UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE Centro de Ciências da Saúde Faculdade de Medicina Departamento de Medicina Clínica Pós-Graduação em Neurologia – Doutorado Marco Antonio Araujo Leite Cintilografia miocárdica com 123I meta-iodo-benzil-guanidina em indivíduos com diagnóstico recente de Doença de Parkinson e sem disautonomia clinicamente definida Orientador: Prof. Titular Dr. Osvaldo José Moreira do Nascimento Niterói 2009 Livros Grátis http://www.livrosgratis.com.br Milhares de livros grátis para download. Marco Antonio Araujo Leite Cintilografia miocárdica com I meta-iodo-benzil-guanidina em indivíduos com diagnóstico recente de Doença de Parkinson e sem disautonomia clinicamente definida 123 Tese apresentada ao Curso de Pós-Graduação em Neurologia da Universidade Federal Fluminense como requisito parcial para a obtenção do grau de Doutor em Neurologia. Orientador: Prof. Titular Dr. Osvaldo José Moreira do Nascimento Niterói 2009 ________________________________________________________________ L533 Leite, Marco Antonio Araujo Cintilografia miocárdica com ¹²³I metaiodo-benzil-guanidina em indivíduos com diagnóstico recente de Doença de Parkinson e sem disautonomia clinicamente definida / Marco Antonio Araujo Leite. – Niterói : [s.n.], 2009. 117 p. f.:il., 30 cm. Tese(Doutorado em Neurologia) – Universidade Federal Fluminense, 2009. 1. Doença de Parkinson. 2. Disautonomias primárias. I. Titulo. CDD 616.833 ________________________________________________________________ Marco Antonio Araujo Leite Cintilografia miocárdica com I meta-iodo-benzil-guanidina em indivíduos com diagnóstico recente de Doença de Parkinson e sem disautonomia clinicamente definida 123 Tese apresentada ao Curso de Pós-Graduação em Neurologia da Universidade Federal Fluminense como requisito parcial para a obtenção do grau de Doutor em Neurologia. Aprovado em novembro de 2.009 por: BANCA EXAMINADORA Prof. Titular Dr. Marcos Raimundo Gomes de Freitas (Presidente da Banca) UFF Prof. Dr. Edmar Augusto Santos Araújo UFF Prof. Dr. Jano Alves de Souza UFF Prof. Dr. João Santos Pereira UERJ Prof. Dr. Pedro Ferreira Moreira Filho UFF Niterói 2009 ________________________________________________________________ AGRADECIMENTOS Àqueles que contribuíram para realização desta tese, o meu reconhecimento é definitivo. Ela é fruto do estímulo e da amizade dessas pessoas. Ao Prof. Titular Dr. Osvaldo Nascimento, por ter acreditado em mim para desenvolver uma idéia sua. Pela orientação sempre precisa e segura que tive o privilégio e a sorte de poder receber. Ao Prof. Titular Dr. Marcos de Freitas de dentro da Universidade e ao Pedro Nery fora dela, por “terem movido mundos e fundos” para tornar possível o meu retorno à UFF. Ao Prof. Dr. Jano Alves de Souza e ao Prof. Marco Antonio Orsini pelo incentivo e pela solidariedade e generosidade. Aos professores doutores Daniel Cincinatus, Edmar Araújo e Pedro Moreira Filho por terem me recebido de braços abertos e torcerem por mim. À Adriana Mastub pela ajuda constante no Ambulatório. Aos colegas da residência médica e da especialização desses últimos três anos, alguns dos quais tive a felicidade de me tornar amigo. Aos Drs. Carlos Brodski e Rogério dos Santos Reis e ao Prof. Pedro Moreira, pelo encaminhamento de pacientes. Aos Drs. Jader Azevedo, Felipe Pedras e Adriana Soares minha eterna gratidão pelos ensinamentos no âmbito da medicina nuclear. Ao Prof. Clayton Amaral pela realização do “tratamento estatístico” da amostra. ________________________________________________________________ À Profa. de literatura Mariland Accurso pela difícil arte de revisão da língua portuguesa do presente trabalho. Ao Dr. Peter Sallem Jr, pelo auxílio na elaboração do Summary. E, finalmente, ao povo lá de casa, Maíra, Clara, Luana e Marcia e à minha mãe Nedin, por entoarem diariamente algo parecido com mantras ou cantos greogorianos cuja a letra eu somente percebia trechos: “E aí já acabou a tese?” “Hoje termina a tese?”. Desse modo singelo, pouparam um pouco o meu orientador da cobrança dos prazos a serem cumpridos. . ________________________________________________________________ LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AMS At rof i a de Múl t i pl os Si st em as COMT catecol-orto-metitransferase DHFG dihidroxifenilglicol DCL Doenç a di f usa do s (ou d em ênci a pel os) cor p úsc ul os d e Le wy DP Doença de Parkinson F AP F al ênci a Aut onôm i ca Pura HO hipotensão ortostática H-Y Escala de Hoehn e Yahr IISM Idade do início dos sintomas motores MAO monoaminoxidase MAPA Monitorização ambulatorial da pressão arterial MIBG meta-iodo-benzil-guanidina MÑM Mani f est ação(õe s) não m ot ora s NE norepinefrina ou noradrenalina PET Positron emission tomography (tomografia por emissão de pósitron) PSP Paral i si a Supran ucl ear Progr e ssiv a RI região de interesse rC/M, p, t razão (ões) coração/mediastino, precoce, tardia SMI Síndrome dos Membros Inquietos SNA Sistema Nervoso Autônomo SPET Single photon emission tomography (tomografia por emissão de fóton único) TCl taxa de clareamento TE Tremor Essencial TS Tempo de sintomatologia motora 123 cintilografia cardíaca com o metaiodobenzilguanidina marcada com o iodo-123 UPDRS Escala unificada de avaliação da doença de Parkinson I MIBGc ________________________________________________________________ RESUMO Frequentemente são verificadas disautonomias em pacientes com doença de Parkinson (DP). O acometimento do sistema nervoso autônomo pode acarretar desenervação simpática do coração. A cintilografia miocárdica com meta-iodo-benzil-guanidina marcada com iodo 123 (123IMIBGc) é um método não invasivo útil na avaliação da transmissão noradrenérgica cardíaca. através da esporádica Realizamos um estudo no qual examinamos, 123 IMIBGc, a inervação simpática cardíaca de pacientes com DP sem distúrbios autonômicos clinicamente definidos. Selecionamos 14 com DP, 2 controles saudáveis, 2 com atrofia de múltiplos sistemas, 1 com paralisia supranuclear progressiva e 1 com tremor essencial. Nos controles, os resultados se enquadram dentro dos limites da normalidade. A 123 IMIBGc foi anormal nos pacientes com DP, devido à: redução das razões coração/mediastino em 12 de 14 pacientes (risco de ocorrência na doença de 85,71%, (p < 0,001)); diminuição, ou ausência da captação do radiofármaco 123 I no SPECT em todos eles. Esses achados são compatíveis com a desenervação simpática cardíaca do coração de pacientes com DP e independem da manifestação clínica de disautonomia. Palavras-chave: Doença de Parkinson, disautonomia, desenervação simpática, cintilografia miocárdica com meta-iodo-benzil-guanidina marcada com iodo 123. ________________________________________________________________ SUMMARY Autonomic nervous system dysfunction is frequently verified in patients with Parkinson´s Disease (PD). Such an involvement of the autonomic nervous system may sometimes lead to sympathetic denervation of the heart. Cardiac sympathetic neuroimaging utilizing meta-iodo-benzilguanidine labeled with radioactive iodine 123 ( 123IMIBGc) has shown to be a useful as well as non-invasive diagnostic method for assessing cardiac noradrenergic outflow. We evaluated a sympathetic innervation of the heart in patients with sporadic PD using 123 IMIBGc who did not present clinically evident autonomic dysfunction. The subjects were 14 PD; 2 healthy subjects, 2 Multiple System Atrophy, 1 Progressive Supranuclear Palsy and 1 Benign Essential Tremor were studied as controls. The control subjects all presented with normal results. Patients with PD had reduced cardiac 123 IMIBGc uptake as compared with controls. The heart/mediastinum ratio was low in 12 out of 14 patients with PD (risk of such an occurrence in PD being of the order of 85,71% (p<0,01)) with visually, low or absent ________________________________________________________________ accumulation images in all patients as detected upon SPECT. These findings are indicative of cardiac sympathetic denervation in patients with sporadic PD and do not correlate with the manifestation of clinically evident signs of autonomic failure. KEY WORDS: Parkinson´s disease, autonomic dysfunction, sympathetic denervation, myocardial scintigraphy utilizing 123 IMIBG. SUMÁRIO L I ST A D E AB R EV I AT U RA S E SI GLA S VII R E SU M O VIII S U MM A RY IX I N T R OD U Ç Ã O 13 H I P ÓT E SE 16 O B JE TI V OS 18 R E V I SÃ O DA L IT E RA T UR A 20 1. D OENÇA DE P ARK INS O N – A S P ECT OS G ER AI S 21 2. M AN IF ES T AÇÕES NÃO M OT OR AS D A D OENÇ A DE P ARK INS ON 24 2.1. FASE PRÉ-CLÍNICA OU POUCO SINTOMÁTICA E NÃO MOTORA DA DOENÇA DE 27 PARKINSON 3. DISAUTONOMIA NA DOENÇA DE PARKINSON 29 4. A INERVAÇÃO CARDÍACA PELO SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO (ÊNFASE NO 30 SIMPÁTICO) 4.1. SINOPSE DA NEUROANATOMIA E NEUROFISIOLOGIA CARDÍACAS (DO ENCÉFALO AO 30 ________________________________________________________________ CORAÇÃO) 4.1.1. SÍNTESE, ARMAZENAGEM, LIBERAÇÃO, RECAPTURA E AÇÃO DA NOREPINEFRINA NO MIOCÁRDIO 33 5. ASPECTOS CARDIOVASCULARES, CORAÇÃO E DOENÇA DE PARKINSON 36 5.1. DESNERVAÇÃO CARDIOVASCULAR E DISAUTONOMIA NA DOENÇA DE PARKINSON 36 6.CINTILOGRAFIA MIOCÁRDICA COM 123I MIBG (123I MIBGC) 38 6.1. O MIBG 39 6.2 OS RADIOISÓTOPOS 41 6.3. ASPECTOS RELACIONADOS À INTERPRETAÇÃO DA 123I MIBGC 42 6.3.1. SÍNDROMES E DOENÇAS QUE PROMOVEM RESULTADOS ALTERADOS NA 123I MIBGC. 46 6.3.2. FÁRMACOS, DROGAS E SUBSTÂNCIAS QUE INTERFEREM NA INTERPRETAÇÃO DA 123I MIBGC 46 6.3.3. RISCOS À SAÚDE HUMANA COM O EMPREGO DA 123I MIBGC 48 7. 123I MIBGC E DOENÇA NOMEADAS COMO -SINUCLEINOPATIAS 49 7.1. 123 I MIBGC E DOENÇA DE PARKINSON 7.2. 123I MIBGC E OUTRAS -SINUCLEINOPATIAS, 50 PARKINSONISMOS ATÍPICOS E 51 SECUNDÁRIOS E O TREMOR ESSENCIAL PACIENTES, MATERIAIS E MÉTODOS 55 1. CASUÍSTICA 56 2. BIOÉTICA 56 3. F ORM AÇÃO E EXAM E D A AM OS TR A 57 3. 1. C R I T É R I O S 58 DE I N C L U S ÃO ________________________________________________________________ 3. 2. C R I T É R I O S 3. 3. D AD O S DE EXCLUSÃO D A HI ST ÓRI A E D O E XAME C LÍN ICO S 59 63 3.4. EXAME DE MEDICINA NUCLEAR 64 4. A NÁ LIS E ES T ATÍ S T IC A D OS RES U LT AD OS 66 RESULTADOS 68 1. COMPARAÇÃO DOS ASPECTOS CINTILOGRÁFICOS ENTRE PACIENTES COM 72 DOENÇA DE PARKINSON E OS CONTROLES 2. COMPARAÇÃO DOS ASPECTOS CINTILOGRÁFICOS ENCONTRADOS NO GRUPO 77 DE PACIENTES COM DOENÇA DE PARKINSON 3. EFEITOS COLATERAIS E INDESEJADOS 81 DISCUSSÃO 82 CONSIDERAÇÕES FINAIS 95 CONCLUSÕES 97 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 99 ANEXOS 113 ________________________________________________________________ INTRODUÇÃO A Doença de Parkinson (DP) é comum. No Brasil, a prevalência encontra-se em 0,8% entre os 64 e 69 anos1 e provavelmente dobrará em 20 anos2. Habitualmente, conceitua-se a DP como sendo uma doença neurodegenerativa. Contudo, o adjetivo degenerativo é um termo médico insatisfatório, pois apenas implica em um inexplicável declínio da função celular3. Portanto, essa caracterização pode ocultar uma magnífica e complexa interação, ainda pouco compreendida, entre genes e fatores ambientais candidatos a geradores da doença 4-6. A DP é classificada como uma desordem do movimento. Com a finalidade de se estabelecer o diagnóstico clínico da DP, a maioria dos pesquisadores utiliza os critérios do Banco de Cérebros do Reino Unido7, em que, para o referido fim, se destaca a necessidade da existência de sinais de acometimento motor, ________________________________________________________________ especialmente a bradicinesia. Infelizmente, diminuírem a margem de erro diagnóstico, apesar desses critérios relegam ao segundo plano, manifestações clínicas não motoras (MÑM) da DP. Embora frequentemente negligenciadas, as MÑM são usuais nos pacientes com DP, sendo verificadas precocemente em alguns deles. Distúrbios sensoriais, disautonômicos e do sono podem, inclusive, preceder o surgimento da bradicinesia 8-12. A cintilografia cintilografia cardíaca com o meta-iodo-benzil- guanidina marcada com o iodo-123 (123I MIBGc), vem sendo empregada, na avaliação da função de parte do sistema nervoso autônomo humano, desde o início da década de oitenta 13. Há treze anos, começaram a surgir estudos que averiguaram a atividade noradrenérgica (simpática) cardíaca na DP, por meio desse método14,15. Observou-se a utilidade da 123 I MIBGc na diferenciação entre a DP e outros parkinsonismos ou doenças onde o tremor é o sinal principal 16-19. A 123 I MIBGc é um exame bem tolerado e que excepcionalmente promove algum tipo de agravo à saúde 13,20,21. Até setembro de 2009, poucos foram os trabalhos originais relativos ao estudo da função simpática na DP com a 123 I MIBGc publicados e catalogados nos índices PubMed e LILACS. A metodologia aplicada e os resultados adquiridos diferiram na maioria dos trabalhos. Há controvérsias, por exemplo, quanto à sensibilidade do exame no diagnóstico da DP esporádica, especialmente nas fases iniciais da doença 22,23 e na DP genética24. Outrossim, a grande maioria das pesquisas foi realizada no Japão, sendo a avaliação praticamente exclusiva da população asiática, geralmente japonesa. Menos frequentemente, efetuaram-se estudos na Europa e nos EUA. Eles são inéditos na América Latina. Portanto, torna-se relevante a avaliação da 123I MIBGc em brasileiros com DP. ________________________________________________________________ REVISÃO DE LITERATURA 1. Doença de Parkinson – Aspectos gerais A DP esporádica é comum, afetando aproximadamente 1 a 2% da população com mais de 65 anos. Sua incidência corrigida pela idade varia entre 8,6 a 19 por 100.000 habitantes/ ano na Europa e nos EUA, mesmo quando se aplicam rigorosos critérios diagnósticos clínicos 25. Em nosso país, a prevalência encontra-se em 0,8% entre os 64 e 69 anos aumentando sucessivamente até atingir 14,3% após os 84 anos (em média 3% após os 64 anos)1. Existe um pequeno predomínio de acometimento no sexo masculino26. É incomum o surgimento da doença antes dos 50 anos de idade e quando tal situação acontece, a possibilidade da DP ser do tipo esporádico diminui aumentando o risco da forma genética 6 . A DP pertence ao grupo dos parkinsonismos, sendo esses caracterizados por bradicinesia (necessariamente presente) somada ao tremor de repouso e/ou rigidez e/ou instabilidade postural (pelo menos um dos três) 7. Os parkinsonismos podem ser classificados e numerados da seguinte forma: 1. primários (DP esporádica e familial), 2. secundários (induzido por drogas, devido à exposição a toxinas, decorrente de hidrocefalia, dentre outras causas), 3. atípicos ou plus (Degeneração córtico-basal - DCB, Demências de Alzheimer e frontotemporal, doença difusa dos corpúsculos de Lewy - DCL, Atrofia de Múltiplos Sistemas - AMS, Paralisia Supranuclear Progressiva - PSP, dentre outros) e 4. doenças familiais neurodegenerativas (Huntington, Wilson, Pantotenoquinase associada à neurodegeneração, neuroacantocitoses e outras)27. ________________________________________________________________ Nos últimos 20 anos, ocorreram importantes avanços no conhecimento da etiologia e da patogenia da DP embora, elas ainda não tenham sido esclarecidas. Atualmente, considera-se a etiopatogenia da DP como um processo dinâmico e multifatorial, no qual há uma sequência específica de anormalidades funcionais 6 e estruturais iniciada no sistema nervoso central (bulbo olfatório e núcleos dorsais dos nervos glossofaríngeo e do vago)28,29 e/ou no sistema nervoso periférico (terminações parassimpáticas intestinais)29,30. De um modo ou de outro, a porção ventrolateral da parte compacta da substância negra é acometida acarretando, com o passar do tempo, distúrbios no sistema nigro-estriatal e queda dos níveis de dopamina. Estima-se que uma diminuição entre 60 a 70% de dopamina no striatum6 ou uma perda neuronal nigral de 60 a 80% sejam necessárias para o surgimento de sintomas motores da DP31, os quais evoluirão de forma assimétrica e lentamente progressiva 32. Todos esses aspectos parecem indicar que há um grande período de tempo entre o início da agressão do sistema nervoso e o começo das manifestações clínicas. Movidos, igualmente por essa idéia, Le, Chen e Jankovic5, defendem uma hipótese em que os processos etiopatogênicos da DP surgem nas fases iniciais da vida humana. No período pré-natal, em indivíduos predispostos, esses processos acometeriam o desenvolvimento de determinados neurônios mesencefálicos. Dessa maneira, haveria por ocasião do nascimento diminuição dos níveis de dopamina e redução do número de neurônios dopaminérgicos. Com o passar dos anos, esse estado deficitário progrediria sobrevindo os sintomas. Embora os mecanismos de disfunção e dano celulares não estejam esclarecidos, a teoria corrente mais aceita sugere que a DP resulte da convergência de vários processos, em que mutações genéticas e fatores ________________________________________________________________ ambientais determinem alterações mitocondrais, estresse oxidativo, inflamação, excitação tóxica e mau funcionamento de sistemas celulares de remoção de proteínas anormais. Um desses sistemas, o ubiquitinaproteossomo, promove a degradação e a eliminação das proteínas intracelulares danificadas por mutação, deslocação, oxidação ou devido a outros motivos. Quando não possui funcionamento adequado, o sistema deixa de degradar essas proteínas deformadas. Elas, então, se agregam e causam toxicidade celular33-37. Na DP, a -sinucleína é a principal proteína desses aglomerados. Inclusões citoplasmáticas neuronais com -sinucleína deformada e marcada pela ubiquitina são características dos corpúsculos de Lewy e observadas em situações denominadas sinucleinopatias, tais como a DP, a DCL, a AMS, a Síndrome dos Membros Inquietos (SMI) idiopática e Falência Autonômica Pura (FAP) 38-40. Vários autores consideram como alterações neuropatológicas características da DP, quando ocorre na porção compacta da substância negra (principalmente nas regiões ventrolaterais) o seguinte: 1. diminuição de neurônios dopaminérgicos e 2. presença de neurite e de corpúsculos de Lewy, em um número variável de neurônios restantes. Mais recentemente, alguns pesquisadores têm inserido nesse critério a existência de reação imuno-histoquímica promovida por anticorpos anti--sinucleína, anti-ubiquitina e anti-tirosina hidroxilase, uma enzima que cataliza uma etapa da formação de dopamina. 7, 38, 39, 41 . Apesar dessas considerações, há casos de DP em que não se verificam os corpúsculos de Lewy. Exceções ao critério são observadas em formas genéticas da DP, como no caso do PARK 2 ou, igualmente, quando a DP é do tipo esporádico. Segundo Weiner, até mesmo no trabalho original de Tretiakoff, em que o termo corpúsculo de Lewy é cunhado, não foi verificada a existência do ________________________________________________________________ referido corpúsculo em três dos nove pacientes com DP típica submetidos à necropsia4. 2. Manifestações não motoras da doença de Parkinson James Parkinson, em An Essay on the Shaking Palsy (1817), enfatizou os distúrbios motores, tanto no título de sua tese quanto em sua redação. Apesar disso, descreveu, de igual modo, MÑM, do tipo transtornos do sono e do funcionamento intestinal 42. Cinquenta anos depois, Charcot aludiu à demência e à dor e particularizou aspectos da disautonomia como sintomas e sinais importantes na DP7,43,44. Contudo, ainda hoje, a DP é rotulada como doença motora, ou considerada uma desordem do movimento. Em grande parte dos trabalhos científicos, utilizam-se os critérios do Banco de Cérebros do Reino Unido para o diagnóstico de parkinsonismo. Através desse método, o diagnóstico só pode ser realizado, quando ocorrerem ao menos dois de quatro sinais: 1. bradicinesia (sempre é necessária a sua existência); 2. tremor de repouso e/ou; 3. rigidez e/ou; 4. instabilidade postural. No caso da última, deverá ser descartada a origem por distúrbio visual, vestibular, cerebelar, ou proprioceptivo 7,45 . Além disso, as desordens motoras constituem a causa mais frequente da busca por atendimento médico por parte de pacientes com DP 46 . Talvez, por conta desses aspectos, os fenômenos não motores secundários à DP (tabela 1) são amiúde negligenciados, tanto da parte de quem busca a consulta, quanto da parte do consultor. Resultados de um estudo internacional, no qual se empregou questionário (Nonmotor Symptoms Questionnarie for Parkinson Disease – NMS-Quest), corroboram esse fato: por constrangimento, ou desconhecimento da relação do sintoma com a DP, ________________________________________________________________ 62% dos problemas não motores deixaram de ser notificados aos profissionais da área de saúde, sendo os mais prevalentes a dor, as dificuldades de cunho sexual, os transtornos intestinais e os distúrbios do sono. Não obstante, é frequente entre médicos não especialistas a confusão entre MÑM secundárias à DP e os efeitos indesejados decorrentes das drogas antiparkinsonianas, bem como a atribuição dos fenômenos não motores a outras doenças que não a DP. Por outro lado, em avaliações de pacientes com DP realizadas por neurologistas, não houve identificação da ansiedade e da fadiga em mais de 50% das consultas e dos distúrbios do sono em mais de 40% das vezes47. Tal constatação é preocupante, visto a alta prevalência nos pacientes com DP de alterações como distúrbios do sono (98%, sendo grave em 33%)48, desordens sensitivas (dor entre 40 a 75%)49-51 e transtornos neuropsiquiátricos (17 % com depressão maior, 22% com depressão menor e 13% com distimia) 52. Durante a avaliação de MÑM em 99 pacientes com DP, observou-se que 88% manifestavam ao menos um sintoma/sinal não motor, em 59% existiam no mínimo dois, em 39% havia três, ou mais, em 23% quatro era o menor número e pelo menos cinco ocorriam em 11% 53 . Além de não serem incomuns, as MÑM acarretam um sem número de inabilidades e dependências, piorando a qualidade de vida e aumentando em muito a morbidade da DP. Em um estudo, por exemplo, a dor figurou entre as queixas que promoviam mais incapacitação. Em outro, a depressão e o declínio cognitivo eram os aspectos mais relacionados à deterioração da qualidade de vida. Diferentemente do imaginado outrora, as MÑM não ocorrem exclusivamente nas fases mais avançadas da DP. Podem preceder os sintomas e sinais motores, em mais de uma década, a depressão, a constipação, os distúrbios comportamentais da fase REM do sono, a hipersonia diurna, a disfunção eréctil e a hiposmia. As MÑM, de ________________________________________________________________ igual forma, concorrem para a elevação da mortalidade. Portanto, reconhecê-las de modo apropriado, o mais precocemente possível, melhora o prognóstico da DP12,54-60. Tabela 1. Manifestações não motoras da Doença de Parkinson (exceto as autonômicas) 46, 57-60 Distúrbios Neuropsiquiátricos Transtornos do sono Sintoma sensorial Sintoma sensitivos Ansiedade, ataques de Pânico Fobia social Apatia Anedonia Depressão Flutuação ou deficit da atenção Disfunção executiva frontal Disfunção visoespacial Demência Alucinações, ilusões, desilusões Insônia Fragmentação do sono Sonhos vívidos Distúrbio comportamental da fase REM do sono Síndrome do membro inquieto (síndromes das pernas inquietas) Movimentos periódicos dos membros Distúrbios do movimento não relacionados à fase REM Apneia do sono Sonolência excessiva diurna Acinesia noturna Bruxismo Hiposmia/anosmia Visão turva Dificuldade no reconhecimento de contrastes e têmporoespacial Ageusia Parestesias “síndrome da boca ardida” “síndrome da dor em cabide” – pacientes com hipotensão ortostática Dor neuropática ________________________________________________________________ Dor miofascial Fadiga Diplopia Outros 2.1. Fase pré-clínica ou pouco sintomática e não motora da Doença de Parkinson Em um estudo, no qual foram avaliados 168 encéfalos humanos de pacientes sem e com DP diagnosticada em vida, Braak e colaboradores61 propuseram um estagiamento de lesões encefálicas da forma esporádica da DP. Discorrem sobre uma sucessão de eventos em que há o envolvimento de múltiplos sistemas neuronais e consequente dano de tipos suscetíveis de células nervosas. Consideraram como pré-requisito para o diagnóstico post-mortem de DP a existência de neurite e do corpúsculo de Lewy no pericário neuronal na sua forma globular. Em encéfalos oriundos de pacientes falecidos que não manifestavam sintomas motores da DP, verificaram a presença dessas desordens celulares, em regiões, tais como: núcleo dorsal do vago, formação reticular e complexo coeruleus/subcoeruleus e ausência de acometimento da parte compacta da substância negra. Classificaram a doença em seis estágios sequenciais de progressiva piora. Eles evoluem desde o acometimento bulbar (núcleos dorsais do vago e do glossofaríngeo) e do bulbo olfatório até o neocórtex cerebral (estágio 5) / áreas de associação sensitiva e pré-motoras (estágio 6), danificando, somente no meio do caminho (estágio 3), a parte compacta da substância negra. Demonstraram, assim, que, no sistema nervoso central, alterações de estruturas e conexões relacionadas às funções autonômicas, ou sensoriais, e relativas ao sono e ao humor surgem antes daquelas motoras. Artigos anteriores a esse referiam MÑM como: fator de risco para DP, secundárias ao uso de algum fármaco utilizado no tratamento ________________________________________________________________ da DP, ou tardias. Por exemplo, um estudo epidemiológico, publicado dois anos antes, aferia maior probabilidade de desenvolvimento de DP àquelas pessoas com lentificação do trânsito intestinal e consequente constipação, porém, não a reconhecia já como manifestação da própria doença 62. Existe ainda a possibilidade de, antes mesmo do acometimento bulbar e olfatório, a DP afetar as terminações parassimpáticas do aparelho gastrointestinal. Dessa forma, causada por uma neurotoxina, ou por um fator neurotrópico, a doença iniciar-se-ia no sistema nervoso periférico e, através de transporte retrógrado, lesionaria o sistema nervoso central 29,61 . 3. Disautonomia na Doença de Parkinson A disautonomia pode ser transitória ou permanente. Variam quanto ao tipo do Sistema Nervoso Autônomo (SNA) mais atingido (simpático ou parassimpático), à localização (focal ou generalizado), ao modo de ação (inibição ou ativação), à causa e à freqüência na população. Dentre as disautonomias simpáticas que ocorrem por inibição noradrenérgica, figuram, dentre as mais comuns, aquelas induzidas por fármacos e relacionadas à síncope neurocardiogênica, às disautonomias diabética e alcoólica, à DP, ao hipertieroidismo e à AMS63. Na DP, as disautonomias podem ser de origem central ou periférica e acarretam um grande espectro de manifestações (tabela 2). O tipo colinérgico predomina na desenervação autonômica 64. ________________________________________________________________ Tabela 2. Manifestações disautonômicas na Doença de Parkinson 46,53,54,56, 65 Distúrbio autonômico Hipotensão ortostática Distúrbio urogenital - Disfunção eréctil - Urgência urinária - Incontinência urinária - Noctúria Distúrbios gastrointestinais - Constipação - Incontinência fecal - Sialorréia - Sufocação - Disfagia - Plenitude pós-prandial - Náuseas - Vômitos - Refluxo Intolerância ao frio e ao calor Hiperhidrose Seborréia Perda de peso Ganho de peso Rinorréia 4. A inervação cardíaca pelo sistema nervoso autônomo (ênfase no simpático). 4.1. Sinopse da neuroanatomia e neurofisiologia cardíacas (do encéfalo ao coração) O termo “morrer de medo”, de quando em vez, é aplicado nas circunstâncias nas quais se encontram em risco as integridades mental e física, ou a vida. Os irmãos siameses Chang e Eng, lendários artistas circenses, parecem ter sido protagonistas e vítimas reais dessa desdita. Certa vez, ao verificar Chang morto, vitimado por seu segundo acidente vascular encefálico, Eng aterrorizado, tomado pelo pânico, também morre. Na necropsia de Eng, verificaram-se sinais de edema agudo de pulmão. Supõe-se que ele tenha sofrido arritmias cardíacas. Parece que o êxito letal foi ocasionado por estimulação simpática maciça, tendo Eng, literalmente, morrido de medo66. ________________________________________________________________ O hipotálamo é o centro da confluência e da disseminação dos impulsos autonômicos de várias regiões. Ele integra, igualmente, o SNA ao sistema límbico. Há três estruturas cerebrais que possuem atividade moduladora no hipotálamo: o córtex do lobo frontal (a porção ventromedial do giro pré-frontal e o giro do cíngulo), a ínsula (córtex insular) e a amígdala com suas conexões 67,68. Existem evidências de que estímulos da amígdala e do córtex da ínsula produzam alterações na frequência cardíaca e na pressão arterial. A região rostral posterior da ínsula desencadeia taquicardia, enquanto a caudal posterior ocasiona bradicardia. Vias eferentes da ínsula se conectam com os núcleos parabraquiais, as regiões corticais, o tálamo e as áreas hipotalâmicas laterais. Por intermédio de fibras aferentes, chegam à ínsula potenciais de ação oriundos das papilas gustativas, dos aparelhos gastrointestinal e respiratório, além daqueles provenientes dos baro e quimio receptores cardíacos. Há uma conexão complexa entre a ínsula, o hipotálamo e a amigdala, como parte do sistema límbico. Dessa forma, em resposta ao estresse, a amígdala tenta controlar a atividade excessiva cardíaca, liberando neuropepitídeo Y e neurotensina. Todo esse circuito pode ser envolvido no caso de dano encefálico. Por exemplo, o aumento da atividade simpática, secundário aos acidentes vasculares, ou à hemorragia subaracnóide, pode acarretar eventos do tipo edema agudo de pulmão central, ou arritmia cardíaca, incluindo fibrilação ventricular e morte súbita 69. Do mesmo modo, o lobo temporal parece influenciar, de igual modo, a via simpática. Epilepsias de surgimento nesse lobo podem promover arritmias cardíacas do tipo taquiarritmia ventricular 70. Do hipotálamo, as fibras simpáticas, ao percorrerem o trajeto caudal, em sua grande maioria, não ultrapassam a linha média. Têm relação anatômica com o núcleo rubro, o tálamo, o tegmento lateral do mesencéfalo, ________________________________________________________________ a ponte e a porção retro-olivar do bulbo. As fibras simpáticas chegam à medula cervical com destino à coluna intermediolateral, direcionando-se para o ângulo posterior da ponta anterior. As vias que possuem sentido contrário (medula até o hipotálamo) ainda são pouco estudadas em humanos, podendo o maior conhecimento do trajeto dessas vias levar à melhor compreensão de como aspectos sensitivos somáticos e viscerais influenciam o SNA. Com relação ao dos trajetos de parte parassimpática, ainda há bastante desconhecimento (via caudal-cranial)67. As fibras simpáticas saem da medula entre os segmentos T1 a L3. São finas e pequenas, constituindo-se de ramos pré-ganglionares (ramo comunicante branco, pouco mielinizado – sinapse nos gânglios paravertebrais) e pós-ganglionares (ramo comunicante cinzento, não mielinizado – sinapse na víscera alvo). As fibras adrenérgicas que inervam o coração são oriundas dos gânglios estrelados. O gânglio estrelado direito inerva as paredes lateral e anterior do ventrículo esquerdo, ao passo que o gânglio esquerdo inerva o ventrículo direito. Penetram no subendocárido, a partir do pericárdio, seguindo o trajeto dos vasos coronarianos, da base até o ápice do coração. Já as fibras parassimpáticas chegam ao coração através dos dois nervos vagos. Dividem-se em nervos cardíacos superior e inferior inervando os átrios, principalmente os nós sinoatrial e atrioventricular, além da parede inferior do ventrículo esquerdo 71,72 . A acetilcolina atua no parassimpático e nos ramos préganglionares do simpático. Há exceção na porção pós-ganglionar do sistema nervoso simpático: os controles da termorregulação / sudação. Já a norepinefrina ou noradrenalina (NE) é o principal neurotransmissor do sistema nervoso simpático pós-ganglionar 63,67. ________________________________________________________________ 4.1.1. Síntese, armazenagem, liberação, recaptura e ação da norepinefrina no miocárdio. O início da síntese de NE, quando promovida dentro do sistema nervoso simpático, dá-se, quase que completamente, no corpo neuronal pós ganglionar . Ela começa pela modificação do aminoácido tirosina em dihidroxifenilalamina (dopa) e, esta, por sua vez, transformada em dopamina. As duas reações são catalizadas respectivamente pela tirosina hidroxilase e pela dopadescarboxilase. Posteriormente, a dopamina, por intermédio da -hidroxilase, é captada pelas vesículas de armazenamento, via transporte ativo, convertendo-se então em NE. Na adrenal, mas não no neurônio, a NE pode ser convertida em epinefrina pela feniletalamina N-transferase. Potenciais de ação, gerados por estimulação neuronal, acarretam no neurônio adrenérgico simpático, abertura de canais de Ca2+ dependentes de voltagem. Tais fenômenos desencadeiam a fusão das membranas da vesícula de armazenamento com a do citoplasma neuronal e a consequente ruptura de ambas com a liberação da NE na fenda sináptica (exocitose). Da mesma forma, o estímulo dos receptores adrenérgicos e a angiotensina II facilitam a liberação da NE (retroalimentação negativa). Por outro lado, a excitação dos receptores 2adrenérgicos ocasiona inibição da exocitose. Grande parte das moléculas de NE lançada na fenda sináptica é reconduzida para dentro do neurônio simpático. Esse processo, chamado de mecanismo de captura (ou recaptura) 1, é realizado por um sistema transportador de amina. Possui alta afinidade pela NE, mas não pela epinefrina. Porém, não é específico, podendo carrear outros neurotransmissores tais como dopamina e serotonina, além de outras aminas (p.ex: a guanetidina, um agente bloqueador adrenérgico). Ele depende de energia (intraneuronal), de ________________________________________________________________ temperatura e do sódio. Após atravessar a membrana axoplasmática, já dentro do citoplasma neuronal, a NE é reincorporada às vesículas de armazenamento (maior parte) ou, ao permanecer livre, metabolizada na superfície mitocondrial pela monoaminoxidase (MAO) em dihidroxifenilglicol (DHFG). Existe, de igual modo, um sistema de transporte de amina extraneuronal (captura ou recaptura 2). Ele exibe baixa afinidade pela norepinefrina e alta pela epinefrina. A recaptura 2 se limita à difusão passiva de uma pequena parte de NE. Ela acontece através do citoplasma de células não neuronais miocárdicas, ou da parede dos capilares sanguíneos. Nesses locais, a NE sofrerá metilação, transformando-se em normetanefrina, por intermédio da catecol-orto-metiltransefrase, ou será levada para longe por intermédio da circulação 73-75. Neurotransmissores adrenérgicos se ligam aos receptores 1 e 2 localizados no sarcolema dos miócitos cardíacos. Os 1 são mais prevalentes (um número 4 vezes maior do que os 2), acoplam-se à NE, enquanto que os 2 o fazem com a epinefrina. Os receptores -adrenérgicos interagem subunidades de proteína G. Quando estimulados, acarretam aumento na atividade da adenil ciclase. Consequentemente, há acumulação de adenosina ciclase monofosfatase (AMPc) e ativação da proteinoquinase AMPc-dependente o que altera a função de muitas proteínas celulares, levando à modificação do trânsito celular de Ca 2+ e repolarização do miócito. Dessa forma, então, há a manifestação dos resultados fisiológicos cardíacos da ação simpática que são: o aumento da frequência cardíaca (efeito ________________________________________________________________ cronotrópico), da contração muscular (inotrópico) e da velocidade da condução atrioventricular (dromotrópico)74-76. 5. Aspectos cardiovasculares, coração e doença de Parkinson 5.1. Desnervação cardiovascular e disautonomia na doença de Parkinson Distúrbios cardiovasculares decorrentes da disautonomia simpática (falência neurocirculatória simpática) na DP são frequentes e se manifestam através da diminuição da variação da frequência cardíaca, disritmias cardíacas e das hipotensões pós-prandial, induzida pelo exercício, e ortostática (HO). Essa última, além de ser frequente, 20 a 50% dos enfermos com DP a têm, destaca-se como sendo uma das manifestações que mais causam incapacidade nesses pacientes. Sintomas da HO incluem fraqueza e fadiga, dor “em forma de cabide” (acomete o pescoço e os ombros); dor lombar, ou nas nádegas, pré-síncope e síncope, desconforto torácico, distúrbios visuais e cognitivos. Verificou-se em vida, por intermédio do PET (do inglês Positron emission tomography, em português: tomografia por emissão de pósitron) a desnervação simpática miocárdica em pacientes com DP, através da diminuição da captação pelo coração de radiofármacos (13[N] amônia e 6-[18F] Flurodopamina) que se ligam a receptores de NE dos miócitos do miocárdio. Observaram-se, de igual forma, aumento da concentração plasmática arterial de norepinefrina, queda na estimativa do excedente da norepinefrina no plasma do seio coronariano, diminuição na ________________________________________________________________ diferença artério-venosa plasmática da l- dihidroxifenilalanina (l-dopa, precursora de catecolaminas), do dihidroxifenilglicol (metabólito neuronal da NE) e do ácido dihidroxifenilacético (metabólito da dopamina). Há, nos exames post-mortem realizados nesses pacientes, perda de 60 a 70% das células do núcleo intermédio-lateral da medula torácica e presença de corpúsculos de Lewy em alguns neurônios remanescentes dessa região.46,64,77. A falência neurocirculatória simpática parece ser causada por um processo que culmina na transmissão deficitária de NE. Foram normais os resultados de um estudo que avaliou o reflexo sudomotor axonal em pacientes com DP e falência neurocirculatória simpática. Interpretou-se, assim, que os neurônios simpáticos pós-ganglionares lesionados são os noradrenérgicos, mas não os colinérgicos 64 . Provavelmente, defeitos decorrentes da DP, na função parassimpática cardíaca, não causam sintomas. Não está claro se essas anormalidades são devidas mais à idade avançada, ou ao uso de determinadas medicações, do que propriamente à DP. Somente são observadas através de testes objetivos, como a alteração da freqüência cardíaca ocasionada pela inspiração profunda, ou o teste da inclinação. Diferentemente do que ocorre no esôfago, no estômago e no cólon, não é notado, no coração de pacientes com DP, dano estrutural dos neurônios parassimpáticos.64,78. 6. Cintilografia miocárdica com 123 I MIBG (123I MIBGc) ________________________________________________________________ A avaliação da porção simpática pós ganglionar (noradrenérgica) no coração pode ser feita in vivo e de forma pouco invasiva, através da formação de imagem correspondente à ligação de um radiofármaco (123I MIBG) aos receptores adrenéricos (tipo 1) do miócito, à captura e ao armazenamento dessa molécula radioativa pelo neurônio autonômico bem como à dispersão desse radiotraçador para outras regiões. Dessa forma, torna-se possível a visualização e a quantificação, por intermédio de um estudo funcional e anatômico, de alterações ocasionadas por processos fisiopatológicos que envolvam a terminação do neurônio simpático, a fenda sináptica e o miócito cardíaco. Essa imagem da neurotransmissão cardíaca pode ser obtida por intermédio do PET, ou de imagens planares mais o SPECT 74. 6.1. O MIBG Na década sessenta verificou-se que a benzilguanidina (a combinação da porção benzil do bretílio com o grupo guanidina da guanetidina) possuía uma alta afinidade pelos receptores da via adrenérgica. Foi formado, então, o meta-iodo-benzil-guanidina (MIBG). Essa descoberta motivou alguns pesquisadores, no início dos anos 1980, a marcarem essa substância com iodo radioativo, tornando-a visualizável na cintilografia. Consequentemente, passaram a estudar, por intermédio de imagens, a função de estruturas com inervação adrenérgica, especialmente a adrenal e o coração de animais80. Em 1981, Kline e seus colegas, através de imagens cintilográficas (planares mais o SPECT) com o iodo radioativo 123 MIBG, examinaram o ventrículo cardíaco esquerdo de cinco homens saudáveis. Concluíram ser o método capaz de fornecer informações quantitativas sobre o conteúdo de catecolaminas no miocárdio, além de ter fácil execução, não ________________________________________________________________ havendo necessidade do uso de equipamentos especiais, bastando os aparelhos comumente encontrados em serviços de medicina nuclear 13 . O MIBG utiliza mecanismos de captação e de armazenamento similares àqueles da NE. Ele é ativamente transportado pelo mecanismo de captura 1 e, já dentro do neurônio simpático pós-ganglionar, é armazenado nas vesículas citoplasmáticas. Outrossim, igualmente à NE, quando ocorre estimulação do receptor 2 adrenérgico, o MIBG tem sua exocitose inibida, refletindo assim o tono simpático. Diferentemente da NE, o MIBG não sofre a ação da MAO ou da COMT e possui captura pelo mecanismo 2 insignificante (figura 3). Desse modo, permanece na circulação porção terminal do neurônio - fenda sináptica, por muitas horas 73,81 . 6.2 Os radioisótopos Os radioisótopos utilizados em associação ao MIBG são o iodo 131 (131I) e o iodo 123 (123I). O 131I emite dois tipos de radiação. Uma, a predominante, é sob a forma de partícula nuclear (radiação beta negativa) e promove dano celular tóxico por possuir capacidade de penetração tecidual. A outra é do tipo onda eletromagnética, da mesma natureza da luz, sendo capaz de passar através dos tecidos e ser captada do lado externo do corpo humano (radiação gama). No caso do 123 passo que a do I, a única radiação emitida é a gama. A meia vida do 123 I é de 13,3h, ao 131 I corresponde a 8,1 dias. Consiste em cerca de 20 vezes mais, a dose absorvida por todo o corpo de 131 I, quando comparado ao 123 I. Além disso, na produção da cintilografia, os detectores de cintilação das câmaras gama possuem maior sensibilidade para ________________________________________________________________ baixa energia de emissão de radiação gama pura, tendo maior eficiência no intervalo entre 123 I emite 159 keV, enquanto que o 131I 364 keV. E, quanto maior a 100 e 250 keV. O sensibilidade melhor a resolução da imagem. Dessa forma, atualmente reserva-se o 131I para uso na oncologia (diagnóstico e tratamento) e se utiliza o 123 I em outras situações (síndromes e doenças), em que o objetivo exclusivo é o do estudo (auxílio diagnóstico da desnervação) da neurotransmissão noradrenérgica (neurônio simpático pós-ganglionar – fenda sináptica – miócito)20,79,82,83. 6.3. Aspectos relacionados à interpretação da 123 I MIBGc Quatro são os aspectos mais citados na interpretação da Cintilografia miocárdica com 123 I MIBG ( 123I MIBGc): a taxa de clareamento (os países de língua inglesa utilizam o termo washout) que significa a proporção da eliminação cardíaca do radioisótopo; as razões coração/mediastino (precoce e tardia), as únicas utilizadas em todos os trabalhos sobre 123 I MIBGc e DP, assim como as aquisições planar e por SPECT das imagens. Comumente, o termo “região de interesse” (RI) é empregado na avaliação da cintilografia. Em geral, as RI se referem a áreas, com pequenas variações de tamanho de autor para autor, do tipo retangular, circular, oval, ou, ainda, irregular (desenhada à mão livre sobre o ventrículo esquerdo e quadrada, ou retangular sobre o mediastino superior) 74, 84-88 . A taxa de clareamento (TCl) se refere à diferença da captação miocárdica entre etapas, após a injeção do 123 I MIBG no paciente ________________________________________________________________ examinado. O cálculo da TCl varia de acordo com o pesquisador. Apesar de tentativas, ainda não há consenso sobre qual a melhor forma de calculá-la, não havendo, consequentemente, valor consensual de normalidade dessa taxa. Geralmente, consideram-se duas fases, após a introdução de 111 a 370 MBq (3 a 5 mCi), na maioria das vezes 111 a 185MBq, do 123 I MIBG, para captação das imagens (cintilográficas planares e o SPECT): uma precoce, 10 a 30 min (mais amiúde 20 min) e outra tardia, 3 a 4h (com maior frequência 4h). Realiza-se a contagem (feita por programa de computador) da média de captação por pixel das RI nas imagens planares precoce e tardia. Portanto, a configuração das RI deve excluir áreas de sobreposição (mediastino/pulmões, coração/pulmão/fígado), sob pena de superestimar os resultados de cálculos que provenham da contagem da média de captação por pixel dessas regiões. Obtém-se a TCl, aplicando-se os resultados da contagem em uma fórmula mais simples ou mais complexa, em que a constante de decaimento radioativo é considerada 89,90. O método quantitativo padrão, para mensuração da captação global do 123I MIBGc, é a razão coração/mediastino (rC/M) das fases precoce (rC/Mp) e tardia (rC/Mt). A rC/M é realizada através das quantificações médias de captação por pixel, na região do mediastino superior e do ventrículo esquerdo do coração, pela seleção de RI. Há variabilidade, entre os vários autores, na definição dos valores normais da rC/M. Para um grupo de pesquisadores, o resultado normal é acima dos 1,9, para outro, o limite inferior é de 2,8, já um terceiro, não homogêneo, define o índice mínimo de normalidade em números que variam entre 1,9 e 2,8. Na maioria dos trabalhos, consideram-se valores normais aqueles acima de 2 a 2,3. Tendese a considerar valores anormais mais baixos (a partir de 1,9 a 2,2), quando o colimador utilizado para a realização do exame é de baixa energia. TCl ________________________________________________________________ elevada e diminuição da relação coração/mediastino condizem com desnervação simpática do coração. Quando a desnervação ocorre de forma intensa, pode ser necessário, para a realização SPECT, que o examinador recorra a doses mais altas do 123 I MIBG (10mCi ou 370 MBq). Por vezes, nem esse recurso é suficiente. O SPECT se compõe da análise visual das imagens, apreciando-se três eixos tomográficos (curto, longo vertical e longo horizontal), bem como do exame quantitativo dos mapas polares. Dessa feita, é possível a verificação da distribuição global e segmentar do 123 I MIBG no ventrículo esquerdo cardíaco74,84-88. 6.3.1. Síndromes e doenças que promovem resultados alterados na 123 I MIBGc. Diversas são as síndromes e doenças em que ocorre alteração na cintilografia com MIBG marcada com 131 I e 123 I. As mais referidas se encontram listadas no quadro 1. 6.3.2. Fármacos, drogas e substâncias que interferem na interpretação da 123 I MIBGc. Várias condições afetam a atividade noradrenérgica do coração (tabela 3). Consequentemente, podem elas causar confusão na obtenção e interpretação dos dados oriundos do exame de 123 I MIBGc. Alguns fármacos testados in vitro demonstraram possuir essa capacidade, tais quais o labetolol, o propranolol e a desipramina. Ao contrário, a nicardipina, o verapamil e a digoxina não acarretaram alteração da função da NE. Contudo, muitas dessas conclusões não puderam ser reproduzidas in vivo. Tempo prévio ao exame de uso da droga, dose utilizada e outros fatores ________________________________________________________________ parecem contribuir para tal resultado. A dificuldade aumenta quando os estudos são realizados em animais de experimento. A fluvoxamina, uma inibidora específica da recaptação da seronotonina, bloqueia 95% da captação do MIBG em ratos.93 Quadro 1. Relação das situações nas quais há alteração na captação do 131I e do I MIBG, 123 bem como naquelas em que o 131I MIBG é empregado para fins terapêuticos. Indicações para o uso de Cintilografia com 131 I ou 123 I MIBG 20, 86-88,91,92 1. Oncológicas (131I) No auxílio do diagnóstico, na localização, na determinação do estágio em que se encontra, na busca de metástases, no acompanhamento e no tratamento de tumores neuroendócrinos feocromocitomas tumores carcinóides neuroblastomas carcinoma medular da tireóide ganglioneuroblastomas tumor de Merkel ganglioneuromas outros tumores paragangliomas 2. Cardiológicas (123I) doença cardíaca isquêmica insuficiência cardíaca congestiva cardiomiopatias (hipertróficas ou dilatadas) disritmias (especialmente a taquicardia e a fibrilação ventriculares, secundárias ou não a dano estrutural) transplante cardíaco carcinoma medular da tireóide hipertensão arterial (comprometimento do ventrículo esquerdo) hipertensão pulmonar toxicidade cardíaca (principalmente aquelas causadas por drogas citostáticas utilizadas no tratamento de cânceres, tais como a doxorubicina) 3. Endócrino- metabólicas e Neurológicas (123I) Disautonomias (em topografia de ou causadas): Glândulas salivares Adrenais Intolerância à glicose (síndrome metabólica) Diabete Melito Falência autonômica pura Demência por inclusão de corpos de Lewy Distúrbio idiopático paradoxal da fase REM do sono Doença de Parkinson 4. Outros (131I ou 123I) ________________________________________________________________ Disautonomias (causada) Insuficiência Renal Mecanismo incerto Síndrome da apnéia obstrutiva do sono Tabela 3. Exemplos de substâncias que interferem no resultado da 123 I MIBGc20,94,95. Sugestão do tempo (dias) de SUBSTÂNCIA suspensão da Mecanismo de interferência (conhecido ou esperado) Opióides Inibição da captação Tramadol Desconhecido substância antes da realização da 123 I MIBGc. 7 – 14 - Antidepressivos 7 – 21 Tricíclicos Inibição da captação - Tetracíclico (Mirtazapina) Inibição da excitocitose do MIBG - Simpaticomiméticos Depleção dos grânulos 7-14 Fenilpropanolamina, pseudoefedrina, fenilefrina, - anfetamina, dopamina, isoproterenol, salbutamol, terbutalina, fenoterol, xilometazolina Cocaína Labetolol, metoprolol Inibição da captação e da depleção 21 Reserpina Inibição da depleção e do transporte 14 Amiodarona Aumento da captação 21 Espironolactona - Candesartan - Torasemida - Digoxina - Bretílio, guanetidina Inibição da Depleção e do transporte 14 Nifedipina, nicardipina, amlodipina Aumento da captação e da retenção 14 Captopril e enalapril Fenotiazinas, butirofenonas e Tioxantenas 14 Aumento da inibição 6.3.3. Riscos à saúde humana com o emprego da 21-28 123 I MIBGc ________________________________________________________________ O exame pode excepcionalmente causar pequenos agravos à saúde. Os efeitos colaterais são pouquíssimo significativos. Há raros relatos de gosto metálico, tonturas e calor no peito, todos fugazes. Existe exposição do paciente a doses maiores de irradiação, quando o 131 I MIBG é usado no tratamento de tumores. Em poucos desses casos, nota-se diminuição da taxa de filtração glomerular. Quando é utilizado para fins diagnósticos (doses menores de radiofármaco), o método pode ser empregado inclusive em pessoas com doença renal crônica. Desde o surgimento do MIBG, não existe descrição na literatura que o correlacione ao surgimento de qualquer tumor humano. Nos primórdios da utilização 131 I, ou 123 I MIBG, foram notificados casos de crise hipertensiva. Determinou-se como causa a liberação noradrenérgica decorrente da infusão rápida de 123 I MIBG. Assim, a partir de 1997, todos os serviços de medicina nuclear (experimentais ou comerciais), passaram a ter como rotina a infusão lenta do radiotraçador, anulando tal efeito nocivo. Pode haver, igualmente crise de ansiedade entre aqueles padecedores de claustrofobia, visto o enfermo ficar, mesmo por pouco tempo, com parte da cabeça e do tórax inseridos dentro de um arco.13,20,21. Diferentemente da 123 I MIBGc, outro métodos que estimam a neurotransmissão simpática cardíaca no seu nível micromolar são de difícil execução, dispendiosos e invasivos. Os exames da fração de extração cardíaca de NE, razão da circulação de NE no plasma do seio coronariano e da diferença arterial/venosa dos níveis de dihidroxifenilglicol constituem exemplos desses empecilhos 74. 7. 123 I MIBGc e doença nomeadas como -sinucleinopatias ________________________________________________________________ Conforme mencionado anteriormente, constituem esse grupo de doenças a DP, a AMS, a DCL, a FAP e a SMI idiopática ou associada à DP. 7.1. 123 I MIBGc e Doença de Parkinson Até setembro de 2009, foram publicados e catalogados nos índices PubMed e LILACS 122 artigos originais e sete revisões, relativos ao exame da função simpática na DP com a 123 I MIBGc, conforme as informações obtidas nos endereços eletrônicos: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/sites/entrez e http://bireme.br/php/index.php em 28/09/2009 às 6:50h. A maioria utilizou metodologia distinta. Essa variou desde o tipo de colimador usado na câmara gama até a amostra escolhida. Portanto, comparação entre os resultados não é tarefa fácil. Contudo, há nesses estudos evidências de alteração na 123 I MIBGc de pacientes com doenças relacionadas a inclusões de corpúsculo de Lewy. Tendo em vista a diminuição da captação do radiofármaco, virtualmente todos os pacientes com DP esporádica nas fases avançadas de suas doenças têm anormalidades na 123 I MIBGc. Essa redução é observada através da diminuição das rC/Mp e rC/Mt, aumento da TCl. No SPECT ela é notada como diminuição da visualização da imagem ou, até mesmo, pela impossibilidade da reconstrução tomográfica devido a ausência de captação do radiotraçador na topografia cardíaca. Existem, no entanto, controvérsias sobre os resultados desse método, em relação às fases iniciais, à forma clínica e ao estágio da DP 22, 96-98. Sobre as formas hereditárias da DP, o resultado da 123 I MIBGc parece ser tão heterogênio quanto os tipos de mutações. Um estudo avaliou pacientes com mutação de genes reconhecidamente correlacionados à DP comparandos com anormalidades na enfermos com DP esporádica. Verificaram-se 123 I MIBGc em somente seis (um PARKIN, um DJ-1, um PINK1 e três LRRK2) dos 14 elementos que manifestavam DP genética. ________________________________________________________________ Contrastando com isso, havia diminuição das rC/M no exame de todos os 15 pacientes com DP do tipo esporádico 99 . Previamente, publicou-se um caso de DP causado pela mutação do gene PARKIN em que o resultado da 123 I MIBGc foi normal. O enfermo exibia manifestações motoras da DP há mais de trinta anos 100 . Em outro estudo, também realizado anteriormente, concluiu-se como normal a 123 I MIBGc de dois pacientes com DP hereditário (tipo PARK 2)24. 7.2. 123 I MIBGc e outras -sinucleinopatias, parkinsonismos atípicos e secundários e o tremor essencial. Com a exceção da AMS, em todas outras -sinucleinopatias os resultados da 123 I MIBGc encontram-se alterados88,101,102. A observação de índices normais da 123 I MIBGc de pacientes com AMS parecem ser úteis no auxílio da elaboração do diagnóstico diferencial entre essa doença, especialmente na sua forma em que predomina o parkinsonismo, e a DP. O recurso da utilização da 123 I MIBGc nessa situação é particularmente promissor, em virtude da ocorrência na AMS e na DP de resultados similares originados por testes avaliadores de disautonomias sinucleinopatias que se associam a alterações na . Dentre aquelas - 103-106 123 I MIBGc , os valores mais baixos das rC/M são verificados na FAP e em segundo lugar na DP ou na DCL 97, 101 . Nos parkinsonismos atípicos, tais quais a PSP e DCB e secundários, com o vascular ou o desencadeado por uso de fármacos, e no tremor essencial, normais16,107,108. os resultados esperados da 123 I MIBGc são Tanto no parkinsonismo atípico quanto e nas demais doenças não ocorre acometimento dos neurônios simpáticos que promovem a inervação cardíaca16,97. Dessa forma, a 123 I MIBGc vem sendo destacada ________________________________________________________________ por diversos pesquisadores como um instrumento de grande valia no auxílio do diagnóstico da DP e na diferenciação entre ela e outras espécies de parkinsonismos e tremores16,23,96,97,101,107,108. PACIENT ES E MÉTODOS 1. Casuística ________________________________________________________________ O presente trabalho representa o estudo de uma série de 20 casos, constituída por 14 pacientes com DP e seis indivíduos rotulados como controles (um com PSP, um com TE, dois com AMS, um com a forma cerebelar e outro com o subtipo parkinsoniano e dois saudáveis), em que se aplicou o método de exame 123 I MIBGc. Essas pessoas foram atendidas nas clínicas particulares do autor e de seu orientador, no período de outubro de 2008 a setembro de 2009. 2. Bioética O estudo em questão foi desenvolvido de acordo com as diretrizes éticas adotadas pela 18o Assembléia da Associação Médica Mundial (The World Medical Association – WMA) e pela da declaração de Helsinki (Finlândia – 1964), posteriormente alteradas pelas assembléias gerais de números 48 (Somerset West -1996), 52 (Edinburgh – 2000), 53 (Washington – 2002), 55 (Tóquio – 2004) e 59 (Seul – 2008). Os indivíduos participantes assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido (anexo 1). 3. Formação e exame da amostra Todos os participantes foram examinados clinicamente em momentos distintos (intervalo mínimo de um dia e máximo de uma semana) pelo autor e por outro neurologista. Aplicamos nos pacientes com DP as ________________________________________________________________ escalas de Hoehn e Yahr109 e a UPDRS (Escala unificada de avaliação da doença de Parkinson, seções I, II e III, considerando-se a seção II como “fase uma on”, vez que nenhum antiparkinsoniana)110. A solicitação do exame paciente utilizava droga 123 I MIBGc ficou a cargo do autor e do seu orientador. A realização do pedido do exame ocorreu de forma uniforme, onde constavam o nome da pessoa a ser examinada, o volume de radiofármaco a ser aplicado (5 mCi ou 185 MBq de 123 I MIBG), os períodos de análise das imagens planares (20 min precoce e 4h tardia), para, o cálculo das rC/M e a taxa de clareamento. Em todas as solicitações de pedidos de 123 I MIBGc, independentemente se a pessoa padecia de DP, ou estava no grupo dos controles, a redação da indicação do exame foi a mesma: parkinsonismo e disautonomia. Em nenhum momento, informamos aos médicos da medicina nuclear qual a doença que acometia os participantes, ou se eles eram normais. Orientamos os participantes a fazerem o mesmo. Os exames de 123 I MIBGc foram realizados em três serviços independentes de medicina nuclear, pertencentes aos hospitais PROCARDIACO e Barra D’Or e à Clínica Villela Pedras. Três médicos especialistas em medicina nuclear, com vasta experiência na realização de 123 I MIBGc em pacientes cardiológicos, interpretaram os exames de nossa amostra em seus serviços. Cada participante foi submetido a somente uma 123 I MIBGc. 3.1 . Cr itério s de Inclusão A – Pacientes com DP diagnosticada conforme os critérios do Banco de Cérebros do Reino Unido 7, havendo necessariamente ________________________________________________________________ concordância da hipótese diagnóstica entre os dois neurologistas examinadores. B – Pacientes com desordens do movimento diagnosticadas, de acordo com os critérios mais usados na literatura, como AMS111, PSP112 e Tremor Essencial 113, havendo imprescindivelmente concordância da hipótese diagnóstica entre os dois neurologistas examinadores. C – Participantes com sintomas motores iniciados aos 55 ou mais anos de idade e controles saudáveis com idade mínima de 55 anos. D – Exceto os controles saudáveis e os pacientes com TE, em que era necessária, apenas, a existência de tremor, requeremos dos demais participantes ao menos dois sinais motores (bradicinesia mais tremor de repouso e/ou instabilidade postural e/ou rigidez). Exigimos que o tempo de surgimento das manifestações motoras, por ocasião do exame de 123 IMIBGc, variasse entre um e três anos. E – Era imprescindível que os participantes nunca tivessem utilizado fármacos empregados, de modo corrente, no tratamento da DP, ou do TE (levodopa, bromocriptina, rotigotina, carbidopa, lisurida, piribedil, benzerazida, pergolida, apomorfina, tolcapona, cabergolida, selegilina, entacapona, pramipexol, razagilina, ropinirol, lazabemida, biperideno, triexifenidil, prociclidina, benztropina, amantadina, primidona, betabloqueador, gabapentina, topiramato, nimodipina, clonazepam, clozapina). F - Ser brasileiro, filho e neto de brasileiros e não ter residido no exterior. ________________________________________________________________ G – Inexistência de um ou mais casos de DP na família do participante (DP, controles enfermos e saudáveis). 3.2. Critér ios de exc lusão A. Portadores de doenças cardíacas (disritmias, cardiomiopatias, insuficiência cardíaca, doença coronariana) e hipertensão arterial sistêmica. B. Transplantados. C. Portadores de diabete melito, síndrome metabólica, diabete “insipidus”, insuficiência adrenal, anemia aguda, anemia crônica (Hematócrito < 30%), desidratação, gastrostomia, ileostomia, insuficiência renal, nefropatia perdedora de sal, insuficiência hepática, distúrbios do funcionamento da tireóide, alcoólicos, síndrome da imunodeficiência humana, vagotomia, transecção medular, mielite transversa, Guillain-Barrè, doença de Chagas, síndrome da taquicardia postural-POTS, síncope e disautonomias hereditárias e congênitas, verificados pela história, exames clínicos e/ou exames complementares. D. Pacientes que estivessem nos últimos 45 dias que antecedem a realização da cintilografia, ou por ocasião da mesma, utilizando fármacos da classe dos antidepressivos, reserpina, e guanetidina, fenilefrina, pseudoepinefrina, fenilpropanolamina, antipsicóticos, bloqueadores de canal de cálcio (exceto os di-hidropiridínicos), clonidina, alfa-metil-dopa, minoxidina (moxonidina), reserpina, barbitúricos, anestésicos, betanidina, alfabloqueadores, anfetamina, liberadores de adrenalina (tiramina), estimulantes de receptores betadrenérgicos, antiarrítmicos, anticolinérgicos, ________________________________________________________________ toxina botulínica, mimetizadores colinérgicos (carbacol, betanecol, pilocarpina, anticolinesterásicos), inibidores da angiotensina; E. História de exposição ambiental, ou ocupacional, ao tálio, chumbo, arsênico, mercúrio, carbamato, organofosforado e a outros pesticidas ou passado de intoxicação por monóxido de carbono que tenha requerido cuidados médicos. F. Pacientes em síndrome de abstinência ao álcool, à clonidina e aos opiáceos. G. Pacientes manifestando demência relacionada à DP114, outros tipos de demência e/ou psicose e/ou alucinações e/ou distúrbio mnéstico verificado no Mini Exame do Estado Mental 115. H. Pessoas com história patológica pregressa de claustrofobia. I. Pessoas que discordaram do termo de consentimento. J. Gravidez e lactação. K. Pacientes com tumores malignos e/ou síndromes paraneoplásicas. L. Existência de sonolência excessiva diurna e/ou roncos noturnos. M. Pacientes com critérios diagnósticos (consenso brasileiro) de Síndrome das Pernas Inquietas116 N. Pacientes em uso atual, ou prévio, de medicações quimioterápicas. O. Surgimento, por parte do enfermo, de seus familiares, ou acompanhantes de solicitação de remuneração, favorecimento, enfim, de ________________________________________________________________ qualquer exigência interpretada pelo autor como pagamento devido à sua participação no estudo. P. Ocorrência de alterações, única ou várias, dos exames complementares prévios à realização da cintilografia (glicemia, glicemia 2h após o uso de 75g de glicose, alanina amino transferase, aspartato amino transferase, fosfatase alcalínica, e gama glutamil transferase, ceruloplasmina, uréia e creatinina, hematócrito, T4 livre, TSH, Na + sérico, VHS, elisa para HIV, ecocardiograma colorido transtorácico bidimensional com doppler, holter (24h) e monitorização ambulatorial da pressão arterial (MAPA-24h), radiografia do tórax (alterações mediastinais), ressonância nuclear magnética encefálica de 1,5 tesla, exceto nos participantes com PSP e AMS, ultrassonografia abdominal total e titulação sanguínea da gonadotrofina coriônica humana (no caso de surgimento recentemente de amenorréia). Q. Candidatos à participação que não reuniam condições de deslocamento, por meios próprios, para os serviços de medicina nuclear dos hospitais PROCARDÍACO, Barra D’Or ou Clínica Vilella Pedras. R. Ocorrência no SPECT da 123 I MIBGc de imagem compatível com diminuição focal da captação. Redução difusa da captação ou ausência total da mesma não acarretou exclusão do elemento da amostra. S. Hipersensibilidade ao iodo. T. Pacientes com AMS e uma ou mais das três manifestações disautonômicas, urinária, intestinal e/ou disfunção eréctil, necessariamente vinculadas à doença e não a outro fator, não foram excluídos da amostra. A ocorrência dessa situação, implicava na interconsulta com especialista (urologista e gastroenterologista) e na utilização de exames ________________________________________________________________ complementares, tais como urodinâmica. Foram excluídos pacientes com AMS com outros tipos de disautonomias. 3.3 . Dados da histór ia e do exam e cl ínico s Houve direcionamento na realização da história clínica quanto aos itens de inclusão e exclusão. Da mesma forma, nossa anamnese conteve perguntas diretas (anexo 2) relacionadas a sintomas e sinais de disautonomia, em que todas as respostas, sem exceção, deveriam ser negativas pois, do contrário, excluía-se o candidato a participante. Os dois exames clínicos (realizados pelos dois neurologistas) e os resultados dos exames complementares solicitados (item Q dos critérios de exclusão) determinaram igualmente a inclusão ou, a exclusão dos elementos da amostra. Em todos os participantes, a pressão arterial (PA) foi avaliada inicialmente com a pessoa deitada e posteriormente em pé (após a permanência de 3 min. nessa nova posição) conforme o recomendado pelo consenso do comitê Sociedade Americana de Disautonomia e pela Academia Americana de Neurologia117. Caso houvesse queda na posição em pé, maior que 20 mmHg da PA sistólica, e/ou 10 mmHg na PA diastólica, o candidato a participante era considerado como tendo hipotensão ortostática e excluído da pesquisa. ________________________________________________________________ 3.4. Exame de medicina nuclear Em dois locais, as gama câmaras eram da marca Siemens, modelo E-Cam e o outro aparelho era o Millenium VG da General Eletric. Nos três serviços as máquinas eram providas de tomógrafo digital e colimador duplo de baixa energia e de alta resolução (cada fotótipo ajustado para 159 keV, ideal para a formação de imagem proveniente da energia emanada pelo 123 I). As imagens do SPECT, utilizadas na análise qualitativa e quantitativa da distribuição do 123 I MIBG no miocárdio, foram obtidas, pelos três serviços já mencionados, por intermédio de detectores posicionados a 900, com movimento giratório (1800 em torno do tórax do examinado) e, posteriormente, armazenadas em matriz 64 x 64 (em A e C se realizaram 60 projeções com o tempo de 30s / projeção e B 32 de 50s / projeção). Os três especialistas em medicina nuclear examinaram essas imagens de forma visual nos três eixos tomográficos (curto, longo vertical e longo horizontal) e por intermédio de mapas polares. Em todos os três locais, a análise quantitativa foi formada a partir da média de captação por pixel nas RI do mediastino e do coração (retangular no mediastino superior e circular, incluindo a cavidade, ventrículo esquerdo do coração, evitando-se a inclusão do fígado e dos pulmões). Obtiveram a rC/M pela divisão da média de contagem por pixel da RI cardíaca pela média de contagem por pixel da RI do mediastino, nos tempos de 20 min. (precoce) e 4h (tardio). Os três serviços utilizaram o mesmo software para a contagem dos pixels e formação de imagens. A única diferença na metodologia dos três serviços foi o cálculo da TCL. Em dois locais, doravante nomeados como local A, a TCl resultou dos cálculos provenientes de uma fórmula mais simples, corrigida posteriormente, valor fisiológico do descaimento radioativo do 123 I (constante 1,2). No terceiro ________________________________________________________________ serviço, a partir de agora chamado de local B, aplicou-se uma equação mais complexa, cujo conteúdo considera a meia vida do 123 I. As duas formas de cálculo da TCl a mais simples89 e a mais complexa90 foram descritas e ilustradas no capítulo “Revisão da Literatura” . Os índices de normalidade empregados pelos três serviços foram retirados da literatura, visto que nenhum dos três possuía casuística suficiente para a elaboração de níveis determinantes de valores normais. O local A considerou como anormais valores 1,8 na rC/M (precoce ou tardia) e ≥ que 28% de TCl, com a correção do decaimento radioativo. O local B estipulou para as rC/M o mesmo limite de A e determinou valores 27% de TCl como sendo normais. Os três serviços adquiriram o 123 IMIBG, no Instituto de Energia Nuclear da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Rio de Janeiro), ou no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (São Paulo). O radiofármaco possuía pureza radioquímica maior que 99% e ausência de iodo livre e de contaminantes. Da mesma forma, nos locais de exame, o preparo do paciente para o exame foi parecido. Local A solicitou o uso de 100mg de iodeto de potássio de 12/12h, nas 48h que precediam e sucediam o exame, ao passo que, no B, o período aumentou para 72h, antes e depois da cintilografia. Tal procedimento visou ao bloqueio e à proteção da tireóide. 4. Análise estatística dos resultados Todos os dados da amostra foram coletados no período de outubro ________________________________________________________________ de 2008 a setembro de 2009. Após a crítica interna e externa dos dados, os mesmos foram categorizados e tabulados de acordo com as variáveis clínicas do estudo, valendo-se de tabelas descritivas para a sua apresentação. Foi realizada por meio do Teste Qui-quadrado de Yates, de modo a resguardar a significância, a verificação da associação dos parâmetros objetivos dos grupos de estudo (Doença de Parkinson e Controle), com as seguintes variáveis: Gênero, Diagnóstico, Idade do início dos sintomas motores (IISM), Tempo de sintomatologia motora (TS), rC/M precoce, e rC/M tardia, TCl, Escala de Hoehn-Yahr e UPDRS. Todos os testes estatísticos foram realizados por meio do software SPSS 13.0 for Windows®. O nível de significância adotado a priori foi o de α= 0,05 (p<0,05, com margem de erro de 5%). ________________________________________________________________ R ESU LT AD OS Consideramos os três locais responsáveis pelos exames de cintilografia como um único, por utilizarem o mesmo tipo de metodologia, na obtenção e na avaliação de todas as variáveis, exceto quanto ao cálculo e os resultados da TCl. Nessa situação de exceção, formam considerados dois grupos (local A e local B), distinguidos pela forma com que calcularam a TCl e os resultados considerados como normais: 27% em um e 28% em outro. No que diz respeito aos resultados da TCl não exercem influência sobre a aquisição de dados necessários para definição de valores das rC/M e muito menos intervêm na análise do SPECT. Das 27 pessoas inicialmente selecionadas, quatro foram elididas entre a consulta neurológica e a realização da 123 I MIBGc pelos seguintes motivos: uma (controle saudável), devido ao início do uso de reboxetina, em decorrência de “depressão aguda por conflito familiar”; outra, com DP, por ter começado, através de orientação leiga, a utilização de levodopa; a terceira, também com DP, em virtude da verificação de glicemia igual a 156 mg/dl, duas horas após o consumo oral de 75g de glicose anidra (figura 7) e a quarta, igualmente manifestando DP, devido ao uso, nos cinco dias antecedentes à cintilografia, de loção capilar (tônico) contendo minoxiclina. ________________________________________________________________ Nessas quatro situações, verificamos desnervação na 123 I MIBGc. Três outras deixaram de ser avaliadas, em decorrência de extravio de dados. Os 20 participantes restantes constituíram o estudado. Esse conjunto reuniu 14 pacientes com DP e seis outros indivíduos rotulados como controles (um com PSP, um com TE, dois com AMS e dois saudáveis) (tabela 4). Na distribuição quanto ao gênero verificamos oito mulheres (sete com DP e uma com AMS) e 12 homens (sete com DP, um com PSP, um com TE, um com AMS e dois saudáveis). Sobre a idade do surgimento do quadro motor na DP, sete pacientes o manifestaram com mais de 60 anos e sete com 60 anos, ou menos (máximo = 73, mínimo = 55 anos) e entre os controles enfermos dois estavam com 60, ou menos anos, e dois com mais de 60 (máximo = 71, mínimo = 55 anos). Com relação ao tempo entre o surgimento das primeiras manifestações motoras na DP e a efetuação da 123 IMIBGc, seis pacientes com DP passaram a manifestá-las no período de 12 e 24 meses antes da realização da cintilografia, ao passo que 8 começaram a padecer desses distúrbios no intervalo de 25 a 36 meses (máximo = 36, mínimo = 12 anos). No subgrupo dos controles, um foi acometido 13 meses antes do exame e, em três, tal fato ocorreu entre 25 e 36 meses (máximo = 32, mínimo = 13 anos). No que diz respeito às formas clínicas das manifestações motoras da DP, em nove o tremor predominava (casos 3, 5, 6, 10, 11, 16, 17, 19, 20), em três o tipo rígido-acinético preponderava (casos 4,14,18) e em dois o padrão era misto (casos 1 e 8). ________________________________________________________________ Tabela 4. Características do grupo estudado com Local G Diagn. Caso 123 IMIBGc. IISM TS r C/M TCl anos meses p t % HY UPDRS I e II A 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 F M M M F F F M M M M M DP PSP DP DP DP DP AMS DP TE DP DP Saudável 55 71 68 73 61 62 63 64 55 61 56 58* 13 26 25 16 28 29 13 32 36 26 12 - 2,20 2,00 1,28 1,54 1,59 1,51 2,36 1,39 2,01 1,78 1,30 2,30 1,90 2,20 1,10 1,52 1,60 1,40 2,35 1,17 2,16 1,75 1,27 2,10 27 12 29 18 31 30 20 34 15 21 35 8 1 2 3 2 2 3 3 1 - 15 40 44 38 45 51 33 17 - M M M M F F F F AMS DP Saudável DP DP DP DP DP 60 70 59* 55 57 58 58 62 30 14 30 16 25 28 23 1,92 1,81 1,92 1,54 1,75 1,34 1,27 1,19 1,80 1,91 2,21 1,82 1,76 1,25 1,16 1,12 24 13 6 32 31 43 51 58 1 3 1 2 2 2 18 50 18 42 38 23 B 13 14 15 16 17 18 19 20 Legenda: G – gênero, F - feminino, M – masculino, Diagn. – diagnóstico, DP – doença de Parkinson, PSP – paralisia supranuclear progressiva, AMS – atrofia de múltiplos sistemas, TE – tremor essencial, * idade com a qual o participante saudável se submeteu à 123IMIBGc, IISM – idade do início dos sintomas motores, TS – tempo de sintomas motores transcorrido até a realização da 123IMIBGc, r C/M – razão coração/mediastino, p – precoce, t – tardio (valor normal > 1,8) , Tcl – taxa de clareamento (valor normal em A 28% e em B 27%), H-Y- Escala de Hoehn e Yahr, UPDRS – Escala unificada de avaliação da doença de Parkinson.Seções I, II e III 1. Comparação dos aspectos cintilográficos entre pacientes com doença de Parkinson e os controles Houve casos, cinco controles e dois DP, de normalidade em todos os itens avaliados através da 123 IMIBGc. Tais achados sugeriram anatomia e ________________________________________________________________ fisiologia cardíacas simpáticas normais (casos 1, 2, 7, 9, 12, 14 e 15). Neles, verificamos índices de rC/M precoce e tardia > 1,8 e TCl 27 % (local B), ou 28% (local A), além de captação cardíaca com intensidade normal e homogênea, observada durante a visualização das imagens do SPECT. Assim, foram condizentes com atividade adrenérgica cardíaca (tono simpático) (TCl) e inervação cardíaca (rC/M) normais. Nos 14 casos de DP, mas, em nenhum controle, notou-se a diminuição difusa da captação cardíaca no SPECT. Tal redução foi por vezes tão acentuada que impediu a formação de imagens tomográficas na topografia do miocárdio (casos 3, 11, 16 e 19). Em certas circunstâncias, houve, igualmente, dificuldade nas imagens planares de visualização do miocárdio. Em dois pacientes com DP (casos 1 e 14), observamos, do mesmo modo, a concomitância de alterações no SPECT (hipocaptação do radiofármaco) e a normalidade das rC/M e da TCl. Ao compararmos as rC/M precoce e tardia dos pacientes com DP às dos controles, notamos índices menores do que 1,8 em 14 participantes (12 casos de DP, 85,71% e 2 controles). Exclusivamente em pacientes com DP (11 enfermos), ambas as razões (precoce e tardia) estavam abaixo do valor normal (casos 3, 4, 5, 6, 8, 11, 16, 17, 18, 19 e 20). Em duas ocasiões, houve resultados anormais de somente um dos dois valores de rC/M: em uma a razão alterada foi a precoce (caso 16, DP) e na outra a tardia (caso 13 AMS) (figura 12). A anomalia da rC/M precoce, em pacientes com DP, e a normalidade desta razão, em participantes sem DP foi estatisticamente significativa (p<0,01, p = 0,003). Houve diferença estatística significativa (p<0,05, p = 0,024), sugerindo associação entre os níveis baixos de rC/M tardia e a DP. Nos controles houve correlação com valores normais de rC/M tardia. ________________________________________________________________ Figura 12. 123 IMIBGc: Valores da razão coração/mediastino, precoce e tardia, nos pacientes com doença de Parkinson (n=14) e nos controles (n=6) 3 Valores de r C/M 2,4 1,8 1,2 0,6 0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 Elem entos estudados (DP + Cn) rC/Mp (DP) rC/Mt (DP) rC/Mp (Cn) rC/Mt (Cn) rC/M – Razão coração/mediastino. p - precoce, t – tardio. DP – doença de Parkinson, Cn – controle. Valores normais do rC/M p ou t > 1,8. Em relação à TCl, observamos valores normais nos controles independentemente do método empregado. Ao considerarmos os valores definidos como normais em cada local (A e B), notamos que 71,43% dos pacientes com DP possuíam taxa alterada contra 28,57% daqueles com DP e TCl normal (figura 13). Não nos foi possível a comparação dos dois métodos, em virtude da amostra ser pequena e dos participantes não terem sido submetidos aos dois exames e devido à não aplicação das duas fórmulas em cada exame realizado (inviabilizado por problemas técnicos). A diferença entre os dois métodos reside apenas na forma de cálculo da TCl. A divisão em dois grupos acarretou a dispersão dos dados. Assim, não utilizamos instrumentos estáticos para avaliá-los. ________________________________________________________________ Figura 13. 123IMBGc: Valores da Taxa de Clareamento nos pacientes com DP (n=14) e controles (n=6) 63 A 56 B 49 valores da TCl (%) 42 35 28% 28 26 % 21 14 7 0 0 8 8 DP e 4 Cn TCl (DP) (A) 1 6 6 DP e 2 Cn participantes (DP + Cn) TCl (Cn) (A) TCl (DP) (B) TCl (Cn) (B) A e B – locais de realização da 123IMIBGc. TCl – taxa de clareamento. DP – doença de Parkinson. Cn – controles. Valores normais da TCl: 28% ( A+B) e 27% (C). 2. Comparação dos aspectos cintilográficos encontrados no grupo de pacientes com doença de Parkinson Nas associações entre as variáveis de estudo dentre os pacientes com DP, estudamos as relações entre as rC/M precoce e tardia e o gênero, a idade do início dos sintomas motores (IISM), o tempo de sintomatologia motora (TS), as formas clínicas e as pontuações nas escalas de Hoehn-Yahr e UPDRS. Quanto ao gênero, ambos se comportaram da mesma forma: em relação às rC/M, uma mulher e um homem obtiveram resultados normais e em seis mulheres e seis homens foram alterados. Em relação à IISM, verificamos valores normais em dois pacientes que adoeceram entre os 55 e os 59 anos de idade e um com 60, ou mais anos, e menores de 1,8, em cinco com menos de 60 (55 a 59), e seis com 60, ou mais. Portanto, os ________________________________________________________________ resultados nos dois grupos se equivaleram (rC/M precoce, p = 0,825; tardia, p = 0,124) . Sobre o TS, dos cinco que manifestavam a doença, entre 12 e 24 meses na época do exame, observamos valores iguais, ou maiores a 1,8 em dois, e menores de 1,8 em três (figura 14). Todos os nove, cujos sintomas motores haviam surgido entre 25 e 36 meses, possuíam razões inferiores a 1,8. Contudo, tais diferenças não foram estatisticamente significativas (na rC/M precoce p = 0,078 e tardia p = 0,124). Não conseguimos comparar as formas clínicas com os índices da cintilografia, tal o grau de dispersão dos dados.Na associação entre rC/M e pontuação na Hoehn-Yahr (figura 15), notamos serem normais os valores apenas de pacientes com pontuação de 1 (casos 1 e 14). Em um enfermo, com pontuação de 3 (caso 16) também houve normalidade, porém exclusivamente da razão tardia. Ocorreram resultados inferiores a 1,8 em todos os demais doentes. Verificamos serem mais frequentes as alterações das rC/M, à medida que a pontuação sobe (agravamento de doença), havendo valores patologicamente baixos em todos os pacientes com DP, nos estágios 2, ou 3 da Hoehn-Yahr. Além disso, observamos em nossa casuística ser possível a existência de ambas as rC/M, no estágio inicial da fase clínica motora (Hoehn-Yahr 1) da DP. Essas constatações tiveram significado estatístico, quando considerada a fase tardia da rC/M (precoce, p=0,054; tardia, p=0,036 p < 0,05, utilizando-se a margem de erro de 5%). Considerando-se a escala UPDRS, dos oito pacientes com pontuação inferior a 40, em dois notamos normalidade dos índices precoce e tardio das rC/M, ao passo que, em um dos seis enfermos com 40 ou mais pontos, houve valor normal da rC/M tardia. Todos os outros resultados foram inferiores a 1,8 (figura 16). Existiu maior concentração de exames anormais em doentes com pontuações maiores do UPDRS (doença mais grave). Da ________________________________________________________________ mesma forma, as únicas duas situações em que as rC/M superaram o valor de 1,8 aconteceram quando a pontuação se igualou, ou excedeu a marca dos 40. Entretanto, a tendência de vinculação entre a possibilidade de normalidade da rC/M e valores menores de UPDRS (doença menos grave) não teve significado estatístico (precoce, p = 0,255; tardia, p = 0,597, margem de erro 5%). Figura 14. 123IMIBGc : relação entre as razões coração/mediastino e tempo de surgimento das manifestações motoras nos pacientes com doença de Parkinson (n = 14). 2,4 valores das rC/M 1,8 1,2 0,6 0 1/1/00 3/1/00 ≥ 1 a ≤ 2 anos 5/1/00 7/1/00 dos sintomas 9/1/00 11/1/00 Tempo de surgimento motores 13/1/00 15/1/00 tem po de surgim ento dos sintom otores > 2 a ≤as3 m anos DP rC/Mp DP rC/Mt DP – doença de Parkinson, C – controle, r C/M – razão coração/mediastino, p – precoce, t – tardio. Valor normal da rC/M (p ou t) > 1,8. ________________________________________________________________ Figura 15. 123IMIBG: Variação das razões coração/mediastino nos pacientes com doença de Parkinson (n=14) em relação à pontuação da escala de HoehnYahr rC/Mp rC/Mt Normal Valores: normal, rC/Mp, rC/Mt 2,4 1,8 1,2 0,6 0 1 1 1 (n=4) 1 H-Y= 1 2 Pontuação 2 =na escala2de H-Y 2 H-Y 22(n=6) 2 3 3 H-Y3= 3 (n=4) 3 Pontuação na escala de Hoehn-Yahr rC/M – razão coração mediastino; p – precoce; t –tardio, DP – doença de Parkinson. Valor normal >1,8 Figura 16. 123IMIBG: Variação das razões coração/mediastino nos pacientes com doença de Parkinson (n=14) em relação à pontuação da escala unificada de avaliação da doença de Parkinson (UPDRS ) Valores: normal, rC/Mp, rC/Mt 2,4 1,8 1,2 0,6 0 15 17 18 18 23 33 38 38 40 42 44 45 50 51 Pontuação na escala do UPDRS rC/Mp rC/Mt Normal rC/M – razão coração mediastino; p – precoce; t –tardio, DP – doença de Parkinson. Valor normal >1,8 ________________________________________________________________ Houve dispersão de dados, devido à divisão dos pacientes com DP em dois grupos (locais A e B), levando ao prejuízo da análise da correlação entre a TCl e o gênero, a IISM, o TS, as formas clínicas e as pontuações nas escalas de Hoehn-Yahr e UPDRS. Não houve possibilidade de análise estatística, mas foram verificadas as seguintes particularidades, que passamos a descrever. Sempre com o predomínio de taxas aumentadas (anormais), houve similaridade em relação ao gênero, à IISM, às formas clínicas e à UPDRS. Todos os pacientes com pontuação dois na HoehnYahr tiveram TCl alterada, enquanto que nos demais estágios, tanto ocorreu normalidade, quanto anormalidade. Com relação ao TS, quanto menor o tempo (12 a 24 meses) mais frequentes são os índices normais de clareamento ( 28% em A e 27% em B) De seis pacientes com tempo menor de surgimento dos sintomas motores, três possuíam TCl normais. O contrário, porém, ocorreu com aqueles com mais tempo de manifestação motora (25 a 36 meses), uma vez que dos oito, sete estavam com TCl anormal (figura 16). ________________________________________________________________ Figura 16. 123IMIBG: Taxa de clareamento e tempo de surgimento do quadro motor em pacientes com doença de Parkinson (n=14) 56 A Taxa de Clareamento (%) B 42 A B 28 27 14 0 1 12 a 24 1 meses 1 1 2 25 a236 meses 2 2 Tempo de surgimento dos sintomas motores TCl – taxa de clareamento, A e B– Locais de realização da 123IMIBGc. Valores normais: ≤ 28% (A) e 27% (B). 3. Efeitos colaterais e indesejados Nenhum dos 20 participantes manifestou qualquer tipo de efeito colateral relacionado ao método. Quanto aos tipos de desconforto causados pelo exame, duas pessoas queixaram-se de frio (tolerável) e quatro, sendo duas já reclamantes do frio, manifestaram dor e desconforto decorrentes da punção venosa. DISCUSSÃO ________________________________________________________________ Da mesma forma como foi verificado na literatura13,20,21, o exame de nossa amostra pela 123IMIBGc apresentou segurança em sua realização. Todos os passos que empregamos na formação de nossa casuística objetivaram excluir fatores que, porventura, pudessem implicar confusão na interpretação dos resultados. Não observamos tal procedimento na maioria dos trabalhos, senão todos, por nós consultados. Assim sendo, apesar da prevalência dos vários tipos de DP genética serem incomuns, correspondendo, quando somados, a aproximadamente 5 a 10% de todos os casos de DP118, como forma de diminuir mais ainda a possibilidade de presença da forma hereditária em nosso grupo, limitamos a idade mínima de surgimento dos sintomas motores em 55 anos, uma vez que, a maioria dos casos de DP genética surge antes dos 50 anos de idade 6. Além do mais, precavemo-nos ao não incluir na amostra pacientes com casos semelhantes na família. Entretanto, tal estratégia, outrora realizada com maior frequência, não é de todo eficaz. Ocasionalmente, a DP hereditária simula a DP esporádica, devido à similitude dos quadros clínicos (motor e não motor) e da faixa etária do acometimento, bem como à ausência de história familial. Existem pacientes com DP de origem genética que manifestam as alterações motoras após os 55 anos. Outrossim, quando a penetrância da mutação é pequena, tal ocorrência pode resultar na verificação de somente um único indivíduo doente em uma família portadora da desordem genética. O melhor exemplo de simulação de caso esporádico de DP acontece na DP genética, decorrente de alguns tipos de mutação do gene LRRK 2, especialmente nos heterozigóticos para a mutação GLy2019Ser. Nesses, podem inexistir outros enfermos com DP na família, os sintomas surgirem apenas após os 55 anos e haver resultados alterados na 123 IMIBGc.99, 119. Contudo, um estudo multicêntrico recente, realizado na ________________________________________________________________ cidade do Rio de Janeiro, verificou a ocorrência dessa mutação em somente 1,95% dos pacientes com DP (dois casos dentre 23 com história familial de DP e um dentre 131 com DP esporádica) 120. Portanto, a probabilidade de um dos nossos 14 casos padecer de DP do tipo genético é remota. No nosso grupo de 20 participantes, não havia quem manifestasse clinicamente disautonomia (respostas negativas na anamnese dirigida e ausência de hipotensão ortostática). Optamos por não lançar mão de questionários, exceto das perguntas contidas em nossa anamnese e na escala UPDRS, bem como de exames complementares, salvo os mencionados no capítulo “Pacientes, materiais e métodos”, devido às seguintes questões: 1. as escalas globais (várias funções autonômicas), ou específicas (uma só função) existentes para avaliação de disautonomia, tais como: a Nonmotor symptoms assessment scale for PD (NMSS) e a Generic scale for dysphagia-related outcomes – SWAL-QOL não foram avaliadas em nossos idioma e cultura e/ou não são validadas, para o uso na DP, e/ou não conseguem ser reproduzidas e/ou não possuem alto grau de satisfação dentre os entrevistados (dificuldade no entendimento das perguntas e na elaboração das respostas, tempo longo de entrevista, além de outros problemas) e/ou não produzem resultados com qualquer importância clínica121; 2. exames complementares considerados padrão-ouro na investigação da disautonomia, como, por exemplo, o estudo da motilidade do cólon, através de técnicas especiais de colonoscopia, ou a cateterização coronariana, para a avaliação da circulação de NE, são técnicas dispendiosas, invasivas, dependem de profissionais muito especializados e experientes, por esse motivo, não disponíveis em todos os lugares. Outrossim, vários autores notaram haver uma sensibilidade muito maior da 123 IMIBGc quando comparada a outros métodos na verificação dos distúrbios ________________________________________________________________ da inervação cardíaca simpática pós-sináptica103,122. Soma-se ao exposto, o fato da aplicação de questionários e da realização de mais exames complementares promoverem problema ético grave, ao acarretarem encarecimento da investigação e atraso no início do tratamento dos participantes enfermos. Procuramos excluir a possibilidade de comorbidades relacionadas a disfunções autonômicas e, da mesma forma, elidimos candidatos a participantes que estivessem em uso de fármacos com ação direta, ou indireta sobre o SNA. Igualmente, em nenhum componente da nossa amostra houve alterações no Holter e no MAPA de 24h. Desse modo, observamos ser nossa metodologia mais rigorosa, quando comparada àquelas existentes na maioria dos trabalhos que antecederam o nosso, incluindo em tal afirmativa alguns publicados no corrente ano. Nesses, não foram incomuns o uso dentre os critérios de exclusão, de: imprecisão quanto ao emprego de termos genéricos, tais como: “sujeitos com desordens autonômicas”, ou, “utilizando medicações com atividade no sistema adrenérgico”, sem, no entanto, em ambas situações, nomeá-las; pouco impacto seletivo, extraindo do grupo estudado apenas participantes com doenças cardiológicas, ou em uso de determinados fármacos, não considerando outros fatores, como, por exemplo, a exposição a toxinas ambientais e ocupacionais, dentre outras práticas 22,96-98,101. A formação de amostras, como essas, com os problemas ora apontados, pode ter proporcionado resultados não confiáveis. Recentemente, foi realizado um estudo com a finalidade de se determinar a sensibilidade e a especificidade da 123 IMIBGc na DP, através do exame de 400 indivíduos (267 com DP e 133 controles) 123. O grande tamanho da ________________________________________________________________ casuística, o uso, por parte dos autores, da palavra acurácia e a publicação em revista internacional de alto impacto confeririam a esse trabalho um grande valor a ser referido sucessivamente. Entretanto, removeram-se, do grupo estudado, apenas os diabéticos descompensados, sendo mantidos os compensados e os portadores de intolerância à glicose (síndrome metabólica). Há alguns anos, são reconhecidos como causas de desenervação do miocárdio o diabete melito, mesmo em pacientes compensados bem como a síndrome metabólica. 91, 124-126 Desse modo, estabeleceram-se conclusões a partir de dados imprecisos, em que duas situações em potencial (DP e o diabete, ou a síndrome metabólica) poderiam acarretar anormalidades no exame de 123 IMIBGc127. Por esse motivo, determinamos entre os nossos critérios a não avaliação de pessoas com DP e diabete melito, ou síndrome metabólica, o que justificou a retirada de um dos participantes da amostra por nós estudada. Da mesma forma, notamos em muitas metodologias pesquisadas a exclusão, apenas, de usuários de antidepressivos tricíclicos ou do tipo inibidores da monoamino oxidase. Optamos por excluir todas as pessoas em uso de quaisquer antidepressivos, uma vez que, ao menos teoricamente, outros modelos dessa classe medicamentosa, senão todos, podem inibir, com maior ou menor intensidade, a recaptura da NE128 e, ao menos teoricamente, provocar alterações nos resultados da 123 IMIBGc. Retiramos da lista de participantes do estudo um controle, em virtude deste ter utilizado inibidor seletivo de NE (reboxetina) nos dias antecedentes ao exame de cintilografia. Desconhecemos se a desenervação miocárdica desse controle, verificada na cintilografia, originou-se da utilização do referido fármaco, ou em decorrência de outra condição, como, por exemplo, uma fase muito precoce da DP, ainda sem sintomas, conforme o discutido mais adiante. A reboxetina ________________________________________________________________ inibe a recaptação da adrenalina, mas não há descrição na literatura, especificamente, dessa medicação como causa de resultado anômalo na 123 IMIBGc. Finalmente, todos os artigos, ao menos os de nosso conhecimento, incluem em suas casuísticas pacientes com DP, utilizando drogas anti-parkinsonianas. Alguns trabalhos concluíram não haver, por parte dessas drogas, influência nos resultados alterados da 123 IMIBGc dos pacientes com DP38,81. Não obstante, a selegilina eleva os níveis séricos de NE123. Portanto, ao menos teoricamente, poderia provocar alterações na cintilografia. Em adição, até mesmo a levodopa, outrora implicada em processos citotóxicos129, foi posteriormente referida, de modo hipotético, como sendo uma droga neuroprotetora: interpretação realizada por Schapira e Obeso130, relativamente ao estudo de ELLDOPA (grupo de pacientes com DP tratados com Levodopa, mesmo após a sua retirada, persistiam por 14 dias com melhora clínica, ao contrário dos não tratados). Então, se por um lado existem autores que isentam a participação negativa dos antiparkinsonianos nos resultados da MIBG, por outro há a possibilidade desses mesmos fármacos diminuírem a incidência de alterações no exame, ao menos nas fases iniciais do tratamento. Não fizeram parte de nossa casuística pacientes com DP, ou controles, em uso (prévio, ou por ocasião da cintilografia) de droga antiparkinsoniana. Conforme o verificado em 28 de setembro do corrente ano, nos endereços eletrônicos http://www.ncbi.nlm.nih.gov/sites/entrez e http://bireme.br/php/index.php, foram publicados, nos últimos 15 anos, pouco mais de 120 artigos científicos, a maioria deles realizada na Ásia, relacionando a 123 IMIBGc com as sinucleinopatias, entre as quais a DP. Até o momento, não é de nosso conhecimento, a existência de estudos ________________________________________________________________ elaborados em nosso país, ou até mesmo na América Latina que considerem esse tema . Apesar de diferenças metodológicas, pesquisas sobre a 123 IMIBGc na DP concluíram haver diminuição dos valores das rC/M em pacientes com essa doença, o que corresponde à desenervação simpática funcional e anatômica do miocárdio103,106. De fato, verificamos em nosso estudo índices pequenos e anormais (<1,8) das rC/M em 85,71% dos pacientes (12 de 14) com DP ( p < 0,01, p = 0,002 na precoce e p = 0,006 na tardia). Nossos resultados apontam no sentido de ser verificável, pelo exame de 123 IMIBGc, a desenervação simpática cardíaca associada, exclusivamente, à DP, uma vez que os baixos índices das rC/M não podem ser creditados como resultado de outro fator (fármacos, ou comorbidades) diferente da doença. A desenervação observada nos pacientes com DP de nossa amostra, por meio da cintilografia, independe da existência de qualquer tipo de manifestação clínica de disautonomia. Provavelmente, informações sobre o a índice densidade da rC/M dos precoce receptores corresponde às pós-sinápticos (- adrenérgicos) e à integridade da terminação pré-sináptica (neurônio simpático). Já o valor da rC/M tardia se refere à função neural pré-sináptica que inclui liberação, captura e estocagem da NE84 . Notamos, dentre os pacientes com DP, incluindo os dois com resultados normais, a tendência de índices maiores de rC/M precoce (10 pacientes: 1,54 0,28 ) do que rC/M tardio (4 pacientes: 1,48 0,31). Diferentemente, nos controles houve equivalência dos valores encontrados (precoce: 2,12 0,19 e tardia: 2,20 0,12). Essa observação (a razão tardia diminui mais do que a precoce) parece estar relacionada à fase inicial da alteração simpática cardíaca, ________________________________________________________________ causada pela DP, em que, durante a progressão do processo patológico neuronal, a disfunção precede por algum tempo a destruição estrutural 97, embora em nossa amostra tal fato não tenha significado estatístico (p = 0,68). Foram normais os resultados das rC/M dos controles, exceto pelo valor limítrofe de 1,80 verificado na rC/M tardia do caso 13. Esse paciente manifestava a AMS na sua forma cerebelar. No outro participante com AMS, subtipo parkinsoniano, a 123 IMIBGc foi normal. observa resultados normais diante da A maioria dos autores 123 IMIBGc realizada em quase todos os pacientes com AMS, independentemente da gravidade da disautonomia e do subtipo dessa doença. Nas situações de exceção, nas quais se encontram diminuídos os valores das rC/M a redução desses índices acontece de modo pouco intenso. Portanto, para grande parte dos pesquisadores, ainda que excepcionalmente diminuídos, os valores das rC/M dos enfermos com AMS situam-se próximo aos níveis da normalidade, diferentemente do observado nos pacientes com DP 102,104,106 . Tais fenômenos parecem se correlacionar com os locais, no sistema nervoso periférico, em que há os depósitos de -sinucleína, as neurites e os corpúsculos de Lewy. Na DP estão localizados igualmente nas porções pré, pós e intra ganglionares da via simpática cardíaca, ao passo que na AMS esses depósitos intracelulares ficam circunscritos à parte pré-ganglionar103, 106 . Com relação aos dois controles sadios de nossa amostra, o resultado normal correspondeu ao observado em quase todas as publicações sobre 123 IMIBGc e DP. Entretanto, Morozumi e colaboradores 131 verificaram em uma série de 15 voluntários saudáveis, a ocorrência em dois deles de anormalidades captação miocárdica do 123 IMIBG e naTCl. Há de se ressaltar que a metodologia empregada por esses pesquisadores difere de várias ________________________________________________________________ outras. Do mesmo modo, não especificam os índices das rC/M e a forma de cálculo da TCl e são pouco esclarecedores sobre a composição do grupo por eles estudado. Notamos que a idade de início dos sintomas motores, nos pacientes da nossa amostra com DP, não exercia qualquer influência nas rC/M, ao passo que, quanto mais longo era o tempo de surgimento dos sintomas motores, maior era a frequência de valores anormais dessas razões, sem, entretanto, haver significado estatístico para esses resultados (em relação a rC/M precoce, p = 0,321 e a tardia, p = 0,778). Contudo, a observação clínica da relação temporal da doença com os valores das rC/M proporcionou outro achado importante: nos únicos pacientes com DP e índices normais de rC/M (casos 1 e 14), os sintomas motores surgiram 13 e 14 meses antes da realização da cintilografia. Há resultados controversos na literatura, sobre qual o momento da DP em que se iniciam as alterações da 123 IMIBGc 23,96,102 . É possível que a disautonomia simpática cardíaca na DP surja antes do quadro motor. Um estudo132 realizado em cadáveres humanos, utilizando imuno-histoquímica (anticorpos anti--sinucleína e antitirosina-hidroxilase) e pesquisa de neurite e corpúsculos de Lewy, corroborou a existência da desenervação simpática, em fases precoces da DP, incluindo os períodos iniciais de acometimento motor (estágio I da Hoehn-Yahr) e pré-motores (fases 1 e 2 de Braak). Um outro trabalho sugere que o surgimento dessa lesão cardíaca simpática aconteça antes mesmo do despovoamento celular do núcleo dorsal do vago 133. Goldestein e seus colaboradores103 publicaram um relato de caso, no qual um paciente, inicialmente avaliado para a possibilidade de feocromocitoma (a investigação se mostrou negativa), manifestou, quatro anos depois, bradicinesia e rigidez. Por ocasião da pesquisa do tumor neuroendócrino, verificou-se diminuição ________________________________________________________________ da captação pelo ventrículo esquerdo da 6-[18F] fluorodopamina (cintilografia miocárdica com PET, usada igualmente na avaliação da função simpática cardíaca), o que posteriormente se agravou, quando, anos mais tarde, com os sintomas motores da DP, novamente o exame foi realizado. Alguns artigos registram haver relação diretamente proporcional entre a intensidade da queda das rC/M e maior tempo de doença ou aumento nas pontuações das escalas de Hoehn-Yahr e UPDRS, com resultados das rC/M96,134. Mais recentemente (publicação on line de julho de 2009), Ishibashi e seus colaboradores98 verificaram a sensibilidade e a especificidade da 123 IMIBGc em 24 pacientes com diagnóstico clínico de DP e alterações nos exames de PET encefálico (11C- 2-carbometoxi-3-(4-fluorofenil)-tropano e 11 C- racloprida, chamada de “PET dopaminérgico”) e 15 controles. Da mesma forma que o observado em outros trabalhos, esses pesquisadores aplicam metodologia mais flexível, discriminando, tão somente, a exclusão de participantes com histórias atuais de uso de fármacos indutores de parkinsonismo, familiais de DP e patológicas pregressas de doenças cardiológicas. Concluíram ser a especificidade de 93,3% (em relação a ambas razões). Quanto à sensibilidade, houve variabilidade de 69,2 (Hoehn-Yahr, estágios 1 e 2) a 90,9% (Hoehn-Yahr, estágios 3 e 4) na rC/M precoce e 53,9% (Hoehn-Yahr, estágios 1 e 2) a 90,9% (Hoehn-Yahr, estágios 3 e 4) na rC/M tardia. Pelo tamanho de nossa amostra e o tipo de desenho do nosso estudo, não nos foi possível estabelecer percentuais de sensibilidade e/ou especificidade. Apesar de não verificarmos significado estatístico relativo à associação entre as razões C/M e o tempo de sintomatologia, ou a pontuação de Hoehn-Yahr, as duas ocasiões, nas quais valores normais de ambas rC/M incidiram sobre pacientes com DP, sucederam-se, quando esses enfermos se encontravam no estágio 1 da ________________________________________________________________ Hoehn-Yahr e padeciam, há pouco mais de um ano, do quadro motor. Quanto à pontuação do UPDRS, observamos um comportamento similar ao notado com a aplicação da escala de Hoehn-Yahr estando ele de acordo com uma parte da literatura por nós consultada23,134. Não houve, ainda assim, significado estatístico (precoce, p = 0,255; tardia, p = 0,597) para tanto. Maiores comentários sobre a TCl não são possíveis em virtude da divisão de nossa amostra em dois grupos avaliados, para esse fim, com metodologias distintas. Ao respeitarmos os índices determinados como normais de clareamento ( 28% em A e 27% em B), temos a impressão de que o comportamento dessa taxa é parecido com os das rC/M. Há dificuldades para a comparação desses resultados com aqueles observados na literatura, uma vez que, a maioria dos estudos sobre a DP, não considera essa taxa. Todavia, o que notamos em nossa amostra, corresponde ao verificado nos poucos trabalhos em que a TCl foi estudada102. Parece promissora nossa observação das anormalidades do SPECT, em todos os pacientes com DP e nenhum controle, e sugerimos discussão futura. Essa fase da 123 IMIBGc, especificamente na DP, não tem sido objeto de estudo dos pesquisadores no assunto. Por tudo o que foi exposto, comprovamos a nossa hipótese: a doença de Parkinson esporádica, em suas fases iniciais de manifestação motora e sem distúrbios autonômicos clinicamente perceptíveis, é capaz de promover em brasileiros alteração do exame de cintilografia do miocárdio com metaiodo-benzil-guanidina, marcada com iodo 123, verificada através de valores anormais dos seguintes resultados: razão coração/mediastino, taxa de clareamento e avaliação semiquantitativa do SPECT. ________________________________________________________________ CONSI DERAÇÕES FINAIS Constatamos por intermédio do presente estudo, a possibilidade de podermos visualizar, por método de imagem não invasivo, a atividade autonômica simpática cardíaca, motivo de nossa preocupação, como neurologistas, ainda mais no que tange a uma enfermidade degenerativa e prevalente. Por outro lado, sabemos que as doenças cardiológicas figuram entre as causas mais comuns de morte na DP. Curiosamente, apesar da associação amiúde verificada nos pacientes com DP, entre a desenervação cardíaca, por vezes interpretada como intensa no exame de 123 IMIBGc, e a utilização de fármacos ativos na via adrenérgica, as arritmias cardíacas não se destacam na rubrica dos certificados de óbitos 135-137. Os resultados, bem como as considerações feitas no presente trabalho, somadas a experiências futuras, inclusive em outras condições clínicas, irão nos permitir conhecer melhor a real interpretação desses achados dentro do contexto de casos de morte súbita. ________________________________________________________________ CONCLUSÕES 1. O exame de 123 IMIBGc encontra-se alterado em pacientes brasileiros com DP esporádica nas fases inicial ou intermediária de suas manifestações motoras e sem distúrbios autonômicos clinicamente definidos. Essa alteração indica a desenervação simpática que acomete esses enfermos. 2. Os resultados alterados originados pela 123 IMIBGc de maior significado foram a diminuição ou a ausência no ventrículo esquerdo da captação do radiofármaco 123 I verificado no SPECT de 100% dos pacientes com DP e a redução das razões coração/mediastino, cujo risco de ocorrência na doença foi de 85,71%, sugerindo a desenervação cardíaca associada à Doença de Parkinson. 3. Os resultados anormais da 123 IMIBGc ocorreram nos pacientes com DP e normais nos controles apontando para a desenervação simpática nos enfermos com DP e normalidade desse tipo de inervação nos controles. 4. Não houve associação entre os resultados da 123 IMIBGc realizados nos pacientes com DP e às variáveis: gênero, forma clínica, idade do início dos sintomas motores, tempo de surgimento das manifestações motoras e pontuações nas escalas de Hoehn Yahr e UPDRS. ________________________________________________________________ REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1.Barbosa MT, Caramelli P, Maia DP, et al. 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Identificação do Projeto de Pesquisa Título do Projeto: Cintilografia miocárdica com 123 I meta-iodo-benzil-guanidina (MIBG) em brasileiros portadores de Doença de Parkinson com e sem disautonomia clinicamente definida. Área do Conhecimento: Neurologia, Neurociências e Medicina Nuclear Curso: Doutorado em Neurologia Número de sujeitos no centro: 27 Número total de sujeitos: 27 Patrocinador da pesquisa: CAPES Instituição onde será realizado: Clínica privada (consultórios médicos) Nome dos pesquisadores e colaboradores: Marco Antonio Araujo Leite e Prof. Dr. Osvaldo José Moreira do Nascimento Nós estamos convidando o(a) Sr. (a) a participar do projeto de pesquisa acima identificado. O documento abaixo contém todas as informações necessárias sobre a pesquisa que estamos fazendo. Sua colaboração neste estudo será de muita importância para nós, mas se desistir, a qualquer momento, isso não causará nenhum prejuízo a você. 2. Identificação do Sujeito da Pesquisa Nome: Data de Nascimento: Nacionalidade: Estado Civil: Profissão: ________________________________________________________________ CPF/MF: RG: Endereço: Telefone: E-mail: 3. Identificação do Pesquisador Responsável Nome: Marco Antonio Araujo Leite Profissão: Médico No. do Registro no Conselho: 52.51944-0 Endereço: Tavares de Macedo, 95/902. Icaraí. Niterói. RJ. CEP:24221-215 Telefone: 021-2610-1933. E-mail: [email protected] Eu, sujeito da pesquisa, abaixo assinado(a), concordo de livre e espontânea vontade em participar como voluntário(a) do projeto de pesquisa acima identificado. Discuti com o pesquisador responsável sobre a minha decisão em participar e estou ciente que: 1. O objetivo desta pesquisa é avaliar o funcionamento do meu coração. Realizarei um exame em que será injetado um líquido chamado radiofármaco em uma veia de meu braço. O radiofármaco poderá ser captado pelos nervos do meu coração. Deitarei numa maca sobe uma espécie de arco, onde meu rosto e parte do meu tronco serão encobertos por uma espécie de arco que faz parte do aparelho. Assim, imagens do meu coração serão captadas por esse aparelho e posteriormente, o médico as avaliará. Determinará a existência ou ausência de problemas na inervação no meu coração. Como o exame utiliza uma pequena quantidade de material radioativo, no caso de eu ser mulher tenho a obrigação de informar ao pesquisador se encontro-me grávida ou amamentando. A realização desse exame em mulheres grávidas ou em período de amamentação pode causar sérios danos à criança. Da mesma forma, se o (a) Sr. (a) tem claustrofobia (medo de lugar fechado), não deve realizar o exame. Esse exame é empregado de modo rotineiro para avaliação de pessoas com problemas do coração. Os efeitos colaterais são muito raros e de curta duração. Eles são do tipo: gosto metálico, tonturas e calor no peito. Também coletado o seu sangue e a sua urina para verificar, por exemplo, se há problemas relacionados ao aumento de glicose. É necessária a realização de ecocardiograma (uma ultrassonografia do coração) e de holter cardíaco 24h (onde se colocarão eletrodos iguais ao do eletrocardiograma comum que se ligarão através de fios, não há risco de choque, com um aparelho, do tamanho de um pequeno rádio ou de um telefone celular antigo, que será fixado em sua cintura, por intermédio de um cinto). Esse exame pelo o que está escrito na literatura médica, pode ajudar na realização do seu diagnóstico. Entretanto, não há até o momento, nada escrito sobre qualquer benefício que ele possa trazer no seu tratamento. 2. Procedimento para coleta de dados - o exame inicial para obtenção das imagens do seu coração será realizado no Hospital Pró-cardíaco (Botafogo) ou na Clínica Vilela Pedras (Leblon) ou no Hospital Barra D’Or (Barra da Tijuca). Você será avaliado pelo Dr. Marco Antonio inicialmente e, caso não possua médico assistente, periodicamente. 3. Benefícios esperados – Somente o auxílio na realização do seu diagnóstico 4. Desconforto e risco esperado - Durante a realização do exame de medicina nuclear podem surgir boca com gosto metálico, tontura e calor no peito. O Holter e o ecocardiograma não provocam problemas. ________________________________________________________________ 5. A minha participação neste projeto tem como objetivo verificar se o resultado do exame em estudo é capaz de ajudar meu médico a realizar em mim o diagnóstico de Doença de Parkinson. 6. Tenho direito `a assistência e ao acompanhamento médico da minha doença. 7. Tenho a liberdade de desistir ou de interromper a colaboração nesta pesquisa no momento em que eu quiser sem a necessidade de qualquer explicação. 8. A minha desistência não causará nenhum prejuízo à minha saúde ou bem estar físico. Não virá interferir no meu tratamento. 9. Os resultados obtidos durante este estudo serão mantidos em sigilo, mas concordo que sejam divulgados em publicações científicas, desde que meus dados pessoais não sejam mencionados; 10. Poderei consultar o pesquisador responsável (acima identificado) , com endereço à R. Tavares de Macedo, 95/902. Icaraí. Niterói. RJ. E-mail: [email protected], sempre que entender necessário obter informações ou esclarecimentos sobre o projeto de pesquisa e minha participação no mesmo. 11. Tenho a garantia de tomar conhecimento, pessoalmente, do(s) resultado(s) parcial(is) e final(is) desta pesquisa. Declaro que obtive todas as informações necessárias e esclarecimento quanto às dúvidas por mim apresentadas e, por estar de acordo, assino o presente documento em duas vias de igual teor (conteúdo) e forma, ficando uma em minha posse. _____________( ), _____ de ____________ de ______. _________________________________ Pesquisador Responsável pelo Projeto Sujeito da pesquisa e/ou responsável ________________________________________________________________ ANEXO 2 FICHA de ACOMPANHAMENTO DATA : ____ / _____ / 2.00__ Município de residência: _________________________ DP e 123 IMIBGc – ANAMNESE DIRIGIDA DOENÇA DE PARKINSON CONTROLE Diagnóstico ____________________________ Pessoa Normal IDENTIFICAÇÃO Nome: Sexo: M F Ocupação (detalhar): D.Nasc.: _____/_____/______ Endereço (constar bairro, município, CEP): Tels (dois tels de contato): ASPECTOS RELACIONADOS À DISAUTONOMIA 1.Distúrbio da evacuação : Sim Não Qual?: Constipação Diarréia (Há quanto tempo? ____________) 2.Plenitude pós-prandial : Sim Não (Há quanto tempo? ____________) 3.Disf unção da ereção: Sim Não (Há quanto tempo? ____________) 4.Distúrbio da micção : Sim Não Qual?: Urgência Retenção Noctúria (Há quanto tempo? ____________) 5.”Secura”: Bucal f aríngea (pigarro/ rouquidão / tosse) Vaginal Outro____________ Há quanto tempo? ___________________) 6. Pré-Síncopes: Sim Não Síncopes: Sim Não Há quanto tempo? ____________ 7.Eczema seborreico : Sim Não (Há quanto tempo? ____________) 8. Suor (em comparação com os outros ou ao que era no passado): Excesso Sim Não ( Antes, tempo:_____ Junto, Após – Início motor). Local(is): ______________________ _____________Situações: _______________________ Diminuição Sim Não ( Antes, tempo:_____ Junto, Após – Início motor). Local(is):_______________________ _____________Situações:________________________ (Há quanto tempo? ____________) 9. Sensação de Frio Calor (quando os outros sentem o oposto ou o mesmo com muito menor intensidade) (Há quanto tempo? ____________) 10.Disf agia: Sim Não Tipo de alimento: ____________________________________________ 11. Sialorréia Sim Não Qual?: Saliva exterioriza-se pelo canto da boca Molha a f ronha Engasga ________________________________________________________________ Livros Grátis ( http://www.livrosgratis.com.br ) Milhares de Livros para Download: Baixar livros de Administração Baixar livros de Agronomia Baixar livros de Arquitetura Baixar livros de Artes Baixar livros de Astronomia Baixar livros de Biologia Geral Baixar livros de Ciência da Computação Baixar livros de Ciência da Informação Baixar livros de Ciência Política Baixar livros de Ciências da Saúde Baixar livros de Comunicação Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE Baixar livros de Defesa civil Baixar livros de Direito Baixar livros de Direitos humanos Baixar livros de Economia Baixar livros de Economia Doméstica Baixar livros de Educação Baixar livros de Educação - Trânsito Baixar livros de Educação Física Baixar livros de Engenharia Aeroespacial Baixar livros de Farmácia Baixar livros de Filosofia Baixar livros de Física Baixar livros de Geociências Baixar livros de Geografia Baixar livros de História Baixar livros de Línguas Baixar livros de Literatura Baixar livros de Literatura de Cordel Baixar livros de Literatura Infantil Baixar livros de Matemática Baixar livros de Medicina Baixar livros de Medicina Veterinária Baixar livros de Meio Ambiente Baixar livros de Meteorologia Baixar Monografias e TCC Baixar livros Multidisciplinar Baixar livros de Música Baixar livros de Psicologia Baixar livros de Química Baixar livros de Saúde Coletiva Baixar livros de Serviço Social Baixar livros de Sociologia Baixar livros de Teologia Baixar livros de Trabalho Baixar livros de Turismo