reguladoras dos setores com características estruturais de monopólio, tais como energia elétrica, telecomunicações, petróleo e gás e transportes, dentre outros.” Este mesmo documento cita ainda um exemplo concreto desta nova postura governamental [5]. A implementação do projeto GESAC - Governo Eletrônico: Serviço de Atendimento ao Cidadão –, que prevê a expansão da rede de telecomunicações para localidades e segmentos onde esta não seja comercialmente viável, com financiamento por meio do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (FUST), proveniente das empresas de telecomunicações, há poucos anos privatizadas. Portanto, a privatização das empresas não desonerou o governo de investimentos no setor, servindo apenas como forma de se colocar como mediador entre a iniciativa privada e os cidadãos. Este projeto, criado no governo FHC, se encontra hoje em andamento no governo Lula, porém não vêm utilizando os recursos do FUST. Apenas no dia 8 de fevereiro deste ano, o primeiro decreto autorizando a utilização do Fundo foi assinado pelo presidente. Além da disponibilização de acesso à internet (o programa prevê que 160 mil escolas sejam beneficiadas apenas neste ano), outras entidades também contarão com esses recursos. 9 II.2.2 – Uso das TIC: setor privado x setor público – vanguarda e retaguarda Todo esse movimento de inovação tecnológica aplicada ao mercado nasceu, como não poderia deixar de ser numa sociedade capitalista, na iniciativa privada. Buscando modernizar-se, diminuir a distância entre empresas e consumidores, criar um ambiente mais dinâmico, onde transações comerciais fossem fáceis, rápidas e seguras, e onde tempo não fosse regulador de atividade econômica, as empresas fizeram grande uso de novas tecnologias, como por exemplo, os computadores e a internet. A capacidade de processamento e automação de processos permitidos pela informática trouxe uma revolução na forma de se fazer negócios. Com o advento da internet, esta revolução foi levada a um nível ainda maior, já que agora um canal tão dinâmico quanto o ferramental existente se fazia disponível. Desta forma, modelos de negócio baseados em tecnologia e na internet foram desenvolvidos, abordando as relações entre empresas e destas com seus consumidores e até mesmo entre eles, denominadas respectivamente, transações B2B (do inglês, Business to Business), C2C (do inglês, Consumer to Consumer) e B2C (do inglês, Business to Consumer). Ou seja, transações entre empresas, entre consumidores finais e entre empresas e consumidores finais. Esse novo modelo de negócio mostrou-se altamente produtivo e eficaz e, cada vez mais, passou-se a investir nesta nova forma de produção e de interação mercadológica. A iniciativa privada foi, portanto, a grande fomentadora desse movimento e, a partir dos produtos e conceitos amadurecidos pelos esforços privados e seguindo as tendências internacionalistas da Globalização, é que os Estados começaram a desenvolver suas próprias versões desta nova tendência. Assim, os governos passaram a se espelhar nessas iniciativas do setor privado, visando melhor atender a sociedade e fomentar a infra-estrutura necessária para este fim. Neste contexto, os modelos de negócios usados pelo setor privado, o chamado e-business, foram adaptados para o contexto público, como descrito pela Casa Civil da Presidência da República [5]: “(...) As transformações nos novos modelos e práticas de gestão que se disseminaram nas organizações alcançaram também a administração pública. (...)Dessa forma, a administração pública 10 exercitou o aprendizado de diversas inovações e desenvolveu novos tipos de relacionamento, por meio das transações G2G (negócios intra e entre governos), G2B (negócios entre o governo e as empresas fornecedoras e investidores) e G2C (negócios entre o governo e o cidadão nos seus diversos extratos). Este movimento confluiu na formulação dos conceitos, diretrizes e propostas do Governo Eletrônico.” Figura II.1: Atores Institucionais em uso das TIC no Governo e suas relações (G = Governo; B = Iniciativa privada; C = Cidadão) Fonte: Livro Verde Assim surge o conceito Governo Eletrônico (e-government), a partir das melhores práticas mercadológicas e da tendência mundial globalizadora, com o Estado como fomentador e regulador das relações e iniciativas do setor privado, visando o desenvolvimento e a melhoria da qualidade de vida e serviços prestados à sociedade como um todo. II.2.3 – O e-gov no Brasil No Brasil, o marco inicial foi a criação de um grupo de trabalho interministerial1 para a formulação de uma política de Governo Eletrônico. Através de estudos e diagnósticos, foi proposto um modelo conceitual de Governo Eletrônico, com ênfase na proposição de medidas para a promoção das novas formas eletrônicas de interação entre o governo e o cidadão. O documento produzido pelo grupo resgatava iniciativas de grande relevância já em fase 1 1 Denominado informalmente Grupo de Trabalho em Tecnologia da Informação – GTTI, foi criado pelo Decreto de 3 de abril de 2000, com a finalidade de examinar e propor políticas, diretrizes e normas relacionadas com as novas formas eletrônicas de interação, sendo integrado por representantes dos seguintes órgãos: Ministérios da Ciência e Tecnologia, desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Justiça, Comunicações, Planejamento, Orçamento e Gestão, Casa Civil, Gabinete de Segurança Institucional e Secretaria de Estado da Comunicação de Governo da Presidência da República. Posteriormente, houve a incorporação dos Ministérios da Saúde, Educação, Fazenda e da Agência Nacional de Telecomunicações – Anatel. (Extraído do documento: 2 anos de e-gov, do Comitê Executivo do Governo Eletrônico, da Casa Civil da Presidência da República) 11 avançada de implementação para que o delineamento de um programa de Governo Eletrônico já partisse de um patamar mais avançado nessa área. Desta forma, vários serviços foram disponibilizados através do meio eletrônico pelo Governo, porém havia a necessidade de uma política mais integrada e abrangente, para a consolidação dos resultados positivos já obtidos e a evolução em direção à efetiva universalização do acesso às tecnologias da informação e aos serviços de interesse do cidadão. Neste sentido, um conjunto de metas e políticas foi traçado, culminando no Livro Verde, publicação que trata da chamada Sociedade da Informação, termo utilizado para designar a sociedade atual, dinâmica, consumidora de informação e serviços e cada vez mais dependente das TIC. Porém o que se viu foi a oferta de serviços governamentais através da internet, demandantes de tecnologia, à qual nem toda a população tinha acesso. Desta forma, numa primeira análise, como será tratado no capítulo 4, o governo tomou as medidas necessárias para a “promoção das novas formas eletrônicas de interação entre o governo e o cidadão”, porém as ações no sentido da “evolução em direção à efetiva universalização do acesso às tecnologias da informação e aos serviços de interesse do cidadão” não tiveram tanto foco. A partir de 2003, porém, o Governo começou a pensar e implantar um programa de inclusão digital, preterindo em certo grau o papel de fomentador de consumo de tecnologia por meio de oferta de serviços apenas. Programas como o PBID - Programa Brasileiro de Inclusão Digital -, com ações voltadas para o fornecimento equipamentos de de acesso à internet, informática, recuperação treinamentos e e reaproveitamento capacitação (combate de ao analfabetismo digital) e fornecimento de infra-estrutura para acesso à internet em localidades não servidas por meios de telecomunicações foram implantados, de forma a preencher a lacuna existente no início dos esforços de implantação do governo eletrônico. Estes assuntos são tratados com mais detalhe no capítulo 4, Egov para quem?, onde serão analisados dados estatísticos e apresentados alguns projetos governamentais no sentido de incluir digitalmente a população para o real uso do e-gov. 12 II.3 - Definições de Governo Eletrônico Várias definições para o termo são encontradas na literatura. Alguns pregam o Governo Eletrônico como agente modernizador das relações sociais e passo fundamental para o progresso de uma nação, já outros o vêem de forma mais cética, como uma forma de inserir o Estado como mais um produto do Capitalismo. Nesta seção, apresentamos essas duas correntes de pensamento antagônicas e analisamos suas definições de forma a construirmos uma base sobre a qual discorreremos durante este Trabalho. A primeira vertente defende o conceito aliado às mudanças sociais do capitalismo e ao neoliberalismo. Introduzindo esse pensamento, tem-se a definição do Pacific Council on International Policy [14]: “Governo Eletrônico é o uso da tecnologia da informação e da comunicação para promover maior eficiência e maior efetividade governamental, facilitando o acesso aos serviços públicos, permitindo ao grande público o acesso à informação, e tornando o governo mais accountable para o cidadão. (...)” Nesta tônica, abarca-se o conceito de Governo Eletrônico como uma evolução no atendimento à população por parte da máquina pública. Porém, um governo não se resume em um prestador de serviços, motivo pelo qual a definição acima não satisfaz os objetivos deste trabalho. Outra insuficiência desta é que ela não contempla o provimento de infra-estrutura e garantia de acesso da população à mesma. A definição cita a facilitação do “acesso aos serviços públicos, permitindo ao grande público o acesso à informação”, sem citar o papel do governo, antes de tudo, como responsável por dar condições ao “grande público” de acessar essas informações e serviços, ora disponíveis de forma digital. Porém, há que se ressaltar sua validade quanto aos pontos que abrange, vendo o Governo Eletrônico como uma forma de melhorar e dinamizar o acesso do cidadão aos serviços e informações governamentais. Este, na visão desta monografia, decerto é um dos papéis que um Governo deve procurar ao implantar um programa de Governo Eletrônico, porém não deve parar por aí. O texto “Dois anos de Governo eletrônico” [5] discorre ainda, além do citado pela definição do Pacific Council, sobre a melhoria da gestão interna e integração com parceiros e fornecedores. Logo, apesar de mais abrangente do 13 que a disposição deste órgão internacional, a brasileira apenas a complementa, incorporando ações pró-ativas na gestão interna e no relacionamento entre entidades (Governo e parceiros/fornecedores). Portanto, a posição do Brasil em relação ao Governo Eletrônico, assim como a do Pacific Council, pode ser resumida como a dinamização do Governo para o melhor atendimento dos atores que com ele interagem. De fato, este tipo de concepção é amplamente divulgado e aceito como definição de Governo Eletrônico, inclusive nos meios da administração pública, conforme citado no estudo "E-governo no Brasil" da Secretaria para Assuntos Fiscais do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (SF/BNDES) que conceitua Governo Eletrônico (ou e-governo) como: "(...) o uso pelos governos das novas tecnologias da informação na prestação de serviços e informações para cidadãos, fornecedores e servidores." Esta visão também é adotada por governos de outros países, como o de Portugal [18]: “Os projectos de Governo Electrónico visam simplificar e melhorar a prestação de serviços públicos aos cidadãos e às empresas, nomeadamente promovendo: A eficiência e facilidade de uso dos serviços prestados aos cidadãos pelo Estado com apoio nas tecnologias da informação e comunicação; A transparência no relacionamento do Estado com os cidadãos; A concretização do princípio do balcão único nas relações do Estado com os cidadãos e as empresas; A redução de custos pela racionalização da utilização de meios e das compras do Estado; O desenvolvimento de serviços públicos modernos. (...)” Partindo disto, admite-se um governo eletrônico como ágil provedor de serviços e informações. Neste ensejo, o Governo Brasileiro publicou, em 2001, o documento “A Política de Governo Eletrônico no Brasil” que traça como objetivos do Programa [10]: “ Oferta na internet de todos os serviços prestados ao cidadão, com melhoria dos padrões de atendimento, redução de custos e facilidade de acesso; Ampliar o acesso a informações pelo cidadão, em formatos adequados, por meio da internet; 14 Promover a convergência entre sistemas de informação, redes e bancos de dados governamentais para permitir o intercâmbio de informações e a agilização de procedimentos; Implantar uma infra-estrutura avançada de comunicações e de serviços, com padrões adequados de segurança e serviços, além de alto desempenho; Utilizar o poder de compra do Governo Federal para a obtenção de custos menores e a otimização do uso de redes de comunicação; Estimular o acesso à internet, em especial por meio de pontos de acesso abrigados em instituições públicas ou comunitárias; Concorrer para o fortalecimento da competitividade sistêmica da economia.” Esta política vem ratificar o que é descrito no Programa Sociedade da Informação, que trata da disponibilização da infra-estrutura, padrões e políticas para formar a base da nova tendência da sociedade, agora consumidora de informação. Em contrapartida à idéia até agora exposta, tanto de Governo Eletrônico como de Sociedade da Informação, é criticada por outra corrente de pensamento, aqui representada pelo trabalho “’Sociedade da Informação’: estratégia para uma ‘Sociedade Mercadorizada’” [4], que prega que os governos estão sendo levados pelas forças do Capitalismo a um processo de “mercadorização” da cidadania. Segundo ele, os governos são responsáveis pela constituição da massa de consumo e pela indução do próprio. A eles também são atribuídas as tarefas de estimular a cultura digital e financiar a pesquisa e desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação. Ainda nesse trabalho alguns dos pontos citados acima podem ser explicados conforme mostrado no quadro II.1. 15 Quadro II.1: Crítica à visão oficial de governo eletrônico. Pontos da Política Governamental Crítica do trabalho Oferta na internet de todos os serviços Indução do consumo de tecnologia e prestados ao cidadão, com melhoria legitimação da infra-estrutura. dos padrões de atendimento, redução de custos e facilidade de acesso; Ampliar o acesso a informações pelo cidadão, em formatos adequados, por meio da internet; Implantar uma infra-estrutura avançada Fomentar investimentos da iniciativa de comunicações e de serviços, com privada. padrões adequados de segurança e serviços, além de alto desempenho; Concorrer para o fortalecimento da Objetivo da política da Sociedade da competitividade sistêmica da economia. Informação: “Mercadorização” do Estado. O trabalho “’Sociedade da Informação’: estratégia para uma ‘Sociedade Mercadorizada’” [4] propõe uma visão crítica de Governo Eletrônico e Sociedade da Informação, que define o termo como sendo o processo de “mercadorização” da sociedade, patrocinada pelo Poder Público, através de uma política neoliberal e não intervencionista, com uso massivo das Tecnologias da Informação e Comunicação. Partindo dessas duas correntes, temos o parte do arcabouço necessário para desenvolver o conceito de Governo Eletrônico que será utilizado neste trabalho. 16 II.4 – Definição adotada Começamos esta seção, trazendo à tona o trabalho “Do Contrato Social” do filósofo suíço do século XVIII Jean-Jacques Rousseau para compor a base para construirmos nosso conceito de e-gov. Segundo a obra, os homens nascem livres, porém se associam através de um contrato social, alienando seus direitos naturais à autoridade da vontade geral da população, exercida por um governo formado. Assim, estariam se precavendo da subordinação às vontades de outros pela força e assegurariam que os outros lhes obedecessem, pois eles seriam, coletivamente, autores da lei. Assim sendo, temos, no caso da associação do povo brasileiro em forma de República Federativa, um contrato social firmado entre o povo e o governo escolhido para representá-lo. Este contrato pode ser considerado como a Constituição da República e a legislação complementar. A partir deste princípio e dos trechos abaixo da Carta Magna da nação, podemos traçar as atribuições que devem ser observadas para a legitimidade do Governo Nacional do Brasil [3]. “Art. 1.º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado democrático de direito e tem como fundamentos: I - a soberania; II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo político. Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição. (...)” Fonte: Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 [3] Este artigo determina a natureza e os fundamentos do Estado brasileiro e está ligado diretamente à validação do contrato social vigente no nosso país. Ele define a república brasileira como um Estado democrático de direito, ou seja, segundo definição de Marco Aurélio Bastos, um Estado que possibilita a legitimação democrática do poder do Estado por meio da participação popular no processo político, na gestão pública, nas decisões do Governo e no controle da Administração Pública da nação, e, em seu parágrafo único, explicita os termos do Contrato Social 17 firmado entre a sociedade e os lideres da nação. Ou seja, explicita que o poder, ou a validade do ator Estado, emana do povo que o forma e que o exercício desse poder é limitado pela Constituição, que é o Contrato Social do povo brasileiro propriamente dito. “(...)Art. 3.º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; II - garantir o desenvolvimento nacional; III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. (...)” Fonte: Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 [3] Do artigo 3º, temos como atribuição governamental a garantia do desenvolvimento nacional, associada à erradicação da pobreza e marginalização e redução das desigualdades sociais e regionais, sem preconceitos quaisquer ou outra forma de discriminação. Assim, consideramos a definição de Governo Eletrônico do Pacific Council on International Policy, ratificada pelo documento "E-governo no Brasil" (SF/BNDES), ambos citados na seção anterior, como definições incompletas, apesar de válidas. “(...)Art. 5.º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade (...)“. Fonte: Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 [3] O artigo 5o,por sua vez, é claro ao afirmar que todos têm o direito e, de fato, são iguais, o que torna injustificável que o Estado contribua para a promoção do acesso aos produtos de desenvolvimento tecnológicos disponíveis a apenas parcela da população. A realidade atual é que 67,76% da população brasileira nunca acessaram a internet e, desta forma, não fazem uso das soluções eletrônicas governamentais adotadas até hoje em dia. Para se garantir o cumprimento da Constituição Federal são necessárias ações para dar acesso a todos os cidadãos, sem distinção, às TIC. Caso essas ações não sejam tomadas, o que acontece é, de fato, a “mercadorização da sociedade”, como citado na seção anterior, tendo o 18 Estado apenas como fomentador do consumo tecnologia. Assim, para os fins deste estudo, não há possibilidade de se dissociarem assuntos como Sociedade da Informação, Inclusão Digital e Governo Eletrônico, o que é fato na literatura atual. Os três tópicos supracitados são, na realidade, um tópico apenas, sintetizados na expressão Governo Eletrônico. Ao se colocar apenas como regulador da iniciativa privada, este trabalho considera que o Governo, de certa forma, abre mão do seu papel soberano em algum grau, deixando sob responsabilidade do mercado um papel que é dever do Soberano, definido na obra se Rousseau como o ator que rege a vontade geral de um país. Assim, as iniciativas passam a ser regidas por leis capitalistas, como a Lei de Oferta e Procura, não respeitando os princípios sociais descritos na Carta Magna da nação. Por isso, um programa de Governo Eletrônico não pode tratar separadamente o assunto Inclusão Digital, pois é parte das atribuições do Governo zelar para que todas as ações estatais atinjam a sociedade como um todo, independentemente do poder aquisitivo de cada faixa em separado. Mais adiante, algumas iniciativas governamentais de inclusão e alfabetização digital são apresentadas. Portanto, a definição de Governo Eletrônico adotada por este trabalho, será a seguinte: Governo Eletrônico é o uso das tecnologias da informação e da comunicação para garantir o cumprimento efetivo e eficiente dos princípios que legitimam o Governo constituído para o povo, ou seja, é o uso das tecnologias da informação e comunicação para o cumprimento real das Leis que regem a Nação. Neste contexto, o inciso IV do artigo 1º da Constituição legitima o fomento da iniciativa privada no provimento da infra-estrutura necessária à Sociedade da Informação, segundo prega o Livro Verde, em contrapartida ao que prega a segunda visão de Governo Eletrônico apresentada na seção II.3 por [BEMFICA/CARDOSO/FARIA] [4]. De acordo com visão dos três autores, a Sociedade da Informação nada mais é do que um movimento do capitalismo em direção à “mercadorização” da sociedade. O grau de validade dessa visão crítica é tão maior quanto as possíveis distorções da lei brasileira, visando atender a iniciativa privada. Apesar de ser previsto na Constituição o fomento das iniciativas privadas, este trabalho considera que um posicionamento muito radical em relação a isso 19 pode ser maléfico e caminho para a “mercadorização da sociedade”. Um exemplo disto, considerado por este trabalho, é o posicionamento de governos apenas como reguladores de mercado. A visão de [BEMFICA/CARDOSO/FARIA] [4] será constantemente abordada ao longo deste trabalho, pois, apesar de não estar em conformidade com a visão de Governo Eletrônico adotada, aponta para um risco inerente à natureza da implantação de um projeto dessa magnitude, quando os preceitos do Contrato Social não são observados. Caso isso ocorra, é praticamente certo que os esforços para a dinamização e facilitação da participação do cidadão na vida pública de uma nação se traduzam, de fato, na transformação da cidadania em bem de consumo ou, segundo a visão dos três autores, da “mercadorização” da sociedade. Isto seria exatamente a negação da base primordial deste trabalho, a definição de Governo Eletrônico, logo, um caminho nefasto e danoso para a implantação de uma ferramenta com imenso potencial social e democrático. 20 CAPÍTULO III E-GOV: PARA QUÊ? Neste capítulo, fazemos uma análise de como a iniciativa de Governo Eletrônico pode ser benéfica a um país e como ela ajuda no cumprimento do contrato social. Assim, esperamos responder à questão “E-gov para quê?”. III.1 – E-gov: o que pode ser feito? Em todos os campos de atuação humana, as TIC, de uma forma geral, contribuíram grandemente para a melhoria, dinamização e otimização de processos e recursos. Evidentemente há casos negativos, como em toda iniciativa humana, porém os benefícios parecem ultrapassar os malefícios, quando se trata o assunto com o foco em processo produtivo. Com a questão governamental, não poderia ser diferente. Inúmeros serviços e processos administrativos de um governo podem ser favorecidos pelas tecnologias atuais. Segundo estudo sobre o assunto, conduzido pela consultoria Accenture [1], para um governo alcançar as incessantes demandas com seus recursos limitados, é necessário que ele se transforme num governo de alta performance, ou seja, ainda segundo o estudo, um governo cujas obrigações legais e expectativas da população são cumpridas da maneira mais eficiente possível, ao menor custo possível. A meta é extrair o máximo valor de cada atribuição e serviço, com os menores esforço e custo possíveis. Para chegarem a isso, segundo a consultoria [1], os governos devem estar dispostos a descartar modelos de negócio obsoletos em favor de novas formas, cada vez mais baseadas nas tecnologias da informação e comunicação. Assim, partindo-se das premissas apresentadas no capítulo anterior, advindas da obra “Do Contrato Social” [13], somadas a esses princípios de excelência, temos que as principais atribuições que um projeto de Governo Eletrônico deve atingir para prover a maior qualidade possível no cumprimento de seu papel legal para com a sociedade são: 21 Prover maior eficácia no investimento do dinheiro público; Otimizar os processos internos da administração pública; Promover a transparência nas contas públicas e nas ações governamentais; Disponibilizar, da forma mais simples e acessível, seus serviços aos cidadãos; Criar os meios de aumentar a participação democrática do povo nos assuntos de Governo. Nesta seção, apresentamos essas possíveis melhorias nas relações G2G, G2C e G2B que um projeto de E-gov deve trazer a um povo e alguns exemplos de políticas já implementadas. III.1.1 – E-Procurement: desburocratização e economia O termo e-procurement surgiu, assim como toda a base do e-gov, do ebusiness. Este conceito trata basicamente da dinamização e busca por minimização de custos na aquisição de serviços, produtos e fornecedores. No contexto de ebusiness, e-procurement é classificado como B2B (business to business). No contexto deste estudo, ele pode ser classificado como G2B e, em casos específicos, como por exemplo o site www.comprasnet.gov.br do Governo Federal, também pode ser classificado como G2G, já que disponibiliza as informações contidas no sistema e cotações aos governos locais cadastrados, corroborando, assim, para a integração e desburocratização do processo de compras governamentais. No Brasil, a iniciativa do Governo Federal nesta senda gerou, de 2003 até os dias atuais, uma economia de R$ 1,3 bilhão apenas com o pregão eletrônico, um dos serviços disponíveis no site comprasnet. O pregão funciona como um leilão às avessas, onde ganha a licitação o menor preço. Segundo o portal SERPRO [15] (Serviço Federal de Processamento de Dados), vinculado ao Ministério da Fazenda, a economia entre o valor inicial proposto em licitações e o valor final homologado neste tipo de transação é da ordem de 35%. Este caso em particular do eprocurement pode ser classificado como uma relação G2B e baseia-se nos conceitos de Web-based ERP (Electronic Resource Planning), e-tendering, e-reverse 22 auctioning; todos advindos do e-business (as definições para os termos acima utilizados podem ser encontradas no glossário, ao final deste trabalho). Além da visível economia gerada por este tipo de emprego das TIC na administração pública, há ainda outras vantagens do e-procurement, como, por exemplo, o e-sourcing, outro conceito advindo do e-business e absorvido como uma relação G2G em contexto de e-gov. O e-sourcing é a identificação de fornecedores para uma categoria de necessidade de compra específica, através da tecnologia da internet. Os dados do site em 2006 mostram que há 253.520 fornecedores cadastrados, cujas informações estão disponíveis para todas as esferas governamentais cadastradas. Um crescimento de mais de 400% em relação ao cadastro de fornecedores em 1997. Deste número, aproximadamente 69% é de pequenas e micro empresas e pessoas físicas, o que faz da iniciativa, além de uma melhoria de processos e economia para os cofres públicos, também fator de incentivo à pequena e micro empresa, colaborando indiretamente para o crescimento do produto interno bruto e distribuição de renda. O gráfico e a tabela da figura III.1, extraídos do próprio site, mostram a evolução desde 1997 do cadastro de fornecedores do Governo Federal, fazendo uma categorização pelo tipo de empresa. Aqui podemos ver a importância deste tipo de iniciativa para o incentivo e inclusão das micro e pequenas empresas na economia. 23 Tipo de Empresa Quantidade Cadastrada até 1997 Quantidade Cadastrada até 1998 Quantidade Cadastrada até 1999 Quantidade Cadastrada até 2000 Quantidade Cadastrada até 2001 Quantidade Cadastrada até 2002 Quantidade Cadastrada até 2003 Quantidade Cadastrada até 2004 Quantidade Cadastrada até 2005 Quantidade Cadastrada até 2006 Pessoa Física Micro Empresa Pequena Empresa Outros Total 7.106 12.892 20.058 21.057 61.113 10.367 19.195 26.895 28.244 84.701 14.124 25.816 31.589 35.034 106.563 17.811 32.712 36.407 43.454 130.384 21.353 39.715 40.115 49.417 150.6 25.394 46.541 44.576 55.63 30.448 53.319 49.056 62.034 194.857 34.301 59.666 52.866 67.556 214.389 38.5 66.111 56.945 73.542 235.098 43.854 70.812 59.262 79.592 253.52 172.141 Figura III.1 – Evolução de cadastro de empresas no SIASG (Sistema de Administração de Serviços Gerais) do Governo Federal, categorizado pelo tipo das empresas cadastradas. [15] III.1.2 – Electronic Services Delivery (ESD) A Electronic Services Delivery (literalmente, Entrega Eletrônica de Serviços) é uma forma de relacionamento G2C, em disponibilizados através do meio eletrônico. que os serviços públicos são 24 Electronic Services Delivery é um mecanismo a que a maioria dos governos está visando, de forma a disponibilizar seus serviços diretamente aos “consumidores”; sejam eles cidadãos, empresas ou mesmo outros órgãos públicos; sem a necessidade de presença física em repartições ou escritórios ou intermediação de funcionários públicos. A estrutura dos serviços de e-gov é similar à de outros serviços, disponíveis em e-business, como por exemplo, a compra de algum produto on-line. A diferença neste caso é que o “fornecedor” é um governo e, por isso, certos procedimentos legais, tanto no que tange à entrega do “produto final” quanto ao próprio processo, devem ser observados. Dependendo da capacidade de ESD de um governo eletrônico, ele pode ser classificado em um dos níveis de maturidade abaixo [38]: Informacional A infra-estrutura de TI do governo ainda não é madura o suficiente e, assim, a capacidade de Disponibilização dos Serviços Governamentais (ESD) fica limitada à publicação, em meio eletrônico, de informações sobre ações do Poder Público nos diversos setores e disponibilização de formulários na internet. Interativa A infra-estrutura de TI do governo ainda não está em estágio de maturidade avançado, porém a ESD já se faz disponível em alguns níveis. Assim algum conteúdo interativo pode vir a ser disponibilizado, porém o processo em si não apresenta grande informatização. Um exemplo clássico de serviço neste nível de maturidade é a publicação de formulários em meio eletrônico para preenchimento posterior impressão para que seja encaminhado para o órgão cabível. Transacional A infra-estrutura de TI do governo já é madura o suficiente, porém não está disponível em todo o país, e o governo já possui uma ESD razoavelmente estável e 25 confiável. Um exemplo deste nível de maturidade seria, por exemplo, o envio on-line da declaração do imposto de renda no Brasil. Integrada É o “estado da arte” em relação a Electronic Services Delivery. A infra-estrutura de TI do governo é madura e está disponível em todo o território. Neste estágio, a capacidade dos serviços governamentais está amadurecida de tal forma que a interação interdepartamental no governo é feita grandemente por meio eletrônico, em todos os níveis. Assim, o serviço final disponível ao “consumidor” não é apenas produto de um departamento apenas, mas um produto completo obtido através da integração de mais de um departamento. No Brasil, há um trabalho em andamento com esta finalidade: o e-Ping, que, segundo a definição obtida no portal de governo eletrônico do governo federal [11], se traduz da seguinte forma: “A arquitetura e-PING – define um conjunto mínimo de premissas, políticas e especificações técnicas que regulamentam a utilização da Tecnologia de Informação e Comunicação (TIC) no governo federal, estabelecendo as condições de interação com os demais Poderes e esferas de governo e com a sociedade em geral.”(...) Esta iniciativa, ainda em fase inicial, é passo fundamental para se obter futuramente um governo eletrônico efetivo, onde haja integração completa entre todos os poderes e as informações possam ser geridas e obtidas de forma unificada. O Brasil, assim como etnicamente, não é homogêneo também nesta classificação. As esferas que apresentam maior grau de maturidade em ESD são a Federal e as Estaduais, onde a Federal lidera as iniciativas e implementações. No nível dos municípios, a heterogeneidade ainda é maior. Segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2004 apenas 38,9% dos municípios brasileiros possuíam página na internet. Este indicador, que por si só já é alarmante em relação ao não alinhamento das esferas governamentais em relação ao assunto e-government, é apenas a ponta do iceberg. Segundo a pesquisa, municípios com mais de 20 mil habitantes têm mais probabilidade de ter uma página 26 na internet do que os outros municípios. Esta probabilidade vai aumentando, à medida que o número de habitantes aumenta. Das cidades brasileiras com mais de 500 mil habitantes, por exemplo, apenas a cidade de Jaboatão dos Guararapes (PE) não tinha página na internet. Ainda, de todos os sites, a maioria se concentra nas regiões sul e sudeste e o nível de maturidade, na grande maioria, é o Informacional; havendo alguns com alguns serviços classificados como interativos e muito poucos transacionais. III.1.3 – E-Democracy E-democracy compreende o uso das TIC, principalmente a internet, para otimizar os processos democráticos de um país. Esta abordagem, compreendida no conceito de Governo Eletrônico, segundo a visão deste trabalho, ainda está em fase inicial de adoção e é ainda assunto de muito debate e atividades nos meios políticos, civis e sociais do mundo inteiro. Tipicamente, as melhorias que os defensores da e-democracy buscam são basicamente aumentar a acessibilidade aos processos democráticos, aumentar a participação direta dos cidadãos nas tomadas de decisão do Estado de forma aumentar a influência da vontade pública, ou a chamada democracia direta, que segundo Rousseau é o que legitima a formação das sociedades civis, aumentar a transparência e confiabilidade do Governo, mantendo-o mais próximo da aprovação dos cidadãos e aumentando a legitimidade política. Desta forma, temos que o voto eletrônico é parte integrante do escopo da e-democracy, mas há muito mais envolvido neste tipo de iniciativa de política de e-government. Algumas desvantagens Por ser uma forma tangível de se implementar a democracia direta, algumas objeções feitas a este tipo de governo são apontadas também à sua “versão digital”. Algumas correntes mais teóricas pregam que este tipo de implementação tenderia ao Populismo e Demagogia. Outras, mais práticas, apontam para a nova linha de divisão da sociedade: a exclusão digital. Esta desvantagem é apontada baseando-se no fato de nem todos os cidadãos terem acesso aos meios digitais, o que criaria 27 mais uma divisão de classes na sociedade: os com voz e os sem voz, que, em última instância estaria diretamente ligada e dependente da exclusão digital. Além disto, a cada nova tecnologia, seria necessário um novo investimento em infraestrutura necessária para poder exercer a e-democracy. Desta forma, para exercer seus direitos democráticos, o cidadão seria obrigado a investir mais, além dos impostos que já paga. Por outro lado, tecnologias como mailing lists, redes peer-to-peer, softwares colaborativos, fóruns e blogs são soluções em potencial para muitos aspectos da democracia e, com o advento da Sociedade da Informação, também da edemocracy. Porém, essas novas soluções inserem nesta investida novos problemas, que deverão ser tratados pelo Estado que as implantar, como o roubo de identidade, overload informacional – a falta de capacidade de se processar ou mesmo receber todas as informações necessárias – e problemas clássicos no mundo de TI, como segurança da informação, por exemplo. No Brasil, um passo muito importante, pioneiro no mundo, foi dado para permitir, mesmo com os problemas sociais que enfrentamos, o uso da e-democracy de forma a melhorar o nosso sistema eleitoral. Desde o ano 2000, todos os eleitores do país votam em urnas eletrônicas, facilitando o escrutínio e diminuindo o tempo de espera nas filas das seções eleitorais. Uma característica interessante, que vem ilustrar uma forma de driblar o problema de exclusão digital, citada anteriormente nesta seção, é a forma adotada pelo Estado de fazê-lo. No Brasil, todos os cidadãos com idade entre 18 e 65 anos são obrigados a votar; sendo assim, a Justiça Eleitoral não poderia de forma alguma adotar uma solução que excluísse qualquer cidadão, seja qual fosse sua camada social. Assim, optou-se por se disponibilizar um hardware específico para este fim e investir na disponibilização da infraestrutura necessária para o processo. Desta forma, todas as 320.500 seções eleitorais no Brasil têm suas urnas eletrônicas. Os votos são enviados para os seus respectivos TRE, responsáveis pela contagem dos votos, que enviam-nos, por fim, ao TSE, para a homologação. Todo este processo, que em qualquer país do mundo leva dias, é feito em questão de horas no Brasil e cerca de 195.000.000 de cidadãos podem saber, ainda no dia da eleição, o nome do seu novo representante. 28 III.2 – Implantando a E-democracy: Um caso de estudo Para este estudo, foi selecionado um caso implantado no Reino Unido, mais precisamente a Inglaterra, cujo e-gov é classificado como maduro e figura entre os 10 países com maior maturidade em e-gov no mundo, segundo estudo feito pela consultoria Accenture em 2004 [1]. Assim, podem-se analisar os benefícios que o egov pode trazer aos países onde ainda encontra-se em desenvolvimento. Na Inglaterra, apesar de o pleito para os representantes nacionais e locais não ser feito digitalmente como no Brasil, podem-se considerar os esforços para a implantação da e-democracy como em fase avançada. Um estudo feito pelo ICELE (International Centre of Excelence for Local E-democracy) [9], uma organização nãogovernamental baseada no Reino Unido, que se foca no estudo e desenvolvimento de ferramentas para e-democracy e e-participation, aponta algumas práticas adotadas no seu país sede com relação ao assunto. O estudo analisou as seguintes características da e-democracy das páginas dos conselhos locais das cidades britânicas: Manutenção e navegabilidade Este quesito foi analisado por proporcionar uma medida clara do nível de ênfase dada pelos governos à acessibilidade da população ao seu canal digital com as autoridades locais. O resultado desta análise mostrou que 94% dos sites possuíam uma ferramenta de busca, para facilitar o acesso ao conteúdo disponível e 60% ofereciam um mapa do site. Por outro lado, alguns exemplos de boas práticas em transparência deixam a desejar. Apenas 21% dos sites tinham um indicativo da data da última atualização e em 34% havia uma seção FAQ (frenquently asked questions), com as perguntas mais freqüentemente feitas e suas respostas. Por fim, chegou-se à conclusão que, apesar dos pontos falhos encontrados, os sites têm boa navegabilidade numa análise geral. 29 Informações básicas Segundo o texto do estudo [9], “The basic information that the website makes available is another, and arguably more significant, means of assessing the democratic intentions of the Council.” (ICELE - Barriers to E-democracy – Local Government Experiences and Responses) Traduzindo o fragmento para o Português, temos: “A informação básica provida pelo web site é outro, e discutivelmente mais significante, meio de se acessar as intenções democráticas do Conselho”. Assim, quanto mais informações disponibilizadas através do canal digital, teoricamente maior o comprometimento do governo local em promover a democracia. Duas pesquisas realizadas no Reino Unido (uma na Inglaterra em 1998 e outra na Escócia 1999, ambas antes de políticas de e-democracy serem implantadas), citadas pelo texto do ICELE [9], revelaram que as populações locais, como um todo, não eram bem informadas com relação aos serviços prestados, políticas dos governos e, em alguns casos, mesmo sobre a composição dos Conselhos Locais. De uma forma geral, o estudo chegou à conclusão de que essas informações básicas não eram passadas satisfatoriamente pelos sites locais. Segundo a figura III.2, retirada do estudo em questão, 60% dos sites não divulgavam a forma como as decisões eram tomadas nos Conselhos; em 41%, a estrutura destas instituições não era claramente mostrada (fato importante no sistema parlamentarista, onde o partido ou coalizão com maior número de assentos no parlamento é quem, de fato, determina as políticas adotadas). 30 Figura III.2 – Porcentagem de sites com informações básicas. (Fonte: ICELE - Barriers to E-democracy – Local Government Experiences and Responses) [9] De uma maneira geral, para os padrões britânicos, os números são relativamente baixos, porém, numa análise considerando que os esforços para a implantação do e-gov no Reino Unido começaram por volta do ano de 2001 e sua posição no ranking divulgado pelo estudo feito pela empresa de consultoria Accenture (eGovernment Leadership: Engaging the customer), onde aparece na 8ª posição, com a política de e-Gov classificada como madura (aproximadamente no nível de maturidade integrada, citado na seção III.1.2 – Electronic services delivery, deste trabalho), podemos considerar bons os números obtidos na pesquisa. Assim, apesar do resultado negativo da análise do ICELE, podemos facilmente notar pela tabela que as porcentagens das análises são relativamente altas, quase todas ultrapassando a marca dos 50%. Este resultado é bastante considerável, para uma política implantada apenas há 5 anos. Informações sobre os membros eleitos Como citado no item anterior, grande parte dos cidadãos de uma porção considerável do Reino Unido não contava com informações suficientes sobre a formação de seus Conselhos Locais ou mesmo suas políticas. Exatamente por fatos como estes, este tópico foi avaliado. Na constituição dos governos locais da 31 Grã Bretanha, assim como no nível nacional, o que define o líder dos parlamentos, bem como as diretrizes políticas adotadas pelas instituições, são os partidos com maior número de representantes eleitos. Assim, mais do que em países de regime presidencialista, a composição do parlamento local é de profunda importância para que a população possa ter ciência do caminho político de sua cidade, bem como o líder da casa parlamentar [9]. O resultado do estudo demonstra que em 89% dos sites há a lista dos membros parlamentares, ordenada alfabeticamente. Em 83%, a lista está disponível também ordenada por “colégios eleitorais”. Mas em apenas 45%, essa lista encontra-se ordenada por partido, o que tem uma grande importância para se entender a real composição do parlamento. Como conclusão dos números, pode-se afirmar que a informação está disponível, porém, não completamente na forma apropriada para as particularidades do sistema político adotado, na sua maioria. Um segundo resultado, animador, é que em 65% das páginas dos Conselhos Locais, há links para as páginas dos Conselheiros e que em 63%, os endereços de e-mail dos representantes estão disponíveis. Isto mostra um significativo incentivo ao contato entre cidadãos e representantes eleitos. Eleições Neste ponto, foi analisada a forma como os governos locais informam os cidadãos sobre os resultados de pleitos, bem como a utilização dos meios eletrônicos para cadastro eleitoral e formas alternativas de voto, como o e-voting. O resultado geral foi que as autoridades locais fazem bom uso das TIC para a otimização do processo eleitoral junto à população, como mostrado na figura III.3 [9], extraída do estudo em questão. 32 Figura III.3 – Porcentagem de sites com informações eleitorais (Fonte: ICELE - Barriers to E-democracy – Local Government Experiences and Responses) [9] Gerenciamento político Este tópico do estudo destinou-se a analisar a transparência dos Conselhos locais em relação aos seus processos de tomada de decisão. Entre outros, um aspecto analisado foi a presença de descrição sobre os gabinetes e diferentes pastas e seus componentes nos sites. O resultado final demonstrou que há possibilidade de se melhorar esse meio de comunicação, rico em informações em determinados pontos, porém deixando a desejar em alguns outros. O estudo sugere mais links para as diferentes funções dos gabinetes, para facilitar aos cidadãos o acesso a seus serviços e informações. Links para outras instituições governamentais O processo político e de tomada de decisão dos Conselhos são apenas parte de uma política local maior de governança, envolvendo outros parceiros públicos, como, por exemplo, as autoridades policiais e de saúde locais. Neste ponto, o estudo concluiu que as ligações entre as páginas dos Conselhos Locais tendem a ser feitas com outros órgãos governamentais ou outros comitês locais eleitos, faltando à necessidade de ligação com páginas de outras instituições provedoras de serviços à comunidade local. 33 O gráfico da figura III.4 mostra que quase três quartos das páginas de Conselhos não têm ligação com setores importantes, como os de saúde e segurança: Figura III.4 – Porcentagem de sites com links para outras instituições. (Fonte: ICELE - Barriers to E-democracy – Local Government Experiences and Responses) [9] Consultas populares O engajamento popular por meios de consultas públicas no Reino Unido tornou-se, nos últimos anos, uma forma bastante significante de participação nos governos locais [9]. Neste quesito, o estudo analisou como os Conselhos tratavam esta questão e que serviços eram disponibilizados para este fim. O resultado aponta para grande uso das TIC como forma de implementar as consultas populares (54% dos sites disponibilizam uma lista das consultas correntes). Porém, há uma deficiência na implantação de outras funcionalidades, como os questionários online e mesmo a divulgação de consultas realizadas por instituições afora o Conselho, como a Polícia, Conselhos de Educação e etc. Todos estes números são mostrados na figura III.5, onde podemos ver mais uma particularidade da e-democracy implantada pelos Conselhos. Apenas 9% dos sites notificam seus usuários sobre consultas futuras, seja por e-mail, ou SMS. Este número deveria, absolutamente, ser maior, já que o que se busca com a e-democracy é a participação plena da população nos processos democráticos, por meio das TIC. 34 Figura III.5 – Porcentagem de sites com informações sobre consultas. (Fonte: ICELE - Barriers to E-democracy – Local Government Experiences and Responses) [9] Um exemplo deste tipo de iniciativa é a página www.askbristol.com, onde a população local da cidade de Bristol, na Inglaterra, pode se cadastrar e votar em assuntos discutidos pelo seu parlamento. Esta forma de abordagem junto à população é uma forma de implantação da política defendida por Rousseau, na sua obra “Do Contrato Social” [13], citado no capítulo 2 deste estudo. Segundo o filósofo, a melhor forma de se garantir que a vontade coletiva seja exercida é pelo voto direto nos mais variados assuntos. Na obra, os pleitos romanos são citados como exemplos da viabilidade desta visão. Na sociedade atual, obviamente, não é possível que uma população se agrupe em um ponto geográfico, porém, com a ajuda da internet e com iniciativas como as de Bristol, as democracias ficam bem próximas de sua plenitude. 35 Figura III.6 – Página consultiva do Conselho Local da cidade de Bristol. (Fonte: www.askbristol.com) Discussão online Uma outra forma de dar voz à população é o provimento de fóruns eletrônicos para a discussão de assuntos e políticas locais. Segundo o estudo, para alguns estudiosos, esta é uma das formas mais promissoras para a e-democracy, dando igual oportunidade de expressão a qualquer cidadão. Porém, há outra corrente que defende que é apenas uma forma de pessoas com visões mais definidas divulgarem seus pontos de vista. Para os fins deste trabalho, seguindo a teoria exposta na obra de Rousseau [13], a discussão online e toda forma de se inserir o cidadão no contexto democrático de um governo será considerada uma forma promissora para a implantação em meio digital. Neste ponto, o estudo apontou que as páginas, em geral, provêm meios de o cidadão expor sua opinião às autoridades locais. Dentre estes, 32% são fóruns 36 onde assuntos locais sejam debatidos, onde, em 20%, há a possibilidade de o cidadão sugerir tópicos para a discussão. Como um todo, o estudo mostrou que já há muito feito em termos de política de e-democracy pelos governos locais na Grã Bretanha, mas que há uma vastidão de possibilidades a serem exploradas. Ressalvas sejam feitas para o fato de que o estudo limitou-se apenas à análise do potencial das TIC para a melhoria dos processos democráticos, sem levar em consideração a participação efetiva da população local ou mesmo o nível se acesso a esses serviços. III.3 – Para que serve o E-gov? Como conclusão para este capítulo, podemos citar os benefícios em potencial que a política de e-Gov traz para uma sociedade. Maior dinamismo nas relações Estado-cidadão e Estado-Iniciativa privada e maior dinamismo nos processos internos da administração pública, com a integração das diferentes instituições que a constituem. Vimos também uma classificação adotada para a análise de governos eletrônicos e a apresentação ao estudo que ranqueou os principais países que implementam a política de e-gov, feito pela consultoria Accenture. Outra conclusão importante é como o e-gov pode garantir que a vontade coletiva seja realmente levada a cabo pelos seus representantes, com a possibilidade da participação direta da população aos pleitos da nação e de suas localidades. Por fim, o e-gov se mostra uma ferramenta com potencial em grande conformidade com o trabalho “Do contrato Social” [13], base filosófica sobre teoria do Estado e soberania de um povo para este estudo. Assim, como discutiremos no próximo capítulo, é caminho natural para a melhoria e sobrevivência das instituições democráticas e administrativas de um país a adoção de uma política de governo eletrônico, desde que sejam providas à população todas as condições para a participação efetiva nesta nova maneira de interação com seu país. Neste capítulo, não foram tratados assuntos como a inclusão digital, condição sine qua non para que uma iniciativa de digitalização, partindo do governo, se dê de forma plena. O objetivo, aqui, foi apresentar formas com que as TIC podem melhorar os processos de um país, garantindo o cumprimento do Contrato Social, e 37 apresentar algumas iniciativas já levadas a cabo, sem levar em consideração algumas questões sociais, partes naturais no processo de discussão e implantação do Governo Eletrônico e sem as quais, esta política torna-se apenas imposição mercantil. 38 CAPÍTULO IV E-GOV: PARA QUEM? Neste capítulo, analisaremos os caminhos que o Brasil vem tomando em relação ao e-gov. Que parcela da população do país é atingida pelo governo na implantação desta nova forma de interação cidadã? Para onde estamos indo? Rumo ao e-gov proposto neste trabalho ou a uma sociedade mercadorizada, como defendem BEMFICA, CARDOSO e FARIA [4] no trabalho “Sociedade da Informação: estratégia para uma ‘sociedade mercadorizada’”? Em suma, este capítulo visa a responder a questão: e-gov para quem, analisando em que ponto nos encontramos hoje em dia em relação ao real acesso ao e-gov pela população como um todo e que viés estamos tomando para o futuro. IV.1 – Caminhos do E-gov O Brasil sofreu uma queda de três posições no ranking de nível de maturidade da análise feita pela consultoria Accenture, em relação aos resultados esperados, que foram apresentados no capítulo III. Esta queda, segundo aponta o documento gerado como produto final desse estudo, “eGovernment Leadership: High Performance, Maximum Value” [1], deve-se à mudança de prioridades do governo federal, que, a partir de 2002, voltou seus olhos para as questões sociais do país, diminuindo os investimentos em infra-estrutura e serviços baseados em tecnologia da informação. Fato que se observava em proporções inversas nos anos anteriores. Este “retrocesso” pode vir a ser, ao contrário do que possa parecer, uma iniciativa extremamente positiva do Governo Brasileiro. Segundo a base filosófica deste trabalho, um governo de fato deve se esforçar para o cumprimento do Contrato Social, ou seja, governar para a população como um todo, de acordo com a vontade coletiva, que foi quem lhe conferiu a autoridade como governo e sem o respaldo de quem não passa de uma dinastia governando uma nação segundo suas 39 próprias vontades. Esta forma de governar, focando apenas uma parcela da população, é exatamente o oposto da proposta do Contrato Social, descrita por Rousseau [13]. Neste caso, os cidadãos estariam sob a tutela de um grupo que não representa a vontade coletiva e, portanto, não são livres. Assim, ao se tratar a questão do governo eletrônico como o oferecimento de serviços cada vez mais elaborados, suportados por uma infra-estrutura requintada, fruto de políticas de incentivos à iniciativa privada, o que se faz é o puro aquecimento da economia e direcionamento ao consumo de bens tecnológicos. O Governo, então, passa a ser mero fomentador de consumo, não adotando uma política que, antes, garanta que a população como um todo terá acesso aos serviços oferecidos e à infra-estrutura necessária para tê-los. Este tipo de iniciativa, como afirmado por BEMFICA, CARDOSO e FARIA [4], é orientada “para promover – tecnologicamente – o aprofundamento dos processos de internacionalização da economia e generalização do consumo”, com foco nos princípios de mercado e centrado no internacionalismo e na privatização do espaço público. Segundo o trabalho, citado no capítulo 2 deste estudo, a chamada Sociedade da Informação, base ideológica para a política de egov, vem sendo tratada exatamente desta forma, o que foge sobremaneira da definição de governo (e de governo eletrônico) aqui apresentada. Portanto, esse “retrocesso”, na verdade, é “um passo atrás, para três à frente”. Para corroborar o trabalho de BEMFICA, CARDOSO e FARIA [4], basta se checar as estatísticas relativas ao uso das TIC e governo eletrônico. Para tal, utilizaremos os dados mais recentemente coletados, de um estudo conduzido pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil – CGI.BR –, escolha feita baseada no papel do comitê, responsável pela gestão e acompanhamento do uso da internet no Brasil, com estudos periódicos no assunto. Desta forma, através de dados de uma mesma fonte, tomados em diferentes épocas, podemos traçar de forma melhor a evolução do acesso e utilização da internet como um todo ou, como no nosso caso, de parte dos serviços oferecidos – o e-gov. Primeiramente, utilizaremos dados de 2005 para atestar o caráter mercadológico da política nacional de implantação do e-gov. Em seguida, faremos a comparação dos dados de 2005 com os de 2006, recentemente divulgados, visando analisar se os esforços para a democratização do e-gov está rendendo bons frutos. Primeiramente, segundo a pesquisa feita em 2005 pelo CGI.BR [5], no país, apenas 17,82% dos domicílios têm algum tipo de computador (computador de mesa, 40 laptop ou palmtop). Isto significa que 82,18% dos cidadãos da república não têm acesso à principal ferramenta utilizada pelo e-gov, fato este, por si só, bastante preocupante. Porém, outras informações advindas desse número são ainda mais alarmantes. Da população com acesso a computadores, 12,28% ganham até R$ 1000,00 ao mês, 23,77%, até 1800,00 e, a grande maioria, 58,11% deste já reduzido número de brasileiros, ganha mais de R$ 1800,00. Destes três relacionamentos salário médio x acesso às TIC, podemos concluir, sem muita dificuldade, que tem acesso ao ferramental para a utilização do e-gov a camada mais abastada da sociedade. Apenas com três números, portanto, é possível mostrar claramente a questão da exclusão digital no país. Mas a análise não pára por aí. Para complementar essa informação, citamos um texto de [17]: “Quanto custa se conectar à sociedade da informação? Para acessar a internet, a rede mundial de computadores, é preciso pagar mensalmente um provedor de acesso e o gasto com a conta telefônica. Além disso, é preciso ter um computador que custa mais que 1.000 reais. Em um país com quase um terço da sociedade abaixo da linha da pobreza, gastar algo em torno de 40 reais por mês pelo uso mínimo de conexão e conta telefônica é impossível para a maioria da população.” (...) Logo, não só pela falta de acesso ao ferramental básico, o computador, mas também pela necessidade de se comprometer parte do orçamento mensal com o pagamento de uma conexão, via linha telefônica, com a internet, grande parte da população fica desprovida dos serviços e informações oferecidos digitalmente pelo governo. E é exatamente o que apontam os números da pesquisa do CGI.BR. Segundo ela, 67,76% dos brasileiros nunca acessaram a internet. Desta forma, conclui-se que apenas as camadas da sociedade com meios financeiros para bancar o custo de tecnologia teriam, em tese, acesso aos serviços e informações disponibilizados digitalmente pelo governo. 41 Computador de mão (palmtop) 0,4 Computador portátil (laptop) 0,8 TV digital 1,4 5,6 TV a cabo Computador de mesa 16,6 Antena parabólica 17,2 19,6 console de jogo 54 Telefone fixo 61,2 Telefone celular 91,6 Rádio 95,7 Televisão 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 Figura IV.1 – Proporção de domicílios que possuem equipamentos TIC. Fonte: Pesquisa sobre o Uso das TICs no Brasil (CGI.BR) Como um governo soberano, ou seja, cumpridor do Contrato Social poderia se preocupar em investir em serviços suportados pela internet, sem que mais da metade da população sequer tenha acessado uma vez na vida a rede mundial de computadores? Assim, o resultado a que a análise da Accenture chegou é um bom indício do cumprimento da missão de um governo que visa à gestão para a população em geral; não, para grupos detentores do capital, como forma de incentivo ao aumento do mercado consumidor de bens de TIC. IV.2 – E-gov e as empresas Segundo a pesquisa do CGI.BR [5], as empresas são grandes utilizadores dos serviços de governo eletrônico existentes no Brasil. 64% delas utilizam-se do egov. Os serviços mais utilizados são os de Imposto de Renda, inscrição estadual e FGTS, acessados por mais de 70% das empresas que fazem uso do governo eletrônico. Dentre estes, a declaração do imposto de renda é o líder, com penetração de 82%. 42 Este fato por si só, já mostra que os detentores do capital fazem maior uso dos recursos oferecidos pelo governo do que a população como um todo. Esta conclusão pode ser inferida comparando-se as informações do primeiro parágrafo desta seção com a seção anterior, onde é citado que a porcentagem da população que nunca acessou a internet chega a 67,76%. Porém, há um fato interessante concluído pela pesquisa. Segundo o resultado, “quanto maior a empresa, maior o uso da internet para lidar com o governo”. Empresas com mais de 1000 funcionários atingem a marca de 94% na utilização dos serviços de e-gov, enquanto em microempresas, com até 19 funcionários, o índice de uso não passa de 61%. Fica claro, neste resultado, que quanto mais capital se acumula, mais se obtém do e-gov neste país. Outro fato que corrobora com esta máxima a que chegamos é a divisão regional do capital no país. A região com menor concentração de capital é também a que menos utiliza os serviços de e-gov, com 53% apenas das empresas aderindo à prática. Informações sobre Contribuição para Financiamento da Seguridade Social - COFINS 39,65 44,47 Consulta à Relação Anual de Informações Sociais - RAIS Informações sobre o Imposto sobre Produto Industrializado - IPI 44,9 Obter licenças e permissões 45,93 Consulta ao Cadastro Nacional de Informações Sociais - CNIS 49,1 63,98 Consulta à Situação Fiscal e Dívida Ativa Consulta ao PIS/PASEP 65,18 72,99 Consulta ao FGTS Empresa 74,84 Consulta ao cadastro de Inscrições Estaduais Declaração e consulta de Imposto de Renda 81,87 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 Figura IV.2 – Serviços de governo eletrônico utilizado na internet. Fonte: Pesquisa sobre o Uso das TICs no Brasil (CGI.BR) [5] 43 IV.3 – E-gov e os cidadãos Enquanto mais da metade das empresas com negócios no Brasil utilizam-se dos serviços de e-gov, apenas 12,68% dos cidadãos fazem o mesmo. O estudo do CGI.BR não cita as possíveis causas para o número diminuto de acesso ao governo através da internet pelas pessoas físicas no país , porém, a partir de outros resultados apresentados no mesmo, podemos ter idéia de algumas das causas. Segundo o estudo dos resultados da pesquisa, há diferenças significativas de uso e acesso às TIC, segundo classe social, poder aquisitivo e região do país. Os resultados mostram que pessoas de famílias mais abastadas usam e têm mais acesso às TIC do que pessoas de famílias com menor poder aquisitivo. O mesmo se repete para as regiões brasileiras. As mais ricas têm melhor infra-estrutura e mais serviços e, assim, seus cidadãos, em média com maior poder aquisitivo que os de regiões mais pobres, também têm mais acesso e usam mais as TIC. A região com mais acesso a computador é a do Distrito Federal, onde 1 em cada 3 habitantes possuem este bem. Em seguida, vêm as Regiões Metropolitanas (RM) de São Paulo, Curitiba, Rio de Janeiro e Porto Alegre, todas com disseminação do computador acima da média nacional. Já áreas como o Centro-Oeste, RM de Recife, Belém, Fortaleza e outras regiões do Norte e Nordeste apresentam os piores resultados neste quesito. Mantendo a lógica de quanto maior a concentração de renda, maior o acesso ao computador, temos que a classe A tem um grau de disseminação da ferramenta de 89%, que cai muito ao passarmos para a classe B, com 56%. Porém, mais preocupante ainda é a queda em relação às classes C e DE, com 16 e 2%, respectivamente. 44 < R$ 300,00 3 R$ 301,00 - R$ 500,00 3 R$ 501,00 - R$ 1000,00 7,3 23,1 R$ 1001,00 - R$ 1800,00 R$ 1801,00 + 53,4 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 Figura IV.3 – Proporção de domicílios com computador, por renda. Fonte: Pesquisa sobre o Uso das TICs no Brasil (CGI.BR) [5] Uma primeira conclusão, após esta primeira análise é de que o governo eletrônico é pouco utilizado pelo cidadão brasileiro pelo simples fato de não chegar até ele, pois o computador é o principal meio de disponibilização das funcionalidades e serviços governamentais. Porém, há mais um fator que colabora para a pouca disseminação do e-gov no país. Apenas 21% dos domicílios brasileiros têm acesso à internet e esse acesso tem relação direta com renda e escolaridade. Quase 90% das pessoas da classe A têm acesso à rede mundial de computadores em casa contra apenas preocupantes 7% da Classe DE. Dentre as pessoas com formação superior, 60% acessam a internet. Dentre os analfabetos e pessoas com ensino fundamental incompleto, este índice chega apenas a 5%. Este fato é importante pela questão da escolarização da população e conseqüente alfabetização digital. Este é um passo muito importante para a disseminação do uso da internet na sociedade. Porém, não o único. Além do custo elevado do computador, apontado por 33% como causa para sua “desconexão”, o custo do acesso também é um agente negativo nessa equação, apontado por 20,6% como muito caro. 45 7 DE 22 C 58 B 87 A 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 Figura IV.4 – Proporção de domicílios com internet, por classe social. Fonte: Pesquisa sobre o Uso das TICs no Brasil (CGI.BR) [5] IV.4 – E-gov e o Livro Verde O Livro Verde [25], publicado em 2000, é o documento oficial do Governo Brasileiro para a Sociedade da Informação, conceito sobre o qual o Governo Eletrônico se baseia. É interessante, neste ponto da análise, compararmos os números da Pesquisa sobre o Uso das TICs no Brasil, do CGI.BR, e as conclusões obtidas até agora neste trabalho com o conteúdo do Livro. No seu capítulo 3 - Universalização de Serviços para a Cidadania – o Livro Verde trata da universalização do acesso aos serviços de informação e comunicação, sustentando-a como “condição fundamental para a inserção dos indivíduos como cidadãos, para se construir uma sociedade da informação para todos”. Este primeiro ponto vai ao encontro do que é proposto aqui, ou seja, o governo de acordo com a vontade coletiva, para todos, onde todos tenham acesso às facilidades oferecidas pela nação. O documento afirma ser “papel do Estado dedicar especial atenção à incorporação dos segmentos sociais menos favorecidos e de baixa renda à sociedade da informação”. Cita também o reconhecimento da “limitação das forças de mercado como propulsoras da incorporação à vida social dos benefícios da tecnologia de informação e comunicação”. De fato, o mercado obedece a leis próprias, que nem sempre condizem com as leis sociais de um país. O mercado se auto-regula segundo a Lei da Oferta e da Procura, onde bens com 46 grande demanda tendem a ter preços mais altos de acordo com a sua disponibilidade. No caso das TIC, por serem ainda escassas, pois vêm sendo desenvolvidas de poucos anos para cá, e por já terem conquistado grande importância econômica, sua tendência de mercado é que não sejam acessíveis a todas as camadas da sociedade, pois a demanda será maior do que a oferta. Assim, confiar o desenvolvimento da infra-estrutura e do oferecimento das TIC unicamente ao setor privado, regido pelas leis do mercado, seria, no mínimo, contrário à teoria do Contrato Social, já que apenas uma camada da população teria acesso a elas. Neste ponto, o Livro Verde se contradiz, ao afirmar que o Estado “tem a responsabilidade de induzir o setor privado a se envolver no movimento de universalização e a participar ativamente das ações nesse sentido”. Ao confiar, via privatização dos serviços de telefonia, a tarefa de construção e oferecimento da infra-estrutura para o acesso à internet à iniciativa privada, o Governo Brasileiro deixou que as forças de mercado regessem a dinâmica social do país, ainda mais, fomentando essa oferta com o oferecimento de serviços baseados na internet. O Livro Verde previa “a expansão das linhas telefônicas fixas de 27,8 milhões, com densidade de 16,8 telefones por 100 habitantes, em números de 1999, para 49,6 milhões, com densidade de 28,5, em 2003”, citando o fato como sendo “o resultado de um plano de metas de universalização e, principalmente, da competição já implantada no setor”. Porém, como vimos, apesar do aumento dos serviços e da maior concorrência no mercado das telecomunicações, a iniciativa nada teve de universalizadora e apenas 21% dos brasileiros têm acesso à internet em casa. E, enquanto 87% da classe A acessa de casa a rede mundial de computadores, os mesmos 87% das classes D e E nunca acessaram a internet. Neste ponto, a iniciativa apregoada no Livro Verde e levada a cabo pelo Governo vai ao encontro do que defendem BEMFICA, CARDOSO e FARIA [4], a estratégia para uma “sociedade mercadorizada”, em que, segundo o trabalho, “os interesses de mercado passam a ser considerados como ‘interesse público’” (...) e o Estado passa a ter como atribuição promover o consumo. 47 IV.5 – Iniciativas atuais Este trabalho considera a questão da inclusão digital como ponto chave de uma estratégia de implantação de uma política de governo eletrônico, visto que, como apresentado no início deste capítulo, o e-gov deve atingir a todos e, assim, antes de se oferecer serviços através da internet, há que se garantir que toda a população tenha os meios mínimos para acessar tais serviços. Esta visão é compartilhada pelo Governo Federal, como conta no documento “Diretrizes de Governo Eletrônico” [11]: “A Inclusão digital deve ser tratada como um elemento constituinte da política de governo eletrônico, para que esta possa configurar-se como política universal. Esta visão funda-se no entendimento da inclusão digital como direito de cidadania e, portanto, objeto de políticas públicas para sua promoção.” Fonte: Diretrizes de Governo Eletrônico [11] Apesar de se tratar de um assunto de grande importância para o estudo de egov, este trabalho apenas apresenta algumas iniciativas governamentais, de forma a atestar os esforços de inclusão digital feitos atualmente. O assunto, porém, é bem mais vasto do que o apresentado aqui, sendo facilmente tema de um estudo completo, como este. Assim, não nos ateremos na análise das políticas de inclusão digital, pois fugiríamos do objetivo principal do trabalho, que é analisar o que o governo vem fazendo em relação ao e-gov. Fica, porém, o convite a um estudo complementar a este, focado na análise crítica das ações de inclusão digital como forma de implantação de uma política de governo eletrônico pleno. IV.5.1. PBID – Programa Brasileiro de Inclusão Digital O Governo Brasileiro lançou [7], em 2004 o PBID – Programa Brasileiro de Inclusão Digital –, com foco em quatro pontos de ação: fornecimento de acesso à internet, recuperação e reaproveitamento de equipamentos de informática, treinamento ou capacitação e o fornecimento de infra-estrutura para acesso à internet em localidades não servidas por meios de telecomunicações. Esse 48 programa é uma iniciativa composta de várias outras, visando diminuir a barreira digital hoje existente no país. Nas próximas seções, são apresentadas formas de se alcançar os objetivos expostos nos pontos de ação citados acima. IV.5.2. Investimentos em Telecentros e Gestão Comunitária Esta iniciativa é encabeçada pelo Projeto Casa Brasil, que prevê a criação de espaços voltados para a inclusão digital e social nas comunidades. Estes espaços conterão um telecentro, rádio comunitária, auditório, espaço multimídia, ponto de bancarização e ponto de presença do governo. A intenção é a criação de um espaço onde governos e o segmento privado promovam iniciativas de inclusão digital, social, inserção no mercado de trabalho e desenvolvimento local e regional sustentável. Segundo o portal de Inclusão Digital do Governo Federal, existem implantados no Brasil 3195 telecentros, cerca de metade da meta no lançamento do projeto, em 2004, quando a intenção era a criação de 6000 unidades até 2007. IV.5.3. Uso do Software Livre O uso de software livre é visto com grande importância pelo governo na promoção da inclusão digital. Além de reduzir os custos com pagamentos de direitos autorais e remessa de royalties para o exterior, o software livre permite a apropriação da tecnologia pelos usuários, incentivando a conquista de autonomia do país na área de Tecnologia da Informação. E essa autonomia tem ainda potencial para promover inclusão na chamada sociedade da informação e social dos beneficiados. YAMAGUCHI, BETINI, PEREIRA e PANTOJA [22] citam em seu artigo Inclusão Digital, como e quanto (2005): “(...) A ausência do software proprietário nos programas de inclusão digital, retrata uma formação de mão-de-obra capacitada e consumidora de software livre, contribuindo com a disseminação da política dos softwares de código aberto. (...)” 49 Forma-se desta forma, cidadãos não só incluídos no universo digital, mas também capazes de criar conhecimento e conteúdo para este ambiente. Esta é a real Inclusão Digital, muito além apenas do acesso da população ao computador e internet, mas a criação de cidadãos capacitados a contribuir com o crescimento nacional e a gerar conteúdo para a chamada Sociedade da Informação. Segundo o documento Ações Governamentais Em Inclusão Digital – Análise De Utilização Do FUST, a utilização do software livre encaixa-se nos objetivos de inclusão digital dos Programas governamentais, pois: “ Estimula naturalmente a difusão do conhecimento, permitindo que mais pessoas tenham acesso às oportunidades abertas pelas novas tecnologias; Cria uma rede de compartilhamento de usuários no uso de softwares livres; Estimula o desenvolvimento da tecnologia nacional porque, através do software livre, os desenvolvedores brasileiros podem criar soluções totalmente adaptadas à realidade nacional, a partir dos programas desenvolvidos pela comunidade mundial de programadores; Ajuda na estabilização da economia, pois não é mais necessário o envio de dinheiro ao exterior a título de compra, licença e serviços de software proprietário.” IV.5.4. Programa PC Conectado Este projeto tem como público-alvo as famílias brasileiras que ganham entre 3 e 10 salários mínimos, que possam comprometer parte de seu orçamento com a aquisição de computador. O beneficiário do programa poderá adquirir, pelo preço médio de R$ 1400, um desktop (computador de mesa) com uma configuração mínima de hardware exigida pelo governo, 27 programas instalados (softwares livres), suporte técnico e conexão discada à internet, ao custo R$ 7,50 por mês, por 15 horas mensais. O projeto já dá seus primeiros resultados; segundo reportagem do site PC World [30] , o PC Conectado representou 7,1 % das vendas de computadores nos 9 primeiros meses de 2006, somando 380 mil unidades. Esta é uma iniciativa importante para o combate à exclusão digital, dando acesso ao ferramental básico para o acesso aos serviços oferecidos pelo governo e para as informações disponíveis na rede mundial de computadores, ajudando a formar um cidadão melhor informado e capacitado. 50 Quadro IV.1: Configuração mínima de Desktop do programa PC Conectado EQUIPAMENTO (HARDWARE) – Configuração Mínima: Processador + Placa-Mãe: Compatível Intel D315/D320 ou AMD 2200/2400 Memória RAM: 128 MB Disco Rígido: HD 40 GB Disco Óptico: CD-Rom 52x Disco Flexível: 3 ½” – 1,44 MB Fax/Modem: 56 Kbps Rede/ Som/ Vídeo * Teclado: ABNT2 Mouse: 2 botões Gabinete/ Fonte: ATX 300W – 4 portas USB (2 frontais + 2 traseiras) Monitor: CRT 15” Fonte: <http://www.softwarelivre.gov.br/noticias/News_Item.2005-03-29.2402> Quadro IV.2: Lista dos 27 aplicativos instalados nos desktops do programa PC Conectado PACOTE DE SOFTWARE – 27 APLICATIVOS Sistema Operacional Editor de Texto Planilha Eletrônica Software de Apresentação Navegador Web Anti-Vírus Firewall Pessoal Cliente Email Compactador/ Descompactador Gerenciador de Download Gerenciador de FTP Atualização Automática Assinador de Certificados Plug-In Java Plug-In Flash Leitor de Arquivo PDF Calculadora Cliente Chat Mensageiro Instantâneo Videoconferência Reprodutor Multimídia Jogos Editor de Áudio Editor de Imagem Editor de Desenho Editor HTML Animação 3D. INDICAÇÕES DO GOVERNO GNU/Linux Open Office Open Office Open Office Firefox Mozilla Clamav Lokkit Evolution FileRoller Download 4X GFTP Apt-get ADL Java Flash Xpdf Kcalc Xchat Gain Gnomemeeting Xine A definir Audacity Gimp Sodipodi NVU Blender Fonte: <http://www.softwarelivre.gov.br/noticias/News_Item.2005-03-29.2402> 51 IV.5.5. ProInfo - Programa Nacional de Informática O ProInfo - Programa Nacional de Informática na Educação tem como meta levar as TIC às escolas públicas brasileiras, desenvolver projetos pedagógicos e colocar alunos e professores em contato com o computador e a internet. Além de possibilitar o acesso aos equipamentos, o ProInfo busca a capacitação dos professores e multiplicadores dos NTE – Núcleos de Tecnologia Educacional. Segundo dados do portal de Inclusão Digital do Governo Federal, até 2005 foram instalados 53.895 equipamentos de informática para utilização pedagógica em 4.640 escolas públicas de educação básica, distribuídas em 1.856 cidades no país, beneficiando mais de 6 milhões de alunos, professores e multiplicadores. Além do acesso ao equipamento e treinamento, foram instaladas antenas para acesso via rádio à internet em áreas de periferia das grandes cidades ou cidades isoladas, transformando cada escola num telecentro, aumentando o contingente do projeto Casa Brasil. IV.5.6. GESAC – Governo Eletrônico Serviço de Atendimento ao Cidadão O GESAC tem como objetivo preencher a lacuna não atendida pela iniciativa privada na primeira fase de implantação do programa de e-gov no Brasil (até 2003), levando infra-estrutura para acesso à internet para áreas que não representam um mercado consumidor viável para o setor privado, em escolas públicas, telecentros ou mesmo unidades militares. Através de antenas de conexão à rede via satélite, vários pontos brasileiros onde até então internet e TIC eram apenas notícias passaram a ter acesso a essas facilidades. Junto com o acesso, busca-se disponibilizar uma gama de serviços digitais, buscando não só o que chamaremos de “inclusão digital nominal” (o provimento de meio de acesso ao mundo digital, como computadores e conexões à internet), mas a “inclusão digital de fato”, que consideramos ser o quadro onde a população não só tem o acesso ao ferramental, mas também é formada para o uso das tecnologias oferecidas e até mesmo passem a ser geradores de conteúdo e difusores de conhecimento. Hoje, 3258 localidades são atendidas pelo programa, com acesso à internet e um pacote de serviços de TIC, com contas de e-mail (correio eletrônico), espaço 52 para hospedagem de páginas na internet das comunidades beneficiadas, e outros serviços que incentivam o conhecimento colaborativo em Redes Solidárias de Conhecimento. O programa já tem cerca de 22 mil computadores conectados na rede GESAC, atendendo mais de 5 milhões de pessoas em áreas que apresentam baixo IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) e que se localizam em regiões onde as redes de telecomunicações tradicionais não oferecem acesso à internet em banda larga. Todos os computadores são baseados na plataforma livre GNU-LINUX, visando os quatro pontos citados na seção que trata do software livre. IV.5.7. Programa “Um Computador por Aluno” Ainda sob estudos, o programa Um Computador por Aluno, do Governo Federal, prevê a comercialização de computadores, sejam notebooks ou PC´s, pelo preço de US$ 100, pouco mais de R$ 200,00 pelo câmbio atual. A idéia, lançado pelo MIT, de produção de notebooks completos, baseados numa interface gráfica e aplicativos de uso geral e educacional em software livre, com conexão sem fio à internet, motivou o Governo Federal a aplicar recursos de forma a poder oferecer o acesso ao ferramental necessário para a inclusão digital de um número cada vez maior de pessoas, visando inseri-las no contexto da Sociedade da Informação. Atualmente, três modelos estão em estudo em algumas cidades brasileiras e em universidades federais. São eles: O ClassMate, da Intel, o Mobilis, desenvolvido pela empresa indiana Encore e o XO, idealizado pelo fundador e presidente da organização One Laptop per Child (OLPC), Nicholas Negroponte. 800 unidades do modelo ClassMate foram repassadas pelo MEC a duas escolas estaduais, para estudos pedagógicos de viabilidade do programa. As escolas que conduzirão o piloto ficam nas cidades de Piraí (RJ) e Palmas (TO). A intenção do Governo Federal é que um milhão de unidades de notebooks sejam adquiridos e repassados às escolas. Ainda há discussões sobre a validade deste programa. Setores da sociedade e do meio acadêmico afirmam que a iniciativa de prover cada estudante com um laptop não resolve o problema educacional e que não existem estudos que comprovem a melhoria no desempenho escolar pelo 53 simples uso de computadores. O governo, porém, aposta no programa e acredita que, com a sua implantação [9]: “Impactos e efeitos diversos e mudanças formidáveis se processarão, com certeza, no sistema educacional e na sociedade brasileira. Alunos e professores brasileiros de diferentes estratos sociais, regiões e localidades, etnias, gêneros e habilidades cognitivas terão acesso a recursos de informática nunca antes propiciados. Formarão uma rede interativa e colaborativa abrindo-se um fluxo de idéias e conhecimentos nunca antes partilhados ao ensino e a aprendizagem, à criatividade e à cultura.” Fonte: Relatório: Reunião de trabalho: Utilização Pedagógica Intensiva das TIC nas Escolas (Ministério da Educação – Secretaria da Educação à Distância) Muito ainda há que se estudar e debater para se chegar a uma conclusão abalizada do projeto. Porém, esta é mais uma iniciativa do Governo em busca da inclusão digital para a eficaz implantação do Governo Eletrônico no Brasil. IV.6 – Resultados das políticas: Evolução estatística entre 2005 e 2006 No início deste capítulo, foi apresentado o percentual de brasileiros que nunca usaram a internet. Preocupantes 67,76%, segundo pesquisa realizada pelo CBI.BR em 2005. Foram apresentadas também algumas iniciativas governamentais em relação ao e-gov, com a referência à conclusão da pesquisa da consultoria Accenture, que credita a queda de três posições do Brasil no ranking do nível de maturidade do e-gov a novos enfoques dados pelo governo atual, com foco mais social e visando a inclusão das camadas menos favorecidas da sociedade em seu seio. Uma forma de analisarmos se isto vem se concretizando ou se o e-gov é apenas uma imposição de mercado aos Estados, é comparando números para determinar se essas novas diretrizes governamentais realmente incluem a população no contexto da Sociedade da Informação ou se apenas cria mercado consumidor para as TIC. Segundo uma pesquisa recém divulgada pelo CGI.BR [7], com números da internet no Brasil em relação ao ano de 2006, os preocupantes 67,76% de brasileiros sem nenhum contato prévio com computadores, caíram para 54,35%. Uma queda de 13,4 pontos percentuais em apenas um ano. Dos indivíduos com 54 algum tipo de computador em casa, os números mostram um crescimento de aproximadamente 2%, com 20% da população com acesso a este tipo de equipamento. Destas duas informações combinadas podemos chegar à conclusão de que o programa de Telecentros do governo já surte efeito sobre a população, e que o programa PC Conectado já dá os primeiros passos na contribuição para a inclusão digital dos brasileiros, mesmo que ainda não tenha sido alavancado. Em 2005, 12,28% das pessoas que ganhavam até R$1000,00 tinham acesso a algum tipo de computador em casa; na pesquisa de 2006, este número já subiu para 17,82%. Em se tratando de computadores de mesa, foco do programa PC Conectado, o número foi de 12,26% em 2005 para 17,66% no ano passado, sendo o salto mais significativo na parcela da população com renda entre R$ 501,00 a R$1000,00, público-alvo do programa. O salto foi de 7,27% para 13,73% com computador de mesa em casa. 0,4 0,09 Computador de mão 0,8 0,61 Computador Portátil 5,6 5,36 TV a Cabo 17,2 15,93 Antena Parabólica Console de jogo 19,6 16,3 Computador de Mesa 16,6 19,3 2005 2006 54 49,69 Telefone fixo 61,2 Telefone celular** 67,64 91,6 89,61 Rádio 95,7 97,03 Televisão 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 Figura IV.5 – Proporção dos domicílios que possuem equipamentos TIC (2005 x 2006). Fonte: Pesquisas sobre o Uso das TICs no Brasil 2005 e 2006 (CGI.BR) [5,6] 55 IV.7 – E-GOV para quem? Vimos, neste capítulo, as ações do governo brasileiro em relação à sua política de e-gov à luz do postulado por Rousseau em seu trabalho Do Contrato Social, base desta monografia, e tendo em mente o já discutido nos capítulos anteriores. Temos, assim, que o maior desafio do governo para impulsionar a Sociedade da Informação no Brasil e implantar com sucesso o e-gov é, antes de qualquer coisa, pôr fim tanto quanto possível ao abismo social que é historicamente nossa realidade. Caso contrário, o papel dessas duas novas formas de lidar com o mundo serão realmente meras fomentadoras de mercado consumidor para bens de tecnologia, como proposto por BEMFICA, CARDOSO e FARIA [4]. E, ao que os números indicam, é o que busca o governo federal. Inclusão social para a inclusão digital e, então, o exercício pleno da cidadania com a rapidez e agilidade que as TIC permitem. Vimos também que o legado deixado pelas primeiras iniciativas de e-gov é o de uma utilização maciça por parte das empresas, sobretudo as com mais de 1000 funcionários, e que, como citado na seção IV.4, essas primeiras iniciativas levaram em consideração, antes da inclusão social para a plena participação da população na Sociedade da Informação, o fomento da iniciativa privada no investimento em infra-estrutura e desenvolvimento de ferramentas e serviços que demandassem da população a contratação daquela infra-estrutura. Neste ponto, fazemos um comparativo entre as duas iniciativas. Enquanto atualmente o foco é a busca pela participação plena do povo nas iniciativas de e-gov e Sociedade da Informação, nos seus primórdios, o que se buscava era a construção de uma infra-estrutura, baseando-se nos princípios neoliberais de um governo como fomentador da iniciativa privada, e o incentivo ao consumo daquele novo serviço, através do oferecimento de novos canais de contato com o governo. Por fim, chegamos à conclusão de que, dado o baixo número de brasileiros com acesso à Sociedade da Informação e condições de contribuírem com seu crescimento, como multiplicadores e geradores de conteúdo, o caminho para termos um e-gov que realmente garanta o cumprimento do Contrato Social é longo, porém há um esforço real para que isso seja alcançado. Há que se estudar, no entanto, as melhores e mais eficazes formas de se garantir à população como um todo acesso às ferramentas e infra-estrutura necessárias de forma continuada e auto-sustentável, 56 sem assistencialismo governamental, mas uma política séria de incentivo à educação, formal e digital, e inclusão social, para que os cidadãos sejam instruídos e críticos o suficiente para contribuírem com a rede da Sociedade da Informação e tenham o acesso a ela, através das TIC. 57 CAPÍTULO V CONCLUSÃO Concluímos este trabalho, reforçando a visão de indissociação dos conceitos Sociedade da Informação, Inclusão Digital e Governo Eletrônico. Todos são, na verdade tópicos do conceito Governo Eletrônico. Esta política deve ser encarada como a manifestação digital do governo de direito, não bastando ao Estado apenas oferecer serviços e informação aos cidadãos, diminuir custos operacionais e estreitar relações com parceiros privados ou apenas criar um ambiente integrado de administração pública. Todos esses preceitos, nesta visão, devem ser observados, mas não se pode parar por aí. Mais do que um fornecedor de produtos e serviços a quem quer que seja, propõe-se que o Governo Eletrônico forneça, basicamente, meios para o exercício pleno da cidadania por todos os atores inseridos no contexto de uma nação. Idéias apresentadas no capitulo III, como as do e-procurement devem ser adotadas com grande ênfase, visando desburocratizar os processos de compras governamentais e otimizar o emprego do dinheiro público. O ESD (Electronic Services Delivery) é, também uma forma importante de se melhorar as relações entre governo e sociedade como um todo, garantindo credibilidade das informações e dinamismo nas interações entre os atores. Porém, o maior desafio para um Governo Eletrônico é a implantação plena e bem-sucedida da e-democracy e eparticipation. Essas duas revoluções trazidas pelas TIC são as maiores promessas de sucesso na implantação do conceito proposto nesse trabalho e, de forma indireta, dos ideais defendidos por Rousseau, em seu trabalho Do Contrato Social. No nosso país, esse desafio, em parte já está praticamente resolvido. No que tange as relações Governo-Iniciativa Privada, muito se caminhou no início dos esforços para a implantação do e-gov, até 2002. Segundo dados apresentados no capítulo IV, quem mais utiliza o e-gov são as empresas. Falta ao Estado equalizar esse acesso entre as micro e pequenas empresas e as grandes; já que estas últimas são quem mais se beneficiam dos serviços, enquanto as primeiras ainda não têm suas necessidades plenamente atendidas. Também fruto da primeira fase de 58 implantação do e-gov, o desenvolvimento e utilização do e-ping será de grande valia para a administração pública e o provimento de informações e serviços à sociedade como um todo. Nesses dois pontos, muito já foi feito, mas ainda há espaço para crescimento. Como discutido no capítulo IV, a primeira fase do programa de Governo Eletrônico do Brasil foi, como defendido por BEMFICA, CARDOSO e FARIA [4], uma forma de “mercadorização” da sociedade. Muito se avançou no âmbito econômico do programa, com forte apelo à participação da iniciativa privada, porém pouca atenção foi dada ao social. A partir de 2002, o foco do governo mudou e ações no sentido de diminuição das fronteiras digitais e formação de uma sociedade capaz de contribuir com a Sociedade da Informação foram tomadas. Neste ponto, temos os exemplos citados no capítulo IV de programas desenvolvidos pelo Governo para atingir essa meta e os resultados obtidos no espaço de um ano, segundo a pesquisa do Comitê Gestor da internet no Brasil. Enquanto caímos no ranking da consultoria Accenture, com foco na análise de governo eletrônico segundo a visão vigente, em que o governo é provedor de informação de serviços, avançamos em relação ao ano de 2005 no que tange ao acesso da população aos meios de comunicação necessários à participação efetiva num governo eletrônico. Esta deve ser uma preocupação constante de um governo, segundo a visão proposta por este trabalho. Avançamos na questão social, pouco visitada nos primórdios do programa brasileiro de governo eletrônico, nos últimos anos. Porém, os números ainda são preocupantes. Ainda hoje, no século XXI, mais da metade da população do país nunca acessou a internet, apesar de todos já votarem em urnas eletrônicas. Cresceu o número de usuários da internet e de pessoas com computadores em casa, porém esse número ainda é muito baixo quando o analisamos em valor absoluto: 19,6%. Em suma, para um governo eletrônico comprometido em trazer para o meio digital formas de se fazer valer o Contrato Social defendido por Rousseau [13], visão proposta neste trabalho, nossas primeiras ações não foram bem-sucedidas. Os números mostram que quem mais se vale do governo eletrônico são as camadas com maior poder aquisitivo, enquanto a camada mais pobre sequer tem acesso aos meios básicos para tal. Porém, vem sendo observada uma tendência a combater esse abismo econômico nos últimos anos, com resultados expressivos. Resultados esses, que ainda estão longe de algo próximo do ideal. 59 Portanto, concluímos que, no que tange a parte econômica e de mercado (governo como fornecedor de serviços), muito já foi feito, porém alguns retoques são necessários. Mas o grande desafio está na parte social do programa. Muito pouco vinha sendo feito e as ações atuais já colhem bons frutos, porém ainda há muito a se fazer para que o Contrato Social, expresso na Constituição da República e nas Leis Complementares, seja de fato cumprido. Tendo como base a visão proposta e as ações já tomadas até os dias atuais, há grandes possibilidades de chegarmos a um ótimo nível de e-gov no Brasil. Políticas e programas específicos para este fim são sugestões para trabalhos futuros, como a análise dos esforços de inclusão digital e a viabilidade da edemocracy online no Brasil, visto que a intenção desta monografia foi analisar como estão as iniciativas de Governo Eletrônico no Brasil, quem se beneficia com ela, apresentar as benesses conseguidas por uma boa política de e-gov e analisar, de forma concisa, os caminhos tomados, para traçar um panorama futuro para essa iniciativa no Brasil. 60 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS OBRAS CITADAS [1] ACCENTURE. eGovernment Leadership: High performance, maximum value. Disponível em <www.accenture.com> 2004. 110 p. [2] ASKBRISTOL. Portal de e-democracy da cidade de Bristol. Disponível em <http://www.askbristol.com>. 2006. [3] ASSEMBLÉIA CONSTITUINTE, Constituição Federal. Brasília, 1988. 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