BIOÉTICA: A UTILIZAÇÃO DE ANIMAIS EM TESTES DE
COSMÉTICOS
Oliveira, Thiago de Jesus.¹
Peres, Patrı́cia Sanchez2 ; Roveratti, Dagmar Santos¹,2
1 - Centro Universitário Fundação Santo André Santo André / S.P. [email protected]
2 - Instituto IBIETÁ São Caetano do Sul / S.P. [email protected]
INTRODUÇÃO
O Brasil está em quinto lugar entre os paı́ses que
mais consomem cosméticos do planeta, com 1.258 empresas atuando neste setor. Aparece em oitavo lugar entre outros paı́ses em quantidade de empresas
de cosméticos no mundo, gerando empregos para 2,5
milhões de pessoas no paı́s, o que corresponde a 2,7%
da população economicamente ativa brasileira (CAMARGO; MENDONÇA; DUARTE, 2009).
De acordo com a Agência Nacional de Vigilância
Sanitária ANVISA (2010), apesar de numerosos, os
cosméticos são formulados com um número restrito de
ingredientes os quais podem ser substâncias quı́micas
sintéticas ou extratos de origem vegetal ou animal ou,
ainda, a associação entre estes ingredientes. Devido a
esta diversidade, os riscos da utilização dos cosméticos
devem ser avaliados por diferentes abordagens e esta
avaliação deve preceder a inserção do produto final
no mercado. A ANVISA afirma que na ausência de
métodos substitutivos in vitro adequados e válidos, a
maioria dos testes só pode ser razoavelmente avaliada
em animais, sendo de responsabilidade do pesquisador
e dos avaliadores a redução máxima do número de animais de laboratório utilizados, bem como a máxima
redução de seu sofrimento.
Porém, nem todos os testes que são feitos em animais
são transponı́veis aos seres humanos. Muitos são os
casos de substâncias que expressam uma resposta nas
cobaias e a resposta obtida nos seres humanos expostos
à mesma substância é outra. Esta situação é denominada idiossincrasia (RAYMUNDO; GOLDIM, 2002).
Em meados de 1960, A utilização de talidomida em
tranqüilizantes é um exemplo de idiossincrasia: essa
substância não causou nenhuma reação nos testes realizados em ratos, porém, quando administrada em
tranqüilizantes e ingeridos por mulheres grávidas, resultou em dez mil crianças nascidas com deformações
congênitas em membros (PEREIRA, 2006).
O termo bioética foi utilizado pela primeira vez pelo
oncologista Van Rensselaer Potter, em 1970 e sua intenção era desenvolver uma ética das relações vitais,
dos seres humanos entre si e dos seres humanos com
ecossistema (SOARES; PINEIRO, 2002). Atualmente
a bioética é considerada tema de discussão em diversas
áreas do conhecimento: juristas, teólogos e sociólogos
discutem com profissionais da área da saúde o desenvolvimento de uma ética que contemple a aplicação das
conquistas biomédicas e biotecnológicas, sem preterir os
valores morais presentes na sociedade (NEVES, 2000).
A noção de bioética deve girar em torno das questões
que têm a vida como objeto principal, não se limitando
apenas à vida humana, mas impondo o respeito à vida
dos demais seres vivos (SOARES; PINEIRO, 2002).
Em 1959, Rex Burch e William Russell introduziram
o conceito dos 3R´s no livro ”The Principles of Humane Technique”: replace (substituir), reduce (reduzir) e refine (refinar). O significado do conceito induz a
utilização mı́nima de animais em experimentos, com o
mı́nimo de sofrimento possı́vel, visando sempre à busca
por novas alternativas e técnicas substituı́veis que não
alterem os resultados do estudo (CAZARIN;CORRÊA;
ZAMBRONE, 2004).
X Congresso de Ecologia do Brasil, 16 a 22 de Setembro de 2011, São Lourenço - MG
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OBJETIVOS
Este estudo teve como objetivo fazer um levantamento
de dados referente ao conhecimento da população da
região do Grande ABC / SP sobre a utilização de animais em testes de laboratório, realizados por empresas
de cosméticos, verificando qual a posição do consumidor sobre o assunto, além de propor um “selo de identificação” que garanta o direito do consumidor em optar
por produtos testados ou não em animais.
Porém, quando questionada a respeito de um selo de
identificação, a grande maioria é a favor da criação de
um selo que identifique para os consumidores quais empresas de cosméticos utilizam animais para testarem
seus produtos. Estas pessoas afirmaram que a idéia
da criação do selo é ótima uma vez que pode orientar
a escolha dos consumidores atentos aos princı́pios da
bioética e que seria uma forma fácil e ágil de prestigiar
as empresas que não utilizam animais em seus testes.
CONCLUSÃO
MATERIAL E MÉTODOS
A metodologia utilizada foi a aplicação de um questionário semi - estruturado, composto por seis questões
alternativas, abordando perguntas relativas aos tipos
de cosméticos utilizados pelos entrevistados, conhecimento dos entrevistados sobre a realização de testes
em animais antes da comercialização de alguns destes
produtos, tipos de animais que são utilizados nos testes e se o entrevistado utilizaria um cosmético que foi
testado em animais. Como base para algumas questões
foram utilizadas informações disponı́veis no endereço
eletrônico do PEA - Projeto Esperança Animal sobre
empresas nacionais que não utilizam animais em seus
testes. A partir destes dados, foi desenvolvida uma das
questões onde o entrevistado respondeu quais empresas, na opinião dele, utilizam ou não animais em seus
testes. O questionário foi aplicado para 100 pessoas,
moradores da Região do Grande ABC (Santo André,
São Bernardo do Campo e São Caetano do Sul) durante
o último semestre de 2010. A abordagem foi aleatória,
explicando aos entrevistados os objetivos da pesquisa.
RESULTADOS
Quando questionados se sabiam que alguns cosméticos
eram testados em animais, 74% dos entrevistados responderam que sim, 24% responderam que não e 2% não
responderam a questão. Já quando questionados se usariam cosméticos mesmo sabendo que por uma questão
de segurança foram testados em animais, 55% responderam que sim, utilizariam cosméticos mesmo sabendo
que foram testados em animais. Já 40% dos entrevistados responderam que não utilizariam. Foi perguntado
aos consumidores se seria interessante a implantação
de um selo que diferenciasse os cosméticos testados em
animais, dos cosméticos não testados: 87% responderam que sim, 11% responderam que não uma vez que
nenhuma empresa deveria realizar testes com animais
e, sendo assim, o selo seria desnecessário.
Verificou - se que a maioria das pessoas sabe que
cosméticos são testados em animais e que, apesar de
estarem cientes dessa informação, muitas utilizariam
os cosméticos sabendo que são testados em animais.
¡p class=”MsoNormal”style=”text - align: justify; line
- height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;¡span¿Uma
das conclusões mais claras que podemos citar neste trabalho é o fato de que embora a maioria das pessoas entrevistadas saiba que os cosméticos podem ser testados
em animais, não sabem identificar as empresas que testam ou não seus produtos em animais: para todas as
empresas apresentadas a maioria das respostas foi “não
sei” e, por este motivo, seria interessante o selo de identificação mencionando a utilização ou não de animais
nos testes destas empresas ou produtos. Isto levaria ao
consumo consciente no que se refere às questões relacionadas à bioética.
REFERÊNCIAS
AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (ANVISA). 2010. Classificação de Produtos
de higiene Pessoal, cosméticos e Perfumes. Disponı́vel
em: http://www. portal.anvisa.gov.br.
CAMARGO, Clayton Neves; MENDONÇA, Caio Alencar; DUARTE, Sarah Marins. 2009. Beleza é algo relativo, depende de quem a contempla. Saúde e Sociedade,
São Paulo, v. 18, n. 3, p. 395 - 410,
CAZARIN, Karen Cristine Ceroni, CORRÊA, Cristiana Leslie; ZAMBRONE, Flávio Ailton Duque. 2004.
Redução, refinamento e substituição do uso de animais
em estudos toxicológicos: uma abordagem atual. Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas, Campinas SP, v.40, n.3, p. 289 - 299.
NEVES, Maria do Céu Patrão (Org.). 2000. A Bioética
e sua Evolução. O Mundo da Saúde. São Paulo, v. 24,
n.3.
PEREIRA, Paula Gabriela. 2006. A Bioética na experimentação animal. Trabalho de Conclusão de Curso
(TCC). Centro Universitário da Fundação Educacional
Guaxupé. Guaxupé MG.
RAYMUNDO, Márcia Mocellin; GOLDIM, José Roberto. 2002. Ética da pesquisa em modelos animais.
Revista Bioética, Brası́lia, v.10, n. 1, p. 31 - 44.
SOARES. André Marcelo; PINEIRO, Walter Esteves.
2002. Bioética e biodireito: uma introdução. São
Paulo: Ed. Loyola, 135p.
X Congresso de Ecologia do Brasil, 16 a 22 de Setembro de 2011, São Lourenço - MG
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