EPAMINONDAS Personagens: Mãe Epaminondas – Dudu Palhaço Coelhinho Gato Beija flor Borboleta Sinopse – Dudu é um menino que está sempre insatisfeito com sua vida. Uma noite, ele pede a DEUS uma resposta. Seus brinquedos ganham vida e nessa noite mágica, tudo pode acontecer. Uma estória de muita emoção e lição de vida. (Uma casa simples do interior, mãe está fazendo o jantar, quando menino entra pela cozinha de cabeça baixa.) Mãe – Oi meu bebê, como foi seu dia? Dudu – Bebê?! Mãe eu já tenho 10 anos, não sou mais bebê. Mãe – Tá bom Epaminondas. Assim tá melhor? Dudu – Mãe! Ás vezes acho que você não gosta de mim. Mãe – Dudu! Dudu – Agora sim! Você sabe muito bem que não gosto de ser chamado assim. Mãe – Seu nome Dudu. Epaminondas Eduardo Guimarães Neto. Uma linda homenagem que seu pai fez a mim. Era o nome de meu avô. Dudu – Pois é mãe, talvez tenha sido um nome muito bonito no século XIX, mas agora é motivo de muita gozação. Toda vez que chego alguém diz “Epa! chegou o minondas ou então, olha lá chegou o eitaminhocas. Todo dia é assim. Não agüento mais. Mãe – Meu filho, seu avô foi um homem muito importante aqui na cidade, sem ele talvez ela nem existisse. Dudu – Tai mãe. Melhor que não existisse. Oh, cidade chata! Pessoas chatas. Se ele soubesse como seria hoje. O quanto eu sofro nesse lugar chato, com esse nome horrível, tenho certeza que ele não faria nada do que fez. Mãe – É. Você já respondeu minha pergunta. Pelo jeito seu dia não foi nada bom. Dudu – Não foi. Nunca é. To cansado dessa minha vida. Tenho 10 anos e nada acontece. Mãe – Nossa Dudu, você tem 10 anos e já tá assim, imagina quando estiver com 50? Dudu – Isso mesmo mãe. To cansado de tudo. Acordo cedo vou comprar pão na padaria, volto para casa tomo café. Faço minha lição, assisto um pouco de TV. Tento sair um pouco na rua para brincar com os meninos, mas eles não sabem fazer nada certo, são uns burros! Mãe - Dudu, não fale assim! Dudu – Tá bom mamãe, o coitado do burro não tem nada haver com isso, ele é trabalhador. Mãe – Mas antes de ir pra escola você ajuda a dona Ana lá na lojinha e ela vive te elogiando para todo mundo. Dudu – Mãe! A dona Ana está gaga. Ela não fala coisa com coisa. E quando eu fico lá na lojinha não entra ninguém. Não sei como ela consegue ficar o dia todo lá sem fazer nada. Nem computador tem, para jogar uns joguinhos. Mãe – Dudu, Dudu!! Dudu – Daí, depois de ficar lá 2 horas sem fazer nada, venho pra casa almoço e vou para aquela escola chata. Mãe você acredita que o Dido outro dia veio me perguntar quanto era 2 vezes 500. Mãe ele não sabia que era mil. Que burr... (mãe olha feio) tá, o burro não tem nada com isso. Mãe – Dudu presta atenção no que vou te dizer. Às vezes achamos a vida chata, sem que nada aconteça, mas o papai do Céu... Dudu – Deus mãe, Deus! Mãe – Deus, Dudu, Deus! Ele sempre sabe o que faz, e como dizia minha sabia avó “nada acontece por acaso”, tudo e todos sempre estão no lugar que devem estar e ao lado das pessoas que precisam dele também. Dudu – A mãe, que saber? Você sempre com essas conversinhas. Estou cansado e vou dormir. (Dudu sobe ao seu quarto) Dudu – Olha esse quarto! Bichinhos de pelúcia, boneco palhaço, quadro com borboleta. (ele vai até a janela) E esse bebedouro de beija-flor. Nossa, parece quarto de menina. (nesse momento entra um gato branquinho, todo peludo, o gato não precisa entrar, pode também miar de fora do palco) Dudu – Sai, sai! E esse gato! Criar aquela aranha igual o Pedro, minha mãe não deixa. Isso sim seria super radical. (o gato tenta entrar novamente e ele bate a porta na cara dele) Dudu – Que saco! Só me resta dormir para acabar com esse dia ruim. (Dudu fica por horas e horas olhando para o teto, e pensando no que a mãe dele disse sobre o que Deus faz com as pessoas) Dudu – Bem que Deus podia me explicar porque tenho essa vida chata. (vai até a janela e grita ao céu). Vai! Faz alguma coisa. Porque minha vida é tão chata. Porque tenho que viver rodeado de pessoas chatas. Porque você não fala nada. ( nada acontece ) Saco!! (bate a mão no bebedouro e o joga longe, fecha a janela). (para Deus) Talvez se um dia você falasse comigo, eu acreditaria em você. (volta pra cama e dorme em menos de 5 minutos) (há uma confusão de luzes, várias luzes coloridas enchem o espaço.) (Dudu acorda num pulo, olha para os lados, não vê nada. Ele está confuso, como pode estar com os olhos fechados e ver todas aquelas luzes, e ainda por cima quando abri os olhos tá tudo normal) Dudu – (suspira) Acho que sonhei! Luzes estranhas! (olha para o criado mudo) Dudu – A não! Não peguei meu copo d’gua, vou ter que descer. (pensa alto) Vai Dudu, você já tem 10 anos, não pode ter medo do escuro. Palhaço – Isso mesmo, não pode ter medo Dudu – Quem está aí? Palhaço – Quem está aí? Dudu (fica paralisado olhando por todo lado) Coelhinho – (para palhaço) Schiuuuu! Ele vai nos ver. Palhaço – Schiuu, ele vai nos ver (repetindo) Coelhinho – Ah eu desisto, você é um palhaço mesmo. Dudu – Meu Deus!! Mãe! (grita). (nada acontece) Mãe! Borboleta – Aí, me ajuda aqui! Por favor, não estou conseguindo respirar. Ajudem-me! Dudu – (arregala os olhos olha pra porta e sai correndo eu sua direção, abre a porta para gritar sua mãe, dá um pulo pra trás quando a porta se abre, ele pula em cima da cama) Gato – Miau! Nossa, até que enfim você abriu essa porta. Preciso ajudar a dona borboleta que deve estar sem ar. Eu sou o único que posso rasgar o quadro com minhas garras. (gato corre e rasga o plástico) Borboleta – (ofegante) Ufa! Quase não agüento mais. Bem diferente de ficar no meu casulo, lá eu faço furinhos providenciais para poder respirar. (Dudu fica atônito, olha para baixo e vê todos olhando-o, Palhaço, coelhinho, borboleta e gato) Dudu – Mas...mas.. O que tá acontecendo aqui? Gato – Eu tentei te avisar! Mas você bateu a porta na minha cara. Palhaço – É. Eu tentei avisar, mas você bat...(coelhinho dá um tapa nas costas do palhaço) Ei, você bateu em mim! Coelhinho – Claro. Pare de ser palhaço, palhaço. O que o gato vai falar é sério. Palhaço – Sério, sério, por isso que o Dudu tá assim, por ser muito sério (leva outro tapa do coelhinho). Gato – Então eu tentei vir aqui e te avisar, pois assim você não se assustaria, mas agora é tarde. Já se assustou. Dudu – Eu devo estar sonhando, não é possível. Como pode? (borboleta interrompe o gato) Borboleta - Aí! Agora sim estou recuperada. Deixa eu te explicar. Lembra quando você disse que tudo era muito chato, que nada acontecia na sua vida e que todas as pessoas que te rodeavam eram bobas. Dudu- HÃ? Borboleta – Então, daí você foi até a janela e olhou para o céu e gritou... Meu Deus! (borboleta olha para a janela com uma cara preocupada) Dudu – Sim, me lembro! E daí? (borboleta fica olhando para a janela sem se mexer, Dudu pergunta várias vezes e daí, e daí, quando o palhaço olha para a janela e grita, o beija-florrrr) (o gato lambe os lábios, imaginando como seria bom engolir aquele suculento beija flor) (o coelhinho corre até a janela, pede ajuda ao palhaço para subir e abrir a janela. Claro que o palhaço derruba o coelhinho várias vezes, fazendo suas palhaçadas. O gato continua paralisado só pensando como seria o gosto dele) (Dudu vê toda aquela confusão, vai até a janela, e quando está pronto a abrir) Borboleta – Nãoooo!!! Dudu- (assustado) O que foi? Borboleta – Não abra essa janela. Dudu- Por quê? Borboleta – Porque não. Dudu – Porque não, não é resposta. Vou abrir. Borboleta – Não, por favor. Eu explico! (fica olhando com cara de desdenho para a janela) Dudu – Ah, vou abrir e pronto. Borboleta – Não! Eu fiquei aprisionada naquele quadro por causa dele. Ele é meu maior concorrente na disputa das flores, sem contar as abelhas né. Mas pelo menos elas são amigas. Já esse aí. Foi ele quem caguetou para o caçador. Eu estava toda linda e bela em cima daquela deliciosa flor, e eu via que ele passava na maior velocidade pra lá e prá cá, gritando que nem louco, eu não conseguia entender nem uma palavra. Tenho certeza que foi ele. Ele ficou com inveja por que eu estava com aquela linda flor. (nesse momento o beija-flor bate seu bico várias vezes contra a janela, com certo desespero) Dudu – Vou abrir. Quero ver o que ele tem a falar. Borboleta – Não!! (janela aberta beija flor voa de um lado pra outro no quarto sem parar, até que cansa e cai em cima da cama) Beija-flor – Quem tirou o bebedouro da janela? Preciso de açúcar. Estou com fraqueza, aí. Gato – Deixa que eu cuido de você. Dudu –(para o gato) Não! (para o beija flor) Fui eu, quem derrubou o bebedouro, estou cansado do meu quarto parecer quarto de menininha. (pega uma bala no bolso e dá para o beija flor). Toma! Se contente com essa bala. Tem açúcar. Beija – flor - Aí graças a Deus, ainda bem que isso é teatro, daí posso chupar uma balinha, estava quase sem açúcar no sangue (para a platéia) Sofro de hipoglicemia, alguém quer uma balinha aí? (da balas se alguém quiser) Borboleta – Seu traidor. Por que fez isso comigo? Segurem-me senão... ( olha para o lado, não tem ninguém a segurando)... Senão... ( ninguém a segura) ei, ninguém vai me segurar não? (todos se olham) Gato – (Para borboleta) Se você quiser, eu posso dar uma lição nele. (para platéia) Humm, ele deve ficar muito bom ao molho branco. ( lambe os lábios). Coelhinho – Saí daí! (tira o gato de perto do beija-flor). Não vou deixar você fazer mal ao meu amigo. Palhaço – Isso mesmo saí daí. Não vou deixar você fazer mal para meu amigo. Coelhinho – Essa fala é minha. Palhaço – Essa fala é minha. Coelhinho – Pára de me imitar. Palhaço – Pára de me imitar. Dudu – Aíiiii!! Pára vocês dois. Não agüento mais isso. Palhaço e Coelhinho – Desculpa. Dudu – Deixa-me resolver logo isso. Sr beija flor, o senhor entregou a borboleta? Sim ou não? Borboleta – Entregou sim, ele... Dudu – Silêncioooo!!!! Fale senhor beija-flor. Beija flor – Jamais faria isso. E para provar minha inocência, trouxe essa linda flor para você, minha borboletinha do campo. Gato – (para borboleta) Falso, não acredite nele. Se está te dando presentinhos é porque está errado. Coelhinho- (para palhaço, suspira) O amor é lindo!!! Palhaço - (abraça o coelhinho) O amor é lindo! (tenta beijá-lo) Coelhinho – (assustado) Ei! Sai daqui! Sou um coelhinho espada. (borboleta pega a flor na mão, está quase se derretendo, nem ouvi o que o gato diz, mas ainda fica fazendo charme) Dudu – Se explique senhor beija-flor. Beija – flor – Tá, vou contar o que aconteceu. Estava eu dando umas voltas lá no parque, quando avistei de longe aquela linda flor. Do alto ela parecia ser a flor mais linda do mundo. Podia sentir seu cheiro a quilômetros de distância. Ela misturava vários tipos de cheiros. Flor do campo, jasmim, gardênia, rosa, dama da noite, etc. Fiquei hipnotizado. Mais meus instintos beijaflorinos me avisaram que alguma coisa não cheirava bem. Palhaço –(com movimentos de quem soltou um pum). Desculpa, pensei que não ia feder. Coelhinho – Nossa como você é palhaço. Dudu – (olhando feio para os dois) Continue. Beija –flor – Então, em vez de ir direto para a flor, eu resolvi das umas voltas ao redor. Sabe como é, alegria de beija flor dura pouco, e afinal de contas (olhando para o gato), eu não tenho sete vidas, preciso ter cuidado. Dudu – Essa estória tá ficando muito longa. Melhor você encurtar, pois criança não tem muita paciência para ficar ouvindo historinhas. Beija-flor (limpa a garganta e continua) Fui uma vez pra lá outra pra cá e descobri, que a tal flor, não se passava de uma armadilha. Todos – Ohhhhhh!!! Beija – flor – Sim amigos, uma armadilha posta por um caçador. Borboleta – Então foi isso? Gato – (para o coelhinho e para o palhaço) Pra mim ele não passa de um sensacionalista. Beija flor –(para borboleta) Eu tentei te avisar! (se aproxima) Eu tentei! Mas quando fico agitado, faço tudo muito mais rápido. Minhas asas batem cada vez mais rápidas, minha voz fica irreconhecível. Se fizermos uma reconstituição em câmera lenta, você ouvirá. (todos tentam fazer a cena, palhaço virá flor, coelhinho fica de borboleta, beijaflor de beija-flor mesmo, tudo isso arquitetado por beija-flor) Beija – flor – Coelho, você fica assim, como se estivesse beijando a flor (faz bico de beijo). Palhaço você tem que ser a flor mais linda, apesar de ser artificial. (eles estão na posição, Dudu está com uma cara muito feia) Beija – flor – Eu voava de um lado pra outro, quando vi você, minha linda! (borboleta se derrete toda) Mas vi também o maldoso caçador de borboletas, fui pra lá, fui prá cá, e gritava. (ele fala alguma coisa muito rápida ninguém consegue entender). Entenderam? Todos – Não! Nada! Nem uma palavra! Beija flor – Estão vendo! Quando fico agitado é difícil de entender. Agora vou falar em esloumocham. CUIDADO! CUIDADO!MINHA BORBOLETINHA DO CORAÇÃO, O CAÇADOR VAI TE PEGAR. (todos estão de boca aberta, menos Dudu que continua com cara feia) Beija- flor – (se aproxima ainda mais da borboleta) Quando vi minha flor, já era tarde. Ele já havia te capturado. (para todos) E vocês têm que concordar que eu com esse tamanho todo não poderia lutar com um caçador daquele tamanho. Dudu – Certo ele. Todos (viram-se pra ele) O que? Dudu – Isso mesmo. Certo ele. (para borboleta) Você não passa de um inseto inútil. Todos (um olha para o outro, e se reúnem, cochicham.) (Dudu fica olhando por alguns segundos, e quando vai falar) Palhaço – Dudu, vista isso. (dá um nariz de palhaço) Dudu – O que? Pra quê? Não vou colocar nada. Palhaço – É sério, coloque (num tom mais bravo) Dudu – Sério. Vindo de você! Beija- flor – Coloque menino Dudu, é para seu bem. (Dudu resiste, mas coloca o nariz. Nesse momento a luz do quarto que está em tom escuro, se enche de luzes coloridas. Ele esboça um sorriso, mais ainda muito tímido) Palhaço – E aí, alguma diferença? Dudu – Eu to sentin... (Todas as estórias que seguem, pode ser feitas com sombras, marionetes, bonecos, projeção, fica a critério do diretor.) Palhaço – Não fale nada. Só escute. Vamos ensinar algumas coisas a você. A partir de agora você irá enxergar a vida de outra forma. Dudu – Tá. Palhaço –(respira fundo e começa) Lembra quando você disse a sua mãe aquelas coisas sobre o seu avô? Dudu – Sim, mas... Palhaço – Não! Não diga nada, só ouça. Dudu – Tá bom! Palhaço – Pois bem. Eu acompanho seu avô desde que ele tinha a sua idade. Quando criança, era uma pessoa amarga, vivia fazendo mal a todos que o rodeavam. Ele passava nas ruas chutando os gatos, rasgando os sacos de lixo, riscando os carros dos vizinhos, indicando caminhos errados aos cegos, ou seja, tudo de ruim. Até que um dia ele recebeu uma lição. Todas as pessoas que ele mais amava, começaram a se afastar dele. Um dia ele chegou em casa e não tinha ninguém, só um bilhete em cima da mesa que dizia “Não somos obrigados a viver com uma pessoa sem amor no coração, até um dia. Se você melhorar”. Dudu – (pensando alto) Uau! Mais ficar sozinho é o máximo. Palhaço – Exatamente as palavras dele. Logo que se viu sozinho começou a aprontar dentro de casa. Virou a casa de pernas pro ar. Mas isso era de dia, e ele se esqueceu que a noite logo chegaria. Dudu – É ficar sozinho a noite não é legal. Palhaço – Na primeira noite ele não conseguiu pregar os olhos. Pegou sua lanterna, foi para baixo da cama e ficou lá até amanhecer. Logo o dia chegou, e ele voltou a aprontar. Na noite seguinte a pilha de sua lanterna acabou e com isso a escuridão tomou conta de seu quarto. Dudu (está agarrado ao coelhinho, já tremendo de medo, todos o olham, ele fica sem graça e larga o coelhinho) Palhaço – É incrível a semelhança. Foi exatamente o que ele fez, mas comigo. Dudu – Com você? Palhaço – É, comigo! Ele fez uma promessa ao papai do céu. Disse que se sua família voltasse, ele jamais faria mau a qualquer pessoa, animal ou coisa qualquer. Enquanto fazia sua oração, ele adormeceu e quando acordou, sua mãe estava de volta. A partir daí, ele jurou que seria uma pessoa melhor, e que faria tudo para fazer sua cidade prosperar e com isso as pessoas também. Dudu – Nossa! (Dudu está espantado) Palhaço – E ele me pediu que cuidasse de você, caso fosse igual a ele. Pediu que não deixasse você passar por tudo o que ele passou e me encarregou de ficar de olhos sempre atentos. E como promessa é promessa, eu estou aqui para fazer minha parte. Dudu – Hãhã!! E você acha que eu acredito nessa historinha?! (Tira o nariz e o joga longe, nesse momento as luzes voltam ao estado normal) Palhaço – (para a platéia) É! O menino é duro na queda. Gato – (para palhaço) Eu já imaginava isso. Deixe-me tentar. Mas antes, quero te dar esse brinquedo. Pegue. (o gato lhe da uma bolinha) (Dudu olha com cara de desdenho, pega a bolinha nas mãos, e apartir desse momento, também há uma mudança de cor, para colorido, Dudu se espanta mais uma vez com a transição) Gato – Dudu, você disse que tudo o que você faz e chato, e que seu dia-a-dia não tem emoção nenhuma, não é? Dudu – Sim. Gato – Se eu disser que nas pequenas atitudes, você pode mudar uma vida. Dudu – Como? Gato – Todas as manhãs, você vai à padaria, certo? Dudu – Sim. Gato - Nessa atitude, duas vidas são transformadas todos os dias. Dudu – Duas vidas? Gato – Sim! Sem você, eu jamais beberia meu lentinho todas as manhãs. Dudu – (torce o nariz) Tá, você não conta. E a outra vida? Gato – O senhor da padaria, senhor Manuel. Dudu – O que tem ele? Gato – A mais ou menos dois anos atrás, sua filha mais velha recebeu um convite para trabalhar em uma empresa no exterior. Dudu – E daí. Gato – E daí que com essa mudança, sua filha levou seu único neto para morar com ela, lá no exterior. Seu Manuel ficou muito triste, pois seu neto estava com sete anos quando se mudou. Eles moravam juntos desde que ele nasceu, e a mudança mexeu muito com a vida de todos eles. Dudu – E o que eu tenho que ver com isso? Gato – Aí entra a segunda vida que você muda todos os dias. Lembra que eu te disse que pequenos gestos mudam uma vida? Dudu – Sim. Gato – Pois é, com um simples gesto de dar bom dia a seu Manuel, você faz com que ele se lembre de seu neto, pois ele tem mais ou menos a sua idade. Seu Manuel fica muito feliz, por saber que seu neto é um rapaz forte, saudável e que logo, logo eles poderão estar juntos. Portanto você acaba substituindo a presença de seu neto, toda a manhã. Dudu - (fica pensativo) Gato – Por isso continue com essa pequena atitude. Sorrir todas as manhãs, isso pode alegrar uma pessoa. Dudu – Até que eu percebo que ele sempre fica feliz quando chego, mas nunca entendi por que. Gato – (para o coelhinho) Ele está começando a entender. Dudu – Mas não se passa de uma grande besteira. Não acredito em você. (joga a bolinha longe, luz volta ao normal) Gato – (para coelhinho) Esquece o que eu disse. (coelhinho pisca pra o gato, e pede passagem) Coelhinho – Dudu, quanto é 2 vezes 500? Dudu – Você também com essa pergunta boba. Coelhinho – Me fala Dudu, quanto é? Dudu – Mil. Coelhinho – Muito bem, você é um menino muito inteligente. Dudu (com cara de Bã) Coelhinho – Você sabia que conseguiu mudar uma vida com essa resposta “boba”? Dudu – Mudou a vida de quem? Coelhinho – Do Dido. Dudu – Do Dido! Como eu mudei a vida dele? Coelhinho – Ele tem uma dificuldade tremenda em estudar matemática. Beija-flor – (para platéia) Ele e a torcida do Corinthians, São Paulo, Palmeiras e Santos juntas. Coelhinho – Pois é, e com essa resposta que você deu, ele conseguiu responder a única pergunta que faltava para completar uma série de perguntas de um concurso na internet, que estava dando uma televisão de prêmio. A família dele estava sem televisão, há quase dois anos, pois um raio, em uma chuva a queimou. Você sabe que ele é de uma família bem pobre, e só consegue estudar na escolinha, pois o pai dele trabalha lá. Então ele mandou as respostas e ganhou a TV. Duda – Que legal! Coelhinho – E sabe o que o Dido disse a mãe dele? Dudu – O que? Coelhinho – Que graças a você, eles ganharam a TV. Duda- Ele disse que fui eu, então eu mudei alguma coisa. (aproveitando esse momento de felicidade de Duda, a Borboleta emenda. Antes coelhinho dá seu presente, um cubo mágico, há mudança de luz para colorido, dessa vez a luz permanece, pois ele está começando a aceitar as mudanças.) Borboleta – Dona Ana, se lembra dela? Dudu – (bastante confuso) Sim me lembro. O que tem ela? Borboleta – Ela não é gaga não. Não gosta muito de computadores, isso é verdade. Mas ela é uma das pessoas mais doces dessa cidade, e você a ajuda a ser como é. Dudu – Eu? O que eu faço? Borboleta – Enquanto você fica na lojinha dela, ela vai até o morro do piolho desdentado e ajuda as pessoas a darem comida para mais de 50 pessoas carentes que vivem lá. Essas pessoas são pessoas bem velhinhas e sem condições de terem uma alimentação decente. Enquanto você fica lá, ela não pára de trabalhar. Esse mês que passou, seu nome foi para o mural da ONG. E esse mês sairá no jornal da cidade, como o menino mais jovem a ajudar pessoas com muita necessidade. Dudu – (Dudu eufórico) Mas... mas eu não faço nada, só fico lá parado, nem cliente entra. Borboleta – Tai! Uma atitude tão pequena faz um bem tão grande. (Dudu está ficando radiante, já abre a mão para ganhar seu presente, a borboleta lhe dá uma caixinha de música.) Dudu – Que lindo! (se referindo à caixinha de música) O que é isso? Borboleta – É uma caixinha de música. Ela estava jogada em baixo de sua cama, desde que sua mãe lhe deu. Você a jogou lá, e lá ficou. Dudu - (pensando) Eu me lembro dela. Minha mãe disse que ela dela quando pequena. Que quando ela estava com medo à noite, ela abria e tudo mudava. Borboleta – Isso mesmo. Abra! (Dudu abre a caixinha nesse momento começa a tocar uma canção linda, e aparece uma linda bailarina. Como nas outras cenas, ela pode ser sombra, projeção, bonecos. Minha sugestão que seja feito ao vivo, aparecendo uma bailarina com um foco de luz nela. Bailarina faz um solo de dança, enquanto todos assistem, ao final da música, Dudu está deslumbrado com a beleza da música e dança) Dudu – É a música e a dança mais linda que eu já vi. Borboleta - Muitas vezes nos esquecemos das coisas que temos perto da gente, achamos que as coisas dos outros sempre são as melhores e mais bonitas. Dudu abra seu coração igual essa caixinha de música, tenho certeza que dentro dele também há muita beleza escondida. Abra- o e mostre para o mundo. (Dudu pega a caixinha com todo carinho e a coloca em cima de sua cama) (beija flor todo orgulhoso da bela evolução de Dudu, vai até ele e lhe dá um abraço, Dudu retribui, mas ainda está bastante confuso) Beija- flor – Dudu, me responde uma coisa? Dudu – Oi? Beija-flor – Porque você derrubou o bebedouro? Dudu – Porque aí já é demais, um bebedouro pendurado na janela, é coisa de menininha. Beija-flor – Você sabe ao menos porque ele estava lá. Dudu – Não! Beija – flor – Você conhece seu novo vizinho? O Valdo. Dudu – Não. Não o conheço porque ele não sai de casa. Minha mãe disse que ele é portador de deficiência especial e não pode sair na rua. Beija – flor – A mãe dele pediu para colocar o bebedouro em sua janela. Dudu – A mãe dele! Mas por quê? Beija – flor – O Valdo não pode sair na rua, pois sua saúde é muito frágil, mas ele é uma criança como todas as outras. Fica triste, fica feliz, senti o que todas as outras crianças sentem. O sonho do Valdo é um dia poder voar, ele diz que andar, é um sonho muito distante, mas voar não. Para voar ele precisa somente usar sua imaginação, não precisa usar seu corpo frágil e debilitado. Para estimular sua imaginação, a mãe dele pediu que colocasse o bebedouro em sua janela, assim ele pode me ver voando, e me vendo voando sua imaginação flui e ele se sente nas alturas. Infelizmente a mãe dele não pode colocar o bebedouro em sua janela, pois ela está no andar de baixo, e lá eu não vou, pois tem um amigo nosso (fala olhando para o gato) que não me deixa ir lá, pois quer me pegar. Gato- (todos olham pra ele como reprovando, ele se justifica) Instinto felino, instinto felino. Beija- flor – O médico do Valdo diz que com essa atitude, ele está ficando cada vez melhor, pois a interação da natureza lhe trás grandes benefícios. (para platéia) Sabemos que a maior demonstração de Deus na terra se dá pela natureza, por isso devemos preservá-la, pois destrui-lá, seria destruir ao próprio Deus. Dudu – Isso é verdade. Eu estudo muito a natureza. Procuro fazer coisas que não a prejudique. Semana passada eu até plantei uma árvore. Todos – Isso é uma atitude que muda o mundo. Beija flor – Estou tão feliz, agora acho que você entendeu o verdadeiro sentido da vida. Você está percebendo que pequenas ações mudam tudo. E que essas ações tem sempre que ser para o bem. Fazer o bem não faz mal a ninguém. Meu presente para você é o abraço (lhe dá mais um), com ele você levará alegria para muita gente. Dudu – (retribui com um forte abraço.) (todos se olham, o gato faz cara de quem vai falar algo e é incentivando por todos a falar) Gato – Tem mais uma última coisa meu amigo. Dudu – O que? Gato – Todos esses brinquedos estavam jogados e fora de uso. Nossa sugestão é que você doe para quem precise. Pode ser a ONG da dona Ana, que também trata de crianças, ou para alguma comunidade necessitada, ou creche, enfim, para que esses brinquedos continuem a fazer a felicidade de outras crianças. Beija-flor – Dudu, quando uma criança sorri, o mundo recebe vibrações positivas, tudo fica mais colorido. Veja a sua volta, você mudou esse lugar com seu sorriso. Portanto! Todos – Sorria sempre! (Todos riem.) Dudu – Amigos, muito obrigado. Pode ter certeza que depois dessa noite tudo irá mudar em minha vida, vou fazer cada dia, cada hora e cada minuto, único. Vou aproveitá-los ao máximo, sempre procurando fazer o bem. (há uma pequena festa, todos se cumprimentando, inclusive Dudu.) Dudu – (bocejando) Aí amigos, preciso dormir. Amanhã terei um dia cheio de novidades. (se deita) Tchau amigos, boa noite. (todos vão tomando seus lugares de inicio, beija flor sai, antes de dormir Dudu agradece a Deus) Dudu – Papai do céu, muito obrigado pelas luzes coloridas, elas serviram para me mostrar que a vida é muito boa e que as pequenas atitudes fazem grandes homens, muito obrigado por tudo. Boa noite. (ele dorme, mas logo é despertado por sua mãe) Mãe – Dudu, Dudu! Hora de acordar. Dudu – (bocejando, vê a mãe, levanta num pulo, corre para abraça - lá) Bom dia mãe, que dia lindo. Mãe – (confusa mais feliz) Nossa Dudu que felicidade é essa? Dudu – Estou muito feliz mãe. Me dá logo o dinheiro do pão e leite, preciso ir correndo na padaria. Depois vou empinar pipa com meus amigos, jogar bola, ir à dona Ana. Ah mãe, se quiser pode me chamar de Epaminondas. É, eu adoro meu nome. ( as vozes vão ficando mais longe, o quarto vai ficando vazio, as luzes vão se apagando, antes de apagar, Dudu volta correndo no quarto, pega os brinquedos , olha para platéia mostra e diz) Dudu – Isso pode estar fazendo falta para alguma criança. Façam o mesmo, doem seus brinquedos àqueles que precisam. Afinal, pequenas atitudes fazem a diferença. Black-out FIM