Racismo: reunião definirá posição do País na ONU Debates no Rio decidem até domingo documento a ser levado ao encontro na África RIO - Governo e sociedade civil vão discutir em conjunto a questão racial no Brasil em encontro que será realizado de hoje a domingo no teatro Odylo Costa Filho, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). A Conferência Nacional contra o Racismo e a Intolerância deve definir os pontos principais do documento que o Brasil levará à 3.ª Conferência das Nações Unidas contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e a Intolerância, entre 31 de agosto e 7 de setembro, em Durban, na África do Sul. O encontro conta com a participação de delegados de todos os Estados brasileiros e tem como eixo cinco temas que a ONU propôs como fundamentais para erradicar a discriminação social. Um estudo do Ipea sobre racismo e educação e um outro sobre a Campanha pela Igualdade, elaborado por líderes da América Latina e Caribe/Unaids, serão apresentados durante a reunião. Excluídos - Secretário de Estado de Direitos Humanos e presidente do comitê preparatório da posição brasileira para a conferência da ONU, o embaixador Gilberto Vergne Saboia diz que há ainda um longo caminho a percorrer. "Temos de realizar esforços mais significativos para uma melhoria da participação dos setores excluídos. O Brasil já caminhou, mas ainda está distante de uma situação mais justa", ressaltou. Para Saboia, a questão relacionada aos negros acaba sendo mais visível até por motivos numéricos. Segundo o censo de 1991 do IBGE, brasileiros identificados como pardos e negros representam 47% do conjunto nacional. "O Brasil insere o negro em alguns setores como a expressão popular, música, culinária e esporte. O problema é que em áreas de expressões como a universidade e a política, por exemplo, o acesso e reconhecimento não é suficiente", comentou. Um estudo do IBGE confirma isto. A taxa de analfabetismo entre brancos é de 10,6% enquanto entre negros é de 28,7%. Ainda segundo a pesquisa do IBGE, negros têm dificuldade em aumentar o seu salário mesmo com um bom nível educacional. Saboia lembra que há outras situações que merecem atenção, como a dos homossexuais. "Há uma violência bastante marcada contra os homossexuais e que tem de ser reprimida", afirma. Com relação aos índios, o embaixador é favorável a uma abertura maior para que eles participem mais da vida nacional. "A questão da tutela deste povo foi superada na Constituição, mas esta consciência ainda não chegou à população." A vice-governadora do Rio, Benedita da Silva, que é presidente da Conferência Nacional do Racismo e integrante do Comitê Nacional para Preparação da Participação Brasileira na Conferência Mundial, acha que o racismo "deve, pode ser e será derrotado". Adriana Ferreira Fonte: O Estado de São Paulo - Geral (06 de julho de 2001) Página 1 de 73 Fórum discute racismo, xenofobia e intolerância Tem início hoje, no Rio de Janeiro, encontro de membros do governo e da sociedade civil que discutirá discriminação racial, xenofobia e intolerância. Dos debates, sairá o documento que o País levará à Conferência Mundial de Durban. Governo e sociedade civil discutem a questão racial no Brasil em encontro que será realizado de hoje a domingo, na Universidade Estadual do Rio de Janeiro. A partir dos debates, serão definidos os pontos principais do documento que o Brasil levará, em 31 de agosto, à 3ª Conferência das Nações Unidas contra a Discriminação Racial, a Xenofobia e a Intolerância, em Durban (África do Sul). Delegados de todos os estados brasileiros participarão do encontro. O secretário de Direitos Humanos e presidente do comitê preparatório da posição brasileira para a conferência da ONU, embaixador Gilberto Vergne Saboya, diz que há ainda um caminho a percorrer. ``O Brasil já caminhou, mas ainda está distante de uma situação mais justa'', ressaltou, no Rio. Para Saboya, o racismo acaba sendo mais visível pela ``questão quantitativa''. Segundo censo de 1991 do IBGE, brasileiros pardos e negros representam 47% do País. ``O Brasil insere o negro em alguns setores mas, em outros, o acesso e reconhecimento não é suficiente'', diz. A taxa de analfabetismo entre brancos, segundo pesquisa do IBGE, é de 10,6% enquanto entre negros é de 28,7%. Saboia lembra que há outras situações que merecem atenção, como a dos homossexuais. ``Há uma violência bastante marcada contra os homossexuais e que tem de ser reprimida'', pensa. Com relação aos índios, o embaixador diz ser necessária abertura maior para que eles participem da vida nacional. ``A questão da tutela com este povo foi superada na Constituição mas esta consciência ainda não chegou à população'', diz. Para a vice-governadora do Rio, Benedita da Silva (PT), que preside a Conferência Nacional do Racismo e integra o Comitê Nacional para Preparação da Participação Brasileira na Conferência Mundial, o racismo "deve, pode ser e será derrotado". "Nossa missão é confrontar a ignorância com o conhecimento, o fanatismo com a tolerância e o isolamento com a mão estendida da generosidade". Fonte: Jornal O Povo - Brasil (06 de julho de 2001) Página 2 de 73 OEA recebe pedido de ajuda a afro-brasileiros Uma petição enviada pelo publicitário João Roberto Vieira de Carvalho à Organização dos Estados Americanos (OEA) pode abrir caminho para o movimento negro cobrar reparação financeira pela escravidão. No mês passado, Carvalho mandou à Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA um relatório propondo que se recomende ao governo brasileiro a criação de um fundo, administrado por afro-brasileiros, a ser aplicado em benefício da comunidade negra. A decisão da OEA deve sair em setembro, quando se realizará a 3ª Conferência das Nações Unidas contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e a Intolerância, na África do Sul. Hoje, começa no Rio a Conferência Nacional contra o Racismo e a Intolerância, preparatória do encontro. Desigualdade - ''A desigualdade social vivida hoje pelos afro-brasileiros é fruto da falta de medidas compensatórias por parte do governo. O negro não consegue colocar a cabeça para fora'', diz Carvalho. Ele pediu que a OEA declare o Brasil violador da Convenção Americana de Direitos Humanos e recomende a adoção ''de medidas adequadas para garantir uma reparação completa à comunidade negra brasileira''. O não-cumprimento de decisões da OEA não implica em sanções. O Brasil já foi condenado pela organização no caso do massacre de 111 presos ocorrido em 1992 na penitenciária do Carandiru, em São Paulo. Estão em apreciação na OEA as chacinas que causaram a morte de 19 sem-terra em Eldorado dos Carajás (Pará) e dez em Corumbiara (Rondônia), ambas em 1996. O Brasil pode, contudo, ter dificuldade para obter financiamentos de países que condicionem a ajuda ao cumprimento dos direitos humanos. Fonte: Jornal do Brasil - Brasil (06 de julho de 2001) Página 3 de 73 Delegação de MS participa de conferência contra discriminação Uma delegação de Mato Grosso do Sul, composta por 40 representantes do Movimento Negro, Povos Indígenas, Governo Popular e Associação dos Travestis do estado participa, amanhã e sábado, na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UFRJ), da Conferência Nacional contra o Racismo e a Intolerância. O evento é realizado pelo Comitê Nacional criado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso para preparar a participação brasileira na Conferência Mundial das Nações Unidas contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e a Intolerância Correlata, que se realizará na África do Sul, em agosto deste ano. Fonte: UOL - Brasil (06 de julho de 2001) Página 4 de 73 Protesto anti-racismo no Rio Sul Depois dos sem-teto, é a vez dos movimentos negros. Hoje, às 14h, o shopping Rio Sul, no Rio, será palco de uma nova manifestação de protesto. ''A idéia é denunciar a discriminação contra os vendedores negros e lançar uma campanha de boicote às lojas'', explica um dos organizadores do ato, Carlos Alberto Medeiros, assessor da Coordenadoria de Segurança, Justiça, Defesa Civil e Cidadania. ''Os cidadãos conscientes não devem comprar em lojas que discriminem.'' No sábado passado, ele e mais um grupo de militantes negros percorreram à tarde as 151 lojas de roupas do shopping. O levantamento informal apontou que, dos 742 funcionários, apenas 25 eram negros. O que dá pouco mais de 3%. ''Os números batem com uma pesquisa feita este ano em Salvador, que mostrou que apenas 3% dos vendedores de shoppings são negros'', diz Medeiros. Entre as 21 lojas que empregam negros estão, segundo ele, a Dartigny, a Levis, a Mr. Cat, a Osklen e a Pituca. ''Na Saint Call, encontramos três vendedores brancos e três negros.'' Foram convidados para o protesto parlamentares e artistas como Zezé Motta. Haverá exibição de rappers e distribuição de folhetos repudiando a discriminação no mercado de trabalho. ''O tom será pacífico'', avisa Medeiros. O ato coincide com a abertura oficial da Conferência Nacional contra o Racismo e a Intolerância. Fonte: BOL OnLine - Política (06 de julho de 2001) Página 5 de 73 Protesto anti-racismo no Rio Sul Depois dos sem-teto, é a vez dos movimentos negros. Hoje, às 14h, o shopping Rio Sul, no Rio, será palco de uma nova manifestação de protesto. ''A idéia é denunciar a discriminação contra os vendedores negros e lançar uma campanha de boicote às lojas'', explica um dos organizadores do ato, Carlos Alberto Medeiros, assessor da Coordenadoria de Segurança, Justiça, Defesa Civil e Cidadania. ''Os cidadãos conscientes não devem comprar em lojas que discriminem.'' No sábado passado, ele e mais um grupo de militantes negros percorreram à tarde as 151 lojas de roupas do shopping. O levantamento informal apontou que, dos 742 funcionários, apenas 25 eram negros. O que dá pouco mais de 3%. ''Os números batem com uma pesquisa feita este ano em Salvador, que mostrou que apenas 3% dos vendedores de shoppings são negros'', diz Medeiros. Entre as 21 lojas que empregam negros estão, segundo ele, a Dartigny, a Levis, a Mr. Cat, a Osklen e a Pituca. ''Na Saint Call, encontramos três vendedores brancos e três negros.'' Foram convidados para o protesto parlamentares e artistas como Zezé Motta. Haverá exibição de rappers e distribuição de folhetos repudiando a discriminação no mercado de trabalho. ''O tom será pacífico'', avisa Medeiros. O ato coincide com a abertura oficial da Conferência Nacional contra o Racismo e a Intolerância. Fonte: Jornal do Brasil - Brasil (06 de julho de 2001) Página 6 de 73 Conferência nacional mobiliza as minorias da capital baiana Evento vai debater estratégias para superar a intolerância Todas as atenções das entidades defensoras dos direitos humanos e da nãodiscriminação das minorias estão voltadas para a Conferência Nacional contra o Racismo e Intolerância, que acontece no Rio de Janeiro. O evento começa hoje e continua até domingo, congregando representantes de diversos segmentos, como negros, índios, deficientes, mulheres, ciganos, homossexuais e judeus. O objetivo é debater estratégias para superar o racismo e todas as formas de intolerância. Informações sobre o evento podem ser acessadas na internet, no endereço www.confnacional.rj.gov.br. Da conferência nacional, sairá o documento oficial que o Brasil levará para a III Conferência Mundial sobre Racismo, Xenofobia e Intolerâncias Correlatas, que vai acontecer em agosto, na África do Sul. O evento nacional, que começa hoje no Rio de Janeiro, também foi antecedido de pré-conferências preparatórias nos estados. O evento baiano aconteceu na última terça-feira, no Hotel Mar Azul, na Barra, e debateu principalmente a questão do racismo contra o negro no Brasil. Esse parece ser, também, o assunto mais forte nas discussões nacionais. Na Bahia, as entidades e organizações não-governamentais acompanham com interesse os resultados da conferência nacional. Gilberto Leal, da Coordenação Nacional de Entidades Negras (Conen), espera que as propostas do movimento negro sejam incluídas no documento que irá para a África do Sul. "É evidente que, se essas reivindicações forem incluídas no documento oficial, elas ganham mais força", avalia. Ele diz que, de qualquer forma, as propostas de políticas públicas mais eficientes voltadas para os afro-descendentes serão levadas à conferência paralela, formada por representantes da sociedade civil. A conferência mundial oficial tem caráter governamental. Liberdade - O antropólogo Luís Mott, presidente do Grupo Gay da Bahia, vai participar da conferência dentro das discussões sobre liberdade de orientação sexual. Ele destaca a importância de unir diversos grupos diferentes em um só evento. "Eu nunca vi uma mobilização tão grande no Brasil reunindo todas as minorias, raciais, sociais, sexuais, para discutir e propor soluções para erradicar a violação dos direitos humanos. Eu espero que toda essa mobilização nacional reforce os laços das minorias, pois todos juntos somos a maioria", avalia. Os deficientes físicos também estão incluídos no programa da conferência nacional. Mesmo não participando pessoalmente do evento, a presidente da Associação Baiana de Deficientes Físicos, Luiza Câmara, vê com bons olhos o debate que acontece no Rio de Janeiro. Para ela, a intolerância perante os deficientes é mostrada pela própria falta de espaços físicos acessíveis para essas pessoas. "Eu creio que nós já mostramos que somos cidadãos, e agora precisamos ser respeitados", declara. O diretor da Associação Nacional da Ação Indigenista (Anaí), José Augusto Sampaio, também acha a conferência positiva, mas faz duas ressalvas. A primeira, segundo ele, é que a representação indígena no evento não está bem articulada. "Não houve um movimento organizado dos índios para essa conferência", observa. Ele também tem críticas ao pré-documento que orienta a conferência, que prioriza questões do racismo em situações urbanas, não contemplando questões de posse da terra, que ionteressam aos índios. Silvia Noronha Fonte: Correio da Bahia - Aqui Salvador (06 de julho de 2001) Página 7 de 73 Presidente do Incra participa de conferência sobre racismo Rio, 5 (Agência Brasil - ABR) - O presidente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Sebastião Azevedo, participa amanhã (6) da abertura da III Conferência Nacional Contra o Racismo e a Intolerância, no auditório Odylo Costa Filho da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). O encontro, promovido pela Secretaria de Estado dos Direitos Humanos do Ministério da Justiça, será presidido pela vice-governadora do Rio de Janeiro, Benedita da Silva, sob a coordenação do secretário dos Direitos Humanos, Gilberto Sabóia. Cerca de 1.500 delegados participarão do evento, do qual sairão as posições brasileiras que serão levadas à III Conferência Mundial de Combate ao Racismo, Discriminação, Xenofobia e Intolerância, prevista para setembro próximo, em Durban, África do Sul. A conferência nacional irá até o próximo domingo (8). Alana Gandra Fonte: Radiobras - Brasil Agora (06 de julho de 2001) Página 8 de 73 Delegação de Mato Grosso do Sul participa de conferência contra discriminação Campo Grande, 5 (Agência Brasil - ABr) - Uma delegação de Mato Grosso do Sul, composta por 40 representantes do Movimento Negro, Povos Indígenas, Governo Popular e Associação dos Travestis do estado participa, amanhã (6) e sábado (8), na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UFRJ), da Conferência Nacional contra o Racismo e a Intolerância. O evento é realizado pelo Comitê Nacional criado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso para preparar a participação brasileira na Conferência Mundial das Nações Unidas contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e a Intolerância Correlata, que se realizará na África do Sul, em agosto deste ano. Marília de Castro Fonte: Radiobras - Voz do Brasil (06 de julho de 2001) Página 9 de 73 Racismo A situação dos negros, estrangeiros, índios, homossexuais, deficientes físicos e muitos outros atingidos pela discriminação no país começa a ser discutida hoje no Rio de Janeiro Preconceito nosso de cada dia Rosângela Santos, 25 anos, sempre estudou em escola pública e foi reprovada duas vezes no vestibular. Em 2000, começou o curso pré-vestibular do Instituto Steven Biko, em Salvador, exclusivo para afro-descendentes. Passou para Pedagogia na Universidade Estadual da Bahia (Uneb). A primeira da família a entrar na faculdade. Rosângela e mais 149 negros, ex-alunos da Steven Biko, também aprovados no vestibular, compõem a pequena vitrine de sucessos da ação afirmativa no Brasil. Biko foi um militante sul-africano que lutou contra o apartheid. Ação afirmativa é a iniciativa pública ou privada, voluntária ou obrigatória, com objetivo de corrigir efeitos negativos de discriminação passada. Vai desde programas de qualificação profissional até atividades culturais para aumentar a auto-estima dos jovens. Levantamento feito pela pesquisadora da Universidade Cândido Mendes Rosana Heringer, e obtido com exclusividade pelo Correio, revela que nas dez maiores capitais do país há uma grande timidez em adotar ações com enfoque racial. Entre 1999 e 2000, foram mapeadas 124 iniciativas em curso para reduzir o abismo entre as raças. A maior parte delas (38), cursinhos de pré-vestibular. A Steven Biko, de Salvador, é uma exceção no cenário mostrado pela pesquisa por atender só negros. A maioria recebe negros e carentes, sem dar preferência por causa da cor da pele. Uma situação que se repete em todos os mecanismos de ação afirmativa encontrados. Segundo o levantamento, 56,5% das atividades não estão restritas à população negra e outros 11,3% atingem toda sociedade por se tratarem de campanhas de conscientização contra o racismo. Na Conferência Nacional, sociedade civil e governo terão de fazer, pela primeira vez, uma declaração conjunta dos princípios que defendem para diminuir a desigualdade, principalmente, entre negros e brancos no país. Ninguém discute a desvantagem estatística das pessoas de pele escura. O que o governo federal e parte do movimento negro defendem é que basta uma política eficaz de combate à pobreza para mudar esse quadro. ‘‘Se conseguirmos incluir o maior número de pessoas nos programas para correção das desigualdades sociais, iremos atingir em maior número os negros’’, afirma o embaixador Gilberto Saboya, secretário de Direito Humanos do Ministério da Justiça. Alguns temem que se os negros tiverem prioridade de atendimento nas políticas de combate à pobreza, como defende uma parte das lideranças negras, se crie uma animosidade desnecessária, que acabará incentivando o racismo. A história de Rosângela Santos revela a complexidade desse debate para o qual não existe argumento definitivo. Moradora da periferia de Salvador, filha de empregada doméstica, com a quarta série completa. Durante um ano, trabalhava de dia e tinha aulas de segunda a sexta das 19h às 22h30, além das tardes de sábado e das manhãs de domingo, sem férias. Segundo Geraldo Belmonte, diretor da Steven Biko, 50% do conteúdo ensinado no cursinho nunca foi visto pelos alunos na escola. A rigidez da instituição produz uma taxa de aprovação entre 15% e 30%, a mesma desde 1992, quando o cursinho começou. Soma da pobreza de várias gerações. Os negros ricos e lindos não escapam da herança. Os 250 modelos que fizeram uma manifestação durante a São Paulo Fashion Week, esta semana, pedindo mais espaço nas passarelas sabem bem disso. Jogo sujo no futebol Página 10 de 73 A Fifa realiza hoje, em Buenos Aires, uma conferência internacional com o objetivo de encontrar meios que permitam combater e erradicar o racismo no futebol. O coordenador do encontro será o vice-presidente da entidade, o italiano Antonio Matarese. Segundo ele, a intenção é lutar contra o racismo e a xenofobia com mais seriedade. ‘‘A solução a este problema passa por identificar e reconhecer a existência do racismo’’, destacou o presidente da Fifa, Joseph Blatter. Muitos jogadores darão seus testemunhos durante a conferência. Como é o caso do inglês de origem jamaicana John Barnes, uma das primeiras vítimas dos torcedores nas décadas dos setenta e oitenta. ‘‘Os jogadores são o bode expiatório da ignorância e da intolerância ante as diferenças na cor da pele’’, destacou Barnes. Fonte: Correio da Bahia - Tema do Dia (06 de julho de 2001) Página 11 de 73 Xenofobia é fenômeno mundial A 3ªConferência Mundial sobre Raça, Xenofobia e outras formas de preconceito não foi inspirada pelo abismo social entre brancos e negros. José Augusto Lindgren, cônsul-geral do Brasil em San Francisco (EUA) e autor do projeto de resolução que definiu o tema do encontro de agosto, na África do Sul, fez a proposta depois de assistir a cenas explícitas de xenofobia (ódio aos estrangeiros), na Alemanha. Era 1994 e o neonazismo ressurgia na Europa. O Brasil com 103.078 estrangeiros residentes segundo o IBGE, está longe da realidade de outros países, mas o preconceito existe. A Alemanha absorveu muitos imigrantes do Leste Europeu e turcos. Hoje, 9% da população daquele país nasceram em outro lugar. Nos Estados Unidos, 24 milhões de imigrantes irão mudar a identidade racial do país em dez anos. Segundo pesquisas, nesse período os brancos deixarão de ser a maioria étnica, enquanto hispânicos e asiáticos se tornarão grupos populacionais majoritários. A delegação brasileira, no entanto, tem muito a contribuir. O embaixador Gilberto Saboya que comanda a representação nacional é reconhecido como especialista em direitos humanos. Na Conferência Mundial sobre Direitos Humanos, em Viena, em 1993, foi o chefe de todas as negociações do encontro. Um talento que a ONU pretende usar também na África do Sul. (DG/MO) Dalila Góes e Marina Oliveira Fonte: Correio Braziliense - Tema do Dia (06 de julho de 2001) Página 12 de 73 Ponto crítico / racismo As políticas de ação afirmativa existentes são suficientes para combater a desigualdade racial? SIM Alexandre Vidal Porto - Assessor da Secretaria de Direitos Humanos do Ministério da Justiça e mestre em Direito pela Universidade de Harvard No caminho certo A simples menção a políticas de ação afirmativa assusta muita gente. A primeira imagem que o termo evoca é a de uma sociedade separada por raças: um modelo de segregação automática em que os serviços e os bens públicos seriam partilhados com base em critérios meramente raciais. Nessa concepção, a ação afirmativa se reduziria a um mecanismo de discriminação às avessas. Essa é uma noção equivocada. Como tantas outras coisas no que diz respeito ao entendimento das causas e manifestações do racismo entre nós, tal noção parece decorrer da transposição de um estereótipo importado, que não caracteriza a realidade brasileira. A ação afirmativa torna-se, assim, imediatamente inadequada como estratégia de combate ao racismo. Não se baseia em nossa realidade social. ‘‘Coisa de gringo’’, diriam alguns. Acostumamo-nos a conceber a idéia de racismo como manifestação aberta e institucionalizada de segregação, como um sistema de apartheid ou de castas. Existe, no entanto, uma forma peculiar de racismo brasileiro. Na variante nacional as vítimas são mais visíveis que o processo de vitimização. Um bebê que nasceu hoje, em Brasília, se tiver a pele negra, chega ao mundo com grandes chances de estar em desvantagem em relação a um bebê branco. Sem realizar qualquer ação que pudesse objetivamente ter conseqüências negativas sobre seu futuro, estatisticamente, esse brasileirinho chega em desvantagem. Seus pais são provavelmente mais pobres, menos educados e por isso ele terá mais dificuldades de acesso e permanência na escola. A escravidão foi abolida há mais de século. Não obstante continua a produzir efeitos no Brasil que o governo tem a obrigação de mitigar. A ação afirmativa serve para isso. Podemos até mudar seu nome. Chamá-la de política pública de inclusão, por exemplo. Mas a idéia central permanece: a noção de ação governamental para suplementar desigualdades que são estruturais. O governo tem concebido e executado políticas do que classicamente se poderia chamar ação afirmativa. Ministérios como os da Saúde e do Trabalho e Emprego, bem como a Secretaria de Estado da Assistência Social, por exemplo, praticam com êxito políticas de inclusão como o BolsaEscola, o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti), entre outros. O caráter dessas ações é sobretudo afirmar, reconhecer e combater o atraso relativo decorrente de razões históricas que redundaram numa situação social inferior para negros e indígenas brasileiros, maioria entre os pobres. O governo pode enfrentar essa questão por meio de ações focalizadas de inclusão e o tem feito. Existe compromisso presidencial nesse sentido. Há muito mais o que fazer, por exemplo, no campo da educação e todos se beneficiarão de um país socialmente mais justo. NÂO Luís Antônio Souza - Doutor em sociologia e pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (USP) Ainda falta muito Página 13 de 73 A situação dos homens negros e das mulheres negras nesse rico país é uma das mais dramáticas faces da iniqüidade social brasileira. O Brasil é um estado democrático de direito, todavia os negros sofrem na pele e na alma as agruras da discriminação e do preconceito. É necessário reconhecer que o problema existe. Mas o brasileiro tem preconceito em assumir que tem preconceito. Daí os disfarces, as dissimulações e a hipocrisia. Só quem é negro e já foi confundido com o faxineiro, com o manobrista ou, pior das situações, com o criminoso, sabe do que estou falando. As soluções não são simples, mas demandam vontade política, respeito à lei e aos direitos humanos. A desigualdade, que é decorrência de um longo processo de afastamento dos negros do poder político e econômico, não desaparece como num passe de mágica. As experiências no mundo todo demonstram que as desigualdades diminuem somente através de políticas públicas específicas. Pessoas e grupos que vivem em situação de maior vulnerabilidade devem ser considerados objetivos preferenciais das políticas de caráter compensatório. A situação do negro no Brasil, portanto, não deve ser apenas objeto das políticas econômicas, deve ser tema das políticas de respeito aos direitos humanos e de políticas educacionais e culturais. Isso envolve reconhecer os direitos das comunidades remanescentes de quilombos; ampliar a consciência dos educadores, operadores do direito, médicos e policiais para os direitos dos indivíduos negros; bem como reconhecer que o negro tem o direito de interferir no processo de construção de sua condição de vida e de sua própria imagem. Para ser mais direto, as soluções precisam se encaminhar na direção de combater o problema onde ele é mais aviltante. É preciso interferir no mercado de trabalho e criar políticas de oportunidades e de salários iguais, sobretudo no poder público. É preciso interferir no ensino e garantir vagas aos negros nas universidades públicas. É preciso interferir na produção de livros didáticos e na produção das imagens sobre os cidadãos negros. É preciso criar mecanismos institucionais que incentivem produções culturais de negros e sobre negros. É preciso recontar a história do país, sob a ótica dos excluídos. É preciso estimular o debate, pesquisas e publicações especializadas e torná-las acessíveis a um maior número. O preconceito é uma forma inaceitável de violência. Ele deve ser combatido e a participação dos maiores interessados, os negros e também os indígenas, é indispensável. O Brasil precisa olhar para o espelho de suas diferenças étnicas, regionais, religiosas, sexuais, de gênero e, quem sabe um dia, se reconhecer nessa imagem de extraordinária riqueza cultural, étnica e humana. Dalila Góes e Marina Oliveira Fonte: Corrreio Braziliense - Tema do Dia (06 de julho de 2001) Página 14 de 73 Conferência quer cotas para negros Encontro anti-racismo termina com pedido de criação de programas de inclusão das minorias no mercado de trabalho A Carta do Rio - documento de encerramento da I Conferência Nacional contra o Racismo e a Intolerância - aponta para a necessidade de políticas públicas afirmativas, a partir de recortes de gênero e raça. ''É uma constatação. O Ipea já mostrou que existe essa desigualdade. Se não houver um recorte racial nas políticas públicas, nós não conseguiremos superar as diferenças entre negros e brancos no país'', disse a presidenta da conferência, a vice-governadora do Rio, Benedita da Silva. Também chamada de Plano Nacional de Combate ao Racismo e à Intolerância, a Carta do Rio tem quase 300 propostas nas suas 51 páginas. Algumas polêmicas. Como a descriminação do uso da maconha, a legalização do aborto e a adoção de sistemas de cotas para a população negra nas universidades e nos cargos de serviço público. ''Não chamamos de cotas, pois é um termo que não é consensual. Trabalho com outra terminologia: inclusão. Os indicadores sociais avançaram, mas não chegaram até nós, negros'', disse Benedita. Em um de seus itens, o documento sugere que se faça uma crítica pública ao governo Fernando Henrique Cardoso, ''que até hoje não implementou um plano sério e necessário para a população negra e discriminada deste país''. A única ressalva que o secretário nacional dos Direitos Humanos, embaixador Gilberto Sabóia, fez foi justamente contra esse ponto. ''Gostaria de me dissociar da conclusão número 7 do grupo sobre Justiça e Direitos Humanos que contém uma referência ao presidente Fernando Henrique Cardoso que é injusta, equivocada e contraditória. O governo do presidente Fernando Henrique Cardoso é um dos governos que mais têm feito para promover o debate e melhorar a situação das populações marginalizadas'', disse, sob intensa vaia da platéia. Entre as reivindicações dos grupos de homossexuais, está a regulamentação da Parceria Civil - projeto de lei número 1151/95 da ex-deputada Marta Suplicy. E a inclusão do campo opção sexual nas consultas demográficas do Censo. Os indígenas querem, entre outras coisas, a aprovação do Estatuto dos povos indígenas em tramitação no Congresso e a nomeação de um índio para presidência da Funai. Eles também cobram indenização pela agressão que sofreram na comemoração dos 500 anos do brasil em Coroa Vermelha, na Bahia. ''Essa conferência foi um momento de congregação de toda uma representação de diferentes segmentos da população brasileira. Uma reiteração da condenação ao racismo, à intolerância e à xenofobia. E pela exigência de políticas mais diretas'', disse Sabóia. Mas a própria conferência foi alvo de críticas. Ao final da cerimônia, foram lidas pelo menos quatro moções de repúdio ao evento. Integrante da CUT, Magno dos Santo Filho criticou a postura anti-democrática na condução dos trabalhos. Outros criticaram a ausência da base excluída, como pobres e população de rua. As discussões devem servir de base para a formulação de uma agenda nacional e deverão respaldar o Brasil na Conferência Mundial contra Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância, a realizar-se na África do Sul em agosto. Tomás Absalão Fonte: Jornal do Brasil - Brasil (09 de julho de 2001) Página 15 de 73 Conferência prepara documento contra racismo e intolerência Está sendo concluída hoje a Carta do Rio, documento que contém as posições brasileiras da Conferência Nacional contra o Racismo e a Intolerância, encerrada hoje, no Rio. A carta será levada à III Conferência Mundial de Combate ao Racismo, programada para setembro, na África do Sul. O encontro foi aberto na última sexta-feira, no Teatro Odylo Costa Filho, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), pelo secretário de Estado dos Direitos Humanos, Gilberto Sabóia, e pela vice-governadora do Estado, Benedita da Silva. Fonte: Terra - Brasil (08 de julho de 2001) Página 16 de 73 Militantes fazem ato no Rio e acusam lojas de shopping de "racismo" Cerca de 50 militantes do Centro de Apoio às Populações Marginalizadas (Ceap) fizeram hoje um ato contra o racismo no shopping Rio-Sul, na zona sul do Rio. Eles colaram em algumas lojas adesivos com a inscrição "Não compre _esta loja não emprega negros." O Ceap fez uma pesquisa no shopping e constatou que, de 746 funcionários de 155 lojas de roupas e jóias, apenas 22 são negros. A reação do público foi positiva, e os ativistas foram aplaudidos, mas os gerentes das lojas não gostaram. A maioria arrancou o adesivo. O gerente de outra loja, que preferiu não se identificar, justificou a falta de diversidade entre os funcionários dizendo que nunca aparecem negros pedindo empregos. O ato marcou o dia da abertura (às 16h) da conferência contra o racismo, preparatória da conferência da ONU, em agosto, na África do Sul. Fonte: Folha OnLine - Cotidiano (07 de julho de 2001) Página 17 de 73 Militantes fazem ato no Rio contra racismo em shopping 18h20 - Cerca de 50 militantes do Centro de Apoio às Populações Marginalizadas (Ceap) fizeram hoje um ato contra o racismo no shopping Rio-Sul, na zona sul do Rio. Eles colaram em algumas lojas adesivos com a inscrição "Não compre - esta loja não emprega negros." O Ceap fez uma pesquisa no shopping e constatou que, de 746 funcionários de 155 lojas de roupas e jóias, apenas 22 são negros. A reação do público foi positiva, e os ativistas foram aplaudidos, mas os gerentes das lojas não gostaram. A maioria arrancou o adesivo. O gerente de outra loja, que preferiu não se identificar, justificou a falta de diversidade entre os funcionários dizendo que nunca aparecem negros pedindo empregos. O ato marcou a abertura da conferência contra o racismo, preparatória da conferência da ONU, em agosto, na África do Sul. Com informações da Agência Folha. Fonte: CorrreioWeb - Brasil (07 de julho de 2001) Página 18 de 73 Estudo mostra abismo entre negros e brancos A pobreza tem cor no Brasil: é negra, afirmou o presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Roberto Martins, com base na pesquisa apresentada ontem na Conferência Nacional sobre Racismo, na Uerj. O estudo do Ipea revela que a renda mensal dos brancos no país é de R$ 400 e a dos negros é de R$ 170. “O Brasil branco é cerca de 2,5 vezes e meia mais rico que o Brasil negro”, afirma o levantamento do Ipea, que cruzou dados do IBGE coletados em 1999. — A pesquisa mostra que há grandes diferenças entre brancos e negros no país. O problema é que a sociedade nega que haja desigualdade e preconceito racial e não discute políticas compensatórias — afirmou Martins. No Brasil, há 22 milhões de indigentes (que ganham até R$ 60 mensais), o que representa 13% da população. Esse percentual sobe para 18% entre a parcela negra da população e cai para 8% entre os brancos. Há diferenças também na área educacional: a taxa de analfabetismo dos negros é de 16,5%; a dos brancos é de 9%. A vice-governadora do Rio, Benedita da Silva, disse que esses dados revelam que é preciso urgentemente adotar políticas específicas para os negros. Ela elogiou o anúncio feito ontem pelo Ministério do Trabalho, que vai destinar aos trabalhadores negros 20% dos recursos do FAT para programas de qualificação profissional. As conclusões do encontro na Uerj, que acaba hoje, farão parte do relatório que o Brasil apresentará em agosto na África do Sul, na Conferência Mundial contra a Discriminação Racial, promovida pela ONU. Carter Anderson Fonte: Jornal O Globo - País (07 de julho de 2001) Página 19 de 73 Contra a intolerância Encontro busca combater as discriminações em geral A situação dos indígenas também merece cuidados e, apesar de órgãos criados para administrá-los e protegê-los, cada vez mais são tratados como párias nacionais. Está sendo realizado na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), desde a última sexta-feira até este domingo, um encontro preparatório para a participação do Brasil na III Conferência das Nações Unidas contra a Discriminação Racial, a Xenofobia e a Intolerância, a ser realizada em Durban, na África do Sul, de 31 de agosto a 7 de setembro deste ano. Há dois aspectos importantes nessas duas reuniões: no primeiro caso, o fato de o País estar preocupado com a questão e ter sido pioneiro em propor soluções, a partir de uma esquecida conferência mundial promovida em Brasília, no ano de 1966; no caso da ONU, é o fato de o organismo reconhecer que a intolerância atinge níveis tão abrangentes que, de maneira alguma, se limita à discriminação racial, além de que, simbolicamente, convoca uma conferência para o país, onde até 1992, vigorou o regime do Apartheid. Durante décadas, alimentou-se o mito de que o Brasil era um paraíso racial. Isso foi desmentido até pelo fato de, na década de 50, o então deputado federal Afonso Arinos de Melo Franco (na época UDN-MG) ter proposto uma lei, que foi aprovada, para punir a discriminação racial. A própria Constituição de 1988 absorveu a matéria e previu punições rigorosas para quem comete o preconceito racial. Entretanto, na maioria das vezes, tanto a Lei Afonso Arinos quanto a Constituição foram aplicadas para defender primordialmente pessoas de ascendência africana, quando o País abriga diversos exemplos de etnias diferentes e discriminadas, incluindo a segregação social. Em estados meridionais do Brasil, a comunidade judaica já sofreu vários tipos de intolerância e até cemitérios hebraicos foram profanados. A situação dos indígenas também merece cuidados e, apesar de órgãos criados para administrá-los e protegê-los, cada vez mais são tratados como párias nacionais. Na realidade, legislações, embora rigorosas, apenas podem punir atos de discriminação racial, xenofobia e a intolerância. O fim desse tipo de comportamento só seria alcançado com um processo muito amplo de reeducação mundial. Isso levaria muitos anos e até séculos, pelo fato de ser um fenômeno internacional. Depois da Segunda Guerra Mundial e até os anos 60, o racismo era mais destacado pela mídia com relação ao que se praticava no Sul dos Estados Unidos e na África do Sul, em termos de brancos massacrando negros. Historicamente, na África, antes da chegada dos navios negreiros, tribos guerreavam entre si e os prisioneiros eram vendidos como escravos. O mesmo faziam árabes da África do Norte contra negros. Na atual República Democrática do Congo e no Congo-Brazzaville, os negros de estatura convencional discriminam os pigmeus. Na Libéria, a elite descendente de escravos retornados dos Estados Unidos, que fundou a nação em 1847, pelo menos até 1980, quando houve um golpe de Estado que derrubou do poder aqueles herdeiros de alforriados, tratava como inferiores liberianos nativos que viviam em tribos. Na supracitada África do Sul, a convivência entre a tribo Zulu e outros povos de cor continua pouco amigável. Na Ásia, permanecem os sentimentos de judeus contra árabes e vice-versa, assim como árabes versus turcos ou turcos versus armênios. Turquia, Síria, Iraque e Irã têm uma longa crônica de atrocidades contra os curdos. Os japoneses segregam a tribo setentrional dos ainos, e mesmo depois dos quase 56 anos do final da Segunda Guerra Mundial, restam resquícios de sentimentos Página 20 de 73 racistas deles contra chineses e coreanos. Na Europa, neonazistas e grupos antissociais brancos insurgem-se contra imigrantes do Terceiro Mundo. É um problema, portanto, abrangente e muito complexo e só seria solucionado, ou pelo menos, contornado com decisões criativas. Daí haver expectativa com relação às resoluções que vão ser votadas em Durban. Fonte: Jornal O Povo - Opinião (08 de julho de 2001) Página 21 de 73 Conferência prepara documento contra o racismo e a intolerância A Carta do Rio, documento que contém as posições brasileiras da Conferência Nacional contra o Racismo e a Intolerância, está sendo concluída hoje. A carta levará as posições do país na 3ª Conferência Mundial de Combate ao Racismo, programada para acontecer em setembro, na África do Sul. O encontro foi aberto na sexta-feira (6), no Teatro Odylo Costa Filho, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), pelo secretário de Estado dos Direitos Humanos, Gilberto Sabóia, e pela vice-governadora do Estado, Benedita da Silva. Fonte: Folha OnLine - Cotidiano (08 de julho de 2001) Página 22 de 73 Pobreza brasileira tem a cor negra Rio (AE) - O "Brasil branco" é 2,5 vezes mais rico do que o "Brasil pobre". A conclusão é de pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), divulgada ontem no Rio e que investigou a desigualdade racial no País. Os dados divulgados no estudo, que revelam profundas diferenças nas condições socioeconômicas entre brancos e negros, levaram o presidente do Ipea, Roberto Martins, a afirmar que "a pobreza neste País tem cor e essa cor é negra". A pesquisa revela que as condições de vida do Brasil melhoraram nos anos 90, mas as diferenças entre brancos e negros não diminuíram. A renda média mensal da população branca é de R$ 400 e a dos negros, de R$ 170. No início dos anos 90, a pobreza do País estava na faixa de 40% da população brasileira e, após 1995 e até o final da década, caiu para 34%. Mas a participação da população negra (pardos e negros) na pobreza permaneceu bem superior a dos brancos. No total da população indigente em 99, por exemplo, 68,85% eram negros e 30,73% brancos. Um abismo O volume de negros pobres é sempre maior, apesar de a população negra do País ser menor (45,33%) do que a branca (54,02%). No que diz respeito à fatia dos pobres, confirmando a hierarquia, os negros têm participação de 63,63% no total, enquanto os brancos são 35,95%. Martins afirmou que esses dados mostram que são necessárias "políticas específicas" para a fatia negra da população para "promover a igualdade" entre brancos e negros. Ele destacou os números referentes à educação, apontando que a taxa de analfabetismo entre os brancos com mais de 15 anos atinge 8,3%, enquanto para os negros é de 19,8%. O abismo de oportunidades entre negros e brancos existe também no acesso ao ensino superior, por exemplo - no ano de 99, 89% dos brancos entre 18 e 25 anos não haviam ingressado na universidade, ante 98% dos negros. As distorções no acesso à educação acabam tendo reflexo também no rendimento médio. Segundo o presidente do Ipea, os brancos recebem em média salários que são mais que o dobro dos pagos aos negros. Ele avaliou que essa diferença não é apenas um preconceito de cor de quem contrata, mas de "exclusões anteriores acumuladas ao longo das gerações", sendo a principal delas os diferentes níveis educacionais. "Nascer negro no Brasil está relacionado a uma maior probabilidade de crescer pobre", conclui a pesquisa do Ipea. Os resultados do trabalho foram apresentados na Conferência Nacional contra o Racismo e a Intolerância, que será encerrada amanhã no Rio. O evento está reunindo negros, índios, judeus e homossexuais em palestras e debates no campus da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj). Fonte: Paraná OnLine - Nacional (08 de julho de 2001) Página 23 de 73 Embaixador diz que o governo combate racismo O embaixador Gilberto Vergne Saboia, 59, apontou dificuldades dentro do governo brasileiro para discutir políticas de ação afirmativa, mas disse que há práticas concretas de combate ao racismo. Saboia é secretário de Estado de Direitos Humanos e presidente do comitê preparatório da posição brasileira na África do Sul. "O governo não é um bloco monolítico. Há discussões dentro do governo, a formulação concreta dessas políticas encontra algumas resistências, não é uma questão simples", afirmou. Segundo Saboia, estão em estudo medidas para favorecer o ingresso de negros nas universidades públicas. Uma das discussões do governo nessa área é como garantir vagas para negros na educação pública sem rebaixar o nível de qualidade do ensino. Como exemplo de ação concreta contra o racismo, Saboia citou a mudança dos currículos e livros escolares, para combater estereótipos contra a população negra. Formação Ele disse ainda que, no Ministério do Trabalho, 20% dos recursos do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) usados na área de formação profissional são dirigidos a negros e pardos. Outro exemplo citado pelo embaixador foi o projeto de atendimento aos casos de anemia falciforme (forma de anemia que ocorre quase exclusivamente entre negros e seus descendentes). Fonte: Folha OnLine - Brasil (09 de julho de 2001) Página 24 de 73 Encontro discute preconceito no Brasil 15h29 - Governo e sociedade estão dando um passo importante para o combate ao racismo e à intolerância. Está sendo realizada até amanhã, na Universidade do Rio de Janeiro (UERJ), a Conferência Nacional contra o Racismo e a Intolerância. Mais de 1,5 mil representantes das minorias de todo pais, entre negros, judeus, homossexuais, ciganos, portadores de necessidades especiais e índios, estão presentes na UERJ. Entre outras autoridades, participam da Conferência o secretário dos Direitos Humanos, embaixador Gilberto Sabóia, e o secretário executivo do Ministério da Justiça, Paulo de Tarso Ramos Ribeiro. A Conferência Nacional tem como indicadores os cinco temas propostos pela Organização das Nações Unidas (ONU) para erradicar a discriminação racial e outras formas de intolerância no mundo. O encontro pretende identificar de que maneira o racismo e a intolerância se manifestam em nosso país e consolidar as propostas brasileiras para a Conferência Mundial contra Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlata, que será realizada em Durban, na África do Sul, entre 31 de agosto e 7 de setembro. Convocada pela ONU, o encontro mundial terá como objetivo unir esforços internacionais para a eliminação dessas manifestações de intolerância. No Rio, os participantes da Conferência Nacional preparam um documento que será apreciado pelo Comitê Preparatório Nacional durante a análise de recomendações ao documento oficial do governo brasileiro para Conferência Mundial contra o Racismo. Além da discussão sobre o conteúdo do documento, a Conferência Nacional propõe a construção de uma agenda antidiscriminatória e o encaminhamento das estratégias de monitoramento das ações governamentais nas áreas temáticas. Com informações da Agência Brasil. Fonte: CorreioWeB - Últimas (07 de julho de 2001) Página 25 de 73 Salário de brancos é 2,5 vezes superior ao de negros O salário médio de um branco no Brasil é 2,5 vezes superior ao de um negro, segundo um relatório divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). O estudo, que confirma a gravidade das desigualdades raciais no País, foi divulgado neste sábado pelo presidente do IPEA, Roberto Martins, durante uma sessão da Conferência Nacional Contra o Racismo e a Intolerância, no Rio de Janeiro. "A pobreza no Brasil tem cor e essa cor é o negro", afirmou Martins ao se referir aos números que mostram grandes diferenças sócio-econômicas entre as duas raças. Segundo o estudo, as condições de vida no Brasil melhoraram durante a última década, mas não diminuiram as diferenças entre brancos e negros. Da população pobre, 63,63% eram negros e 35,95%, brancos em 1999. A porcentagem de brasileiros considerados abaixo da linha de pobreza caiu de 40% da população no começo da década passada para 34% dos 170 milhões de brasileiros em 1999. Apesar disso, a participação da população descendente de africanos na probreza continua sendo muito superior à dos brancos. Segundo o IPEA, em 1999, 68,85% dos considerados indigentes eram negros, contra 30,73% de brancos. Da mesma fora, a porcentagem de negros, que são 45,33% da população, abaixo da linha de pobreza é sempre maior que a de brancos. Fonte: Terra - Brasil (08 de julho de 2001) Página 26 de 73 Ipea afirma que racismo só será combatido com política específica O Brasil branco é 2,5 vezes mais rico que o Brasil negro, e só políticas específicas para os negros podem dar resultado efetivo para reduzir a desigualdade racial. Esse é o resultado de estudo mostrado ontem pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) na Conferência Nacional contra o Racismo e a Intolerância. O estudo do pesquisador Ricardo Henriques mostra que, historicamente, as diferenças entre negros e brancos vêm se mantendo. Na educação, um branco de 25 anos tem, em média, 2,2 anos a mais de estudo que um negro da mesma idade. "Precisamos de políticas específicas para os negros. Só políticas universais não estão resolvendo", disse o presidente do Ipea, Roberto Martins. O estudo mostra que cerca de 34% da população vive em condições de pobreza e 14% em situação de indigência. Os negros são 64% dos pobres e 69% dos indigentes. Em 1999, a taxa de desemprego foi de 8,9% entre brancos e 10,6% entre negros. O estudo será usado pelo movimento negro para cobrar políticas de ação afirmativa, dirigidas à população negra. "A política universal não resolve", diz Ivanir dos Santos, coordenador do Ceap (Centro de Articulação de Populações Marginalizadas). Representante da União na conferência, o embaixador Gilberto Vergne Saboia disse que estão em estudo ações para facilitar o acesso dos negros a universidades públicas. No Ministério do Trabalho, diz, 20% da verba do Fundo de Amparo ao Trabalhador usada em capacitação profissional irá para negros e pardos. Fernanda da Escóssia Fonte: Folha OnLine - Cotidiano (08 de julho de 2001) Página 27 de 73 Encontro debate a participação do negro na formação do país A construção de uma identidade nacional brasileira surgiu e se consolidou no Dia da Independência da Bahia, em 2 de julho de 1823. Com uma intensa participação popular e com a presença de um contigente de maioria negra e sertaneja, as tropas do general Labatut consolidaram o rompimento com Portugal, um ano após a proclamação da independência do país, em 1822. O assunto voltou a ser discutido ontem, no Centro de Estudos Afro-Orientais (Ceao), no encerramento do minicurso sobre a participação do negro na independência da Bahia. Durante a aula de ontem, o diretor do Ceao, professor Ubiratan Castro, falou sobre O negro na formação do estado nacional, tratando não apenas de sua participação direta nos conflitos que antecederam o Dois de Julho como também as razões que a motivaram. "No Dois de Julho os brasileiros manifestaram pela primeira vez o seu desejo de se constituir como nação", explica o professor. Segundo ele, o Brasil nasceu no dois de Julho. Fonte: Correio da Bahia - Aqui Salvador (08 de julho de 2001) Página 28 de 73 Brasil se prepara para Conferência sobre racismo da ONU RIO DE JANEIRO -- O governo brasileiro e a sociedade civil vão discutir durante uma semana o tema racial no país, na Conferência Nacional sobre o Racismo e a Intolerância, que começa nesta sexta-feira noite, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). A partir destes debates será elaborada as linhas mestras do documento que o Brasil apresentará na III Conferência das Nações Unidas contra o Racismo: a Discriminação Racial, a Xenofobia e a Intolerância. A conferência acontecerá em Durban (África do Sul), de 31 de agosto a 7 de setembro. "A discriminação e a intolerância afetam vários setores da sociedade brasileira, mas as principais vítimas do preconceito e da discriminação no Brasil são os negros e os índios", disse à imprensa o embaixador Gilberto Vergne Sabóia, secretário de Estado de Direitos Humanos e presidente do comitê preparatório da posição brasileira para a conferência da ONU. "O Brasil ainda tem de fazer muitos esforços. Aceita os negros em determinados setores como a música, o esporte ou a culinária, onde o acesso ao reconhecimento social é insuficiente e não em outras esferas como a universidade e a política", criticou Sabóia. "Vamos exigir um discurso unificado do governo brasileiro, que às vezes reconhece a existência do racismo e às vezes ignora", disse o diretor do Centro de Populações Marginalizadas (Ceap), Ivanir dos Santos. O censo feito em 1998 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) identifica como negros e mestiços 47% da população brasileira. Ainda segundo o IBGE, a taxa de analfabetismo é de 17,2% no Brasil. Entre os brancos, o percentual é de 10,6%, enquanto que chega a 25,2% entre os mestiços e 28,7% entre os negros. Em 1998, o salário mínimo era de 393 dólares para os brancos e menos da metade para os mestiços (182 dólares) e negros (180 dólares). Sabóia lembrou que também há outros grupos que merecem a atenção das autoridades, como os índios e homossexuais. "Há uma violência muito marcada contra os homossexuais que deve acabar. Em relação aos índios, eles devem poder participar mais ativamente da vida nacional", concluiu o embaixador. Fonte: CNN - Brasil (07 de julho de 2001) Página 29 de 73 Abismo entre brancos e negros não diminuiu, diz Ipea Rio - O "Brasil branco" é 2,5 vezes mais rico do que o "Brasil pobre". A conclusão é de pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), divulgada no Rio e que investigou a desigualdade racial no País. Os dados divulgados no estudo, que revelam profundas diferenças nas condições sócio-econômicas entre as duas raças, levaram o presidente do Ipea, Roberto Martins, a afirmar que "a pobreza neste País tem cor e essa cor é negra". A pesquisa revela que as condições de vida do Brasil melhoraram nos anos 90, mas as diferenças entre brancos e negros não diminuíram. A renda média mensal da população branca é R$ 400 e a dos negros, R$ 170. No início da década, a pobreza do País estava no patamar de 40% da população brasileira. De 1995 até o final da década de 90, caiu para 34%. Mas a participação da população negra (pardos e pretos) na pobreza permaneceu bem superior à dos brancos. No total da população indigente em 99, por exemplo, 68,85% eram negros e 30,73% brancos. O volume de negros pobres é sempre maior apesar de a população negra do País ser menor (45,33%) do que a branca (54,02%). No que diz respeito à fatia dos pobres, confirmando a hierarquia, os negros têm participação de 63,63% no total, enquanto os brancos são 35,95%. Martins afirmou que esses dados são claros na demonstração de que são necessárias "políticas específicas" para a fatia negra da população para "promover a igualdade" entre brancos e negros. Ele destacou os números referentes à educação, apontando que a taxa de analfabetismo entre os brancos com mais de 15 anos atinge 8,3%, enquanto para os negros é de 19,8%. O abismo de oportunidades entre negros e brancos no acesso ao ensino superior, por exemplo - no ano de 99, 89% dos brancos entre 18 e 25 anos não haviam ingressado na universidade, ante 98% dos negros -, acaba gerando distorções entre as duas raças no mercado de trabalho. Martins ressaltou que, no final da década passada, 7,5% dos homens brancos estavam desempregados, enquanto 11% dos negros estavam sem ocupação. As distorções no acesso à educação acabam tendo reflexo também no rendimento médio, sendo que, segundo o presidente do Ipea, os brancos recebem em média salários que são o dobro dos pagos aos negros. Ele avaliou que essa diferença não é apenas um preconceito de cor de quem contrata, mas de "exclusões anteriores acumuladas ao longo das gerações", sendo a principal delas os diferentes níveis educacionais. "Nascer negro no Brasil está relacionado a uma maior probabilidade de crescer pobre", conclui a pesquisa do Ipea. Os resultados do trabalho foram apresentados durante a Conferência Nacional Contra o Racismo e a Intolerância, que será encerrada hoje no Rio. O evento reúne negros, índios, judeus e homossexuais em palestras e debates no campus da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj). Jacqueline Farid Fonte: o Estado de São Paulo - Brasil (07 de julho de 2001) Página 30 de 73 Conferência prepara documento contra o racismo e a intolerência Rio, 8 (Agência Brasil - ABr) - Está sendo concluída, neste momento, a Carta do Rio, documento que contém as posições brasileiras da Conferência Nacional contra o Racismo e a Intolerância, encerrada hoje, no Rio, que serão levadas à III Conferência Mundial de Combate ao Racismo, programada para setembro, na África do Sul. O encontro foi aberto na última sexta-feira, no Teatro Odylo Costa Filho, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), pelo secretário de Estado dos Direitos Humanos, Gilberto Sabóia, e pela vice-governadora do Estado, Benedita da Silva. Alana Gandra Fonte: Radiobras - Agencia Brasil (08 de julho de 2001) Página 31 de 73 Carta do Rio é apresentada na Conferência contra o Racismo Rio, 8 (Agência Brasil - ABr) - O documento conclusivo (Carta do Rio) da Conferência Nacional contra o Racismo e a Intolerância, encerrada hoje no Rio de Janeiro, está sendo apresentado aos participantes do evento, sob a presidencia do embaixador Gilberto Saboia, secretário de Estado dos Direitos Humanos, e deverá ser divulgado ainda hoje. O documento contém 42 páginas e poderá ainda sofrer alterações em função de divergência de opiniões entre os participantes, divididos em 12 grupos temáticos, segundo informação de assessores dada há pouco à Agência Brasil. A Conferência foi aberta na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) no último dia 6. É a primeira vez que governo e sociedade civil se reúnem para discutir a questão racial e o preconceito contra as minorias. A posição brasileira será levada à III Conferência Mundial de Combate ao Racismo, Discriminação, Xenofobia e Intolerância Correlata, que ocorrerá em setembro, em Durban, África do Sul. Alana Gandra Fonte: Radiobras - Agencia Brasil (08 de julho de 2001) Página 32 de 73 Governo promove encontro para discutir racismo no país Brasília, 7 (Agência Brasil - ABr) - Governo e sociedade estão dando um passo importante para o combate ao racismo e à intolerância. Está sendo realizada até amanhã (8), na Universidade do Rio de Janeiro (UERJ), a Conferência Nacional contra o Racismo e a Intolerância. O encontro vai consolidar as propostas brasileiras para a Conferência Mundial contra Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlata. Mais de 1500 representantes das minorias de todo pais, entre negros, judeus, homossexuais, ciganos, portadores de necessidades especiais e índios, estão presentes na UERJ. Entre outras autoridades, participam da Conferência o secretário dos Direitos Humanos, embaixador Gilberto Sabóia, e o secretário executivo do Ministério da Justiça, Paulo de Tarso Ramos Ribeiro. A Conferência Nacional tem como indicadores os cinco temas propostos pela ONU para erradicar a discriminação racial e outras formas de intolerância no mundo. O encontro pretende identificar de que maneira o racismo e a intolerância se manifestam em nosso país. Convocada pela Organização das Nações Unidas em 1998, a conferência da ONU será realizada em Durban, na África do Sul, entre 31 de agosto e 7 de setembro. O objetivo da Conferência Mundial é unir esforços internacionais para a eliminação dessas manifestações de intolerância. Os participantes da Conferência Nacional vão elaborar um documento que será apreciado pelo Comitê Preparatório Nacional durante a análise de recomendações ao documento oficial do governo brasileiro para Conferência Mundial contra o Racismo. Além da discussão sobre o conteúdo do documento, a Conferência Nacional propõe a construção de uma agenda antidiscriminatória e o encaminhamento das estratégias de monitoramento das ações governamentais nas áreas temáticas. Fonte: Radiobrás - Brasil Agora (07 de julho de 2001) Página 33 de 73 ONU pede mais tempo para salvar conferência contra racismo GENEBRA - A comissária dos Direitos Humanos das Nações Unidas, Mary Robinson, pediu na quinta-feira mais tempo para salvar a conferência mundial sobre racismo. Apesar do esforço, um deputado norte-americano disse que pedirá para seu país boicotar o evento a não ser que a linguagem anti-Israel seja retirada da pauta de discussões. Robinson disse em comunicado ao comitê de preparação da conferência: "Não podemos fixar prazos sobre qualquer assunto em particular e todos precisam participam na busca por soluções -- nos níveis mais altos. Faço um forte apelo por isso."As negociações em Genebra, que deverão terminar na sexta-feira, são vistas como a última chance de aprovar textos que serão adotados pela Conferência Mundial da ONU contra o racismo, que acontecerá em Durban, na África do Sul, de 31 de agosto a 7 de setembro. O impasse acontece sobre a linguagem usada para citar os atos cometidos por Israel contra a Palestina. Países árabes, liderados por Egito e Síria, querem classificar como "política racista"as ações de Israel contra os palestinos em territórios ocupados. Os Estados Unidos ameaçam boicotar a conferência, que tem por objetivo combater o racismo, a intolerância e a discriminação, caso a linguagem seja mantida. "A menos que a linguagem seja modificada (...) minha recomendação ao secretário (de Estado Colin) Powell será a de não participarmos como um governo", disse o deputado democrata Tom Lantos, membro da delegação norte-americana. Yaakov Levy, embaixador de Israel em Genebra, disse: "Há uma maneira clara de resolver, tirando a linguagem e focalizando o racismo, não o Oriente Médio. Não é uma questão de tempo -- isso leva minutos". O representante palestino, Nabil Ramlawi, disse que as delegações árabes esperam por um passo conciliatório de Israel após a remoção da linguagem específica que classifica o Sionismo como racismo. Mas disse que as referências ao "sofrimento do povo palestino por causa das práticas racistas israelenses"devem permanecer no texto. "Se a conferência ignorar as práticas de Israel contra o povo palestino significa que será conivente ao proteger racismo e não condená-lo", disse Ramlawi. A União Européia apóia os Estados Unidos e o ponto de vista de Israel de que nenhum conflito deveria ser assinalado no texto final. Robinson também condenou no comunicado o atentado suicida ocorrido na quinta-feira em Jerusalém, que deixou pelo menos 15 mortos. Karen Iley Fonte: Jornal do Brasil - Mundo (10 de agosto de 2001) Página 34 de 73 CONFERÊNCIA CONTRA RACISMO Proposta, criticada pelo Ministério da Educação, será apresentada hoje a Fernando Henrique Delegação brasileira quer cotas para negros O documento oficial que o Brasil levará à Conferência das Nações Unidas contra o Racismo, em Durban, na África do Sul, propõe a adoção de cotas ou outras medidas afirmativas para garantir o acesso de negros às universidades públicas brasileiras. A inclusão da política de cotas é, na prática, uma derrota do Ministério da Educação, que participa do comitê brasileiro preparatório para a conferência e tem se posicionado contra a definição de cotas para os negros nas universidades -antiga reivindicação do movimento negro. O relatório, a cujo teor a Folha teve acesso com exclusividade, não estabelece um percentual como cota. Setores do movimento negro defendem cotas de até 50% (implementadas gradualmente) para negros e seus descendentes. O documento foi aprovado anteontem pelo comitê preparatório para a conferência da África do Sul -entre 31 de agosto e 7 de setembro. Será apresentado hoje ao presidente Fernando Henrique Cardoso. Esse comitê, criado no ano passado por decreto presidencial, reúne representantes do governo e da sociedade civil. É presidido pelo secretário de Estado de Direitos Humanos, embaixador Gilberto Vergne Saboia. O comitê ficou incumbido de elaborar o documento oficial que o Brasil defenderá em Durban. O relatório contém o diagnóstico da situação do racismo e da discriminação no Brasil, lista medidas já adotadas pelo governo brasileiro e propõe novas medidas de combate ao problema. Isso não significa, porém, que todas as propostas contidas no documento serão implementadas pelo governo brasileiro. É um documento de orientação de políticas para os órgãos executivos responsáveis, mas não tem poder deliberativo. É mais um instrumento de pressão para superar as resistências dentro do próprio governo a muitos pontos -como a questão das cotas nas universidades públicas. Outra proposta do documento é a recomendação para que o Estado brasileiro reconheça que a escravidão de africanos e indígenas, o tráfico transatlântico de escravos e a marginalização de seus descendentes configuraram violações aos direitos humanos fundamentais. O documento não fala em obrigatoriedade de reparação pecuniária para os descendentes de indígenas e negros. Propõe "medidas reparatórias" por meio de políticas públicas de superação da desigualdade. Outra recomendação é a alteração do artigo 61 do Código Penal brasileiro, para incluir, entre os agravantes de crimes, o racismo, a xenofobia e formas correlatas de intolerância. Outra proposta, destinada a combater a discriminação racial no trabalho, é a alteração dos critérios de desempate em licitações públicas. Hoje, quando há empate entre duas empresas concorrentes, a escolha se dá por sorteio. O relatório propõe que seja considerada vitoriosa a empresa que tiver mais Página 35 de 73 negros, homossexuais e mulheres distribuídos verticalmente em seus quadros -ou seja, em diversos níveis de hierarquia. Ivanir dos Santos, diretor do Ceap (Centro de Articulação de Populações Marginalizadas) e um dos representantes do movimento negro no comitê, disse que o documento brasileiro é avançado. Para Santos, a expressão "ou outras medidas afirmativas", incluída no parágrafo que fala de cotas, não pode servir como válvula de escape para que o Ministério da Educação continue se negando a facilitar o acesso de negros às universidades públicas. "As propostas desse documento precisam ser implementadas. Ficará difícil para o Brasil defender esse documento em Durban e não tomar medidas concretas internamente", afirmou Santos. A base para a elaboração do relatório brasileiro foram as propostas apresentadas na Conferência Nacional contra o Racismo, realizada em julho, no Rio. Outras seções do documento trazem recomendações para combater a discriminação contra portadores de deficiência. Membros do comitê chegaram a propor a criação de uma espécie de observatório para pressionar os órgãos do governo pela implementação efetiva do relatório. Uma proposta ainda em análise é a criação de um conselho nacional de combate ao racismo. Fernanda da Escóssia Fonte: Folha de São Paulo - Mundo (22 de agosto de 2001) Página 36 de 73 EUA vão boicotar Conferência sobre Racismo se Israel for acusado O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, voltou a ameaçar boicotar a Conferência Mundial contra o Racismo que começa na próxima sexta-feira, dia 31 de agosto, em Durban (África do Sul), se o encontro mantiver o tom crítico em relação a Israel. "Temos sido muito claros reiterando o propósito de não enviar nenhum representante se a conferência tiver Israel como alvo, se continuar identificando sionismo com racismo", afirmou o presidente em Crawford (Texas), onde passa as férias. Segundo Bush, os Estados Unidos não participarão da conferência, que vai até 7 de setembro, se for usada para isolar Israel, "nosso aliado e amigo". Washington se opõe à aprovação durante o encontro de um projeto dos países árabes que identifica o sionismo com racismo, assim como aos pedidos africanos de indenização para os descendentes das vítimas da escravidão e do colonialismo. "Acho que a questão das reparações já foi solucionada", afirmou Bush sem dizer como. "A questão fundamental é saber se Israel será tratado com respeito." Fonte: Folha Online - Mundo (25 de agosto de 2001) Página 37 de 73 ENTREVISTA DA 2ª Secretária da conferência quer que países elaborem planos contra racismo e discriminação "Encontro deverá gerar ação concreta" Mary Robinson, alta comissária da ONU para Direitos Humanos e secretária-geral da 3ª Conferência contra o Racismo, em entrevista concedida em Genebra, na Suíça FERNANDA DA ESCÓSSIA DA SUCURSAL DO RIO Países como o Brasil, com problemas de racismo e discriminação, serão chamados a elaborar um programa de ação concreta para enfrentar esses problemas. É o que afirma a alta comissária da ONU para Direitos Humanos, a irlandesa Mary Robinson, 57, maior autoridade das Nações Unidas no setor e secretária-geral da 3ª Conferência contra o Racismo, a Discriminação, a Xenofobia e a Intolerância Correlata. O encontro se realizará de sexta-feira até o dia 7 de setembro em Durban, na África do Sul. Para Robinson, a conferência "não será só mera discussão". Ela diz também que, mesmo com eventuais ausências dos EUA e de Israel (que não decidiram ainda se irão), a conferência fará progressos no combate mundial ao racismo. Robinson concedeu entrevista à Folha por telefone, de Genebra, na Suíça. Folha - Qual a importância da Conferência contra o Racismo? Mary Robinson - Acho que a importância dessa conferência mundial é, em primeiro lugar, o tempo em que ela se realiza, pós-apartheid e no começo de um novo século. Em segundo lugar, temos uma grande agenda contra o racismo, a discriminação, a xenofobia e a intolerância. Concerne diretamente a cada país, porque todos os países têm problemas nessas áreas. Será a primeira conferência em que a comunidade mundial irá começar por se referir aos erros do passado. Folha - Justamente os erros do passado, com desculpas e compensações possíveis, são o ponto mais polêmico. Como isso será resolvido? Robinson - É muito importante que o processo de preparação para Durban tenha trazido à tona como é significativo se referir aos erros do passado: os erros com povos indígenas, com aqueles que sofreram o tráfico escravo, a exploração do colonialismo. O reconhecimento desses erros é um caminho para afirmar a equidade e a dignidade humanas. Isso irá revigorar e dar nova vitalidade à aliança global mundial para combater o racismo contemporâneo. Pela primeira vez a comunidade mundial estará junta em temas como racismo e discriminação, encarando o passado. Essa será a mais significativa contribuição da conferência de Durban. Folha - Mas os países não estão juntos, não há unanimidade sobre reparações. Robinson - Sim, são temas muito difíceis e conflituosos. Mas acredito que possamos fazer Página 38 de 73 progressos em Durban. Temos reconhecido a necessidade de solidariedade e de programas de desenvolvimento em apoio à África, de apoio à educação indígena e outros grupos vulneráveis. Temos um programa prático para atacar a necessidade de cada país de introduzir um plano contra o racismo e a discriminação. Folha - A senhora acha que as políticas internacionais de cooperação podem substituir a demanda por reparações? Robinson - Há muitas discussões. Não é possível prever como essa discussão será concluída, mas parece que há um envolvimento político sério para ver que formas de parceria e solidariedade essa conferência pode produzir. A conferência está tentando definir o sentido do termo reparações, e essa definição pode incluir muitas coisas. Eu subscrevo fortemente o princípio de que, se você admite seriamente o erro, você pelo menos diz que irá seguir os próximos passos. Se são só palavras, não têm o mesmo impacto do que se as palavras têm implicações. Parece que o debate está se movendo nessa direção. Estou tentando encorajar o que para mim é um importante valor humano, o valor da solidariedade. O primeiro artigo da declaração de Direitos Humanos se refere ao espírito de fraternidade. Onde vemos esse espírito de fraternidade? Em programas de desenvolvimento, em temas como a necessidade de haver mais equidade no nosso mundo moderno e globalizado. Espero que os delegados dêem prioridade a isso. Folha - Qual sua avaliação da questão do Oriente Médio, outro ponto polêmico da conferência? Robinson - Sou a secretária-geral da conferência, tenho de tratar muito cuidadosamente as questões políticas. Defendo que não é apropriado reabrir a discussão sobre o sionismo (movimento político e religioso iniciado no século 19 pela criação de um Estado judaico) como forma de racismo. Defendo isso firmemente. Também tomo posição ao dizer que, no meu ponto de vista, em relação ao Oriente Médio, não será possível não fazer referência a essa situação. Temos de ter algum texto que se refira à situação dos territórios ocupados. Folha - O Nepal quer discutir o fim da política de castas, mas a Índia não aceita. Isso entrará na agenda? Robinson - É um tema sobre o qual grupos da sociedade civil no mundo todo estão fazendo campanhas. É uma interessante dimensão da conferência de Durban, a ligação de temas de uma região para outra. Há uma aliança forte da sociedade civil sobre isso. Talvez o tema não chegue ao texto final, mas alcançou muito mais visibilidade e apoio da comunidade internacional. E será assim depois de Durban. Colocar isso na declaração final é um problema, porque o texto é negociado por representantes de governos. Folha - Os Estados Unidos e Israel, insatisfeitos com as negociações sobre o Oriente Médio, ameaçam boicotar a conferência. Se eles não forem, a reunião ficará enfraquecida? Robinson - É claro para mim que todos os países irão a Durban, é uma conferência muito importante. Os EUA não participaram das duas primeiras conferências, e há dificuldades. Os EUA querem muito participar, o secretário de Estado, Colin Powell, tem mostrado interesse pessoal na conferência. Estou esperançosa de que os EUA participem, é importante, porque eles têm longa experiência com o combate ao racismo, têm boas práticas e poderiam contribuir ativamente. Se, por razões políticas, não for apropriado, é uma pena, mas a conferência ainda assim será capaz de avançar e produzir um bom resultado. Espero que os EUA e Israel participem. Folha - A senhora esteve no Brasil no ano passado. Como avalia a situação do racismo no país? Robinson - Minha primeira visita ao Brasil foi como presidente da Irlanda. Na visita do ano passado, Página 39 de 73 como comissária da ONU, havia muitas discussões com as ONGs e os representantes dos grupos negros sobre a discriminação. Fiquei impressionada com a comunidade negra, muito ativa, e os grupos de defesa dos direitos humanos. Para países como o Brasil, a conferência de Durban é um novo começo. Se tivermos uma virada em Durban, como espero que tenhamos, será o começo de um novo combate ao racismo. Países como o Brasil serão chamados a produzir um plano detalhado de ação para combater o racismo, a discriminação e a xenofobia. Os grupos da sociedade civil estarão monitorando a implementação dos compromissos feitos em Durban. Sei que há problemas no Brasil, mas todos os países têm problemas. O bom em relação ao Brasil é que há a admissão desses problemas. Na minha visita, os grupos negros disseram que os problemas deles não tinham atenção suficiente, que havia discriminação e pobreza terríveis. Essa conferência, eu espero, não será apenas uma mera discussão. Devemos ter um programa prático que faça a diferença. Folha - Como garantir que a conferência não seja, como a senhora disse, só mera discussão? Robinson - Estou confiante nisso. Já temos um bom nível de acordo sobre o texto do programa de ação concreta. Esse texto pede aos países que adotem uma programa de ação prática no nível nacional. Essa ação irá incluir melhoras na legislação contra o racismo, assegurando que haja apoio às vítimas, que haja educação contra o racismo. Haverá uma grande agenda e espero que grupos da sociedade civil desenvolvam formas de monitorar a implementação dessa agenda. Folha - Como o alto comissariado pode assegurar que esse programa será cumprido? Robinson - Essa é uma questão muito relevante. Posso agir em parceria próxima com os governos, com diálogos para que eles implementem o que assinaram em Durban. Há a sociedade civil. Há mecanismos na área de direitos humanos, como os relatórios. No nível internacional, há um trabalho de apoio, mas admito que o nível nacional é o mais importante. A pressão no nível nacional será mais efetiva de parte da sociedade civil, que conhece a situação em detalhes e pode cobrar do governo o cumprimento de suas obrigações. Se pensarmos na situação de mulheres, houve uma mudança quando a conferência de Pequim (1995) disse claramente que direitos de mulheres são direitos humanos. Quero que a conferência de Durban mande a mesma mensagem clara sobre o racismo. Fonte: Folha de São Paulo - Internacional (26 de agosto de 2001) Página 40 de 73 CONFERÊNCIA CONTRA RACISMO Divisão diz respeito a quem pode ser incluído sob "guarda-chuva" dos direitos humanos Países discordam sobre quem é vítima FERNANDA DA ESCÓSSIA DA SUCURSAL DO RIO Do racismo aos direitos de homossexuais, das castas hindus ao tráfico de mulheres, da luta dos povos indígenas às perseguições contra ciganos e refugiados, as histórias de exclusão no mundo globalizado ganham um palco a partir desta semana. Elas serão o tema da 3ª Conferência das Nações Unidas contra o Racismo, a Discriminação, a Xenofobia e a Intolerância Correlata, que será realizada de 31 de agosto a 7 de setembro em Durban, na África do Sul. Já nas reuniões preparatórias para a conferência, o grande debate era: o que pode ser incluído no grande guarda-chuva dos direitos humanos? Um exemplo: o Nepal quer incluir na agenda de Durban o tema das castas, mas a Índia ameaça faltar ao encontro da ONU por não aceitar essa possibilidade. Outro debate é o que questiona se mulheres, homossexuais e portadores de deficiência podem ser incluídos entre as vítimas do racismo e da discriminação. Alguns países de formação religiosa tradicional não aceitam a ampliação da lista de vítimas, que até então incluía negros, indígenas, refugiados e migrantes. Reparações O debate mais acalorado é sobre os chamados "fatos do passado" -a escravidão, o tráfico de escravos e o colonialismo-, bem como o reconhecimento do que eles representaram e que tipo de "reparação" ou "compensação" pode ser adotado. Os Estados Unidos e a União Européia não aceitam reparações. Os países africanos estão tentando negociar políticas internacionais de cooperação -o que pode representar sua inclusão num novo ritmo de desenvolvimento. "O grupo africano está se movendo para o consenso de que precisamos de alguma forma de compensação ou reparação, mas isso deve ser dado na forma de programas que nos ajudem na reconstrução da África como um todo", afirmou à Folha o vice-ministro de Relações Exteriores da África do Sul, Aziz Pahad, 65. No debate sobre o Oriente Médio, países árabes propuseram a inclusão do sionismo (movimento político e religioso iniciado no século 19, visando à criação de um Estado judaico) entre as formas de racismo. Essa formulação tem sido rejeitada. Os Estados Unidos e Israel ameaçam boicotar a conferência. O encontro de Durban irá produzir dois documentos: uma declaração geral, com a identificação das formas contemporâneas de racismo e discriminação, e um programa para ações concretas, com propostas de combate ao problema. São esperadas cerca de 13 mil pessoas, entre membros de delegações oficiais e ativistas de organizações não-governamentais. As reuniões das delegações nacionais só começam na sexta-feira. Na terça, tem início o fórum das ONGs. Página 41 de 73 Protestos Grupos de ONGs sul-africanas estão organizando protestos em defesa do ressarcimento para vítimas da escravidão. A primeira grande manifestação está, até agora, prevista para o dia 1º de setembro, às 10h. Pela internet já estão correndo convocações para o evento, chamado pelos organizadores de Marcha Mundial contra o Racismo. Os militantes são convidados a ajudar a escolher um slogan para a mobilização. Pede-se também que eles levem fitas para que possam ser ligados uns aos outros. Já estão sendo organizadas alianças transnacionais entre as minorias. A Aliança Afro-Latina, por exemplo, formada por militantes negros da América Latina e do Caribe, vai se juntar também aos grupos indígenas. A idéia dos militantes é aumentar o lobby a ser exercido sobre as delegações oficiais, para influenciar no texto final da declaração de Durban. Aids O governo da África do Sul também enfrentará protestos, principalmente de grupos de sem-terra e organizações envolvidas no combate à Aids. O governo será acusado de falhar no controle da doença. Pahad disse à Folha que as manifestações serão perfeitamente permitidas, desde que sejam pacíficas. "Não aceitaremos violência", afirmou. Fonte: Folha de São Paulo - Mundo (26 de agosto de 2001) Página 42 de 73 CÚPULA DE DURBAN Negros americanos exigem indenização Proposta de compensar financeiramente descendentes de escravos que trabalharam nos Estados Unidos será defendida na conferência da ONU AFP e El País As divisões raciais persistem nos Estados Unidos, mas a gigantesca comunidade negra de hoje — cerca de 35 milhões numa população de 282 milhões — é mais orgulhosa, bem-sucedida, e exigente. Ron Walters, sociólogo da Universidade de Maryland, defenderá na Conferência das Nações Unidas contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlata, em Durban, África do Sul, proposta de que os descendentes de negros escravos nos país recebam indenizações. a Os simpatizantes da medida querem que essas indenizações sejam primeiro simbólicas, antes de discutir a quantia exata que o Estado teria de desembolsar. O processo seria semelhante ao ocorrido em 1987, quando o Congresso destinou US$ 1,2 bilhão aos japoneses que moravam nos Estados Unidos como indenização por prisões abusivas durante a Segunda Guerra Mundial. Segundo Walters, os negros e outras minorias americanas, como os hispânicos, sofrem taxas desproporcionais de encarceramento — são quase 60% dos 6,5 milhões de presos. Um estudo divulgado pela Anistia Internacional no final de julho assegura que os homens negros têm umaprobabilidade oito vezes maior de serem condenados nos Estados Unidos que os brancos. Outra pesquisa da Anistia sobre 2 mil homicídios no estado da Geórgia concluiu que a condenação à pena de morte foi pronunciada com uma freqüência 11 vezes maior quando um negro matou um branco que quando um branco matou um negro. A organização pediu ao presidente americano, George W. Bush, que participe da próxima conferência da ONU entre 31 de agosto e 7 de setembro, mas ele ameaça não ir a Durban se os países que utilizaram trabalho escravo forem obrigados a pagar indenizações. POBREZA HERDADA Walters não está sozinho em sua luta. Uma campanha de petições acontece em 50 estados americanos para apoiar projetos de lei sobre indenização que estão no Congresso, segundo o diário Afro American, de Washington. Os incentivadores da medida asseguram que a indenização permitirá compensar os séculos de trabalho não pago dos escravos, que teriam possibilitado a criação da riqueza desfrutada pelos brancos. Essa postura é reforçada porque as promessas de compensação feitas em 1865, depois da abolição da escravatura, foram esquecidas. ‘‘O racismo é um fato nos Estados Unidos, todo mundo sabe disso’’, afirma Walters, acrescentando que a pobreza herdada da escravidão é uma das causa da discriminação que ainda existe. Um exemplo foi o assassinato, em abril, do negro Timothy Thomas por um policial branco que disparou ao suspeitar que o jovem de 19 anos tinha uma arma dentro do carro. O crime, ocorrido em Cincinnati, provocou numa revolta que durou mais de uma semana e causou sérios prejuízos à cidade. Thomas foi a 15ª vítima de um policial em Cincinnati desde 1995. Coincidência ou não, todos os mortos eram negros. Página 43 de 73 O escritor negro Shelby Steele acredita que a indenização defendida por Walters aumentaria a ‘‘cultura de vitimização’’ dos afro-americanos. Segundo ele, essa cultura impede a solução dos verdadeiros problemas que a comunidade enfrenta: ‘‘Hoje, 70% de todos as crianças negras nasceram fora do casamento e 68% dos crimes violentos são cometidos por negros’’, freqüentemente por causas relacionadas às drogas. ACESSO À UNIVERSIDADE Embora a delegação brasileira esteja pronta para defender na conferência de Durban a criação de cotas para o ingresso de alunos negros nas universidades federais, o ministro da Educação, Paulo Renato de Souza, disse que medida será um fracasso se não for acompanhada de outras ações. ‘‘Não me oponho às cotas, mas só as cotas não irão resolver o problema’’, afirmou. Para o ministro, a solução ideal contra a desigualdade de acesso às universidades seria a instituição de metas para que toda a população tenha acesso aos mais altos níveis de educação. (AE) Papa critica o racismo O papa João Paulo II condenou ontem a discriminação racial ‘‘que degrada a humanidade e é um pecado ofensivo a Deus’’. A mensagem foi dada durante a oração dominical do Angelus, no palácio de verão de Castelgandolfo, na Itália, a cinco dias da abertura da Conferência das Nações Unidas contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlata, na África do Sul. O papa lamentou também o aumento do nacionalismo, da violência étnica e da discriminação nas últimas décadas. ‘‘Para acabar com o racismo é preciso alimentar a cultura da hospitalidade, reconhecendo em cada homem um irmão e uma irmã para percorrer o caminho da paz e da solidariedade’’, acrescentou o pontífice, aplaudido por centenas de pessoas na praça em frente ao palácio. (AFP) Fonte: Correio Braziliense - Mundo (27 de agosto de 2001) Página 44 de 73 CONFERÊNCIA Países da ONU vão fazer mea-culpa por racismo O Brasil vai participar da conferência sobre o racismo com uma comitiva de 50 representantes do governo e de entidades não-governamentais. Há uma proposta de criação de vagas para negros nas universidades brasileiras Os países-membros das Nações Unidas estão perto de fazer uma mea-culpa pelos estragos raciais causados pelo colonialismo nos continentes africano, asiático e europeu. Esboço da Declaração contra o Racismo, que será apresentado na 3ª Conferência das Nações Unidas sobre a Discriminação Racial, a Xenofobia e a Intolerância, em Durban, na África do Sul, do dia 31 até 7 de setembro, reconhece que a escravidão e outras formas de servidão contribuíram significativamente para os conflitos armados e o desrespeito à diversidade cultural. Relatório com 94 pontos reafirma a Declaração Universal dos Direitos Humanos e sugere ações para garantir melhores condições de vida a populações que ainda sofrem os efeitos da má organização dos Estados, especialmente comunidades negras, indígenas e de imigrantes asiáticos. O documento é inspirado na luta ''heróica'' da população da África do Sul contra a institucionalização do apartheid, sistema que dividiu o país entre negros e brancos. Com 24 páginas, o esboço é uma prévia dos conflitos de interesses que prometem marcar o encontro de Durban. Frases inteiras do documento foram sublinhadas, pois dependem de negociação final. ''Muitos pontos não tiveram consentimento de todos os países que participaram dos trabalhos'', diz o secretário nacional dos Direitos Humanos, Gilberto Sabóia. O texto foi feito no início deste mês, em Genebra. Um dos pontos de conflito é o artigo 21, que aponta relação entre o racismo, a xenofobia e a intolerância correlata com ''fatores históricos, como escravidão e outras formas de servidão e colonialismo''. É aí que nem todos os países, especialmente os desenvolvidos, querem dar o braço a torcer. O documento ressalta que a estrutura dos Estados, especialmente na África, levou mulheres e crianças a condições desumanas e de extrema pobreza. ''Todos faremos uma mea-culpa'', antecipa Sabóia em Brasília. A ONU afirma que boa parte dos Estados políticos e instituições não reconhecem valores e características raciais. E sugere a implantação de programas educacionais, que respeitem diferenças, na promoção da igualdade social. ''Nós afirmamos que é preciso colocar um fim à impunidade nas violações dos direitos humanos'', diz o relatório. Os imigrantes originários dos países pobres têm capítulo especial no relatório. A ONU propõe ações para impedir discriminação de órgãos como a polícia com as comunidades estrangeiras e programas de qualificação profissional. A situação dos refugiados é outro ponto destacado pelo relatório. Os tratados internacionais ainda não conseguiram garantir a assistência aos perseguidos políticos. Uma comitiva de 50 representantes do governo e de entidades não-governamentais levará à conferência de Durban documento com propostas do Brasil para a eliminação do racismo. Aprovado no último dia 20, o documento defende, por exemplo, cotas de vagas para negros nas universidades. O governo reconhece, porém, que para a medida ser colocada em prática serão necessárias inúmeras experiências-piloto. Fonte: Jornal O Povo - Brasil (28 de agosto de 2001) Página 45 de 73 Conferência em Durban é marco contra racismo Johannesburgo – Apesar de uma ameaça de boicote por parte dos Estados Unidos, a alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Mary Robinson, afirmou ontem que a conferência mundial sobre o racismo, que começará na próxima sexta-feira em Durban, África do Sul, “dará um passo decisivo na maneira de encararmos os erros do passado com o objetivo de construirmos um futuro melhor”. Mary Robinson afirmou estar sentindo-se encorajada pela atmosfera construtiva das últimas semanas em torno da conferência. Ela disse, no entanto, que será necessária “a participação de todos os países, com seus mais altos representantes, para demonstrar nossa determinação em lutar contra esta praga (o racismo)”. Mesmo assim, o secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, anunciou anteontem que não irá a Durban devido a uma proposta árabe para igualar o sionismo ao racismo. A Conferência Mundial contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e Intolerâncias Relacionadas será realizada entre 31 de agosto e 7 de setembro. Fonte: Jornal A Tarde - Internacional (28 de agosto de 2001) Página 46 de 73 Encontro sobre racismo promete ser polêmico Brasileira será a relatora do encontro em Durban, na África do Sul, para discutir discriminação e xenofobia Durban A 3ª Conferência das Nações Unidas contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e a Intolerância começa hoje em Durban, na África do Sul, cercada de polêmica. Até o dia 7 de setembro, representantes de mais de cem países estarão reunidos na tentativa de discutir soluções para combater o problema. O Brasil vai enviar uma comitiva de 45 delegados ao encontro. Não será num clima muito otimista à espera de resultados que o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, vai abrir as discussões hoje. Apesar da divulgação, a Conferência de Durban não contará com a participação de nenhum chefe de Estado de países desenvolvidos. Cuba será o único país da América Latina que estará representado em nível de chefe de Estado. As reuniões preparatórias com representantes de organizações não-governamentais já deram uma idéia do que deve ocorrer no plenário até o final da reunião. Os árabes querem que Israel seja apontado como um Estado racista, devido a sua política contra os palestinos. O esboço de declaração das Nações Unidas não faz relação entre sionismo e racismo, mas diz que “a ocupação estrangeira baseada nos assentamentos é um novo tipo de apartheid, um crime contra a humanidade”. Os israelenses mantêm assentamentos nos territórios palestinos ocupados. Irritado com o que chamou de “uma tribuna antiisraelense”, o governo americano decidiu que não enviaria seu representante, o secretário de Estado, Colin Powell, à conferência. No lugar de Powell, o presidente dos EUA, George W. Bush, anunciou na quarta-feira que uma delegação do segundo escalão do governo iria a Durban. A disputa entre árabes e israelenses ofuscou o que deveria ser o ponto mais polêmico da reunião: a proposta africana de receber compensações pelos séculos de escravidão a que os negros foram submetidos. Os Estados Unidos também já haviam se manifestado contra a medida. O governo brasileiro vai apresentar outra proposta polêmica no encontro: a criação de uma reserva de vagas para negros no sistema universitário. Os contrários à tese citam os EUA como modelo de que este tipo de ação não é o caminho mais rápido para que os negros trenham acesso à universidade. Ontem, a brasileira Edna Roland foi indicada como relatora da conferência. Maranhense, Edna é psicóloga social, milita no movimento negro desde os anos 80 e coordena a ONG Fala Preta!, em São Paulo. A relatoria é um cargo-chave na conferência, pela possibilidade de intervenção nos documentos finais, além de um sinal de prestígio do Brasil nas negociações. – Não ambicionei essa função, mas aceitei a indicação e agora encaro como um desafio – afirmou ela. Três mil policiais e soldados farão a segurança em Durban hoje. A estimativa é de que 10 mil manifestantes saiam às ruas da cidade para protestar. Fonte: Bol - Mundo (31 de agosto de 2001) Página 47 de 73 Cúpula de Durban Conferência é discriminada Dos 189 países participantes do encontro contra o racismo na África do Sul, apenas 15 enviaram chefes de Estado e nenhum deles representa uma nação do Primeiro Mundo Da Redação Com agências Racismo deve ser problema apenas de países pobres. Pelo menos é o que se conclui do pequeno comparecimento de representantes do Primeiro Mundo à 3ª Conferência das Nações Unidas contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e a Intolerância Correlata, que começa hoje e vai até 7 de setembro em Durban (África do Sul). Dos 15 chefes de Estado presentes, nenhum é de país rico. A maioria é da África. A ONU tentou evitar boatos sobre o fracasso da cúpula alegando que o encontro é ministerial. Mas, dos europeus, só a Itália mandou seu ministro das Relações Exteriores. A maior ausência é a dos Estados Unidos, que decidiram mandar apenas uma minidelegação liderada pelo vice-assistente do secretário de Estado para organizações internacionais. ‘‘Nem os americanos conseguiram erradicar o racismo. Eles precisam dessa conferência tanto quanto nós’’, reclamou o vice-presidente sul-africano, Nkosa Zuma. De acordo com assessores próximos a Colin Powell, o secretário de Estado, ele queria ir ao encontro, mas foi dissuadido pelo presidente George W. Bush. É melhor desagradar ao eleitorado negro — menos poderoso e organizado — que a influente elite judaica. Na véspera da abertura da conferência os ânimos se exaltaram em Durban. Ativistas palestinos invadiram um debate sobre anti-semitismo organizado por 20 grupos judeus aos gritos de ‘‘sionismo é racismo, Israel é apartheid’’. A polícia evitou a briga. Alguns delegados israelenses deixaram a cidade. Limpeza étnica O rascunho da declaração final não compara — como queriam a maioria dos países africanos e asiáticos — o sionismo ao racismo. Mas o texto que deve ser aprovado expressa a ‘‘preocupação pela prática de discriminação racial contra os palestinos’’ e define como ‘‘limpeza étnica’’ o tratamento dado aos árabes que moram em assentamentos. Israel, que também ameaçou boicotar a conferência, anunciou que enviará delegados de segundo escalão. O Canadá seguiu o exemplo norte-americano — em defesa dos israelenses, o ministro das Relações Exteriores enviará apenas o secretário de Estado para o multiculturalismo. Na ausência de outros líderes, os destaques do encontro serão o presidente cubano, Fidel Castro, e o líder palestino Yasser Arafat. Kofi Annan, secretário-geral da ONU, fez um discurso tenso ontem no Fórum de Organizações Não-Governamentais, durante o qual foi interrompido por gritos de ativistas palestinos e representantes da casta indiana dalit. ‘‘Dialoguemos. Vamos sustentar um diálogo sério’’, respondeu Annan. Os grandes temas em debate ESCRAVIDÃO Página 48 de 73 Países africanos e Organizações Não-Governamentais (ONGs) exigem o reconhecimento da escravidão como um crime contra a humanidade e indenizações às famílias das vítimas. Há polêmica sobre essa reivindicação, pois as ex-colônias européias e os Estados Unidos não querem que esse pedido abra caminho para processos visando compensações financeiras. O Brasil é contra o pagamento de indenizações, mas levou a Durban um compromisso: ‘‘O Estado brasileiro reconhece a sua responsabilidade histórica pelo escravismo e pela marginalização econômica, social e política dos descendentes de africanos’’, diz o documento oficial. O Brasil também reconhece que a escravização de africanos e indígenas, o tráfico transatlântico de escravos e a marginalização de seus descendentes configuram graves violações aos direitos humanos. ‘‘A linguagem que vamos usar ainda está em negociação. Os países europeus admitiriam fazer um pedido de desculpas em geral sem fazer vinculação entre desculpas e reparação em dinheiro’’, diz o secretário de Direitos Humanos, Gilberto Saboia. SIONISMO O conflito no Oriente Médio ocupará um lugar central em Durban. Os chanceleres dos Estados Unidos e do Canadá desistiram de participar da Conferência por causa do caráter antiisraelense de alguns documentos e dos debates preparatórios. Há uma proposta dos países árabes de considerar o sionismo como uma forma de racismo. O Brasil e a maioria dos países ocidentais são contrários à iniciativa. Para os árabes, Israel segrega os palestinos, privando-os de direitos básicos. O chefe do departamento político (Relações Exteriores) da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), Faruk Kaddumi, disse que a delegação palestina em Durban pedirá uma ‘‘condenação firme das agressões israelenses’’. Será difícil para os árabes aprovar a proposta, mas a possibilidade existe, pois eles poderiam obter o apoio dos africanos. Aos olhos do Brasil, não é apropriado afirmar que sionismo é uma forma de racismo. ‘‘Essa proposta significa forçar a questão, pois acusar Israel de racista é invalidar ou desqualificar o país’’, afirmou o secretário de Direitos Humanos, Gilberto Saboia. POVOS INDÍGENAS A Conferência discutirá o uso da expressão ‘‘povos indígenas’’. A adoção do termo é polêmica, pois muitos países temem que, se aprovado, seja utilizado pelos índios para tentar a autodeterminação, o que poderia desencadear a exigência de soberania territorial. Nesse ponto, há uma diferença entre os indígenas do Norte e do Sul das Américas. Muitos grupos da América do Norte exigem autodeterminação, mas no Sul a maioria não planeja se separar dos estados-nação. EUA, França e Grã-Bretanha rejeitam a adoção do termo, enquanto os países latino-americanos, entre eles o Brasil, aprovam, desde que isso não signifique o direito à autodeterminação. ‘‘O conceito povo assegura o direito à cultura própria, à demarcação das terras e ao acesso ao desenvolvimento econômico’’, explica Marcos Terena, que representou a Fundação Nacional do Índio (Funai) em Genebra, na última reunião preparatória da Conferência. HOMOSSEXUAIS Um dos temas mais polêmicos da conferência refere-se à intolerância. Nas três reuniões preparatórias, o homossexualismo foi tratado com reverência, mas aparece entre colchetes no texto preparatório da Conferência contra o racismo (colchetes na linguagem diplomática significam que o tema é controvertido e não é aceito como forma de discriminação). Além disso, o assunto pode não chegar à mesa de discussão, pois países árabes e o Vaticano rejeitam a aceitação da homossexualidade como forma de relacionamento. Por outro lado, se aprovada a não-discriminação da liberdade de orientação sexual, muitas leis nacionais devem ser mudadas, como a do casamento Página 49 de 73 entre pessoas do mesmo sexo, o direito à pensão e à adoção de crianças. No Brasil, a discussão entre governo e parte da comunidade gay levou à preparação de um documento que, entre outras coisas, reconhece haver discriminação sistemática dos homossexuais, criminalizando a ofensa a gays. País com cicatrizes abertas The Washington Post Quando Nelson Mandela foi libertado, em 1990, após 27 anos de prisão, o apartheid foi desfeito e substituído pela euforia do início da criação de uma democracia multirracial na África do Sul. Dez anos depois, as feridas causadas por mais de quarenta anos de controle da minoria branca ainda estão abertas, e a ‘‘Nação Arco-Íris’’ ainda está dividida em quase todos os aspectos de sua vida cotidiana. Como anfitrião da 3ªConferência das Nações Unidas contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e a Intolerância Correlata, que começa hoje, na cidade sul-africana de Durban, o país se orgulha de seus progressos rumo à reconciliação, mas admite que a luta contra o racismo está longe do fim. Da posse de terras à habitação e à maquiagem das equipes de esporte nacionais, as questões raciais ainda dominam o país, que jogou fora o racismo institucional e possui uma das constituições mais progressistas do mundo. Ressentimentos A pobreza ainda está quase que exclusivamente ligada à cor e os brancos controlam as fontes de riqueza do país. O sucessor de Mandela, o presidente Thabo Mbeki, chegou à conclusão de que a África do Sul está dividido em duas nações — a branca e rica, e a negra e pobre. As desigualdades causam ressentimentos, suspeitas e intolerância. Muitos negros se perguntam quais são os frutos da democracia. ‘‘Para pessoas comuns, as relações não mudaram desde o apartheid. Os brancos ainda mandam e moram nos subúrbios enquanto os negros são pobres e vivem em guetos’’, disse o chefe da Comissão de Direitos Humanos da África do Sul, Barney Pityana. ‘‘A estrutura da sociedade não mudou. As relações sociais entre negros e brancos também não. Até mesmo em escolas integradas os pais não se misturam, nem como vizinhos’’, disse Pityana. O ressentimento entre negros sul-africanos está enraizado na crença de que muitos brancos fracassaram nas mudanças e ainda vivem no tempo do apartheid, convencidos de que são superiores e da idéia de que o país está separado do resto da África. Mbeki disse, em uma conferência nacional sobre racismo no ano passado, que os brancos, ao confrontarem o racismo, estavam impedindo a construção de uma nova sociedade. ‘‘Apesar de nossas intenções coletivas, o racismo continua a ser nosso companheiro’’. ‘‘Podemos não estar uns contra os outros — na luta contra o apartheid —, mas também não estamos uns com os outros’’, disse Mbeki. Uma pesquisa divulgada este mês pelo Instituto de Relações Raciais da África do Sul revelou que 65% das pessoas confiam menos nos compatriotas hoje do que antes da democracia. A maioria dos entrevistados acha que as desigualdades aumentaram e que o racismo é um problema sério no país. A GAFE DE BUSH Página 50 de 73 Em mais uma de suas folclóricas declarações comprometedoras, o presidente norteamericano, George W. Bush, disse que ‘‘os Estados Unidos não comparecerão a um encontro que quer denegrir Israel’’, usando sem querer um verbo considerado politicamente incorreto pelo movimento negro do país para se referir à Cúpula sobre Racismo. Bush é famoso por gafes internacionais. Ele já chamou os kosovares de ‘‘kosovianos’’, os gregos de ‘‘grecianos’’, e o primeiroministro espanhol, José María Aznar, de ‘‘Anzar’’ Decisões RELATORA BRASILEIRA A brasileira Edna Roland foi escolhida ontem como relatora da Conferência da ONU contra o racismo, em Durban. A decisão, tomada na reunião da mesa diretora do encontro, será ratificada hoje. A relatoria é um cargo-chave na conferência, por permitir intervenção nos documentos finais. É também um sinal de prestígio do Brasil nas negociações. Psicóloga social, a maranhense Edna Roland milita no movimento negro desde os anos 80 e coordena, em São Paulo, a organização não-governamental Fala, Preta!, de apoio a mulheres negras. Já atuou como perita das Nações Unidas na discussão sobre mulheres e faz doutorado na PUC-SP. Defensora das ações afirmativas para a população negra brasileira, Edna Roland considera a relatoria da conferência o trabalho mais difícil que já exerceu, pelas implicações que o encontro de Durban terá para o mundo. ‘‘É um desafio’’, disse. Para ela, a questão das políticas compensatórias é o ponto mais polêmico da reunião. A indicação de Roland foi feita pelo governo brasileiro ao Grulac (Grupo de Países LatinoAmericanos e Caribenhos), que levou formalmente o nome da brasileira à mesa da cúpula. (Agência Folha) FRASE DO DIA Ao deparar-se com uma revistinha com desenhos anti-semitas na entrada do Foro Comunitário, integrado por 5 mil ONGs, a alta comissionária da ONU para os direitos humanos, Mary Robinson, disse: ‘‘Eu sou judia’’. Católica romana convicta, Robinson, ex-presidente da Irlanda, disse que adora tirinhas e quadrinhos, mas ‘‘ao ver que os delegados árabes estão distribuindo essas revistas só posso dizer que sou judia’’. Um dos temas que certamente dará muito trabalho às delegações é a proposta dos países árabes em classificar o sionismo — movimento político que prevê o retorno de judeus à palestina — como racismo, por relegar os árabes da região a uma condição de cidadãos de segunda categoria, sem direitos iguais aos dos judeus e por causa do conflito na região. (Da Redação) DIREITO RECONHECIDO Às vésperas do início da conferência sobre racismo e intolerância que discutirá, entre outros temas, a discriminação contra homossexuais, a 1ª Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, sediada em Recife (Pernambuco), determinou ontem que o Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) comece a pagar pensão a um homem cujo companheiro morreu. Ao anunciar o veredicto, respaldada por outros dois juízes da mesma seção, a juíza Margarida Cantareli afirmou que sua decisão foi baseada no preceito da Constituição Federal que rejeita preconceitos referentes a raça ou sexo. (Da Redação) Fonte: Correio Braziliense - Direitos Humanos (31 de agosto de 2001) Página 51 de 73 Iniciada em Durban conferência mundial sobre racismo Durban, África do Sul - Na abertura da conferência mundial contra o racismo, esta manhã, o presidente da Autoridade Palestina, Yasser Arafat, declarou à Agência Estado, que espera muito da reunião, não só em relação a luta em favor dos palestinos, mas contra a discriminação em todo o mundo. Ele assistiu à abertura do evento entre outros líderes como Fidel Castro e outros presidentes africanos e o secretário geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Kofi Annan. Após a abertura, Arafat saiu amparado por dois assessores e falando com muita dificuldade. O presidente de Cuba, Fidel Castro, fez uma declaração formal, ao sair da sessão de abertura, dizendo que espera muito da conferência contra a discriminação racial. Ele estava cercado por agentes de segurança cubanos, que o isolaram da imprensa, mesmo quando ele demonstrou vontade de falar. A questão dos palestinos e Israel, foi a única citada explicitamente nos discursos de abertura, além do fim do apartheid na África do Sul. José Maria Mayrink Fonte: O Estado de São Paulo - Mundo (31 de agosto de 2001) Página 52 de 73 Conflito na véspera da conferência contra o racismo Durban - Na véspera do início da conferência mundial contra o racismo, o secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, recebeu queixas de líderes de minorias étnicas preocupados com a possibilidade de suas causas não serem discutidas na reunião. Ao mesmo tempo, grupos judeus que participavam de um fórum sobre direitos humanos tiveram que encerrar uma entrevista coletiva porque ativistas árabes os interromperam gritando palavras de ordem. Ambos os incidentes sublinharam as controvérsias que rodeiam a conferência e seu projeto de declaração, antes mesmo de sua inauguração, amanhã, na cidade sul-africana de Durban. "Muitas expectativas não serão cumpridas", afirmou Reed Brody, diretor de ativismo do grupo Human Rights Watch. Annan viu com seus próprios olhos o nível das frustrações e expectativas durante uma sessão de perguntas e respostas no fórum de direitos civis. Em uma rápida sucessão, foi cobrada dele a defesa do documento final da conferência por parte de representantes latinos, povos indígenas, cidadãos caribenhos e dalits (conhecidos como a casta intocável da Índia). Todos estes grupos afirmaram que suas causas não estão sendo enfatizadas o suficiente. "O que é importante é o que faremos depois da conferência. Não a declaração e os papéis adotados", disse Annan. Representantes de mais de 100 países deverão participar da conferência. Cerca de 15 chefes de Estado estarão presentes com suas respectivas delegações. Os Estados Unidos anunciaram ontem que apenas enviarão uma delegação de nível médio em resposta ao que consideram uma linguagem anti-semita da resolução prévia da conferência. Antes do episódio com Annan, ativistas árabes interromperam uma entrevista coletiva da qual participavam grupos de judeus que denunciavam o anti-semitismo em um fórum de direitos civis. Eles estavam descrevendo como estariam sendo ofendidos e discriminados durante os encontros. Antes que eles pudessem finalizar sua apresentação, no entanto, ativistas árabes começaram a gritar, cantar e se colocar em frente aos palestrantes, levando os organizadores a interromper a entrevista. "Este é um exemplo de como estamos sendo tratados durante esta conferência", afirmou o rabino Abraham Cooper, do Centro Simon Wiesenthal. Vários grupos pró-palestinos defendem a inclusão no documento final da conferência de uma cláusula igualando o sionismo - o movimento que apoiou a fundação do Estado judeu - ao racismo, como já chegou a ser aceito pela própria ONU. A comissária para os direitos humanos das Nações Unidas, Mary Robinson, lamentou os desentendimentos iniciais e expressou sua esperança de que as contendas sejam resolvidas. "Esta é uma conferência sobre vítimas de discriminação racial, uma conferência para nos levar à reconciliação", disse ela. O líder dos direitos humanos dos negros dos EUA, reverendo Jesse Jackson, que criticou duramente o governo George W. Bush por não ter enviado uma delegação de alto nível a Durban, afirmou que a questão de Israel não deveria dominar a conferência. "A questão do racismo é muito ampla para ser reduzida a uma controvérsia sobre o Oriente Médio", afirmou. Fonte: O Estado de São Paulo - Agência Estado (30 de agosto de 2001) Página 53 de 73 Chanceler canadense não vai à conferência contra o racismo Ottawa - O ministro das Relações Exteriores do Canadá, John Manley, afirmou hoje que não estará presente à Conferência Mundial Contra o Racismo, mas que o seu país "participará ativamente" do evento, que começará nesta sexta-feira na África do Sul. Segundo o chanceler, a delegação canadense será liderada por Hedy Fry, o ministro federal responsável pelo multiculturalismo. Representantes de mais de 100 países são esperados em Durban, cidade sede da conferência. Entre os participantes estarão chefes de Estado de mais de 15 países. Os Estados Unidos enviaram uma delegação de nível médio por considerar que a conferência discrimina Israel. Fonte: O Estado de São Paulo - Agência Estado (30 de agosto de 2001) Página 54 de 73 Vaticano prepara ofensiva na conferência sobre racismo Cidade do Vaticano - O Vaticano planeja aproveitar a conferência das Nações Unidas sobre racismo, que começa na sexta-feira, para defender seu ponto de vista de que as experiências com embriões humanos poderiam gerar uma nova forma de escravidão. A Santa Sé, que divulgou nesta quarta-feira uma espécie de documento para indicar sua posição perante a conferência de oito dias, abordou também o assunto das compensações para as pessoas cujos ancestrais foram escravos. O Vaticano considerou que essa questão não é de solução simples. Alguns delegados do Vaticano estarão presentes ao foro internacional que acontecerá em Durban, na África do Sul. O documento expressou preocupação pelo que a Santa Sé considerou como "novas e dramáticas formas de discriminação", incluindo nelas até "as crianças não nascidas, como sujeitos de experimentação e intervenção tecnológica". Citou como exemplos dessa nova discriminação a procriação artificial, o uso de embriões "supérfluos" e a "chamada clonagem terapêutica". "Há aqui um risco de que surja uma nova forma de racismo, pois o desenvolvimento destas técnicas poderia levar à criação de uma ´subcategoria de seres humanos´, basicamente para a conveniência de certos outros", alertou o Vaticano. "Isto poderia ser uma nova e terrível forma de escravidão". "Lamentavelmente, não se pode negar que a tentação da eugenia ainda está latente, especialmente se os poderosos interesses econômicos a explorarem", acrescenta o documento, que pede aos governos e cientistas que permaneçam vigilantes contra a tentativa de criar um "melhor" ser humano através da manipulação genética. Fonte: O Estado de São Paulo - Agência Estado (29 de agosto de 2001) Página 55 de 73 Israel não participa de conferência sobre racismo Jerusalém - O Estado judeu ficará de fora da conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre racismo, que começará na cidade sul-africana de Durban na próxima sextafeira, a menos que declarações anti-Israel sejam removidas, informou hoje o vice-ministro das Relações Exteriores israelense, Michael Melchior. Embora os Estados árabes e islâmicos, sob pressão dos Estados Unidos, tenham abandonado sua tentativa de reviver uma resolução da ONU que iguala o racismo ao sionismo movimento que levou à fundação do Estado judeu -, algumas palavras sobre o assunto continuam figurando no documento que será discutido na conferência. Em um dos parágrafos do texto que será debatido, por exemplo, encontra-se uma referência ao racismo, incluindo "o movimento sionista, que é baseado na superioridade racial". Segundo Melchior, a conferência foi "seqüestrada" por fundamentalistas árabes que, segundo ele, estão tentando canalizar o ódio contra os judeus e eliminar a legitimidade de Israel. Também hoje, Colin Powell, secretário de Estado dos EUA - principais e, às vezes, únicos aliados de Israel -, afirmou que não participará da conferência em Durban caso a linguagem "anti-Israel" continue na ordem do dia. A informação foi dada pelo jornal The Washington Post, que acrescentou que funcionários do departamento acreditam que "em muitas partes do documento é utilizada uma linguagem ofensiva" a Israel. Fonte: O Estado de São Paulo - Agência Estado (27 de agosto de 2001) Página 56 de 73 Conferência de Durban começa sob tensão Árabes e judeus entraram em confronto na cidade ontem, um dia antes do início do encontro DURBAN - Um incidente envolvendo árabes e judeus, ontem, demonstra o peso que os problemas do Oriente Médio devem ter durante a Conferência Mundial contra o Racismo, realizada pelas Nações Unidas a partir de hoje. São esperados 6 mil delegados representando mais de cem países. Quinze chefes de Estado africanos confirmaram a participação no evento. A cerimônia de abertura será coordenada pelo secretário-geral da ONU, Kofi Annan. O líder palestino Yasser Arafat e o presidente de Cuba, Fidel Castro, participarão dos debates. Ontem, um grupo de ativistas pró-palestinos interrompeu uma entrevista coletiva em que judeus denunciavam as ameaças sofridas durante um fórum sobre direitos humanos promovido por organizações não-governamentais. O evento é uma atividade paralela à conferência. Durante o protesto, os manifestantes gritararam e se empurraram provocando o fim da entrevista. Eles chamavam os israelenses de racistas por causa das mortes de palestinos. Desde que começou o último levante palestino, há 11 meses, 700 pessoas já morreram. "Esse comportamento é típico do tratamento que temos recebido durante o fórum", disse Rabbi Abraham Cooper, do Centro Simon Wiesenthal. Minorias - A expectativa é que esse clima prevaleça na conferência. Representantes de diversas minorias étnicas expressaram, durante um encontro com Kofi Annan, o receio de que a situação do Oriente Médio ofusque as discussões sobre direitos humanos. Eles temem que suas reivindicações e pontos de vista sejam ignorados. Annan contra-argumentou dizendo que "o importante é o que faremos depois da conferência e não as declarações e papéis". O secretário-geral chegou a ser interrompido duas vezes enquanto falava. "Vamos manter um diálogo sério", pediu Annan aos representantes das minorias. A comissária para os Direitos Humanos da ONU, Mary Robinson, disse estar muito preocupada com o clima de pessimismo em torno da conferência. Ela declarou que espera que as dificuldades sejam contornadas. "Esta é uma conferência sobre vítimas da discriminação racial, um evento para nos colocar no caminho da reconciliação', disse. "Não podemos resolver o problema do Oriente Médio. Documento - O lobby de ativistas pró-árabes para que Israel seja declarado um Estado racista por causa do tratamento dispensado aos palestinos é um dos pontos que estão gerando polêmica. Em represália à ação anti-Israel, os Estados Unidos enviaram à África do Sul uma delegação de segundo escalão. O grupo tem a meta de mudar o tratamento dado a Israel no rascunho da declaração final da conferência. Para o governo americano, o texto possui linguagem anti-semita. Um grupo liderado pelo secretário-assistente de Estado para Organizações Internacionais dos EUA, Michael Southwick, cheogu ontem à Durban para negociar a mudança do texto. O rascunho do documento não faz uma relação direta entre sionismo e racismo, mas diz o seguinte: "A ocupação estrangeira baseada em assentamentos ... (é) um novo tipo de apartheid, um crime contra a humanidade." Também expressa "profunda preocupação com a discriminação racial em relação aos palestinos, assim como com os habitantes dos outros territórios ocupados. Finalmente, faz referências à "limpeza étnica da população árabe na região da Palestina histórica." Reuters e Associated Press Fonte: O Estado de São Paulo - Geral (31 de agosto de 2001) Página 57 de 73 CÚPULA DE DURBAN Negro, gay e nordestino Comunidade homossexual critica escolha do delegado oficial do Brasil na conferência sobre racismo, que vai discutir a criminalização de ofensas contra a orientação sexual Luiz Alberto Osório Da equipe do Correio O escolhido do governo brasileiro para defender os direitos dos homossexuais do Brasil na 3ª Conferência contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlata, em Durban, na África do Sul, é gay, negro e nordestino. Por isso, Cláudio Nascimento, um baiano de Itabuna, de 30 anos, diz que sofre de discriminação em ‘‘dose tripla’’. Nesses dias que antecedem a conferência, que começa sexta-feira e vai até o dia 7 de setembro, Cláudio também sentiu a rejeição por parte de seus pares. A comunidade gay é contra sua indicação para representá-la em Durban. Por que? Os argumentos são vários: ‘‘Um só representante é muito pouco’’, ‘‘quem votou nele?’’ etc. Mas Cláudio já está calejado. A primeira manifestação de intolerância, lembra, aconteceu em casa. ‘‘Quando tinha 18 anos, contei aos meus pais que era gay e fui convidado a deixar minha casa. Fui para a rua sozinho, sem ter para onde ir’’, conta Cláudio Nascimento. A segunda decepção, Cláudio teve na faculdade. Ele conta que tinha muitos amigos, e que todos gostavam de se reunir em sua casa para estudar. ‘‘Eram ótimos amigos até que saiu uma matéria num jornal em que eu me assumia gay. No dia seguinte, mais da metade das pessoas nem me cumprimentava’’, diz. Daí em diante, foi uma via-crucis de xingamentos e humilhações. ‘‘Sempre tinha alguém que gritava do carro: ô, viado.’’ Mas o pior tipo da discriminação Cláudio Nascimento diz que sentiu dentro do movimento negro. Como militante do Movimento Negro Unificado (MNU) durante anos, sempre lhe trataram bem. Até o dia em que foi fazer uma apresentação em um seminário organizado pelo MNU. ‘‘Algumas pessoas dentro do movimento não gostaram de saber que eu iria falar e começaram a gritar da platéia para eu sair da mesa. Um deles chegou a dizer que não existe negro homossexual.’’ Mas nem todas as experiências foram negativas na vida de Cláudio. Há alguns anos, quando assumiu um posto de gerência na empresa que trabalhava, o baiano também sentiu a força do preconceito por parte dos funcionários. ‘‘Achavam que um homossexual não tinha capacidade para trabalhar naquela função”. A diretoria da empresa, no entanto, não teve dúvidas e interveio, defendendo Cláudio. A reação de seus vizinhos foi outro exemplo para Cláudio de que a intolerância não é unânime. ‘‘Moro em um condomínio fechado e todos, ou pelo menos a maioria, dos moradores e funcionários sabem que sou gay e me respeitam. Às vezes, um ou outro vem comentar sobre alguma atitude discriminatória que viram no jornal ou em seu trabalho. Acho que as pessoas estão mudando’’, afirma. Grupos questionam legitimidade Dentro do movimento gay, há os que condenam as propostas do documento oficial a ser discutido na cúpula de Durban e acusam o governo de fazer proselitismo. E nem todos estão de acordo com o representante brasileiro, Cláudio Nascimento. Integrantes de organizações de homossexuais, lésbicas e travestis reunidos na segundafeira em Brasília rejeitaram uma secretaria exclusiva para homossexuais e disseram não reconhecer Página 58 de 73 a legitimidade da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Travestis (ABGLT), da qual Nascimento é secretário de Direitos Humanos. Beto de Jesus, da Associação da Parada Gay de São Paulo, afirma que uma secretaria exclusiva não resolve o problema, na verdade segregará ainda mais o homossexual, impedindo sua inserção na sociedade como um cidadão comum. ‘‘Até o momento, temos sido tratados como cidadãos de segunda categoria’’, afirma. Caio Varela, do Instituto Atitude, de Brasília, Célio Golin, do Nunaces, de Porto Alegre, e Lula Ramirez, do Corsa, de São Paulo, criticaram o governo por não incluir grupos representativos da comunidade homossexual na discussão do documento. ‘‘O governo se enganou ao legitimar uma única pessoa diante de um foro internacional e isso vai dar uma idéia equivocada de como se discute e se trabalha a homossexualidade no Brasil’’, afirma Golin. Levando cerca de 300 mil pessoas para celebrar o dia do Orgulho Gay, esses grupos afirmam que não há como aceitar uma proposta que não foi discutida com a base. ‘‘Ninguém nos perguntou nada, não discutimos uma proposta’’, diz Varela. Posição oficial brasileira Os pontos que Cláudio Nascimento vai defender em Durban Reconhecimento No Brasil, existem pelo menos 17 milhões de gays (10% da população) Há discriminação sistemática contra os homossexuais A cada dois dias é cometido um crime de ódio sexual Propostas Tornar crime inafiançável a discriminação de homossexuais Excluir a expressão ‘‘pederastia’’ do Código Penal Militar Criar um programa nacional de prevenção à violência contra os homossexuais Criar programas de orientação familiar e escolar para ensinar crianças e jovens a respeitar a livre orientação sexual Propostas progressistas O Brasil aposta na vanguarda e quer discutir os direitos de homossexuais na 3ªConferência das Nações Unidas contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlata. O tema é polêmico e para entrar no documento que será submetido às 189 delegações do mundo, o termo homossexualismo teve de ser colocado entre parênteses. Isso significa que pode não ser votado, pois alguns países se opõem a sua inclusão em um documento oficial das Nações Unidas. Os principais opositores são os Estados Unidos, que temem uma enxurrada de processos por discriminação, os países católicos como o Vaticano, que não aceitam discutir o tema, e as nações islâmicas que consideram a homossexualidade crime, em alguns caso punido com a morte. O documento oficial brasileiro, aprovado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, é considerado progressista. O principal ponto é o reconhecimento de que no país existe discriminação contra os homossexuais, estimados em 17 milhões de pessoas (10% da população). Além disso, considera esse setor da sociedade uma das principais vítimas de agressões verbais e físicas. O texto informa que a cada dois dias é cometido um assassinato motivado por ódio sexual e defende que as manifestações de ódio aos gays sejam consideradas crime e incluídas no Código Penal e propõe que esses crimes passem a ser inafiançáveis, como é racismo, e que a Página 59 de 73 perseguição aos grupos homossexuais seja incluída na lei anti-racismo. Também fazem parte do documento a proposta de exclusão da expressão ‘‘pederastia’’ do Código Penal Militar, a criação de um programa nacional de prevenção à violência contra os homossexuais e o incentivo a programas de orientação familiar e escolar para ensinar crianças e jovens a respeitar a livre orientação sexual e, assim, prevenir atitudes hostis e violentas, inclusive o uso abusivo de terapias corretivas. Para que o texto brasileiro seja implementado, o presidente tem de enviar uma mensagem ao Congresso Nacional para que sejam alterados, mediante emendas constitucionais, os artigos 3º e 7º da Constituição que tratam dos direitos humanos. A idéia é incluir o termo orientação sexual no texto constitucional. O mesmo deve ocorrer no texto da lei anti-racismo. (LAO) Fonte: Correio Braziliense - Direitos Humanos (29 de agosto de 2001) Página 60 de 73 EUA: Powell não participará de reunião da ONU sobre racismo Brasília, 28 (Agência Brasil - ABr/CNN) - O secretário de Estado norte-americano Colin Powell não vai participar da conferência mundial sobre racismo da Organização das Nações Unidas (ONU), em Durban, na África do Sul. O porta-voz Richard Boucher informou que a decisão foi tomada devido à linguagem crítica a Israel proposta no esboço do documento final da reunião. As informações são da CNN. No entanto, os Estados Unidos ainda não decidiram se boicotarão a conferência, o que abre a possibilidade de que o país seja representado por outras autoridades. Representantes dos EUA passaram semanas negociando a retirada de trechos dos documentos da conferência que igualavam sionismo a racismo e destacavam Israel como uma força de ocupação "racista". A Assembléia Geral da ONU, que em 1975 havia chamado as políticas sionistas de Israel de "racismo", revogou a resolução após as negociações de paz de Madri, em 1991. O Governo Bush também foi contra a inclusão na agenda da conferência de uma proposta de reparações pela escravidão no Novo Mundo. Lucas Tavares Fonte: Radiobrás - Brasil Agora (28 de agosto de 2001) Página 61 de 73 Brasil vai à conferência sobre racismo com 50 delegados Brasília, 29 (Agência Brasil - ABr) - O governo brasileiro espera que a Conferência Mundial de Combate ao Racismo, Xenofobia e Intolerância Correlata, que acontecerá de sexta-feira até o dia 7 de setembro, em Durban, África do Sul, seja um marco no combate às formas de racismo e discriminação racial no mundo. De acordo com o secretário do Departamento de Direitos Humanos do Ministério das Relações Exteriores, Maxmiliano Fraga, a delegação brasileira irá apresentar, entre outras propostas, a adoção de medidas e políticas corretivas de reparação histórica e inclusão social de negros. A delegação brasileira é composta por cerca de 50 representantes do governo e da sociedade civil, que integram o Comitê Nacional Preparatório para a conferência. Angélica Brunacci Fonte: Radiobrás - Brasil Agora (29 de agosto de 2001) Página 62 de 73 Brasil lança selo comemorativo da conferência sobre racismo Brasília, 30 (Agência Brasil - ABr) - O secretário de Direitos Humanos, do Ministério da Justiça, Gilberto Vergne Sabóia, representa a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) na cerimônia conjunta (correios da África do Sul) de lançamento do selo brasileiro comemorativo da Conferência Mundial contra o Racismo. A solenidade, em Durban (África do Sul), é um dia antes da abertura oficial da Conferência. O imagem do selo brasileiro é o mesma do selo sul-africano e tem valor de face de R$ 1,30. Fonte: Radiobrás - Brasil Agora (30 de agosto de 2001) Página 63 de 73 Gregori participa de abertura de conferência contra o racismo O ministro da Justiça, José Gregori, participa hoje, às 9h30, em Durban (África do Sul), da solenidade de abertura da 3ª Conferência Mundial Contra o Racismo. Às 10h, haverá pronunciamento do presidente da África do Sul, Thabo Mbeki. A delegação brasileira, chefiada pelo ministro José Gregori, é composta por cerca de 50 representantes do governo e da sociedade civil. Fonte: Folha Online - Brasil (31 de agosto de 2001) Página 64 de 73 Kofi Annan diz que conferência não vai debater Oriente Médio da France Presse, em Durban (África do Sul) O secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, declarou hoje que "a abominação" de que foram vítimas os judeus não pode servir de desculpa pelo que fazem os palestinos sofrer. Ele afirmou também que as acusações mútuas não são o objetivo da conferência da ONU contra o Racismo. "O povo judeu foi vítima do anti-semitismo em muitas partes do mundo e na Europa foi o alvo do Holocausto, esta abominação extrema. Este fato não deve ser jamais esquecido nem minimizado", disse Kofi Annan em seu discurso na abertura da conferência de Durban. "É então compreensível que muitos judeus se sintam mal ante qualquer acusação de racismo contra o Estado de Israel, principalmente porque isto coincide com ataques cegos e totalmente inaceitáveis contra civis inocentes", afirmou. "Por isso mesmo, não podemos esperar que os palestinos aceitem isto para explicar por quê deveria ignorar-se o que lhes fazem sofrer, deslocamentos, ocupação, bloqueio e execuções extrajudiciais", disse ele provocando uma salva de aplausos entre os delegados de mais de 150 países. Fonte: Folha Online - Mundo (31 de agosto de 2001) Página 65 de 73 Chanceler do Canadá também não irá à conferência do racismo da Reuters, em Ottawa (Canadá) O chanceler do Canadá, John Manley, decidiu hoje não participar da reunião da ONU (Organização das Nações Unidas) sobre racismo, que acontece a partir de amanhã na África do Sul. Ele segue a posição do seu colega norte-americano, Colin Powell. Os dois países se irritaram com a ofensiva diplomática árabe contra Israel no encontro. Mandely disse que a delegação canadense agora será chefiada pela secretária de Estado para o Multiculturalismo, Hedy Fry. Um comunicado do ministério de Manley não demonstrou nenhuma contrariedade quanto aos rumos da conferência, mas ele disse a jornalistas na terça-feira que tinha "sérias preocupações" quanto ao esboço que está sendo preparado. "O texto, tal qual o vi, vai longe demais em destacar um país, no caso Israel, e não tenho certeza de que a declaração possa ser muito melhorada", afirmou Manley no começo da semana. Os países árabes querem que o texto final qualifique o sionismo como uma forma de racismo e repreenda Israel pela ocupação de territórios palestinos. Na segunda-feira (27), o Departamento de Estado norte-americano já havia anunciado que Powell não iria à conferência por causa dos ataques a Israel, um firme aliado dos Estados Unidos. Fonte: Folha Online - Notícias (30 de agosto de 2001) Página 66 de 73 Saiba quem integra a comitiva para conferência contra o racismo O Brasil vai enviar uma comitiva de deputados federais para participar da 3ª Conferência Mundial de Combate ao Racismo, que começa amanhã em Durban (África do Sul) e vai até o dia 7 de setembro. Compõem a comitiva, que embarca hoje, os deputados Agnelo Queiroz (PC do B-DF), Dr. Hélio (PDT-SP), Gilmar Machado (PT-MG), João Almeida (PSDB-BA), João Grandão (PT-MS), Lino Rossi (PSDB-MT), Pinheiro Landim (PMDB-CE), Reginaldo Germano (PFL-BA) e Saulo Pedrosa (PSDB-BA), além de Luiz Alberto (PT-BA), que já está na África do Sul. Fonte: Folha Online - Brasil (30 de agosto de 2001) Página 67 de 73 Líderes mundiais se reúnem em cúpula contra o racismo da Reuters, em Durban (África do Sul) Vários líderes mundiais, entre eles o cubano Fidel Castro e o líder palestino Iasser Arafat, são esperados hoje em Durban para participar da conferência da ONU sobre racismo, cercada de polêmica por causa da situação no Oriente Médio. O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, abrirá a reunião amanhã. Por sua condição de negro, o secretário de Estado norte-americano, Colin Powell, havia manifestado intenção de ir à reunião. Ele cancelou a participação em protesto contra a tentativa dos países árabes de qualificar o sionismo israelense como uma forma de racismo. Ontem Washington anunciou que enviará um funcionário de segundo escalão a Durban, para tentar evitar a menção a Israel no documento final. Não se sabe se ele ocupará seu lugar no plenário. Líderes do movimento negro norte-americano criticaram a pequena participação de seu país. "A decisão dos EUA contém atitudes de arrogância e desprezo pelas responsabilidades. É vergonhoso", disse o reverendo Joseph Lowery, do Fórum das Lideranças Negras, que enviou uma delegação extra-oficial a Durban. As reuniões preparatórias já deram uma idéia do que deve ocorrer no plenário, até 7 de setembro. Os árabes querem que Israel seja apontado como um Estado racista, devido à sua política contra os palestinos. O esboço de declaração da ONU não faz a relação entre sionismo e racismo, mas diz que "a ocupação estrangeira baseada nos assentamentos é um novo tipo de apartheid, um crime contra a humanidade". Os israelenses mantêm assentamentos nos territórios palestinos ocupados. O documento também expressa "profunda preocupação sobre a discriminação racial contra os palestinos e outros habitantes árabes dos territórios ocupados". Grupos judeus e palestinos presentes à reunião acusaram-se mutuamente de usá-la para difundir propaganda política. "Sinto-me cercada. Há anti-semitismo e textos que incitam ao ódio na Conferência Mundial sobre Racismo", disse Anne Bayefsky, professora de direito na universidade Columbia. Ela disse que alguns delegados judeus estão pensando em abandonar a reunião. Na reunião preparatória com ONGs, foram distribuídos panfletos caricaturando os judeus e comparando a estrela de Davi à suástica nazista. Vários simpatizantes dos palestinos usavam camisetas equiparando Israel às políticas do apartheid (antigo regime branco da África do Sul). Mas um importante delegado palestino acusou os delegados judeus de distribuírem literatura pró-Israel na conferência. O diretor da reunião, Moshe More, disse que não houve incidentes violentos. A disputa entre árabes e israelenses ofuscou o que deveria ser o ponto mais polêmico da reunião, a proposta africana de receber compensações pelos séculos de escravidão a que os negros foram submetidos. Os norte-americanos também se opõem a essa proposta. Fonte: Folha Online - Notícias (30 de agosto de 2001) Página 68 de 73 Manifestantes prometem protesto hoje em Duban Muitos manifestantes são esperados pela polícia de Durban, hoje, para a abertura da Conferência Mundial da ONU contra o racismo. Convocados pela Coalizão Sul-Africana de ONGs (SANGOCO), os manifestantes farão passeatas contra, principalmente, os problemas dos sem-terra, das indesejadas privatizações e da AIDS. No plano internacional, a condenação de Israel e as indenizações por causa da escravidão - temas que prometem ser os mais polêmicos da Conferência - estarão entre os principais motivos da manifestação, junto ao problema de castas, o cancelamento da dívida externa dos países do terceiro mundo e a situação dos povos indígenas. Fonte: Jornal Hoje em Dia - Mundo (31 de agosto de 2001) Página 69 de 73 Polêmica marca inauguração da conferência da ONU sobre racismo DURBAN, África do Sul -- O secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, inaugurou nesta sextafeira, em Durban, na África do Sul, a Conferência Mundial Contra Racismo, Xenofobia e Intolerância, no decorrer da qual delegações de 166 países devem assinar uma declaração de princípios e um plano de ação para combater o racismo e proteger os direitos das minorias étnicas. Os preparativos para a reunião, no entanto, foram marcados por uma polêmica sobre propostas para igualar sionismo a racismo, o que levou os governos de Israel, Canadá e dos Estados Unidos a enviar delegações de segundo escalão a Durban. Em seu discurso, Annan alertou sobre o risco de impasse na conferência. "Nós temos que enviar um sinal de esperança para as pessoas que lutam contra o racismo em todo o mundo", disse o secretário-geral. "Vamos superar os nossos desacordos". Além dos esforços, liderados por países árabes, para condenar Israel pelo tratamento supostamente dado aos palestinos, reivindicações por indenizações para os descendentes das vítimas da escravidão e do colonialismo também causaram polêmicas. Mais de 10 chefes de Estado e de governo assistiram ao discurso de Annan, incluindo Fidel Castro, de Cuba; Joseph Kabila, do Congo; e Paul Kagame, de Ruanda. O presidente da Autoridade Palestina está participando também da conferência. Referindo-se à controvérsia sobre Israel, Annan disse que o sofrimento dos judeus durante o Holocausto deixou a comunidade judaica compreensivelmente sensível a acusações de racismo, especialmente quando coincidem com a morte de inocentes civis israelense, no atual conflito com os palestinos. "Por outro lado, nós não podemos esperar que os palestinos aceitem isso como uma razão para que devam ser ignorados os erros cometidos contra eles - expulsão, ocupação, bloqueio e, agora, execuções extrajudiciais - seja qual for o nome que se use para descrevê-los". Annan lançou um apelo para que a conferência não seja prejudicada por acusações mútuas, mas sim como um compromisso para que todos os países elaborem planos de combate ao racismo e à discriminação. "Admitamos que todos os países têm questões de racismo e discriminação para enfrentar", acrescentou. Página 70 de 73 Do lado de fora, cerca de 10 mil pessoas - muitas se manifestando a favor dos palestinos e também contra o lento processo de redistribuição de terras na África do Sul realizaram uma passeata. Ainda em seu discurso, Annan elogiou os que lutaram por justiça na África do Sul e contra o sistema do apartheid. "O que podemos comemorar é que hoje o racismo é universalmente condenado", lembrou A polêmica sobre a declaração final A comissária da ONU para Direitos Humanos e secretária-geral da conferência, Mary Robinson, disse que parte da linguagem que gerou polêmica em relação ao documento final -- que comparava sionismo, o movimento que defende a criação e a manutenção de um Estado judaico, a racismo -- havia sido retirada do esboço do documento. "Essa conferência é sobre a discriminação racial e suas vítimas, é um encontro para nos fazer progredir em direção à reconciliação", acrescentou Robinson. "Essa conferência não pode resolver o problema no Oriente Médio". Os países árabes estavam fazendo pressão para que o documento final comparasse Israel à África do Sul da época do apartheid. Arafat havia exortado a conferência a tratar a questão como um assunto global, e não apenas regional. Alguns países africanos também estavam exigindo um pedido de desculpas das potências que lucraram com o tráfico negreiro, assim como possíveis reparações. Mas nações européias e os Estados Unidos se opuseram firmemente à proposta. (Com informações da Associated Press) Fonte: CNN - Mundo (31 de agosto de 2001) Página 71 de 73 Delegação brasileira em Durban tem 154 integrantes Durban, África do Sul - Os brasileiros vieram em massa para a 3ª Conferência Mundial contra o Racismo, em Durban, cidade portuária da África do Sul no Oceano Índico. A delegação oficial brasileira, que, na última terça-feira, tinha 45 membros, chegou ontem a 154 integrantes, com a incorporação de dezenas de retardatários. Ao desembarcar na cidade na última hora, a maioria deles enfrentou inesperados obstáculos para conseguir assento na conferência e vaga nos hotéis. "Todos os que tiverem vínculo com o governo, seja federal, estadual ou municipal, serão credenciados", anunciou o diplomata Francisco Luz, coordenador do escritório de apoio à delegação brasileira. Foi essa a orientação que o ministro da Justiça, José Gregori, deu ao chegar à África do Sul ontem. Chefe da missão enviada à conferência, ele quase desistiu da viagem por causa do seqüestro do empresário e apresentador Sílvio Santos, dono do Sistema Brasileiro de Televisão (SBT). "Eu temia que houvesse uma comoção nacional, se o caso não fosse resolvido", disse o ministro. A confusão provocada pela falta de hotéis e pela burocracia, na instalação de tantos brasileiros, deu muita dor de cabeça para Luz. Ele montou uma eficiente logística para instalar os delegados em Zimbali, um sofisticado clube de golfe localizado à beira-mar, a 40 quilômetros do centro de Durban. Luz alojou em chalés-mansões, a 100 dólares por apartamento, quem não conseguiu hotel. É em Zimbali que está hospedada a vice-governadora do Rio, Benedita da Silva (PT). Ela trouxe o marido, o ator Antônio Pitanga, na comitiva de 36 integrantes. Com uma assessoria bem estruturada, Benedita está distribuindo um folder em português, espanhol e inglês, com a fotografia, biografia e um artigo dela sobre a luta pessoal contra a discriminação e a exclusão. A delegação brasileira tem cerca de 20 parlamentares, entre os quais, o senador Geraldo Cândido (PT-RJ). O governador de Alagoas, Ronaldo Lessa (PSB), também era esperado, mas cancelou a viagem por problema de saúde. O desconhecimento da cidade levou vários brasileiros que recorreram a agências de turismo a se hospedar em zonas nada recomendáveis. Alguns têm conseguido remanejamento, mas são casos raros. Durban é uma cidade perigosa para forasteiros, pois os assaltos são freqüentes. Não dá para confiar em motoristas de táxi (que não pegam passageiros nas ruas) e não há transporte coletivo razoável. A psicóloga paulista Edna Roland, presidente do Movimento Fala Preta, hospedou-se, inicialmente, numa reserva florestal, a 83 quilômetros da cidade. Eleita redatora da conferência contra o racismo, Edna transferiu-se para um hotel no centro da cidade. Pelo menos uns dez passageiros vindos de São Paulo perderam as malas entre os Aeroportos Internacional de São Paulo, em Cumbica, Guarulhos, de Joannesburg e de Durban. A Varig e a South Africa conseguiram localizar algumas, mas ainda há gente comprando roupa para entrar na conferência com um visual à altura. Em meio à neurose de quem chegava sem hotel reservado e credencial, funcionários estaduais de Santa Catarina pediram socorro ao governador Espiridião Amin (PPB). O governador telefonou para o Itamarati, mas, naquela altura, o problema já havia sido resolvido pelo ministro da Justiça, responsável pela participação do Brasil. A decisão deixou de fora quem não se enquadrava nesse critério, como sindicalistas e militantes de movimentos de defesa de minorias. Até a manhã de ontem, havia mais de 500 brasileiros credenciados. A maioria deles pertence a ONGs, cerca de 200, que vieram a Durban para os fóruns paralelos à programação da conferência. José Maria Mayrink, enviado especial Fonte: O Estado de São Paulo - Agência Estado (01 de setembro de 2001) Página 72 de 73 DE DURBAN Um grupo de Organizações Não-Governamentais (ONGs) entregou à Conferência Mundial sobre o Racismo um polêmico informe em que acusa Israel de atos de genocídio. As 77 entidades também protestaram contra o fato de que o presidente cubano, Fidel Castro, havia pronunciado um discurso de duas horas durante a cerimônia de abertura. "Estamos ofendidos porque um dos piores ditadores do mundo contemporâneo, acusado por suas violações grosseiras dos direitos humanos, tenha sido convidado a falar nesta reunião", declararam em um comunicado. O diretor do programa de aids da ONU, Peter Piot, disse ontem em Durban que "nada ilustra melhor o impacto global da discriminação e da intolerância do que a epidemia de aids". "O acesso desigual aos tratamentos é exemplo flagrante de discriminação." Fonte: O Estado de São Paulo - Geral (06 de setembro de 2001) Página 73 de 73