Obsolescência Programada ----------- Mestrado em Gestão e Estratégia Empresarial Orientador da Dissertação: Prof. Doutor José Manuel da Fonseca Rui Filipe Palhares Pinto 50030117 Lisboa 15 de Junho de 2015 Obsolescência Programada 2 Declaração de autoria O conteúdo deste relatório é da exclusiva responsabilidade do(a) autor(a). Mais declaro que não incluí neste trabalho material ou dados de outras fontes ou autores sem a sua correta referenciação. A este propósito declaro que li o guia do estudante sobre o plágio e as implicações disciplinares que poderão advir do incumprimento das normas vigentes. Data Assinatura ________________ _________________________ 3 Índice 1 Introdução ...................................................................................................................... 7 2.1 Obsolescência programada ......................................................................................... 9 2.1.1 Contextualização histórica ....................................................................................... 9 2.1.2 Definição de conceitos........................................................................................... 14 2.1.3 Tipos de Obsolescência ......................................................................................... 15 2.1.4 Fatores que influenciam a obsolescência programada .......................................... 16 2.1.5 Estudos sobre obsolescência programada.............................................................. 18 III. Estudo de caso .......................................................................................................... 25 3.1.1 Microsoft ............................................................................................................... 25 3.1.2 Microsoft História e Primeiros Anos ..................................................................... 26 3.1.3 Arranque da Microsoft e do Windows 1975 – 1981 ............................................. 27 Os primórdios do MS-DOS .................................................................................... 27 1982–1985: Apresentamos o Windows 1.0 ............................................................ 28 1987–1990: Windows 2.0–2.11 — Mais janelas, mais rapidez ............................. 28 1990–1994: Windows 3.0 ....................................................................................... 29 1995–1998: Windows 95 — a maioridade do PC (sem esquecer a Internet) ......... 29 1998–2000: Windows 98, Windows 2000 ............................................................. 30 Windows 2000 Professional ................................................................................... 30 2006–2008: Windows Vista — Inteligente em matéria de segurança.................... 31 2009-2011: Windows 7 .......................................................................................... 32 2012-2013: Windows 8 .......................................................................................... 32 2013: Windows 8.1 ................................................................................................. 32 4.1Metodologia de Investigação ..................................................................................... 33 4.1.1 Opções metodológicas ........................................................................................... 33 4 4.1.2 Descrição do estudo ............................................................................................... 34 4.1.3 Participantes no estudo .......................................................................................... 36 4.1.4 Análise de conteúdo dos alunos............................................................................. 36 5.1 Conclusões ................................................................................................................ 39 6.1 Limitações e implicações para estudos futuros ........................................................ 42 Bibliografia ..................................................................................................................... 43 Anexo 1 .......................................................................................................................... 44 5 Resumo Esta dissertação tem como tema central a obsolescência programada e como estudo de caso a Microsoft no qual pretende-se analisar quais os fatores que influenciam as alterações constantes dos sistemas operativos da Microsoft, bem como quais as vantagens e desvantagens do desenvolvimento progressivo dos sistemas operativos ao longo do tempo, apesar de ainda serem “funcionais” ou seja não estarem obsoletos verdadeiramente. Neste sentido, será aplicado um guião de entrevista semiestruturada a alunos do Ensino Superior da área das tecnologias de forma a averiguar que opiniões possuem sobre esta atualização progressiva, bem como que vantagens destacam quer para a economia, quer para os consumidores e para a Microsoft de um modo geral. Assim, o guião de entrevista será constituído por quatro questões de resposta aberta que apesar de não serem diretas ao tema da obsolescência programada, ou seja, apesar dos alunos não saberem que o objetivo central é a obsolescência programada, as questões da referida entrevista têm em conta averiguar essa questão, assim os dados recolhidos não serão enviesados. Tendo em conta esta metodologia, este estudo será de tipo qualitativo e descritivo e a amostra utilizada será de conveniência. Palavras-chave: Obsolescência programada, Microsoft, Sistemas Operativos. 6 1 Introdução Atualmente, um dos processos econômicos que tem afetado a população mundial é a chamada Obsolescência Programada, sendo que somente uma pequena parcela da sociedade conhece e entende esse termo, mesmo estando ele presente em grande parte do dia-a-dia de toda a população. O lançamento imparável de produtos que enchem as prateleiras obedecem por um lado, o rápido avanço da tecnologia, mas por outro lado, a necessidade das indústrias para venderem novos produtos como se fossem grandes saltos tecnológicos que muitas vezes não são. Esta investigação tem como principal intuito analisar quais os fatores que influenciam as alterações constantes dos sistemas operativos da Microsoft, bem como quais as vantagens e desvantagens do desenvolvimento progressivo dos softwares ao longo do tempo, apesar de ainda serem “funcionais” ou seja não estarem obsoletos verdadeiramente. Neste sentido, será aplicado um guião de entrevista semiestruturada a alunos do Ensino Superior da área das tecnologias com o objetivo de analisar a existência ou não da obsolescência programada, sendo que as questões da entrevista serão realizadas no sentido de se tentar compreender esta problemática sem referir diretamente o tema em análise, ou seja tentar averiguar qual a opinião dos alunos sobre as alterações constantes a nível dos sistemas operativos e quais os fatores que destacam como relevantes neste processo. Outra questão relevante é que os sistemas operativos apesar de não serem alvo de desgaste físico tornam-se obsoletos devido a sua gradual atualização, entretanto pretende-se averiguar qual o papel das próprias organizações no decorrer deste processo, mais concretamente nos sistemas operativos da Microsoft. Atualmente, pode-se dizer que toda a sociedade é vítima da obsolescência programada, uma vez que esta é o motor secreto da sociedade de consumo. Trata-se de uma lógica perversa, cujo dogma impõe que se as pessoas não comprarem a economia não vai crescer. (Dannoritzer, 2011) Assim, este estudo encontra-se subdividido em seis capítulos, de entre os quais se destaca: o primeiro faz referência à introdução ao estudo, o segundo capítulo aborda a revisão bibliográfica, mais concretamente os principais conceitos em apreço, bem como, 7 a contextualização histórica face ao tema, definição e os principais fatores que influenciam a sua ocorrência. No terceiro capitulo será feito a introdução do estudo de caso e uma breve caracterização e contextualização da Microsoft, bem como do sistema operativo Windows. O quarto capítulo faz referência à metodologia na qual se fará a caraterização da amostra do estudo, bem como dos principais procedimentos adotados, a caraterização do tipo de estudo (descritivo e qualitativo), e o tipo de instrumentos utilizados na recolha de dados e a analise e discussão dos principais resultados encontrados. O quinto capítulo aborda as principais conclusões obtidas e o último capítulo refere-se às principais limitações do estudo e implicações para estudos futuros. 8 II. Enquadramento teórico 2.1 Obsolescência programada 2.1.1 Contextualização histórica Apesar de ser um tema pouco divulgado junto da opinião pública, a obsolescência programada já é praticada desde o início do século passado, surgindo ao mesmo tempo que a produção em massa e a sociedade de consumo (Dannoritzer, 2011). O problema dos produtos feitos para durarem menos é um padrão que começou com a revolução industrial. De facto, com a revolução industrial a capacidade produtiva das fábricas aumentou e os preços dos produtos diminuíram tornando-se mais acessíveis para os consumidores. Das novas fabricam saiam mercadorias muito mais baratas para os consumidores, porém o excesso de produção fez com que os consumidores já não conseguissem acompanhar o ritmo das máquinas. (Dannoritzer, 2011). Em 1928, uma influente revista de publicidade “Printers Ink” advertia: um produto que não se desgasta é uma tragedia para os negócios1. O desejo de acelerar o desgaste, o consumo e a renovação dos objetos, e especialmente dos equipamentos é uma tentação muito compreensível para os fabricantes, cujo objetivo é vender sempre mais. (Latouche, 2012) A obsolescência programada será descrita de forma mais aprofundada seguidamente, mas está associada ao facto dos fabricantes conceberem um produto para que tenha uma duração de vida limitada2. Neste sentido, destaca-se como relevante, tentar compreender melhor esta temática, nomeadamente a sua origem, bem como quais os fatores que levaram à sua ocorrência e predominação no tempo. A (inteligência tecnológica) da revolução industrial, a mudança dos produtos artesanais para a produção em massa em linhas de montagem, com auxílio das máquinas a vapor permitiu que os países industrializados se tornassem muito mais eficientes a produzir. Em 1913, um trabalhador demorava 12,5 horas a fazer o chassis de um automóvel, em 1914 demorava 1,5 horas. Em 1979, o custo da produção de um megabit de capacidade 1 2 (Dannoritzer, 2011) (Latouche, 2012) 9 de processamento era de cerca de vinte mil dólares, em 2001, o custo tinha baixado para dois cêntimos. (Leonard, 2010) Face a este elevadíssimo aumento de produtividade, as sociedades industrializadas viram-se perante um dilema: continuar a produzir aproximadamente a mesma quantidade de coisas que antes e trabalhar muito menos ou continuar a trabalhar o mesmo número de horas que antes e continuar a produzir tanto quanto possível. (Leonard, 2010). Assim, uma vez instituído o sistema para produzir mais, o dilema passou a ser como vender. Os produtores não podiam continuar a produzir em grande quantidade sem ter alguém que compre, era necessário criar uma sociedade de consumidores. Quando a produção disparou, uma das primeiras mensagens transmitidas aos consumidores foi que era melhor ter mais do que um exemplar da maioria das coisas. Mas mesmo assim os produtores perceberam que havia um eventual limite para a quantidade de coisas que as pessoas podiam consumir. A determinada altura haveria uma saturação total e se as fabricas continuassem a produzir em massa depois dos consumidores estarem saturados de produtos, haveria superabundância, o que seria trágico para o negócio. (Leonard, 2010) Desta feita, os arquitetos do sistema inventaram uma estratégia para que os consumidores continuassem a comprar: a Obsolescência Programada. Outro nome para a Obsolescência Programada é feito para ir para o lixo3. Brooks Stevens, um designer industrial americano a quem é geralmente atribuída a popularização da expressão na década de 1950, definiu-a como: inculcar no comprador o desejo de ter algo um pouco mais novo, um pouco melhor, um pouco mais cedo que o necessário. De acordo com a Obsolescência Programada, os produtos destinam-se a ser deitados fora tao rápido quanto possível e depois substituídos. (chama-se a isso encurtar o ciclo de substituição). (Leonard, 2010) O conceito de Obsolescência Programada popularizou-se nas décadas de 1920 e 1930, quando o governo e os empresários se aperceberam de que as nossas indústrias estavam 3 (Leonard, 2010) 10 a fabricar mais coisas do que as pessoas pretendiam ou podiam comprar. (Leonard, 2010) O primeiro passo para a obsolescência programada deu-se em 1924 em Genebra, quando os principais fabricantes de lâmpadas dos Estados Unidos, da Europa e inclusive de longínquas colonias na Asia e em Africa reuniram-se para determinar a vida útil das lâmpadas. O cartel S.A Phoebus como ficou conhecido, tinha como objetivo principal determinar a vida útil das lâmpadas para 1 000 horas. Em 1924 quando se formou o cartel S.A Phoebus, as lâmpadas que se comercializavam na altura tinham uma duração de vida útil de 2 500 horas. Os fabricantes queriam vender lâmpadas com regularidade e rapidamente perceberam que se as lâmpadas durassem muito seria uma desvantagem para o negócio. De modo que, o cartel Phoebus em 1925 criou o comité das 1 000 horas de vida para reduzir tecnicamente a vida útil das lâmpadas. Portanto, a lâmpada que foi inventada por Thomas Edison em 1881 (neste período com 1.500 horas de vida), foi a primeira “vítima” da obsolescência programada. (Dannoritzer, 2011) Para se ter uma ideia mais aproximada do alcance desta medida, convém destacar alguns fatos: a primeira lâmpada lançada no mercado por Thomas Edison em 1871 tinha uma vida útil de 1500 horas; em Livermore, na Califórnia, existe uma lâmpada no quartel de bombeiros local a funcionar ininterruptamente desde 1901; quando o cartel Phoebus foi criado em 1924, a vida útil da maioria das lâmpadas era de 2500 horas; com a formação deste cartel, foram dadas instruções muito precisas a todos os fabricantes mundiais para limitar a vida útil deste produto a 1000 horas… e quem não cumprisse estas ordens estava sujeito a pesadas multas, conforme conseguiu documentar Helmut Höge. (Dannoritzer, 2011) Em consequência disto, na década de 40 do século passado, a vida útil das lâmpadas estava padronizada nas 1000 horas em praticamente todas as marcas existentes nos mercados europeus e norte-americano. Nos anos seguintes, patentearam-se dezenas de novas lâmpadas com garantia de duração muito superior e, inclusive, registou-se a patente de uma lâmpada preparada para durar 100.000 horas (Dannoritzer, 2011). Curiosamente, estas lâmpadas nunca chegaram a ser comercializadas… 11 Esta questão encontra-se documentada no documentário “Comprar, tirar, comprar - A história secreta da obsolescência programada” na qual, registros históricos apontam que a obsolescência programada começou a ser utilizada pela indústria no início dos anos 20 do século passado4. No cenário político da época, o documentário aborda o comunismo praticado na Europa Oriental na segunda metade do século XX e destaca que não fazia sentido introduzir o conceito de obsolescência programada naquele mercado, pois os interesses do Estado eram outros e não o consumo. Assim, por exemplo, na antiga Alemanha Oriental, produtos como máquinas de lavar roupa, frigoríficos, eram feitos para durar pelo menos 25 anos. Com a queda do muro de Berlim em 1989 todos esses produtos de longa vida útil, deixaram de ser fabricados e hoje estão expostos em museus. (Dannoritzer, 2011)5 O documentário faz referência a mais alguns exemplos de produtos objeto de obsolescência programada como o caso das meias de nylon e a bateria do ipod. Quando as meias de fibra sintética nylon apareceram por intermedio da gigante química Dupont a sua durabilidade era bastante impressionante. As meias apresentavam tal solidez que até podiam servir de cabo para rebocar um carro, eram quase indestrutíveis e dificilmente rasgavam. Porém, rapidamente a lógica industrial foi recuperada e os mesmos engenheiros que criaram a fibra resistente receberam orientações para fragilizar a fibra incorporando nela alguns genes de mortalidade, ou seja dito de outro modo programando a sua obsolescência6. Do ponto de vista ético, não seria surpreendente questionarmo-nos acerca do comportamento dos engenheiros por utilizarem os seus conhecimentos para produzir um produto deliberadamente inferior depois de tanto esforço para produzir um melhor. A obsolescência programada não só afeta os engenheiros como também aos consumidores como faz referência o documentário. Este é o caso de dois jovens americanos que publicaram um vídeo na internet denunciando a marca Apple por fabricar aparelhos de mp3 (Ipod) e não oferecer baterias para repor aquelas que se desgastaram. Os irmãos denunciam no vídeo que a vida útil de uma bateria de Ipod era 4 (Dannoritzer, 2011) (Dannoritzer, 2011) 6 (Dannoritzer, 2011) 5 12 de apenas 18 meses. E a empresa fabricante dava ao consumidor a única possibilidade de adquirir um novo produto. O vídeo com essas denúncias obteve mais de cinco milhões de visualizações em apenas um mês. Durante o processo descobriu-se por meio de documentos fornecidos pela própria Apple que as baterias foram planeadas para terem uma curta vida útil. Como resultado, a Apple foi obrigada a criar um serviço de troca de baterias, bem como aumentar a garantia do produto para dois anos7. No entanto, podemos verificar que muito dos produtos que consumimos são deliberadamente programados para durar menos do que poderiam, basta olharmos para o exemplo das lâmpadas, as meias de nylon, a bateria do ipod ou a impressora da Epson programada para bloquear após 18 000 cópias. Também é de salientar a mudança de paradigma ao longo das décadas, inicialmente os fabricantes faziam da longevidade dos seus produtos um argumento de venda, e publicitavam a durabilidade dos produtos8, com o passar do tempo a obsolescência dos objetos deixou de resultar de causas naturais e passou a ser deliberada e tema de planeamento9. No entanto, a mudança de paradigma acontece quando o investimento científico e económico passa do prolongamento de vida dos objetos para a limitação do seu tempo de vida10. Em 1950, a obsolescência programada surge com uma nova roupagem, já não se tratava de incorporar uma falha técnica nos produtos mas pela sedução do consumidor em comprar algo mais novo. O estilo de vida dos americanos nos anos 50 lançou as bases da sociedade de consumo atual. (Dannoritzer, 2011) Enquanto que o antigo objetivo europeu era o de criar o melhor produto que durasse para sempre, o objetivo americano era o de criar o consumidor insatisfeito com o produto que já tenha desfrutado para que o venda em segunda mão e para que compre o mais novo com a imagem mais nova. O design e o marketing tratavam de seduzir o consumidor para que desejasse sempre o último modelo. (Dannoritzer, 2011) 7 (Dannoritzer, 2011) (Latouche, 2012) 9 (Bogalheiro, 2013) 10 (Bogalheiro, 2013) 8 13 2.1.2 Definição de conceitos O conceito de obsolescência programada pode ser definido de varias formas, dos estudos efetuados sobre o tema podem extrair-se diversas definições. A obsolescência programada é a desclassificação tecnológica do material industrial, motivada pela aparição de um material mais moderno11. Para Slade a obsolescência programada é uma expressão utilizada para descrever um conjunto de técnicas utilizadas para reduzir artificialmente a durabilidade de um bem manufaturado com o intuito de estimular o seu consumo repetido. O conceito de Obsolescência é o estado de um objeto, lugar, serviço ou prática que não se encontra mais em uso. Comumente ocorre porque está disponível uma substituição, sendo superior em um ou mais aspetos. A raiz do termo “obsoleto” refere-se a algo que já está em desuso, antiquado ou descartado (Brown, 1994). Por sua vez, obsolescência programada refere-se à produção de bens não econômicos com uma vida útil curta, tendo como objetivo levar os clientes a comprarem repetidamente o mesmo produto (Bulow, 1986). Mansfield (2000) define-a como “um processo gradual para fazer os produtos caírem em desuso sem ultrapassar o seu prazo de validade” Grout e Park (2005) definem a obsolescência programada como “uma situação em que um produtor retém propositadamente alguma mais-valia que poderia adicionar sem custos ao seu produto e que lhe daria uma utilidade superior”; para Waldman (1993), esta prática refere-se ao “incentivo que as empresas dão para introduzir novos produtos, os quais tornam obsoletos os modelos atualmente existentes”; na opinião de Levinthal e Purohit (1989), a obsolescência é a “perda relativa de valor que um produto sofre perante alterações de estilo ou melhoramentos de qualidade geral nas suas versões subsequentes”; finalmente, podemos ainda incluir a definição de Guiltinan (2008), o qual entende que a obsolescência programada é “um estímulo para o consumidor comprar um substituto dos seus produtos”. 11 "obsolescência", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008- 2013, http://www.priberam.pt/dlpo/obsolesc%C3%AAncia [consultado em 15-04-2015]. 14 Stevens define-a como “inculcar no comprador o desejo de ter algo um pouco mais novo, um pouco melhor, um pouco mais cedo que o necessário. Nos anos 50, Stevens criava sistematicamente novos modelos sem melhorias técnicas para levar os clientes a comprar novos produtos antes que os antigos estivessem fora de prazo. Em suma, a obsolescência programada é definida de maneira diversa pelos vários autores, porem há alguns pontos em comum que podemos destacar na maioria das definições. A maioria dos autores enunciados associa a obsolescência programada a redução da durabilidade dos produtos, a introdução de novos produtos com melhorias pouco significativas e ressalva que a motivação para esta pratica tem como objetivo fomentar o consumo e o lucro das empresas que a praticam. 2.1.3 Tipos de Obsolescência Neste contexto, Packad define três tipos diferentes de obsolescência programada, ou seja, formas pelas quais um produto pode se tornar obsoleto, que são baseadas na função, qualidade e desejabilidade. A obsolescência de função é aquela em que um produto existente torna-se antiquado, quando aparece um produto novo que executa melhor a função. Por exemplo, a máquina de coser a pedal tornou obsoleta a maquina a manivela, e a máquina elétrica fez o mesmo com a máquina a pedal. A obsolescência de qualidade qualifica o desgaste ou o defeito artificial. Neste caso, o fabricante concebe o produto desde o princípio para que tenha uma duração de vida limitada, normalmente não muito longa. Pode tratar-se por exemplo, de um chip eletrónico colocado numa impressora para que esta bloqueie após 18 000 cópias. Outro exemplo interessante deste tipo de obsolescência, manifesta-se quando um software deixa de realizar intercâmbio de informações e dados. Este fato ocorre, por exemplo, quando o utilizador não faz atualizações frequentes das versões desse software, pois versões mais atualizadas leem arquivos gerados por versões antigas, mas estas nem sempre leem arquivos gerados de versões mais novas12. 12 (Pavão, 2015) 15 A obsolescência por desejo consiste quando um produto que ainda esta tecnicamente em condições de utilização, em termos de qualidade ou performance, revela-se gasto nos pensamentos das pessoas, devido a um aprimoramento de estilo ou outra modificação que faz com que o mesmo se torne menos desejado. Neste caso, tecnicamente o produto não é melhor, tudo concentra-se no design e trata-se de manipular o consumidor mediante a publicidade para que troque de produto. (Latouche, 2012). Os produtos tecnológicos a par da indústria da moda são altamente afetados por este tipo de obsolescência, telemóveis, computadores pessoais, automóveis, estes últimos com agendas estabelecidas para o lançamento de novos modelos a cada um ou dois anos incorporam nenhuma ou quase nenhuma nova funcionalidade, geralmente apenas um novo design (Roland, 2001). 2.1.4 Fatores que influenciam a obsolescência programada Existem vários fatores que influenciam a ocorrência da obsolescência ao longo dos tempos. O aparecimento do fenómeno da Obsolescência Programada nos Estados Unidos entre as duas guerras, juntamente com o nascimento da sociedade de consumo seria o resultado de uma espécie de complot politico: a imposição deliberada, na América dos anos vinte, de uma nova maneira de viver fundada no consumo. (Latouche, 2012) Assim, o foco da economia Americana após a segunda guerra mundial passou a ser consumo. Na década de 50, o presidente do conselho de consultores económicos do presidente Eisenhower13 declarou: o objetivo máximo da economia americana é produzir mais bens de consumo. (Leonard, 2010) David Orr, afirma que o aparecimento da sociedade de consumo não14 foi nem inevitável nem acidental. Resultou, sim da convergência de quatro forças: um conjunto de ideias que diziam que a terra é para ser usada a nosso bel-prazer, a ascensão do 13 14 (Leonard, 2010) (Leonard, 2010) 16 capitalismo moderno, a inteligência tecnológica, e a abundancia da América do Norte, onde o modelo de consumo em massa lançou as primeiras raízes. (Leonard, 2010) Em 1950, o analista do sector retalhista americano Victor Lebow descreveu o que era necessário para fazer com que as pessoas continuassem a consumir e as fabricas a produzir: a nossa economia enormemente produtiva exige que façamos do consumo o nosso modo de vida, que transformemos a compra e a utilização de produtos em rituais, que procuremos a nossa satisfação espiritual, a satisfação do nosso ego no consumo… precisamos que as coisas sejam consumidas, esgotadas, substituídas e descartadas a um ritmo muito acelerado.15 No entanto, Packard conclui que havia necessidade de inventar táticas comerciais que transformassem os americanos em consumidores esbanjadores, vorazes e compulsivos, e fabricar produtos que permitem este desperdício16. Isto é precisamente o que fez a publicidade, o credito para consumo e a obsolescência programada. Estes três ingredientes, são necessários para que a sociedade de consumo possa prosseguir a sua ronda diabólica: a publicidade cria o desejo de consumo, o crédito proporciona os meios e a obsolescência programada renova a necessidade. (Latouche, 2012) Neste ponto, mais diretamente, o nosso comportamento consumista é o resultado de publicidade apelativa, atração pelo crédito fácil, ignorância em relação ao conteúdo perigoso de muito daquilo que consumimos, o colapso da comunidade, o menosprezo pelo futuro, a corrupção política e a atrofia de meios alternativos de que nos possamos munir. (Leonard, 2010) Tal como o capitalismo, com a sua incessante necessidade de lucro, evoluiu para o modelo económico dominante, tornou-se necessária uma cultura de consumismo para o sustentar. (Leonard, 2010). A um nível mais profundo, a programação da morte acelerada dos produtos corresponde a uma necessidade do sistema. (Latouche, 2012) Contudo, a aceitação social generalizada da obsolescência cada vez mais rápida é fundamental para o sucesso do sistema. Para a sua aceitação generalizada, foi necessário reunir uma serie de condições para que ficássemos tao recetivos a ela. Primeiro, o custo de mandar reparar alguma coisa tem de estar tao próximo, ou ser eventualmente 15 16 (Latouche, 2012) (Latouche, 2012) 17 superior, ao custo de substituição, incitando-nos a deitar fora o avariado. As peças sobresselentes e a assistência técnica têm de ser de difícil acesso, o que qualquer pessoa que tenha recentemente ligado para o serviço de assistência ao cliente pode atestar. Os produtos atuais têm de ser incompatíveis com novas atualizações ou acessórios. E a aparência das coisas tem de mudar constantemente, incentivando a deitar fora um modelo mais antigo, mesmo que este ainda funcione perfeitamente. (Leonard, 2010). A estratégia de obsolescência programada superou as expectativas mais otimistas das pessoas que a implementaram e tem sido referida como o motor secreto da nossa sociedade de consumo. (Dannoritzer, 2011). A obsolescência programada continua a dominar e a definir a cultura de consumo atual e desfazemo-nos dos produtos (muitas vezes perfeitamente bons) a uma velocidade cada vez maior. Ao serviço da obsolescência há toda uma industria a trabalhar afincadamente e que gasta milhares de milhões de dólares todos os anos para nos levar a comprar algo novo, melhor, diferente e que seja mais ao nosso gosto. Esta indústria é conhecida por publicidade. (Leonard, 2010) 2.1.5 Estudos sobre obsolescência programada A obsolescência programada apresenta-se como um tema bastante controverso com apoiantes e críticos. Alguns autores são a favor da obsolescência programada referindo que esta é indispensável para o sucesso do sistema económico atual, sem a qual as industrias manteriam os seus lucros e dificilmente sobreviveriam, dificilmente o mercado se manteria competitivo e dificilmente garantiriam a quantidade de empregos que mantêm. Por outro lado, os críticos da obsolescência programada levantam algumas questões do ponto de vista ético e ambiental questionando-se até que ponto será ético incorporar a falha técnica no produto desde a sua conceção e alertam também para as consequências ambientais que dai podem surgir devido ao consumo exacerbado. Como podemos ver, a obsolescência programada é um tema bastante complexo e controverso, contudo, neste ponto iremos abordar a obsolescência programada sobre a perspetiva de vários autores. 18 A obsolescência programada não é um tema do qual se pode ter uma opinião de «branco ou preto», é uma área cinzenta no mercado que abrange várias áreas como a económica, social ou comportamental, “ argumentos a favor e contra a obsolescência programada tornam evidente que não é fácil encontrar soluções que sejam economicamente viáveis e ambientalmente responsáveis (Boradkar, 2010)17. Para iniciar a análise às teorias existentes sobre obsolescência planeada, nada melhor do que abordar os conceitos descritos por aquele que é, unanimemente considerado, como sendo “o pai” da obsolescência programada: Bernard London a quem é atribuído a responsabilidade de introduzir o tema pela primeira vez em debate público. Este visionário norte-americano, que era empresário do ramo imobiliário, em 1932 publica um artigo cujo título “Acabando com a crise através da obsolescência programada” (Ending the depression through planned obsolescence) onde defendia a obsolescência programada como única saída para a crise que assolava desde 1929 os Estados Unidos da América. Ele fundamentava esta teoria com o fato de o consumo permanente das pessoas potenciar a produção de bens e serviços, o que faria nascer novas empresas, aumentar a capacidade produtiva das empresas existentes e o posterior comércio de bens e serviços, desenvolvendo, consequentemente, a economia de forma absolutamente ímpar. Bernard London constatou que a crise levava as pessoas a utilizar os objetos durante mais tempo, enquanto antes tinham talvez uma maior tendência para desfazer-se deles. Portanto, o governo deveria, determinar a duração de vida de todos os produtos manufaturados no momento da sua conceção. Engenheiros competentes poderiam determinar a duração de vida ótima para cada objeto, cinco anos para um carro, vinte e cinco para uma vivenda por exemplo. Para London, a obsolescência programada não consistia em introduzir fraudulentamente uma falha técnica dentro do produto, como fez o cartel S.A Phoebus nas lâmpadas. O método que ele defendia para se iniciar esta autêntica revolução, na forma de pensar e de fazer negócios, era completamente inovador, pois previa que houvesse um registo a nível nacional de todos os bens que os consumidores possuíam. Após esse registo, os funcionários de um departamento governamental iriam a casa das pessoas buscar os 17 (Reis, 2012) 19 bens antigos e deixariam ficar um documento para que estas pudessem comprar novos bens. O valor total despendido nesta compra era. posteriormente deduzido no valor dos impostos. Portanto, a fórmula por ele defendida seria posta em prática através da substituição dos subsídios governamentais - quer às empresas, quer aos cidadãos - por um incentivo à produção. Deste modo, fomentava-se a criação de riqueza, pelo que o Governo era visto como um financiador indireto desta obsolescência. No entanto, em troca desta política, o país atingia um crescimento económico sem precedentes, fazendo-o emergir definitivamente como o mercado mais importante a nível mundial. Apesar destas ideias radicais nunca terem sido colocadas oficialmente em prática, a visão de London contribuiu certamente para defender a ideia segundo o qual a obsolescência programada é uma necessidade, e a desativar também, sem dúvida, os protestos dos consumidores, sendo estes tao cúmplices como o são frequentemente18. Como facilmente se depreende, desde que se começou a discutir esta questão da obsolescência programada, sempre houve opiniões contraditórias sobre ela. Se, por um lado, muitas pessoas condenaram as ideias de London, ainda hoje existem autores que ressalvam os pontos positivos desta prática, pelo que se deduz que este tema é tudo menos unânime. A obsolescência programada tem sido apontada por alguns autores como um ferramenta necessária para o sucesso do sistema económico no qual estamos inseridos. Segundo Lafargue, reduzir artificialmente a duração de vida dos produtos é uma condição do emprego, logo é de bem-estar social. Dado que a economia moderna é estruturalmente dependente do crescimento económico para sua estabilidade, quando o crescimento não ocorre como aconteceu de maneira dramática durante a grande depressão, os políticos entram em pânico, as empresas lutam para sobreviver e buscam desesperadamente por clientes, e os trabalhadores perdem os seus empregos. No entanto, a obsolescência programada converte-se numa necessidade para lutar contra o desemprego19. 18 19 (Latouche, 2012) (Latouche, 2012) 20 Para E.S.Stafford, diretor editorial da revista Design News, a limitação sistemática da duração de vida de um produto converte-se em um fator tao eficaz para o relançamento da economia americana como a venda a crédito. A obsolescência programada participa da coerência sistémica da sociedade de consumo, no qual sem uma redução drástica do ciclo de vida dos produtos, a teoria fordista-Keynesiana dos gloriosos anos trinta estaria ultrapassada. A produção em massa permite uma redução de custos e coloca os objetos ao alcance do grande público, mas, para manter os lucros elevados, a procura deve ser renovada constantemente e não pode ser feita pela expansão de um mercado já saturado20. Stewart pôs em causa a objetividade da obsolescência, isto é, defende que aquilo que é obsolescência para algumas pessoas, pode não o ser para outras, pois os produtos necessitam de ser atualizados e um simples upgrade num qualquer produto não deve ser considerado obsolescência. Para reforçar esta sua teoria, este autor conclui que é precisamente esta constante criação de novas necessidades e produtos que faz dinamizar a economia, pelo que a aposta na inovação e no desenvolvimento de novos produtos deve ser mantida. Por sua vez, Grout e Park desenvolveram um estudo onde defendem que há empresas que só sobreviverão praticando a obsolescência, pois a competitividade é tão grande que as obriga a lançar produtos de forma sistemática e permanente. Nas suas conclusões, eles mantêm a ideia de que indubitavelmente isso compensa, porque estas empresas vão de encontro àquilo que o consumidor quer, que é ter sempre os produtos e modelos mais recentes. Daí o consumidor ter tendência para procurar as empresas que inovam constantemente. Também Fishman, Gandal e Shy defendem a prática da obsolescência programada, uma vez que ela pode mesmo ser uma condição importante para se atingir o progresso tecnológico. Segundo estes autores, o fato de os produtos terem uma vida útil demasiado extensa, pode desincentivar os investidores a apostarem na inovação e no desenvolvimento de novas tecnologias, com todas as repercussões negativas daí inerentes. Para eles, é 20 (Latouche, 2012) 21 preferível a deterioração rápida dos equipamentos do que produtos com uma vida útil demasiado extensa, pois isto provocará a estagnação da inovação e, posteriormente, de toda a atividade económica. Contrariamente aos autores que defendem a obsolescência programada como um fator importante para o estímulo da economia alguns autores questionam-na sob o ponto de vista ético. Neste ponto a questão que se faz é se o projeto de conceber um defeito técnico de propósito é contrário a ética. Segundo Latouche, o defeito técnico incorporado desde a conceção do produto ou a utilização de matérias-primas baratas ou de má qualidade permitem o abuso para enganar o consumidor sobre a natureza dos produtos. Este procedimento degrada a qualidade do produto para reduzir custos e acelerar o consumo. Romney, parte do ponto de vista de que a criação anual de produtos simplesmente camuflados para parecer melhores não é mais que um desvio monumental da investigação técnica. Na mesma linha Teague cita” quando o design se prostitui desta maneira, desaparece a sua própria lógica aparecem curiosos resultados”. A prática consistente em deixar que os modelos anteriores passem de moda quando os novos não têm nada de melhor para oferecer é conhecido como obsolescência programada ou artificial porém o termo mais apropriado seria simplesmente fraude. Chambers defende a mesma postura e cita” Duvido muito que algum de nós deseje aplicar este princípio da falha planeada a curto prazo para a compra, seja da sua própria casa, do seu carro ou os demais bens duradouros que impliquem um gasto considerável. Chambers questiona também quem deve decidir até que ponto o curto prazo deve ser curto e ressalta que a ética, a honestidade e os demais princípios intangíveis não são algo modificáveis pelas diretivas da gestão empresarial. Para o mesmo autor, o estímulo artificial fundado sobre tais planos deliberadamente desonestos são sem duvida, um compromisso com a ética. Por outro lado, Levitt chama a atenção dos homens de negócio por não se preocuparem com as consequências das suas ações. Segundo este, o homem de negócio só tem duas razoes de ser: criar e distribuir para atender a procura pelo lucro. O fato de que os 22 lobbies obedeçam apenas a ética do lucro não converte absolutamente em moral o comportamento dos fabricantes, quando os efeitos desta deontologia de negócio são prejudiciais para a sociedade, para o meio ambiente e para as gerações futuras. Como podemos verificar a obsolescência programada não é isenta de problemas. Para além dos problemas éticos que se podem levantar existe também os problemas ambientais talvez o maior deles todos. A obsolescência programada afeta a ecologia em dois aspetos principais: o desperdício dos recursos naturais e a produção excessiva de lixo. Para acelerar a produção e o consumo de computadores, eletrodomésticos e bens de qualquer índole, esgotam-se mais rapidamente as reservas de minerais não renováveis de maneira direta e, de maneira indireta, se incrementa sem necessidade o consumo de energia. Por outro lado o desperdício desenfreado de produtos e o consumo acelerado comportam um incremento proporcional de resíduos que segundo Latouche com os quais já não sabemos o que fazer. (Latouche; P:98) Os telemóveis que vão para ao lixo ao fim de dezoito meses de uso em média, criam montanhas de resíduos que contêm fortes concentrações de toxinas biológicas permanentes como arsénico, antimónio, berílio, níquel, zinco e etc. Apenas nos Estados Unidos mais de 130 milhões de telemóveis em bom estado foram para o lixo e não há sinais de que as coisas possam abrandar. Frente a um insuperável problema de armazenamento de resíduos eletrónicos e que nenhum programa de acondicionamento de resíduos a largo prazo será capaz de resolver, estamos em perigo. Segundo Slade, o mundo simplesmente não pode fabricar suficientes contentores para permitir que os Estados Unidos continuem com o seu atual ritmo de exportar tantos materiais e resíduos eletrónicos para países do terceiro mundo21. As quantidades em questão superam também a capacidade dos navios e aumentam também as probabilidades de descargas de resíduos eletrónicos ilegais. Uma das sequências de comprar, tirar, comprar, Mike Anane apresenta o leito de um rio em Agbogbloshie no Gana, inicialmente o rio transbordava de vida, era povoado por várias espécies de peixes, utilizado para pesca e passeios de barco. Hoje o local tornou21 (Latouche, 2012) 23 se um grande depósito a céu aberto de lixo eletrônico dos países ricos. Nas palavras do ambientalista ganês, "o país [Gana] tornou-se numa enorme lixeira dos países desenvolvidos. Maris, assinala que a atividade dos homens de negócio consiste em criar necessidades num mundo que se funde com a produção. Isto exige um índice de rotação e de consumo de produtos cada vez mais rápido, logo uma produção de resíduos cada vez mais considerável e uma atividade para o tratamento de resíduos cada vez mais importantes.22 Já Latouche alerta para os limites físicos do nosso planeta considerando que o sistema económico atual cuja logica não é crescer para satisfazer necessidades mas crescer por crescer (crescer infinitamente) com uma produção sem limites no qual o consumo também deve crescer sem limites, está logica é insustentável a longo prazo e fundamenta-se numa contradição flagrante no qual o crescimento infinito é incompatível com um planeta finito. Leonard argumenta que o facto de, embora estejamos a consumir mais hoje do que há cinquenta anos, não estamos mais felizes do que antes como também estamos a utilizar mais recursos do que a terra pode regenerar. Ou seja, o planeta produz uma determinada quantidade de recursos naturais por ano e nós não só estamos a utilizar todos como também estamos a gastar a reserva de recursos que foram acumulados desde que a terra existe. A autora alerta para a necessidade de enveredar-se por um caminho diferente, começando por contestar a assunção fundamental de que a produção e o consumo é o objeto central e o motor da nossa economia. Braungart consciente da insustentabilidade deste sistema, propõe um novo processo de produção, sem produtos tóxicos e sem resíduos no qual todos os produtos podem ser reutilizados colocando assim um ponto final na geração de resíduos e na necessidade de explorar continuamente os recursos naturais. 22 (Latouche, 2012) 24 III. Estudo de caso 3.1.1 Microsoft O estudo de caso desta dissertação, incide sobre os sistemas operativos (windows) da Microsoft. Os sistemas operativos apesar de não serem alvo de desgaste físicos não estão isentos de se tornarem alvo de obsolescência programada. Segundo Bulow a obsolescência programada não se limita a mera durabilidade física de um produto, a obsolescência programada é muito mais que uma questão de durabilidade, é também e talvez principalmente, sobre como é que muitas vezes uma empresa vai introduzir um novo produto e como a compatibilidade do novo produto será com as versões mais antigas. assim a durabilidade de um produto pode ser reduzida pela presença de outras versões, qualitativamente superiores ou por incompatibilidade entre diferentes gerações de produtos . A Microsoft de tempos a tempos introduz no mercado novas versões de sistemas operativos (windows) que não têm sido isentas de criticas relativamente as melhorias associadas em relação as versões anteriores. Será que esta estratégia da Microsoft corresponde a uma estratégia de obsolescência programada ou a introdução frequente de novos sistemas operativos podem ser explicadas por outros fatores? Portanto, os sistemas operativos windows enquadram-se como objeto de estudo para esta dissertação. Em seguida será feito o levantamento bibliográfico sobre a historia da Microsoft e do Windows. A Microsoft é uma empresa transnacional estadunidense com sede em Redmond, Washington que desenvolve, fabrica, licencia, apoia e vende softwares de computador, produtos eletrónicos e computadores23. Entre os seus produtos de software mais conhecido estão os sistemas operativos Windows, a linha de aplicações para escritório Office e o navegador Internet Explorer. Entre os seus principais produtos de Hardware estão as consolas de jogos de vídeo Xbox e a serie de tablets Surface. É a maior 23 (Wikipedia, 2015) 25 produtora de softwares do mundo, e a segunda empresa mais valiosa do mundo valendo cerca de 63 bilhões de dólares24. A empresa foi fundada em 4 de abril de 1975 por Bill Gates e Paul Allen para desenvolver e vender interpretadores Basic para o Altair 8800. Posteriormente a empresa iria dominar o mercado de sistemas operativos de computadores pessoais com o MS-DOS, em meados da década de 1980, seguido pelo Microsoft Windows. Em 2014, a Microsoft é dominante tanto em sistemas operativo IBM PCS compatíveis quanto em programas para escritório. A empresa também produz uma grande variedade de outros softwares para desktops e servidores e é ativa em áreas como pesquisa na internet (com o Bing), indústria de jogos de vídeo (com a consola Xbox), mercado de serviços digitais (através do MSN) e de telemóveis (através do Nókia e do Windows Phone). Em Junho de 2012, a Microsoft entrou pela primeira vez no mercado de produção de computadores pessoais, com o lançamento do Surface, uma linha de computadores tablet25. 3.1.2 Microsoft História e Primeiros Anos A Microsoft foi fundada em 1975 por Bill Gates e Paul Allen. O primeiro produto desenvolvido pela empresa foi uma versão do interpretador BASIC, para o Altair 8800 da MITS. Em 1976 é lançado o Microsoft FORTRAN, para computadores baseados em CP/M. Em 1980, a IBM planeava lançar o seu computador pessoal com o sistema CP/M, mas as negociações com a Digital Research falharam e a IBM procura a Microsoft para desenvolver o seu sistema operativo. Sem ter um sistema operativo para entregar, a Microsoft efetuou um contrato não exclusivo de licenciamento com a IBM e procura a Seattle Computers para comprar o seu sistema Q-DOS. Em 1982 a Microsoft começa a desenvolver aplicações para o Macintosh da Apple, lança o Microsoft COBOL e a planilha eletrónica Multiplan para o MS-DOS. No ano seguinte anuncia o Microsoft Word e o Microsoft Windows. Em 1985 a Microsoft e a IBM assinam um acordo para o 24 25 (Badenhausen, 2015) (Wikipedia, 2015) 26 desenvolvimento conjunto de um futuro sistema operativo, no mesmo ano lança o Microsoft Windows 1.0 por 99 dólares26. 3.1.3 Arranque da Microsoft e do Windows 1975 – 1981 Estamos na década de 70. No trabalho, dependemos de máquinas de escrever. Se precisarmos de copiar um documento, provavelmente utilizaremos um mimeógrafo ou papel químico. Poucas pessoas ouviram falar de microcomputadores, mas dois jovens entusiastas da informática, Bill Gates e Paul Allen, veem na informática pessoal um caminho para o futuro. Em 1975, Gates e Allen formam uma parceria chamada Microsoft27. Tal como a maioria das start-ups, a Microsoft começa como uma pequena empresa, mas tem uma enorme visão: um computador em cada secretária e em cada casa. Nos anos seguintes, a Microsoft começa a mudar a nossa forma de trabalho. Os primórdios do MS-DOS Em junho de 1980, Gates e Allen contratam Steve Ballmer, um antigo colega de turma em Harvard, para ajudá-los a gerir a empresa. No mês seguinte, a IBM sonda a Microsoft relativamente a um projeto com o nome de código "Chess" (xadrez). Em resposta, a Microsoft concentra-se num novo sistema operativo — o software que gere, ou executa, o hardware do computador, servindo igualmente de ponte entre o hardware e os programas informáticos, como um processador de texto. Consiste na base sobre a qual funcionam os programas informáticos. O novo sistema operativo é batizado de "MS-DOS". Em 1981, ano em que os PCs da IBM a executar o MS-DOS são comercializados, este sistema apresenta uma linguagem totalmente nova ao público em geral. O MS-DOS é eficaz, mas também se revela difícil de compreender para muitas pessoas. Tem de existir uma forma mais eficaz de conceber um sistema operativo. 26 27 (Wikipedia, 2015) (windows.microsoft.com/pt, 2015) 27 1982–1985: Apresentamos o Windows 1.0 A Microsoft desenvolve a primeira versão de um novo sistema operativo. Interface Manager é o nome de código e igualmente considerado para o nome final, mas a designação Windows prevaleceu por descrever melhor as caixas ou "janelas" (windows) informáticas que são uma parte essencial do novo sistema. O Windows é anunciado em 1983, mas demora algum tempo a ser desenvolvido. Os céticos apelidam-no de "vaporware". Em 20 de novembro de 1985, dois anos após o anúncio inicial, a Microsoft lança o Windows 1.0. Agora, em vez de escrever comandos MS-DOS, basta deslocar um rato para apontar e clicar através de sucessivos ecrãs ou "janelas". Bill Gates afirma tratar-se de "um software único, concebido para utilizadores avançados de PCs". Existem menus pendentes, barras de deslocamento, ícones e caixas de diálogo que tornam os programas mais fáceis de aprender e de utilizar. É possível alternar entre vários programas sem ter de fechar e reiniciar cada um deles. O Windows 1.0 é comercializado com vários programas, incluindo um gestor de ficheiros MS-DOS, o Paint, o Windows Writer, o Notepad, o Calculator, bem como uma agenda, uma base de dados e um relógio para ajudar o utilizador a gerir as atividades diárias. Inclui até um jogo — o Reversi. 1987–1990: Windows 2.0–2.11 — Mais janelas, mais rapidez Em 9 de dezembro de 1987, a Microsoft lança o Windows 2.0, com ícones no ambiente de trabalho e expansão de memória. Graças a um suporte de gráficos melhorado, já é possível sobrepor janelas, controlar a apresentação no ecrã e utilizar atalhos do teclado para acelerar o trabalho. Alguns programadores de software criam os seus primeiros programas para esta edição do Windows. Em 1988, a Microsoft torna-se a maior empresa de software para PC a nível mundial em volume de vendas. Os computadores começam a tornar-se parte integrante do trabalho diário de alguns empregados de escritório. 28 1990–1994: Windows 3.0 A 22 de maio de 1990, a Microsoft anuncia o Windows 3.0, seguido pouco depois pelo Windows 3.1, em 1992. Em conjunto, as duas edições vendem 10 milhões de cópias durante os dois primeiros anos, tornando-o no sistema operativo Windows mais utilizado de sempre. A escala deste êxito faz com que a Microsoft reavalie os seus planos iniciais. A Memória Virtual melhora os gráficos visuais. Em 1990, o Windows começa a assemelhar-se às suas versões posteriores. O Windows passa a ter um desempenho significativamente melhor, gráficos avançados com 16 cores e ícones melhorados. A popularidade do Windows 3.0 aumenta com o lançamento de um novo kit de desenvolvimento de software (SDK) do Windows, o qual ajuda os programadores de software a concentrarem-se mais na programação do software e menos na criação de controladores de dispositivos. O Windows é cada vez mais utilizado no trabalho e em casa, passando a incluir jogos como o Solitaire, o Hearts e o Minesweeper. Anúncio da época: "Agora já pode utilizar a incrível capacidade do Windows 3.0 para descontrair." 1995–1998: Windows 95 — a maioridade do PC (sem esquecer a Internet) Em 24 de agosto de 1995, a Microsoft lança o Windows 95, cujas vendas atingem um valor recorde de 7 milhões de cópias nas cinco primeiras semanas. Trata-se do lançamento mais mediático alguma vez realizado pela Microsoft. Os anúncios de televisão apresentam os Rolling Stones a cantar "Start Me Up" sobre imagens do novo botão Iniciar. O comunicado de imprensa afirma simplesmente: "Chegou." Estávamos na era dos fax/modems, do correio eletrónico, do novo mundo online, dos jogos multimédia deslumbrantes e do software educativo. O Windows 95 dispunha de suporte integrado para a Internet, de acesso telefónico à rede e de novas capacidades Plug and Play que facilitavam a instalação do hardware e do software. O sistema operativo de 32 bits também disponibilizava capacidades multimédia melhoradas, funcionalidades mais robustas de computação móvel e ligações de rede integradas. 29 Por ocasião do lançamento do Windows 95, os anteriores sistemas operativos Windows e MS-DOS eram executados em aproximadamente 80% dos PCs a nível mundial. O Windows 95 consistia na atualização desses sistemas operativos. Para executar o Windows 95, era necessário um PC com um processador 386DX ou superior (486 recomendado) e pelo menos 4 MB de memória RAM (8 MB de memória RAM recomendados). O Windows 95 incluía pela primeira vez que surge o menu Iniciar, a barra de tarefas e os botões minimizar, maximizar e fechar em todas as janelas. É disponibilizado em 12 idiomas. 1998–2000: Windows 98, Windows 2000 Lançado em 25 de junho de 1998, o Windows 98 é a primeira versão do Windows especificamente concebida para o mercado de consumo. Os PCs são comuns no local de trabalho e em casa, enquanto surgem os cibercafés onde é possível utilizar a Internet. O Windows 98 é descrito como um sistema operativo que "Funciona melhor e é melhor para jogar". O Windows 98 permite-lhe localizar informações mais facilmente no seu PC e na Internet. Outros melhoramentos incluem a possibilidade de abrir e fechar os programas mais rapidamente, bem como o suporte para leitura de discos DVD e dispositivos USB (universal serial bus). Outra das estreias foi a barra de Lançamento Rápido, que permite executar os programas sem necessidade de os procurar no menu Iniciar ou no ambiente de trabalho. Windows 2000 Professional Mais do que uma simples atualização do Windows NT Workstation 4.0, o Windows 2000 Professional foi concebido para substituir o Windows 95, o Windows 98 e o Windows NT Workstation 4.0 em todos os computadores empresariais e portáteis. Construído sobre o código base comprovado do Windows NT Workstation 4.0, o 30 Windows 2000 acrescenta melhoramentos substanciais de fiabilidade, facilidade de utilização, compatibilidade com a Internet e suporte para a informática móvel. Entre outros melhoramentos, o Windows 2000 Professional simplifica a instalação de hardware ao adicionar suporte para uma vasta gama de novo hardware Plug and Play, incluindo produtos avançados de rede e comunicações sem fios, dispositivos USB, dispositivos IEEE 1394 e dispositivos infravermelhos.2001–2005: Windows XP — Estável, utilizável e rápido Em 25 de outubro de 2001, o Windows XP é lançado com um aspeto e funcionalidade redesenhados e centrados na usabilidade e com um centro de serviços de Ajuda e Suporte unificado. É disponibilizado em 25 idiomas. Entre meados dos anos 70 e o lançamento do Windows XP, foram comercializados aproximadamente mil milhões de PCs a nível mundial. Para a Microsoft, o Windows XP iria tornar-se num dos produtos mais vendidos nos anos seguintes. O sistema não só era rápido como estável. A utilização do menu Iniciar, da barra de tarefas e do Painel de Controlo era mais intuitiva. Aumentam as preocupações com vírus informáticos e hackers, embora os receios sejam de certa forma mitigados através da disponibilização online de atualizações de segurança. Os consumidores começam a compreender os avisos relativos a anexos suspeitos e vírus. É dada maior ênfase à Ajuda e ao Suporte. 2006–2008: Windows Vista — Inteligente em matéria de segurança O Windows Vista é lançado em 2006, dotado do mais avançado sistema de segurança já desenvolvido. O Controlo de Conta de Utilizador ajuda a impedir software potencialmente perigoso de introduzir alterações no seu computador. No Windows Vista Ultimate, a Encriptação de Unidade BitLocker assegura a máxima proteção dos dados do seu computador, respondendo ao aumento das vendas de portáteis e das necessidades de segurança. O Windows Vista também inclui melhorias nas funcionalidades do Windows Media Player à medida que cada vez mais pessoas utilizam os respetivos PCs como repositórios centrais de multimédia digital. Permite ver televisão, visualizar e enviar fotografias e editar vídeos nos PCs. 31 2009-2011: Windows 7 O Windows 7 foi lançado para o mundo sem fios do final da década de 2000. Os portáteis estavam a superar as vendas dos computadores de secretária e tornou-se comum ligar a hotspots sem fios públicos em cafés e nas redes privadas domésticas. O Windows 7 inclui novas formas de trabalhar com as janelas — tais como as funcionalidades Encaixe, Pré-visualizar e Agitar — que melhoram a funcionalidade e tornam a utilização da interface mais divertida. Também assinala o início do Windows Touch, o qual permite aos utilizadores de ecrãs táteis navegar na Web, consultar fotografias e abrir ficheiros e pastas. 2012-2013: Windows 8 O Windows 8 é um sistema operativo reinventado, desde o chipset à experiência do utilizador e introduz uma interface totalmente nova que funciona na perfeição para o toque, rato e teclado. Tanto funciona como um tablet para entretenimento como um PC de funcionalidade completa para realizar as suas tarefas. O Windows 8 também inclui melhoramentos do ambiente de trabalho familiar do Windows, com uma nova barra de tarefas e gestão de ficheiros simplificada. O Windows 8 inclui um ecrã Início com mosaicos que ligam a pessoas, ficheiros, aplicações e Web sites. As aplicações estão à frente e no centro, com acesso a um novo local para obter aplicações — a Loja Windows — diretamente incorporada no ecrã Início. Juntamente com o Windows 8, a Microsoft também lançou oWindows RT, que também pode ser executado nalguns tablets e PCs. O Windows RT foi concebido para dispositivos sofisticados com uma duração longa da bateria e executa apenas aplicações da Loja Windows. Também é fornecido com uma versão incorporada do Office que está otimizada para ecrãs táteis. 2013: Windows 8.1 O Windows 8.1 amplia a visão do Windows 8 ao fornecer um potente conjunto de aplicações e a conectividade da nuvem em excelentes dispositivos; é tudo o que já se gostava no Windows 8, mais alguns melhoramentos. 32 O Windows 8.1 alia a visão de inovação da Microsoft aos comentários dos clientes sobre o Windows 8 para fornecer muitos melhoramentos e novas funcionalidades: mais opções de personalização do ecrã Início que podem ser sincronizadas por todos os dispositivos, a opção de arrancar diretamente para o ambiente de trabalho, a Pesquisa Inteligente Bing de modo a que possa encontrar o que procura no PC ou na Web, o botão Início para navegar entre o ambiente de trabalho e o ecrã Início e mais opções flexíveis para visualização imediata de várias aplicações em um ou todos os ecrãs. Existem também várias novas aplicações incorporadas tais como a Gastronomia Bing, a Saúde e Fitness Bing e aplicações de grande utilidade como a Lista de Leitura, a Calculadora e Alarmes. Muitas das excelentes aplicações enviadas no Windows 8 estão de volta e até melhoradas, tornando a sua experiência mais agradável logo desde início. Além das alterações à experiência do utilizador, o Windows 8.1 inclui funcionalidades novas e melhoradas, tais como Associação à Área de Trabalho e Pastas de Trabalho que permitem que os dispositivos do Windows se liguem mais facilmente aos recursos empresariais. V Metodologia de Investigação 4.1Metodologia de Investigação Este capítulo começa por abordar as opções metodológicas, seguindo-se a descrição do estudo e a caracterização dos participantes. Apresenta a seleção das técnicas de recolha de dados, descreve os instrumentos criados, refere o processo de recolha e o tratamento de dados. 4.1.1 Opções metodológicas A metodologia de investigação baseia-se na escolha das etapas, procedimentos e estratégias utilizadas na recolha de dados. É o momento da tomada de decisões, por parte do investigador, sobre quais os métodos a utilizar para dar resposta às questões da investigação. Por isso, é nesta fase que se descrevem, cautelosamente, as decisões tomadas ao longo de todo o processo e se dá atenção à planificação de recolha de dados, pela implicação que acarreta na qualidade, integridade e interpretação dos resultados. Na descrição da 33 metodologia o investigador especifica o estudo que adotou; identifica as características dos contextos e do local onde o estudo foi realizado; os principais informantes; especifica os métodos e instrumentos utilizados na recolha de dados e procedimentos usados na sua análise e, por fim, as limitações do estudo. Tendo em atenção o quadro teórico escolhido, os objetivos propostos, as questões a que se pretende responder e as condições disponíveis para a implementação desta investigação, optou-se por uma metodologia de investigação de natureza eminentemente qualitativa, sem todavia descurar dados quantitativos considerados substanciais para a investigação, pelo facto de se utilizarem várias técnicas de recolha de dados (Fernandes, 1991). Nesta linha de pensamento e no entender de Goldenberg (1999, p. 62), “a integração da pesquisa quantitativa e qualitativa permite que o pesquisador faça um cruzamento das suas conclusões de modo a ter mais confiança nos dados”. A investigação qualitativa, relativamente à investigação quantitativa, permite maior aproximação e profundidade para analisar a parcela de estudo, através da qual se penetra numa realidade, no seu contexto natural, tentando extrair sentido e significado. Os estudos de caso exploratórios permitem levar a novos estudos que possibilitam a generalização. Este modelo metodológico permite usar um conjunto diversificado de instrumentos de recolha de dados: entrevistar, aplicar questionários, investigar diferentes questões em diferentes ocasiões e utilizar uma variedade de documentos, como foi o caso do presente estudo. Foi nosso propósito estudar como é que os inquiridos vêm as constantes alterações dos sistemas operativos, a durabilidade, as vantagens para os consumidores e o fator económico associado a estas alterações do sistema operativo. 4.1.2 Descrição do estudo De acordo com Lüdke e André (1986) a investigação qualitativa pode assumir várias formas, com destaque para a etnográfica e o estudo de caso. O método de estudo de caso é considerado um tipo de análise qualitativa (Bogdan e Biklen, 1994), mas tem sido considerado “o parente pobre entre os métodos de ciência social” (Yin, 2005, p. xi). 34 Actualmente, o estudo de caso tornou-se numa estratégia de investigação educacional recorrente (André, 2002) granjeando interesse entre a comunidade dos investigadores em Tecnologia Educativa (Coutinho & Chaves, 2002). Para Coutinho e Chaves (2002) o aparecimento de novas problemáticas emergentes tem vindo a impulsionar a experimentação de novas abordagens metodológicas no domínio das Ciências da Educação, onde se inclui o método de estudo de caso. Yin (2005) descreve três tipos de estudos de caso que podem ser tidos como critérios para avaliar se uma investigação pode ou não ser considerada como um estudo de caso. O caso deve ser i) crítico, ii) extremo ou único, iii) ou revelador. Em qualquer destas situações, deve evidenciar fenómenos sociais complexos, mantendo as características holísticas dos acontecimentos da vida real.28 Segundo Stake (2000, p. 436) o estudo de caso como estratégia de investigação, caracteriza-se pelo interesse por casos individuais e não tanto pelos métodos de investigação, podendo ser os mais variados (qualitativos ou quantitativos). Este autor chama a atenção para o facto de que “nem tudo pode ser considerado um caso” e apresenta pistas para ajudar a identificar o que pode constituir um caso. A decisão da escolha do caso ou casos é da responsabilidade do próprio investigador devendo ter em linha de conta que os participantes seleccionados apenas lhe proporcionam compreensão do fenómeno e não generalização. A análise dos dados recolhidos, no estudo de caso, foca-se no fenómeno seleccionado pelo investigador para uma compreensão mais profunda, participantes e documentação para análise. Partindo dos objectivos traçados e das condições existentes para implementação desta investigação optámos por um estudo de natureza qualitativa, com opção pelo método de estudo de caso com quatro perguntas de resposta aberta. 28 (insper, 2015) 35 4.1.3 Participantes no estudo A seleção dos participantes deste estudo foi aleatória, no entanto a amostra utilizada será uma amostra de conveniência. Esta seleção permite, servir o propósito da investigação. O estudo envolve professores da Universidade Europeia e alunos do CET da Universidade Europeia da área das tecnologias do ano lectivo de 2014/2015 correspondente a vinte alunos de ambos os sexos. Quando se seleciona a amostra num estudo de caso, está-se a definir a sua essência metodológica. Nesta investigação foi utilizada a técnica de inquérito por questionário e entrevista, frequentemente usada no campo educativo (Tuckman, 2002). Através dos dados obtidos por questionário, o investigador poderá fazer descrições, comparações e relacionar as respostas obtidas por forma a encontrar características comuns entre os respondentes (Bell, 1993). Parece ser difícil planear um bom questionário, mesmo para pessoas experientes. Um bom questionário deve atentar na “selecção do tipo de questões, na sua formulação, apresentação, ensaio, distribuição e devolução dos questionários” (Bell, 1997, pp. 99-100). Um questionário é uma lista organizada de questões com vista a obter informações de diversa natureza. O questionário foi realizado por uma amostra de vinte inquéritos de resposta aberta composto por quatro questões. 4.1.4 Análise de conteúdo dos alunos Como já foi acima referido o questionário aplicado é composto por quatro questões de resposta aberta. Uma vez recolhido os dados, efetuou-se, a analise de todas as respostas de forma a poder-se tirar algumas conclusões com base nos dados recolhidos. Neste ponto as conclusões tiradas incidem sobre as respostas dos alunos. 36 Quais o fatores que considera que levam a Microsoft a alterar os (SO) sistemas operativos de tempos a tempos? Na sua opinião quais as vantagens e desvantagens deste procedimento? Justifique por favor. De um modo geral os inquiridos são da opinião que os fatores que levam a Microsoft a mudar de sistema operativo de tempos a tempos surge da necessidade de mercado para acompanhar a concorrência, a evolução da tecnologia e a melhoria da performance e segurança do sistema operativo. Neste ponto, 45% dos inquiridos considera como fator relevante a necessidade da Microsoft em acompanhar a sua concorrência no mercado. Já 30% dos inquiridos referem que mudança constante de sistemas operativos está associada a evolução da tecnologia e a implementação de novas tecnologias. 25% dos inquiridos associam a mudança a melhoria da segurança do sistema operativo. 20% aponta para a melhoria da performance do sistema operativo. 20 % referem que um dos factores para a mudança do sistema operativo surge da necessidade da Microsoft em obter lucro . No que toca as vantagens deste procedimento, os inquiridos de um modo geral veem como vantagem nestas alterações constantes a correção de erros, introdução de nova tecnologia, melhoria da performance e da segurança. Neste ponto, 40% dos inquiridos considera como vantagem deste procedimento a existência de um sistema operativo atualizado com as tecnologias mais recentes. 40% refere que este procedimento possibilita a melhoria da performance do sistema operativo. 15% aponta como vantagem o fato de que as novas versões veem com os erros das versões anteriores corrigidos. 15% refere como vantagem a melhoria da segurança ou outros. Relativamente as desvantagens, globalmente os inquiridos referem que a mudança constante de sistema operativo exige um esforço monetário constante e também que a mudança constante acaba por ser desgastante para o consumidor uma vez que exige necessidade de aprendizagem. 37 Neste ponto, 25% dos inquiridos refere que os novos sistemas operativos quando chegam ao mercado apresentam preços muito elevados.30% apontam como desvantagem a necessidade de aprendizagem constante devido as alterações gráficas que o utilizador não domina a não ser por aprendizagem de uso . 35% considera que as mudança constante de software é excessiva e que em certos casos as melhorias são pouco convincentes e relevantes, o sistema piora ou ferramentas uteis que estavam presentes nos sistemas operativos deixam de existir nos novos sistemas operativos. 2 – Considera que a durabilidade dos sistemas operativos da Microsoft é satisfatória? Justifique por favor Nesta questão 60 % dos inquirido consideram a durabilidade dos sistemas operativos da Microsoft satisfatória e que estes mantem uma boa performance durante bastante tempo. Por outro lado, 25% consideram que a satisfação quanto a durabilidade do sistema operativo depende da versão instalada, dos erros que comporta e afirmam que o Windows vista não foi satisfatório devido aos vários problemas, falhas de segurança, acessibilidade e funcionalidade. 10% dos inquiridos considera que a durabilidade não é satisfatória devido as contantes atualizações, durabilidade do sistema curta e custo de aprendizagem elevado. 3– Considera que as alterações de sistema operativo por parte da Microsoft sempre foram vantajosas param os consumidores? Justifique por favor. 70% dos inquiridos considera que as alterações de sistema operativo por parte da Microsoft nem sempre foram vantajosas para o consumidores e enunciam que novas versões surgem no mercado com mais erros que as versões anteriores salientando de que a mudança do xp para o Windows vista e a do Windows 7 para o Windows 8 não só não eram melhores como eram piores. Por outro lado os inquiridos referem que essas mudanças não beneficiam os consumidores a nível económico, e também que o utilizador não se habitua facilmente a trabalhar com as novas versões A constante mudança ao nível gráfico é considerado como uma desvantagem pelo facto de o consumidor não estar ambientado aos novos gráficos. 38 4 – No seu ponto de vista considera que essas alterações são vantajosas a nível económico e do desenvolvimento do mercado? Justifique por favor. Nesta questão, 50% dos inquiridos considera que as alterações de sistema operativo por parte da Microsoft são vantajosas a nível económico e de mercado uma vez que, dinamizam o mercado, tornam a competição no mercado mais acirrada e isto consequentemente proporciona evolução e introdução de novas tecnologias, embora que considerem que algumas versões introduzidas tenham sido um fracasso e com poucas melhorias em relação as versões anteriores. Por outro lado, 35% dos inquiridos considera que as alterações a nível económico beneficiam apenas a Microsoft uma vez que são bastante dispendiosas para os consumidores e no final os consumidores acabam por fazer o update para as novas versões. A nível de mercado estes inquiridos consideram que as alterações de sistema operativo são excessivas e as melhorias são pouco significativas. 5.1 Conclusões O presente estudo, tendo a obsolescência programada como tema central e os sistemas operativos Windows da Microsoft como estudo de caso procurava estudar quais os fatores que levam a Microsoft a mudar de sistema operativo de tempos a tempos. Afirmar que a estratégia de lançamento de novos sistemas operativos por parte da Microsoft consiste numa estratégia de obsolescência programada seria optimista, porém do estudo efetuado e de acordo com os resultados obtidos surgem evidencias que no mínimo nos permitem especular sobre essa pratica, tornando assim a hipótese desta pratica por parte da Microsoft valida. De um modo geral, os inquiridos são da opinião que os fatores que levam a Microsoft a mudar de sistema operativo de tempos a tempos assentam em três pilares: necessidade de mercado, optimização dos sistemas operativos e necessidade da Microsoft em obter lucro. No que diz respeito as necessidades de mercado os inquiridos consideram que a introdução de novos sistemas operativos deve-se a necessidade da Microsoft em acompanhar a concorrência e a evolução da tecnologia. Quanto a optimização dos sistemas operativos os inquiridos consideram que este processo permite a melhoria da 39 performance e da segurança dos sistemas operativos. Relativamente a necessidade de lucro é fácil percebermos que os sistemas operativos constituem uma fonte de receita para a Microsoft . As respostas das questões 1 e 3 permitem-nos tirar algumas conclusões bastante pertinentes. Quando questionados sobre a desvantagens do procedimento da Microsoft em lançar sistemas operativos de tempos a tempos e se este procedimento sempre tem beneficiado os consumidores, os inquiridos de um modo geral consideraram que as mudanças de. sistema operativo tem sido excessivas e que em certos casos as melhorias são pouco convincentes e relevantes, os novos sistemas são piores ou ferramentas uteis que estavam presentes nos sistemas operativos deixam de existir nos novos sistemas operativos e as alterações gráficas causam bastante transtorno uma vez que o utilizador ainda não domina a não ser por aprendizagem. Embora os inquiridos considerem que as mudanças de sistema operativo por parte da Microsoft possam ser vantajosas a nível de mercado uma vez que são susceptíveis de dinamizar o mercado, tornar a competição no mercado mais acirrada e consequentemente isto proporciona evolução e introdução de novas tecnologias, consideraram que algumas versões introduzidas foram um fracasso e com poucas melhorias em relação as versões anteriores. Neste ponto os inquiridos consideraram que a mudança de sistema operativo por parte da Microsoft nem sempre beneficiou os consumidores e enunciam que novas versões chegaram ao mercado com mais erros que as versões anteriores especificando mesmo que a mudança do Windows xp para o Windows Vista e a do Windows 7 para o Windows 8 não só não trouxeram melhorias como os sistemas pioraram em termos de performance e segurança. Tendo em conta o facto de que os dados obtidos foram recolhidos de uma amostra por conveniência é curioso verificarmos que os inquiridos apesar de não serem especialistas em tecnologias possuem uma certa consciência de que as mudanças de sistema operativo por parte da Microsoft nem sempre tem beneficiado os consumidores e as melhorias dos sistemas operativos tem sido pouco significativas e em alguns casos as novas versões têm-se apresentado com mais erros e piores em termos de performance e segurança do que as versões anteriores. 40 Visto que as novas versões nem sempre são melhores que as anteriores, seria pertinente perguntarmo-nos então porque é que elas são lançadas no mercado? Como já foi referido acima neste ponto, a necessidade de obter lucro por parte da Microsoft também foi apontada pelos inquiridos como um dos fatores para a mudança de sistemas operativos. Segundo Latouche o desejo de acelerar o desgaste, o consumo e a renovação dos objetos, e especialmente dos equipamentos é uma tentação muito compreensível para os fabricantes, cujo objetivo é vender sempre mais. (Latouche, 2012) Brooks Stevens responsável pela popularização da expressão obsolescência programada na década de 50 numa entrevista a revista True Magazine declarou: toda a nossa economia é baseada na obsolescência programada. Fabricamos produtos bons, induzimos as pessoas a compra-los e no ano seguinte deliberadamente introduzimos algo que fara este produto antiquado, anacrônico, obsoleto. Fazemos isso por uma razão clara: fazer dinheiro29. Do ponto de vista econômico os inquiridos consideraram que as alterações beneficiam apenas a Microsoft porque são bastante dispendiosas para os consumidores visto que as novas versões quando chegam ao mercado apresentam preços bastante elevados e no final beneficiam a Microsoft uma vez que os consumidores acabam por fazer o update para as novas versões. Assim, podemos verificar que a Microsoft possui um incentivo extra para lançar novos sistemas operativos no mercado. Contudo podemos verificar as mudanças de sistema operativo por parte da Microsoft não tem tido os consumidores como principais beneficiados, este procedimento tem sido mais vantajoso para a própria Microsoft do que para os consumidores. Deste modo podemos concluir que a introdução de novas versões de sistemas operativos por parte da Microsoft nem sempre têm obedecido a melhorias da performance ou segurança do sistema e como tal novas versões tem surgido no mercado acrescentando pouco valor e (Cesar)m relação as versões já existentes beneficiando assim mais a Microsoft do que aos consumidores uma vez que obtém receitas pela venda. 29 (Cesar) 41 6.1 Limitações e implicações para estudos futuros Em primeiro lugar, os dados foram recolhidos e analisados num espaço temporal reduzido. É de salientar também como outro aspecto limitador o facto de a amostra ser reduzida não só no numero de indivíduos como na sua diversidade, uma vez que estes apenas incidiram sobre os alunos da Universidade Europeia, o que não permite a generalização das conclusões. Por isso é necessário que investigações futuras sobre o tema sejam realizadas num espaço temporal maior e com uma amostra maior de modo a permitir a generalização das conclusões. Seria também enriquecedor em futuras investigações que os inquéritos fossem respondidos por especialistas da áreas das tecnologias e que se avaliasse e comparasse as respostas destes com a da amostra por conveniência. 42 Bibliografia [Motion Picture]. Badenhausen, K. (2015 йил 3-5). ForbesBrasil. From ForbesBrasil: http://www.forbesbrasil.co/listas/15-marcas-mais-valiosas-de-2014/ Bogalheiro, M. (2013 йил 17-Outubro). Retrieved 2014 йил 8-novembro from Interact: http://interact.com.pt/20/obsolescencia-programada Cesar, D. (s.d.). Formas Obsolescencia na Sociedade Contemporanea. Dannoritzer, C. (Director). (2011). Comprar, Tirar, Comprar A Historia Secreta Da Obsolescencia Programada [Motion Picture]. insper. (16 de Maio de 2015). Obtido de nsper: http://www.insper.edu.br/casos/estudocaso/ Latouche, S. (2012). Hecho Para Tirar. In S. Latouche, La irracionalidad de la obsolescncia programada (p. 117). Octaedro. Leonard, A. (2010). The story of Stuff. In A. 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Justifique por favor. 3– Considera que essas alterações sempre foram vantajosas para os consumidores? Justifique por favor. 4 – No seu ponto de vista considera que essas alterações são vantajosas a nível económico e do desenvolvimento do mercado? Justifique por favor. Muito obrigada pela sua participação! 44