Manual de boas práticas para determinação da cortiça e descortiçamento com novas tecnologias Manual de boas práticas para determinação da cortiça e descortiçamento com novas tecnologias Autor: RAMÓN SANTIAGO instituto da cortiça, madeira e carvão vegetal - cicytex governo de estremadura Projecto SUBERVIN Transferência de Tecnologia e Melhoria de Competitividade do Setor Corticeiro SOE4/PI/E797 Para mais informação: CICYTEX – Instituto da Cortiça, Madeira e Carvão Vegetal Polígono Industrial El Prado, C/ Pamplona s/n - 06800 Mérida, Badajoz Telefone: +34 924 00 31 00 / Fax: +34 924 00 31 35 E-mail: [email protected] Sítio Web: http://cicytex.gobex.es A edição do presente manual é uma das ações de transferência de tecnologia e melhoria da competitividade na gestião do sobreiro, incluída no projeto SUBERVIN. O projeto conta com a participação do Instituto da Cortiça, Madeira e Carvão Vegetal do CICYTEX. Índice Introdução...................................................................................................................................... 5 Determinação da qualidade de cortiça com novas tecnologias.......................................................................................... 9 Boas práticas para descortiçamento com novas tecnologias......................................................................................23 Bibliografia e fontes consultadas....................................................30 3 Introdução As novas tecnologias estão a demorar a chegar ao campo no que diz respeito ao setor da cortiça. Os trabalhos de descortiçamento, que constituem a essência da prática da Subericultura, continuam a ser realizados como há mais de 200 anos, com a quase exclusiva ajuda do machado corticeiro, uma ferramenta cujo protótipo foi desenvolvido na idade dos metais, há mais de 5000 anos. A previsão da qualidade da cortiça tem vindo a ser realizada pela indústria corticeira desde há muito tempo, embora só recentemente (cerca de 3 décadas), se tenha começado a realizar de forma sistemática e estatística. Não obstante, em ambos os campos, nos últimos anos foram dados alguns passos para a aplicação de novas tecnologias. No caso do descortiçamento, no ano 1997, a empresa apresentou a primeira máquina de descortiçamento automático. Tratava-se de uma serra tico-tico, que, aproveitando a condutividade elétrica, realizava o corte da cortiça na árvore sem danificar o entrecasco. Este dispositivo dispunha de um sensor que era espetado no entrecasco e permitia estabelecer a condutividade elétrica com o elemento cortante O entrecasco é bom condutor de eletricidade, enquanto que a cortiça é um material isolante, deste modo, um pequeno computador permitia regular a 5 MANUAL DE BOAS PRÁTICAS PARA DETERMINAÇÃO DA CORTIÇA E DESCORTIÇAMENTO COM NOVAS TECNOLOGIAS profundidade do corte, mediante um patim mantendo sempre a profundidade do corte até às proximidades do entrecasco. Este dispositivo foi evoluindo, reduzindo o tamanho do computador e utilizando uma serra tico-tico robusta. Um jovem empresário realizou algumas melhorias a sua máquina de descortiçamento esteve a ser utilizada durante algum tempo na Andaluzia e Extremadura. A Outra empresa, baseando-se também na condutividade elétrica, adaptou uma das suas motosserras para o descortiçamento,. Era uma máquina robusta, com bom desempenho, rendimento e bons resultados, que no entanto só poderia ser utilizada aproximadamente até 2 metros de altura, porque tinham de ser necessariamente manipulada com ambas as mãos, o que impossibilita a sua utilização a partir de uma escada. Recentemente, a empresa extremenha apresentou um protótipo de máquina de descortiçamento, baseado em sensores capacitivos e implementado numa serra elétrica. Isto implica uma alteração radical, que permite eliminar o sensor de referência, elemento complicado que dificultava o uso das máquinas anteriores, especialmente nos sobreirais com muito mato. Todas estas máquinas realizam o corte da cortiça na árvore (fases de abrir e traçar), porém, para completar o processo de descortiçamento, é necessário desprender as pranchas da árvore (fases de bater, descolar e separar). Com este objetivo, o Instituto da Cortiça, Madeira e Carvão Vegetal, desenvolveu várias ferramentas manuais que permitem completar o descortiçamento iniciado por uma das máquinas anteriores, nomeadamente: Pinças corticeiras. São umas pinças compostas por duas linguetas planas na sua extremidade que se abrem quando os braços das pinças se fecham. Estas linguetas são introduzidas nos cortes previamente realizados pelas máquinas e permitem descolar as pranchas entre si. Ferramentas de descortiçamento. São ferramentas com forma de alavanca acabadas numa lingueta plana e dotadas de um cabo que permite descolar e separar as pranchas de cortiça, sem risco de corte para o tirador nem para a árvore por ter as bordas rombas (há 3 modelos, com diferentes funcionalidades que poderemos ver mais adiante). Escadas corticeiras. São escadas com uma pequena plataforma que permite que o tirador possa trabalhar com maior comodidade, separado da árvore; também um sistema de ancoragem que permite fixar a escada à árvore e trabalhar com mais segurança. Carregador telecomandado. É um protótipo de carregador florestal telecomandado, desenhado no IPROCOR com a ideia de substituir a tração animal nas tarefas de extração da cortiça. 6 Ramón Santiago Ferramentas de descortiçamento: longa, curta e percutora; e pinças corticeiras No que diz respeito à previsão da qualidade da cortiça, existe um dispositivo, que permite prever o calibre e a massa da cortiça na árvore. Com esta empresa idealizámos a possibilidade de medir os parâmetros principais que definem a qualidade da cortiça e que estão estreitamente ligados à sua porosidade e densidade com uma simples picada. 7 Determinação da qualidade da cortiça com novas tecnologias A qualidade da cortiça. Algumas considerações teóricas A cortiça é um material único com propriedades físicas, químicas, biológicas e organolépticas ímpares. A conjunção de todas elas converte-a num material insubstituível para vedar as garrafas de vinho. São especialmente importantes: -Leveza - Facilidade de manuseamento -Elasticidade - Contribuição organoléptica positiva para o vinho - Impermeabilidade alta - Baixo conteúdo em água - Elevado coeficiente de atrito - Material pouco deteriorável por via biológica As rolhas de cortiça são (geralmente) os produtos que mais valorizam o valor da cortiça. A aptidão para a rolhagem é, portanto, a base para estabelecer a qualidade da cortiça. Uma classificação resumida dos tipos de cortiça que podemos encontrar, depende da sua aptidão para a produção de rolhas, podendo ser 9 MANUAL DE BOAS PRÁTICAS PARA DETERMINAÇÃO DA CORTIÇA E DESCORTIÇAMENTO COM NOVAS TECNOLOGIAS Rolhas e garrafas de diferentes tipos observada no seguinte gráfico, com 5 classes de qualidade, e onde se pode verificar que existem dois parâmetros fundamentais que determinam a qualidade da cortiça: o calibre e a massa. O calibre de uma prancha de cortiça determina o diâmetro das rolhas que dela podem ser obtidas. As rolhas naturais da cortiça para vinhos maduros costumam possuir 24 mm de diâmetro. Para poder obter rolhas com este diâmetro é necessário um calibre de, no mínimo, 29,25 mm na prancha de origem para permitir assim uma folga de entrada suficiente para a goiva. A unidade de medida do calibre mais usual na indústria preparadora da cortiça é a linha, que equivale a 2,25 mm; 29,25 mm equivalem a 13 linhas, calibre mínimo para fazer rolhas naturais de 24 mm. No gráfico, os calibres estão indicados nas linhas. Se uma prancha tiver menos de 11 linhas, equivalentes a 24,75 mm, não se podem obter rolhas da mesma, mas sim discos ou anilhas se tiverem a massa adequada. Se uma prancha tiver menos de 8 linhas (18 mm), então deve ser destinada à trituração, para fazer granulado de cortiça. A massa é determinada por um conjunto de propriedades (cor, densidade, elasticidade, porosidade, presença ou ausência de alterações) que determinam a aptidão da cortiça para ser utilizada na industria de rolhas. Quanto melhor for a rolha obtida de um determinado tipo de cortiça, menor será o seu valor numa escala, onde, o 1, indica a cortiça com melhor massa. Assim, a qualidade vai decrescendo sucessivamente até ao valor 7 e o refugo, de onde não se podem obter rolhas de cortiça natural, sendo como tal, destinado a trituração. 10 Ramón Santiago Quadro de classificação resumida da cortiça em 5 classes, com indicação dos principais destinos na indústria A classe denominada “boa” ou “superior” é a mais apreciada pela indústria rolheira pois dela se obtêm as rolhas de cortiça natural, as mais valorizadas e melhor remuneradas pela indústria do vinho. A classe “delgada” também é bastante apreciada, pois dela podemos obter discos e anilhas para rolhas de champanhe e rolhas 1+1. Menos apreciada é a classe “grossa”, pois, apesar de se poderem obter deste tipo de cortiça rolhas naturais e com dimensões especiais, também implica uma maior percentagem de desperdício, pois só se pode obter uma fila de rolhas em cada rabanada. As rolhas colmatadas são obtidas da classe “delgadinha”. A classe menos valorizada é o “refugo”, do qual se pode obter granulado de cortiça com o qual se fabricam rolhas aglomeradas, topos das rolhas de champanhe e de rolhas 1+1, rolhas técnicas (aglomerados de cortiça tratada) e também outras manufaturas como parquet, isolantes, 11 MANUAL DE BOAS PRÁTICAS PARA DETERMINAÇÃO DA CORTIÇA E DESCORTIÇAMENTO COM NOVAS TECNOLOGIAS juntas de motores, calçado, artigos de decoração, isolamento de naves espaciais, etc. Numa primeira aproximação à qualidade de um carregamento de cortiça, será maior a sua qualidade quanto maior for a percentagem de cortiça das classes mais apreciadas (boa ou superior e delgada) e menor quanto maior for a percentagem de cortiça das classes menos apreciadas (refugo e 6ª classe). Normalmente, a indústria espanhola de 1ª transformação classifica a cortiça preparada em 9 classes dependendo do seu destino na indústria de 2ª transformação: Quadro de classificação da cortiça em 9 classes, a mais utilizada pela indústria preparadora espanhola Contrariamente a esta classificação de 9 classes, comparativamente com a anterior resumida de 5 classes, a cortiça boa e a cortiça de pior qualidade da classificação resumida subdividem-se cada uma em 3 classes de calibre. O destino da classe de calibre 11-13 são as rolhas de 21 mm de diâmetro, que normalmente são comercializadas como rolhas de champanhe. A classe de calibre 13-15, denominada “imperial”, é a que proporciona melhores rendimentos com perfuradoras manuais; a classe de calibre 15-19, denominada “meia marca”, é a que proporciona melhores rendimentos com perfuradoras automáticas. Cada uma destas 9 classes de cortiça preparada tem um preço dependendo do valor de mercado das manufaturas que dela irão ser 12 Ramón Santiago obtidas na indústria de 2ª transformação, de rolhas, de pisos, de isolantes, decorativos, etc. A classe com um preço mais alto é a classe 2 que possui uma gama de calibres de 15 a 19, e uma gama de massas de 1ª a 5ª; abreviando, costuma ser denominada 15-19, 5ª acima e ainda “meia marca”; dela podemos obter rolhas naturais de 24 mm. A classe com um preço mais baixo é a classe 9, que possui todos os calibres possíveis e massas que vão de 5ª no caso da cortiça delgada, a 7ª e refugo nos restantes casos. Denomina-se comummente de “refugo” e o seu destino é a trituração para fazer rolhas aglomeradas e outras produtos de cortiça aglomerada ou compósitos. Para poder estabelecer a qualidade da cortiça com precisão, o Instituto da Cortiça, Madeira e Carvão Vegetal do CICYTEX (IPROCOR nesse momento), desenvolveu um índice denominado “Q” no ano 1993, o qual faz uma clara referência à qualidade. Este índice calcula-se atribuindo a cada uma das classes Q1 a Q9 um valor dependendo do preço que esta classe teve no mercado da cortiça de San Vicente de Alcántara no ano 1993: Classe Q1 Q2 Q3 Q4 Q5 Q6 Q7 Q8 Q9 Valor 11 19,5 7 19 6,5 12,75 5 12 1,5 Dividimos o preço (em pesetas) de um quilo de cortiça da classe por 200, desta forma o valor ponderado pela percentagem de cada classe situa-se entre 19,5 e 1,5 como extremos teóricos, e 14 e 4 como extremos reais dos carregamentos de cortiça analisados tendo um carregamento com muito boa qualidade de cortiça valores de Q próximos a 10, que é uma valor normalmente atribuído em Espanha a uma muito boa qualificação. A fórmula de Q aparece descrita no seguinte gráfico: 13 MANUAL DE BOAS PRÁTICAS PARA DETERMINAÇÃO DA CORTIÇA E DESCORTIÇAMENTO COM NOVAS TECNOLOGIAS O índice Q de uma tirada de cortiça obtém-se multiplicando o valor atribuído a cada uma das 9 classes de cortiça pela quantidade, em percentagem, de cada uma das classe no carregamento. O índice Q permite fazer um tratamento estatístico da qualidade de cortiça. Pode-se, por exemplo, calcular a média da qualidade da cortiça de um determinado ano na Extremadura, a média de uma região ao longo de vários anos, a evolução da qualidade de cortiça da Extremadura ao longo do tempo. Evolução da qualidade de cortiça na Extremadura através do índice Q desde 1985 até 2014 Outra das possibilidades permitidas pelo índice Q é planear as amostragens da qualidade da cortiça. As amostragens permitem realizar uma previsão de uma determinada variável, medindo apenas uma pequena quantidade de indivíduos da amostra. Por exemplo, num sobreiral ou montado com 3000 sobreiros só é necessário prever a qualidade de 75 deles, não sendo necessário avaliar toda a cortiça destas 75 árvores: basta recolher uma amostra de cada um deles. Para planear a amostragem, aplica-se a teoria estatística de amostragens e mais concretamente a teoria de amostragem de populações infinitas. Devemos ter em conta que em média, num sobreiro, podem ser recolhidas cerca de 200 amostras de cortiça (dados médios da Extremadura); e nesse montado ou sobreiral de 3000 árvores existiriam 600 000 amostras, um número tão elevado que para efeitos práticos e para as fórmulas das amostragens considera-se infinito. Geralmente para prever o número de amostras necessário para ter uma previsão fiável de uma população, recorremos às fórmulas das amostragens aleatórias simples (a.a.s.): 14 Ramón Santiago n= t2 x S2 e2 sendo: n: o número de amostras a recolher numa população. t: t de Student, um número estatístico tabelado dependendo da variabilidade da população e o número de amostras que vão ser recolhidas (normalmente é necessário realizar alguma extrapolação). S: desvio-padrão, mede a variabilidade da população. e: erro máximo admissível. Aplicando esta fórmula e tendo em conta a variabilidade da qualidade da cortiça nos carregamentos de cortiça no campo, para uma probabilidade com grau de confiança de 90% (estaríamos certos de reduzir o erro em 9 de cada 10 amostragens) e possíveis erros admissíveis, seria necessário realizar os seguintes números de amostras: a.a.s. pf 90% Erro < 10% Erro < 12% Erro < 15% Q baixa S = 20 70 45 31 Q média S = 25 109 70 48 Q alta S = 30 157 100 70 Q muito alta S = 35 214 137 95 Normalmente nos inventários de qualidade da cortiça, entende-se como aceitável um erro inferior a 15%, motivo pelo qual iríamos para a terceira coluna, e em quase todos os casos seria suficiente extrair 75 amostras para nos podermos assegurar de que o erro que cometemos ao prever o índice Q é inferior a 15%. Só nos casos com uma grande variabilidade, seriam necessárias mais amostras para reduzir o erro; no entanto a dificuldade de recolher amostras no campo, faz com que seja aceite pela maioria dos organismos que realizam amostragens da qualidade de cortiça, que para um serviço de previsão da qualidade da cortiça no campo, 75 amostras são suficientes. Há que ter em conta que numa hora de trabalho uma equipa de campo recolhe cerca de 15 amostras de cortiça (além dos dados que se costumam recolher de cada árvore e do local em questão); tendo em conta o tempo de deslocação, período de almoço e preparação das amostras quando se chega ao laboratório, a jornada de campo tem uma duração de 10 horas com estas 75 amostras. 15 MANUAL DE BOAS PRÁTICAS PARA DETERMINAÇÃO DA CORTIÇA E DESCORTIÇAMENTO COM NOVAS TECNOLOGIAS Previsão da qualidade da cortiça com novas tecnologias Atualmente, só o dispositivo COVELESS permite realizar uma previsão da qualidade da cortiça no campo, de uma forma mais ou menos automatizada. Este dispositivo baseia o seu funcionamento em 2 princípios: 1. A condutividade elétrica para medir o calibre. A cortiça é um material praticamente isolante quando está seco; no entanto, o entrecasco do sobreiro é um bom condutor de eletricidade. Introduz-se um elétrodo de referência até ao entrecasco e, ao picar a agulha do dispositivo na cortiça, fecha-se o circuito quando este alcança o entrecasco. 2. A massa mede-se de uma maneira empírica, sabendo que quanto maior for a qualidade da cortiça mais homogéneo será o seu comportamento relativamente à resistência de penetração da agulha do dispositivo. O software do dispositivo permite analisar a qualidade de uma amostra e também de um conjunto de amostras utilizando o sistema de classificação da qualidade da cortiça da indústria espanhola e o índice Q do IPROCOR. O dispositivo COVELESS está concebido para ser utilizado na árvore, não em pilha, portanto o protocolo de amostragem ajusta-se ao estipulado pelo Instituto da Cortiça, Madeira e Carvão Vegetal CICYTEX para estes casos. Trabalhos de campo Há 2 alternativas para realizar uma amostragem da qualidade da cortiça na árvore. Geralmente e sempre que houver densidade suficiente de sobreiros (aproximadamente 20 árvores por hectare), efetua-se uma amostragem por parcelas. Se a densidade de sobreiros não for suficiente, ou se a densa vegetação impedir a implantação das parcelas, deve-se fazer uma amostragem por percurso aleatório. Amostragem por parcelas. Neste tipo de amostragem implantam-se 5 parcelas de raio variável no terreno, que incluem as 15 árvores mais próximas do centro de cada uma delas; no total faz-se uma amostragem de 75 árvores. Dá-se o paradoxo que seja qual for o tamanho da propriedade e a quantidade de cortiça produzida, esta quantidade de árvores amostradas permite-nos prever a qualidade de cortiça com um erro inferior a 15% em 90% das ocasiões;1 portanto a generalidade 16 Ramón Santiago Amostragem por parcelas de raio variável, cada uma com 15 árvore. de amostragens de qualidade de cortiça realizadas pelas instituições oficiais recolhem pelo menos 75 amostras.2 Amostragem por percurso aleatório. Neste tipo de amostragem realiza-se um percurso da zona onde se devem recolher as amostras e geralmente em intervalos regulares pré-estabelecidos, recolhem-se amostras das árvores que correspondam, até totalizar 75.3 Seja uma amostragem por percurso aleatório ou amostragem por parcelas, uma vez chegados ao sobreiro no qual se vai recolher a amostra, será necessário proceder de uma forma muito semelhante: 1. Escolher a zona dos sobreiros onde se vai prever a qualidade da cortiça. No caso de percurso aleatório, considera-se a face do tronco da árvore, situada a 1,30 m de altura do solo, que se observa ao chegar à parcela; no caso da amostragem por parcelas, considera-se a face do tronco da árvore virada para o centro da parcela, também a 1,30 m de altura do solo. Gonzalez Montero, J. A., 2004. González-Adrados, J.R, J. L. García de Ceca, et al., 2000. 3 Gonzalez Montero, J. A., 2004. 1 2 17 MANUAL DE BOAS PRÁTICAS PARA DETERMINAÇÃO DA CORTIÇA E DESCORTIÇAMENTO COM NOVAS TECNOLOGIAS Amostragem por percurso aleatório 2. Pica-se com o elétrodo de referência numa gema para chegar bem ao entrecasco. Isto é importante para poder medir o calibre mediante a condutividade elétrica. 3. Realizar 5 picadas com o dispositivo COVELESS na zona escolhida, muito próximas entre elas, evitando grandes aberturas ou irregularidades evidentes. A velocidade de penetração do dispositivo deve ser constante, dentro de uns valores pré-estabelecidos para que os dados sejam corretos, caso contrario, aparece uma mensagem de erro e será necessário repetir a picada. 4. Guardam-se os dados recolhidos pelo dispositivo. 5. Podem ser recolhidos dados adicionais da árvore objeto da amostragem, fundamentalmente: a. Coordenadas geográficas: mediante dispositivo GPS. b. Dados biométricos: circunferência à altura do peito e à altura do descortiçamento como mínimo, na medida em que ambos os parâmetros nos irão permitir prever o peso da cortiça produzido em cada uma das árvores.4 c. Dados fitossanitários: danos devido a pragas e doenças. 4 18 Díaz Gallego & al., 2010. Ramón Santiago d. Dados de silvicultura: qualidade das podas e descortiçamentos. No caso de ser levada a cabo uma amostragem por parcelas, depois de se terem realizado amostragens nas 15 árvores da parcela, podem-se registar dados adicionais do povoamento: - Densidade (árvores/ha), área basal (m2/ha), altura dominante, tipo da regeneração, tipo de vegetação e outros. Depois de terem sido realizadas as amostragens das 75 árvores, podem-se recolher dados do conjunto da exploração: - Carga animal, avaliação do tipo de silvicultura praticada. Trabalhos de gabinete Os dados recolhidos no campo relativamente à qualidade da cortiça, podem ser transferidos do dispositivo COVELESS para um computador e mediante uma folha de cálculo específica, realizar um relatório sobre a qualidade da cortiça, onde se indicam as principais questões relativamente à qualidade da cortiça: percentagens de cortiça das diferentes classes, índice de qualidade Q e histograma de calibres. Exemplo de relatório de qualidade da cortiça do dispositivo COVELESS 19 MANUAL DE BOAS PRÁTICAS PARA DETERMINAÇÃO DA CORTIÇA E DESCORTIÇAMENTO COM NOVAS TECNOLOGIAS O relatório de qualidade da cortiça do Plano de amostragens do Instituto C.M.C. oferece mais informação, na medida em que o processamento das amostras no laboratório permite oferecer informação sobre as alterações da cortiça. Além disso a base de dados das amostragens do Instituto C.M.C. - CICYTEX permite comparar a qualidade de cada tirada com as qualidades médias da zona e da região: Exemplo de relatório de qualidade da cortiça do Instituto C.M.C. - CICYTEX 20 Ramón Santiago Exemplo de relatório silvícola do Instituto C.M.C. - CICYTEX. O conhecimento da qualidade da cortiça por parte do proprietário permite geralmente aceder a um mercado bastante fechado (a imensa maioria das transações são privadas) com melhores opções, pois se este tiver conhecimento dos preços médios da sua zona, sabendo onde se situa a qualidade do seu produto comparativamente à restante região, poderá estipular um preço de venda mais ajustado. Para um comprador de cortiça a oportunidade de visitar a Suberoteca do Instituto C.M.C.-CICYTEX, que é onde se armazenam as amostras de cortiça obtidas no campo, permite-lhe comprovar a qua21 MANUAL DE BOAS PRÁTICAS PARA DETERMINAÇÃO DA CORTIÇA E DESCORTIÇAMENTO COM NOVAS TECNOLOGIAS lidade de várias propiedades (todas as que se tenham amostrado até esse momento), possibilita dirigir a sua compra para o tipo de cortiça que é procurada e permite oferecer um preço de compra ajustado. O relatório de qualidade da cortiça pode ser preenchido com os dados silvícolas recolhidos no campo em forma de relatório, onde se podem resumir os valores chave da gestão do montado ou sobreiral amostrado e faz uma série de recomendações específicas para este sobreiral em áreas da gestão sustentável do mesmo. 22 Boas práticas de descortiçamento com novas tecnologias Introdução Neste momento, o descortiçamento com novas tecnologias está a passar por momentos críticos: depois de alguns anos com uma evolução muito rápida, onde apareceram até 3 máquinas que realizavam o corte da cortiça na árvore sem danificar o entrecasco, chegou-se a uma fase de estagnação, em que não se comercializam nenhum tipo de dispositivos destas características. Questões prévias ao descortiçamento com novas tecnologias Os trabalhos prévios ao processo de descortiçamento com novas tecnologias seriam os indicados a seguir: No inverno anterior ao descortiçamento será necessário preparar os acessos ao montado ou sobreiral, vias de extração e, se for necessário, realizar uma desmatação perto de cada um dos sobreiros que vão ser descortiçados. Estas tarefas não devem ser deixadas para última hora pois podemos ser surpreendidos com a recusa das li23 MANUAL DE BOAS PRÁTICAS PARA DETERMINAÇÃO DA CORTIÇA E DESCORTIÇAMENTO COM NOVAS TECNOLOGIAS Ensaio de descortiçamento cenças necessárias devido a ser época de criação para numerosos animais, muitos deles protegidos; além disso se o trabalho de desmatação tiver que ser efetuado pelos tiradores acabará por ser muito mais caro, pois estes não costumam dispor dos meios adequados. Em segundo lugar, o proprietário deveria de dispo de um relatório sobre a qualidade da sua tirada de cortiça, pois no momento da comercialização e do planeamento dos trabalhos é bastante recomendável. O seguinte passo seria planear e organizar os trabalhos de descortiçamento, dependendo da quantidade de cortiça da tirada, da zona geográfica de localização do sobreiral ou montado, do relevo da propriedade; estas variáveis vão permitir determinar a época ideal para realizar o descortiçamento e as necessidades de pessoal. As novas tecnologias permitem-nos realizar as operações de abrir e traçar desde o principio da primavera, razão pela qual os trabalhos de descortiçamento propriamente ditos podem ser concentrados quando a cortiça “cresça” em ótimas condições. Os trabalhos de preparação da árvore, juntamente com o trabalho de corte com as máquinas de descortiçamento podem chegar a representar 40% do tempo total de trabalho, motivo pelo qual o tempo de descortiçamento propriamente dito na época crítica pode ser reduzido a 60% com os mesmos trabalhadores. 24 Ramón Santiago Processo de descortiçamento com novas tecnologias Depois de os trabalhos de descortiçamento terem sido planeados e organizados, dá-se início à sua execução: Operações de abrir e traçar Estas operações consistem em realizar cortes na cortiça que no descortiçamento tradicional realizam-se com o machado corticeiro. Na operação de abrir, realizam-se cortes horizontais (pelo menos um à altura do peito, se for necessário) e em traçar cortes verticais. No descortiçamento com novas tecnologias, ambas as operações podem ser realizadas com a máquina. Para abrir e traçar em altura é necessário que se observem as medidas adequadas relacionadas com a saúde, higiene e segurança no trabalho. No descortiçamento tradicional, os tiradores sobem à árvore com umas escadas simples e, mais recentemente, também vão com um arnês. Se for necessário trabalhar em altura, pode-se usar a escada, que dispõe de uma plataforma que permite que o tirador trabalhe suficientemente afastado do tronco da árvore, além de dispor de uma faixa que fixa de maneira bem firme a parte superior das escadas ao tronco ou ramos da árvore, impedindo que esta possa cair. Na parte superior da árvore, faz-se um corte do perímetro que delimita a altura do descortiçamento; normalmente uns centímetros por cima do colo do descortiçamento anterior. Tempos relativos dos trabalhos de descortiçamento 25 MANUAL DE BOAS PRÁTICAS PARA DETERMINAÇÃO DA CORTIÇA E DESCORTIÇAMENTO COM NOVAS TECNOLOGIAS Por outro lado pode-se fazer um corte opcional ao nível do solo, delimitando o perímetro do tronco, para facilitar a extração das pranchas inferiores. As operações de abrir e traçar podem ser realizadas desde o princípio da primavera e aguardar até à época de descortiçamento (finais de primavera a meados do verão) para realizar as restantes operações. Será necessário comprovar sempre o bom estado das máquinas porque o mau funcionamento pode provocar um acidente ou danos nas árvores. Depois de terem sido realizadas as operações de abrir e traçar começa o descortiçamento propriamente dito que inclui as operações de bater, descolar e separar. Operação de bater A operação de bater no descortiçamento tradicional efetua-se batendo com a parte posterior do machado nos cortes praticados com o mesmo. Serve para facilitar o desprendimento da cortiça quando algo dificulta o processo. No descortiçamento mecanizado esta operação executa-se com uma ferramenta específica: as pinças corticeiras. Estas pinças constam de 2 linguetas, que juntas devem ser introduzidas no corte realizado pelas máquinas, fazendo avalanca e abrindo para permitir bater na cortiça. Pinças corticeiras 26 Ramón Santiago Operação de descolar A operação de descolar consiste em facilitar a separação das pranchas entre si e o desprendimento das pranchas do entrecasco. No descortiçamento tradicional costuma-se realizar introduzindo o bisel do punho ou cabo do machado nos cortes previamente realizados pelo mesmo; no descortiçamento mecanizado, esta operação realiza-se com as pinças corticeiras, no seu trabalho normal, simultaneamente com a operação de bater, e também com uma ferramenta específica: a ferramenta de descortiçamento curta. Esta ferramenta é uma alavanca metálica com a extremidade em forma de espátula com os bordos arredondados que permite que esta se possa introduzir nos cortes sem provocar danos no entrecasco e sem risco de ferimentos cortantes para o trabalhador. Operação de separar Durante esta operação desprendem-se completamente as pranchas da árvore. No descortiçamento tradicional o tirador utiliza tanto o peito do machado, os virotes, o cabo ou punho e as suas próprias mãos. No descortiçamento mecanizado, o normal é utilizar a ferramenta de descortiçamento curta. O tirador deve agarrar nesta ferramenta por ambas as asas e fazer alavanca com a extremidade em forma de espátula, introduzindo-a progressivamente entre a prancha e o entrecasco, fazendo alavanca para facilitar o seu desprendimento. Também pode agarrar na ferramenta pela asa da extremidade e agarrar na prancha que se está a desprender com a outra mão e introduzir a extremidade em forma de espátula entre a prancha e o entrecasco. Outra alternativa consiste em separar mediante as extensões laterais da ferramenta de descortiçamento na extremidade em forma de espátula, que se prolongam até ao punho ou cabo, formando com o mesmo um ângulo de aproximadamente 30º. Estas extensões imitam a funcionalidade dos virotes do machado corticeiro permitindo puxar as pranchas, prendendo-as numa das suas extremidades; o tirador pode agarrar na ferramenta de descortiçamento pelas duas asas e fazer força com ambos os braços, puxando a prancha com muita precisão. Às vezes, a operação de separar é realizada simultaneamente à operação de bater e descolar com as pinças corticeiras. Isto ocorre quando a cortiça “dá” muito bem e, ao introduzir as pinças corticeiras nos cortes realizados pelas máquinas de descortiçamento, as pranchas vão caindo no solo pelo seu próprio peso. Existem três tipos de ferramenta de descortiçamento: curta, longa e percutora. 27 MANUAL DE BOAS PRÁTICAS PARA DETERMINAÇÃO DA CORTIÇA E DESCORTIÇAMENTO COM NOVAS TECNOLOGIAS Tirador a separar com a ferramenta de descortiçamento curta A ferramenta curta é a que se usa para as pranchas acessíveis a partir do solo. A ferramenta longa é utilizada para descolar e separar as pranchas que não são acessíveis a partir do solo, normalmente as dos ramos e a parte superior do fuste, a mais de 2 metros de altura. De certo modo é um substituto da ferramenta ou alavanca corticeira tradicional. A ferramenta percutora ou enxó utiliza-se depois de concluído o descortiçamento, quando resta algum pedaço de cortiça preso ao tronco. Esta ferramenta permite extrair os pedaços agarrados ao entrecasco, batendo com precisão na zona de união, sem estragar o entrecasco; a ferramenta vai sendo introduzida milímetro a milímetro entre o pedaço de cortiça e o entrecasco, até o pedaço cair no solo pelo seu próprio peso. Esta operação permite valorizar a cortiça da próxima colheita: este pedaço pegado ao tronco, seria uma agravante na futura colheita, destinando-se, com tal, ao refugo, de muito menor valor que a cortiça de prancha. Se desprendermos esse pedaço, na futura colheita, toda a cortiça produzida nessa zona será cortiça prancha, de maior utilidade para a indústria e portanto com maior valor comercial. 28 Ramón Santiago Operação de recolha O ideal é que um trabalhador especializado, o cortador, realize a operação de recolha, cortando as pranchas com tamanho excessivo para facilitar o seu transporte; embora deva realizar este corte no lugar preciso para não desperdiçar a cortiça. Depois, a cortiça deve ser empilhada ao pé da árvore, colocando os pedaços que vão estar em contacto com o solo, com a costa virada para solo de modo a evitar o contacto da barriga com os microorganismos que vivem no solo. Os bocados, devem ser juntos e separados das pranchas. Operação de juntar Durante esta operação transportam-se as pranchas e os bocados de cortiça desde os montes empilhados ao pé da árvore até ao local da pilha, onde se deve fazer um empilhamento da cortiça, dependendo do acordado na transação comercial, de onde um camião irá transportar a cortiça para a fábrica. A operação de juntar costuma ser realizada tradicionalmente de múltiplas formas: - nos ombros dos trabalhadores em zonas muito inacessíveis. - mediante animais de carga, também em zonas de difícil circulação para tratores. - num reboque de trator, sempre que for possível. 29 MANUAL DE BOAS PRÁTICAS PARA DETERMINAÇÃO DA CORTIÇA E DESCORTIÇAMENTO COM NOVAS TECNOLOGIAS Bibliografia e fontes consultadas Beira Dávila, J.; Prades, C. e Santiago Beltrán, R. 2014. New tools to extract cork from Quercus suber L.: increasing productivity and reducing damage. Forest Systems vol. 23 pp. 22-35. Madrid. Beira Dávila, J.; Prades, C. y Santiago Beltrán, R. 2012. Application of new technologies at extraction of cork (OP304). 2012 IUFRO Conference. Division 5: Forest Products. Estoril (Portugal). Beira Dávila, J. 2010. Estudo dos novos equipamentos desenvolvidos para a mecanização da fase de descasque no aproveitamiento da cortiça. Projeto fim de curso. 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