10o Congresso Brasileiro de Gestão da Inovação e Desenvolvimento de Produtos Itajubá - MG, 8 a 10 de setembro de 2015 PROPOSTA DE UM MÉTODO PARA CARACTERIZAR AS METODOLOGIAS DE DESIGN THINKING Maiara Rosa ([email protected]) - Universidade de São Paulo Henrique Rozenfeld ([email protected]) - Universidade de São Paulo Resumo O desenvolvimento de produtos e serviços também é conhecido na literatura pelo nome de design. Certos autores indicam o design como parte essencial da inovação, a qual se tornou um fator estratégico para sobrevivência, desenvolvimento e êxito das empresas no mercado. Uma abordagem recente, que visa a inovação e a integração de negócios, é o design thinking. O design thinking é um processo de geração de ideias e conceitos para a inovação operacional, estratégica, em produtos e serviços, e em gerenciamento. Ele se baseia na capacidade de pensamento integrativo e busca harmonizar desejabilidade, viabilidade e praticidade de um produto ou serviço utilizando a capacidade do ser humano de intuição, reconhecimento de padrões, desenvolvimento de ideias com significado emocional e funcional, trabalho em grupo e expressão por meios mais abstratos. Embora se trate de um conjunto de métodos com grande potencial estratégico, observa-se uniformidade apenas nos conceitos mais amplos das metodologias de design thinking da literatura, como o foco no usuário, a valorização da prototipagem antecipada, a importância do design thinking para a geração de valor e o significado principal das etapas que dividem o processo de design thinking. É raro o consenso entre autores sobre as características mais específicas do design thinking, como quais métodos e ferramentas o caracterizam. Além disso, é raro observar uma metodologia que guie a aplicação, ou mesmo uma indicação de para quais setores ou problemas cada método ou ferramenta é mais adequado. A falta de um conjunto de métodos e ferramentas mais unificado não permite que se construa uma teoria sobre design thinking com objetivo de se sistematizar uma metodologia para sua aplicação prática. Isso pode ser consequência da excessiva simplificação do design thinking devido às diversas vertentes que acabaram por surgir. Como uma forma de propor o início de um processo de estruturação da teoria do design thinking, este trabalho tem como objetivo desenvolver um método de comparação entre modelos de design thinking. A proposta foi desenvolvida por meio da abordagem de pesquisa em design (design research methodology – DRM). O método proposto neste trabalho baseia-se na decomposição dos métodos e ferramentas do design thinking em atividades, de forma a permitir sua comparação. Este trabalho descreve o método em detalhes, guiando sua aplicação e procedimentos de análise. Por fim, um teste com dois modelos de design thinking é apresentado para demonstrar a validade dos princípios básicos do método proposto. Palavras-chave: Design Thinking; método; comparação Área: GDP e Criatividade Organizacional 1 10o Congresso Brasileiro de Gestão da Inovação e Desenvolvimento de Produtos Itajubá - MG, 8 a 10 de setembro de 2015 1. INTRODUÇÃO O desenvolvimento de produtos e serviços também é conhecido na literatura pelo nome de design. Certos autores indicam o design como parte essencial da inovação, a qual se tornou um fator estratégico para sobrevivência, desenvolvimento e êxito das empresas no mercado (KOEN et al., 2004). Uma abordagem recente, que visa a inovação e a integração de negócios, é o design thinking (DT). O DT é um processo de geração de ideias e conceitos para a inovação operacional, estratégica, em produtos e serviços, e em gerenciamento (LEAVY, 2010). Ele se baseia na capacidade de pensamento integrativo e busca harmonizar desejabilidade, viabilidade e praticidade de um produto ou serviço utilizando a capacidade do ser humano de intuição, reconhecimento de padrões, desenvolvimento de ideias com significado emocional e funcional, trabalho em grupo e expressão por meios mais abstratos (BROWN, 2010). Trata-se de uma abordagem focada no usuário que procura suprir as necessidades dos clientes por meio de sua inserção no processo criativo. Observa-se, no entanto, falta de uniformidade na descrição de alguns aspectos do DT na literatura. Na análise de diversos autores que apresentam métodos de DT, encontrou-se uma concordância nos conceitos mais amplos, tais como o foco no usuário, a valorização da prototipagem antecipada e a importância do DT para a geração de valor (BROWN, 2008; LIEDTKA, 2010; LOCKWOOD, 2009; PINHEIRO; ALT, 2012; PLATTNER, 2010; SILVA et al., 2012). O significado principal das etapas que dividem o processo de DT também permanece semelhante em todas as metodologias analisadas. Um exemplo é a diferença entre o modelo de Brown (2008), que divide o DT em Inspiração, Ideação e Implementação, e a metodologia de Plattner (2010), que propõe as etapas Empatia, Definição, Ideação, Prototipação e Teste. Nesse caso, observa-se que a etapa de Inspiração de Brown (2008) nada mais é que as etapas de Empatia e Definição de Plattner (2010) conglomeradas. O mesmo ocorre com a etapa Implementação, a qual engloba as etapas Prototipação e Teste. Assim, alguns autores apresentam um maior número de etapas do que outros, pois a agregação de atividades, métodos e ferramentas em fases varia conforme o autor. Não se encontrou, no entanto, um consenso entre os autores sobre quais métodos e ferramentas caracterizam o processo DT (BROWN, 2008; LIEDTKA, 2010; PINHEIRO; ALT, 2012; PLATTNER, 2010; SILVA et al., 2012). Alguns autores apresentam apenas alguns poucos métodos e ferramentas caracterizados como fundamentais, como Liedtka (2010). Outros autores apresentam diversos métodos, permitindo escolha entre eles para cada etapa da metodologia, como Plattner (2010). No entanto, os autores, em geral, não convergem em relação ao conjunto de métodos e ferramentas que caracterizam o DT, apresentando apenas alguns métodos em comum. Além disso, é raro observar uma metodologia que guie a aplicação, ou mesmo uma indicação de para quais setores ou 2 10o Congresso Brasileiro de Gestão da Inovação e Desenvolvimento de Produtos Itajubá - MG, 8 a 10 de setembro de 2015 problemas cada método ou ferramenta é mais adequado (DORST, 2011). A falta de um conjunto de métodos e ferramentas mais unificado não permite que se construa uma teoria sobre DT com objetivo de se sistematizar uma metodologia para sua aplicação prática. Isso pode ser consequência da excessiva simplificação do DT devido às diversas vertentes que acabaram por surgir (DORST, 2011). Como uma forma de propor o início de um processo de estruturação da teoria do DT, este trabalho tem como objetivo desenvolver um método de comparação entre modelos de DT. A proposta foi desenvolvida por meio de um framework da abordagem de pesquisa em design proposta por Blessing e Chakrabarti (2009). O método proposto neste trabalho baseia-se na decomposição dos métodos e ferramentas do DT em atividades, de forma a permitir sua comparação. Este trabalho descreve o método em detalhes, guiando sua aplicação e procedimentos de análise. Por fim, um teste com dois modelos de DT é apresentado para demonstrar a validade dos princípios básicos do método proposto. 2. METODOLOGIA Como o objetivo deste trabalho é desenvolver um método, utiliza-se a abordagem de pesquisa em design (design research methodology - DRM) proposta por Blessing e Chakrabarti (2009). Essa abordagem é apropriada quando se deseja propor novos métodos práticos. Ela é dividida em quatro passos descritos a seguir. O primeiro passo (clarificação da pesquisa) busca encontrar e identificar evidências que suportem as premissas do objetivo de pesquisa para garantir que ele seja válido e adequado. Os principais resultados dessa etapa foram apresentados na seção anterior, que enfatiza a necessidade de um método de comparação de metodologias de DT para a construção da teoria. O segundo passo (estudo descritivo I) engloba o estudo descritivo da teoria para caracterizar os temas deste trabalho: design thinking (DT), métodos de comparação de modelos de referência de desenvolvimento de produtos e métodos de modelagem. Os principais conceitos gerais de DT foram apresentados na introdução deste trabalho. Os procedimentos e instrumentos usados para comparação são descritos durante a apresentação do método proposto. O terceiro passo (estudo prescritivo) é composto pela proposta do método, apresentada na seção 3, a ser avaliada no passo seguinte. O quarto passo (estudo descritivo II) busca investigar o impacto e a capacidade da proposta do estudo prescritivo em atingir os objetivos deste trabalho. Como o framework utilizado propõe uma análise de caráter inicial, foi realizado um teste do método proposto com duas 3 10o Congresso Brasileiro de Gestão da Inovação e Desenvolvimento de Produtos Itajubá - MG, 8 a 10 de setembro de 2015 metodologias de DT. O teste é descrito na seção 4. 3. MÉTODO DE COMPARAÇÃO O método proposto neste trabalho é ilustrado pela Figura 1 e cada etapa é explicada e detalhada nas subseções seguintes. Figura 1 – Método de comparação Fonte: Elaboração própria 3.1. Selecionar modelos de design thinking Diversos modelos de DT estão presentes na literatura (BROWN, 2008; LIEDTKA, 2010; PINHEIRO; ALT, 2012; PLATTNER, 2010; SILVA et al., 2012). A primeira etapa deste método de comparação propõe a seleção dos modelos adequados para os objetivos da comparação. Para uma seleção adequada, deve-se levar em conta as limitações do método proposto por este trabalho. Como seu desenvolvimento foi baseado no fato de que a maioria dos modelos de DT presentes na literatura propõem conjuntos de métodos e ferramentas, apenas metodologias que se apresentem nesse formato devem ser incluídas na análise. Quanto maior o número de modelos inclusos na comparação, mais conclusivos serão os resultados. Isso ocorre porque, na etapa de análise deste método, resultados significativos dependem de um espaço amostral adequado. 3.2. Identificar métodos e ferramentas Nesta etapa, deve-se identificar quais métodos e ferramentas compõem cada modelo 4 10o Congresso Brasileiro de Gestão da Inovação e Desenvolvimento de Produtos Itajubá - MG, 8 a 10 de setembro de 2015 proposto. Normalmente, os modelos presentes na literatura apresentam seus métodos e ferramentas em tópicos e de forma clara e não-ambígua (LIEDTKA, 2010; LOCKWOOD, 2009; PINHEIRO; ALT, 2012; PLATTNER, 2010; SILVA et al., 2012), portanto são de fácil identificação. 3.3. Decompor métodos e ferramentas em conjuntos de atividades Cada autor apresenta sua metodologia em um formato específico. Alguns, como Liedtka (2010), apresentam cada método ou ferramenta com uma descrição detalhada do procedimento a ser seguido, algumas vezes fornecendo passos numerados em formato de texto prescritivo. Outros autores, como Pinheiro e Alt (2012), apresentam os métodos com uma descrição breve que permite apenas inferir alguns passos que os compõem. Independentemente do formato de apresentação adotado pelo autor, propõe-se que cada método e ferramenta seja dividido em atividades. Aconselha-se a definir as atividades com base na semântica do texto, utilizando estruturas que empreguem verbos e excluindo detalhes que especifiquem a atividade excessivamente, impedindo a comparação com outros modelos. Um exemplo de como essa divisão pode ser feita é ilustrado na Figura 2. Figura 2 – Exemplo de conversão de texto em atividades Fonte: Elaboração própria Ressalta-se que nem toda oração é caracterizada como atividade. A frase é caracterizada como tal apenas se for referente a uma ação dentro do contexto do método ou ferramenta, como a frase “organizar informações”. Se a oração caracterizar um comportamento, como “não sugira respostas”, ela deve ser caracterizada como uma diretriz e excluída do método comparativo. Da mesma forma, se a frase não estiver no contexto de aplicação do método, ela não deve ser considerada como atividade. Ao fim, deve-se listar as atividades obtidas para todas as metodologias de DT sob análise. 3.4. Excluir sinônimos Geralmente, as terminologias e estruturas textuais dos autores se diferem. Dessa forma, muitas atividades aparecem repetidamente, porém com palavras ou estruturas distintas. Além disso, uma atividade pode ser reincidente, com a mesma estrutura e vocábulos. A presença de atividades repetidas na análise causa incongruências nos resultados, pois a quantidade total de recorrências será partilhada entre as atividades sinônimas, gerando 5 10o Congresso Brasileiro de Gestão da Inovação e Desenvolvimento de Produtos Itajubá - MG, 8 a 10 de setembro de 2015 menor relevância para essas atividades nos resultados finais. Dessa forma, a lista de atividades deve ser analisada item a item, identificando sinônimos e semelhanças entre atividades e substituindo títulos sinônimos por títulos que abranjam ambos os significados. Atividades que abranjam uma questão muito específica de uma atividade mais global também devem ser conglomeradas em atividades mais genéricas. Um exemplo pode ser observado através das atividades “Compartilhar histórias e entrevistas” e “Sintetizar os aprendizados dos participantes”, que podem ser englobadas pelo título “Sintetizar e compartilhar a aprendizagem/ideias”. Também deve-se excluir sinônimos relativos aos nomes dos métodos e ferramentas. Alguns autores podem se referir ao mesmo método com vocábulos diferentes. Um exemplo é o mapa de jornada, chamado por alguns autores de “journey map” e por outros de “journey mapping”. Em alguns casos, pode-se utilizar nomes completamente diferentes, porém com um mesmo propósito, como a análise por quadrantes, chamada por alguns autores de matriz 2x2. Embora nos casos mostrados isso seja válido, é importante ressaltar que similaridades não caracterizam necessariamente métodos equivalentes. Caso não se possa definir se dois métodos são equivalentes, recomenda-se mantê-los diferenciados na matriz. 3.5 Montar Domain Mapping Matrix (DMM) Ao fim das etapas anteriores, deve ser formulada uma lista única contendo todos os M métodos e ferramentas presentes em todas as metodologias de DT analisadas, exclusos os sinônimos. O mesmo procedimento deve ser realizado para as N atividades decompostas. É proposto, então, o uso de matrizes de mapeamento de domínio (domain mapping matrix – DMM). A DMM é uma matriz retangular que demonstra a relação entre dois domínios (EPPINGER; BROWNING, 2012). Os domínios utilizados para esta proposta são atividades e métodos/ferramentas. Cada modelo de DT é representado por uma DMM e todas as DMMs devem possuir mesma dimensão, ou seja, devem conter os mesmos M métodos/ferramentas e N atividades. É importante também que a sequência na qual os métodos e atividades aparecem nas matrizes seja idêntica. Cada DMM apresenta uma estrutura visualmente similar à Figura 3, sendo obtida através dos passos a seguir: a) Intitule cada linha i da DMM com o item i da lista final de métodos e ferramentas. Da mesma forma, nomeie cada coluna j com o item j da lista final de atividades; b) Verifique quais métodos/ferramentas i não estão presentes na metodologia analisada pela DMM em preenchimento e, para todas as posições referentes a essas linhas i, insira o valor “0”; c) Para cada atividade j que componha o método/ferramenta i conforme a metodologia analisada, insira o valor “1” no elemento (i, j) que representa sua relação. Para cada 6 10o Congresso Brasileiro de Gestão da Inovação e Desenvolvimento de Produtos Itajubá - MG, 8 a 10 de setembro de 2015 atividade j que não componha o método/ferramenta i conforme a metodologia analisada, insira o valor “0” no elemento (i, j) que representa sua relação. Repita até que todos os métodos e ferramentas da metodologia tenham sido analisados; d) Repita o procedimento até que todos os modelos de DT estejam mapeados. Atividade 2 Atividade 3 Atividade 4 Atividade 5 Atividade 6 Atividade 7 … Método/Ferramenta 1 1 1 1 0 0 0 0 … 0 Método/Ferramenta 2 0 0 1 1 1 0 0 … 0 Método/Ferramenta 3 0 0 0 0 0 1 1 … 0 Método/Ferramenta 4 0 0 0 0 0 0 0 … 0 Método/Ferramenta 5 1 0 1 0 0 0 0 … 0 Método/Ferramenta 6 0 0 0 0 0 0 0 … 0 Método/Ferramenta 7 0 0 0 0 1 1 1 … 0 … … … … … … … … … 0 0 0 0 0 0 0 … 0 … Metodologia X Método/Ferramenta M Atividade N Atividade 1 Figura 3 – DMM montada para uma metodologia X Fonte: Elaboração própria 3.6 Analisar as metodologias de DT Com base nas DMMs das metodologias de DT selecionadas, são realizadas as seguintes análises: a) Identificação das diferenças entre as metodologias de DT; b) Identificação das relações mais significativas entre atividades e métodos das metodologias de DT; c) Identificação das atividades que caracterizam as metodologias de DT. Cada uma das análises é explicada em maior detalhe a seguir. a) Identificação das diferenças entre as metodologias de DT Nesta análise, é calculado o módulo da subtração entre duas DMMs. Isso gera uma DMM de dimensão idêntica (M métodos, N atividades) com valores “1” em cada elemento (i, j) que represente uma diferença entre os dois modelos comparados. Ou seja, entre os dois modelos comparados, são identificadas relações entre atividades e métodos/ferramentas que sejam existentes em um modelo e ausentes no outro. Essa comparação é realizada par a par até que todas as DMMs sejam comparadas entre si. b) Identificação das relações mais significativas entre atividades e métodos das metodologias de DT 7 10o Congresso Brasileiro de Gestão da Inovação e Desenvolvimento de Produtos Itajubá - MG, 8 a 10 de setembro de 2015 Nesta análise, é realizado o somatório de todas as DMMs obtidas. Assim, destacam-se as relações mais recorrentes entre métodos/ferramentas e atividades, por possuírem maiores valores em seus elementos de cruzamento. Com base no resultado, pode-se identificar as atividades que caracterizam cada método e ferramenta de DT e vice-versa. Com isso, obtém-se uma síntese das relações mais significativas entre atividades e métodos das metodologias de DT. c) Identificação das atividades que caracterizam as metodologias de DT Uma outra análise é realizada por meio da multiplicação da matriz transposta da DMM por ela mesma ( [DMM]T [DMM] ). O resultado desta multiplicação é uma matriz quadrada de dimensão equivalente à quantidade de atividades das DMMs. Essa matriz pode ser considerada uma Design Structure Matrix (DSM), que relaciona as atividades entre si (EPPINGER; BROWNING, 2012). Embora o termo DSM seja originalmente utilizado para se referir a matrizes quadradas que modelam a arquitetura de um sistema, Eppinger e Browning (2012) propõem o seu uso em diversas outras aplicações, incluindo algumas que apresentam similaridades com a DSM aqui proposta. Assim, o termo DSM será utilizado para se referir ao resultado da multiplicação. Em cada posição da diagonal da matriz, o número resultante representa quantas vezes a atividade referente àquela linha e coluna apareceu na metodologia de DT referente à DMM utilizada. Cada elemento (i, j) fora da diagonal contém o número de vezes, na metodologia de DT analisada, em que a atividade i aparece associada à atividade j. Realiza-se então o somatório de todas as DSMs obtidas. A matriz resultante do somatório, de dimensão N x N, contém em cada elemento (i, j) a quantidade de vezes que a atividade i relaciona-se com a atividade j. Na diagonal da matriz, o valor de cada elemento (i, i) representa o número de vezes que a atividade i aparece em todas as metodologias de DT. As principais atividades são destacadas pelos maiores valores presentes na DSM resultante, assim como as principais relações entre atividades que aparecem vinculadas entre si no conjunto de todas as metodologias avaliadas. Dessa forma, pode-se caracterizar o processo de DT por meio de suas principais atividades e relações entre elas, sintetizando o conteúdo das metodologias analisadas. 4. EXEMPLO E DISCUSSÃO Um exemplo de aplicação do método proposto é demonstrado nesta sessão. São utilizadas, neste exemplo, as metodologias de DT propostas por Liedtka (2010) e Plattner (2010), que resultam em 47 métodos/ferramentas únicos, aos quais são relacionadas 191 atividades 8 10o Congresso Brasileiro de Gestão da Inovação e Desenvolvimento de Produtos Itajubá - MG, 8 a 10 de setembro de 2015 únicas. Apenas um método é compartilhado pelos dois modelos: o mapa de jornada. Isso representa um compartilhamento de 2,1% dos métodos e ferramentas pelos modelos. No entanto, no total, os modelos compartilham pouco mais de 100 atividades, ou seja, 53,4% das atividades. Na Tabela 1, são ilustradas quais atividades abrangem o mapa de jornada proposto por cada um dos autores das metodologias analisadas. Para permitir melhor visualização, foram extraídas apenas as atividades referentes ao método “mapa de jornada” para ambas as metodologias. Tabela 1 – Comparação das atividades que caracterizam o método “mapa da jornada” em Liedtka 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 1 1 1 1 1 1 Conectar eventos individuais em um maior contexto Mapear a jornada de cada persona 1 Procurar por espaços/ processos/ jornadas tangenciais com o desafio Construir um quadro/ diagrama Descrever cada quadrante em detalhe 1 Interpretar (Perguntar “Por quê?”) Saturar, organizar e agrupar a informação 1 Identificar atributos compartilhados, padrões e anomalias Identificar as variáveis Estabelecer uma matriz 2x2 1 Tomar notas 1 Caminhar sistematicamente pela jornada do cliente/usuário Sintetizar e compartilhar aprendizagem/ideias Investigar o contexto do grupo de cliente/usuários 1 Estabelecer uma visão hipotética da jornada do cliente/ usuário Identificar um número pequeno de clientes/usuários com atributos demográficos de interesse Conduzir entrevistas Selecionar um grupo adequado de clientes/usuários Liedtka (2010) Plattner 2010) Identificar momentos essenciais de verdade e outros temas através das entrevistas Identificar o número de dimensões necessário para identificar as diferenças nos dados Selecionar duas dimensões principais (2010) e Plattner (2010) Fonte: Elaboração própria As análises por meio de operações sobre as matrizes não foram apresentadas, dado que o pequeno espaço amostral impede a geração de resultados significativos. Observa-se, no entanto, que, se a subtração for realizada, os resultados do método “mapa de jornada” mostram que os autores apresentam ideias bastante distintas em relação a ele. Pode-se indicar algumas razões para a diferença, como o contexto de cada um dos autores estudados. Como a proposta de Liedtka (2010) é voltada para administradores, buscam-se usuários que representem os atributos demográficos de interesse. Já Plattner (2010) apresenta uma proposta mais abrangente, atendo-se ao princípio básico do DT de que deve-se focar no usuário, e não em aspectos demográficos (BROWN, 2010). Para permitir uma análise da tendência dos resultados, foram selecionadas as dez 9 10o Congresso Brasileiro de Gestão da Inovação e Desenvolvimento de Produtos Itajubá - MG, 8 a 10 de setembro de 2015 atividades mais recorrentes, apresentadas na Tabela 2, assim como o número de recorrências e uma classificação interpretativa proposta pelo autor. Tabela 2 – Atividades mais recorrentes nas com Liedtka (2010) e Plattner (2010) Recorrências Atividades mais recorrentes Classificação 13 Saturar, organizar e agrupar a informação Organização 6 Estabelecer uma matriz 2x2 Organização 6 Identificar variáveis Descoberta 5 Sintetizar e compartilhar aprendizagem/ideias Síntese e compartilhamento 5 Tomar notas Síntese e compartilhamento 5 Identificar o que se deseja aprender Interpretação e entendimento 5 Interpretar (Perguntar "Por que?") Interpretação e entendimento 4 Prover material adequado 4 Utilizar figuras 4 Identificar atributos compartilhados, padrões e anomalias Organização Interpretação e entendimento Descoberta Fonte: Elaboração própria Pode-se observar um padrão entre as atividades mais recorrentes. Todas elas estão inclusas em quatro categorias: Organização, Descoberta, Síntese e compartilhamento e Interpretação e entendimento. De fato, se excluirmos a categoria “Organização”, a qual é essencial para qualquer metodologia, as outras categorias são alguns dos princípios básicos do DT. Dessa forma, mesmo que não significativos devido ao espaço amostral, os resultados obtidos até então se mostram compatíveis com o esperado. 5. CONCLUSÃO O DT é proveniente da área de design, a qual é predominantemente multidisciplinar. Entende-se, portanto, a necessidade de interpretações pessoais por parte de cada autor em determinados aspectos. O DT, no entanto, foi abordado de forma exploratória por diversos autores, sem ser verdadeiramente prescritivo. Assim, ele diverge através da literatura. Este trabalho ofereceu um primeiro passo rumo à estruturação da teoria do DT. Ressalta-se que este trabalho não propõe de forma alguma que o pesquisador deixe de utilizar suas próprias interpretações para realizar comparações efetivas. Pelo contrário, entende-se a absoluta necessidade de interpretação das informações fornecidas por cada autor. Porém, propõe-se o uso deste método como ferramenta auxiliar para pesquisas científicas que desejem comparar os modelos de DT propostos na literatura. O teste valida os princípios básicos do método, como a hipótese de que a divisão das metodologias de DT em nível de atividades permite uma intersecção maior entre os modelos para gerar comparações mais significativas (2,1% dos métodos e ferramentas são compartilhados 10 10o Congresso Brasileiro de Gestão da Inovação e Desenvolvimento de Produtos Itajubá - MG, 8 a 10 de setembro de 2015 pelos modelos analisados, enquanto que 53,4% das atividades são compartilhadas). Como pesquisas futuras, verificações e testes devem ser realizados para demonstrar a efetividade do método proposto por este trabalho. Se concretizado, uma comparação efetiva das principais metodologias de DT da literatura pode ser realizada. Propõe-se que esses resultados possam auxiliar na obtenção de um modelo mais abrangente que compile as informações mais relevantes do conjunto de metodologias analisadas, obtendo-se uma metodologia mais concreta que guie a aplicação do DT. 6. APOIO Apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), processo 2015/00291-0. As opiniões, hipóteses e conclusões ou recomendações expressas neste material são de responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a visão da FAPESP. REFERÊNCIAS BLESSING, L. T. M.; CHAKRABARTI, A. DRM : A design research methodology. London: SpringerVerlag London Ltd, 2009. BROWN, T. Design thinking. Harvard Business Review, v. 86, p. 84–92, 141, 2008. BROWN, T. Design Thinking: Uma metodologia poderosa para decretar o fim das velhas ideias. Rio de Janeiro: Elsevier Editora Ltda, 2010. DORST, K. The core of “design thinking” and its application. Design Studies, v. 32, n. 6, p. 521–532, 2011. EPPINGER, S. D.; BROWNING, T. R. 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