São muitas as expectativas de vida que temos, algumas se cancelam, algumas se
modificam, outras se renovam. Tudo vai se moldando de acordo com os acontecimentos
ao passar do tempo, ou seja, tudo está propício a inconstância de um destino que, ainda
não presente, é incerto. Mas para aqueles que buscam seu norte, confiantes naquilo que
querem, os ventos contrários tornam-se brisa. Tudo em prol de sonhos que aos poucos
vão ganhando cores, formas e dimensões. Fazer parte da Marinha Mercante é um sonho,
e trata-se de algo bem peculiar, ser mercante é não temer a imensidão do mar, tampouco
ter receio do destino onde o infinito oceano pode nos levar, é estar com coração e mente
abertos para navegar. Ao ingressar na Escola de Formação de Oficiais da Marinha
Mercante, inicia-se o período de adaptação, não somente para adaptar-se a transição do
âmbito civil para o militar, o que já engloba diversas mudanças, mas adaptar-se, ainda, a
uma nova filosofia de vida. E as mudanças precisavam acontecer nos mínimos detalhes,
desde um fio de cabelo fora do coque até a resistência da força física abalada pela
exaustão. Foram 19 longos dias de adaptação, em que as horas pareciam durar uma
eternidade. Foram dias de “pagação” insana, muita vibração para sustentar a nossa
“carcaça”, mas acima de tudo, de aprendizado e de superação. Ao anoitecer, quando
tínhamos tempo para pensar e assimilar o que se passava, podíamos perceber o quanto ser
disciplinado pouparia nosso corpo de pagar pelos erros que nossa mente não nos impedia
de cometer, aprendemos o quanto o tempo é precioso, que 15 minutos era o suficiente
para fazer tudo que fosse determinado, isso nos ensinou a valorizar, inclusive, os
pequenos segundos de nossas vidas. Cada minuto de descanso era valioso para aliviar
nosso cansaço físico e psicológico. Em certos momentos, a motivação era tudo que
tínhamos para nos sustentar, era o que fortalecia o nosso ego nos incentivando a buscar a
superação. Também encontrávamos forças em nossos campanhas, todos se ajudavam em
situações simples e críticas, pois a turma é uma só, o que prevalece é o espírito de corpo,
o tal famoso “Um por todos e todos por um!”. Assim aprendemos quão importante é se
unir, uma vez que grande parte de nós veio de outros estados, e até mesmo de outros
países, nós mesmos nos acolhemos, desde já aprendemos algo primordial dessa carreira,
precisamos uns dos outros, e assim será no mar. A união e a corporação da turma nos
elevava a outros patamares, nos proporcionava a sensação de confiança e de segurança
por saber que não estávamos sozinhos. Estávamos, porém, em busca do mesmo objetivo,
do mesmo sonho, passar da etapa de adaptação e dar início a formação que nos levará a
uma honrosa profissão, e o orgulho de fazer parte dela assolava nossos corações. Aqui
laços fortes se formam, amizades verdadeiras que gostaremos de preservar e levar além
das imediações da Escola. Nossos adaptadores nos passavam os ensinamentos necessários
para a nossa sobrevivência aqui dentro, e já que havia sido ensinado, poderia ser cobrado,
e de fato era. O intuito era fazer de nós pessoas capazes de representar a instituição e seus
princípios. Todo conhecimento que nos foi dado precisava ser posto em prática, e com
muito empenho ser desenvolvido ao decorrer do tempo a fim de que passasse a fazer parte
da nossa nova essência. Os adaptadores, que tinham como missão transformar nossas
vidas, vibravam a cada evolução nossa, com cada retorno que a turma dava. A cobrança
não era em vão, era o que nos prepararia para a rotina militar. Levaremos o
amadurecimento adquirido durante o período de adaptação para a vida inteira, foram dias
que jamais serão esquecidos, dos quais lembraremos com muito orgulho e com enorme
satisfação. Somos agora alunos do primeiro ano da EFOMM! No dia 15 de maio de 2015
juraremos à bandeira. Nossos pais, familiares e amigos estarão presentes na cerimônia
para aplaudir – orgulhosos – a nossa vitória. As lágrimas de felicidade escorrerão em suas
faces, receberemos o abraço apertado e amoroso daqueles que tanto torceram pela
realização deste dia. Marcharemos mais vibrantes que nunca, bradaremos com toda
intensidade que nossos pulmões suportarem, nossas vozes irão ecoar pelos sete mares,
estaremos radiantes transmitindo toda a emoção guardada em nosso peito varonil. O
juramento à bandeira será um marco na vida de cada um de nós, este dia será fadado à
eternidade. Somos parte da Marinha do Brasil, levaremos a esperança, a sabedoria e a
nobre vontade de desbravar e singrar os oceanos. Somos da mercante, somos mulheres e
homens do mar.
Al. Thamires Maia
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