CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM TRANSPORTE FERROVIÁRIO DE CARGA INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA ACADEMIA MRS LEONARDO SOUZA SOARES PROCEDIMENTO PARA DETERMINAÇÃO DA VELOCIDADE MÁXIMA AUTORIZADA Rio de Janeiro 2006 PROCEDIMENTO PARA DETERMINAÇÃO DA VELOCIDADE MÁXIMA AUTORIZADA Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Transporte Ferroviário de Carga do Instituto Militar de Engenharia e da M.R.S. Logística S.A. Aluno: Leonardo Souza Soares Orientador: Profª. Hostílio Ratton – D. Sc. Tutor: Régis Mendes Paraguassu Rio de Janeiro 2006 2 AGRADECIMENTOS Agradeço ao Instituto Militar de Engenharia e à M.R.S. Logística S.A. pelos meios e que possibilitaram a realização deste trabalho. Aos mestres pela disposição em doar algo tão fundamental como o conhecimento. Ao meu pai, Manoel, por demonstrar toda satisfação em ser um ferroviário. Aos amigos ferroviários por toda informação cedida. À minha companheira Fabrícia pelo total carinho e dedicação durante as horas destinadas a execução deste trabalho. Aos funcionários que contribuíram com paciência para os dados recolhidos durante a pesquisa através de diversas indagações. Ao meu orientador Hostílio pelos esclarecimentos fornecidos. Ao Régis por todas as críticas construtivas. Sobretudo, a Deus, pela luz. 3 RESUMO A velocidade sempre será um fator preponderante quanto a produtividade de uma companhia de transportes. O ideal para este tipo de companhia é trabalhar sempre com a maior velocidade possível, gerando maiores ganhos em cada transporte. Porém, a mesma velocidade que gera riquezas é aquela que pode gerar inúmeros prejuízos. Isto porque, elevando-se a velocidade a tais níveis, existe a redução da segurança e o aumento considerável da probabilidade de ocorrência de acidentes. Sendo assim, tornou-se necessário limitar a velocidade de operação de trens, no caso ferroviário, de forma a garantir o máximo de produtividade com a maior segurança e integridade possíveis. As locomotivas atuais são capazes de desenvolver altas potências e de tracionar um número cada vez maior de vagões, mas é válido ressaltar que toda esta potência não seria de forma alguma útil senão houver algum controle. Pensando na produtividade e segurança, atualmente existem vários métodos para determinação de velocidade para veículos ferroviários; porém, os métodos existentes para ferrovias brasileiras, não contemplam inúmeros dados sobre a via e o material rodante que são facilmente adquiridos através da tecnologia existente. Agrupando-se os parâmetros existentes que podem influenciar diretamente na velocidade, os dados que podem ser adquiridos através de veículos de inspeção e informações de projeto, é possível de se determinar uma velocidade produtiva e segura para todo tráfego ferroviário. Além de uma determinação segura da velocidade, estes mesmos dados fornecem condições reais da via e dos veículos ferroviários, indicando quais os pontos críticos que deverão ser trabalhados a fim de se garantir um aumento de velocidade com segurança. Os dados existem e os resultados são válidos. 4 SUMÁRIO LISTA DE TABELAS ...................................................................................................... 7 LISTA DE FIGURAS ..................................................................................................... 10 SÍMBOLOS E ABREVIAÇÕES..................................................................................... 12 1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 13 2. DEFINIÇÃO DOS PARÂMETROS DA VIA QUE INFLUENCIAM NO CÁLCULO DA V.M.A. ........................................................................................................................... 20 2.1. ÁREA DE ABRANGÊNCIA DOS ESTUDOS....................................................... 21 2.2. VIA PERMANENTE ............................................................................................. 23 2.3. VARIÁVEIS DA VIA PERMANENTE ................................................................... 25 2.3.1. ESTABILIDADE DA PLATAFORMA – CONDIÇÕES DE DRENAGEM......... 25 2.3.2. ESTABILIDADE DA PLATAFORMA - ESTABILIDADE DE CORTES E ATERROS ............................................................................................................... 26 2.3.3. ESTABILIDADE DA VIA – ESTADO DE TENSÃO DOS TRILHOS............... 28 2.3.4. ESTABILIDADE DA VIA – CONDIÇÕES DE LASTRO ................................. 31 2.3.5. ESTABILIDADE DA VIA – CONDIÇÕES DOS TRILHOS ............................. 36 2.3.6. ESTABILIDADE DA VIA – DORMENTES ..................................................... 53 2.3.7. ESTABILIDADE DA VIA – FIXAÇÕES .......................................................... 64 2.3.8. ESTABILIDADE DA VIA – AMV .................................................................... 68 2.3.9. GEOMETRIA DA VIA - TRAÇADO................................................................ 75 2.3.10. GEOMETRIA DA LINHA - NÍVEL .............................................................. 101 2.3.11. PADRÕES DE TOLERÂNCIA DA MANUTENÇÃO – CONSERVAÇÃO DA VIA......................................................................................................................... 104 2.3.12. GABARITOS DE OBRAS DE ARTE – TÚNEIS E PONTES...................... 110 3. DEFINIÇÃO DAS VARIÁVEIS DO MATERIAL RODANTE QUE INFLUENCIAM NO CÁLCULO DA V.M.A. ................................................................................................. 111 3.1. MATERIAL RODANTE ...................................................................................... 111 3.2. VARIÁVEIS DO MATERIAL RODANTE ............................................................ 114 5 3.2.1 DIVERSIDADE DE VEÍCULOS .................................................................... 114 3.2.2 TIPO DE CARGA – CARGAS PERIGOSAS ................................................ 118 3.2.3 TIPO DE TRAÇÃO ....................................................................................... 119 3.2.4 COMPRIMENTO DE TRENS – TIPO DE FORMAÇÃO DA COMPOSIÇÃO 120 4. DEFINIÇÃO DE VARIÁVEIS EXTERNAS .............................................................. 121 4.1 OBRAS AO LONGO DA VIA .............................................................................. 121 4.2 ACIDENTES FERROVIÁRIOS E ACIDENTES DA NATUREZA ........................ 121 4.3 PROXIMIDADE DE LOCAIS DE AFLUÊNCIA DE PESSOAS E AUTOMÓVEIS 122 4.3.1 PASSAGENS EM NÍVEL.............................................................................. 122 4.3.2 PROXIMIDADE DE EDIFICAÇÕES ............................................................. 124 4.4 SERVIÇOS DE MANUTENÇÃO......................................................................... 125 4.5 VISIBILIDADE DE SINAIS.................................................................................. 127 5. MÉTODO PARA DETERMINAÇÃO DA V.M.A. DO TRECHO FERROVIÁRIO POR MEIO DO RELACIONAMENTO ENTRE AS VARIÁVEIS DO MATERIAL RODANTE E DA VIA PERMANENTE .............................................................................................. 130 6. DISCUSSÃO ........................................................................................................... 164 7. CONCLUSÃO ......................................................................................................... 179 8. BIBLIOGRAFIA....................................................................................................... 180 6 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Alturas de lastro sob dormentes de madeira.................................................32 Tabela 2 – Alturas de lastro sob dormentes de concreto................................................33 Tabela 3 – Carga por eixo de 30 a 34 tf e predomínio de curvas de raio < 875m .........38 Tabela 4 – Limite de desgaste do boleto para trilhos de segunda-mão .........................40 Tabela 5 – Ações reparadoras .......................................................................................42 Tabela 6 – Classes de Via .............................................................................................43 Tabela 7 – Defeitos de trilhos e limitações de velocidade .............................................44 Tabela 8 – Desvios máximos para trilhos de junta (FRA) ..............................................49 Tabela 9 – Desvios máximos para trilhos de junta .........................................................49 Tabela 10 – Condições das juntas dos trilhos (FRA) .....................................................51 Tabela 11 – Mínimo de dormentes por classe de via e curvatura (FRA) .......................57 Tabela 12 – Mínimo de dormentes por classe de via e curvatura (MRS) ......................59 Tabela 13 – Taxa de dormentes inservíveis ..................................................................60 Tabela 14 – Espaçamento máximo entre dormentes bons (1) ......................................60 Tabela 15 – Espaçamento máximo entre dormentes bons (2) ......................................61 Tabela 16 – Espaçamento máximo entre dormentes bons (3) ......................................62 Tabela 17 – Número de dormentes inservíveis por extensão de curva e tipo de trilho..62 Tabela 18 – Espaçamento de dormentes recomendado ...............................................63 Tabela 19 – Velocidades para as composições de AMV ...............................................73 Tabela 20 – Compatibilização de elementos de AMV e velocidade na bitola larga .......74 Tabela 21 – Compatibilização de elementos de AMV e velocidade na bitola métrica ...74 Tabela 22 – Limites de bitola (FRA) ...............................................................................89 Tabela 23 – Limites de alinhamento (FRA) ....................................................................91 Tabela 24 – Limites de nivelamento (FRA) ....................................................................96 Tabela 25 – Altura limite do centro de gravidade .........................................................118 Tabela 26 – Distâncias de frenagem para cruzamentos rodo-ferroviários....................124 Tabela 27 – Classificação dos aspectos de sinais luminosos ......................................127 Tabela 28 – Tabela de distâncias de frenagem por tipo de composição .....................129 Tabela 29 – Planilha de cálculo utilizada atualmente ..................................................130 7 Tabela 29 B – Planilha de cálculo utilizada atualmente ...............................................131 Tabela 30 – Planilha de cálculo com parâmetro de superelevação..............................132 Tabela 31 – Planilha de cálculo com parâmetro de bitola ............................................133 Tabela 32 – Planilha de cálculo com parâmetro de estado de manutenção ................135 Tabela 33 – Limites máximos para desvios no alinhamento (FRA) .............................136 Tabela 34 – Limites máximos para desvios no nivelamento (FRA) .............................137 Tabela 35 – Limites máximos para classificação de defeito de via permanente .........138 Tabela 36 – Planilha com parâmetros de nivelamento, alinhamento e torção ............139 Tabela 37 – Características da AMV ............................................................................140 Tabela 38 – Características de AMV ............................................................................140 Tabela 39 – Entrada de dados de AMV .......................................................................141 Tabela 40 – Espaçamento de dormentes recomendado..............................................141 Tabela 41 – Planilha de cálculo com parâmetro de bitola carregada ..........................142 Tabela 42 – Tabela de condições de juntas e velocidade ...........................................143 Tabela 43 – Tabela de condições de juntas e velocidade ...........................................144 Tabela 44 – Tabela de desvios máximos dos planos de rolamento nas juntas ...........145 Tabela 45 – Planilha de cálculo contemplando a situação das talas de juntas ...........145 Tabela 46 – Tabelas de defeitos de trilhos e limitações de velocidade .......................146 Tabela 47 – Planilha de cálculo contemplando defeitos nos trilhos .............................147 Tabela 48 – Tabela de correlação: altura de lastro x velocidade de circulação ...........148 Tabela 49 – Tabela de correlação: altura de lastro x velocidade de circulação ...........148 Tabela 50 – Planilha de cálculo contemplando condições de lastro e dormentes .......149 Tabela 51 – Planilha de cálculo contemplando condições da plataforma ....................150 Tabela 52 – Planilha de cálculo contemplando condições das tensões nos trilhos .....152 Tabela 53 – Planilha de cálculo contemplando condições das fixações ......................153 Tabela 54 – Planilha contemplando ocorrências de serviços de manutenção ............156 Tabela 55 – Planilha de cálculo contemplando ocorrência de acidentes da natureza..157 Tabela 56 – Tabela de distância de frenagem por tipo de composição/aplicação........158 Tabela 57 – Planilha de cálculo considerando sinais ao longo do trecho ....................160 Tabela 58 – Tabela de distância de frenagem para cruzamentos ...............................161 Tabela 59 – Planilha de cálculo considerando existência de passagens em nível.......162 8 Tabela 60 – Planilha de cálculo considerando a aprovação do resultado ...................163 Tabela 61 – Planilha de cálculo simulando superelevação e bitola .............................167 Tabela 62 – Planilha de cálculo simulando superelevação e bitola .............................168 Tabela 63 – Planilha de cálculo simulando condições do veículo ...............................170 Tabela 64 – Planilha de cálculo simulando o estado de manutenção .........................170 Tabela 65 – Planilha de cálculo simulando o estado de manutenção .........................171 Tabela 66 – Planilha de cálculo simulando os defeitos de via medidos ......................172 Tabela 67 – Planilha de cálculo simulando o estado das fixações e dormentes .........173 Tabela 68 – Planilha de cálculo simulando o estado das talas de junção ...................173 Tabela 69 – Planilha de cálculo simulando o estado das talas de junção ...................174 Tabela 70 – Planilha de cálculo simulando o estado do lastro e tx. de dormentação...175 Tabela 71 – Planilha de cálculo simulando as condições da plataforma .....................175 Tabela 72 – Planilha de cálculo simulando as ocorrências de flambagem ..................176 Tabela 73 – Planilha de cálculo simulando ocorrências de serviços e/ou natureza.....176 Tabela 74 – Planilha de cálculo considerando fatores externos...................................177 Tabela 75 – Resultado final...........................................................................................177 9 LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Raios de curvatura de um veículo ferroviário ................................................16 Figura 2 – Mapa da malha da M.R.S. Logística S.A. .....................................................21 Figura 3 – “Bombeamento” em virtude de carreamento de finos da plataforma ............27 Figura 4 – Dormente danificado .....................................................................................28 Figura 5 – Torção de trilho por temperatura ...................................................................30 Figura 6 – Gráfico comparativo: Altura de lastro x Velocidade autorizada ....................34 Figura 7 – “Bolsão de lama” ...........................................................................................36 Figura 8 – Perfil de desgaste de trilho 57 .......................................................................40 Figura 9 – Perfil de desgaste de trilho 68 .......................................................................41 Figura 10 – Movimentação dos dormentes na região da junta ......................................48 Figura 11 – Espaçamento de dormentes em região de juntas .......................................58 Figura 12 – Fixação tipo Pandrol ...................................................................................65 Figura 13 – Diagrama de forças atuantes ......................................................................84 Figura 14 – Desbalanceamento da relação L/V .............................................................95 Figura 15 – Concordância vertical ................................................................................103 Figura 16 – Locomotiva Diesel-Elétrica ........................................................................111 Figura 17 – Automotriz Budd ........................................................................................111 Figura 18 – Carro de passageiros ................................................................................112 Figura 19 – Vagão de carga .........................................................................................112 Figura 20 – Trens unidade ...........................................................................................113 Figura 21 – Trens unidade ...........................................................................................113 Figura 22 – Socadora Plasser & Theurer .....................................................................113 Figura 23 – Cálculo de Centro de Gravidade ...............................................................117 Figura 24 – Sistema Cremalheira .................................................................................119 Figura 25 – Trilhos com estado normal de tensões .....................................................151 Figura 26 – Trilhos com altas tensões e deformação aparente ...................................151 Figura 27 – Gráfico de correlação: distância de frenagem x desaceleração ...............159 Figura 28 – Trecho em estudo da M.R.S. Logística S.A. .............................................164 Figura 29 – Gráfico de resultado de inspeção de trecho .............................................166 10 Figura 30 – Gráfico de primeira análise dos resultados ...............................................168 Figura 31 – Gráfico de resultado de inspeção em trecho ............................................169 Figura 32 – Gráfico de resultado de inspeção em trecho ............................................171 Figura 33 - Gráfico de resultado de inspeção em trecho .............................................172 Figura 34 – Gráfico dos resultados finais .....................................................................178 11 SÍMBOLOS E ABREVIAÇÕES - AMV: Aparelho de Mudança de Via - FRA: Federal Railroad Administration (Administração Federal das Ferrovias, órgão que administra as ferrovias americanas) - VMA: Velocidade máxima autorizada - RFFSA: Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima - Coef. : coeficiente - tf: ton/feet – toneladas por pés - m: metros - kg/m: quilogramas por metro 12 1. INTRODUÇÃO Ao se recorrer à física clássica, a palavra velocidade é utilizada para relacionar o espaço percorrido e o tempo que levou para percorrê-lo. Tal relação é válida para todos os corpos em movimento, uma vez que estes corpos comportam-se conforme as teorias de Newton. Partindo para o cotidiano, mais especificamente para a fundamentação do nosso trabalho, pode-se afirmar com segurança que um veículo ferroviário em movimento também obedece às leis da mecânica básica de Newton. Porém, mediante tal afirmação, originam-se muitos outros questionamentos relativamente simples, mas de vital importância para entendermos o desenvolvimento dos trabalhos, como por exemplo: Se os veículos ferroviários comportam-se como os demais móveis na mecânica de Newton, porque existem tantas diferenças entre um veículo ferroviário e um veículo rodoviário? Descartando-se parâmetros estruturais e funcionais, deve-se analisar inicialmente por onde estes tipos de veículo circulam e como circulam. No caso dos veículos rodoviários, o contato entre o móvel e a superfície de rolagem é feito através de pneus, permitindo uma boa aderência e, além disso, a condução é ditada pelo motorista, ou seja, o veículo obedece à direção imposta pelo seu condutor. Quando é analisado um veículo ferroviário, verifica-se que o contato deste tipo de veículo e a superfície de rolagem é feito através de trilhos e dormentes. Nesta situação, a aderência é muito menor em termos de superfície. Outro fato de extrema importância: o maquinista não é capaz de alterar a rota do veículo ferroviário, visto que este papel é realizado pela própria via permanente. Assim, enquanto nas rodovias consegue-se “distribuir o tráfego transversalmente” (os veículos podem trafegar livremente na transversal), nas ferrovias, os veículos obedecem a uma rota determinada, forçando todo o tráfego a circular por apenas uma “rota transversal”. Analisando estes 13 aspectos de uma forma simplificada, parece não haver grande importância, porém, quando se analisa o desgaste de materiais e a velocidade, as diferenças tomam patamares muito mais significativos. Atualmente são criadas locomotivas cada vez mais potentes, vagões mais leves e materiais mais confiáveis para aplicação na via permanente. Todas estas inovações convergem para um ponto em comum, o ganho de produtividade. Este ganho pode distribuir-se de diversas formas como: aumento da capacidade transportada por eixo, aumento no tamanho dos trens, aumento da velocidade de circulação, etc. Ou seja, a forma de distribuição das novas tecnologias demonstrará em que ponto a produtividade da ferrovia poderá avançar. Cita-se como exemplo de ganho de produtividade para uma ferrovia o aumento da velocidade de circulação de trens, uma vez que, se um determinado trem percorre um percurso com menos tempo, este mesmo trem poderá fazer mais viagens, ou seja, mais cargas por ele poderão ser transportadas e, dessa forma, melhor será a sua eficiência. Pensando no universo de uma companhia ferroviária, se é aumentada a velocidade de circulação em um trecho, pela prática atual, esta velocidade é valida para todos os trens que trafegam na região, salvo em algumas situações especiais, como trens de passageiros e cargas perigosas; sendo assim, o ganho de produtividade gerado começa ser bastante interessante visto que, esta simples modificação de velocidade pode afetar, dependendo do trecho escolhido, todos os trens que compõem a frota da companhia. Nota-se então, que o parâmetro velocidade, começa a demonstrar ser uma variável adequada para o aumento de produtividade de uma companhia atuante na área ferroviária. Esta primeira impressão é tão interessante, por ser relativamente simples, que se esquece completamente do que tal “simples mudança” possa acarretar. Voltando a falar sobre a variável velocidade, as relações matemáticas de Newton que correlacionam velocidade, distância, tempo e aceleração são: S = S0 + v0.t + (1/2).a.t² (I) 14 V = v0 + a.t (II) As equações de Newton ditam, de uma maneira simplificada, como a velocidade e distância percorrida comportam-se durante um intervalo de tempo. Na prática, muitos outros fatores devem ser incluídos, até mesmo a resistência do ar ao movimento. Se levássemos em consideração apenas as equações básicas de Newton, poderíamos facilmente dizer que a velocidade máxima de um trecho de ferrovia seria aquela que a locomotiva tivesse capacidade de alcançar. Isto é justificado, uma vez que Newton considera o espaço percorrido como ideal, ou seja, sem interferência de outras variáveis. Porém, como é observado nas rodovias, os trajetos reais possuem curvas e rampas, obstáculos que fazem com que o motorista diminua ou aumente a velocidade conforme sua sensação de segurança. Justamente devido ao critério de segurança, as rodovias possuem velocidades regulamentadas conforme a legislação, de forma a garantir que todos os veículos possam trafegar de forma segura, evitando acidentes. As limitações da velocidade nas curvas também seguem uma equação muito conhecida da física básica: F = (m.v²)/R (III) A equação acima traduz a força atuante em um determinado móvel quando o mesmo executa uma curva de raio “R”, com uma velocidade “v” possuindo uma massa “m”. De forma simplificada, quando um determinado veículo não é capaz de executar uma curva, existe um desequilíbrio de forças, ou seja, as forças que mantinham o veículo em sua trajetória alteram-se, não permitindo que o mesmo continue a rota determinada. 15 Figura 1 – Raios de curvatura de um veículo rodoviário. Fonte: Leonardo Souza Soares Pensando em um veículo rodoviário, o motorista trabalha constantemente equilibrando as forças atuantes no veículo, quando o mesmo está dentro de uma curva. Por meio do volante, o motorista consegue alterar o raio de curvatura do veículo, equilibrando as forças atuantes no sistema, ou então, poderá acelerar os desacelerar o veículo para que o mesmo se comporte da forma desejada. Quando se trabalha com uma locomotiva, o controle fica restrito a apenas uma variável, a velocidade. O maquinista não possui artifícios para alterar o raio de curvatura de uma locomotiva quando a mesma começa a desenvolvê-la. Os responsáveis para este trabalho são os trilhos. Verifica-se então, a complexidade da variável velocidade desenvolvida pelos trens, influenciando nos critérios de produtividade de uma empresa, como na segurança dos transportes por ele desenvolvido. Mas quais fatores realmente interferem na velocidade de um veículo ferroviário? As curvas da ferrovia, são fatores essenciais, pelo fato do raio de curvatura ser um dos principais causadores das forças externas atuantes na movimentação de um trem. 16 Então como o raio de curvatura influencia na velocidade de circulação dos trens? E quanto aos outros “obstáculos” existentes na ferrovia como túneis, pontes, passagens de nível, máquinas de chave, mudanças no tempo? Também devem ser considerados como limitadores de velocidade? Se os raios de curva forem favoráveis, por que não aumentamos a velocidade de circulação dos trens para níveis ainda mais elevados? Existem outros critérios de segurança a serem respeitados? Estas são algumas questões que circulam no meio ferroviário, uma vez que a legislação brasileira não é clara quando se trata de limites de velocidade em ferrovias. Priorizando toda a atenção na movimentação de um trem em um determinado trecho, pode-se descrever vários fatores que influenciam direta ou indiretamente na velocidade em que o mesmo poderá trafegar: Estabilidade da plataforma • Condições de drenagem; • Estabilidade de cortes / aterros; Estabilidade da via: • Estado de tensão dos trilhos (flambagem); • Condições do lastro (limpeza, altura); • Condições dos trilhos (defeitos nos trilhos, via com trilhos longos soldados ou trilhos curtos); • Dormentes (espaçamento que influencia diretamente na t/eixo; condições físicas); • Fixações (estado de conservação e manutenção); • AMV (para a linha desviada a velocidade na região do AMV está vinculada ao raio da curva de ligação e o raio equivalente na agulha; condição de conservação dos componentes como trilhos, dormentes, acessórios e peças metálicas como: agulhas, jacaré, contratrilho etc.); 17 Obras ao longo da via: • A existência de obra impõe restrição de velocidade no local; Acidentes ferroviários e acidentes da natureza: • Em locais onde houve acidentes (ferroviários ou da natureza) a infra e a superestrutura podem ser afetadas de modo a impor condições de restrição à VMA; Geometria da via: • Em traçado: raio de curva, diretriz de traçado (sucessão de curvas, tangentes, curvas reversas,etc.); • Em nível: rampas (ascendentes, descendentes, compensadas, raio modal, etc.); Padrões de tolerância na manutenção: • Vias mal conservadas (com padrões baixos de manutenção e grandes tolerâncias) impõem restrição à VMA; Gabarito de obras de arte: • Túneis; • Pontes; Proximidade de locais de afluência de pessoas/automóveis: • Passagens em nível; • Linha próxima a edificações (cidades); Diversidade de veículos que circulam pela via; Tipo de carga: 18 • Cargas perigosas; Tipo de tração. Comprimento dos trens: • Tipo de formação da composição. Serviços de manutenção: • Poderá haver restrição à VMA dependendo da natureza do serviço. Como pode ser verificado, a avaliação do efeito da velocidade na segurança do tráfego alcança um nível alto de complexidade, quando transferida para uma ferrovia real. Muitos dos fatores citados podem ser de grande relevância quando se deseja determinar a velocidade de circulação de uma composição ferroviária, porém, de forma análoga, outros fatores não influenciarão significativamente. A velocidade de circulação de trens correlaciona dois atributos para a companhia ferroviária: produtividade e segurança. O aumento da velocidade máxima de circulação aumenta a produtividade, mas em contrapartida, reduz a segurança, principalmente se os equipamentos envolvidos não acompanhem as mudanças necessárias para este aumento. Se essas mudanças não forem realizadas, e para continuar o trabalho com alto padrão de segurança, a velocidade não deverá ser aumentada e, conseqüentemente, a produtividade poderá ser insatisfatória. Outro requisito que deve ser considerado é a manutenção da via permanente e do material rodante que aumentam à medida que a velocidade estipulada sobe, ou seja, maiores investimentos deverão ser inseridos na manutenção de forma a preservar a segurança. Analisando essas condições, conclui-se a importância de se estabelecer novos padrões de circulação, equilibrando velocidade e segurança, para obter melhores níveis de produtividade em curto período de tempo, e consequentemente aumentar o lucro da empresa. 19 A determinação desta velocidade “ideal” depende de diversos fatores como aqueles citados anteriormente, além das possíveis correlações entre eles. Sendo assim, deveríamos tentar diminuir as dúvidas com experiências de campo fundamentadas em teorias, conhecimentos prévios e hipóteses, com o objetivo de maximizar a velocidade em determinados trechos. 2. DEFINIÇÃO DOS PARÂMETROS DA VIA QUE INFLUENCIAM NO CÁLCULO DA V.M.A. 20 2.1. ÁREA DE ABRANGÊNCIA DOS ESTUDOS O trabalho se concentrará em um trecho da grade ferroviária brasileira, especificamente, o trecho que compreende atualmente a M.R.S. Logística S.A. Neste trecho há uma série de condições que ajudarão o desenvolvimento da pesquisa. Figura 2 – Mapa de malha da MRS Logística S.A.. Fonte: Leonardo Souza Soares 21 Esse trecho pertencente à M.R.S. Logística S.A. compreende praticamente todo sudeste brasileiro. Um aspecto interessante é que esta ferrovia possui idades e características diferentes conforme as localidades. O trecho de ferrovia mostrado em amarelo no mapa (Aristides Lobo a Ilídio), juntamente com o trecho em rosa (Carandaí à Barreiro e Águas Claras) constituí hoje o que é chamado de Linha do Centro, ou simplesmente Linha Centro. Este é muito conhecido em virtude de seu passado histórico, que se inicia com a implantação das estradas de ferro no País. Tal fato nos leva a concluir que os métodos utilizados em sua construção são antigos, dotando este trecho ferroviário de características que hoje não são mais observadas na construção de ferrovias. Em Aristides Lobo a Ilídio, o trajeto da linha segue o traçado dos rios, com pequenos raios de curvatura, túneis apertados, rampas acentuadas e a presença de áreas urbanas, como Juiz de Fora, Conselheiro Lafaiete, dentre outras. Analisando o trecho em verde (Porto de Guaíba a Pombal) notamos que ocorre as mesmas características do trecho de Aristides Lobo a Ilídio; porém devemos diferenciálo por atravessar a Serra do Mar, o que consequentemente proporciona rampas muito acentuadas para os conceitos atuais. O trecho em azul (Floriano à Pinheirinho e Suzano à Santos) é conhecido como ramal São Paulo. Este foi utilizado por anos não só para o transporte de carga, como também para os antigos trens de passageiros que circulavam do Rio de Janeiro para São Paulo. Este trecho também possui características históricas; com túneis apertados e travessias em áreas urbanas, incluindo a região metropolitana de São Paulo, que a cada dia torna-se forma mais obstáculo às atividades ferroviárias de carga, em virtude do crescimento de trens metropolitanos existentes nesta região da malha. Por fim, a Ferrovia do Aço, representada em vermelho no mapa. Este trecho possui características diferentes dos demais. Por sua construção mais recente, há curvas de raios maiores, rampas mais amenas, túneis mais largos e não sofre transtornos com centros urbanos em seu trajeto. 22 Apesar das diferenças nos trechos da malha da M.R.S. Logística S.A., ainda assim, é possível identificar todos os parâmetros de via permanente que influenciam na velocidade máxima autorizada ou VMA. 2.2. VIA PERMANENTE De acordo com Brina, H. L. (1979): “... a infra-estrutura das estradas é constituída pela terraplenagem e todas as obras abaixo do greide de terraplenagem. A superfície final de terraplenagem chama-se leito ou plataforma da estrada”. Dessa forma, a infra-estrutura de uma ferrovia segue os mesmos parâmetros da infra-estrutura de uma rodovia, porém preparada para receber um tráfego com peso muitas vezes superior ao tráfego rodoviário. Continuando o estudo do mesmo livro, o autor cita que: “A superestrutura das estradas de ferro é constituída pela via permanente, que está sujeita à ação de desgaste das rodas dos veículos e do meio (intempéries) e é construída de modo a ser renovada, quando o seu desgaste atingir o limite de tolerância exigido pela segurança ou comodidade da circulação e a ser mesmo substituída em seus principais constituintes, quando assim o exigir a intensidade do tráfego ou o aumento de peso do material rodante”. “Os três elementos principais da via permanente são o lastro, os dormentes e os trilhos, estes últimos constituindo o apoio e ao mesmo tempo a superfície de rolamento para os veículos ferroviários”. “Devemos incluir também, como elemento da superestrutura das estradas de ferro, o sublastro que, embora ligado intimamente às camadas finais da infra-estrutura, tem 23 características especiais, que justificam a sua inclusão como parte da superestrutura ferroviária”. Os fatores de via permanente que influenciam na V.M.A. serão baseados nestes componentes. Durante a introdução deste trabalho foram citados vários fatores que poderiam influenciar a V.M.A. de um determinado trecho da ferrovia; portanto, os fatores que fazem parte da via permanente, conforme descrito por Brina, H. L. (1979), serão separados: Estabilidade da plataforma • Condições de drenagem; • Estabilidade de cortes / aterros; Estabilidade da via: • Estado de tensão dos trilhos (flambagem); • Condições do lastro (limpeza, altura); • Condições dos trilhos (defeitos nos trilhos, via com trilhos longos soldados ou trilhos curtos); • Dormentes (espaçamento que influencia diretamente na t/eixo; condições físicas); • Fixações (estado de conservação e manutenção); • AMV (para a linha desviada a velocidade na região do AMV está vinculada ao raio da curva de ligação e o raio equivalente na agulha; condição de conservação dos componentes como trilhos, dormentes, acessórios e peças metálicas como: agulhas, jacaré, contratrilho, etc.); Geometria da via: • Em traçado: raio de curva, diretriz de traçado (sucessão de curvas, tangentes, curvas reversas,etc.); 24 • Em nível: rampas (ascendentes, descendentes, compensadas, raio modal, etc.); Padrões de tolerância na manutenção: • Vias mal conservadas (com padrões baixos de manutenção e grandes tolerâncias) impõem restrição na VMA; Gabarito de obras de arte: • Túneis; • Pontes. Dessa forma, poderemos analisar detalhadamente cada item que compõe a via permanente e sua influência da determinação da V.M.A. em um trecho específico. 2.3. VARIÁVEIS DA VIA PERMANENTE 2.3.1. ESTABILIDADE DA PLATAFORMA – CONDIÇÕES DE DRENAGEM Stopatto, S. (1987) faz a seguinte observação quanto à drenagem: “Visa a manter o lastro seco. Quando este começa a dar sinais de lama está evidenciada a falta de drenagem. É o fenômeno mais comum em todas as nossas linhas. Mesmo quando se faz uma renovação observa-se, pouco tempo depois, que as chamadas bolsas de lama começam a agir sujando o lastro e desnivelando a linha”. “Esta situação calamitosa se deve ao fato de nossas ferrovias terem sido construídas sem qualquer preocupação com a drenagem da plataforma”. “Para se manter uma plataforma drenada são necessários vários tipos de obras, tais como: pontes, pontilhões, bueiros, valões e valetas, drenos e obras diversas de contenção e consolidação”. 25 Stopatto, S. (1987) apresenta um problema muito comum nas ferrovias: devido à má condição de drenagem da plataforma, o aparecimento de bolsões de lama. O aparecimento de um bolsão de lama compromete o nivelamento da via e consequentemente afetará a velocidade de circulação do trecho. 2.3.2. ESTABILIDADE DA PLATAFORMA - ESTABILIDADE DE CORTES E ATERROS Utilizando novamente como referência Stopatto, S. (1987), iniciamos o estudo desta variável da via permanente com as seguintes observações por ele expostas sobre aterros e cortes: “Aterros formados com materiais adequados e compactados, sobre uma base sólida e consistente, ficam naturalmente consolidados com a passagem das máquinas de terraplenagem. Quando isso não ocorre eles apresentarão, certamente, algum recalque”. “Os problemas mais complicados ocorrem com os aterros de meia encosta, onde o terreno natural tem forte inclinação. O cuidado de se fazerem degraus no terreno, com colocação de drenos, nem sempre é obedecido e, assim, as conseqüências logo se manifestam: desmoronamentos, deslocamentos no pé do aterro, alterações na plataforma, etc. De acordo com os tipos de problemas, são indicadas várias soluções”. “Em nossas ferrovias, os problemas mais complicados em aterros de meia encosta referem-se à proteção da plataforma, que fica reduzida devido ao deslizamento contínuo e lento da saia do aterro”. (...) “O desequilíbrio do maciço nos cortes é bem maior e mais variável que nos aterros e seus efeitos podem ser observados a qualquer tempo. As barreiras e os deslocamentos de blocos são os efeitos mais conhecidos e danosos. É importante, também, o carreamento de finos para o leito da linha”. 26 O mesmo autor menciona novamente problemas comuns das ferrovias brasileiras no que diz respeito a estabilidade de cortes e aterros. Cortes e aterros mal estruturados afetam diretamente a plataforma, ocasionando problemas de nivelamento e desta forma, gerando defeitos na via e reduzindo a velocidade de circulação. Outro ponto importante citado é o carreamento de finos para o leito da via. A presença deste material junto ao lastro contamina o subleito da ferrovia e na presença de água devido a precipitações ou outras fontes, junto ao balanço da passagem de trens, promove o bombeamento deste material e o aparecimento de “bolsões de lama” provocando desnivelamentos e empenos além de outros efeitos danosos conforma as figuras a seguir: Figura 3 – “Bombeamento” em virtude de carreamento de finos da plataforma. Fonte: Muniz (2001) 27 Figura 4 – Dormente danificado. Fonte: Muniz (2001) Com base nestas imagens fica nítida a necessidade da redução da velocidade das composições ferroviárias quando as mesmas trafegam em trechos que possuem dormentes que sofrem diretamente a ação do bombeamento provocada pela contaminação de finos oriundos de cortes e aterros instáveis. 2.3.3. ESTABILIDADE DA VIA – ESTADO DE TENSÃO DOS TRILHOS O estado de tensão dos trilhos pode comprometer a velocidade de circulação quando tais níveis de tensão danificarem os próprios trilhos ou a geometria da via. Brina, H. L. (1979) cita alguns esforços principais causadores destas tensões excessivas: 28 “7.1.2 Esforços Longitudinais” “a) Dilatação – Já vimos em estudo anterior que o aumento ou diminuição da temperatura dos trilhos pode gerar tensões de compressão e tração nos trilhos.” “b) Movimento de reptação – com a passagem das rodas, o trilho sofre uma deformação elástica, que o torna flexionado, gerando tensões de compressão e tração no mesmo.” Dentre os esforços citados por Brina, H. L. (1979) o mais comum em nosso trecho de estudo é a dilatação dos trilhos. Em nosso país, a variação de temperatura é algo bem intenso, fazendo com que os trilhos sofram o fenômeno da dilatação. Neste caso, durante o assentamento da via ou do trilho, o ambiente encontra-se a certa temperatura típica de uma determinada estação do ano. Dependendo da região, o trilho já assentado, durante o verão (onde ocorrem as temperaturas mais quentes), dilata-se de tal forma que a junta próxima a este trilho não comporta o aumento do seu tamanho; desta forma o trilho fica impedido de se dilatar. Uma vez impedido de se dilatar nas extremidades a tensão de compressão do trilho aumenta gradativamente até o ponto deste trilho “torcer”, conforme a figura a seguir: 29 Figura 5 – Torceu de trilho por temperatura. Fonte: Supervisão de Via Permanente de Belo Vale, Minas Gerais. A referida torção do trilho significa que o mesmo, em virtude da dilatação não ocupa sua posição original, formando uma curvatura devido ao aumento do seu tamanho e a incapacidade do trilho dilatar nas pontas. A questão a ser respondida é a que ponto a torção da via interfere no limite de velocidade da mesma? Além do fenômeno da flambagem dos trilhos, outro ponto crucial do estado de tensão dos trilhos é a fratura de trilhos. Na verdade, a fratura dos trilhos ocorre no sentido contrário ao da flambagem. Em temperaturas mais amenas os trilhos tendem a se contrair. Se os trilhos forem impedidos de contrair devido a juntas muito espaçadas ou devido a contrações muito fortes (em temperaturas muito baixas) surge a fratura do trilho como resultado de uma tensão maior que a que o material poderia suportar. Diversos são os tipos de fratura de trilhos ao ponto de, em alguns casos, impedir a circulação de trens até que seja utilizada alguma medida de segurança, como utilização de sargento e/ou talas de fixação. 30 2.3.4. ESTABILIDADE DA VIA – CONDIÇÕES DE LASTRO É interessante observar que esta variável possui mais informações baseadas em estudos do que as variáveis anteriormente estudadas. Castello Branco, J. E. (2002) traz a seguinte informação sobre o lastro, extraídas da FRA (Federal Railroad Administration): “213.103 Lastro” “A menos que exista um outro tipo de suporte, a via deverá estar assente em material que”: (a) “Transmita e distribua o peso da via e as cargas oriundas do material rodante ao subleito”; (b) “Suporte a via lateralmente, longitudinalmente e verticalmente sob carga dinâmica do tráfego ferroviário, e também absorva as tensões de origem térmica exercidas pelos trilhos”. (c) “Drene adequadamente a via; e” (d) “Mantenha valores adequados de nivelamento transversal, longitudinal e alinhamento.” A FRA indica que o lastro é influenciado diretamente pela velocidade de circulação, uma vez que o mesmo deverá dar suporte a via sob carga dinâmica do tráfego ferroviário. Porém, não há menção de qualquer relação entre a velocidade e a altura ou condições de lastro a ser empregada. Batist, M. (2002), correlaciona bem as variáveis velocidade e altura de lastro citando uma norma oriunda da R.F.F.S.A. (Rede Ferroviária Federal S.A.) que poderá ser muito útil no desenvolvimento deste trabalho. 31 “5. ALTURAS DE LASTRO (RFFSA, 79)” “As alturas limites de lastro para dormentes de madeira serão: valor mínimo 15 cm e valor máximo 40 cm; para dormentes de concreto esses valores são de 20 cm e 40 cm, respectivamente.” “Os valores recomendados de altura de lastro para dormentes de madeira e concreto, em função das cargas por eixo de 30tf na bitola larga e de 20tf na bitola métrica, de sorte a que a pressão no lastro não ultrapasse o valor de 1,4tf/m², deverão ser os mostrados nas tabelas respectivamente”. Bitola (m) 1,00 1,60 Massa do trilho (kg/m) Taxa de Espaçamento dormentação de dormentes por (cm) quilômetro Velocidade (km/h) 80 37 57 1750 55 40 80 45 57 1750 55 40 80 37 60 1666 55 40 80 45 60 1666 55 40 80 57 54 1850 55 40 80 68 54 1850 55 40 Tabela 1 - Alturas de lastro sob dormentes de madeira Fonte: R.F.F.S.A. 32 Altura mínima de lastro (cm) 32 26 23 25 21 17 33 28 24 26 23 19 28 24 22 24 20 17 Bitola (m) 1,00 1,60 Massa do trilho (kg/m) Taxa de Espaçamento dormentação de dormentes por (cm) quilômetro Velocidade (km/h) 80 45 57 1750 55 40 80 45 60 1666 55 40 80 57 54 1666 55 40 80 68 54 1666 55 40 Tabela 2 - Alturas de lastro sob dormentes de concreto Altura mínima de lastro (cm) 25 21 17 26 23 19 37 35 32 35 30 27 Fonte: R.F.F.S.A. Assim, analisando as informações fornecidas por Batist, M. (2002) através de uma análise gráfica: 33 Gráfico Comparativo - Altura de lastro x Velocidade autorizada - Segundo norma da RFFSA 40 Bitola: 1,60 - TR 57 - CONCRETO Bitola: 1,60 - TR 68 - CONCRETO 35 Bitola: 1,60 - TR 57 - MADEIRA Bitola: 1,60 - TR 68 - MADEIRA 30 cm 25 20 15 10 5 0 80 55 Velocidade (km/h) 40 Figura 6 – Gráfico comparativo: Altura de lastro x Velocidade autorizada Fonte: Leonardo S. Soares Constata-se pelo gráfico que foram trabalhadas somente as informações da bitola de 1,60m, o que se ajusta aos trechos operados pela M.R.S. Logística S.A.. Quanto menor a velocidade de circulação, menor a altura de lastro necessária, independente do tipo de trilho ou de dormente. Tal informação é de vital importância para o desenvolvimento dos trabalhos uma vez que a altura de lastro poderá ter forte peso como variável de limitação da velocidade durante a correlação com as demais variáveis existentes. Outro ponto que poderá ser levado em consideração a respeito é quanto à qualidade do lastro utilizado no respectivo trecho. Segundo Stopatto S. (1987): “6.2.1 – Admita a pedra britada ou cascalho como os materiais adotados para lastro, a característica mais importante na sua definição é a abrasão, ou Los Angeles. É que o 34 lastro, quando sob carga, tem seus vários elementos sob constante atrito. O pó resultante acaba por colmatar-se, prejudicando a drenagem e sujando o lastro.” Stopatto S. (1987) descreve uma característica fundamental do lastro, a qualidade. Atualmente as empresas ferroviárias possuem normas bem claras quando às especificações técnicas do lastro empregado em sua malha; porém tais normas, relacionam o lastro empregado a condições de suporte da via, assim como é citado por diversos autores que correlacionam a altura de lastro com a pressão máxima admissível no subleito ferroviário. Desta forma, o estudo das condições de lastro é mais direcionado a condições da infra-estrutura do que diretamente à velocidade. No entanto, conforme citado por Stopatto S. (1987), o pó liberado pelo lastro é prejudicial em termos de drenagem e, conseqüentemente, gera instabilidade na plataforma. Já a instabilidade da plataforma atua diretamente na velocidade, não permitindo desenvolver velocidades altas em plataformas instáveis. Assim, pensando num raciocínio lógico, quanto mais contaminado o lastro, mais instável estará a plataforma e em decorrência menor deverá ser a velocidade permitida de circulação. No entanto será necessário quantificar a qual nível de contaminação a velocidade de circulação torna-se limitada. 35 Figura 7 – “Bolsão de lama”. Fonte: Leonardo Souza Soares. 2.3.5. ESTABILIDADE DA VIA – CONDIÇÕES DOS TRILHOS Dentre as características e condições dos trilhos que contribuem para a estabilidade da via, pode-se citar: • Perfil; • Metalurgia; • Desgaste; • Defeitos internos; • Lubrificação. 36 Porém, na literatura disponível não é encontrada uma relação direta entre tais condições e a velocidade de circulação nessas condições. As relações existentes, traduzem limites de tolerância de desgastes em relação as toneladas úteis transportadas, o que é fundamental quando é calculada a vida útil de um trilho em uma determinada condição, bem como seu referido desgaste. Neste caso, a fim de se adquirir uma relação entre tais condições do trilho e a respectiva velocidade de circulação recorremos novamente ao autor Castello Branco, J. E., onde é discutido o assunto: Projetos-tipo para o sistema roda-trilho em ferrovias Heavy Haul (Ferrovias com alta carga por eixo). “ As ferrovias que operam com altas densidades de tráfego e cargas por eixo, denominadas heavy haul, apresentam uma série de problemas na área de manutenção, específicos do rigor de suas condições operacionais, especialmente a rápida degradação dos componentes do sistema roda-trilho. A importância desse assunto fez com que ferrovias de cinco países, com esse perfil de transporte pesado, fundassem em 1983 a International Heavy Haul Association – IHHA, com o objetivo de estudar e disseminar o conhecimento e a tecnologia daquilo que poderia ser considerado o estado-limite da exploração ferroviária. Em 1995, aderiram a essa entidade as ferrovias brasileiras do sistema CVRD”. (...) O sistema roda-trilho então é facilmente identificado como um ponto crucial de estudo. Acompanhado desta informação, o autor Castello Branco, J. E. (2002), traz uma série de tabelas da IHHA que servem de base para projeto e manutenção de ferrovias destacando pontos de atenção. A M.R.S. Logística S.A. enquadra-se a uma determinada tabela devido à sua carga por eixo: 37 Elemento do sistema roda-trilho Tonelagem bruta anual transportada (milhões) > 50 30 a 49 20 a 29 AMV Trilho premium; jacaré premium tangencial de ponta com mola. Trilho premium; jacaré premium de ponta fixa. Trilho premium; jacaré premium de ponta fixa. Dormentação Madeira premium e espaçamento de 50 cm; ou concreto monobloco e espaçamento de 60 cm. Madeira premium e espaçamento de 50 cm; ou concreto monobloco e espaçamento de 60 cm. Madeira premium e espaçamento de 50 cm; ou concreto monobloco e espaçamento de 60 cm. Fixação Elástica em curva; elástica ou rígida em tangente Elástica em curva; elástica ou rígida em tangente Elástica em curva; elástica ou rígida em tangente Lastro Altura de lastro de 30 cm; altura de sublastro de 20 cm, ombro de lastro de 30 cm. Altura de lastro de 30 cm; altura de sublastro de 20 cm, ombro de lastro de 30 cm. Altura de lastro de 25 cm; altura de sublastro de 10 cm, ombro de lastro de 30 cm. Roda - desgaste da região central da banda Limitar a existência de desgaste que produza concavidade superior a 2 mm. Limitar a existência de desgaste que produza concavidade superior a 3 mm. Limitar a existência de desgaste que produza concavidade superior a 3 mm. Roda - perfil Projeto específico. AAR 1B ou equivalente. AAR 1B ou equivalente. Roda - tipo AAR classe C, tratada termicamente, com diâmetro de 900 mm, ou equivalente. AAR classe C, tratada termicamente, com diâmetro de 900 mm, ou equivalente. AAR classe C, tratada termicamente, com diâmetro de 900 mm, ou equivalente. Trilho - desgaste Medições freqüentes para assegurar utilização ótima. Medições freqüentes para assegurar utilização ótima. Medições freqüentes para assegurar utilização ótima. Trilho - esmerilhamento Periódico, para remoção de corrugações, de defeitos superficiais, e de fluxo de metal nas juntas. Periódico, para remoção de corrugações, de defeitos superficiais, e de fluxo de metal nas juntas. Periódico, para remoção de corrugações, de defeitos superficiais, e de fluxo de metal nas juntas. Trilhos - inspeção de defeitos internos com ultra-som A cada 3 meses. A cada 4 meses. A cada 6 meses. Trilho - lubrificação em trecho de curva (coef. de atrito µ) Canto da bitola: µ < 0,25 a 0,30; topo do boleto: µ < 0,35 a 0,40 (∆µ = 0,10 a 0,15 entre trilhos externo e interno). Canto da bitola: µ < 0,25 a 0,30; topo do boleto: µ < 0,35 a 0,40 (∆µ = 0,10 a 0,15 entre trilhos externo e interno). Canto da bitola: µ < 0,25 a 0,30; topo do boleto: µ < 0,35 a 0,40 (∆µ = 0,10 a 0,15 entre trilhos externo e interno). Topo do boleto: µ > 0,35. Topo do boleto: µ > 0,35. Trilho - lubrificação em tangente (coef. de atrito Topo do boleto: µ > 0,35. µ) Trilho - metalurgia Aço-carbono em tangente; premium em curva. Aço-carbono em tangente; premium em curva. Aço-carbono em tangente; premium em curva. Trilho - perfil TR-68 ou UIC-60. TR-68 ou UIC-60. TR-68 ou UIC-60. Truque Radial ou de três peças otimizado. Radial ou de três peças otimizado. Radial ou de três peças otimizado. Via - inspeção da Geometria A cada 3 a 6 meses, com medição do perfil do trilho. A cada 4 a 6 meses, com medição do perfil do trilho. A cada 6 meses, com medição do perfil do trilho. Tabela 3 - Carga por eixo de 30 a 34 tf e terreno com predomínio de curvas de raio < 875m Fonte: Castello Branco, J. E. (2002) 38 Neste instante, devem-se concentrar todos os esforços apenas aos itens referentes aos trilhos. Conforme a tabela anterior verifica-se que as características dos trilhos sofrem pequenas alterações quando se varia a carga transportada por eixo. Caso fossem apresentadas as outras tabelas constituintes da IHHA para ferrovias que transportam a mesma quantidade de carga da Tabela 3, poderia ser verificado que outro ponto de mudança das características de conservação dos trilhos é no que diz respeito ao tipo de traçado (traçado com curvas predominantes de raio superior a 875m). Utilizando um raciocínio lógico, se os trilhos que compõem a via possuem as condições citadas na Tabela 3, não existem limitações de velocidade de circulação pelos parâmetros citados. Caso contrário, tais condições devem ser consideradas para a nova velocidade. Pensando na condição de desgaste dos trilhos, estas afetam diretamente a região de contato roda-trilho e consequentemente a velocidade. Citando novamente Castello Branco, J. E. (2002): “Nas tabelas antes mostradas são feitas apenas recomendações genéricas acerca do desgaste do boleto dos trilhos. Dessa forma julgou-se adequado complementá-las com indicações mais precisas acerca de tão importante tema. Nesse sentido, a Tabela 4 apresenta uma relação dos limites de desgastes, para utilização de trilhos de segunda-mão, elaborada pela AREMA e reproduzida por A&K (98). Em adição, nas Figuras 8 e 9 seguintes mostra-se a política da Canadian Pacific Railroad – CPR para gerenciamento dos desgastes nos trilhos nos perfis TR-57 e TR-68 (muito utilizados no Brasil), conforme relato de Roney (2001).” 39 Vias de utilização 1. Vias principais 2. Ramais principais 3. Ramais secundários 4. Pátios Perfil de trilho TR-68 TR-57 TR-45 TR-68 TR-57 TR-45 TR-68 TR-57 TR-45 TR-68 TR-57 TR-45 Máximo desgaste vertical (mm) 5,6 3,2 3,2 10,3 7,9 6,4 15,1 9,5 7,9 16,7 12,7 9,5 Máximo desgaste horizontal (mm) 12,7 7,9 3,2 19,1 19,1 4,8 22,2 19,1 7,9 25,4 22,2 9,5 Observações Admitidas mínimas queimas por patinação e corrugações Admitidas pequenas queimas por patinação e corrugações Admitidas queimas por patinação e corrugações médias e oxidadas Admitidas queimas por patinação e corrugações quaisquer, contanto que não tenham fraturado o trilho Tabela 4 - Limite de desgaste do boleto para trilhos de segunda-mão Fonte: Castello Branco, J. E. (2002).. Figura 8 – Perfil de desgaste de trilho 57. Fonte: Castello Branco, J. E. (2002).. 40 Figura 9 – Perfil de desgaste de trilho 68. Fonte: Castello Branco, J. E. (2002).. Apesar da simplicidade das informações, a Tabela 4 elaborada pela AREMA nos traz uma informação vital ao estudo aqui desenvolvido: o nível de tolerância dos defeitos superficiais dos trilhos aumenta a medida que se caminha em linhas com tráfego menos intenso e de menor velocidade. Ou seja, a medida que a velocidade de circulação diminui tem-se uma maior tolerância aos defeitos dos trilhos. Desta forma já se pode imaginar algumas correlações entre a velocidade e os defeitos de trilhos existentes. Recorrendo novamente a Castello Branco J. E. (2002), encontra-se um melhor detalhamento dos defeitos dos trilhos e suas respectivas ações reparadoras. Trata-se da norma da FRA (Federal Railroad Administration), subparte D – superestrutura da via, trilhos defeituosos: 41 Tabela de Ações Reparadoras Comprimento do defeito (cm) Defeito Mancha oval Área afetada pelo boleto (%) 5 a 70 70 a 100 100 5 a 70 70 a 100 100 5 a 25 25 a 80 80 a 100 100 Trinca composta Trinca de detalhe, Queima por patinação e solda defeituosa Trinca horizontal do boleto, Trinca vertical do boleto, Trinca da alma, Trinca vertical da alma e Trinca horizontal na concordância alma-boleto 2,5 a 5,0 5,0 a 10,0 > 10,0 * 1,25 a 2,5 2,5 a 3,75 > 3,75 * 2,5 a 15 > 15 Trinca estelar na furação da alma Ruptura do patim Ruptura sem causa aparente Trilho danificado Trilho achatado * * Adotar as medidas prescritas nas notas abaixo, caso o trilho não seja substituído B A2 A B A2 A C D [A2] ou [E e H] [A] ou [E e H] HeF IeG B A HeF HeG B A D [A] ou [E e I] A ou E D H Altura ≥ 1,0 Comprimento ≥ 20,0 * Na hipótese do boleto ter sido atingido por trinca originada em outra parte do trilho. Tabela 5 – Ações reparadoras Fonte:Castello Branco, J. E. (2002) A identificação de cada ação reparadora pode ser facilmente encontrada na norma apresentada da FRA. Para complementação das informações citadas, são válidas as seguintes observações: 42 - Artigo 213.7: trata da designação de pessoal qualificado para supervisionar certas renovações e inspeções de via. - Artigo 213.9: trata das classes de via e seus limites de velocidade conforme a tabela abaixo: Classe de via Via excepcional Classe 1 Classe 2 Classe 3 Classe 4 Classe 5 Velocidade máxima - Velocidade máxima carga (km/h) passageiro (km/h) 16 Circulação proibida 16 24 40 48 64 96 96 128 128 144 Tabela 6 – Classes de Vias Fonte: Federal Railroad Administration (FRA) - Artigo 213.237: trata da inspeção de trilhos. - Artigo 213.121: trata das juntas de trilhos. De acordo com as informações expostas na norma da FRA, é válida a utilização dessas informações para limitação de velocidade autorizada em trecho na ocorrência de algum dos defeitos relacionados pela tabela proposta na referida norma. Sendo assim, é conveniente converter as informações da norma da FRA em uma tabela condizente com limites de velocidades e situações da M.R.S Logística S.A. 43 Comprimento do defeito (cm) Defeito Mancha oval Área afetada pelo boleto (%) Adotar as medidas prescritas nas notas abaixo, caso o trilho não seja substituído 5 a 70 48 km/h 36 km/h Desde que autorizado por inspeção visual 0 km/h Obrigatória inspeção visual 70 a 100 100 Trinca composta 5 a 70 2,5 a 5,0 48 km/h 36 km/h Desde que autorizado por inspeção visual 0 km/h Obrigatória inspeção visual 48 km/h Para vias de classe 3 a 5 80 km/h Para vias de classe 3 a 5 com utilização de talas no defeito 48 km/h Para vias de classe 3 a 5 desde que autorizado por inspeção visual 80 km/h Para vias de classe 3 a 5 com utilização de talas no defeito [36 km/h Desde que autorizado por inspeção visual] ou [sem limitação desde que aplicando tala de junção e inspecionando o ponto do defeito durante 90 dias] [0 km/h Obrigatória inspeção visual] ou [80 km/h desde que aplicando tala de junção no defeito] 80 km/h e inspeção no ponto de defeito durante 90 dias após o ocorrido 5,0 a 10,0 48 km/h e inspeção no ponto de defeito 30 dias após o ocorrido 70 a 100 100 5 a 25 Trinca de detalhe, Queima por patinação e solda defeituosa 25 a 80 80 a 100 100 Trinca horizontal do boleto, Trinca vertical do boleto, Trinca da alma, Trinca vertical da alma e Trinca horizontal na concordância almaboleto > 10,0 48 km/h 0 km/h Obrigatória inspeção visual 80 km/h e inspeção no ponto de defeito durante 90 dias após o ocorrido 48 km/h e inspeção no ponto de defeito durante 30 dias após o ocorrido * * Trinca estelar na furação da alma 1,25 a 2,5 2,5 a 3,75 > 3,75 * * Ruptura do patim 2,5 a 15 > 15 Ruptura sem causa aparente Trilho danificado Trilho achatado 48 km/h 0 km/h Obrigatória inspeção visual 48 km/h Para vias de classe 3 a 5 desde que autorizado por inspeção visual 80 km/h Para vias de classe 3 a 5 com utilização de talas no defeito [0 km/h Obrigatória inspeção visual] ou [48 km/h desde que aplicando tala de junção no ponto de defeito] 0 km/h Obrigatória inspeção visual ou aplicar tala de junção no ponto de defeito 48 km/h Para vias de classe 3 a 5 desde que autorizado por inspeção visual 80 km/h Para vias de classe 3 a 5 com utilização de talas no defeito Altura ≥ 1,0 Comprimento ≥ 20,0 80 km/h * Na hipótese do boleto ter sido atingido por trinca originada em outra parte do trilho. Tabela 7 – Defeitos de trilhos e limitações de velocidade Fonte: Leonardo S. Soares 44 Dando continuidade ao estudo da influência das condições dos trilhos na velocidade máxima autorizada, utilizando como guia a Tabela 3 da IHHA citada na fase inicial de toda discussão, pode-se verificar que não só o desgaste dos trilhos é um fator que deverá ser considerado para análise de segurança e de velocidades. Outros itens relacionados aos trilhos devem ser considerados, dentre eles: periodicidade de esmerilhamento dos trilhos, periodicidade de inspeção com ultra-som e lubrificação dos trilhos. Tratando do esmerilhamento dos trilhos, ao se esmerilhar a superfície do boleto obtém-se a eliminação muitas irregularidades na superfície do mesmo, ou seja, removem-se os defeitos superficiais dos trilhos. Desta forma, haverá a otimização da superfície de contato e, consequentemente, o contato roda-trilho. Atualmente, não são encontradas referências de aumento de velocidade devido ao esmerilhamento de trilhos, mas sim, um alto índice de economia quanto a substituição de trilhos devido a desgaste proporcionado pelo tráfego intenso de composições. Quanto à inspeção realizada por ultra-som, novamente não são encontradas informações diretas quando é comparada a utilização deste dispositivo com a velocidade máxima de circulação estipulada para um determinado trecho. Na verdade, o ultra-som proporciona uma maior confiabilidade no trecho ferroviário inspecionado, uma vez que determina a possibilidade de ocorrência de uma fratura nos trilhos. Sendo assim, a utilização ou não do ultra-som na ferrovia não atua diretamente na velocidade, mas serve como um excelente indicador para manutenção atuar em um ponto específico, antes que a fratura exista. A lubrificação dos trilhos, assim como o esmerilhamento, é um fator preponderante na economia de desgaste dos trilhos. Trilhos lubrificados possuem uma maior durabilidade quando comparados a trilhos em regime de trabalho sem lubrificação. Porém, quando se procura informações que relacionam esta prática à velocidade de circulação, não se obtém muito sucesso utilizando a literatura disponível. A lubrificação tem como função reduzir o desgaste, e não o aumento ou redução de velocidade. 45 Algumas situações práticas demonstram que a utilização indevida deste recurso ocasiona problemas na circulação, como por exemplo: trilhos muito lubrificados em rampas provocam a patinação das rodas das locomotivas fazendo com que o trem perca velocidade em virtude da perda de aderência. Desta forma, verifica-se que excesso de lubrificação dos trilhos limita a velocidade, porém, esta limitação é indesejada uma vez que foi proporcionada por uma aplicação excessiva de lubrificante. Sendo assim, deve-se considerar que a lubrificação dos trilhos não é um fator limitante de velocidade em condições normais de operação. Continuando a seqüência utilizada pela Tabela 3 da IHHA, dois outros pontos devem ser considerados quando são analisados os trilhos: a metalurgia e o perfil do trilho. Estas características referem-se diretamente à tonelagem de carga por eixo que será transportada sobre o trilho. As características dos trilhos atendem especificamente a esforços que lhes serão transmitidos, e os esforços, estes sim, possuem uma relação direta com a velocidade. Portanto, deve-se atentar somente aos esforços sofridos pela via a uma determinada velocidade, e quanto ao tipo de trilho e sua composição, devem ser estudados de acordo com os esforços exercidos sobre a via durante a solicitação mecânica provocada pela passagem dos veículos ferroviários. Ainda tratando das condições dos trilhos, pode-se expandir o raciocínio além dos itens propostos da Tabela 3 da IHHA. Logicamente, nenhuma ferrovia é composta com trilhos de comprimento igual ao tamanho de suas malhas ferroviárias, os trilhos são devidamente soldados e/ou unidos através de juntas. Mesmo sendo algo relativamente simples, estas juntas são fatores de extrema importância quando estamos discutindo a respeito da estabilidade da via. Brina, H. L. (1979) descreve as juntas que compõem a ferrovia da seguinte forma: “6.1.5 As Juntas” 46 “A posição relativa das juntas, de um lado e outro lado das duas filas de trilhos, pode variar conforme se situem segundo uma mesma normal aos trilhos ou não. Quando as juntas, dos dois lados, ficam sobre uma mesma normal à linha, chamam-se juntas concordantes, ou paralelas. Caso contrário, chamam-se juntas alternadas.” (...) “Na Europa, parece mais generalizado o uso das juntas paralelas. Na América do Norte, bem como no Brasil, é adotado o sistema de juntas alternadas. As juntas paralelas favorecem o chamado movimento de galope, enquanto as juntas alternadas favorecem o movimento de balanço.” “Para linhas de padrão médio ou inferior, a prática indicou como mais prejudicial o movimento de galope, causando maior número de acidentes.” “As juntas podem ser ainda classificadas como apoiadas e em balanço.” “Durante muito tempo discutiu-se a questão de deixar a junta apoiada ou em balanço. Os partidários da junta apoiada alegavam que, sendo a junta um ponto fraco da linha, esta ficaria mais garantida, com o apoio sobre o dormente. Entretanto, a prática mostrou que, nas juntas apoiadas, os trilhos sofriam um rápido amassamento das pontas, devido aos choques das rodas nas extremidades dos trilhos.” “A explicação para esses choques está em que, quando a roda atinge a extremidade do trilho antes da junta, no caso da mesma ser apoiada, a deformação deste trilho é diferente da que se dá na extremidade do outro trilho, pois há uma tendência do dormente sob a junta, sofrer uma rotação, aumentando o recalque de um lado. Assim sendo, forma-se um ressalto na passagem de um trilho para o seguinte e por isso há o martelamento neste último.” 47 Figura 10 – Movimentação dos dormentes na região de junta. Fonte: Berna, H. L. (1979). Brina, H. L. (1979) descreve os principais fenômenos decorrentes da existência de juntas unindo os trilhos de uma via férrea, porém em seus estudos, não são realizados cálculos quanto ao espaçamento dos trilhos das juntas e as devidas concordâncias horizontais e verticais. Com toda certeza juntas mal niveladas unidas a uma velocidade relativamente alta de um determinado trem podem gerar uma combinação demasiadamente perigosa. Esta informação vital é encontrada através de Castello Branco, J. E. (2002) onde o autor transcreve a seguinte norma da FRA: “213.115 Desencontro das juntas dos trilhos” “O desencontro das pontas dos trilhos, nas juntas, não deve superar os valores estabelecidos na tabela a seguir:” 48 Desvio máximo no plano de rolamento das pontas dos trilhos (cm) Classe de via Desvio máximo no lado interno das pontas dos trilhos (cm) Classe 1 0,6 0,6 Classe 2 0,6 0,5 Classe 3 0,5 0,5 Classe 4 e 5 0,3 0,3 Tabela 8 – Desvios máximos para trilhos de junta (FRA) Fonte: Federal Railroad Adminstration (FRA) Ou seja, a norma da FRA traz a primeira informação de limitação de velocidade devido a uma condição de junta da ferrovia. Convertendo as classes de ferrovia que compõem a norma da FRA para velocidades máximas permitidas em trecho de trens de carga, pode-se trabalhar da seguinte forma com este novo fator limitante de velocidade: Velocidade Máxima Autorizada 16 km/h 40 km/h 64 km/h 128 km/h Desvio máximo no plano de rolamento das pontas dos trilhos (cm) Desvio máximo no lado interno das pontas dos trilhos (cm) 0,6 0,6 0,6 0,5 0,5 0,5 0,3 0,3 Tabela 9 – Desvios máximos para trilhos de junta Fonte: Leonardo S. Soares Ainda tratando na norma da FRA citada por Castello Branco, J. E. (2002), as juntas devem ser consideradas no cálculo de uma possível velocidade, não só pelos desvios máximos das regiões dos trilhos, mas também a como as placas de junção estão fixadas. Citando novamente um trecho da FRA sobre as juntas dos trilhos, Castello Branco, J. E. (2002) traz as seguintes informações adicionais: “213.121 Juntas de trilhos” 49 “(a) Toda tala de junção deve ser capaz de suportar os esforços do tráfego sobre a junta.” “(b) Nas classes de via 3 a 5 deverá ser substituída toda tala de junção trincada, quebrada, ou desgastada, que, mesmo com parafusos apertados, permita excessivo movimento vertical dos trilhos.” “(c) Se uma junta estiver trincada entre dois parafusos contíguos deverá ser substituída.” “(d) No caso de via convencional, com trilhos curtos, cada barra de trilho deverá ser unida à tala através de no mínimo dois parafusos nas vias de classes 2 a 5, e da no mínimo um parafuso na via de classe 1.” “(e) No caso de TCS (Trilho Curto Soldado), cada barra, ao final do trecho soldado, deverá ser unida à tala através de no mínimo dois parafusos.” “(f) Cada tala de junção deverá ser aparafusada às barras de trilhos contíguas de modo a suportar os esforços verticais do tráfego, porém permitindo o movimento longitudinal do trilho para acomodação dos esforços de tração e compressão oriundos da variação da temperatura. Quando essa movimentação longitudinal não for permitida, por projeto, as prescrições deste subitem não são aplicáveis. Sendo esse locais espaçados de mais de 120m, prevalecem os requisitos anteriormente descritos para TCS.” “(g) Nenhuma barra de trilho, nas vias classes 2 a 5, pode apresentar furação efetuada com maçarico.” “(h) Nenhuma tala de junção pode ser reconfigurada com o uso de maçarico nas vias classes 3 a 5.” Sintetizando as informações presentes na norma citada da FRA, pode-se trabalhar da seguinte forma: 50 Velocidade Máxima Autorizada 16 km/h 40 km/h 64 km/h Existência de talas de junção trincadas, quebradas, ou desgastadas Número mínimo de parafusos de tala Permitido* 1** Permitido* 2 Negativo (tala deve ser substituída) 2 128 km/h Negativo (tala deve ser substituída) 2 Tabela 10 – Condições das juntas dos trilhos (FRA) Fonte: Federal Railroad Adminstration (FRA) * Permitida a existência da tala desde que não exista trinca entre dois parafusos contíguos. ** Caso exista na via alguma situação de TCS (trilho curto soldado) este deverá ser fixado com pelo menos 2 parafusos de tala, para trilhos com medidas convencionais, é permitida a utilização de tala com apenas 1 parafuso desde que respeitando a VMA indicada. Desta forma, consegue-se visualizar facilmente fatores preponderantes de limitação de velocidade na aplicação de talas de junção nos trilhos. Porém, é verificado na norma da FRA certo rigor quando existe a utilização de maçaricos para confecção das talas de junção. De acordo com estudiosos do assunto, a utilização de maçarico nestas condições poderia acarretar numa modificação na estrutura do aço dos trilhos gerando danos a sua vida útil e resistência. Desta forma, nada mais conveniente do que analisar se trilhos cortados com maçarico, podem ser pontos frágeis na via e possíveis limitadores de velocidade de circulação de trens. Dando continuidade nas normas da FRA, existe um item específico somente para o tratamento deste assunto em questão: “213.122 Trilho cortado com maçarico” “(a) Excetuados os reparos temporários e de situações de emergência, nenhuma ponta de trilho poderá ter sido cortado com maçarico nas vias classes 3 a 5. Quando uma extremidade de trilho for cortada a maçarico em caso de emergência, a velocidade máxima será equivalente à de via classe 2.” (...) 51 Ou seja, para limites de velocidade acima de 40 km/h para trens de carga o uso do maçarico para corte dos trilhos é proibido. Sendo assim, vias que possuem barras cortadas com maçarico deverão ter sua velocidade limitada a 40 km/h. Finalizando o estudo das condições dos trilhos, cabe a análise dos trilhos longos soldados ou simplesmente TLS. Na prática ferroviária, torna-se comum a soldagem das barras de trilhos que compõem a linha principal de circulação assegurando-lhe uma melhor superfície de rolagem através dos trilhos. A M.R.S. Logística S.A utiliza frequentemente barras de trilhos com aproximadamente 240 metros. Brina, H. L. (1979) traz a seguinte informação sobre a utilização de trilhos soldados: “O emprego de trilhos longos oferece vantagens de ordem técnica e econômica. As juntas, como sabemos, são pontos fracos da via, pontos iniciais dos mais graves defeitos da linha que ocasionam maior número de acidentes de tráfego. Assim, o emprego deste tipo de trilho acarreta economia dos materiais dessas juntas e reduz os gastos da conservação da via. A prática tem mostrado que a conservação das juntas pode atingir mais de 40% da mão-de-obra gasta na via permanente, o que demonstra a vantagem da diminuição do número de juntas.” “Além disso, a soldagem das juntas vai possibilitar um movimento mais suave dos trens, maior conforto e também maior velocidade. Havendo um limite de comprimento dos trilhos na fabricação (comumente 18m), para obter-se trilhos mais longos recorre-se à soldagem das pontas.” Focalizando o estudo na questão da velocidade de circulação é possível imaginar que quanto menos imperfeições ocorrerem nos trilhos que compõem a via, melhores serão as condições de se desenvolver uma velocidade mais alta com maior segurança. Sendo assim a utilização de trilhos soldados pode ser considerada não como uma limitação de velocidade, mas sim como um critério de aumento de velocidade de circulação. 52 Recorrendo novamente às normas da FRA através de Castello Branco, J. E. (2002), identifica-se o seguinte critério na norma 213.119 que correlaciona alguns critérios de velocidade com a utilização de trilhos longos soldados: “213.119 Trilhos longos soldados (TLS)” “(...) (e) Procedimentos que controlem a velocidade em trechos de TCS quando:” “(1) Trabalhos de manutenção, reabilitação, construção, ou qualquer outro evento que cause distúrbio ao subleito ou lastro ferroviário redundem na diminuição da resistência lateral ou longitudinal da via;:” “(2) Na formulação dos procedimentos dos procedimentos deste subitem o proprietário de via deverá:” “(i) Determinar a velocidade requerida, e a duração e subseqüente remoção de restrição de velocidade baseada nas condições de recompactação do lastro, por meios mecânicos e/ou pelo tráfego;” “(ii) Levar em consideração o tipo de dormentação utilizado.” A norma da FRA também utiliza a sigla TCS para os trilhos longos soldados, que na verdade também podem ser chamados de trilhos continuamente soldados; razão pela da qual da sigla TCS. Note que a norma da FRA, assim como os demais autores consultados, não implica nenhuma restrição de velocidade devido a utilização de TLS, apenas ressalta a possibilidade de limitação de velocidade em virtude de alguma outra anomalia inerente a soldagem do trilho, como problemas de geometria ou lastro. Assim, conforme o esperado a utilização de TLS em trechos ferroviários pode ser considerada como um fator não representativo. 2.3.6. ESTABILIDADE DA VIA – DORMENTES 53 Para iniciar o estudo referente a estabilidade da via quanto aos dormentes utilizados, deve-se recorrer ao autor Brina, H. L. (1979): “4.1 DORMENTES” “O dormente é o elemento da superestrutura ferroviária que tem por função receber e transmitir ao lastro os esforços produzidos pelas cargas dos veículos, servindo de suporte dos trilhos, permitindo a sua fixação e mantendo invariável a distância entre eles (bitola).” “Para cumprir essa finalidade será necessário:” “a) que as suas dimensões, no comprimento e na largura, forneçam uma superfície de apoio suficiente para que a taxa de trabalho no lastro não ultrapasse certo limite,” “b) que a sua espessura lhe dê a necessária rigidez, permitindo entretanto alguma elasticidade,” “c) que tenha suficiente resistência aos esforços,” “d) que tenha durabilidade e” “e) que permita, com relativa facilidade, o nivelamento do lastro (socaria), na sua base;” “f) que se oponha eficazmente aos deslocamentos longitudinais e transversais da via;” “g) que permita uma boa fixação do trilho, isto é, uma fixação firme, sem ser excessivamente rígida.” Além das informações trazidas por Brina, H. L. (1979) deve-se acrescentar que atualmente são utilizados três tipos de dormentes que atendem de forma satisfatória os requisitos exigidos para sua respectiva função; são eles: dormentes de madeira, dormentes de aço e dormentes de concreto. Estão em fase de teste novos materiais, como polímeros, que venham a substituir os tipos de dormentes existentes. A pesquisa deste novos materiais se deve ao fato de que, atualmente, o tipo de dormente que melhor desempenha sua função é o dormente de madeira, gerando um grave problema ambiental devido a extração de madeira para este fim. Stopatto S. (1987) trata deste tema: 54 “O problema dos dormentes está se tornando o mais crucial para as ferrovias de todo o mundo. Não se pode por em dúvida que o dormente de madeira ainda é o melhor. Há países, como os Estados Unidos, em que o problema de suprimento de madeira tratada, com grande via útil, é quase desprezível. Mas mesmo lá (44), a situação já não se apresenta otimista.” (...) Nota-se que Stopatto S. (1987) complementa as informações de Brina, H. L. (1979) justificando que atualmente, além das características físicas, a escolha do tipo de dormente empregado deve considerar custos de implantação e impactos ambientais. Voltando ao princípio básico do nosso estudo, deve-se atentar às características dos dormentes que afetam a velocidade de circulação na ferrovia em virtude da estabilidade da via. Continuando o estudo de Stopatto S. (1987): “O espaçamento dos dormentes, detalhadamente analisado na reportagem da Railway Gazette (39), aqui comentada, está relacionado com as tensões dos trilhos e com a estabilidade da linha. Nas linhas de grandes densidades de tráfego, onde um trilho pesado já se justifique (por exemplo, o 140 RE – 69kg/m), a dormentação de 1850 dormentes por quilômetro é excelente. Acresce observar que as ferrovias americanas usam maiores quantidades por quilômetro, mas os seus dormentes têm menores dimensões que os nossos. Enquanto no Brasil o dormente de bitola larga é de 2,80 x 0,24 x 0,17 m, o americano, para a bitola de 1,44 m, é, na maioria das estradas, de 2,70 x 0,20 x 0,18 m.” Stopatto S. (1987) reforça os critérios passados por Brina, H. L. (1979), na qual o dormente está intimamente relacionado com a estabilidade da via. Além disso, no mesmo texto, surge um novo parâmetro fundamental para o estudo desta variável; a taxa de dormentação por quilômetro. Esta taxa, que remete o número de dormentes aplicados em um quilômetro de ferrovia, é fundamental quando se analisa a estabilidade da via pelos dormentes aplicados. 55 Tanto Stopatto S. (1987) quanto Brina, H. L. (1979) focaram seus estudos dos dormentes em função de características físicas e estruturais de manutenção, deixando de lado sua interferência direta com a velocidade de operação. Porém, Castello Branco, J. E. (2002) cita mais uma norma da FRA que atende este aspecto: “213.109 Dormentes” “(a) Os dormentes devem ser feitos de material capaz de receber e fixação do trilho.” “(b) Cada 12 m de via deverá ter:” “(1) Um suficiente número de dormentes que assegure:” “(i) Manutenção da bitola segundo 213.53(b);” “(ii) Manutenção do nivelamento segundo 213.63; e” “(iii) Manutenção do alinhamento segundo 213.55.” “(2) O número mínimo de dormentes e o tipo dos dormentes especificados nos subitens (c) e (d) deste item; e” “(3) Ao menos um dormente do tipo especificado nos subitens (c) e (d) deste item na região da junta, como prescrito no subitem (f) deste item." “(c) Cada 12 m de via deverá possuir: 5 dormentes na classe 1; 8 dormentes nas classes 2 e 3; 12 dormentes nas classes 4 e 5, que não estejam:” “(1) Quebrados integralmente;” “(2) Rachados os danificados de modo que não retenham a fixação do trilho;” “(3) Deteriorados a ponto de placa de apoio ou patim do trilho poderem se movimentar 1,3 cm relativamente aos dormentes;” “(4) Puncionados pela placa de apoio em mais de 40% da espessura do dormente.” “(d) Cada 12 m de via deverá ter o número mínimo e o tipo de dormentes indicado na tabela a seguir:” 56 Classe de via Via em tangente e curva com raio superior a 573m Aparelho de mudança de via e curva com raio inferior a 573m Classe 1 5 6 Classe 2 8 9 Classe 3 8 10 Classe 4 e 5 12 14 Tabela 11 – Mínimo de dormentes por classe de via e curvatura (FRA) Fonte: Federal Railroad Administration (FRA) “(e) Os dormentes do subitem (d) acima não deverão estar:” “(1) Inteiramente rachados;” “(2) Rachados os danificados a ponto de permitirem a penetração do lastro, ou não mais reterem as fixações dos trilhos;” “(3) Deteriorados a ponto da placa de apoio ou patim do trilho poderem se mover 1,3 cm relativamente ao dormente; ou” “(4) Puncionados pela placa de apoio em mais de 40% de sua espessura.” ““(f) Vias classes 1 e 2 deverão possuir um dormente cujo eixo esteja compreendido numa distância de 61 cm do eixo da junta; nas vias classes 3 a 5, um dormente com eixo dentro de 46 cm contados do eixo da junta, ou dois dormentes, para cada lado da junta, cujos eixos estejam compreendidos numa distância de 61 cm a contar do eixo da mesma. A posição relativa desses dormentes é mostrada nas figuras a seguir. 57 Figura 11 – Espaçamento de dormentes em região de juntas Fonte: Castello Branco, J. E. (2002) “(g) Para vias construídas sem dormentação, como vias em laje, vias assentes diretamente em componentes estruturais de pontes, e vias sobre valas de serviço, sua estrutura deve obedecer aos requisitos dos subitens (b)(1)(i), (ii), e (iii) deste item”. De certa forma, a norma da FRA correlaciona características físicas dos dormentes com a velocidade de circulação de trens, devido a parâmetros de estabilidade da via. Porém, a M.R.S. Logística S.A tem como preferência trabalhar com taxas de dormentação por quilômetro. Logo, nada mais sensato, que converter a norma da FRA muito bem estruturada, para parâmetros utilizados pela empresa: 58 Via em tangente e Aparelho de mudança de curva com raio via e curva com raio superior a 573m inferior a 573m (taxa de (taxa de dormentação) dormentação) 16 417 500 40 667 750 64 667 834 1167 128 1000 Tabela 12 – Mínimo de dormentes por classe de via e curvatura (MRS) Velocidade máxima autorizada (km/h) Fonte: Leonardo S. Soares Note que após a conversão da norma da FRA para parâmetros de taxa de dormentação por quilômetro, utilizada pela empresa, encontramos um número muito inferior de dormentes por quilômetros do que se era esperado. Torna-se evidente que a norma da FRA, além de ser desenvolvida para ferrovias com características americanas, considera apenas um número mínimo de dormentes que venham a garantir a estabilidade da via; e que estejam em condições ótimas de uso. Assim, a norma da FRA, traz informações importantes à respeito da taxa de dormentação correlacionada com a velocidade de circulação. Em síntese, deve-se possuir mais dormentes por quilômetro à medida que se aumenta a velocidade de circulação. Porém, as taxas de dormentação da FRA estão orientadas à características americanas, conforme dito anteriormente. Batist, M. (2002) demonstra tais informações focadas no contexto da ferrovia brasileira. Batist, M. (2002), traz para conhecimento a seguinte norma utilizada pela R.F.F.S.A: “3. DORMENTES” “3.1. Taxa Admissível de Dormentes Inservíveis (RFFSA, 91b)” 59 “A taxa de dormentação básica deverá ser a seguinte:” “bitola larga: 1.850 dormentes/km (madeira) e 1.666 dormentes/km (concreto);” “bitola estreita: 1.750 dormentes/km (madeira) e 1.515 dormentes/km (concreto).” “A taxa de dormentes inservíveis, em função do grupo de linha, da carga por eixo, do tipo de trilho e do alinhamento do eixo da ferrovia, será a mostrada na Tabela 13.” Grupo de Linha 1, 2, 3 Tipo de trilho 68 57 57 45 45 37 37 4, 5, 6 5, 6 * 7, 8, 9 7, 8, 9 * Carga por eixo (tf) 30 30 20 20 20 20 20 Taxa de dormentes inservíveis admissível (%) Tangente R ≥ 350 250 < R < 350 R ≤ 250 20 10 15 15 10 25 20 20 10 15 15 10 25 20 15 5 10 19 5 20 15 10 3 5 5 2,5 15 10 Tabela 13 - Taxa de dormentes inservíveis * grupos de linhas com transporte de cargas perigosas (exemplo: produtos inflamáveis). “Os espaçamentos máximos entre dormentes bons, eixo a eixo, em função do tipo de trilho, das cargas por eixo, e das tensões no trilho e no lastro, serão os indicados na Tabela 14.” Tipo de trilho Cargas por eixo (tf) TR - 37 TR - 45 TR - 57 TR - 57 TR - 68 20 20 20 30 30 Espaçamento máximo (cm) * para que a tensão no para que a tensão no trilho não seja lastro não seja ultrapassada ultrapassada 90 156 256 98 159 144 152 174 133 146 Espaçamento recomendado (cm) 90 152 174 98 146 Tabela 14 - Espaçamento máximo entre dormentes bons (*) Cálculo baseado em velocidades inferiores a 60km/h. “Não deverão existir dormentes inservíveis nas seguintes situações:” 60 “entrada e saída de curvas;” “curvas reversas;” “entrada de AMV (região de ponta da agulha até o coice) e também no cruzamento (região do coração do jacaré);” “túneis e pontes.” A fim de completar a apresentação da norma da RFFSA, um trecho de ferrovia se enquadra em determinados grupos, conforme a norma, através da seguinte tabela: Grupo 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Tonelagem bruta anual ≥ 40 24 - 40 14 - 24 9 - 14 4–9 2–4 1–2 0,5 – 1 ≤ 0,5 Tabela 15 - Espaçamento máximo entre dormentes bons. Fonte: R.F.F.S.A. Analisando a norma da RFFSA, verifica-sE que não existe uma relação direta entre a dormentação e a velocidade de circulação, conforme descrito na FRA. Porém a FRA não traz muitas informações quanto ao nível de desgaste dos dormentes, enquanto a norma da RFFSA, aborda bem este item. Utilizando as informações como embasamento, pode-se destacar que a norma da FRA será o principal limitante quanto a taxa de dormentação, visto que esta representa o mínimo admissível de dormentes por quilômetro que permita segurança na circulação. Quanto à norma da RFFSA, verifica-se que a M.R.S. Logística S.A. enquadra-se no grupo de linha 1, em virtude dos grandes volumes transportados. Desta forma, a tabela 61 13 da norma da RFFSA poderia ser resumida da seguinte forma, atendendo ao volume transportado pela empresa: Grupo de Linha 1, 2, 3 Tipo de trilho 68 57 Carga por eixo (tf) 30 30 Taxa de dormentes inservíveis admissível (%) Tangente R ≥ 350 250 < R < 350 R ≤ 250 20 10 20 10 15 5 10 3 Tabela 16 - Espaçamento máximo entre dormentes bons Fonte: R.F.F.S.A. Substituindo a coluna “Grupo de Linha” por “Extensão de Curva” e levando em consideração a taxa de dormentação citada na mesma norma para dormentes de madeira, ou seja 1850 dormentes/quilômetro, consegue-se quantificar o número máximo de dormentes inservíveis para diversas curvas: Extensão Carga Número de dormentes inservíveis admissível Tipo de de curva por eixo trilho Tangente R ≥ 350 250 < R < 350 R ≤ 250 (m) (tf) 100 68 30 37 37 27,75 18,5 100 57 30 18,5 18,5 9,25 5,55 200 68 30 74 74 55,5 37 200 57 30 37 37 18,5 11,1 300 68 30 111 111 83,25 55,5 300 57 30 55,5 55,5 27,75 16,65 400 68 30 148 148 111 74 400 57 30 74 74 37 22,2 500 68 30 185 185 138,75 92,5 500 57 30 92,5 92,5 46,25 27,75 600 68 30 222 222 166,5 111 600 57 30 111 111 55,5 33,3 700 68 30 259 259 194,25 129,5 700 57 30 129,5 129,5 64,75 38,85 800 68 30 296 296 222 148 800 57 30 148 148 74 44,4 900 68 30 333 333 249,75 166,5 900 57 30 166,5 166,5 83,25 49,95 Considerando uma taxa de dormentação de 1850 dormentes/quilômetro Tabela 17 – Número de dormentes inservíveis por extensão de curva e tipo de trilho Fonte: Leonardo S. Soares. 62 Desta forma, reunindo tais informações, obtém-se um fator que poderá limitar a velocidade de circulação através da qualidade de dormentes utilizados num determinado trecho da ferrovia. Quanto à possível limitação da velocidade através de quantidade de dormentes utilizados, além do referencial da norma da FRA, poderá ser utilizada a norma da RFFSA já citada, de forma a trabalhar com a taxa de dormentação por quilômetro. A idéia de se trabalhar com a norma da RFFSA e não com a norma da FRA, se faz devido ao fato de que a norma da RFFSA atende a ferrovias brasileiras, englobando o modelo de bitola, trilhos, curvas, tipos de dormentes, gerando resultados mais próximos da ferrovia da M.R.S. Logística S.A.. É válido ressaltar que não devem ser admitidas grandes quantidades de dormentes ruins próximos ou em seqüência, uma vez que tais dormentes, não fornecem a devida sustentação aos trilhos. Trabalhando novamente com a tabela 14 da RFFSA, enfocando agora apenas características da M.R.S. Logística S.A, temos: Tipo de trilho Cargas por eixo (tf) TR - 57 TR - 68 30 30 Espaçamento máximo (cm) * para que a tensão no para que a tensão no trilho não seja lastro não seja ultrapassada ultrapassada 98 159 Espaçamento recomendado (cm) 133 146 98 146 Tabela 18 – Espaçamento de dormentes recomendado Fonte: R.F.F.S.A. Sendo assim, quando a via possuir dormentes ruins que ocasionem num distanciamento dos dormentes bons maior que o representado pela coluna “Espaçamento recomendado” da tabela anterior, a velocidade deverá ser reduzida, devido ao risco da via através dos dormentes não suportarem os esforços proporcionados pela passagem dos trens. 63 2.3.7. ESTABILIDADE DA VIA – FIXAÇÕES As fixações consistem nas peças que fixam os trilhos entre eles próprios ou entre os dormentes. Brina, H. L. (1979) considera todos os equipamentos de fixação como “acessórios dos trilhos” e os subdivide da seguinte forma: • Talas de junção; • Parafusos; • Arruelas; • Placas de apoio; • Acessórios de fixação rígida: o Prego de linha; o Tirefond; • Acessórios de fixação elástica: o Fixação tipo K ou GEO; o Grampo elástico duplo; o Grampo elástico simples; o Fixação Pandrol; 64 Figura 12 – Fixação tipo Pandrol. Fonte: Brina, H. L. (1979). • Retensores de trilho. Neste tópico, serão abordados apenas os equipamentos que permitem a fixação do trilho no dormente, visto que os equipamentos que fazem a junção dos trilhos, as talas de junção, já foram tratadas separadamente. A linha da M.R.S. Logística S.A trabalha com dois tipo de fixações possíveis: rígida ou elástica. Stopatto S. (1987) faz a seguinte observação acerca dos tipos de fixação existentes: “A fixação elástica, de uso muito reduzido nos Estados Unidos, mas amplamente difundida na Europa e no Japão, e que vem lentamente sendo introduzida no Brasil, é, sem dúvida, a melhor solução para a fixação dos trilhos aos dormentes. A EFVM (CVRD) a utiliza em sua duplicação da linha.” “Para as ferrovias normais, cujas linhas precisarão atender a várias categorias de trens cargueiros e, também, a trens de passageiros, os vagões de maior capacidade deveriam ser de 6 eixos, no máximo com 25 t, isto é, cerca de 150 toneladas brutas por vagão. Este vagão permitirá velocidades de até 100 km/h sem prejudicar os trens de passageiros com velocidades entre 120 e 150 km/h. A linha utilizaria trilhos de 69 kg/m (soldados), com fixação elástica e dormentes de concreto sobre lastro de 30 cm ou 65 mais. Construindo-se as plataformas com capacidade de suporte adequado ao tráfego previsto, será possível exigir da manutenção rigorosos padrões de alinhamento e nivelamento.” “Só assim teremos no Brasil linhas com satisfatórios padrões de confiabilidade para as nossas ferrovias recuperarem fluxos significativos, tanto de carga geral (trens rápidos) como de granéis (trens muito pesados).” Verifica-se claramente a tendência de Stopatto S. (1987) na defesa da fixação elástica. Tal defesa é bem fundamentada quando se analisa Brina, H. L. (1979) acerca das seguintes observações sobre os acessórios de fixação: “Inicialmente, pode-se dividir os tipos de fixação em rígidas e flexíveis. Estas últimas se diferenciam das primeiras por terem a propriedade de absorverem choques e vibrações, por meio de um ou mais elementos flexíveis e se comportarem melhor do que as fixações rígidas.” Ou seja, a fixação elástica, composta na maioria dos casos por grampos de fixação, tem uma tendência de melhor absorver os choques provocados na passagem de veículos ferroviários na via. Desta forma, aumenta-se relativamente a vida útil de tais componentes visto que os mesmos estarão expostos a choques e vibrações de menores intensidades. Apesar de tais considerações, não foi citada nenhuma relação do tipo de fixação que melhor se adapta há uma determinada velocidade de circulação. Analisando novamente a tabela 3 da IHHA (demonstrada anteriormente), verifica-se a recomendação de fixação elástica em curvas e tangentes, ou de fixação rígida somente em tangentes. Porém a tabela da IHHA também não vincula tal informação à velocidade de circulação, esta se refere somente a quantidade de carga transportada por eixo, bem como o raio predominante de curva na região. 66 Aprofundando estudo, encontram-se as seguintes informações na FRA: “213.123 Placas de apoio” “(a) Nas classes 3 a 5, para dormentação em madeira, deverão existir placas de apoio em oito de cada dez dormentes consecutivos.” “(b) Nas classes 3 a 5, nenhum objeto metálico que possa causar concentração de tensões deverá ser colocado entre a base do trilho e a superfície de apoio da placa de apoio.” “213.127 Sistemas de fixação dos trilhos” “Os trilhos deverão ser fixados aos dormentes através de um sistema de componentes que efetivamente mantenha a bitola nos limites prescritos no 213.53(b). Cada componente de tal sistema deverá ser avaliado quanto ao cumprimento da tarefa de manutenção da bitola.” A FRA traz a primeira relação entre a velocidade de circulação e a fixação dos trilhos. Conforme descrito no item 213.123, em trechos onde a velocidade de circulação for maior ou igual a 64 km/h para trens de carga, não deverão existir mais do que dois dormentes sem placas de apoio num intervalo de 10 dormentes. Em situações reais, a ausência de placas de apoio em dormentes só se manifesta em linhas antigas e de pouquíssima circulação; porém existem com relativa facilidade, placas de apoio quebradas ou empenadas em determinados trecho da ferrovia devido a ação do desgaste. Placas de apoio quebradas não fornecem praticamente nenhum tipo de fixação quando comparada ao seu estágio inicial. Desta forma, uma placa de apoio nesta situação pode ser considerada como uma placa de apoio ausente no sistema de fixação do trilho. Assim, pode-se utilizar claramente a norma da FRA, utilizando como fator limitante, não a ausência da placa de apoio, mas sim, a existência de placas de apoio quebradas. 67 Dessa forma, em trechos onde a velocidade de circulação for superior a 64 km/h para trens de carga, não deverão existir mais do que dois dormentes com placas de apoio quebradas num intervalo de 10 dormentes. Como a placa de apoio não trabalha de forma singela na fixação da via, pode-se estender a referida situação para os demais componentes de fixação, tanto rígida como elástica, de forma a complementar as informações quanto a limitação da velocidade de circulação devido a fixação dos trilhos. Sendo assim, em trechos onde a velocidade de circulação for superior a 64 km/h para trens de carga, não deverão existir mais do que dois dormentes num intervalo de 10 dormentes com as seguintes situações: Com placas de apoio quebradas, Grampos quebrados ou sem pressão, Tirefons danificados de forma a comprometer seu aperto. É válido ressaltar que a literatura técnica atual restringe o estudo das fixações apenas a parâmetros estruturais e consolidação da via permanente. Não são encontradas relações entre o tipo de fixação empregada e a velocidade circulação permitida. Apenas estudos como a IHHA fazem recomendações acerca da utilização de uma determinada fixação para um determinado tipo de trecho com uma determinada tonelagem bruta anual. 2.3.8. ESTABILIDADE DA VIA – AMV Os AMV (Aparelho de Mudança de Via) são as principais ferramentas para realizações de manobras ferroviárias. Isso só é possível pelo fato dos AMV serem um 68 dos únicos componentes da via capazes de alterar a rota de circulação de uma determinada composição ferroviária; em outras palavras, é um dos únicos equipamentos capazes de fazer um veículo ferroviário mudar de via. Brina, H. L. (1979), conhecendo a importância de tal equipamento no contexto ferroviário, expõe as seguintes informações inciais sobre os AMV: “10.1.1 Aparelhos de Mudança de Via Comuns” “A sujeição do veículo ferroviário aos trilhos e a existência do friso nas rodas criam problemas, quando se deseja passar os veículos de uma linha para outra ou para um desvio.” “Para que o friso da roda tenha passagem livre, torna-se necessário introduzir uma aparelhagem que permita a interrupção do trilho, formando canais por onde passam os frisos.” “Daí a necessidade do chamado aparelho de mudança de via.” “Os aparelhos de mudança de via correntes ou comuns, às vezes chamados impropriamente de chaves, compõem-se das seguintes partes principais (Fig. 98):” - agulhas; - contra-agulha ou “encosto da agulha”; - aparelho de manobra; - trilhos de enlace ou de ligação; - “coração” ou “jacaré”; - calços; - coxins e - contratrilhos. Complementando a informação do Brina, H. L. (1979), Maltez C. R. O. nos traz as seguintes informações: 69 “O aparelho de mudança de via é considerado um elemento fundamental para as ferrovias, pois ele é que permite que a composição transponha a direção única permitida pela bitola da via, fazendo com que os veículos que nela circulam possam mudar a direção com uma maior flexibilidade de rotas, sem que o fluxo operacional seja interrompido.” “Muitas são as aplicações para esse equipamento, desde o uso em pátios a simples bifurcações de vias singelas. Muitas também são as escolhas para definir um desvio, a começar pela sua concepção.” (...) “No Brasil, a concepção AREMA é usada predominantemente em transporte de carga e passageiros (subúrbios) e a concepção UIC empregada com sucesso no transporte metropolitano (metrôs). Na norma de Classificação de Aparelho de Mudança de Via da ABNT (NBR-5558, item 4.1) os AMV são classificados como AMVA (AREMA) e AMVU (UIC), sendo essas abreviações usadas na continuidade deste texto.” Neste trabalho não será explorado o funcionamento de cada componente do AMV, uma vez que foge ao escopo do trabalho além de demandar algum tempo para a visualização de todo o funcionamento do AMV. Dessa forma, é recomendado ao leitor a leitura do capítulo 10 do livro “Estradas de Ferro” do autor Brina, H. L. (1979), que detalha bem o funcionamento. Analisando o capítulo supracitado do autor Brina, H. L. (1979), a descrição dos componentes do AMV são bem claras, porém também é verificado que mais uma vez, o AMV assim como as fixações, possuem um forte enfoque em termos estruturais e poucas relações com a velocidade de circulação. Na prática usual, quando composições ferroviárias forem ingressar em um determinado pátio ferroviário por meio de um AMV, a sua velocidade deve ser limitada a 40 km/h em vias com bom estado de conservação. Este valor de velocidade é comumente usado pelos mestres de linha em seus cálculos de campo para possíveis correções na via. 70 Analisando novamente Castello Branco J. E. (2002), verifica-se que o autor, faz um estudo bem detalhado de todo o funcionamento do AMV, bem como a correlação de todas as partes constituintes do equipamento. Além de todo este detalhamento do equipamento, também é descrito como o AMV pode ser considerado como um agente limitador de velocidade: “4. VELOCIDADES NOS AMV” “4.1. Velocidades Admissíveis em AMVA” “O manual da AREMA, em seu vol I, 5-3-11, recomenda que a velocidade seja calculada de forma a compensar a insuficiência da superelevação. Para garantir que as condições de transposição sejam semelhantes a uma determinada velocidade em uma curva normal, é sugerido que no AMV a superelevação tenha três polegadas a menos do que a superelevação necessária para o equilíbrio.” “Essa insuficiência, admitida pela AREMA em bitola de 1.435mm, corresponde a uma aceleração lateral não compensada de 0,50m/s². No Brasil, ABNT (97a) preconiza a aceleração lateral não compensada em 0,65m/s² para curvas em linha corrida, e, para AMV, a utilização do critério da norma americana.” “A aceleração lateral não compensada é o primeiro limitador de velocidade, já que a não variação desse parâmetro assegura condições equivalentes de desgaste, sobrecarga nos trilhos e também de conforto dos passageiros. O bom senso recomenda a utilização do valor recomendado pelo AREMA, uma vez que se está adotando a concepção dessa instituição para a fabricação, montagem e manutenção.” “Outro limitador de velocidade em AMVA é a agulha. Como já dito anteriormente, a agulha e o jacaré são trecho independentes do raio de ligação. No jacaré não há problemas quando a velocidade, pois aparece como um trecho reto após o desvio; mas a agulha, seja ela reta ou curva, apresenta ângulos e raios diferentes da ligação do AMV. Sendo assim, deve-se verificar a velocidade não só do raio de ligação mas também na agulha.” 71 “Quando a agulha é reta, obtém-se um raio equivalente para o cálculo desse trecho. Esse valor torna-se um parâmetro restritivo na escolha de uma composição ótima do AMV, pois a velocidade na agulha é sempre menor que a ligação do desvio, devido ao fato de possuir menor comprimento.” Nota-se Castello Branco J. E. (2002) descreve de forma clara como o AMV limita a velocidade de circulação das composições ferroviárias. Alguns termos descritos pelo autor, como superelevação, aceleração compensada, aceleração não compensada, serão mais bem explicados no decorrer deste trabalho uma vez que estão melhor relacionados com outro parâmetro de via permanente. Resumindo as informações supracitadas, Castello Branco J. E. (2002) descreve as seguintes expressões utilizadas para o cálculo da velocidade máxima admissível em um AMVA: - Para agulhas retas: Req = Lag / [2.tg(β/2)] Onde: Req: Raio equivalente da agulha em metros; Lag: Comprimento da agulha em metros; β: Ângulo da agulha em graus. - Para agulhas curvas: O raio equivalente da agulha é igual ao próprio raio da agulha curva. Req = Ragulha - Assim, a velocidade máxima na agulha (Vmax), em quilômetros por hora, para aceleração não compensada, recomendada pela AREA e pela ABNT, é dada por: VMAX = 3,6.(0,5.Req)1/2 72 - A região intermediária, ou seja, a ligação entre a agulha e o jacaré também obedece a esta expressão de velocidade conforma a norma da ABNT (97a). Trabalhando estas expressões com as medidas padrões de AMV existentes, Castello Branco J. E. (2002) traz a seguinte tabela que correlaciona velocidade de circulação com as composições de AMV: Agulha Bitola Jacaré (mm) (mm) V (km/h) 8 5029,2 1000 22,83 10 5029,2 1000 29,34 14 6705,6 1000 42,15 20 9144 1000 58,42 8 5029,2 1600 32,13 10 5029,2 1600 32,13 14 6705,6 1600 42,84 14 9144 1600 57,52 20 9144 1600 59,01 12 5943,6 1600 49,08 16 7924,8 1600 69,73 Tabela 19 – Velocidades para as composições de AMV Fonte: Castello Branco, J. E. (2002) Vale lembrar que as informações contidas na tabela anterior, referem-se a AMV que obedecem as recomendações da AREMA, ou seja, AMVA. Não serão abordadas as velocidades admissíveis em AMVU visto que, os AMV utilizados na MRS Logística S.A. seguem em sua totalidade as normas da AREMA; desta forma, um estudo detalhado de AMV que seguem as normas da UIC, sairá do foco do objetivo final deste estudo. Seguindo esta linha de trabalho, a R.F.F.S.A. também desenvolveu uma norma específica para velocidades em AMV de acordo com as características construtivas de cada um destes equipamentos. Batist, M. (2002) traz tais informações da seguinte forma: 73 “8. APARELHOS DE MUDANÇA DE VIA (RFFSA, 76ª)” “A compatibilização dos comprimentos das agulhas, o número máximo do jacaré, o raio equivalente e o raio do trilho curvo de ligação, com as velocidades máximas dos veículos ferroviários sobre os aparelhos de mudança de via, no sentido de sua otimização, deverá ser a mostrada nas Tabelas 20 e 21, para as bitolas larga e estreita, respectivamente.” Bitola larga Raio do trilho Velocidade Raio curvo externo máxima Jacaré equivalente Comprimento Ângulo de ligação (km/h) (m) (m) (graus) (m) 3,353 2º 42' 50'' 5 70,888 66,666 20,7 5,029 1º 48' 32'' 8 159,146 172,740 32,0 6,706 1º 21' 23'' 10 284,153 273,696 42,0 9,144 0º 59' 41'' 14 528,555 527,500 58,3 Tabela 20 – Compatibilização de elementos de AMV e velocidade na bitola larga Agulha Fonte: R.F.F.S.A. Bitola métrica Raio do trilho Velocidade Raio curvo externo máxima Jacaré equivalente Comprimento Ângulo de ligação (km/h) (m) (m) (graus) (m) 3,353 2º 42' 50'' 8 70,888 93,098 21,4 5,029 1º 48' 32'' 10 159,146 146,444 30,7 6,706 1º 21' 23'' 14 284,153 277,500 42,3 9,144 0º 59' 41'' 20 528,555 623,636 58,3 Tabela 21 – Compatibilização de elementos de AMV e velocidade na bitola métrica Agulha Fonte: R.F.F.S.A. Dando continuidade em seu estudo, Castello Branco, J. E. (2002) demonstra matematicamente a forma exata de cálculo do raio equivalente da agulha de um AMV. 74 Analisando a norma da R.F.F.S.A., nota-se um detalhamento maior das informações quando comparada com as informações citadas inicialmente neste tópico. As informações presentes na norma da R.F.F.S.A. são mais adequadas ao tipo de via permanente trabalhado pela M.R.S. Logística S.A. Em alguns trechos de caráter mais histórico, como a linha do centro, alguns AMV não possuem suas dimensões presas a padrões “ideais”. Entre outras palavras, podemos dizer que o AMV possui partes em uma dimensão e os demais componentes foram adaptados de forma a formarem o AMV. Um exemplo clássico é o raio do trilho curva externo de ligação, que em alguns casos, não obedece as dimensões estipuladas pela tabela 20 da norma da R.F.F.S.A. quando montado com uma determinada agulha e um outro tipo de jacaré. Dessa forma, em virtude da norma da R.F.F.S.A. utilizar um maior número de informações, pode-se trabalhar melhor cada variação existente e sua respectiva interferência com a velocidade de circulação dos trens quando inscritos em um AMV. 2.3.9. GEOMETRIA DA VIA - TRAÇADO Atualmente, o traçado da via férrea é um fator preponderante no que diz respeito a cálculos de possíveis velocidades de circulação para trens de carga e de passageiros. Em muitos casos, principalmente em trens de alta velocidade, a geometria de via deve adequar-se à velocidade que deverá ser desenvolvida pelos trens circulantes; ou seja, a velocidade de circulação passa a ser o parâmetro de referência para as medidas da superestrutura ferroviária. Durante sua operação, a via férrea sofre inúmeros esforços referentes à passagem de veículos ferroviários, bem como de outras fontes externas. Brina, H. L. (1979) classifica tais esforços em três categorias: 75 - Esforços verticais: esforços que têm a direção normal ao plano do trilho. - Esforços longitudinais: esforços que têm a direção paralela ao longo do trilho. - Esforços transversais: esforços que têm a direção perpendicular ao comprimento do trilho. Quando se tratando de traçado de uma via férrea, devemos nos atentar somente a situações geométricas planas. Ou seja, iremos nos atentar somente às curvas que compõem a estrada de ferro, deixando dessa forma com que os cálculos do perfil longitudinal sejam executados posteriormente. Assim, trabalhando somente com as curvaturas existentes na via, os esforços transversais tornam-se imensamente importantes nesta etapa do estudo, uma vez que estes esforços serão os mais significativos em situações onde veículos ferroviários estão inscritos em curvas. Sendo assim, trabalharemos primeiramente estes tipos de esforços e no desenvolvimento deste trabalho, abordaremos os outros esforços existentes. De acordo com Brina, H. L. (1979) os esforços transversais podem ser classificados da seguinte forma: “7.1.3 Esforços Transversais” “a) Força centrífuga – nas curvas, a força centrífuga, não compensada pela superelevação do trilho externo, produz um esforço transversal no referido trilho.” “b) Movimento de lacêt – nas retas, devido à irregularidade da via ou defeitos no material rodante, surge um movimento do veículo, em torno de um eixo normal ao plano dos trilhos, fazendo com que ora a roda externa de um lado, ora do outro, se o choque transversalmente ao trilho, no sentido de alargar a bitola.” “c) Vento – como o material rodante oferece uma superfície exposta considerável, um forte vento pode criar um esforço dos frisos das rodas, no sentido transversal à linha.” 76 Assim como Brina, H. L. (1979), será discutido inicialmente o efeito da força centrífuga na passagem de veículos ferroviários em curvas e como tal iteração pode conduzir a uma limitação de velocidade. Brina, H. L. (1979) descreve a seguinte relação entre a força centrífuga e a superelevação: “Em uma via ferroviária estabelecida num plano horizontal, a força centrífuga deslocará o veículo no sentido do trilho externo, provocando neste um forte atrito através dos frisos das rodas. Se a grandeza da força centrífuga exceder certo limite, poderá ocorrer o tombamento do veículo.” “Para contrabalançar o efeito nocivo da força centrífuga, inclina-se a via ferroviária de um ângulo α, elevando o trilho da curva, através da inclinação do dormente, de modo a criar uma componente que equilibre a força centrífuga. A maior altura do trilho externo em relação ao interno é o que se denomina de superelevação do trilho ou superelevação da via.” Brina, H. L. (1979) mediante alguns cálculos físicos chega à seguinte expressão para o cálculo da superelevação da via: h= B.V² 127.R Sendo: h – valor da superelevação em metros; B – medida de bitola em metros; R – raio da curva em metros; V – velocidade em km/h. Apesar de a equação estar completamente correta em termos físicos, Brina, H. L. (1979) faz corretamente a seguinte observação sobre a expressão anteriormente 77 proposta para o cálculo da superelevação em função da velocidade de circulação que se deseja impor em um determinado trecho: “Atribuindo-se então à superelevação o valor dado pela expressão (1), tem-se totalmente equilibrada a força centrífuga e a resultante R passado pelo centro da via.” “Para cada valor de V e de R, ter-se-á certo valor para a superelevação.” “Entretanto, uma curva de raio R pode ser percorrida por trens de velocidades diferentes: trens rápidos, de passageiros e trens lentos, de carga.” Ou seja, a equação preocupa-se em equilibrar o regime de forças atuantes no veículo ferroviário para uma única e determinada velocidade. Dessa forma, aumentando-se consideravelmente a velocidade para uma curva de raio pequeno temse uma superelevação que poderá simplesmente tombar um trem quando o mesmo for parar dentro da determinada curva. Por exemplo, se a velocidade de circulação em um trecho de bitola larga é de 70 km/h, numa curva de raio de 250 metros, deveria haver uma superelevação de aproximadamente 0,24m ou 24 cm. Atualmente, tal nível de superelevação nas linhas da M.R.S. Logística S.A., é considerada um defeito de geometria. Desta forma, Brina, H. L. (1979) considera que tal expressão é apenas uma referência que nos demonstra em qual situação irá se obter um conjunto de forças completamente balanceado durante a inscrição de um veículo ferroviário em uma dada curva. Uma vez que o equilíbrio total das forças atuantes no veículo ferroviário quando em movimento e inscrito numa curva não deve ser considerado para o cálculo da superelevação, deve-se começar a discutir em que nível as forças não equilibradas colocam em risco a circulação ferroviária. Se não existe o equilíbrio total das forças atuantes, uma pequena parcela de tais forças ficará desbalanceada. 78 Brina, H. L. (1979) continuando seu estudo específico de superelevação, cita alguns critérios empíricos comumente adotados para o cálculo do valor de superelevação para determinadas velocidades de circulação; como por exemplo: considerar a velocidade máxima de circulação para cálculo ¾ da velocidade máxima permitida, utilizar o método da Bélgica que considera as diversas velocidades de circulação com a tonelagem bruta dos trens e através de uma média é extraída a velocidade de cálculo da superelevação, utilizar o critério dos Italianos que calcula a velocidade de cálculo da superelevação levando em consideração a velocidade máxima de circulação bem como a menor velocidade desenvolvida por um trem no mesmo percurso. A fim de nivelar todos estes métodos anteriormente propostos, Brina, H. L. (1979) propõe a seguinte forma de cálculo para superelevação, chamada de “Critérios Racionais”: “8.1.2 Critérios Racionais” “Existem dois critérios para o cálculo da superelevação, que poderíamos chamar de critérios racionais:” “a) critério da segurança ou estabilidade do veículo na curva” “b) critério do conforto.” Como neste trabalho a delimitação do assunto compreende unicamente o trecho operado pela M.R.S. Logística S.A., o critério do conforto trazido por Brina, H. L. (1979) não será significativo, visto que a companhia não possui em sua área de atuação a circulação de trens de passageiros. O critério do conforto pode ser resumido da seguinte forma, conforme explicação do autor Brina, H. L. (1979): “8.1.2.2 Critério do Conforto” 79 “Por este critério, a superelevação prática é dada de modo que o valor da aceleração centrífuga não equilibrada não cause desconforto aos passageiros.” Conforme explicado anteriormente, a situação proposta por Brina, H. L. (1979), não se enquadra no perfil de linhas da M.R.S. Logística S.A. devido a sua operação com trens de carga. Por outro lado o critério de segurança é fundamental para o tipo de operação da M.R.S. Logística S.A. Novamente utilizando os conceitos de Brina, H. L. (1979): “8.1.2.1 Critério da Segurança” “Consiste em dar à superelevação para a velocidade máxima, um valor menor do que teórico (ht), isto é:” “hp < ht (hp = superelevação prática)” “Desse modo, parte da força centrífuga não é equilibrada, mas a estabilidade é garantida através de um coeficiente de segurança”. Brina, H. L. (1979) cita uma informação de fundamental importância para os trabalhos: o coeficiente de segurança. Este poderá ser o principal fator que limita a velocidade de circulação. Desenvolvendo todo um cálculo matemático em torno das forças atuantes no veículo ferroviário no momento de sua inscrição em uma dada curva, Brina, H. L. (1979) descreve a seguinte equação para o cálculo da superelevação prática: hp = B.V² B (B/2-d) 127.R H.n Acompanhada da seguinte explicação: 80 “O valor de H, altura do centro de gravidade em relação aos trilhos, deverá ser pesquisado para os diversos tipos de veículos.” “Para algumas locomotivas diesel-elétricas, esse valor é de 1,50m e para vagões fechados, com o carregamento até o teto, o valor de H pode atingir 1,80m.” “Para d – deslocamento do centro de gravidade, pode-se tomar aproximadamente igual a 0,10m.” “n = coeficiente de segurança, geralmente é tomado igual a 5.” “Então, adotando-se a superelevação dada pela expressão acima, para a velocidade máxima, tem-se a garantia de estabilidade na curva, através do coeficiente de segurança n.” “Por outro lado, vê-se que a superelevação teórica foi diminuída, de modo a não ser excessiva para trens de carga.” “Entretanto, como veremos posteriormente, os trens lentos, de carga, deverão ter uma velocidade mínima Vmín para que também passem com segurança pela curva de raio R sem correrem o risco de tombar para o lado de dentro da curva.” Nota-se que as informações trazidas por Brina, H. L. (1979) são de fundamental importância para o desenvolvimento deste trabalho. A expressão interliga a variável velocidade de forma direta a outras variáveis presentes na via permanente, ou seja, uma determinada condição destas variáveis da via irá gerar diretamente uma influência na velocidade. Tais condições são tão críticas que podem caracterizar uma condição de risco para a circulação a ponto de promover o tombamento de toda uma composição a uma dada velocidade. Analisando novamente a expressão de Brina, H. L. (1979), verifica-se que ela trata das seguintes variáveis correlacionando-as: bitola da via, velocidade de circulação, raio de curvatura, altura do centro de gravidade do veículo, coeficiente de segurança e deslocamento do centro de gravidade. 81 Algumas das variáveis utilizadas por Brina, H. L. (1979) podem ser facilmente medidas no campo, através de instrumentos simples ou através do veículo de inspeção de via utilizado pela M.R.S. Logística S.A, o Track-star. Estas variáveis são: Bitola da via; Raio de curvatura; Superelevação local. Outras variáveis podem ser facilmente pesquisadas e calculadas através de informações existentes sobre o material rodante: Altura do centro de gravidade; Deslocamento do centro do gravidade (devido à compressão das molas de suspensão do veículo ferroviário). Desta forma, trabalhando a expressão descrita por Brina, H. L. (1979), tem-se: B B (B/2-d) ) =V √( hp + H.n 127.R Como foi verificado, a equação foi modificada de forma a seu resultado gerar a velocidade máxima de circulação no trecho em função das condições de geometria e traçado da via. Esta informação é primordial não somente pelo resultado gerado, mas também pela capacidade de se obter todos os dados desejados. Com o veículo de inspeção de via e as informações pesquisadas do material rodante é possível de se calcular a velocidade máxima permitida para a circulação em um dado trecho para um dado coeficiente de segurança. Ou ainda baseado no veículo de inspeção de via, para cada nova inspeção, pode-se obter uma nova velocidade de circulação em cada ponto da via, de acordo com sua qualidade, sua geometria. 82 Porém, mesmo na expressão anterior, descrevendo-se vários fatores da via para uma determinada velocidade, estar-se-á arbitrando um valor para o coeficiente de segurança. Seria um tanto ideal, que tal valor não fosse arbitrado, mas sim calculado através de condições inerentes a própria via. Prosseguindo o estudo desenvolvido por Brina, H. L. (1979) para solucionar tal questão, é necessária a determinação de mais um fator diretamente influenciado pela velocidade e as condições da via, a Excentricidade da Resultante em Relação ao Centro da Via: “8.1.3 Determinação da Excentricidade da Resultante em Relação ao Centro da Via” “As Normas Técnicas para as Estradas de Ferro Brasileiras, estabelecem que a resultante das forças que atuam sobre os veículos deverá fica contida no terço médio central da bitola, tanto para um trem mais rápido quanto para o trem parado sobre a curva.” “Assim sendo, vamos calcular o valor da excentricidade da resultante e relacionar essa excentricidade, com o coeficiente de segurança n contra o tombamento.” Desenvolvendo expressões baseadas nos momentos de “reviramento” e de “estabilidade” dos veículos; Brina, H. L. (1979) descreve a seguinte expressão para o cálculo do coeficiente de segurança: 83 Figura 13 – Diagrama de forças atuantes Fonte: Brina, H. L. (1979) B -d 2 n= x-d Ou seja, para uma dada bitola, um dado deslocamento permitido para o centro de gravidade do veículo e o deslocamento máximo em relação ao centro da via, tem-se um coeficiente de segurança local. Sendo assim, conforme a expressão anterior, torna-se interessante utilizar dados obtidos pelos veículos de inspeção de via para extrair coeficientes de segurança de locais específicos do trecho e utiliza-los como possíveis referências de cálculos de velocidades locais. Os veículos de inspeção de via fornecendo a bitola local, o deslocamento máximo do centro de gravidade do veículo conseguido através de cálculos do mesmo e o deslocamento máximo em relação ao centro da via poderão fornecer o coeficiente de segurança real em cada situação de via, auxiliando em cálculos de velocidade nesta diretriz. 84 Caso seja interessante, Brina, H. L. (1979) complementa suas equações com a expressão que gera o deslocamento em relação ao centro da via do centro de gravidade em função não do coeficiente de segurança, mas sim através de outras variáveis, como velocidade e superelevação: x=H ( V² hp ) +d 127.R B Ou ainda, pode-se descrever a superelevação em função da excentricidade da resultante: hp = ht - B x-d H Consegue-se então identificar que Brina, H. L. (1979) traz uma série de informações fundamentais, englobando vários aspectos da geometria da superestrutura da grade ferroviária. Dando prosseguimento na análise dos seus estudos, chega uma informação crucial, a velocidade limite das curvas. Tal informação é utilizada hoje pela M.R.S. Logística S.A para determinação da velocidade máxima autorizada na maior parte dos trechos do circulação. Trazendo o que Brina, H. L. (1979) propõe: “8.2 VELOCIDADE LIMITE NAS CURVAS” “A velocidade máxima com que um trem pode percorrer uma curva é função, como vimos, do raio da curva e da superelevação dada à mesma. Essa velocidade denominase velocidade mínima.” “Se nas expressões já deduzidas para a superelevação prática colocarmos o valor de hmáx., a velocidade correspondente será a velocidade limite.” “Mas, qual o valor de hmáx.?” “Existem diversos critérios, todos empíricos. Nas ferrovias européias, esse valor máximo varia de 15 a 18 cm (bitola 1,44 m).” “Alguns autores indicam hmáx., 10% da bitola.” 85 “A norma brasileira diz que a superelevação em milímetro poderá abranger excepcionalmente a 125 vezes a bitola da via expressa em metros. Isto daria um máximo de 12,5 cm para a bitola de metro e 20,0 cm para a bitola de 1,60 m.” “Estradas de ferro brasileiras, em geral, adotam:” “hmáx. = 18 cm para a bitola de 1,60 m e” “hmáx. = 10 cm para a bitola de 1,00 m.” Desenvolvendo demonstrações matemáticas e físicas conforme realizado por Brina. H. L. (1979), encontra-se as seguintes expressões para cálculo de hmáx.: hmáx. = B B ( -d ) H.n 2 hmáx. = B ( xp H -d ) Trabalhando com expressões que envolvem o cálculo da velocidade conforme demonstrado anteriormente e de forma análoga a análise de Brina, H. L. (1979), tem-se o cálculo da velocidade atendendo a dois critérios também demonstrados anteriormente. O critério da segurança e o critério do conforto: - Critério da segurança: Vmáx. = √ ( 127.( hmáx. B B -d 2 + )).√R H.n - Critério do conforto: Vmáx. = √ ( 127.( hmáx. + ∆h )).√R B Desenvolvendo o estudo baseado numa ferrovia de carga, conforme explicado anteriormente, deve-se direcionar novamente o estudo no critério da segurança uma vez que, para trens de carga, o critério de conforto torna-se ineficiente. Fazendo substituições de valores na equação desenvolvida por Brina, H. L. (1979) e de forma análoga ao seu estudo, pode-se considerar: 86 hmáx. = 0,18m B = 1,67m d = 0,10m H = 2,00m n=5 Portanto: Vmáx. = 4,8.√R Tal resultado em virtude da substituição de valores adotada já era esperado, uma vez que a M.R.S. Logística S.A já utiliza um parâmetro para determinação da velocidade similar ao calculado neste trabalho. Desta forma, surge a primeira informação que correlaciona cálculos teóricos com a prática atual de determinação de velocidade utilizada pela companhia. Tal dado é de fundamental importância, pois determina que a M.R.S. Logística S.A utiliza a variável de geometria e traçado como fator determinante de velocidade máxima autorizada nos trechos por ela operados. Porém, trabalhando desta forma, a companhia restringe velocidades operacionais considerando apenas uma informação de via permanente, fixando valores que podem ser alterados e que podem ser medidos, como: superelevação, centro de gravidade de veículos ferroviários, bitola, etc. Sendo assim, é ideal que exista a integração das informações coletadas do Track-star numa base de dados e que esta base de dados, seja utilizada para cálculos de velocidade máxima autorizada, bastando apenas inserir tais informações num cálculo conforme o desenvolvido por Brina, H. L. (1979) e demonstrado neste trabalho. Continuando o estudo da variável geometria e traçado seguindo como base as informações trazidas por Brina. H. L. (1979), surge então a questão referente a 87 velocidade mínima dos trens de carga que trafegam na mesma via que dos trens de passageiros. Tal fato é levado em consideração por Brina. H. L. (1979) visto que as vias de circulação de trens de passageiros, utilizam parâmetros de superestrutura voltados ao critério do conforto. O tratamento consiste na superelevação. A fim de balancear as forças atuantes sobre os carros de passageiros, deve-se elevar a superelevação a um nível superior ao que se deveria utilizar para um simples trem de carga. Para trens de passageiros em trechos de baixas velocidades, os efeitos são mínimos, porém, em trechos onde a velocidade pode ser maior, a superelevação deve ser aumentada de melhor equilibrar as forças atuantes nos carros de passageiros. Desta forma surge o seguinte problema: quando um trem de carga circular com velocidade bem inferior ao trem de passageiro que circula no mesmo trecho, a superelevação que uma hora equilibra as forças atuantes nos trens de passageiros torna-se o principal fator de desequilíbrio nos vagões de carga. Assim, devido a superelevação agora excessiva surge uma resultante de forças extremamente forte para o lado interno da curva, podendo gerar inclusive o tombamento do veículo ferroviário para o lado de dentro da curva. Atualmente a M.R.S. Logística S.A não possui trechos de circulação que existam trens de passageiros, porém tal informação torna-se enriquecedora visto que trens da companhia circulam em trechos de outras operadoras que contemplam trens de passageiros em sua malha. Desta forma a M.R.S. Logística S.A deve se atentar a possíveis variações de velocidades de circulação nestas operadoras, discutindo sobre a diferença imposta por esta condição da via a trens de carga ou de passageiros, uma vez que é de responsabilidade da operadora do trecho a determinação da velocidade de circulação. Verificada a magnitude da importância desta variável ao desenvolvimento dos estudos, torna-se um tanto viável, consultar o que outros autores além de Brina. H. L. (1979) trazem sobre a geometria da via em traçado. 88 Consultando novamente Castello Branco, J. E. (2002), o mesmo reporta-se inicialmente a seguinte norma traduzida da FRA: “SUBPARTE C – GEOMETRIA DA VIA” “213.51 Escopo” “Esta subparte prescreve os requisitos mínimos de bitola, alinhamento, e nivelamento da via, e ainda da superelevação de trilhos externos e as limitações da velocidade em curvas.” As informações da FRA trazidas por Castello Branco, J. E. (2002) têm um enfoque mais abrangente que o estudo de Brina. H. L. (1979). São incluídos outros pontos que devem ser considerados, como bitola, alinhamento e nivelamento da linha. Sendo assim, torna-se interessante analisar cada um dos tópicos propostos pela norma da FRA: “213.53 Bitola” “(a) A bitola é medida entre as fases internas do trilho, num plano situado a 1,59 cm (5/8’’) do topo do boleto.” “(b) A bitola deverá estar compreendida entre os limites mostrados na tabela a seguir4:” Classe de via Valor mínimo (mm) Valor máximo (mm) Via Excepcional n.a. 1.460 Classe 1 1.403 1.454 Classe 2 e 3 1.403 1.448 Classe 4 e 5 1.403 1.441 Tabela 22 – Limites de bitola (FRA) Fonte: Federal Railroad Administration (FRA) 89 “4 Segundo a norma IVR-1 da RFFSA, as tolerâncias de bitola compreendem: i) limites máximo e mínimo absolutos, que são de 1.620mm e 1.595mm na bitola larga, e de 1.020mm e 995 mm na bitola métrica; ii) variação máxima de um dormente para outro, que oscila entre 1 mm e 3 mm, conforme o grupo de linha, a bitola e a velocidade; e iii) faixa de bitola, isto é, as variações de bitolas dos diversos pontos em torno da moda da linha - valor mais comum, ao longo de um trecho determinado, em geral de 20m a 30m, cujos valores oscilam de 3 mm a 20 mm, conforme o grupo de linha, a bitola e a velocidade. (N.T.)” O estudo referente a correlação da variação de bitola com a velocidade não foi tratado por Brina. H. L. (1979), portanto, esta presente norma da FRA, vem a completar a informação de geometria trazida inicialmente. Continuando o estudo da SUBPARTE C da FRA, tem-se: “213.55 Alinhamento” “O alinhamento da via deve seguir as prescrições da tabela a seguir:” 90 Classe de via Classe 1 Classe 2 Classe 3 Classe 4 Classe 5 Via em tangente Via em curva Desvio máximo no Desvio máximo no Desvio máximo no ponto médio de uma ponto médio de uma ponto médio de uma corda** de corda** de 9,3 m linha* de 18,6 m (cm) 18,6 m (cm) (cm) 12,7 n.a.*** 12,7 7,6 n.a.*** 7,6 4,4 3,2 4,4 3,8 2,5 3,8 1,9 1,3 1,6 * Os bordos da linha devem estar na linha da bitola (1,59cm abaixo do topo do boleto). Qualquer trilho pode ser usado como referência, desde que seja sempre o mesmo ao longo da tangente. ** Os bordos da corda devem estar situados na linha da bitola do trilho externo. *** Não aplicável. Tabela 23 – Limites de alinhamento (FRA) Fonte: Federal Railroad Administration (FRA) Novamente, Castello Branco, J. E. (2002) traz uma informação não contemplada por Brina, H. L. (1979) em seu estudo sobre velocidade de acordo com a geometria da via. O alinhamento é tratado por Brina, H. L. (1979) em um estudo separado, no qual ele trata o tamanho ideal das curvas de transição para uma dada velocidade seguindo o critério do conforto. Castello Branco, J. E. (2002) através desta norma da FRA, interliga níveis de alinhamento com cada classe de linha existente; ou seja, a norma da FRA faz uma relação direta entre velocidade e alinhamento da via, o que com toda certeza é um fator preponderante em cálculos de velocidade máximas autorizadas em trechos. Continuando o desenvolvimento da norma da FRA: “213.57 Curvas, superelevação e limites de velocidade” 91 “(a) A máxima superelevação numa curva é de 20 cm nas vias de classe 1 e 2, e de 18 cm nas classes 3 a 5. Excetuado o disposto em 213.63, o trilho externo de uma curva não deve estar mais baixo que o trilho interno.” “(b)(1) A máxima velocidade em curvas é determinada pela seguinte fórmula:” V max = √((Ea+3)/0,0007D) “onde:” “Vmax = máxima velocidade operacional6 (milhas/h).” “Ea = superelevação do trilho, em polegadas; sendo a superelevação para um segmento de curva de comprimento de 46,5m, obtido pela média de 10 superelevações em pontos espaçados de 4,65m. Se a curva tiver comprimento inferior a 46,5m, a média deverá ser obtida através do maior número possível de pontos.” “D = Grau da curva5, sendo este determinado pela média dos graus de curva, de maneira análoga à da superelevação.” “5 O grau da curva corresponde ao ângulo subtendido por uma corda de 100 pés (30,5 m) numa curva circular. A relação entre o grau da curva e o raio da curva é dada por:” D = 360 x 30,5 / (2ΠR) = 1146R “onde:” “D = grau da curva [graus]; e” “R = raio da curva [m].(N.T.)” “(c)(1) Para o material rodante que atenda aos requisitos do subitem (d), deste item, a máxima velocidade operacional6 é dada por:” V max = √((Ea+4)/0,0007D) “onde:” “Vmax e Ea = já definidos anteriormente.” 92 “D = Grau de curvatura (graus).” No subitem (d) descrito na norma da FRA anteriormente citada, são descritos vários requisitos de ordem mecânica que podem restringir a circulação de um determinado veículo ferroviário na via. Assim, como trata-se de uma variável mecânica, tais requisitos serão demonstrados quando forem tratados os parâmetros pertinentes aos veículos ferroviários. Nota-se claramente que a norma da FRA que trata de velocidades limites nas curvas é similar aos estudos de Brina. H. L. (1979) no que diz respeito aos fatores que são considerados para cálculos de velocidades limites nestas regiões. Portanto, parâmetros como raio de curvatura, superelevação e velocidade estão comportando-se como pontos de maior relevância em consideração as variáveis anteriormente apresentadas. A FRA aprofunda ainda mais seus critérios quanto a superelevação da via, conforme demonstrado por Castello Branco, J. E. (2002): “213.59 Superelevação de via em curva; gradiente de superelevação” “(a) Se uma curva é superelevada, a superelevação máxima deverá se dar ao longo de toda curva, a menos que as condições físicas não permitam. Se existir um gradiente de superelevação na curva, a menor superelevação deverá ser computada no cálculo da velocidade máxima.” “(b) O gradiente de superelevação deverá ser uniforme, dentro dos limites do nivelamento do item 213.63, e deve se estender ao longo de todo o comprimento das espirais de transição. Se as condições físicas não permitem acomodar o gradiente de superelevação, este deverá avançar no trecho em tangente.” Ou seja, a norma da FRA trata da pior condição da curva no cálculo da velocidade máxima permitida para circulação na mesma. Esta pior condição é o menor valor de 93 superelevação dentro da curva; neste ponto, conforme descrito anteriormente, as forças atuantes no veículo ferroviário não são totalmente equilibradas, podendo então existir o risco de “reviramento” do veículo. A forma de garantir a estabilidade do veículo na curva é adequar a velocidade de forma que as forças atuantes estejam dentro de níveis aceitáveis. Desta forma, a velocidade limite para os trens que circulam numa dada curva é em função da menor superelevação da mesma, conforme descrito na norma da FRA. Outro ponto a ser discutido sobre a presente norma da FRA é o gradiente de superelevação. Sabe-se que este gradiente deve permanecer dentro de limites aceitáveis, de forma a garantir boa estabilidade dos veículos ferroviários durante a inscrição em uma dada curva. Tais limites são descritos na norma 213.63 que será demonstrada a seguir. Em virtude desta limitação do gradiente de superelevação, surge uma situação muito comum nas ferrovias atuais: as curvas de transição ou espirais não têm comprimento suficiente para comportar um gradiente de superelevação num nível aceitável. Desta forma, surgem duas possibilidades de se trabalhar tal problema: a primeira hipótese é fazer com que o gradiente de superelevação seja superior aos limites estabelecidos pela norma. Esta condição impõe um alto risco na segurança uma vez que os veículos ferroviários que transitarem sobre tal condição, irão sofrer um forte impacto em suas estruturas dependendo da velocidade; gerando um conjunto de forças muito fortes, podendo gerar a instabilidade do veículo sobre a via e, num caso extremo, um descarrilamento devido ao salto das rodas sobre a via. 94 Figura 14 – Desbalanceamento da relação L/V. Fonte: Paulo Maurício, Amsted-Maxion. A segunda hipótese para se trabalhar com o gradiente de superelevação é o método mais utilizado por praticamente todas as ferrovias: manter o gradiente de superelevação em níveis de segurança, porém iniciando-se o aumento da superelevação no trilho antes da curva de transição, ou seja, na tangente. Desta forma, o início da superelevação, que deveria ser realizado juntamente com o início da curva de transição, começa agora num ponto da tangente. Esta, mesmo não sendo a condição ideal, garante um processo de acréscimo de superelevação suave, garantindo a estabilidade do veículo ferroviário nas mais variadas velocidades. Complementando o estudo da norma da FRA: “213.63 Nivelamento da via” “Os limites do nivelamento são os seguintes:” 95 Requisitos7,8 Via em tangente Classe Classe Classe Classe Classe 1 (cm) 2 (cm) 3 (cm) 4 (cm) 5 (cm) Elevação máxima produzida por gradiente de superelevação ao final de um comprimento de trilho de 9,3 m 8,9 7,6 5,1 3,8 2,5 Desvio máximo no nivelamento longitudinal em qualquer dos trilhos, no ponto médio de uma corda de 18,6 m 7,6 7,0 5,7 5,1 3,2 Desvio máximo, para um referencial de nivelamento transversal zero, para qualquer ponto em tangente 7,6 5,1 3,9 3,2 2,5 Desvio máximo no nivelamento transversal entre dois pontos quaisquer espaçados de menos de 18,6 m* Variação máxima no nivelamento transversal, por 9,3 m de comprimento, em espiras de transição 7,6 5,7 5,1 3,9 3,8 7,6 3,9 3,2 2,5 1,9 * Excetuado o dispostos em 213.57, onde a superelevação da curva for igual ou superior a 15,2 cm, a diferença no nivelamento transversal ao longo de 18,6 m não deverá exceder a 3,8 cm. Para controlar o movimento harmônico nas vias de classes 2 a 5, com juntas alternadas, as diferenças no nivelamento transversal não devem exceder a 3,2 cm em todos os seis pares de juntas consecutivas. Considera-se que uma via possui juntas alternadas quando estas estão espaçadas de mais de 3 m entre si. Tabela 24 – Limites de nivelamento (FRA) Fonte: Federal Railroad Administration (FRA) “ 7Segundo a norma EVR-20 da RFFSA, a variação do nivelamento transverso ou empeno é dada pela fórmula G= 301/V, onde: G é a variação do empeno, em mm/m; e V é a velocidade, em km/h. (N.T.)” “ 8 As ferrovias brasileiras em geral adotam como superelevação máxima o valor de 10% da bitola (N.T.)” De acordo com o raciocínio lógico, os limites de nivelamento tendem a ser mais rígidos a medida que se aumenta a classe da ferrovia, ou seja, quando se aumenta a velocidade de circulação. 96 Tais limites podem ser considerados como fatores limitantes de velocidade em termos de nivelamento da via. Branco, J. E. (2002) traz logo após a norma da FRA as seguintes observações transcritas anteriormente. Ambas referem-se a critérios adotados pela antiga RFFSA no que tange a nivelamentos na via. Como a MRS Logística S.A. opera num trecho que seguia rigorosamente as normas estabelecidas pela RFFSA, torna-se válida uma pesquisa para se identificar quais pontos eram considerados cruciais em termos de nivelamento da via e que podem auxiliar em algumas conclusões. Batist, M. (2002) traz normas adotadas pela antiga RFFSA no que diz respeito a velocidades em curvas e superelevações: “6. VELOCIDADES LIMITES (RFFSA, 79a)” “Para uma superelevação máxima de 10% da bitola, as velocidades máximas nos trechos em curva deverão ser as seguintes:” “bitola larga – trens de passageiro:” v = 4,535√r “bitola larga – trens de carga:” v = 4,316√r “bitola estreita – trens de passageiro:” v = 4,369√r “bitola estreita – trens de carga:” v = 4,186√r Onde: v: velocidade máxima [km/h]; r: raio da curva [m]. 97 Claramente a norma da RFFSA tem fundamentos teóricos muito bem interessantes. Ao se comparar as expressões para as velocidades de cada tipo de trem com a expressão simplificada de Brina. H. L. (1979), tem-se: Brina. H. L. (1979): Vmáx. = 4,8.√R RFFSA (trens de carga): v = 4,316√r A pequena variação existente no fator, provavelmente é oriunda de um coeficiente de segurança mais elevado adotado pela RFFSA. Salvo esta pequena diferença, verifica-se que os conceitos utilizados na teoria, inicialmente descritos por Brina. H. L. (1979), são utilizados em normas práticas de circulação. Mediante tal confirmação, torna-se válido utilizar tais informações para elaborar um método direto de cálculo de velocidade máxima autorizada devido a variável curvatura da via, ou traçado da via. Continuando a análise das normas expostas da RFFSA: “7. SUPERELEVAÇÃO (RFFSA, 76d)” “A superelevação teórica para via (Fig. 3) será dada por:” “bitola larga – absoluto predomínio de trens cargueiros:” S = 13,1.V²/r “bitola larga – absoluto predomínio de trens de passageiros:” S = 8,75.V²/r (6) “bitola estreita – absoluto predomínio de trens cargueiros:” S = 8,35.V²/r (5) (7) “bitola estreita – absoluto predomínio de trens de passageiros:” S = 5,57.V²/r 98 (8) Onde S: superelevação [mm];: v: velocidade máxima [km/h]; r: raio da curva [m]. “Nos casos intermediários, em que ambos os tipos de fluxo (carga e passageiro) tenham significação, deve prevalecer uma superelevação prática de acordo coma relação de importância de cada um. Esta superelevação prática variará com um coeficiente redutor entre 0,5 e 0,6 resultando como limites para diferentes bitolas os seguintes valores:” 7,9.V²/r ≥ S ≥ 6,5.V²/r (9) “Na equação (9), os termos têm o mesmo significado dos constantes das equações (5) a (8).” “O limite de superelevação será de 160mm para a bitola larga e de 100mm para a bitola métrica. Admitir-se-á excepcionalmente uma superelevação de até 180mm para a bitola larga e 120mm para a bitola métrica, quando se tratar de obter uma velocidade máxima e efetiva uniforme numa extensão superior a 2000m, que esta sendo limitada pela curva em estudo.” “Nas curvas de transição, em que o raio é variável, a superelevação deverá variar de zero a S por valores os menores possíveis. Sendo v a velocidade referida nos itens anteriores, essa variação não poderá exceder os seguintes valores:” “1mm/m e excepcionalmente 1,5mm/m quando v > 100km/h;” “1mm/m e excepcionalmente 2mm/m quando 100 ≥ v > 80km/h;” “2mm/m e excepcionalmente 3mm/m quando 80 ≥ v > 60km/h;” “3mm/m e excepcionalmente 4mm/m quando 60 ≥ v > 40km/h;” “4mm/m quando v ≤ 40km/h;” “Quando as condições de traçado não permitirem a introdução da curva de concordância na extensão necessária, a transição da superelevação se estenderá no trecho em tangente. Nesse caso, a velocidade deve ser inferior a 60km/h.” 99 “Nos desvios não será dada superelevação, exceto em desvio próximo a linha de movimento, situado na parte interna da curva, caso em que deve ser dada a superelevação mínima necessária para atender a exigência de gabarito.” “Os aparelhos de via em linha corrida não devem ser colocados em curva. Quando, por condições especiais, esta regra não possa ser obedecida, a variação da superelevação sobre o comprimento da agulha não deve ultrapassar de 0,5 ou 0,6 mm/m.” “Nas linhas em reparação não se poderá admitir, mesmo para a velocidade reduzida especial, variação da superelevação superior a 0,6mm/m.” A norma da RFFSA citada por Batist, M. (2002) complementa uma série de informações que atendem a condições específicas da malha da M.R.S. Logística S.A.. As superelevações praticadas, os gradientes de superelevação, as condições de existência de superelevações em tangentes, entre outros tópicos abordados são muito conhecidos nesta ferrovia. Fazendo um comparativo entre as normas e os estudos apresentados, pode-se confirmar que as fórmulas simplificadas para cálculo de velocidade em função da superelevação e vice-versa, são basicamente oriundas dos conceitos clássicos apresentados por Brina. H. L. (1979). Desta forma, ao se utilizar algumas destas equações simplificadas para o cálculo da velocidade máxima permitida para uma composição numa dada curva, estarão sendo utilizando conceitos físicos com parâmetros como centro de gravidade, bitola e outros, já fixados e simplificados. Porém, de forma a se obter dados mais precisos e com a utilização da tecnologia disponível, torna-se completamente aceitável a entrada de dados como bitola e superelevação, não mais fixados por equações, mas sim por dados coletados diretamente no campo com recursos de veículos de linha como Track-star. Desta forma, irá se obter um perfil de velocidade para cada ponto da via considerando uma gama maior de variáveis. 100 As normas apresentadas como da FRA e RFFSA poderão definir uma referência a este novo modelo de cálculo e indicar se o método utilizado é válido para uma possível aplicação prática, informando resultados errôneos ou absurdos. 2.3.10. GEOMETRIA DA LINHA - NÍVEL A geometria da via em nível trata exclusivamente do perfil vertical da linha, entre rampas e paralelos. Apesar de se estar trabalhando com uma variável oriunda da via permanente, os efeitos desta sobre a velocidade máxima de circulação referem-se atualmente muito mais a requisitos do material rodante do que a condições da via neste quesito. Apenas a título de uma breve introdução, teoricamente, a velocidade máxima permitida para uma composição ferroviária circulando sobre uma rampa ascendente ou num paralelo seria a máxima possível, sendo limitada somente pelo traçado da via, o que recai na variável apresentada anteriormente. Caso contrário, numa rampa descendente, a velocidade máxima de circulação para uma composição ferroviárias nestas condições, seria a capacidade de frenagem do trem, uma vez que tal velocidade limite deve permitir com que a composição ferroviária pare seu movimento a qualquer momento. Sendo assim, fica evidente que o perfil da via em nível torna-se um fator limitante de velocidade na condição de descida de rampas. Porém, esta variável é imutável em termos de via permanente uma vez que na área de atuação dos estudos, a via permanente já foi construída, não sendo possível um novo arranjo. Identifica-se então uma condição que relaciona a velocidade máxima de circulação do trecho com uma condição plenamente mecânica. Desta forma, tais condições serão abordadas quando forem definidos os parâmetros no material rodante. 101 Mesmo sabendo que o perfil em nível da via acarreta no desenvolvimento de um parâmetro mecânico, torna-se extremamente válido a pesquisa de informações que possam interligar tais dados não só ao material rodante, mas também a própria via já construída. Brina, H. L. (1979) desenvolve uma condição não discutida anteriormente a respeito do perfil vertical da via: “Se a linha foi projetada com a concordância dos greides, estes serão colocados obedecendo a essa concordância, de acordo com o projeto.” “9.2 OBJETIVO DA CONCORDÂNCIA VERTICAL” “Adota-se a concordância vertical por meio de uma curva (curva de concordância vertical) a fim de suavizar a passagem de um greide reto para outro. Se a passagem de um greide para outro fosse feita diretamente, acarretaria um movimento anormal nos veículos; nos greides côncavos, haveria choques e compressões nos mesmos e a desigual distribuição de cargas nos eixos, já que nos vários eixos, os intermediários seriam descarregados; nos greides convexos produzir-se-iam tensões anormais aos engates e modificações nos distribuições de cargas pelos eixos dos veículos.” Ou seja, os pontos críticos do traçado da via permanente em nível são os locais onde existem mudanças de greides: rampas para paralelos ou paralelos para rampas. Nestes pontos, o tipo de concordância entre as situações deve acontecer de forma mais tênue possível, de forma a não gerar distúrbios no balanceamento das forças atuantes nos veículos ferroviários. Brina, H. L. (1979) não relaciona em momento algum do seu estudo a concordância vertical com parâmetros de velocidade de circulação, porém no 102 desenvolvimento do seu estudo são explanados alguns tópicos que podem auxiliar no desenvolvimento e quantificação desta variável. “APLICAÇÃO DAS FÓRMULAS AO CÁLCULO DA CONCORDÂNCIA VERTICAL” “Como a projeção da corda da parábola pouco difere do comprimento da mesma, por serem as declividades pequenas, é usual tomar-se a projeção horizontal da corda L pelo comprimento da curva. Fica-se assim, em posição vantajosa porque a curva é maior do que L.” “Fixa-se a taxa de variação de declividade por estaca; que como vimos, na parábola, é constante.” “Chamando µ a citada e “a” a distância entre estacas, sendo i = i1-i2, a variação total da declividade, teremos a proporcionalidade.” Brina. H. L. (1979) descreve alguns conceitos importantes da concordância vertical e taxas que asseguram que a conformação da via em nível irá garantir padrões de estabilidade. Pode-se sintetizar o estudo de Brina. H. L. (1979) através da seguinte figura: Figura 15 – Exemplo de diagrama de concordância vertical Fonte: Brina, H. L. (1979) 103 “Os valores de µ são fixados experimentalmente e as taxas para curvas côncavas são menores do que para curvas convexas, devido ao inconveniente da força centrífuga vertical.” “Para traçados importantes, com trens velozes e grandes comboios, deve-se dar para L valores maiores possíveis.” “A AREA estabelece os seguintes valores máximos, para a taxa de variação de declividade:” Conforme verificado na síntese proposta dos trabalhos de Brina. H. L. (1979) a forma que esta variável assume para restringir velocidade esta intimamente ligada à construção da própria ferrovia. Traçados mais recentes, como da Ferrovia do Aço, obedecem a critérios de declividade muito favoráveis, não oferecendo praticamente nenhum risco à circulação em detrimento a estas condições. Portanto, esta variável terá muito maior valor, quando considerada um fator limitante mecânico, uma vez que a capacidade de frenagem e o esforço trator do trem são os principais fatores preponderantes à velocidades em rampas e paralelos no trecho. 2.3.11. PADRÕES DE TOLERÂNCIA DA MANUTENÇÃO – CONSERVAÇÃO DA VIA Utilizando novamente os conceitos de Brina. H. L. (1979), encontra-se a seguinte informação básica quanto a conservação da via: “11.1 OBJETIVO DA CONSERVAÇÃO” “O objetivo da conservação da via é manter o seu traçado em planta e perfil, sem defeitos que prejudiquem o tráfego, mantendo-se uma plataforma estável e bem 104 drenada, um lastro limpo, um alinhamento e nivelamento perfeitos, com curvas bem puxadas e com a superelevação correta.” “Em resumo, o objetivo da conservação da via é:” “a) manter a linha em boas condições técnicas;” “b) manter constante vigilância contra acidentes fortuitos.” Brina. H. L. (1979) também classifica os tipos de conservação da via da seguinte forma: “11.4 TIPOS DE CONSERVAÇÃO EM FUNÇÃO DA QUANTIDADE DE SERVIÇOS. CONSERVAÇÃO E REMODELAÇÃO DA VIA” “Dependendo do estado de deterioração da via permanente e, por conseguinte, do volume dos serviços a realizar, teremos dois tipos de conservação:” “a) conservação propriamente dita e” “b) remodelação da via.” Logicamente, os serviços de conservação propriamente ditos, consistem em serviços eventuais que tendem a trabalhar em pontos onde a via começa a sair dos padrões exigidos pela companhia. Por exemplo: uma limpeza de lastro numa determinada região, um nivelamento de um AMV e demais serviços rotineiros. Já a remodelação da via trabalha com o seguinte conceito, conforme trazido por Brina. H. L. (1979): “11.4.2 Remodelação da Via” “Conforme o desgaste atingido pelos materiais da via permanente ou o aumento do tráfego de trens, não só quanto ao volume de transporte, mas também quanto ao peso por eixo dos vagões e locomotivas, cuja tendência tem sido aumentá-los cada vez mais, 105 poderá ser necessária uma renovação mais completa dos materiais da superestrutura da ferrovia, com a substituição total dos trilhos por outros de maior peso, troca em maior quantidade dos dormentes e ainda a substituição total ou parcial do lastro. Trata-se, pois, de uma conservação extraordinária, que comumente é denominada remodelação da via.” Apesar da excelente conceituação, Brina. H. L. (1979) não cita em momento algum do seu estudo a interferência da qualidade da manutenção na velocidade de circulação permitida para o tráfego. Atualmente cada ferrovia procura elaborar seu próprio plano de manutenção seguindo diretrizes de custos envolvidos, bem como características construtivas da própria via permanente. Tal informação também é trazida por Rodrigues, C. A. (2002): “No início da atividade ferroviária, o planejamento das atividades de manutenção da via permanente tinha por base as inspeções e prospecções realizadas a pé, de auto-delinha ou em trem de carreira, pelos engenheiros responsáveis por sua execução. Esse procedimento, até hoje muito importante na definição das atividades de manutenção, traz consigo um alto grau de subjetividade, pois depende única e exclusivamente da vivência adquirida por cada técnico ao longo dos anos de trabalho.” “Com o advento dos carros de medição de parâmetros de via, a subjetividade deu a vez à racionalidade através das medições periodicamente executadas. Inicialmente, essas informações registradas em gráficos impressos exigiam conhecimento específico para leitura, o que, de certa forma, dificultava seu emprego imediato pelas equipes de campo.” (...) “Um sistema útil de medição da geometria da linha deve permitir uma rápida e também precisa avaliação de suas condições. Assim, tornou-se necessária a determinação de um Índice de Qualidade da Via que possibilitasse, com relativa facilidade, planejar as atividades de manutenção, controlar a degradação da via e a eficiência dos vários tipos de manutenção.” 106 “Por esse motivo, cada empresa ferroviária procurou, a seu modo, desenvolver um método para calcular um índice que, de maneira simples e objetiva, permitisse avaliar a qualidade de suas vias através da geometria da superestrutura. Esses índices quantificam o estado de degradação da superestrutura da via permanente e são calculados a partir da medição dos parâmetros de Mauzin e/ou acelerações percebidas pelo veículo durante seu deslocamento. De modo geral, quanto maior seu valor, maior será o nível de degradação da superestrutura da via permanente.” Rodrigues, C. A. (2002) cita exatamente o método utilizado pela M.R.S. Logística S.A.. Através das inspeções do Track-star, as manutenções de via planejam quais as intervenções deverão ser realizadas na via permanente. Porém a M.R.S. Logística S.A. não possui oficialmente um índice de qualidade de via ou qualquer outro indicador que demonstre tal informação. Continuando com o texto de Rodrigues, C. A. (2002), verifica-se que várias companhias ferroviárias trabalham baseadas num índice de qualidade de via, dentre elas: Baltimore & Ohio – B&O; Japanese National Railway – JNR; Antiga Ferrovias Paulistas S.A. – FEPASA; Antiga Rede Ferroviária Federal S.A. – RFFSA; Plasser & Theurer; Tokaido Shinkansen CSX Transportation – CSXT Apesar da grande variedade de métodos trazida por Rodrigues, C. A. (2002), torna-se extremamente interessante analisar o método utilizado pela antiga RFFSA. Isto porque, conforme explicado anteriormente, a M.R.S. Logística S.A. opera em toda sua extensão num trecho pertencente a RFFSA de grande volume de transporte. Portanto, 107 o método utilizado como índice da qualidade via utilizado pela RFFSA foi baseado no traçado de via em que se está trabalhando agora. Conforme descrito por Rodrigues, C. A. (2002), tem-se: “6. MÉTODO DA RFFSA” (...) “Essa metodologia consistia em utilizar o método proposto pela B&O, substituindo o número de vezes que cada parâmetro registrado ultrapassasse a tolerância fixada, pela ultrapassada. Com este índice por quilômetro de via executavase: a priorização dos trechos a serem atendidos; a análise comparativa entre os diversos trechos e seus quilômetros de via; e a análise evolutiva pela comparação de passagens sucessivas.” “Numa primeira evolução deste modelo, o Fator de Conserva FC foi substituído pelo logaritmo de T/100, onde T representava a tonelagem transportada /dia envolvendo o tráfego de carga e passageiros. Deixa de considerar o parâmetro bitola no cálculo do índice e elimina-se o fator de ponderação ki (peso correspondente ao defeito) dos demais parâmetros resultando na expressão 4, que estabelece o valor do Índice de Prioridade IP (Pataro, 1984). Convenciona-se denominar este modelo de RFFSA-I; expresso por:” IP = 100. ( E-1.Log(T/100).(Al+Tor+Niv)) (4) “Onde:” “IP: índice de prioridade;” “E: extensão real do trecho;” “T: tonelagem /dia transportada;” “Al: extensão total em metros, em que a tolerância do parâmetro alinhamento é ultrapassada dentro do quilômetro considerado;” 108 “Tor: extensão total em metros, em que a tolerância do parâmetro torção é ultrapassada dentro do quilômetro considerado;” “Niv: extensão total em metros, em que a tolerância do parâmetro nivelamento é ultrapassada dentro do quilômetro considerado.” “Numa segunda fase, o Índice de Prioridade IP foi substituído pelo valor do Índice de Defeito ID (Duba, 1987), calculado para cada seção de aproximadamente 200 metros de linha, através da equação a seguir apresentada. Convenciona-se denominar este modelo de RFFSA-II, expresso por:” ID = K.(Niv + Al)/E (5) “Onde:” “K: valor arbitrado de modo a gerar valores relativos fáceis de serem comparados numericamente;” “Niv, Al e E: parâmetros já definidos anteriormente.” (...) A norma citada da RFFSA gera um resultado que pode ser muito bem utilizado no desenvolvimento de um procedimento para determinação da velocidade máxima em um trecho de circulação. Atualmente a M.R.S. Logística S.A. classifica cada trecho de via seguindo a norma da FRA, e para cada condição de trecho são atribuídos (segundo a norma) valores de tolerância para cada ocorrência de defeito na via. Porém, o resultado das inspeções são tratados apenas pela manutenção a título de localizar os pontos necessários a intervenção. Utilizando a equação proposta pela antiga norma da RFFSA, a equação RFFSA-I (que possui uma gama maior de variáveis que podem ser facilmente coletadas pelo 109 Track-star), pode-se quantificar a qualidade da via permanente e dessa forma relacionar tal indicador a velocidade máxima de circulação de cada trecho. Mesmo que cada variável tenha sido tratada anteriormente de forma individual, pode-se utilizar a mesma expressão como uma informação adicional, informando que a via não possui condições de aumento de velocidade em virtude de uma dada variável que reduz o índice de qualidade da via até um determinado valor. 2.3.12. GABARITOS DE OBRAS DE ARTE – TÚNEIS E PONTES Segundo a pesquisa desenvolvida e a bibliografia consultada, não existem restrições de velocidade por parte das obras de arte. As únicas restrições provenientes deste parâmetro são quanto a gabaritos para transporte de cargas no caso de túneis e peso por eixo para pontes e viadutos. 110 3. DEFINIÇÃO DAS VARIÁVEIS DO MATERIAL RODANTE QUE INFLUENCIAM NO CÁLCULO DA V.M.A. 3.1. MATERIAL RODANTE Conforme descrito na introdução deste trabalho, a determinação da velocidade máxima que um veículo ferroviário pode desenvolver durante seu trajeto depende basicamente da via permanente, bem como de características próprias do veículo em questão. Como verificado anteriormente, foram abordados uma série de parâmetros originários da via permanente e desta forma, chega o momento de se analisar as características limitantes de velocidade dos veículos ferroviários. Os veículos ferroviários, ou material rodante, podem ser classificados conforme uma apresentação de Xavier H. R. para o curso de Especialização em Engenharia Ferroviária do Instituto Militar de Engenharia e a M.R.S. Logística S.A.: Material rodante de tração: locomotivas e automotrizes; Figuras 16 e 17 – Locomotiva Diesel-Elétrica e Automotriz Budd. Fonte: Hostílio R. Xavier. 111 Material rodante rebocado: carros e vagões; Figura 18 – Carro de passageiros. Fonte: Hostílio R. Xavier. Figura 19 – Vagão de carga. Fonte: Hostílio R. Xavier 112 Trens unidades. Figuras 20 e 21 – Trens unidade. Fonte: Hostílio R. Xavier. Complementando a informação trazida por Xavier H. R., pode-se incluir um tipo de veículo ferroviário muito comum nas companhias ferroviárias: Material rodante de manutenção: Trolleys, autos de linha, caminhões de linha, socadoras, reguladoras, desguanercedoras, etc. Figura 22 – Socadora Passer & Theurer. Fonte: Leonardo Soares. 113 Estes vários tipos de veículos que trafegam na via permanente possuem características similares de cada modelo. Desta forma, a iteração veículo-via tornase diferente mesmo tratando-se da mesma via de circulação. Esta diferença entre os veículos nos produz um balanceamento de forças logicamente diferentes e desta forma torna-se fundamental estudar cada variável que influencia nesta iteração de modo que se possa analisá-la e melhorar seu desempenho. 3.2. VARIÁVEIS DO MATERIAL RODANTE Dentre as variáveis citadas no início dos trabalhos, pode-se considerar como inerentes ao material rodante: Diversidade de veículos que circulam pela via; Tipo de carga: • Cargas perigosas; Tipo de tração. Comprimento dos trens: • Tipo de formação da composição. Desta forma, analisando cada item proposto. 3.2.1 DIVERSIDADE DE VEÍCULOS 114 A diversidade de veículos que circulam pela via é de fundamental importância. O modelo estrutural de vagões e locomotivas em termos dinâmicos podem gerar muitas diferenças em velocidade de circulação. Estas diferenças de velocidades partem de situações instáveis que a estrutura de tal veículo pode gerar em função da velocidade. Como no caso, estão sendo trabalhados trens pesados e com velocidades não tão altas, o estudo deve concentrarse basicamente em um item que em síntese será o principal agente de todo processo: o centro de gravidade do veículo ferroviário. Segundo Furtado da Rosa, P. M. (2002): “A questão da estabilidade dos vagões nos trens está diretamente ligada a uma série de fatores que serão indicados no decorrer deste trabalho, sendo que muitos deles não se relacionam com o projeto do veículo, mas sim com sua iteração com os demais veículos em uma composição.” (...) “Fazendo-se uma iniciação teórica sobre o centro de gravidade, pode-se defini-lo como sendo o ponto de aplicação do vetor peso em um determinado corpo sujeito à ação da força gravitacional. Em se tratando dos veículos ferroviários, e mais diretamente dos vagões, esse ponto de aplicação é variável na sua altura (vagão vazio ou carregado) e na posição relativa à sua seção transversal, em função dos movimentos do trem.” “Também, como será visto mais adiante, o centro de gravidade tem extrema importância no cálculo da estabilidade, já que sua localização reage fortemente com características da via permanente, como por exemplo a superelevação.” (...) Furtado da Rosa, P. M. (2002) descreve claramente a importância da iteração veículo-via e o peso que centro de gravidade do veículo tem sobre tal relação. 115 Desta forma, a diversidade dos veículos que circulam sobre a via pode ser avaliada através da estabilidade dos mesmos quando em movimento; afinal, é através da estabilidade que a velocidade de limite é determinada. Sendo assim, é fundamental que o centro de gravidade dos veículos ferroviários que compõem a frota da M.R.S. Logística S.A. sejam calculados e utilizados no estudo. Para um cálculo preciso do centro de gravidade de um veículo ferroviário é ideal que o mesmo seja dividido em diversas partes. Quanto mais subdivididos nas peças que os compõem, mais exato torna-se o cálculo. Apesar da referida exatidão, quando se subdivide o veículo em partes cada vez menores, mais complexo torna-se o cálculo do centro de gravidade. De forma a simplificar a execução do cálculo do centro de gravidade, Furtado da Rosa, P. M. (2002) sugere que os veículos sejam divididos nas seguintes partes: o Truques completos; o Sistemas de choque e tração; o Estrados (stub sill ou convencional); o Corpo cilíndrico completo; o Equipamentos de carga, descarga e segurança; o Domo de expansão (caso exista). Assim, equipamentos menores são agrupados em partes compostas. Isto é totalmente válido visto que tais equipamentos menores fazem pouca influência quando calculados separadamente de outras peças do veículo que podem pesar facilmente 10 vezes mais. O ponto do centro de gravidade é realizado calculando-se o momento físico que cada parte do vagão gera e contribui sobre toda estrutura. Ou seja, o peso de cada parte multiplicada pela distância que forme um braço de alavanca em relação à via. 116 Analisando um exemplo prático deste cálculo, tem-se: Figura 23 – Cálculo do Centro de Gravidade de um Vagão Fonte: Castello Branco, J. E. (2002) 117 O exemplo anterior demonstra claramente a simplicidade de tal cálculo. Também é válido observar a mudança na altura do centro de gravidade quando é alterada a situação do vagão de vazio para carregado. Tal mudança é facilmente aceitável uma vez que, quando carregado, o vagão possui uma quantidade maior de massa distribuída numa dada altura; desta forma a o centro de gravidade tenderá a subir conforme justificado matematicamente. Segundo a ABNT, os limites de altura para o centro de gravidade para projeto de vagões são os seguintes: Valor limite para altura do CG (veículo carregado) 1,00 m 1.828,8 mm (72'') 1,60 m 2.489,2 mm (98'') Tabela 25 – Altura limite do centro de gravidade Bitola Fonte: Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) Assim, veículos ferroviários que possuem centros de gravidade muito próximos às medidas da ABNT possuem baixa estabilidade e devem ter sua velocidade reduzida de forma a prevenir o descarrilamento. 3.2.2 TIPO DE CARGA – CARGAS PERIGOSAS Não foram encontradas referências sobre limitações de velocidade em virtude do transporte de cargas perigosas. Existe atualmente um acordo entre as concessionárias de transporte de realizar este tipo de transporte com velocidades específicas para cada região. Por se tratar de acordos firmados e não de cálculos matemáticos fundamentados, este parâmetro não será tratado no momento, podendo ser alvo de um estudo mais aprofundado quando existir uma padronização a nível nacional. 118 3.2.3 TIPO DE TRAÇÃO Atualmente a M.R.S. Logística S.A. opera na sua grande maioria de fluxos com locomotivas diesel-elétricas fabricadas pela General Eletric Co. e General Motors Co.. Apenas num pequeno trecho do estado de São Paulo, conhecido como Serra da Cremalheira é operado com locomotivas elétricas da Hitashi. Estas locomotivas possuem uma característica única que é realizar a tração através de um sistema de engrenagens que corre no eixo da via, conhecido como Sistema Cremalheira. O Sistema Cremalheira é utilizado nesta região de são devido a necessidade da ferrovia atravessar a Serra do Mar até o Porto de Santos. Neste traçado, as rampas existentes na via permanente alcançam níveis de declividade de até 12%. Desta forma, este sistema é utilizado por suportar tal característica mantendo a segurança das cargas que trafegam por este trecho da malha. Figura 24 – Sistema Cremalheira Fonte: Leonardo S. Soares 119 Para a M.R.S. Logística S.A. o tipo de tração não é uma variável que pode limitar a velocidade de circulação. A empresa adota o critério de adequar a tração de forma a obter o máximo de desempenho em um dado percurso de acordo com a velocidade máxima autorizada. Ou seja, primeiramente é definida a velocidade máxima e depois é ajustado o tipo de tração dos trens para se obter o máximo de eficiência com a nova velocidade. 3.2.4 COMPRIMENTO DE TRENS – TIPO DE FORMAÇÃO DA COMPOSIÇÃO O comprimento dos trens também é um fator de alto impacto na produção de uma companhia ferroviária. Porém impacta diretamente na segurança de circulação. O tamanho de uma composição leva em consideração muitas informações, desde o percurso que a composição irá percorrer até a capacidade de frenagem dinâmica de uma locomotiva. Devido à tamanha complexidade não é ideal converter tantas informações em uma única variável que determine a velocidade máxima. Atualmente a M.R.S. Logística S.A. consegue analisar todos os esforços de uma composição através de um simulador. Qualquer mudança no comprimento do trem, na tração e na velocidade é validada por este simulador, que fornece informações precisas do comportamento dinâmico de toda composição. Desta forma, esta ferramenta pode tornar-se um item fundamental para um procedimento de determinação de velocidade máxima autorizada em um trecho, demonstrando se a velocidade adquirida pelo novo procedimento é compatível para o tipo de trens que circulam na região. 120 4. DEFINIÇÃO DE VARIÁVEIS EXTERNAS 4.1 OBRAS AO LONGO DA VIA Em algumas situações a existência de obras ao longo da via provoca restrição de velocidade de circulação de trens. Esta restrição é oriunda do aparecimento de algum fator que impõe risco ao tráfego dos trens: máquinas muito próximas à via, solos instáveis devido a trabalhos próximos, dentre outras condições. Realizando uma análise mais técnica, fica evidente que a restrição temporária de velocidade surge em virtude de alguma condição da via não ser satisfatória. Ou seja, uma das variáveis anteriormente estudadas não foi atendida. Sendo assim, a existência de obras ao longo da via impacta na velocidade de circulação através de variáveis já estudadas, não necessitando de um item específico para tratar exclusivamente de tal situação. 4.2 ACIDENTES FERROVIÁRIOS E ACIDENTES DA NATUREZA Acidentes ferroviários e acidentes da natureza impõem sérios problemas ao tráfego de trens quando ocasionam danos à via permanente. Torna-se um tanto impraticável tentar detalhar cada caso que possa ocorrer e como proceder em cada um deles. Mais uma vez a ocorrência de um acidente ferroviário irá alterar uma variável anteriormente estudada, imprimindo desta forma, uma nova velocidade de circulação em virtude de uma condição não atendida. Pode-se citar inúmeros acidentes 121 ferroviários nos quais toda fixação da via foi comprometida e a velocidade ficou restrita justamente pela fixação não atender aos padrões de segurança exigidos. Os acidentes da natureza não são tão diferentes dos acidentes ferroviários. Uma vez que uma variável de segurança da via foi comprometida, esta irá impor uma redução da velocidade dos trens. Somente quando existirem situações de alto risco, devemos atentar à paralisação do tráfego, como: o Obstrução da via por queda de barreiras; o Destruição da via por enxurradas, queda de aterros, carreamento de materiais; o Via completamente alagada; o Demais situações de origem natural que impossibilitem o tráfego. Ou seja, exceto pelas situações supracitadas a restrição de velocidade na via deverá ser calculada pelo não atendimento de alguma variável anteriormente estudada. 4.3 PROXIMIDADE DE LOCAIS DE AFLUÊNCIA DE PESSOAS E AUTOMÓVEIS 4.3.1 PASSAGENS EM NÍVEL Passagens em nível são os cruzamentos que a via férrea faz em seu traçado com as estradas de rodagem no mesmo nível. Nas construções modernas, seja de estrada de ferro ou de rodagem, não é favorável que ocorra cruzamento em nível, em vista do perigo de acidentes que oferecem. Deve-se ressaltar que as passagens de nível são dotadas de contratrilhos de forma a aumentar a resistência transversal à via, a ser atravessada pelos veículos rodoviários 122 e também facilitar o apoio dos pneus. Além disso, as passagens em nível devem ser sinalizadas em ambos os sentidos de tráfego. Outra consideração fundamental quanto as passagens em nível: o cruzamento das vias nas passagens em nível deve ser realizado em um ângulo reto, a fim de diminuir o comprimento da passagem sobre os trilhos. Além da situação de cruzamento em um ângulo reto, esta situação deverá ocorrer em uma tangente da estrada de ferro de forma a oferecer uma maior visibilidade para os maquinistas. Segundo Lomas G. é ideal considerar a seguinte figura para correlacionar velocidades de circulação ferroviária com a intensidade e visibilidade dos veículos rodoviários: De acordo com a figura anteriormente apresentada, quando um motorista que conduz o veículo em direção a uma passagem em nível atingir a distância ak = 8m, o mesmo deve ter visibilidade até à distância kd = 5V (m), medida na direção da ferrovia, sendo que V é a velocidade máxima autorizada do trem em km/h. 123 Ainda segundo Lomas G., quando a rodovia é de tráfego intenso, o motorista deve poder ver o trem a uma distância bk = 20m, estando o trem a uma distância kc = 3V (m). Pesquisando a literatura técnica acerca do assunto, o Departamento Nacional de Trânsito em seu “Manual de Cruzamentos Rodo Ferroviários” traz o seguinte quadro de distâncias de visibilidade de acordo com as velocidades tanto dos veículos rodoviários como dos veículos ferroviários: Tabela 26 – Distâncias de frenagem para cruzamentos rodo-ferroviários Fonte: Departamento Nacional de Trânsito Tais medidas de visibilidade relacionadas com a velocidade de circulação são pouco conhecidas e podem com toda certeza, definir a melhor velocidade de circulação para os veículos ferroviários condizente com a segurança necessária no local. 4.3.2 PROXIMIDADE DE EDIFICAÇÕES 124 Nas fontes pesquisadas não existem quaisquer referências sobre limitações de velocidade de circulação de composições ferroviárias em virtude de proximidade de edificações. Sabe-se que em situações onde edificações encontram-se muito próximas ao leito da ferrovia, existe uma condição irregular. É o caso da região metropolitana do Rio de Janeiro, onde a malha da M.R.S. Logística S.A. atravessa a favela do Arará. Nestas condições extremas existe a necessidade de redução de velocidade. Uma situação ainda mais crítica, ainda no exemplo anteriormente citado, deve-se ao fato das portas da edificação serem direcionadas para a via férrea. Para situações onde os limites da faixa de domínio da ferrovia são respeitados, não existe qualquer restrição à velocidade de circulação, uma vez que as normas de segurança para construção das edificações próximas foram seguidas. Em casos especiais, como do Arará, a velocidade de circulação deverá ser restrita até que esta condição insegura seja removida. 4.4 SERVIÇOS DE MANUTENÇÃO A restrição da velocidade devido a serviços de manutenção existe em função de uma série de fatores de risco que podem comprometer a segurança do tráfego bem como a segurança dos trabalhadores envolvidos na manutenção da via. Os serviços de manutenção que afetam diretamente a velocidade de circulação são os serviços que envolvem reparos na via permanente. Existem serviços que podem ser executados sem a necessidade de haver a restrição da velocidade de tráfego, dentre os quais pode-se citar: - Limpeza de canaletas; 125 - Roçada ou capina; - Manutenção de faixa de domínio; - Reaperto de juntas. Porém, outras intervenções necessitam de alguma restrição de velocidade a fim de garantir a segurança dos funcionários envolvidos, bem como da própria circulação: - Correção de bitola; - Alinhamento manual da via; - Correção de superelevação; - Nivelamento manual da via; - Limpeza manual de lastro; - Substituição de dormentes; - Substituição de placas de apoio. Outros serviços mais complexos necessitam de uma interrupção do tráfego: - Reconstrução da via; - Desguarnecimento total de lastro; - Substituição de trilhos; - Confecção de soldas; - Aplicação de junta em fraturas; - Substituição total ou parcial de AMV. Direcionando o estudo somente para os serviços onde existe a restrição da velocidade, torna-se válida a seguinte observação: durante a execução destes serviços de manutenção a via estará com alguma condição insegura, necessitando então de uma restrição de velocidade. Seguindo os passos dos estudos e pesquisas até este ponto, tal condição insegura será visível nos fatores de restrição de velocidade anteriormente apresentados. 126 Portanto, a restrição de velocidade em virtude de algum serviço de manutenção será fornecida em função das condições da via pelos parâmetros anteriormente apresentados. 4.5 VISIBILIDADE DE SINAIS Segundo o antigo Regulamento Geral de Operações (RGO) desenvolvido pela R.F.F.S.A. existe a seguinte informação quanto a sinais: “ Sinais feitos com bandeiras, ou de placa, acústicos, semáforos e focos luminosos, ou uma combinação dos mesmos, serão usados para dirigir a circulação dos trens.” Seguindo as informações do Regulamento Geral de Operações, a M.R.S. Logística S.A. trabalha com seus sinais luminosos e em algumas situações de manutenção com placas de advertência. Os sinais luminosos utilizados pela M.R.S. Logística S.A. utilizam a seguinte codificação: COR SIGNIFICAÇÃO VERMELHO PARADA, salvo disposição em contrário AMARELO PROSSIGA com cuidado VERDE PROSSIGA INDICAÇÃO de posicionamento de AZUL descarrilamento agulha ou detector de Tabela 27 – Classificação dos aspectos de sinais luminosos Fonte: Leonardo S. Soares Podem existir combinações entre os aspectos de cor anteriormente apresentados. Um exemplo clássico utilizado pela M.R.S. Logística S.A. é a utilização de “sinais de cauda” com a cor vermelha em pisque. 127 Enfim, todas as variações possíveis irão contemplar as cores básicas apresentadas e podem ser consultadas através do Regulamento de Operações Ferroviárias (ROF) da companhia. Direcionando o foco para a velocidade de circulação, a situação mais crítica do estudo consiste em um trem circulando com velocidade próxima a máxima autorizada quando o maquinista recebe um sinal de parada total para o seu trem. Ou seja, a velocidade máxima de circulação para aquele local deve ser tal que, no momento em que o maquinista consegue visualizar o sinal, o mesmo deve ter uma distância suficiente até o sinal para realizar todo o procedimento de frenagem do trem. Assim, quanto maior a velocidade de circulação, maior será o espaço necessário para que o maquinista consiga parar o trem totalmente. De acordo com o Manual de Operação dos Trens de Minério da SP-3 (R.F.F.S.A.) são necessárias as seguintes distâncias de frenagem para as composições e velocidades: 128 Tabela 28 – Tabela de distâncias de frenagem por tipo de composição Fonte: R.F.F.S.A. Conforme apresentado, a situação mais crítica encontra-se na maior distância de frenagem encontrada, ou seja, 1360 m para velocidade de circulação de 60 km/h. Logo, podemos definir que a distância mínima entre o sinal e o ponto de visão do maquinista deve ser de 1500 m para uma velocidade autorizada de 60 km/h. Para trechos de menor velocidade de circulação esta distância pode ser reduzida. 129 5. MÉTODO PARA DETERMINAÇÃO DA V.M.A. DO TRECHO FERROVIÁRIO POR MEIO DO RELACIONAMENTO ENTRE AS VARIÁVEIS DO MATERIAL RODANTE E DA VIA PERMANENTE Atualmente a M.R.S. Logística S.A. utiliza a seguinte planilha de cálculo para as velocidades nos trechos: Tabela 29 – Planilha de cálculo utilizada atualmente Fontes: Régis Mendes Paraguassu O cálculo da velocidade máxima autorizada é todo realizado no campo direito da tabela e contempla a equação reduzida desenvolvida por Brina H. L. (1979), que descreve uma velocidade limite para cada raio de curvatura existente no trecho. Como cada linha da tabela representa uma curva, possuímos diferentes velocidades. Assim, a velocidade de um trecho é determinada pela curva de menor raio da região: 130 Tabela 29 B – Planilha de cálculo utilizada atualmente Fontes: Régis Mendes Paraguassu As setas indicam as velocidades máximas atribuídas ao trecho em virtude da velocidade que poderá ser desenvolvida na curva de menor raio. Existem duas velocidades possíveis devido ao fato da planilha trabalhar com cenários diferentes. Esta diferença entre os cenários origina-se do coeficiente de segurança que é utilizado por Brina, H. L. (1979) em seus cálculos; quanto menor o coeficiente de segurança, maior será a velocidade máxima de circulação para as composições. Desenvolvendo o modelo utilizado pela M.R.S. Logística S.A. é ideal que sejam incluídos mais parâmetros para determinação da velocidade de forma a garantir a segurança da operação ferroviária. Conforme desenvolvido nos capítulos anteriores, a M.R.S. Logística S.A. segue a metodologia empregada na R.F.F.S.A. para o cálculo de sua velocidade limite em trechos. Com o advento do Track-star, informações que podem ser fundamentais para este cálculo podem e devem ser incluídas. Desta forma, utilizando a equação completa de Brina, H. L. (1979): 131 Tabela 30 – Planilha de cálculo com parâmetro de superelevação Fontes: Leonardo S. Soares Com esta nova formatação, a tabela de cálculo de velocidades limites para curvas utilizada pela M.R.S. Logística S.A. contempla os parâmetros descritos pela expressão de Brina, H. L. (1979): Vmáx. = √ ( 127.( hmáx. B B -d 2 + )).√R H.n Outro dado importante, que deve ser considerado e que também pode ser obtido pelo Track-star é a bitola medida na via. Na expressão de Brina, H. L. (1979) apresentada anteriormente, a bitola da via é considerada no referido cálculo. Portanto, inserindo esta informação na planilha da M.R.S. Logística S.A.: 132 Tabela 31 – Planilha de cálculo com parâmetro de bitola Fontes: Leonardo S. Soares Neste formato a planilha da M.R.S. Logística S.A. contempla todos os parâmetros físicos desenvolvidos por Brina H. L. (1979): - B: Bitola medida no local (obtida pontualmente através do Track-star); - hp: Superelevação prática em milímetros medida no local (obtida pontualmente através do Track-star); - H: Altura do centro de gravidade do veículo ferroviário em metros; - d: Deslocamento do centro de gravidade em metros; - n: coeficiente de segurança atribuído ao trecho em escala de 1 a 5 (quanto menor, menos seguro). Porém, neste novo formato, não é contemplado o estado de conservação da via, o que é fundamental. Conforme analisado no capitulo 2.3.11, a norma da R.F.F.S.A. 133 atenta para alguns dados que poderão ser incluídos durante o cálculo da velocidade de forma a indicar se a mesma é compatível com a manutenção trabalhada no trecho. Desta forma deve ser incluída a seguinte expressão: IP = 100. ( E-1.Log(T/100).(Al+Tor+Niv)) Onde: IP: índice de prioridade; E: extensão real do trecho; T: tonelagem /dia transportada; Al: extensão total em metros, em que a tolerância do parâmetro alinhamento é ultrapassada dentro do quilômetro considerado; Tor: extensão total em metros, em que a tolerância do parâmetro torção é ultrapassada dentro do quilômetro considerado; Niv: extensão total em metros, em que a tolerância do parâmetro nivelamento é ultrapassada dentro do quilômetro considerado. Desta forma, as novas informações desejadas poderão ser inseridas no cálculo da seguinte forma: 134 Tabela 32 – Planilha de cálculo com parâmetro de estado de manutenção Fontes: Leonardo S. Soares Assim, para cada curva do trecho será obtido um Índice de Prioridade (IP). Quando maior o valor de IP, maior a necessidade de intervenção do trecho e consequentemente, menor a velocidade de circulação. Para um melhor relacionamento entre os parâmetros velocidade de circulação e IP é ideal que seja descrito como o valor de IP pode afetar a velocidade. Conforme exposto no capítulo Geometria da Via - Traçado, existem limites máximos admissíveis para os valores que são inseridos no cálculo de IP. Recorrendo às tabelas das normas apresentadas, temos: 135 - Alinhamento: Classe de via Classe 1 Classe 2 Classe 3 Classe 4 Classe 5 Via em tangente Via em curva Desvio máximo no Desvio máximo no Desvio máximo no ponto médio de uma ponto médio de uma ponto médio de uma corda** de corda** de 9,3 m linha* de 18,6 m (cm) 18,6 m (cm) (cm) 12,7 n.a.*** 12,7 7,6 n.a.*** 7,6 4,4 3,2 4,4 3,8 2,5 3,8 1,9 1,3 1,6 * Os bordos da linha devem estar na linha da bitola (1,59cm abaixo do topo do boleto). Qualquer trilho pode ser usado como referência, desde que seja sempre o mesmo ao longo da tangente. ** Os bordos da corda devem estar situados na linha da bitola do trilho externo. *** Não aplicável. Tabela 33 – Limites máximos para desvio de alinhamento (FRA) Fonte: Federal Railroad Administration (FRA) 136 - Nivelamento: Requisitos7,8 Via em tangente Classe Classe Classe Classe Classe 1 (cm) 2 (cm) 3 (cm) 4 (cm) 5 (cm) Elevação máxima produzida por gradiente de superelevação ao final de um comprimento de trilho de 9,3 m 8,9 7,6 5,1 3,8 2,5 Desvio máximo no nivelamento longitudinal em qualquer dos trilhos, no ponto médio de uma corda de 18,6 m 7,6 7,0 5,7 5,1 3,2 Desvio máximo, para um referencial de nivelamento transversal zero, para qualquer ponto em tangente 7,6 5,1 3,9 3,2 2,5 Desvio máximo no nivelamento transversal entre dois pontos quaisquer espaçados de menos de 18,6 m* Variação máxima no nivelamento transversal, por 9,3 m de comprimento, em espiras de transição 7,6 5,7 5,1 3,9 3,8 7,6 3,9 3,2 2,5 1,9 * Excetuado o dispostos em 213.57, onde a superelevação da curva for igual ou superior a 15,2 cm, a diferença no nivelamento transversal ao longo de 18,6 m não deverá exceder a 3,8 cm. Para controlar o movimento harmônico nas vias de classes 2 a 5, com juntas alternadas, as diferenças no nivelamento transversal não devem exceder a 3,2 cm em todos os seis pares de juntas consecutivas. Considera-se que uma via possui juntas alternadas quando estas estão espaçadas de mais de 3 m entre si. Tabela 34 – Limites máximos para desvio de nivelamento (FRA) Fonte: Federal Railroad Administration (FRA) - Torção ou empeno: “ 7Segundo a norma EVR-20 da RFFSA, a variação do nivelamento transverso ou empeno é dada pela fórmula G= 301/V, onde: G é a variação do empeno, em mm/m; e V é a velocidade, em km/h. (N.T.)” 137 Apesar das tabelas anteriormente apresentadas serem uma referência válida, existem ajustes necessários de forma a enquadrar tais condições aos perfis de linha da M.R.S. Logística S.A.. Estes ajustes para cada classe de via estão presentes no veículo de inspeção de via (Track-star) e representados conforme a tabela abaixo: Classe da Via Classe 1 Classe 2 Classe 3 Classe 4 Classe 5 Limite máximo de alinhamento (mm) Limite máximo de nivelamento (mm) 128,00 76,00 44,00 38.00 13,00 76,00 70,00 57,00 38,00 32,00 Limite máximo de torção / empeno (mm) 76,00 51,00 44,00 32,00 25,00 Tabela 35 – Limites máximos para classificação de defeito em via permanente Fonte: Holland Company Assim os limites dos parâmetros apresentados na tabela anterior podem ser caracterizados como fatores limitantes da velocidade em virtude do risco em potencial que apresentam. Inserindo esta informação na tabela de cálculo de velocidade, os campos onde serão inseridas as informações de alinhamento, nivelamento e torção máximos medidos no trecho deverão ser realizados de forma que à medida que o valor ultrapassa o limite estipulado para a classe de via do trecho, a velocidade deve ser restrita à velocidade da classe anterior. Adequando a tabela de cálculo: 138 Tabela 36 – Planilha de cálculo com parâmetros de alinhamento, nivelamento e torção Fonte: Leonardo S. Soares Portanto, ao serem inseridos dados do Track-star de alinhamentos, nivelamentos e empenos máximos em cada curva, a própria planilha informará se houve redução da classe da via em virtude de algum destes parâmetros. Porém, os fatores limitantes de velocidade não se restringem unicamente aos dados da geometria da via medidos pelo Track-star. É ideal que todos os demais fatores que podem servir como elementos de restrição de velocidade sejam considerados. Um outro fator que deve ser levado em consideração trata do ingresso de composições em pátios de cruzamento ou manobra. Conforme exposto no decorrer do trabalho, existe uma restrição de velocidade para a passagem de uma composição para a segunda linha em virtude o raio de curvatura do trilho de ligação. Lembrando que a norma da R.F.F.S.A. é a melhor adaptada para o trecho da M.R.S. Logística S.A. é válido considerar as informações da seguinte tabela: 139 Bitola larga Raio do trilho Velocidade Raio curvo externo máxima Jacaré equivalente Comprimento Ângulo de ligação (km/h) (m) (m) (graus) (m) 3,353 2º 42' 50'' 5 70,888 66,666 20,7 5,029 1º 48' 32'' 8 159,146 172,740 32,0 6,706 1º 21' 23'' 10 284,153 273,696 42,0 9,144 0º 59' 41'' 14 528,555 527,500 58,3 Tabela 37 – Características de AMV Agulha Fonte: R.F.F.S.A. Porém, a tabela da R.F.F.S.A. não contempla AMV com jacarés maiores que o número 14. Recorrendo à tabela da ABNT: Agulha Bitola Jacaré (mm) (mm) V (km/h) 8 5029,2 1600 32,13 10 5029,2 1600 32,13 14 6705,6 1600 42,84 14 9144 1600 57,52 20 9144 1600 59,01 12 5943,6 1600 49,08 16 7924,8 1600 69,73 Tabela 38 – Características de AMV Fonte: Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) Utilizando as duas tabelas propostas para velocidade em AMV, torna-se visível que uma tabela completa as informações da outra. Ao inserir as informações na planilha de cálculo, deve-se considerar o AMV que tem condição mais crítica, ou seja, aquele que exige uma menor velocidade de circulação. Neste caso, esta AMV será o principal redutor de velocidade em pátios de um determinado trecho. 140 Automatizando as informações da planilha de cálculo, para cada trecho poderá ser calculada a velocidade de circulação na segunda linha conforme a planilha abaixo que será atrelada à planilha de cálculo principal. Tabela 39 – Entrada de dados dos AMV Fonte: Leonardo S. Soares. Retornando às considerações quanto à fatores restritivos de velocidade em linha corrida, torna-se válida a inserção do parâmetro de qualidade da fixação e dormentes. Verificando o estudo detalhado sobre as normas pertinentes à condição dos dormentes na via obtém-se a seguinte tabela: Tipo de trilho Cargas por eixo (tf) TR – 57 TR – 68 30 30 Espaçamento máximo (cm) * para que a tensão no para que a tensão no trilho não seja lastro não seja ultrapassada ultrapassada 98 159 Espaçamento recomendado (cm) 133 146 98 146 Tabela 40 – Espaçamento de dormentes recomendado Fonte: R.F.F.S.A. Analisando a taxa de dormentação trabalhada pela M.R.S. Logística S.A., de 1850 dormentes por quilômetro, encontra-se um afastamento entre os eixos dos dormentes de aproximadamente 54 centímetros. 141 Pela tabela proposta da R.F.F.S.A. não deverá ser permitido um espaçamento entre dormentes que estejam “travando” a via superior a 146 centímetros. De acordo com a taxa de dormentação supracitada, 146 centímetros irão nos representar cerca de 3 dormentes em seqüência. Ou seja, se em um determinado trecho da via existir 3 ou mais dormentes ruins consecutivamente, existe naquele ponto um risco em potencial e uma restrição de velocidade operacional. Esta informação já tratada pelo veículo de inspeção de via. O Track-star aplica através de rodeiros uma força lateral para forçar a via e testar a resistência dos dormentes. O gráfico gerado por este tipo de inspeção indica claramente a os pontos onde 3 dormentes ou mais estão sem resistência a esforços dinâmicos. Portanto, a planilha de cálculo deve contemplar esta informação obtida pelo Trackstar, que também é conhecida como abertura de bitola dinâmica ou bitola carregada. Tabela 41 – Planilha de cálculo com o parâmetro de bitola carregada aferida pelo veículo de inspeção de via (Track-star) Fonte: Leonardo S. Soares 142 Conforme os parâmetros alinhamento, nivelamento e empeno, existe para cada classe de ferrovia um valor máximo admissível para abertura da bitola carregada. Desta forma, assim como foi feito com estes outros parâmetros quando em uma determinada curva este valor for ultrapassado em uma determinada classe de via; naquela curva a classe de velocidade da via deverá ser reduzida de forma a garantir a segurança da circulação. Tratando agora das juntas dos trilhos, deve ser considerada a seguinte informação a título de cálculo da velocidade de circulação: Velocidade Máxima Autorizada 16 km/h 40 km/h 64 km/h 128 km/h Existência de talas de junção trincadas, quebradas, ou desgastadas Número mínimo de parafusos de tala Permitido* Permitido* Negativo (tala deve ser substituída) Negativo (tala deve ser substituída) 1** 2 2 2 * Permitida a existência da tala desde que não exista trinca entre dois parafusos contíguos. ** Caso exista na via alguma situação de TCS (trilho curto soldado) este deverá ser fixado com pelo menos 2 parafusos de tala, para trilhos com medidas convencionais, é permitida a utilização de tala com apenas 1 parafuso desde que respeitando a VMA indicada. Tabela 42 – Tabela de condições de juntas e velocidade Fonte: Leonardo S. Soares Sendo assim a tabela de cálculo deve considerar as situações expostas de talas de juntas e parafusos bem como os possíveis limites de velocidade de circulação: 143 Tabela 43 – Tabela de condições de juntas e velocidade Fonte: Leonardo S. Soares Portanto, mediante alguma a situação relatada na tabela do estado das talas de junção a velocidade de circulação no trecho poderá ser reduzida. Porém, mesmo com o estado das talas de junção perfeito, podem existir imperfeições na região de junção dos trilhos que podem vir a provocar uma situação insegura para a circulação de trens. Conforme a norma da FRA anteriormente apresentada e discutida, esta situação insegura origina-se no casamento não perfeito dos trilhos na região da tala, devido a uma diferença das dimensões dos trilhos. Conforme a tabela da FRA: 144 Velocidade Máxima Autorizada Desvio máximo no plano de rolamento das pontas dos trilhos (cm) Desvio máximo no lado interno das pontas dos trilhos (cm) 16 km/h 0,6 0,6 40 km/h 0,6 0,5 64 km/h 0,5 0,5 128 km/h 0,3 0,3 Tabela 44 – Tabela de desvios máximos dos planos de rolamento nas juntas Fonte: Federal Railroad Administration (FRA) Ou seja, esta informação também deve ser considerada na planilha de cálculo: Tabela 45 – Planilha de cálculo contemplando a situação das talas de juntas Fonte: Leonardo S. Soares Passando ao estudo das possíveis limitações oriundas de defeitos existentes nos trilhos, conforme observado no capítulo referente, é possível realizar uma relação entre o tipo de defeito do trilho e a velocidade de circulação através de uma norma proposta pela FRA: 145 Defeito Comprimento do defeito (cm) Mancha oval Área afetada pelo boleto (%) Adotar as medidas prescritas nas notas abaixo, caso o trilho não seja substituído 5 a 70 48 km/h 36 km/h Desde que autorizado por inspeção visual 0 km/h Obrigatória inspeção visual 70 a 100 100 Trinca composta 5 a 70 2,5 a 5,0 48 km/h 36 km/h Desde que autorizado por inspeção visual 0 km/h Obrigatória inspeção visual 48 km/h Para vias de classe 3 a 5 80 km/h Para vias de classe 3 a 5 com utilização de talas no defeito 48 km/h Para vias de classe 3 a 5 desde que autorizado por inspeção visual 80 km/h Para vias de classe 3 a 5 com utilização de talas no defeito [36 km/h Desde que autorizado por inspeção visual] ou [sem limitação desde que aplicando tala de junção e inspecionando o ponto do defeito durante 90 dias] [0 km/h Obrigatória inspeção visual] ou [80 km/h desde que aplicando tala de junção no defeito] 80 km/h e inspeção no ponto de defeito durante 90 dias após o ocorrido 5,0 a 10,0 48 km/h e inspeção no ponto de defeito 30 dias após o ocorrido 70 a 100 100 Trinca de detalhe, Queima por patinação e solda defeituosa 5 a 25 25 a 80 80 a 100 100 Trinca horizontal do boleto, Trinca vertical do boleto, Trinca da alma, Trinca vertical da alma e Trinca horizontal na concordância almaboleto > 10,0 * * Trinca estelar na furação da alma 1,25 a 2,5 2,5 a 3,75 > 3,75 * * Ruptura do patim 2,5 a 15 > 15 Ruptura sem causa aparente Trilho danificado Trilho achatado 48 km/h 0 km/h Obrigatória inspeção visual 80 km/h e inspeção no ponto de defeito durante 90 dias após o ocorrido 48 km/h e inspeção no ponto de defeito durante 30 dias após o ocorrido 48 km/h 0 km/h Obrigatória inspeção visual 48 km/h Para vias de classe 3 a 5 desde que autorizado por inspeção visual 80 km/h Para vias de classe 3 a 5 com utilização de talas no defeito [0 km/h Obrigatória inspeção visual] ou [48 km/h desde que aplicando tala de junção no ponto de defeito] 0 km/h Obrigatória inspeção visual ou aplicar tala de junção no ponto de defeito 48 km/h Para vias de classe 3 a 5 desde que autorizado por inspeção visual 80 km/h Para vias de classe 3 a 5 com utilização de talas no defeito Altura ≥ 1,0 Comprimento ≥ 20,0 80 km/h * Na hipótese do boleto ter sido atingido por trinca originada em outra parte do trilho. Tabela 46 – Tabela de defeitos de trilhos e limitações de velocidade Fonte: Leonardo S. Soares 146 De forma análoga aos demais parâmetros apresentados anteriormente, torna-se fundamental computar na planilha de cálculo todas as condições de trilhos apresentadas na tabela anterior. Desta forma: Tabela 47 – Planilha de cálculo contemplando defeitos nos trilhos Fonte: Leonardo S. Soares Logo, a medida que forem inseridas informações referentes a defeitos no trilho encontrados em prospecções convencionais, poderá haver redução do limite de velocidade conforme a tabela apresentada da FRA. Além dos trilhos e dormentes outro componente fundamental da estrutura da via é o lastro. Utilizando novamente as informações citadas em capítulos anteriores, sabe-se que a altura de lastro deve ser compatível com a velocidade de circulação. Assim, verificando os dados discutidos: 147 - Para dormentes de madeira: Bitola (m) Massa do trilho (kg/m) Taxa de Espaçamento dormentação de dormentes por (cm) quilômetro Velocidade (km/h) Altura mínima de lastro (cm) 80 28 57 54 1850 55 24 40 22 1,60 80 24 68 54 1850 55 20 40 17 Tabela 48 – Tabela de correlação: altura de lastro x velocidade de circulação sobre dormentes de madeira Fonte: Leonardo S. Soares Para dormentes de concreto: Bitola (m) Massa do trilho (kg/m) Taxa de Espaçamento dormentação de dormentes por (cm) quilômetro Velocidade (km/h) Altura mínima de lastro (cm) 80 37 57 54 1666 55 35 40 32 1,60 80 35 68 54 1666 55 30 40 27 Tabela 49 – Tabela de correlação: altura de lastro x velocidade de circulação sobre dormentes de concreto Fonte: Leonardo S. Soares Contemplando a informação da planilha de cálculo: 148 Tabela 50 – Planilha de cálculo contemplando condições de lastro e dormentes Fonte: Leonardo S. Soares De forma análoga aos demais parâmetros, a velocidade máxima de circulação será calculada levando em consideração a altura de lastro e as condições de composição da via. Quanto a estabilidade dada plataforma, conforme apresentado anteriormente, quanto maior a exigência de esforços da via, maior deverá ser a estabilidade da mesma. No entanto não foram encontradas referências numéricas de uma possível instabilidade que viesse a reduzir a velocidade de circulação. Sabe-se que ao se identificar um princípio de instabilidade na plataforma da via, são tomadas de forma imediata medidas que venham a conter o ponto crítico. A restrição de velocidade ocorre de forma imediata quando existem sinais de alto risco para circulação, como por exemplo: encostas de cortes ou aterros cedendo na via. 149 Sendo assim, inserindo tal informação sobre instabilidade na planilha de cálculo: Tabela 51 – Planilha de cálculo contemplando condições da plataforma Fonte: Leonardo S. Soares Desta forma pode-se considerar que o parâmetro “condições de drenagem” já foi satisfeito; afinal, quando a drenagem da via possui uma condição ruim, os efeitos aparecerão na plataforma da via. Esta condição é muito comum de ser encontrada nas vias férreas através do aparecimento de “bolsões de lama”, que indicam a insuficiência da drenagem em um determinado ponto, causando a instabilidade da plataforma. Um tópico ainda não abordado na planilha de cálculo é a instabilidade da via em virtude das condições dos trilhos. Já foram discutidos na planilha parâmetros como dormentes e lastro, porém os trilhos e fixações também possuem fundamental importância na estabilidade da via. O grande problema da instabilidade da superestrutura causada pelos trilhos é flambagem. Conforme exposto no capítulo “Estado de Tensão dos Trilhos” o fenômeno 150 da flambagem põe em risco a circulação dos trens por retirar a via do seu alinhamento normal, criando pequenas curvaturas em tangentes. Dependendo a velocidade de circulação adotada esta curvatura da via pode gerar um forte impacto nos truques da composição, gerando uma instabilidade de forças atuantes e consequentemente gerando o risco do descarrilamento. Detalhando o fenômeno da flambagem: Figura 25 – Trilhos com estado normal de tensões. Fonte: Leonardo S. Soares Figura 26 – Trilhos com altas tensões e deformação aparente. Fonte: Leonardo S. Soares Como já visto, a deformação da via ocorre em virtude do trilho não possuir espaço suficiente para sua dilatação devido ao calor, assim o fenômeno da flambagem ocorre como forma de um “alívio de tensão” do trilho. Porém, a situação de flambagem pode ser considerada como uma falta de alinhamento da via devido ao estado de tensão dos trilhos. Desta forma este parâmetro 151 já foi considerado quando incluímos na planilha de cálculo o valor máximo de falta de alinhamento medido pelo Track-star. Caso o fenômeno da flambagem ocorra num ponto específico do trecho que não tenha sido utilizado o Track-star, o valor da falta de alinhamento pode ser medido em campo com a utilização de métodos de cordas e flechas. Assim, inserindo o parâmetro na planilha de cálculo: Tabela 52 – Planilha de cálculo contemplando condições das tensões nos trilhos Fonte: Leonardo S. Soares Logo, durante o cálculo da velocidade máxima autorizada num dado trecho, o estado de tensão dos trilhos da via será considerado, enquadrando-se nos valores limites admitidos pelo Track-star para cada classe de via. Outro parâmetro do Track-star pode ser inserido na planilha de cálculo: a ocorrência de bitola carregada. Conforme explicado nos capítulos anteriores o Track-star é equipado com um sistema de rodeiros que exerce uma força lateral da na via 152 equivalente a passagem de um rodeiro carregado. Desta forma o Track-star analisa a condição de fixação da via através dos dormentes, placas de apoio, grampos e tirefonds. Como na planilha de cálculo ainda não foi contemplado nenhum parâmetro que assegure a condição das fixações, torna-se interessante a inserção deste parâmetro do Track-star. Portanto, a bitola carregada medida pelo Track-star deverá ser colocada na planilha a fim de inserir no cálculo da velocidade máxima as condições das fixações da via. Desta forma: Tabela 53 – Planilha de cálculo contemplando condições das fixações Fonte: Leonardo S. Soares 153 Assim, de forma análoga ao acontecido com o parâmetro de flambagem, os limites as medidas de ocorrência de bitola carregada já estão estabelecidos para cada classe de ferrovia. Portanto, cada bitola carregada medida deve estar dentro do limite de tolerância para a classe de ferrovia que foi considerado, caso contrário a velocidade de circulação será reduzida em virtude da má fixação dos trilhos da via. Finalizando os parâmetros restantes de via permanente restam: gabaritos de obras de arte, pontes e túneis. Conforme explicado, não existem restrições de velocidade para composições ferroviárias referentes a existência de túneis e pontes em perfeitas condições. Considerando agora alguns parâmetros externos, o cálculo da velocidade máxima deverá considerar: obras ao longo da via, acidentes ferroviários e acidentes da natureza, passagens em nível, proximidade de edificações, serviços de manutenção e visibilidade de sinais. Conforme exposto anteriormente, a existência de obras ao longo da via modifica a condição de algum parâmetro anteriormente já considerado que irá restringir a velocidade de circulação. Portanto não se torna necessário a existência de mais um item específico na planilha de cálculo. Esta mesma consideração vale para ocorrência de acidentes ferroviários que danificam a via permanente. Tratando-se de serviços de manutenção, foi verificado que dependendo da natureza do serviço a velocidade de circulação local poderá ser mantida, reduzida ou interrompida. Nos casos já discutidos: Sem restrição de velocidade: - Limpeza de canaletas; - Roçada ou capina; - Manutenção de faixa de domínio; - Reaperto de juntas. 154 Com restrição de velocidade: - Correção de bitola; - Alinhamento manual da via; - Correção de superelevação; - Nivelamento manual da via; - Limpeza manual de lastro; - Substituição de dormentes; - Substituição de placas de apoio. Com interrupção do tráfego: - Reconstrução da via; - Desguarnecimento total de lastro; - Substituição de trilhos; - Confecção de soldas; - Aplicação de junta em fraturas; - Substituição total ou parcial de AMV. Considerando as informações na planilha de cálculo: 155 Tabela 54 – Planilha de cálculo contemplando ocorrências de serviços de manutenção Fonte: Leonardo S. Soares Os acidentes da natureza podem ser tratados da mesma forma, porém sendo classificados apenas em dois grupos: acidentes que provocam interrupção de tráfego e acidentes de menor porte, sem interrupção de tráfego. Considerando apenas alguns dos possíveis acidentes da natureza que venham a interromper o tráfego das composições ferroviárias, pode-se destacar: o Obstrução da via por queda de barreiras; 156 o Destruição da via por enxurradas, queda de aterros, carreamento de materiais; o Via completamente alagada; o Demais situações de origem natural que impossibilitem o tráfego. Inserindo estes dados na planilha de cálculo ficará registrado o motivo pelo qual o tráfego em um dado trecho da ferrovia foi interrompido. Tabela 55 – Planilha de cálculo contemplando ocorrências de acidentes da natureza Fonte: Leonardo S. Soares No caso da visibilidade de sinais é necessário analisar a distância de frenagem que uma composição precisa para parar totalmente no momento em que o maquinista percebe o sinal fechado a sua frente. 157 De acordo com a tabela do Regulamento Geral de Operações da R.F.F.S.A. existe uma distância de frenagem para cada tipo de trem, terreno, velocidade e aplicação de freio. Desta forma, determinando o tipo de trem (através de sua tonelagem bruta), o terreno (rampa ascendente ou descendente) e a aplicação de freio é possível de se determinar uma velocidade compatível para uma parada segura do trem na condição mais desfavorável de acordo com a tabela da R.F.F.S.A.. Trabalhando com a seguinte equação de Newton, é possível determinar a desaceleração que cada tipo de composição sofre em cada tipo de situação proposta pela tabela. v2 = v02 + 2.a.∆x Na tabela proposta: Tabela 56 – Tabela de distância de frenagem por tipo de composição e aplicação de freio a ar Fonte: R.F.F.S.A. 158 Considerando que a distância de frenagem representa o eixo das abscissas e a desaceleração o eixo das ordenadas, é possível descrever o seguinte gráfico para os dois tipos de trens presentes na tabela: 0,00 0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 -0,50 2 y = -6E-06x + 0,008x - 3,4336 DESACELERAÇÃO (m/s²) -1,00 -1,50 2 y = -2E-06x + 0,007x - 6,3097 -2,00 A B Polinômio (B) Polinômio (A) -2,50 -3,00 -3,50 DISTÂNCIA DE FRENAGEM (m) Figura 27 – Gráfico de correlação: distância de frenagem x desaceleração Fonte: Leonardo S. Soares Com o auxílio do gráfico, uma vez determinada a distância de frenagem é possível de se determinar a desaceleração necessária de acordo com o tipo de trem (vazio ou carregado). Uma vez descoberto o valor da desaceleração para que a velocidade final próxima ao sinal seja zero, pode-se determinar a velocidade máxima com que a composição deverá estar para fazer uma frenagem segura através da equação anteriormente apresentada: 159 v2 = v02 + 2.a.∆x Portanto, na planilha de cálculo deverá ser inserida a distância de frenagem ou distância focal disponível para cada sinal do trecho: Tabela 57 – Planilha de cálculo considerando existência de sinais ao longo do trecho Fonte: Leonardo S. Soares O último parâmetro externo a ser contemplado pela planilha de cálculo são as passagens em nível. Conforme demonstrado no capítulo específico a este parâmetro, a distância de visibilidade será um fator fundamental para a determinação da velocidade. Analisando novamente a tabela: 160 Tabela 58 – Tabela de distância de frenagem para ferrovias e rodovias em cruzamentos rodo-ferroviários Fonte: Departamento Nacional de Trânsito Desta forma, a planilha deverá contemplar a existência de passagens em nível e a distância de visibilidade da mesma. Sendo assim, na região de uma passagem em nível crítica, a velocidade de circulação dos trens poderá ser reduzida a título de aumentar a segurança durante sua passagem pelo cruzamento. 161 Tabela 59 – Planilha de cálculo considerando existência de passagens em nível ao longo do trecho Fonte: Leonardo S. Soares Neste ponto, a planilha de cálculo contempla quase todos os parâmetros pesquisados com exceção do tipo de tração e o comprimento dos trens. Estes dois últimos parâmetros podem servir como um indicador de que a velocidade resultante de toda planilha de cálculo é compatível com o tipo de trem que irá desenvolvê-la. Desta forma, uma vez inseridos todos os dados na planilha de cálculo e determinada a velocidade de circulação com base nestes parâmetros, a solução deverá ser levada ao simulador de condução onde serão demonstrados todos os novos esforços que a composição como um todo irá sofrer. Se estes esforços estiverem dentro dos limites de tolerância, a nova velocidade poderá ser aprovada, caso contrário, deverá ser discutida entre as áreas afins da empresa. Desenvolvendo esta “aprovação” na planilha de cálculo: 162 Tabela 60 – Planilha de cálculo considerando a aprovação do resultado pelo pessoal da operação ferroviária e mecânica Fonte: Leonardo S. Soares 163 6. DISCUSSÃO Para uma discussão refinada do sistema de cálculo é ideal realizar uma simulação de forma a verificar a confiabilidade dos resultados. Foi escolhido um trecho do quilômetro 343 da linha do centro, composto por uma seqüência de curvas conforme a foto aérea a seguir: D C B A Figura 28 – Trecho em estudo da M.R.S. Logística S.A. Fonte: Gerência de Via Permanente de Minas Gerais 164 Analisando o gráfico do Track-star para as curvas do quilômetro proposto para inserir os parâmetros de superelevação e bitola no sistema. Devem ser inseridas as condições mais desfavoráveis, ou seja, a superelevação mais baixa e a maior bitola larga. 165 Figura 29 – Gráfico de resultado de inspeção em trecho Fonte: Alexandre da Silva Leonardo (M.R.S. Logística S.A.) 166 Inserindo as informações para as curvas do sistema de cálculo: Tabela 61 – Planilha de cálculo simulando superelevação e bitola Fonte: Leonardo S. Soares Considerando que neste trecho irá circular trens de minério com vagões GDT vazios e desta forma executando todos os cálculos para a altura do centro de gravidade destes veículos, chega-se ao seguinte valor para tal medida: ALTURA DO CG (GDT VAZIO) = H = 1,75m A compressão máxima admitida para a suspensão deste tipo de vagão é de aproximadamente 6 cm. Esta medida será a principal causadora de deslocamento do Centro de Gravidade durante a inscrição e portanto, considerada na planilha de cálculo. DESLOCAMENTO DO CG = d = 0,06m Considerando ainda que o coeficiente de segurança será o maior valor possível, ou seja, mais seguro; conforme a medida definida por Brina H. L. (1975): COEFICIENTE DE SEGURANÇA = n = 5 Atribuindo estes valores na planilha de cálculo: 167 Tabela 62 – Planilha de cálculo simulando altura de centro de gravidade, deslocamento do centro de gravidade e coeficiente de segurança considerado Fonte: Leonardo S. Soares Verificando os resultados parciais: Comparativo CALCULADO x REAL 90 80 70 V (km/h) 60 50 40 ATUAL VMA Calculada 30 20 10 0 A B TRANSIÇÃO C D CURVAS Figura 30 – Gráfico de primeira análise dos resultados Fonte: Leonardo S. Soares Conforme esperado, a velocidade máxima autorizada calculada para trecho através da planilha de cálculo aproxima-se consideravelmente da praticada pela empresa. Porém, deve-se ressaltar que foram inseridos somente alguns dados de geometria da 168 superestrutura bem como apenas um modelo de vagão. Portanto este é um resultado parcial. Quanto ao estado de manutenção da via, deve ser considerado para cada parâmetro a extensão em metros de quando o referido defeito ultrapassa os limites propostos. Analisando novamente o gráfico do Track-star: Figura 31 – Gráfico de resultado de inspeção em trecho Fonte: Alexandre da Silva Leonardo (M.R.S. Logística S.A.) Ou seja, em nenhum dos parâmetros foi ultrapassado o limite de tolerância estabelecido. Inserindo os dados na planilha de cálculo: 169 Tabela 63 – Planilha de cálculo simulando o estado de manutenção Fonte: Leonardo S. Soares Considerando a tonelagem bruta diária da M.R.S. Logística S.A. de 61.000 toneladas no trecho proposto: Tabela 64 – Planilha de cálculo simulando o estado de manutenção Fonte: Leonardo S. Soares A planilha de cálculo fornece que o estado de manutenção da via está obedecendo aos padrões, portanto não existe qualquer índice de prioridade para intervenção neste trecho. Este fato justifica os valores de IP-SCORE iguais a zero na planilha. Alimentando a planilha com as demais informações necessárias; a classe de via e os parâmetros máximos de geometria (empenos, erros de alinhamento e nivelamento) no trecho estudado devem ser contemplados. Trabalhando novamente com gráfico do Track-star: 170 Figura 32 – Gráfico de resultado de inspeção em trecho Fonte: Alexandre da Silva Leonardo (M.R.S. Logística S.A.) Desta forma, inserindo os valores na planilha de cálculo: Tabela 65 – Planilha de cálculo simulando os defeitos de via medidos Fonte: Leonardo S. Soares 171 Inserindo os dados de máxima bitola carregada medida conforme as medidas do Track-star: Figura 33 – Gráfico de resultado de inspeção em trecho Fonte: Alexandre da Silva Leonardo (M.R.S. Logística S.A.) Tabela 66 – Planilha de cálculo simulando o estado das fixações e dormentes Fonte: Leonardo S. Soares Com os valores inseridos, a planilha informou através das células em vermelho que existem parâmetros acima dos limites admitidos para a classe de via considerada. Além disto, os valores registrados em laranja encontram-se exatamente iguais ao limite estabelecido para a classe de via 3. Desta forma, existe um indicador de que o estado das fixações e dormentes é um ponto de risco para classe considerada e reduzirão a velocidade de circulação ao final dos cálculos. Para um possível aumento desta velocidade, torna-se necessária uma intervenção na via a fim de sanar o problema. 172 Continuando com a entrada de dados na planilha de cálculo, surge a necessidade de análise das juntas existentes no trecho. Uma análise de campo demonstra que existem no local 4 juntas com 6 parafusos cada, sendo duas destas talas na curva “A” e as outras duas na curva “C”. Uma vez realizadas as medidas solicitadas pela planilha (desvio máximo no plano de rolamento, desvio máximo no plano interno) e inserindo estas informações: Tabela 67 – Planilha de cálculo simulando o estado das talas de junção Fonte: Leonardo S. Soares O que indica que as juntas da região analisada encontram-se dentro das tolerâncias admitidas para a classe de via considerada. Passando a inserção das informações sobre os defeitos dos trilhos, através de análise de campo foram identificadas pequenas anomalias nos trilhos. Considerando tais anomalias na planilha com sua respectiva dimensão: Tabela 68 – Planilha de cálculo simulando o estado das talas de junção Fonte: Leonardo S. Soares 173 Fica evidente, através da coloração das células da planilha em laranja, que os valores encontrados nos defeitos dos trilhos caem numa faixa de observação conforme a tabela da FRA proposta como referência para este parâmetro. Portanto, para um possível aumento da velocidade de circulação no trecho, estas anomalias devem ser retiradas. Além disso, ainda de acordo com a tabela da FRA, permanecendo tais anomalias nos trilhos durante um determinado tempo, pode ocorrer o aumento das mesmas, fazendo com que o valor atualmente medido aumente para um nível que venha a restringir a velocidade de circulação que está sendo calculada neste instante. Dando prosseguimento, quanto ao lastro são necessárias informações do tipo de trilho, taxa de dormentação e altura de lastro. O tipo de trilho utilizado no trecho analisado é o formato 136 RE conforme norma da AREA, conhecido mais comumente como trilho TR 68. A taxa de dormentação do local é de 1850 dormentes por metro e a altura de lastro mínima medida em cada curva segue na tabela de cálculo conforme foi medida no local (da base do lastro até a parte superior do dormente onde é presa a fixação): Tabela 69 – Planilha de cálculo simulando o estado do lastro e taxa de dormentação Fonte: Leonardo S. Soares Foi verificado através da planilha de cálculo de velocidade que as condições de lastro atendem aos limites estipulados pelas normas anteriormente citadas. Portanto não existirá qualquer impedimento na velocidade de circulação por conta deste parâmetro. 174 Quanto às condições da plataforma, foi verificado em campo que a mesma encontra-se devidamente estabilizada, sem ocorrências de movimentações de massa nos últimos anos. Portanto, na tabela de cálculo: Tabela 70 – Planilha de cálculo simulando as condições da plataforma Fonte: Leonardo S. Soares Quanto a ocorrência de flambagem, durante a inspeção no trecho, em nenhuma das curvas havia sinais de flambagem dos trilhos, principalmente pela temperatura amena, portanto: Tabela 71 – Planilha de cálculo simulando as ocorrências de flambagem Fonte: Leonardo S. Soares Quanto ao estado das fixações, conforme desenvolvido no trabalho, o principal indicador deste parâmetro é a informação do Track-star, quando o mesmo indica os pontos onde existe a abertura da bitola da via devido a aplicação de uma força lateral sobre os trilhos. Este valor já foi inserido na planilha de cálculo quando foram tratados os dados referentes a ocorrência de bitola carregada e portanto, serão duplicados na planilha de cálculo no respectivo campo: 175 Tabela 72 – Planilha de cálculo simulando as ocorrências de bitola carregada Fonte: Leonardo S. Soares Novamente, a planilha de cálculo irá considerar que os limites tolerância para este parâmetro foram ultrapassados e a velocidade será reduzida devido a esta ocorrência. Quanto a ocorrência de serviços de manutenção e acidentes da natureza, durante a inspeção no trecho, não havia nenhuma intervenção por parte do pessoal de via permanente e nenhuma ocorrência de interdição de tráfego devido a um acidente de ordem natural. Portanto: Tabela 73 – Planilha de cálculo simulando as ocorrências de serviços de manutenção e acidentes da natureza Fonte: Leonardo S. Soares Passando a análise dos fatores externos, no local não existem sinais nem passagens em nível que poderiam exigir uma restrição à velocidade de circulação. Complementando as informações solicitadas pela planilha de cálculo: 176 Tabela 74 – Planilha de cálculo considerando os fatores externos que influenciam no cálculo da velocidade máxima autorizada Fonte: Leonardo S. Soares Desta forma, com todas as informações exigidas inseridas na planilha, obtém-se o perfil de velocidade contemplando os parâmetros estudados: Tabela 75 – Resultado final da planilha de cálculo Fonte: Leonardo S. Soares Portanto, em virtude dos defeitos dos trilhos encontrados no trecho, o sistema limitou a velocidade para o patamar de segurança estabelecido. Além desta informação, foram processados os serviços necessários para que a velocidade possa atingir limites mais elevados. Analisando graficamente os resultados obtidos: 177 Comparativo CALCULADO x REAL 90 80 70 V (km/h) 60 50 ATUAL 40 VMA sem ocorrências VMA com ocorrências 30 VMA temporária 20 10 0 A B TRANSIÇÃO C D CURVAS Figura 34 – Gráfico dos resultados finais Fonte: Leonardo S. Soares Ou seja, a velocidade máxima atual utilizada no trecho em questão não considera fatores de segurança que limitam a velocidade. Com esta análise gráfica torna-se possível verificar que as curvas “B” e “D”, em virtude das suas ocorrências de trilhos defeituosos, são as principais limitantes de velocidade da seqüência. Uma vez utilizadas medidas corretivas ou a solução do problema, o patamar de velocidade pode certamente voltar aos 60 km/h, ou de uma forma mais precisa, aos 64 km/h. 178 7. CONCLUSÃO Em virtude do resultado final apresentado, surge a proposta de aplicação do método para determinação da velocidade máxima autorizada como forma de ganhos para a companhia tanto em produtividade como em segurança. Ainda conforme o resultado apresentado verifica-se que método de determinação da velocidade contempla condições físicas reais do trecho, baseando-se não somente no projeto da ferrovia, mas como também em detalhes que podem representar um risco para a segurança da circulação, como os defeitos superficiais apresentados nos trilhos da via. Unindo várias informações técnicas, além de determinar a velocidade através de condições reais, através do sistema é possível verificar os pontos da via que são os principais causadores de restrições em determinados trechos. Desta forma, a manutenção da via pode trabalhar em pontos específicos que representam um risco para a perda de velocidade operacional acarretando em perda de produtividade. Cabe a sugestão de um maior desenvolvimento do sistema em função dos excelentes ganhos gerados pelo mesmo, com foco em aumento da velocidade operacional e possíveis melhorias nas áreas de via permanente e mecânica. Este possível desenvolvimento pode ser realizado no aprofundamento dos parâmetros e a automatização da entrada de dados, garantindo desta forma, que a via permanente possa ter um perfil de velocidade compatível com o que realmente existe no campo. 179 8. 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