ArMA
AR‐sse em
m esscrittor(5 de marrço) Conto Ainda a m
manhã não havia nascido
o, já Anastáciia estava na praia ansiossa por iniciar o seu mar estava ccalmo, apesaar das ondass dançarem ao som do vvento, primeeiro dia de ttrabalho. O m
que ttocava ao de leve nas facces e nos cab
belos dourados da jovem peixeira. Ao longe,, na linha que separa o cééu do mar, aavistou um barco. À medidaa que o barcco se aproxim
mava, a curiiosidade de Anastácia au
umentava, p
pois já não p
passava algo assim tão lu
uxuoso, impo
onente e graandioso, naquelas águas,, há muito te
empo. A jovvem desconh
hecia a sua o
origem, no eentanto, na sua imaginação, ansiavaa pela chegada de um h
herói, que vieesse revoluccionar a men
ntalidade retrógrada e co
onservadora do seu paíss. Pelo contrrário, Anastáácia era um
ma jovem inovadora que defendia ideais como
o a liberdad
de de expreessão, a justiiça social e a democraciaa. Em plenaa primaveraa dos anos 60, o seu país vivia so
ob influênciia de um re
egime ditato
orial, fortem
mente hierarq
quizado e ceentralizado na figura de O
Oliveira Salazar. Este con
ntexto político privava A
Anastácia de ser uma joveem integralm
mente livre.
Enquanto
o a jovem iniiciava o seu dia de trabaalho árduo, ssurgiu ao lon
nge, no areall, uma figuraa enigmáticaa. Esta aproximou‐se cautelosamente
e da peixeira, saudando‐aa. Anastáciaa ficou intrrigada com o aspeto do individ
duo. Era um
m jovem alto e extreemamente elegante. Ao saudáá‐lo, esta rep
parou no seu
u tom de pe
ele bronzead
do, nos seus olhos verde
es que reflettiam o brilho
o do mar e n
no sorriso mais belo que
e algum dia aavistara. Envvergonhada ccom a sua p
presença, não
o conseguiu responder, dominada pelo nervosismo, ficando com as maççãs do rosto
o rosadas. O jovem apresentou
u‐se, dizend
do que tinh
ha por nom
me Godofred
do de Bulhão e, Anasttácia, enverggonhada, perguntou‐lhe:: ‐ De ondee vens? Esse barco pertence‐te? O jovem, sorrindo, respondeu‐lhee: No barco sou
u capitão da minha vida e nele sinto, juntamente
e com ‐ Sim, perrtence‐me. N
a imeensidão azul do mar que me envolve,, o pulsar da liberdade. D
De onde venho, não interessa; intereessa sim para onde o maar me leva. Anastáciaa sentiu crescer em si não só a vontade de saber mais e maiss sobre este jjovem capitãão, mas também de se d
deixar levar p
pelas ondas d
da liberdade. Tu
urmas
1103 1106 1206 1204 1101 Enquanto Anastácia se perdia nas suas emoções e sensações, ouviu‐se uma voz que mais parecia o troar dos céus em mar encapelado‐ era Zacarias Salmão, o seu patrão. Os seus olhos raiados de autoritarismo cravaram‐se nos de Anastácia, ainda embevecidos pela conversa ondulante com o jovem capitão. De repente, sentiu a realidade – aquele raio de liberdade não fazia parte do seu quotidiano; mais lhe parecia algo surreal. Por um lado, Godofredo representava tudo aquilo que ela ansiava e esperava, por outro, o senhor Salmão, que simbolizava o mundo de opressão em que vivia. Com os seus modos grosseiros e a linguagem rude e cara fechada, perguntou‐lhe: ‐Para onde vais? Tens trabalho para fazer? Se Aristides soubesse o que estás a fazer… Anastácia olhou nos olhos laranja e frios do senhor Salmão e, enquanto fitava esses olhos cruéis, lembrava‐se do seu marido, Aristides, o homem com quem foi forçada a casar e a viver na miséria emocional. ‐ Lamento, meu senhor, não era a minha intenção ser imprudente e irresponsável. Mais uma vez, a infeliz peixeira apercebeu‐se de que, com a atual ditadura, a sua esperança de uma vida e de um país com um regime livre e democrático desvanecia‐se nas ondas do mar azul esverdeado, as lágrimas de Portugal. Contudo, Godofredo do Bulhão continuava a despertar‐lhe uma chama nas profundezas da sua alma. Uns dias mais tarde, Anastácia e Godofredo encontraram‐se na praia, sempre receosos que Aristides desconfiasse. Apesar de nervosa, a presença do amado acalmava Anastácia. O sol brilhava e as gaivotas cortavam o céu azul, não havia uma única nuvem. Ela achava que nada poderia correr mal. Num momento de loucura, decidiram fugir num barco a remos. Preparam tudo para seguir viagem. Entretanto, a vizinha que sempre suspirara por Godofredo viu tudo o que acontecera e correu a avisar Aristides na esperança de conquistar o seu amor. Iam já em alto mar, quando avistam ao fundo Aristides, no seu barco a motor. Este cada vez mais se aproximava de Godofredo e de Anastácia com o objetivo de impedir esta fuga amorosa. Alcançando o barco, Aristides força Anastácia a seguir viagem com ele. Perante a situação, Godofredo encontrou forças no amor que sentia por Anastácia, remando contra a própria maré para resgatar a sua amada das mãos do vilão. A perseguição durou vários dias, até que Godofredo chegou à ilha onde Aristides tinha aprisionado a sua amada numa gruta de difícil acesso. Ao chegar à ilha, deparou‐se com diversas armadilhas e desafios preparados por Aristides. Decidido a encontrar a sua amada, pensando em todo o amor que sentia por ela, uniu forças para ultrapassar os obstáculos. Depois de muito andar, sem encontrar o caminho e a perder a esperança, deparou‐se com Popeye e a sua Olívia Palito numa casa na árvore a passar férias, comendo espinafres. 1201 1202 1203 1107 1108 Surpreendido, decidiu falar com eles e pedir‐lhes ajuda. Estes ofereceram‐lhe espinafres e Godofredo ganhou forças para encontrar a sua amada. Já com as forças restabelecidas, Godofredo sentiu‐se preparado para seguir a sua jornada em busca da sua amada quando, subitamente, ouviu: ‐Socorro!‐ exclamou uma voz que Godofredo pensava ser da sua Anastácia. Aflito, correu na direção da voz. Até que, no horizonte, avistou uma silhueta que lhe parecia ser Anastácia. Mas ao aproximar‐se, mesmo prestes a agarrar o seu amor, caiu num buraco profundo onde não via a luz do dia. Após vários momentos que lhe pareceram infinitos, Godofredo viu‐se tentado a desistir. Foi então que ouviu a voz de um velho amigo, o mar. Foi este acontecimento que o situou no espaço em que se encontrava. Como por magia, uma pequena onda veio até ele, matando‐lhe a sede e trazendo‐lhe umas algas que se encontravam ali perto no chão. Assim, Godofredo conseguiu trepar o buraco, chegando finalmente à tona. De seguida, Godofredo correu até à linha do mar onde encontrou uma garrafa com um pedido de ajuda de Anastácia, dizendo que Aristides a levou para a ilha Caimão. Godofredo, desesperado, começou a construir uma jangada com todos os auxílios que encontrou, lançando‐se de seguida ao mar. Foi então que já a meio do caminho, a sua jangada foi rodeada de tubarões. Perante o perigo, Godofredo, sentindo‐se assustado, tentou afugentar os tubarões. Contudo, não foi bem‐sucedido porque a sua frágil jangada, perante a violência do mar e o movimento ameaçador dos tubarões, estava a deteriorar‐se. Estava quase em estado de desespero e pânico, quando avistou um navio. Aliviado, pediu ajuda. Mais uma vez, a sorte não esteve do seu lado e o navio seguiu o seu rumo deixando‐o para trás. De novo desesperado, sentou‐se na jangada e, nesse momento, uma sereia emergiu da água. A sua beleza era singular, de pele suave e esbranquiçada. Godofredo apaixonou‐se de imediato pelo ser magnífico e esplendoroso que suscitava nele um sentimento de esperança e de saudade, visto que esta lhe lembrava a sua amada Anastácia. E movido por tal saudade, pediu ajuda à sereia para o guiar no imenso mar em que se encontrava. De repente, formou‐se uma violenta tempestade, a bela sereia despareceu e Godofredo foi arrastado para uma ilha deserta. Algo de bom o esperava… …mas a primeira sensação foi de medo e inquietação. Atónito, caminhou pelo areal, avistando um vulto. Aproximou‐se e reconheceu Anastácia. Dominado por um misto de felicidade e desespero, percebeu o seu estado de extrema fragilidade. Comovido, perguntou‐lhe: 1102 1104 1205 1207 ‐ Meu amor, há quanto tempo estás aqui? A jovem não conseguiu responder e caiu‐lhe nos braços. Sem saber o que fazer, esperaram um longo tempo até que avistaram um barco que se aproximava da praia. Desataram a correr em busca de auxílio, mas rapidamente percebem que a sorte não estava do seu lado. Aristides andava na praia de um lado para o outro. Ainda tentaram fugir, contudo o bandido apanhou‐os. Envolveram‐se numa luta de tal forma violenta que Godofredo conseguiu ferir gravemente o outro. Os jovens apaixonados, instintivamente, correram para o barco e partiram. Uma semana depois, o jornal “Público” publicou uma notícia com o título “ Há mar e mar, há ir e voltar”. FIM 1105 
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