A MODA COMO INSTITUIÇÃO SOCIAL
Renata Claudine Sasaki
1
Simone Karina Jorge Tavares
2
Ana Paula Machado Velho*
Resumo
Partindo de uma atividade realizada em sala de aula com base no livro O Império do
Efêmero: a moda e seu destino nas sociedades modernas, escrito por Gilles Lipovetsky, foi
possível desenvolver esse artigo. Lipovetsky (1989) defende que com o advento do prêt-àporter a moda se tornou uma Instituição social, ao alcance de todos. Ao mesmo tempo em
que proporciona liberdade de escolha, ela influencia nas decisões, nos gostos e nos
comportamentos das pessoas. Demonstrando, assim, que ela possui determinado poder. A
partir desse sistema, a sociedade passou a seguir uma lógica de consumo baseada no
capitalismo e no desejo insaciável de compra.
Palavras-chave: Moda, prêt-à-porter, Instituição, consumo.
Introdução
Partindo da visão de Lipovetsky (1989), o fenômeno moda nas sociedades
contemporâneas é estereotipado como universo de glamour, fetiche, futilidade e
superficialidade. Contudo, o que fica escondido nessa visão generalizada é o verdadeiro
conceito da moda que é uma das engrenagens que constituem as sociedades. A moda
interfere constantemente na vida das pessoas, seja nos seus relacionamentos, nas suas
atitudes, suas personalidades ou nos seus hábitos cotidianos, dessa forma sua função vai
muito além desse pensamento predefinido de moda-fútil.
A partir da constatação de que moda é uma Instituição social tão importante quanto o
papel exercido pela Igreja, pela Escola ou Estado e tomando como base Gilles Lipovetsky
(1989) e sua obra O Império do Efêmero: a moda e seu destino nas sociedades modernas,
pretende-se divulgar essa face desconhecida do fenômeno moda por meio da análise dos
fatos que a constituem, e sua função nas relações humanas.
* Acadêmica de graduação em Moda, Centro Universitário de Maringá; e-mail:
[email protected]
*Acadêmica de graduação em Moda, Centro Universitário de Maringá, e-mail:
[email protected].
* Orientação Ana Paula Machado Velho
A constituição da moda como instituição
A sociedade na década de 1960, segundo análise de Lipovetsky (1989), em termos
de moda, sofreu grandes transformações: a Alta Costura perde seu poder dando lugar ao
prêt–à-porter que reorganiza a sociedade de maneira mais democrática permitindo que as
classes tenham alcance a moda. O prêt-à-porter surge com o objetivo de produção industrial
atrelada a produtos de boa qualidade, acompanhando o ritmo acelerado de mudança das
tendências.
O Império do Efêmero enfatiza que uma das vertentes do prêt-à-porter é a
possibilidade de permitir que o ser humano expresse sua individualidade e personalidade
por meio da moda, que age como elemento promotor da liberdade de escolha, sendo essa
não somente a respeito da vestimenta, mas também de estilo de vida, atitudes e
comportamentos. Com a liberdade de estilos, surge então não somente uma única moda,
mas várias outras que podem coexistir e serem misturadas. Esse leque de possibilidades de
estilos contribui para o desenvolvimento do consumismo exacerbado, da obsolência de
produtos e de toda a formação do sistema moda baseado no efêmero.
Em função do capitalismo, Gilles Lipovetsky (1989) aponta para o fato de que o
sistema moda prima pelas transformações constantes que levam ao culto dos objetos,
transformando-os em fetiches que se inovam sem parecer inovar, pois as inovações são
mínimas. Um sistema obsolente que leva a sociedade ao consumismo sobre o pretexto de
que o novo é sempre melhor.
Seguindo a lógica do consumo capitalista, Lipovetsky (1989) conclui que a moda age
motivando o consumo, criando novas “necessidades”, desejos, produtos de luxo que até
então pertenciam ao universo dos mais abastados. Esse consumismo obriga o ser humano
a comprar de maneira irracional para que seja aceito socialmente, numa busca constante
pela satisfação de seus desejos, mas que nunca é adquirida e, assim, perpetua a um círculo
vicioso de constante troca que nunca satisfaz.
Gilles Lipovetsky (1989) é enfático ao defender que, mesmo a moda propiciando
essa liberdade de escolha e permitindo que o homem consiga formar suas opiniões e
comportamentos a partir dela, ela tem o poder sobre a sociedade, ditando modismos que
influenciam diretamente a mesma. A moda, então, se iguala às instituições que organizam a
sociedade.
E mais: a moda permite o convívio das pessoas, segundo O Império do Efêmero,
construindo o meio social a partir de suas regras, imposições quanto aos comportamentos e
quanto aos relacionamentos. Dessa forma, então, Lipovetsky (1989) defende a idéias que a
moda é um dos motores essenciais que regem a sociedade, sendo assim a sociedade não
seria a mesma sem ela. No entanto, o sistema da moda que impulsiona o consumismo, não
objetiva transformar o ser humano em marionete, mas sim libertá-lo, permitindo que este
constitua sua identidade a partir do que ela oferece e fornece, além de garantir a inserção
dele como parte do grupo social.
Considerações finais
Seguindo a proposta de Lipovetsky (1989), esse artigo enfoca que, com o prêt-àporter, a moda ganhou seu status de Instituição, ao mesmo tempo em que permitiu uma
liberdade de estilos e de individualidade, ela cede à lógica capitalista e institui o império do
efêmero.
Ao partirmos do ponto de vista de O Império do Efêmero, chegamos à conclusão de
que, com a sociedade tornando-se grande consumista, a moda se espalha para todos os
cantos. Ou seja, não somente está vinculada às roupas e seus artifícios, mas também está
presente nos comportamentos, no estilo de vida das pessoas, nos objetos.
A transformação da moda tornou-a mais democrática, atingiu todas as classes,
fazendo com que as mesmas passassem ao consumo compulsivo. As várias “modas”
existentes fazem parecer com que o homem tenha sua identidade própria, quando na
verdade ele segue um círculo consumista. Assim, Lipovetsky (1983, p. 275) sugere que a
moda consumada possui valores e comportamentos diversificados. Ela pode ter
disseminado padrões universais, mas isso não significa que tenha os uniformizado. Pelo
contrário, ela preza pelas tendências comportamentais e estilos de vida mais variados
possíveis.
Referências
LIPOVETSKY, Gilles. O Império do Efêmero: a moda e seu destino nas sociedades
modernas. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.
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