1 Prezado(a) candidato(a): Assine e coloque seu número de inscrição no quadro abaixo. Preencha, com traços firmes, o espaço reservado a cada opção na folha de resposta. Nº de Inscrição Nome PROVA DE LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA EM LÍNGUA PORTUGUESA Leia o texto abaixo, de Jô Soares, e responda, em seguida, às questões de 1 a 7. Papo brabo Jô Soares A verdade é que não se escreve mais como antigamente; pois naquele tempo não havia computadores e, por incrível que pareça, nem mesmo canetas esferográficas. Porém, se fôssemos registrar em papel todos os absurdos do ser humano, não sobraria sequer uma resma para os cartões de Natal. Isso posto, não de gasolina nem de saúde, já que uma é cara e a outra é carente, vamos ao que interessa. Quando digo vamos ao que interessa, vem-me logo à mente a pergunta: interessa a quem? A mim, pensará o leitor desavisado. O leitor avisado perceberá facilmente que estou me referindo em geral a assuntos interessantes e, se não forem, também não interessa. Resolvida essa questão da maior importância para aqueles que assim pensam, passo a seguir ao tema central da discussão, por sinal uma discussão que se perpetua enquanto dura. A pergunta é a seguinte: como abordar um tema central quando se está fora do centro e, por isso mesmo, longe do efeito da força centrífuga? Como ficam nisso tudo o centro do poder, o centro espírita, o centro da cidade e o centro sempre discutido das pessoas autocentradas? Convenhamos, o que é centro para uns é esquerda para outros e direita no sentido de quem vem. Infelizmente, quando se entra em assunto tão polêmico, ninguém se atreve a responder. Mesmo porque, ainda nem foi perguntado. Se for e quando for, tenho certeza de que sempre haverá alguém para discordar e eu perdôo, pois essas contradições são inerentes à alma humana. Disse alma humana? Que dizer, então, das outras almas? Da desumana, da penada, da alma do negócio e, principalmente, da alma minha gentil que te partiste/ tão cedo desta vida descontente/ repousa lá no céu eternamente? 2 Não quero parecer ilógico, mas seria de péssimo gosto trazer mais uma vez à baila essa intrigante questão. Aliás, pensando bem, ou mesmo pensando mal, por que trazer à baila e não levar ao baile? Ou mesmo trazer o baile à baila? Nunca tiveram a coragem de revelar essa incongruência histórica: no baile da Ilha Fiscal ninguém pagava imposto de renda. Digam o que disserem: a dura realidade é que nenhum intelectual que se preze pode desprezar-se. Tenho a mais absoluta convicção de ter sido claro e objetivo na colocação dessas idéias. Para finalizar, termino. Moral: Pode ser que esse texto seja incoerente, mas faz muito mais sentido do que o massacre dos sem-terra. Antes que eu me esqueça: a reforma agrária já começou. Criaram um ministério. QUESTÃO 1 Todas as alternativas a seguir trazem trechos que ilustram o título do texto, em termos do efeito de sentido que ele gera, EXCETO: a) b) c) d) A verdade é que não se escreve mais como antigamente, [...] Isso posto, não de gasolina, nem de saúde, [...] [...] por que trazer à baila e não levar ao baile? [...] como abordar um tema tão central quando se está fora do centro [...] QUESTÃO 2 Leia os trechos a seguir: I. II. III. IV. [...] por sinal uma discussão que perpetua enquanto dura. [...] nenhum intelectual que se preze pode desprezar-se. Digam o que disserem: Aliás, pensando bem, ou mesmo pensando mal [...] Assinale a opção em que se indiquem trechos construídos a partir de um mesmo recurso lingüístico, o qual resulta em um jogo de palavras e de sentidos. a) b) c) d) I, II e III. I, II e IV. II e III apenas. III e IV apenas. 3 QUESTÃO 3 Assinale a alternativa que traz consideração INADEQUADA sobre o exemplo a seguir: Isso posto, não de gasolina nem de saúde, já que uma é cara e a outra é carente, vamos ao que interessa. a) Na seqüência Isso posto, considerando-se todo o trecho, o leitor é levado a reenquadrar morfologicamente a palavra posto – de verbo para substantivo. b) Em já que uma é cara e a outra é carente, o autor procura explicar a ressalva anteriormente feita. c) A palavra cara é usada como antônimo de carente. d) As palavras gasolina e saúde indicam a polissemia da palavra posto. QUESTÃO 4 Sobre o texto é CORRETO afirmar que ele é uma crônica que problematiza, com humor e ironia, a) b) c) d) os escritores. o discurso da mídia. os humoristas. ações inócuas. QUESTÃO 5 Que ditado popular se apresenta como uma ilustração adequada à temática do texto em exame? a) b) c) d) Falou e disse. Quem fala muito dá bom dia a cavalo. Conversa para boi dormir. Em boca fechada não entra mosquito. 4 QUESTÃO 6 Consideradas as informações trazidas na última parte do texto (Moral: [...]), é INCORRETO afirmar sobre ele: a) O efeito de humor e ironia do texto é provocado, por exemplo, pelo conteúdo expresso nos enunciados. b) Reconhece-se um discurso que reflete sobre um discurso. c) Os enunciados, a um só tempo, encerram humor e ironia, por meio dos quais ecoa um tom de denúncia. d) A ironia, o deboche e o humor somente se manifestam na parte que antecede a Moral. QUESTÃO 7 Leia atentamente os trechos abaixo. I. II. III. IV. Isso posto, nem de gasolina, nem de saúde [...] Quando se está fora do centro [...] Como ficam o centro do poder, o centro da cidade, o centro espírita, o centro sempre discutido das pessoas autocentradas. Mas seria ilógico trazer à baila essa intrigante questão. Aliás, pensando bem ou mesmo pensando mal, porque trazer à baila e não levar ao baile [...] Disse alma humana? Que dizer das outras almas? Da desumana, da penada, da alma do negócio [...] Sobre eles é INCORRETO afirmar: a) Os enunciados possuem expressões que promovem interpretações não previstas, preliminarmente, pois o que se pretende é explorar o inusitado. b) Nos itens I e II, há expressões que podem provocar ambigüidade. Isso se concretiza tendo em vista a intenção do autor em criar uma interlocução com o leitor, assentada num nonsense. c) Os itens III e IV não apresentam fenômenos de ambigüidade, ou seja, as palavras, no enunciado em exame, não sugerem sentidos diferentes. d) A escolha das palavras pelo autor não é arbitrária; reconhece-se um trabalho de seleção e combinação. Isso demonstra que as palavras ganham um sentido no texto. 5 As questões de 08 a 15 devem ser respondidas com base na leitura das obras indicadas previamente. QUESTÃO 8 Leia o fragmento, extraído do “Poema em linha recta”, de Álvaro de Campos, heterônimo de Fernando Pessoa: Nunca conheci quem tivesse levado porrada. Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo. [...] Toda a gente que eu conheço e que fala comigo Nunca teve um acto ridículo, nunca sofreu enxovalho, Nunca foi senão príncipe – todos eles príncipes – na vida... Quem me dera ouvir de alguém a voz humana Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia; Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia! Não, são todos os Ideal, se os oiço e me falam. Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil? Ó príncipes, meus irmãos, Arre, estou farto de semideuses! Onde é que há gente no mundo? Sobre os versos acima, é INCORRETO afirmar que: a) fazem uso de metáforas e ironia. b) endossam a hipocrisia com que se tramam as relações em sociedade. c) traduzem o sentimento de marginalidade e de solidão que experimenta o eu-lírico. d) exemplificam a opção pela prosificação da poesia e pelo uso de linguagem coloquial que marcam a obra de Álvaro de Campos. 6 QUESTÃO 9 SENSACIONISMO é a corrente do Modernismo Português criada por Fernando Pessoa que faz a apologia da sensação como a única realidade da vida corrente. Todas as passagens, extraídas de Poemas de Álvaro de Campos, demonstram a vinculação de sua poesia ao Sensacionismo, EXCETO: a) “Notícias desmentidas dos jornais, Artigos políticos insinceramente sinceros, [...] O cheiro fresco a tinta de tipografia! Os cartazes postos há pouco, molhados! Vients-de-paraître amarelos com uma cinta branca! Como eu vos amo, a todos, a todos, a todos, Como eu vos amo de todas as maneiras, Com os olhos e com os ouvidos e com o olfacto E como o tacto (o que apalpar-vos representa para mim!) [...] Ah, como todos os meus sentidos têm cio de vós!” b) “Multipliquei-me para me sentir, Para me sentir, precisei sentir tudo, Transbordei, não fiz senão extravasar-me, Despi-me, entreguei-me, E há em cada canto da minha alma um altar a um deus diferente.” c) “Nada me prende, a nada me ligo, a nada pertenço. Todas as sensações me tomam e nenhuma fica. Sou mais variado que uma multidão de acaso, Sou mais diverso que o universo espontâneo, Todas as épocas me pertencem um momento, Todas as almas um momento tiveram seu lugar em mim.” d) “Grandes são os desertos, e tudo é deserto. Não são algumas toneladas de pedras ou tijolos ao alto. Que disfarçam o solo, o tal solo que é tudo. Grandes são os desertos e as almas desertas e grandes – Desertas porque não passa por elas senão elas mesmas, Grandes porque de ali se vê tudo, e tudo morreu.” 7 QUESTÃO 10 O título “Uma estória de amor”, da narrativa de Guimarães Rosa, só NÃO pode remeter ao: a) b) c) d) desejo de Manuelzão por Leonísia. romance entre velho Camilo e Joana Xaviel. envolvimento entre Adelço e Joana Xaviel. Romanço do Boi Bonito, narrado por Camilo. QUESTÃO 11 Identificou-se corretamente a personagem a que se refere a passagem de “Uma estória de amor”, EXCETO em: a) “Ele nascera na mais miserável pobrezazinha, desde menino pelejara para dela sair, para pôr a cabeça fora d’água, fora dessa pobreza de doer. Agora, com perto de sessenta anos, alcançara aquele patamar meio confortado, espécie de começo de metade de terminar.” (VELHO CAMILO) b) “... era mesquinho e fornecido maldoso, um homem esperando para ser ruim. Só punha toda estima em sua mulher e nos filhinhos, das outras pessoas tinha uma raiva surdada.” (ADELÇO) c) “Mesmo tinha viajado de vir ali, estúrdio, um homem-bicho, para vislumbrar a festa! [...] Desde não se sabia mais, desde moço [...] tinha ido viver sozinho no pé-da-serra [...] fedia a mijo de cavalo.” (JOÃO URÚGEM) d) “... mirava, da dansa não arredava os olhos. Queria aprender? Ele aprendia. Tinha os sinais, tinha a lã. Vadio. Mas não era de uma vadiice que apendoavam as simpatias?” (PROMITIVO) QUESTÃO 12 Em A Hora da Estrela, de Clarice Lispector, o narrador Rodrigo S.M. faz várias reflexões a respeito de si mesmo e do trabalho literário. Todas as passagens são exemplos dos autoquestionamentos metalingüísticos produzidos pelo narrador, EXCETO: a) “Assim é que experimentarei contra os meus hábitos uma história com começo, meio e ‘gran finale’ seguido de silêncio e de chuva caindo.” b) “Desculpai-me mas vou continuar a falar de mim que sou meu desconhecido, e ao escrever me surpreendo um pouco pois descobri que tenho um destino.” c) “E quando acordava? Quando acordava não sabia mais quem era. Só depois é que pensava com satisfação: sou datilógrafa e virgem, e gosto de coca-cola.” d) “Afianço-vos que se eu pudesse melhoraria as coisas. Eu bem sei que dizer que a datilógrafa tem o corpo cariado é um dizer de brutalidade pior que qualquer palavrão.” 8 QUESTÃO 13 Só NÃO se pode afirmar sobre enredo de A hora da estrela, de Clarice Lispector: a) Macabéa fora criada com a tia, que a maltratava e humilhava. b) Olímpico se apaixona por Macabéa, mas acaba namorando Glória, acreditando nas mentiras que esta contava sobre a nordestina. c) É Glória quem incentiva a ida de Macabéa à cartomante, que lhe faz previsões duvidosas. d) A Rádio Relógio encantava Macabéa, que a ouvia todas as madrugadas no rádio emprestado pela colega de quarto. QUESTÃO 14 Sobre o livro Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra, de Mia Couto, a afirmativa INCORRETA é: a) A linguagem do romance é lírica, poética e metafórica, além de trazer palavras da língua africana. b) Várias lendas e costumes moçambicanos são retratados no livro através de personagens como a avó Dulcineusa e o coveiro Curozero. c) Cada capítulo do livro é precedido de uma epígrafe. Tais textos são atribuídos a alguns personagens do livro e a autores como o brasileiro João Cabral de Melo Neto. d) O título se explica no enredo do romance pela memória familiar que é trazida à tona na morte do patriarca da família, Dito Mariano, o qual morreu afogado em um rio do lugarejo onde morava. QUESTÃO 15 Todas as alternativas trazem trechos de Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra que retratam os costumes da família do protagonista, EXCETO: a) “Meu pai conhece a história da moça do cemitério. É um caso antigo, a menina se divergira do seu destino desde que nascera. Dizia-se, à boca curta, que ela tomava venenos.” b) “Desde que eu nascera o Avô Mariano me havia escolhido para sua preferência. Herdara seu nome. E ele, vaidoso, até me trazia às costas, que é coisa interdita para um homem.” c) “Levanto-me e dou uns passos à volta, sem direcção. Diz meu pai que, ao acordar, se deve rodar para desfazer as voltas do sono.” d) “O Avô era o munumuzana, o mais-velho da família. Competia-lhe por tradição a tarefa de matar os animais.” 9 P R O P O S TA D E P R O D U Ç Ã O D E T E X T O Como leitor assíduo da revista em que foi publicada a crônica Papo Brabo, você resolve encaminhar à Seção de Cartas da referida revista um texto, por meio do qual expresse a sua opinião relativamente a fato/situação/acontecimento do nosso tempo que se mostra absurdo, sem sentido, inacreditável, segundo seu ponto de vista. Pautando-se por essa orientação, você deverá: a) elaborar uma carta cujos destinatários são os leitores da revista em questão; b) apresentar fato/situação/acontecimento de forma contextualizada a esses leitores; c) deixar claro o seu ponto de vista relativo ao que foi descrito, desenvolvendo argumentos que sustentem sua posição; d) desenvolver uma discussão que estimule os leitores (da revista) a refletirem sobre o tema por você abordado. 10 RASCUNHO DO TEXTO