a
As estratégias de estudo adotadas por estudantes de
ensino superior para elaborar conceitos científicos.
Área de conhecimento: Psicologia
Apoio Financeiro: Unisul
Ingrid Agassi – Universidade do Sul de Santa Catarina - UNISUL*
Nádia Kienen – Universidade do Sul de Santa Catarina - UNISUL
Resultados
* Financiada pelo PUIC – Programa Unisul de Iniciação Científica – Curso de Psicologia – Campus Grande Florianópolis
ESTRATÉGIAS DE PRÉ-ESTUDO
100
Introdução
Produzir novos conhecimentos e transformar o conhecimento já existente tem sido capacidades
de atuar cada vez mais exigidas para que os futuros profissionais possam desenvolver uma
intervenção de qualidade. O desenvolvimento dessas capacidades requer que seja aprendida
ampla gama de comportamentos, que são caracterizados de acordo com a área de atuação de
cada profissional. Um psicólogo, por exemplo, para intervir sobre fenômenos psicológicos, precisa,
dentre outras coisas, caracterizar necessidades de intervenção e projetar uma intervenção, sendo
estes alguns exemplos de comportamentos que compõem a cadeia comportamental “intervir sobre
fenômenos psicológicos” (BOTOMÉ et al, 2003). Um dos comportamentos pré-requisito para que o
aluno aprenda a intervir sobre fenômenos psicológicos (ou qualquer outro tipo de fenômeno, de
qualquer área de atuação) é estudar. Embora seja pré-requisito, o comportamento de estudar é
composto por uma vasta cadeia comportamental que envolve vários outros comportamentos, mais
elementares, para que o estudo seja efetivo de modo a promover uma intervenção profissional de
qualidade (CORTEGOSO E BOTOMÉ, 2002; BOTOMÉ e KUBO, 2005; RODRIGUES, 2005;
SKINNER, 1972). É estudando que o aluno pode elaborar conceitos científicos, que embasam
uma intervenção profissional qualificada, pautada no conhecimento científico.
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
90
2ª Fase
14
1 0 0
5
1 0 0
Nunca
Raramente
17 15
11 11 12
5ª Fase
11
8ª Fase
2
Ás vezes
Quase
sempre
80
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
70
60
50
40
21
22
18
10
Geral
Caracterizar as principais estratégias de estudo adotadas pelos estudantes de ensino superior,
mais precisamente os pertencentes ao curso de Psicologia, para a elaboração de conceitos
científicos.
Específicos
1. Identificar quais são as principais estratégias de estudo adotadas pelos estudantes para a
elaboração de conceitos científicos.
2. Identificar os aspectos referentes às estratégias de estudo que podem auxiliar na elaboração de
conceitos científicos.
3. Identificar as principais facilidades e dificuldades dos estudantes na utilização de estratégias de
estudo, tendo em vista a elaboração de conceitos.
Metodologia
Sujeitos: um total de 84 alunos, sendo 29 de segundo, 34 de quinto e 21 de oitavo semestres,
dos turnos matutino e noturno do curso de graduação em Psicologia de uma universidade privada
da Região da Grande Florianópolis.
Procedimentos: Foi elaborado um questionário contendo 57 questões objetivas e uma questão
dissertativa para coletar os dados necessários à caracterização das principais estratégias de
estudo utilizadas pelos sujeitos investigados. As variáveis que fizeram parte do mesmo foram
selecionadas mediante a decomposição das principais estratégias de estudo, que foram
agrupadas em três grandes categorias: estratégias de pré-estudo (seis subcategorias, divididas
em 10 subcategorias, como “estabelecer objetivos de estudo), estratégias de estudo (três
subcategorias, divididas em seis subcategorias, como “adotar procedimentos de leitura) e
estratégias de pós-estudo (três subcategorias, como “identificar o grau de funcionalidade das
estratégias utilizadas no que se refere ao desempenho obtido na elaboração de conceitos
científícos”). Essa classificação foi realizada a partir de dados da literatura que examinam
aspectos referentes às estratégias de estudo (BORUCHOVITCH et al, 2006; Weinstein & Mayer,
1986, apud RIBEIRO, 2001; Zimmerman & Martinez-Pons 1990, apud RIBEIRO, 2001).
Os dados coletados foram tabulados e organizados de acordo com as variáveis referentes a cada
tipo de estratégia de estudo (de pré-estudo, estudo e pós-estudo) e conforme as fases dos
sujeitos pesquisados (segunda, quinta e oitava fases). Foram construídos gráficos para facilitar a
visualização dos dados. Os gráficos foram construídos a partir do tratamento percentual dos
dados, ainda separados pelas turmas pesquisadas e a partir dos conjuntos de variáveis
constituintes de cada subconjunto referente às estratégias de pré-estudo, de estudo e de pósestudo.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, L. S. Facilitar a aprendizagem: ajudar aos alunos a aprender e a pensar. In: Psicologia escolar e educacional. V. 6. Nº 2. Campinas, dez. 2002.
BORUCHOVITCH, E. Estratégias de aprendizagem e desempenho escolar: considerções para a prática educacional. In: Psicologia: Reflexão e Crítica. Vol.12. nº 2. Porto Alegre:
1999.
______; et al. A construção de uma escala de estratégias de aprendizagem para alunos do ensino fundamental. In: Psicologia: Teoria e Pesquisa. Vol. 22, nº 3, p. 297-304,
set./dez. 2006.
BOTOMÉ, Silvio Paulo et al. Processos comportamentais básicos como objetivos gerais, ou classes gerais de comportamentos, ou competências para a formação de
psicólogos. Painel apresentado no XII Encontro Anual da Associação Brasileira de Psicoterapia e Medicina Comportamental, Londrina, Paraná. 2003.
CONGRESSO GALAICO DE PSICOPEDAGOGIA, 8., 2005, Braga. Atas... Braga: Universidade do Minho, 2005.
CORTEGOSO, A. L.; BOTOMÉ, S. P. Comportamentos de agentes educativos como parte de contingências de ensino de comportamentos de estudar. In: Psicologia Ciência e
Profissão. Vol. 22, nº 1, 2002, p. 50-65.
KUBO, O. M ; BOTOMÉ, S. P. A transformação do conhecimento em comportamentos profissionais na formação do psicólogo: as possibilidades nas diretrizes curriculares. In:
BRANDÃO, M. Z. et al (org.). Sobre comportamento e cognição: a história e os avanços, a seleção por conseqüência em ação. 1ª ed. Vol. 11. Santo André, SP: ESETec Editores
Associados, 2003, p. 483-496. RIBEIRO, C. Estratágias de estudo e aprendizagem: um contributo para a sua compreensão. In: Mathésis, 2001, p. 235-258.
RIBEIRO, Célia. Metacognição: um apoio ao processo de aprendizagem. Psicologia: Reflexão e Crítica. V. 16, n. 1, 2003, p. 109-116. RODRIGUES, M. E. Estudar: Como
Ensinar? In: GUILHARDI, H. J. & AGUIRRE, R. C. (Orgs). Sobre Comportamento e Cognição: Expondo a variabilidade. Vol. 15. Santo André, SP: ESETEC e Ed. Associados,
2005. p. 416-427.
SERAFINI, M. T. Do ponto de vista do estudante: as técnicas de estudo. In: Saber estudar e aprender. 2ª ed. Lisboa: Editorial Presença, 1996, p. 15-105.
SILVA, A. L. & SÁ, I. Saber estudar e estudar para saber. 2ª ed. Portugal: Porto Editora, 1997.
SKINNER, B. F. Tecnologia do Ensino. Tradução de Rodolpho Azzi. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1972.
______. Autocontrole. In: Ciência e comportamento humano. São Paulo: Martins Fontes, 2000, p. 251-264.
VASCONCELOS, R. M; ALMEIDA, L. S.; MONTEIRO, S. C. Métodos de estudo em alunos do primeiro ano da universidade. In: Psicologia escolar e educacional. Vol. 9, nº 2,
Campinas, dez. 2005.
WACHELKE, J. F. R.; BOTOMÉ, S. P. Comportamentos de estudo realizados por estudantes para preparar-se para provas de desempenho acadêmico. In: Interação em
Psicologia. V. 9, n. 1, p. 143-153, jul./dez.2005.
7
2
1
30
5ª Fase
20
8ª Fase
10
0
2ª Fase
21
14
Sempre
Freqüência com que define objetivos de estudo
10 11
5ª Fase
8
5
1
9
5
1
7
8ª Fase
7
0
1
0
0
Identifica
estratégias de
estudo antes
de iniciá-lo
Separa o material e o
Separa o material e
Não separa o material
deixa a seu alcance pega a medida em que
antes de iniciar o
antes de iniciar o
precisa, durante o
estudo
estudo
estudo
Administração do material de estudo
Registra as
Identifica
estratégias de estratégias de
estudo
estudo ao
identificadas
mesmo tempo
antes de iniciá- em que estuda
lo
Estuda sem
identificar
estratégias
Outros
Administração das estratégias de estudo
Figura 1. Distribuição da porcentagem de ocorrências da freqüência do comportamento de definir objetivos de estudo, das formas de administrar o material de estudo e das
formas de administrar as estratégias de estudo, referente às respostas de alunos de segundo, quinto e oitavo semestres do curso de Psicologia
ESTRATÉGIAS DE ESTUDO
100
90
100
80
90
70
80
60
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
70
50
60
2ª Fase
40
30
20
11
13
9
8
13
11
18
5ª Fase
14
8ª Fase
2
10
1
0
0
0
50
2ª Fase
40
5ª Fase
30
8ª Fase
20
Primeiro títulos e O texto todo de uma
subtítulos, depois o
única vez
texto completo
Em partes,
passando para a
parte seguinte
depois de haver
compreendido a
anterior
Outros
9
11
10
6
11 10
6
9 8
6
8 8 6
0 2 0
23 23
Relacionando
informações
sobre um
mesmo
assunto
1 0 0
Sublinhando
Destacando
com marcatexto
Elaborando
tópicos
Registrando
dúvidas
Outros
2ª Fase
15
0
Formas de fazer a leitura de textos
Objetivos
18
2ª Fase
Em branco
10 13
6
Relacionado
informações
sobre
diferentes
assuntos de
uma mesma
disciplina
2
2
3
Relacionando
informações
sobre
diferentes
assuntos de
disciplinas
distintas
0
2
5ª Fase
0
Não elabora
esquemas
1
0
0
8ª Fase
Outros
Maneiras de elaborar esquemas
Maneiras de registrar informações enquanto lê
Figura 2. Distribuição da porcentagem de ocorrências das formas de ler os textos das disciplinas,das formas de registrar informações enquanto lë e das maneiras de elaborar
esquemas, referidas pelos alunos de segundo, quinto e oitavo semestres do curso de Psicologia.
ESTRATÉGIAS DE PÓS-ESTUDO
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
21
15 18
11
8
0 0
Nunca
0 1 0
Raramente
4
25
19 19
7 8 5
2
Ás vezes
Quase
sempre
Sempre
Freqüência com que a eficiência do estudo é percebida
8 8
7 7 5
1
Ás vezes
2ª Fase
Quase
sempre
Sempre
Freqüência da eficiência das
estratégias de estudo utilizadas
5ª Fase
8ª Fase
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
100
90
80
70
60
2ª Fase
15
11 11
1 3 1
10
14
5
11 11
6
1 0 0
50
2ª Fase
40
5ª Fase
30
8ª Fase
20
10
16
5ª Fase
21
12
7
8
11
5
8ª Fase
8
7
1
0
1
2
1
1
0
Notas
Apenas o
conhecimento
Conhecimento
e notas
Facilidade em
compreender
as informações
estudadas
Outros
Variáveis consideradas para avaliar a eficiência das estratégias de estudo
utilizadas em relação ao desempenho acadêmico
Identificando Testando novas Pedindo auxílio
problemas das estratégias, até
a alguém
atuais
que alguma
estratégias
funcione
Outros
Em branco
Formas de criar novas estratégias de estudo
Figura 3. Distribuição da porcentagem de ocorrências da freqüência com que os sujeitos afirmam perceber a eficiência de seu estudo,da freqüência da eficiência das
estratégias de estudo utilizadas, das variáveis consideradas para avaliar a eficiência das estratégias de estudo utilizadas em relação ao desempenho acadêmico e das formas
de criar novas estratégias de estudo, referidas poralunos de segundo, quinto e oitavo semestres do curso de Psicologia.
No 1º gráfico da Figura 1 é possível observar que 77% dos sujeitos afirmam quase sempre ou sempre definir
objetivos de estudo; no 2º gráfico observa-se que 61% informam administrar seu material de estudo
separando-o e deixando-o a seu alcance antes de iniciar o estudo; no 3º gráfico da mesma figura é possível
observar que 69% relatam administrar as estratégias de estudo utilizadas, de modo que 35% afirmam
identificá-las antes de iniciar o estudo e 34% alegam identificá-las ao mesmo tempo em que estudam.
No 1º gráfico da Figura 2 é possível perceber que 45% dos sujeitos relatam ler os textos indicados nas
disciplinas separando-o em partes; no 2º gráfico observa-se que 53% afirmam registrar as informações
estudadas sublinhando-as, ao passo que apenas 21% informam elaborar tópicos; no 3º gráfico nota-se que
61% afirmam elaborar esquemas relacionando informações sobre um mesmo“conteúdo “de uma mesma
disciplina, 29% relacionam diferentes“conteúdos”e somente 7% relacionam“conteúdos”de diferentes
disciplinas.
Na porção esquerda do 1º gráfico da Figura 3 é possível observar que 74% dos sujeitos informam quase
sempre ou sempre perceber a eficiência das estratégias de estudo utilizadas, ao passo que na porção direita
do mesmo gráfico pode-se visualizar que 82% relatam que as estratégias de estudo sempre são eficientes.
No 2º gráfico da mesma figura, observa-se que 37% afirmam que levam em consideração o conhecimento
elaborado para avaliar a eficiência das estratégias utilizadas e 29% informam levar em consideração as
notas, além do conhecimento. No 3º gráfico é possível perceber que 49% dos sujeitos relatam criar novas
estratégias de estudo identificando problemas nas estratégias utilizadas anteriormente.
Conclusões
• Alunos necessitam aprender novas formas de estudar desenvolvendo melhor as estratégias de pré-estudo e
de pós-estudo, já que o comportamento de estudar não se resume ao uso de estratégias de estudo
propriamente ditas.
•Administrar o tempo disponível para estudar e avaliar a eficiência das estratégias utilizadas possibilita aos
estudantes utilizar as estratégias de estudo de forma mais adequada a sua realidade. A funcionalidade das
estratégias está justamente na combinação das estratégias de pré-estudo, de estudo e de pós-estudo, as quais
isoladamente são ineficientes e deixam lacunas neste processo fundamental de aprendizagem. Regulando a
aprendizagem por meio de comportamentos como planejar, organizar e avaliar, os sujeitos compreendem a
finalidade da execução de uma tarefa (FLAVELL & WELLMAN, 1977, apud RIBEIRO, 2003).
•Parece que as estratégias de estudo também precisam ser desenvolvidas, já que grande parte dos sujeitos
(61%) afirma elaborar esquemas apenas relacionando informações sobre um mesmo assunto, enquanto que
apenas 7% informam utilizar a mesma estratégia de forma a relacionar informações de diferentes assuntos de
disciplinas distintas.
•Os maiores índices de utilização de estratégias de pré-estudo, estudo e pós-estudo investigadas podem ser
visualizados nas turmas de 5º e 2º semestres, respectivamente, permanecendo as turmas de 8º semestre com
os menores índices. Este fato caracteriza um problema do ponto de vista da formação e atuação profissional,
uma vez que os sujeitos de 8º semestre estão mais próximos de concluir sua graduação e ingressar no
mercado de trabalho (e talvez estejam “desaprendendo” a estudar).
• Quanto às situações em que os sujeitos informam desenvolver as estratégias investigadas, é possível
perceber que a maioria as desenvolve em situações que envolvem avaliações, o que parece indicar que os
sujeitos são controlados por avaliações ou para evitar o contato com estímulos aversivos, como notas baixas e
reprovação (SKINNER, 1972). Qual o tipo de atuação profissional que esses futuros profissionais estarão
exercendo se não estudam em outros tipos de situações? Dados dessa natureza poderiam auxiliar a
caracterizar melhor o comportamento de estudar, assim como fornecer subsídios para aperfeiçoar esse
processo comportamental.
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