Palavra de Palhaço - Transcrição do encontro de 12/08/2014 Zabobrim (Esio Magalhães) entrevista Pururuca (Brasil João Carlos Queirolo) Apresentação e abertura do evento – Ana Achcar: Boa noite! Sejam todos bem vindos! Eu vou dar uma palavrinha rápida. Prometo ser breve. Primeiramente de agradecimento. Quero agradecer a vocês que estão aqui hoje consagrando esse tempo precioso. O tempo da gente é tão contado... E vocês estão aqui com a gente para compartilhar das histórias desses palhaços. Queria agradecer também ao Teatro Poeira, nas pessoas do Aderbal (Freire Filho), Marieta (Severo) e Andréa (Beltrão) e da equipe do Teatro Poeira: Sérgio Canísio, Sérgio Lopes, Wallace, Flávia, Ana Lúcia, Renato, João, o João Neves, que é o nosso homem do som, importantíssimo, porque estamos gravando essa entrevista e ela será transcrita e publicada no site do Palavra de Palhaço. Na verdade, o convite do Poeira para fazermos a residência aqui foi importantíssimo, porque nos deu uma casa. É muito importante ter essa casa para termos continuidade no trabalho. Poder fazê-lo, em três meses, com tranquilidade, com profundidade, e com tempo para que se desenvolva. Quero agradecer ao grupo da Casa dos Dramáticos, co-realizador desse projeto, que foi idealizado em conjunto há algum tempo, e ao Programa Enfermaria do Riso, um programa de formação de palhaço em hospital que existe na UNIRIO há quinze anos e sem o qual, sem o seu apoio, esse projeto não estaria acontecendo. Foi por causa de uma pesquisa que fizemos no ano passado sobre as histórias dos palhaços de hospital que reforçamos a ideia de fazer esse encontro. A gente está numa estrada aí há quinze anos e de repente sentimos necessidade de olhar para trás, de olhar de onde veio, de olhar a tradição, onde começou, para saber um pouco também para onde é que vamos. Para onde a gente vai? Porque quinze anos é muita estrada. Eu queria agradecer nominalmente, vou tentar não esquecer ninguém, porque são estudantes e ex-estudantes super aplicados, dedicados, compromissados, com um amor incrível à palhaçaria, e que fazem com que esse projeto aconteça. São: a Camilla, a Paula, a Laura, a Giselle, a Cacá, o Victor, o Gé, a Rebeca, a Natasha e a Bel Flaksman, que na verdade já não é mais aluna da Enfermaria do Riso, mas é, assim, minha fiel escudeira e uma menina incrível, porque é incrível mesmo, uma menina que só diz sim. E isso, na palhaçaria, talvez seja uma das coisas mais importantes para um palhaço que está começando, aprender a dizer sim. Quero agradecer também aos palhaços que estão aqui hoje e a todos os outros que estarão durante a residência, porque toparam essa aventura com a gente. Não sabemos direito o que vai acontecer aqui hoje, mas achamos que vai acontecer muita coisa boa, muito legal. Pururuca (Brasil João Carlos Queirolo), que topou de primeira. Zabobrim (Esio Magalhães). Temos as presenças de Margarita (Ana Luísa Cardoso), Clóvis Socó (Sávio Moll), Dudu (Eduardo Andrade), Provisório (Kadu Garcia), que vão participar também da residência e de outras entrevistas. Também não conseguiríamos se eles não estivessem junto. A idéia da residência – vou terminar, tá? – Não, não vou terminar antes de dizer uma coisinha só. Além do João, que é o homem do som, temos o Flávio que é o homem da oficina, meu parceiro: Flávio Souza, que faz tudo. Temos realizado muitos projetos juntos. Estamos dando uma oficina de palhaçaria que faz parte da residência, e que terá um resultado no final, lá em outubro. Será uma apresentação das histórias dos palhaços de circo. Estamos estudando essas histórias e tentando criar um modo de contá-las através de números, reprises, esquetes, gags de palhaço. Então, estamos criando uma experiência que não aconteceria sem a colaboração do Flávio. O projeto, na verdade, o Palavra de Palhaço, quer celebrar a palavra, claro. Meu mestre SotiguiKouyaté contava uma história: na África, quando um homem diz para um outro homem "Eu te dou a minha palavra", ás vezes ele até precisa dizer mais, por exemplo, "Eu te dou minha palavra de honra", ele está dando para o outro a sua personalidade, o seu caráter, a sua dignidade, a sua força, que está em sua palavra. Então quando eu pensei "Palavra de Palhaço" foi para celebrar essa palavra. Essa palavra que é força, que é potência, que é comunicação, também, que é história. Palhaço porque tem sido a minha vida, a nossa vida, de todo mundo que está participando, há muito tempo. Talvez uma figura banal, uma figura que está em todos os lugares. O palhaço hoje ocupa todos os lugares. Tem no sinal de trânsito, tem no hospital, tem na TV, tem no teatro, tem no circo – (público: "tem no senado") – mas isso é outro tipo de palhaço. Mas, na verdade, a idéia é celebrarmos o riso como um agente transformador e de resistência. Um agente de enfrentamento, com alegria, com humor, para fazermos as coisas de que gostamos e que fazem sentido para a gente. Para melhorar as coisas que estão em volta. É um encontro de troca, é um encontro de comunicação, e eu espero que vocês se divirtam muito. E façam perguntas! Bem vindos, obrigada! (Aplausos). Nós temos uma brincadeirinha pro Pururuca e pro Zabobrim, feita pelos meninos da Enfermaria. Vamos exibir e depois eles vêm para cá. (Exibição do vídeo) Pururuca: Boa noite, pessoal. Tudo bem com vocês? Zabobrim, tudo bom?” Zabobrim: “Tudo bom. Vou deixar que ele fale porque a voz dele é outra coisa, né? Pururuca: E sou palhaço. Zabobrim: Tem isso também. Pururuca: Não locutor de rádio. O que nós viemos fazer aqui? Zabobrim: Pois é, viemos conversar um pouco. Pururuca: Sei lá, o avião me trouxe. Zabobrim: Também, cheguei aqui de avião. Pururuca: Aí mandaram eu vir a pé. Zabobrim: E você veio? Pururuca: Pior que vim, viu... Podemos sentar? Zabobrim: Acho que sim, vai. Pururuca: Tá. Eu falei boa noite, né? Eu tô meio esclerosado viu, gente. Zabobrim: Eu ainda não. Embora em termos de franja o meu companheiro seja melhor. Pururuca: É. E bem mais velho. Ele não precisa de peruca, né? Já tem o cabelinho bonitinho. Tá bom. Nós viemos aqui hoje para responder perguntas. Zabobrim: Eu vim, na verdade, pra começar perguntando. Pururuca: E eu vim aqui para ser interrogado. Então interroga, vai. Zabobrim: Então, eu trouxe uma lista aqui pra me guiar, ó! Pururuca: Você precisa disso? Não aprendeu minha história ainda? Eu acabei de ver a sua aí, ó. Zabobrim: Pois é. Pururuca: Cê não viu que nós já viramos abobrinha com torresmo? Zabobrim: Cê viu? Será que isso não... Pururuca: Não deve ficar bom não, viu. Zabobrim: Pois é, não sei, não. Pururuca: Abobrinha à pururuca deve ficar ruim, viu. Vamos. Zabobrim: Vamos. Bem...” Pururuca: Começa, vai! Zabobrim: Começo eu. Pururuca: Tá. Zabobrim: Não quer começar? Pururuca: Não, não. Começa você. Zabobrim: Então eu começo. Pururuca: Mas vai logo! Zabobrim: Ta, calma! Eu to... Pururuca: Ô, cara demorado! Zabobrim: Bem, a primeira pergunta... Pururuca: Não faz, não. Zabobrim: Uma só! Pururuca: Tá bom, vai. Zabobrim: Pra começar. Pururuca: Tá legal. Zabobrim: A primeira pergunta é: o que que você quer falar da sua história pra se apresentar? Pururuca: Nada. Zabobrim: É um peixe. Pururuca: E não durmo, fico de zóio aberto. É brincadeira, vamos falar sério. Zabobrim: Vamos falar sério, vamos falar sério. Pururuca: Repete a pergunta. Zabobrim: Como é que você quer se apresentar? Não sobre o seu currículo, que a gente viu, mas sobre tua história, tua infância... Eu tenho uma coisa. Agora estou falando com o Brasil João Carlos Queirolo. Quais são as coisas, os fatos importantes da tua vida, o que que te marcou na tua vida até aqui, para que você... Enfim. Começa a se apresentar pensando por esse lado importante. Quais são as coisas importantes que aconteceram na sua vida? Pururuca: "Bom, pessoal. Em primeiro lugar, eu sou de uma família tremendamente tradicional aqui no Brasil, que é a Família Queirolo. Família de grandes artistas, grandes acrobatas, e grandes palhaços. É lógico que, antigamente, era muito mais difícil se propagar na mídia, vamos dizer. Tudo que você iria fazer necessitava da sua presença. Na minha era já foi mais a televisão. Então, quando eu comecei com meu pai eu tinha quinze anos, após a morte do parceiro Fuzarca. Zabobrim: Que era parceiro do teu pai. Pururuca: Sim. Era Fuzarca e Torresmo desde 1950 e um pouco antes no Circo Irmãos, Circo Pereira. Se juntaram, iniciaram na TV Tupi, canal 3, de São Paulo, em 1950. Eles iniciaram o primeiro programa, o "Fuzarca e Torresmo", no dia 12 de outubro de 1950, em que hoje se comemora o dia das crianças, dia de Nossa Senhora da Aparecida. E dali a dupla começou. A televisão era uma televisão, que pelo amor de Deus, né. O senhor Assis Chateaubriand montou a televisão e esqueceu que não tinha aparelho pro pessoal assistir. Pode acreditar nisso. Era impressionante. Eu contei para ele, e ele falou: "Mas como? Peraí. Eu monto uma televisão e quem vai assistir isso?". O que que ele fez? Ele saiu correndo, foi para os Estados Unidos, na RCA dos Estados Unidos, comprou cinquenta aparelhos monitores de televisão e distribuiu nas lojas de São Paulo. Não para vender, mas para que o pessoal começasse a conhecer a televisão no Brasil. E era uma programação sensacional, né? Começava às seis, terminava às sete. Era uma beleza. Quer dizer, funcionava no horário nobre, das seis às sete. Aí, depois de um tempo, era das seis às oito. Depois de mais um tempinho, das seis às nove. Como o pessoal nas lojas parava e achava bonito aquilo, né, – "Pô, to vendo aqui o negócio aqui!" – começaram a querer comprar os aparelhos de televisão. Então, as próprias lojas passaram a encomendar os aparelhos. Bom, essa é a parte do começo da televisão aqui. Então eu digo que o meu pai inaugurou a televisão. E foi meu começo. Veja bem, era uma família tradicional de circo, mas com a visão do Torresmo. Ele era futurista, achava que aquilo seria o meio mais rápido de comunicação. Ele falou: "Saio do circo, engajo na televisão." Por quê? Porque vai ser o meio mais rápido de se comunicar com o povo. Porque o circo ia, fazia sucesso na cidade, ia embora, acabava. Não é verdade? O outro circo ia, fazia sucesso na cidade, ia embora, acabava. Mas meu avô e os irmãos tiveram circo a vida inteira. O que que aconteceu? Em 1955, mais ou menos, eu fui convidado para fazer um programa de televisão. Eu tinha o quê? Seis anos, cinco anos, quatro anos, sei lá. Eu não me lembro bem. Vocês acreditam o que é que eu virei? Você acredita? Zabobrim: Eu tive que acreditar, né? Porque ele já me contou. Então vou fingir que não acredito. O que é que você virou? Pururuca: A TV Tupi fez um logotipo. Sabe o que é logotipo, né? Era um índio, um Curumim. Aí cismaram que eu tinha que ser o indiozinho da TV. Pô! Vai te catar, né? Aí meu pai foi lá todo contente: "Ô filhinho, vem cá, meu amorzinho. Vem cá, vamo lá!". Me meteu uma tanguinha, botou um troço aqui na minha cabeça e enfiou duas antenas. Começou minha vida. Com duas antenas na cabeça, parecendo um chifrudo. Logo cedo. Vamos lá. Me pegaram e colocaram em cima da primeira máquina de lavar roupas feita aqui no Brasil. "Cê vem e cê senta aqui, e fica quietinho." Pelado, morrendo de frio. Vieram o Homero Silva e a Márcia Real. Poxa, os caras eram bons, hein? Fizeram o comercial, e eu sentado lá. Acho que durante uns dois anos eu continuei sentado na máquina de lavar para ver se ela conseguia me lavar. Nesse tempo o Fuzarca e o Torresmo já estavam começando a alcançar um sucesso na televisão e começaram a ter seus próprios programas. Começaram fazendo o "Circo Bombril", que era apresentado pelo Walter Stuart e o meu avô Chicharrão começou a fazer parte também dessa história de circo na televisão. Passou-se um bom tempo e o circo perdeu o patrocínio da Bombril. Foi feito, então, com Assis Chateaubriand, o primeiro programa infantil da televisão chamado "Festa Matinal". Era um programa realizado no domingo, às dez da manhã. Esse programa perdurou uns quatorze anos, mais ou menos, na TV Tupi. Nesse ínterim, eu, Pururuca, fazia o terceiro. A gente tem o palhaço, tem o escada e tem o terceiro. E o terceiro aqui era um garoto de oito ou nove anos. Zabobrim: E essa função do terceiro? Pururuca: Veja bem. O terceiro... Porque é quase sempre uma dupla, tá? Mas às vezes você necessita de alguém que entre e intervenha por algum motivo. Coisa rápida. Te entregar uma coisa, ou então você tem que contar uma piada antes para o palhaço, o palhaço sai, o outro te pega, você vai pegar o palhaço, não dá certo. Entendeu? Então, eu fazia esse terceiro. E o que que aconteceu? Eu fui chamado para fazer o Teatro da Juventude, que era dirigido por um grande médico, Doutor Júlio Gouveia. Aí eu parti pro teatro. É por isso que eu gosto da turma do teatro. Fomos lá, ensaiamos, e era tudo ao vivo. Não podia errar. Se errasse acabava o programa. E eram peças mais ou menos sérias. Aí passei a fazer teatro. Entrei na equipe de um professor de São Paulo. Me desculpem, mas eu não lembro o nome dele. Fiz peças de teatro. Trabalhei até em salão de igreja. Fui adquirindo o meu "know-how" em teatro. Mas veio uma tristeza: depois de um determinado tempo, a TV Tupi fechou as portas, faliu mesmo. E um pouco antes de falir a TV Tupi chamou Fuzarca e Torresmo e disse: "Olha, a televisão está assim, o cachê dos dois vai ser reduzido para um." Meu pai falou: "Pra mim não serve." E chegou para o grande amigo dele – foram grandes amigos mesmo, companheiros – e falou: "Fuzarca, vamo lá, vambora. Vão abrir mais estações de televisão. A gente sai daqui e vai para outra. Só que o Fuzarca, infelizmente, não quis. Meu pai sabia que a TV Tupi ia fechar e falou: "Tô fora." O Fuzarca continuou, acho que por mais seis meses, e a TV Tupi fechou, acabou. O Fuzarca não conseguiu ir para lugar nenhum porque não tinha outro companheiro. O que que aconteceu? Meu pai chegou para mim: "Meu amigo, sua vez." Nessa época eu tinha uma banda. Zabobrim: "Ainda na TV Tupi para continuar o programa? Pururuca: Não. Já estava fora. Ele disse: "Vamos fazer o seguinte? Você vai ser meu sócio." Ô, que beleza, hein, meu. "Você vai ser meu sócio e meu companheiro. Você vai ser o Pururuca. " Aí começou a história. "E vai ganhar cinquenta por cento do que eu ganho." Pô, eu com quinze anos. Imagina, né gente. O velhinho ganhava bem, viu? Falei: "Pô, pai. Tá legal. Então vamos?" "Vamos." Nós fomos para a TV Cultura. Quando a Tupi faliu, o governo rapidamente a encampou. Virou uma estatal, a TV Cultura. Lá nós começamos a fazer um programa chamado "O Recreio do Torresmo". Eu não me maquiava, gente. Zabobrim: Aí agora como escada do palhaço. Pururuca: Como escada e apresentador mesmo, tá? Apresentador. E fomos andando. E uma vez eu perguntei pro meu pai: "Pai, não era a dupla Fuzarca e Torresmo? Não tem que ser dupla Pururuca e Torresmo, Torresmo e Pururuca, e eu tenho que me maquiar?” Meu pai, um homem inteligente, falou: "Não, você vai ser um pouco mais contemporâneo do que eu." Eu falei: "Por quê?" "Tu vai ser um palhaço de cara limpa." Como me chamavam: palhaço engravatado. "Tá bom, pai. ‘Vamonóis’." Fiz a dupla com ele. Acredito que tenhamos sido os primeiros a fazer a dupla do palhaço com o galã. Zabobrim: Quem era o galã? Pururuca: Era eu. Ô, meu. Eu era bonito, cê não sabe. Agora virou esse traste véio aqui. Começamos a fazer e meu pai teve uma idéia. Nós fazíamos muitos shows, muitos circos, viajávamos demais. E antigamente era mais difícil andar de avião, viu gente. A comunicação era péssima. Então, o que a gente fez? Ele falou: "Você não vai pintar a cara porque você vai ser motorista também." Aí eu falei para ele: "Tá bom, mas por que eu tenho que ser motorista?" "Porque você vai ver." A gente chegava a fazer, dia de domingo, seis shows de aniversário. A gente saía para viajar, fazia um show não sei onde, depois de duas horas era outro em não sei onde. Depois de três horas, não sei onde. Depois, não sei onde. Meu pai passava o dia vestido de palhaço. Fora as gravações, fora o tempo que a gente dormia no banco da televisão. Eu falei: "Acho que ele tem razão, porque estando de cara limpa eu posso dirigir. E a gente pode ganhar mais dinheiro, né?” Pô, ninguém é besta. E foi o que aconteceu. Saímos da TV Tupi, fizemos TV Cultura, fomos para um programa na TV Paulista, o "Zás-Trás", saímos do "Zás-Trás" e fomos para Excelsior, a Excelsior faliu. Nós conseguimos falir duas televisões. É porque a Globo não chamou a gente ainda. Aí fomos para a TV Paulista fazer esse programa, o tal do "Zás-Trás". O que que aconteceu? A TV Paulista... foi vendida para a Globo. Aí houve um convite. Meu pai sempre foi um pouco visionário, né? Houve um convite da TV Bandeirantes. Nós fomos chamados pelo senhor João Saad e o seu Roberto Saad, que eram os donos. Antigamente você conversava com os donos. Hoje você só conversa com os diretores e eles fazem da tua vida o que eles querem. Nós ainda estávamos na TV Paulista com o programa, mas fomos lá. O Sr. João Saad virou para mim e para o meu pai: "Ô, Torresminho. Como vai você?" Nós já tínhamos feito show para os filhos dele, Johnny, que era pequenininho, e Roberto. Ele falou: "Pururuca, vem cá. Torresmo, vem cá. Seguinte: a TV Bandeirantes vai ser a cores.” Acho que de 1969 para 1970, na copa. Meu pai falou: "Putz, a cara do palhaço, a cores, na televisão. Deve ser bom, né?" Porque a Globo ainda estava em transição, ainda estava sendo montada no Rio. Globo Time Life. Nome importante, né? Dinheiro deles lá, os dólares. Aí aconteceu uma coisa interessante: nosso diretor da TV Paulista que ia passar para TV Globo falou: "Olha, pessoal. Eu estou sabendo que alguns dos artistas aqui da TV Paulista, futura Globo, estão querendo nos abandonar para ir para a TV Bandeirantes." Ainda bem que ele não olhou para minha cara, olhou para cara do meu pai. Dava na mesma, né? A Bandeirantes havia feito uma oferta muito boa para gente. Aí ele falou: "Vou dizer uma coisa: o novo diretor da TV chama-se Boni e o Boni mandou dar um recado a vocês: aquele que sair daqui nunca mais pisará na TV Globo." Bom, eu fiquei olhando aquilo... bom... quer dizer, os caras já tinham padrão Globo. Não tinham nem aberto, nem entrado no ar, e já era padrão Globo. Tá bom. Ficamos quietos e fomos embora para a Bandeirantes. Gente, quatorze anos de circo na TV Bandeirantes. A gente batia de trinta a zero na Globo no horário infantil. Foi então que começou todo o deslanchar do programa "O Grande Circo". Zabobrim: Agora, a carreira toda do Pururuca foi em televisão? Pururuca: É. A minha carreira realmente foi em televisão, a não ser quando meu pai cismou de montar um circo. Ele montou um circo. E conseguiu ficar com ele por um ano e meio. Montou um circo lindo, maravilhoso, no bairro da Vila Galvão, na zona norte de São Paulo. Sucesso estrondoso. Televisão, pô. Quem está na televisão enche qualquer lugar, né? Seja o pior... Qualquer porcaria lota. Aí montou lá, mas, como eu estava explicando para ele, circo é uma coisa engraçada. Dependendo do lugar que você monta, ele te dá lucro. E dependendo do lugar que você monta, ele te dá prejuízo. Então você precisa contar com São Pedro, com artistas razoáveis, com uma boa iluminação, com um bom som, e saber muito bem onde vai montá-lo. Por quê? Não gostamos de falar sobre isso, mas tem certos lugares que se você monta alguma coisa, acabam com ela. Pessoas que não têm noção do que estão fazendo, acabam com o teu negócio. Mesmo que seja um circo, e que tenha o palhaço, o artista. O circo não morre. É apenas uma questão de saber trabalhar. Bom, fugindo um pouco, ele teve o circo durante um ano e meio. Eu sou muito honesto e digo: não tomei parte, eu ganhava cachê para ir trabalhar lá. Era dele. Mas não deu certo, não foi para frente. Meu pai sempre gostou do circo e eu também adoro. Eu fiz muitos shows de circo. E vou te dizer uma coisa: em circos às vezes bem mambembes. Daqueles em que você não precisava de iluminação. Olhava a lona furada e a lua iluminava o palco. Quando chovia não sabíamos se usávamos o guardachuva para fazer a entrada. Bebi muita serragem de circo. Tomei bastante serragem de circo. Mas o forte era a televisão. Zabobrim: E infantil. Programa infantil. Pururuca: Só infantil. Eu não me lembro nunca de ter trabalhado para uma plateia adulta. Verdade. Os adultos que assistiam era porque tinham levado os filhos. Mas nunca estiveram lá para dizer - "Ah, eu vim te ver!". Hoje em dia eles vêm me ver, porque há saudades, né? O tempo passou. As crianças não me conhecem, mas os pais das crianças me conhecem, os avós das crianças me conhecem. Então nós ainda vivemos do tempo em que fizemos sucesso. Graças a Deus. E graças a Deus, eu digo, para todo mundo: eu sou um palhacinho que deu certo. Tenho minha família, estou bem, a saúde está bem, estou tranquilo. Zabobrim: Então, deixa eu te perguntar... Pururuca: Ah, não pergunta mais nada... Zabobrim: "Mais nada? Eu tenho só essas aqui, ó... pouca coisa." (Mostra uma lista de perguntas que carrega) Pururuca: Pô, eu to há duas horas aqui e você não perguntou para mim: "Quando é que você virou palhaço? Zabobrim: Ué, mas cê falou, uai. Pururuca: Não. Zabobrim: Não? Pururuca: Até agora eu era cara limpa. Zabobrim: É mesmo. Mas escuta... Quando é que você virou palhaço? Pururuca: Essa foi legal, hein? Zabobrim: Foi boa, né? Pururuca: Em 2005. Não vai perguntar por quê? Zabobrim: Foi antes... Pururuca: Que foi antes, o que? Zabobrim: Que foi antes, o que? Paururuca: Mais ou menos em 2005. Ô, gente, eu sou ruim para data, viu?! Se perguntar quantos anos eu tenho, eu não me lembro. Zabobrim: Mas também é melhor esquecer, né? Pururuca: Lógico, Matusalém não fala a idade. Zabobrim: Mas na verdade por que você virou palhaço? Pururuca: Bom, acontece o seguinte: quando o meu pai ficou doente houve uma série de transformações. E meu pai morreu. Pô, imagina um cara que está junto de você desde os cinco anos. Que já não é mais pai, já é amigo, companheiro. Uma vida inteira juntos. Lutando, trabalhando, procurando, correndo, viajando. Nós morávamos praticamente juntos, fora de casa. Não tínhamos tempo de ficar em casa. Era avião, show, turnê não sei onde, vai pro raio que o parta, volta do raio que o parta, vai não sei para onde. Quando você perde o seu amigo, o que que acontece? Eu fiquei sem chão, gente. Fiquei flutuando. Falei: "Pô, perdi meu companheiro, a única coisa que eu aprendi a fazer foi isso aqui. E agora?" Zabobrim: Você estava com quantos anos? Pururuca: Meia cinco. Zabobrim: Não, você estava com quantos anos? Pururuca: Eu tinha, acho que... Eu já tava véio. Zabobrim: Ah, é. 2005, obrigado. Pururuca: Não estava tão velho assim não. Zabobrim: Mas você já era...? Pururuca: Eu já era velho. Zabobrim: Mas você já era chamado de Pururuca nessa época? Pururuca: Desde que eu nasci. Meu pai me deu o apelido de Pururuca. Não sei porquê. Ele não me chamava de Pururuca, me chamava de Purú. E eu ficava doente com isso. No comecinho até, na televisão, ele falava: "Ô, Joãozinho. Vem cá, filhinho." Mas passou um tempinho: "Ô, Purú, vem cá. Zabobrim: Influência do Tupi, né? Pururuca: Purú, Purú, Purú... Aí falou: "É porque Pururuca é o couro mais fino do Torresmo." Eu perguntei: “E Torresmo por quê”?" – "Porque é Chicharrón, em castelhano." – "Ah, quer dizer que é seguida a família dos porcos?" Chicharrão em castelhano é Torresmo. O couro mais fino do Torresmo é Pururuca. Meu filho vai se chamar Bacon, Né!? Aí, o que que aconteceu? Eu me perdi um pouco, mas tive uma ajuda muito grande de uma mulher a quem eu agradeço até hoje: a minha esposa. Ela chegou para mim e falou: "Meu amigo, ou você ganha dinheiro ou eu vou te dar um pé na bunda!” Zabobrim: Um grande incentivo, pô. Pururuca: Olha, eu to grávida do teu filho aqui. Se vira, eu quero uma casa." E eu numa situação desgraçada. Ferrado, danado. Não sabia se o caminho mais certo era pegar aqui à direita e ir em frente, né?! Não tem um cemitério ali?! (Risos). Zabobrim: É. Pururuca: Ela falou: "Vamos repensar. Você tem nome, companheiros, patrocinadores, conhece gente." Nessa hora, gente, é até gozado: enquanto você está lá em cima, tem amigo que não acaba mais. Mas na hora em que perde um pouquinho o seu pedestal, os amigos começam a se afastar. Enquanto a boca é livre, "eu sou amigo dele". Acabou a boca livre? "Não serve mais". Aí eu comecei a produzir meus shows. Fizemos grandes shows, com o nome que tinha sobrado. Fui levando o nome para frente. Da televisão, desisti, porque depois que eu perdi meu pai, perdi o encanto por ela. Eu estava cansado mesmo de televisão. "Ah, então vamos fazer uns shows, vamos continuar." Como bom comerciante montei também um restaurante, na Serra da Cantareira. Ô, meu. Urra, mas aquilo me deu nos córneos. Minha mulher olhou para mim e falou: "Restaurante não. Vende." Ela vendia as panelas para qualquer cara que passava na rua. "Vamos fazer isso aqui. Vamos trabalhar, vamos trabalhar, vamos trabalhar. " Consegui estabilizar minha vida. Mas no caso do Pururuca, agora palhaço, desde 2005, o que aconteceu é que não havia tantos assim como vocês. Dispostos a pegar a nossa arte e levar para frente – o que eu acho maravilhoso. Eu sou a favor. Por quê? Eu vou morrer, gente. E se eu morrer e não transmitir alguma coisa para vocês, o que vai acontecer? Vai acabar. Então a minha obrigação é ensinar a vocês. O que é o palhaço? O palhaço é alma. É amor. É carinho por aquilo que faz. É amar as crianças. Trabalhar para elas e não elas trabalharem para você. É muito gostoso pegar uma plateia de mil crianças sentadas no chão (que você sabe que é difícil de manter, porque criança é que nem água, vaza) e fazer eles participarem com você, palhaço, uma hora, sem sair do lugar. É difícil. Mas eu acredito em vocês, porque eu sei que escolheram isso porque amam fazer. Tem muitos que dizem: "Pô, tentei ser ator, tentei ser artista, tentei fazer sucesso e não consegui. Tô morrendo de fome, vou ser palhaço. Eu vou pintar a cara." Pegam lá uma rolha queimada e pintam. Vocês estão dando risada, é? Sou contra? Não. Mas acho que deviam se aprimorar. Procurar mais essas palestras aqui, essas conversas. Palavras de palhaço. E se aprofundar mais. E outra coisa: não é só ouvir a minha história. É ver o que se faz. O que o tradicional faz? Porque o tradicional não morre nunca. Eu posso contar uma piada hoje do tempo do meu avô e sei que vocês vão dar risada. Então, prestem bastante atenção, vocês que estão fazendo esse trabalho. Amor, carinho, dedicação, música, dança. Me fizeram aprender tudo isso, gente. Até dançar. Zabobrim: Agora, me diga uma coisa. Pururuca: Eu nem cheguei no Pururuca ainda. Zabobrim: Mas a gente vai chegando. Me diga uma coisa. Você tocou numa questão agora, que é a da continuidade. No caso da tua família, que vem de um berço circense, o processo de transmissão de conhecimento é natural. Quer dizer, você aprendeu com o teu pai vendo o teu pai desde pequeno. Você aprendeu com o teu avô e com o teu pai. O que é diferente de hoje em dia. Eu já não aprendi dessa maneira, aprendi vendo palhaços. Mas essa transmissão não foi como era tradicionalmente a transmissão do conhecimento circense. Nesse sentido, a minha pergunta, na verdade, se divide em duas. Uma é: você criava? Porque eu vejo, por exemplo, o Tubinho, com quem eu estive recentemente. Ele tem um arcabouço. É incrível o tanto de coisas dele que vieram de sua formação. E ele só transforma aquilo. Não é que "só" transforma. Isso já é uma grande coisa. Mas ele transforma aquilo, ou faz "ipsis litteris". Como fica, então, o ato de criar dentro dessa tradição? E a outra pergunta é, justamente, a possibilidade de criar que tem essa nova geração, que não tem essa tradição toda na pele. Pururuca: Você já ouviu aquele ditado que diz que nada se cria, tudo se copia? Você vai pro México, aprende lá, e traz para cá. Você vai para os Estados Unidos, aprende lá, e traz para cá. É tudo copiado. A única coisa que acontece é que eu me considero um contemporâneo. Tudo o que eu faço, que era uma reprise ou uma comédia antiga de palhaço, eu tento transformar para ficar mais moderno. É lógico que ao fazer essa transformação já se modificam algumas coisas. As minhas palavras de palhaço não são as mesmas palavras do meu pai. Ele tinha o trejeito dele, assim como você tem o seu e eu tenho o meu. Apesar de ser meio cola do meu pai, com quem aprendi até os trejeitos, eu os mudei. De alguma forma você muda. Eu não acredito que, hoje, a formação de uma faculdade não dê chance para que se crie. Eu assistia "Os Trapalhões" e adorava eles. Eles não faziam nada a mais do que já se fazia cinquenta anos atrás no circo, gente. Até no "A Praça É Nossa" contam piadinha de circo. Fazem trabalho de circo. Então, você vai me desculpar, mas criar hoje em dia está complicado. Eu acho que nós não temos muitas pessoas para criar. Falar: "Senta aqui, eu vou fazer um troço novo." Então você procura coisas. Eu tenho coleções de livretos argentinos com piadas e esquetes de circo que nunca foram feitas. Se eu pegar aquilo ali, de mil oitocentos e cacetada, e der uma reformulada, eu tenho algo. Mas eu não criei, não. Eu copiei deles lá. Eu e meu pai tínhamos chance de criar, porque nós éramos músicos. Então, o que acontecia? Muitas coisas que fazíamos eram gravadas. Um montão de LP's. Eu sou antigo, hein? Vinil. (Risos) E aquelas fitinhas cassetes ruins que você punha e o rádio comia. Mas vendia pra caramba, porque como o rádio comia, a pessoa comprava outra. Então nós criávamos coisas, músicas. Eu cheguei a fazer opereta com o meu pai. Opereta de histórias. Tivemos um disco gravado chamado “O Reino da Rosa Dourada”, com subtítulo: “Como inventaram-se as pipocas”. Gravado, cantado, orquestrado. Gravamos músicas de bichos da Rita Lee, fizemos uma série de músicas: "O Carpinteiro", "O Garrafeiro". Com tudo o que você possa imaginar, fizemos letras de músicas. E em cima disso surgiam as entradas cômicas. Eu posso dizer uma coisa para vocês: eu tenho um orgulho do meu pai, mas um orgulho dele. Porque o homem era inteligente, viu? O homem tinha uma cultura, assim, fora do comum. Era palhaço, mas era culto para caramba. Ele tinha uma criatividade tremenda. Tanto, que dificilmente ele conseguia repetir uma reprise na televisão. Mesmo fazendo programa diário. Era uma esquete por dia, sete esquetes por semana. Zabobrim: E nesse sentido era bem esquete teatral, né? Pururuca: Não era muito, não. Era circense mesmo. Público: Era ele quem escrevia as esquetes? Pururuca: Muitas. Público: Ao vivo? Pururuca: Fizemos muitos programas ao vivo. A partir de 1970 a gente já estava gravando. Um pouquinho antes da TV a cores já se gravava. Eram aqueles negócios desse tamaninho. Acho que era videocassete o nome. Videotape. E era gozado. Sabe como era feita a transmissão para outros estados do Brasil? Zabobrim: Mandavam pelo correio? Pururuca: Mandavam pelo correio as fitinhas. A gente gravava aqui no mês de outubro e passava lá no mês de janeiro. Tanto que o nosso programa acabou aqui em São Paulo em 1980, oitenta e pouco, e os programas atrasados foram passando mais uns quatro ou cinco meses lá em Manaus. Era completamente diferente, viu gente. O negócio pegava mais embaixo. "O Grande Circo" só veio pro Rio de Janeiro em 1980, mais ou menos. Conseguimos ficar aqui no rio, acho que foram dois ou três anos. Depois saímos da Bandeirantes, meu pai ficou doente, a gente começou a... O sucesso que nós fizemos aqui no Rio de Janeiro foi impressionante, o que a gente recebia de cartas das crianças daqui. Zabobrim: Isso ainda com o Torresmo? Pururuca: Isso com o Torresmo. Zabobrim: E o Pururuca? Pururuca: Agora vamos para 2005. Caramba, eu não consigo terminar essa história. Olha, se fosse contar a história da família então, acho que... Tem horário previsto para acabar? Bom, o Pururuca começou a fazer esses shows. Eu apresentava os espetáculos e contratava alguns palhaços. Zabobrim: Por que você ainda continuava fazendo o escada e chamando o palhaço? Pururuca: Isso. Mas depois de um bom tempo, eu tinha um amigo chamado Bruno Edson, que é um tremendo malabarista e a minha esposa falou: "Olha, não está dando certo isso." Aí eu falei: "Por quê?" - "Porque os palhaços não te acompanham." – "Como que não acompanham? Eu ensaiei com eles." Sabe quando não dá certo? Não dava certo, não saía legal. Não agradava. E a pior coisa possível é não agradar. Não dava certo, não ia, não ia, não ia. Mudava o palhaço, punha um outro, mudava esse outro, punha mais um outro. Pegava jovens, pegava turminha de teatro - "Vou ensinar". Não ia, não tinha estrutura. Aí um dia minha esposa combinou com o Bruno. Show marcado, criançada lá. Ela chegou para mim e falou assim: "A malinha do teu pai, toma." E largou na minha mão. Não estou brincando, não. "A malinha do teu pai, toma." – "Tá legal. O que que você quer que eu faça?" – "Pinta a cara!" - "Tá bom. Vou fazer tua vontade e a vontade do Edson." Fui lá, fiz uma maquiagem. Não consegui fazer a maquiagem do meu pai. Falei: "Não vou fazer igual não, porque se for uma droga... Vão dizer que o filho do Torresmo é uma porcaria." Bom, tudo bem. Fui lá, me maquiei. Acho que demorei duas horas me maquiando. E para encaixar a roupa dele?... Ele era menor que eu. Quando eu pus as calças, o suspensório subiu. Ficou aquela situação... Do balangandã espremido com a calça levantada. Pensei: "Não vai dar certo isso aqui." E meu pai usava uma cueca com coração, toda rasgada. Pus a cueca, e falei para ela: "Solta o suspensório, senão vai parar na boca." Aí ela soltou o suspensório, abaixou um pouco, melhorou. Enfiei o sapatão do velho, as polainas do velho. Bom, eu sei que eu demorei para caramba para me vestir. "Vamos fazer?" – "Vamos." Olha, vou dizer uma coisa para vocês: que negação! Zabobrim: Foi ruim? Pururuca: Foi. Foi ruim para mim. Zabobrim: E o público? Como é que foi? Pururuca: Meu amigo, naquela hora você põe dois holofotes na sua cara e procura não enxergar o público. Quando a coisa não presta, o melhor que você faz é isso. Põe o holofote na sua cara, fecha os olhos e vai embora. Vê no que dá. (Aplausos) Mas eu tô brincando. Eu consegui fazer o show. Mas como não tinha parceiro... Eu me vinguei. Vingança da gansa. Peguei minha mulher pelos cabelos e falei: "Vai ser escada." – "Eu? Eu não sou de circo, eu não sou de nada, eu não sei fazer nada!" - "Ah, é? Vai entrar lá e vai se virar. Não me fez me pintar de palhaço? Agora você vai também. Zabobrim: Deu certo? Pururuca: Deu certo. Foi um sucesso, foi maravilhoso. A criançada respondia, e responde até hoje. Porque nós temos uma dinâmica diferente. Nós somos ágeis. Não deixamos a criança pensar muito. Porque se ela pensar muito ela vai começar a me xingar. Sabe aquela dinâmica que você não dá um espaço para ter uma reação? Aí é legal. E olha: foi, foi, foi. Até que surgiu a coisa mais linda da minha vida... Zabobrim: Falando assim e olhando para mim, eu... Sei lá. Pururuca: Ele disse para mim que ia fazer umas perguntas assim... como se diz? Zabobrim: Filosóficas. Pururuca: Filosóficas. Zabobrim: Eu tenho perguntas filosóficas. Mas eu ainda não cheguei no "hall" das filosóficas. Pururuca: E aí é lugar de guardar as filosóficas? Zabobrim: Claro, você acha que vai ficar onde? Fiofônicas. Pururuca: Fiofônicas... Daqui a pouco vou ficar triste, você não fala nada. Zabobrim: Aí chegou a coisa mais linda da sua vida... Pururuca: É. Depois de quatro filhos que não quiseram saber... Que falaram: "Palhaço, eu? Nem pensar. Vou estudar, vou ser advogado, vou ser diretor de marketing, vou ser professor de música, vou ser cabelereira." Sobrou uma. Aqueles foram espertos, viu? Estão ricos para caramba. Aí apareceu uma catatau, desse tamanhozinho, que ia nos shows. Ficava lá, entrava, não falava nem A nem B, mas ficava no meio dos palhaços. Eu falava para minha mulher: "Qualquer hora eu vou atropelar ela, porque eu não vou enxergar." Ela ficava para lá e para cá, para lá e para cá. Só que Deus deu uma coisa para ela: inteligência. Muito inteligente. Foi aprendendo o que eu estava fazendo com a mãe e com alguns palhaços que estavam junto comigo. Olhando, vendo eu fazer as piadas... Ao ponto de (acho que quando tinha quatro anos) entrar na frente do outro palhaço que estava fazendo dupla comigo e me dar as deixas melhor do que ele. Ela interrompeu o outro palhaço, entrando em cena na frente de quase duas mil crianças. Passou a mão no microfone e falou: "Vamos." Beleza. Pensei: "Pronto, o meu pai mandou a pessoa certa para mim." Começamos. Ela não fazia o palhacinho. Ela fazia a menininha bonitinha. Teatrinho. Eu sempre falava: "Vamos brincar lá no palco?"E ela foi adquirindo. Hoje é minha companheira, tem quatorze anos. Trabalha comigo. Então nós mantemos um trio que deu certo – eu, minha esposa e minha filha. Porque os outros não deram, não. Os outros falaram: "Pai, nós somos inteligentes, não vamos ser palhacinhos." Mas eu tenho o prazer de ter três filhos músicos, em outras profissões, mas que tocam muito. E é um prazer. Alguma coisa eles puxaram, né? Então eu tenho essa minha filha, e gostaria que vocês dessem uma salva de palmas para ela. (Aplausos) Ah, e tem mais, hein? Futura atriz da Globo. Acha que eu sou besta? Isso é, se o Boni não descobrir que ela é minha filha. E deu certo, viu gente? Graças a Deus a gente faz muitos espetáculos, a criançada gosta, ama, adora. Só que nós ficamos em São Paulo. Não saio mais, dificilmente viajo. É tudo feito lá com patrocínios. Zabobrim: E aí continuam trabalhando com a criançada? Pururuca: Normal. Criançada. Zabobrim: Como palhaço você também já trabalhou em hospitais, já se apresentou? Pururuca: Olha, hospital não. Na época que nós tínhamos o programa na televisão... Ah, entendi o que você quis dizer. Como os Doutores da Alegria, o pessoal da Enfermaria... Zabobrim: É, você também já foi pro hospital... Pururuca: Olha, acho um trabalho louvável, gente. Maravilhoso. Melhor do que uma criança doente é uma criança sorrindo, não é isso? Então eu acho que a intenção é maravilhosa. E para quem diz que sorriso e alegria não melhoram a saúde, está muito enganado, viu? Esse trabalho ajuda, e ajuda muito. Na nossa época, nós fazíamos campanhas. Não fazíamos o trabalho de hospital. Mesmo porque, o único trabalho que eu fiz... Se vocês tiverem disposição de ouvir, depois eu conto. Então, nós fazíamos lá em São Paulo pro Hospital do Câncer, para as Casas André Luís e para a Santa Casa. Nós promovíamos campanhas e todo ano, na hora de fazer as doações, a gente ia fazer espetáculos nesses hospitais. Mas para todos os doentes: adultos, crianças, jovens. Fazíamos nos auditórios de conferência. Zabobrim: Uma forma de plateia então, né? Pururuca: Isso. Eles tinham os auditórios de conferências médicas da faculdade e a gente levava o espetáculo para todos. Era um meio diferente. Hoje não. O pessoal se dedica, tem uma qualidade, é específico. É diferente. Não é você chegar no hospital e achar que vai fazer um show, pô. Não dá. Então o que nós fazíamos era diferente, eram essas campanhas. E hoje, quase sempre, faço apresentações beneficentes. Você sempre pode fazer alguma coisa. Eu tenho uma cota de shows beneficentes anuais. A pessoa liga, e nós vamos. Mas eu tenho uma cota, porque se fôssemos fazer tudo isso viraríamos a Enfermaria. E não é o nosso caso. Nós não somos especialistas nisso. Mesmo porque, experiências que tivemos em nossa vida não fizeram bem pro meu coração. Então eu prefiro continuar fazendo as campanhas. Precisa de uma campanha? Vamos ajudar. Zabobrim: E quando vai tem a plateia que é o teu local de atuação. Pururuca: Isso. São os doentes. É a mesma coisa, mas são os doentes que vão assistir ao espetáculo. Nós não vamos de quarto em quarto. Pegamos todos – adultos, crianças, idosos – e fazemos. Zabobrim: Eu tenho uma pergunta que é assim (que está dentro das filosóficas, enfim): qual que é a função do palhaço? Eu ia te perguntar, na verdade, a função do circo e a função do palhaço. Eu acho que mais do que tudo, a função do palhaço. Qual é a função do palhaço para você? Pururuca: Função do palhaço. Zabobrim: Eu vou fazer o seguinte: eu vou servir um copo d'água... E você vai pensando mais... Pururuca: Você quer que eu pense? Zabobrim: Não, melhor não. Toma logo. Pururuca: Caramba, além de tudo o cara é egoísta. Zabobrim: Para não demorar... Pururuca: Não, não quero mais não. Vocês estão com pressa? Se estiverem com pressa eu estou de saída. A função do palhaço... O palhaço é um ser humano, não é? Como outro qualquer. Qual é a diferença, você acha, entre um palhaço e um ser humano? Zabobrim: Que eu acho? A diferença de um palhaço para um ser humano? Ahn... Pururuca: A cara? Zabobrim: Não. Na verdade, assim, para mim o palhaço representa... Pururuca: Eu tô devolvendo a pergunta. Zabobrim: Devolvendo, né? Para mim, na verdade, o palhaço é um ser humano, mesmo. Para mim é uma representação do ser humano, do seu lado ridículo. Para mim sempre tem um sentido de... Pururuca: Vou fazer uma pergunta. Por que você acha que é o lado ridículo? Zabobrim: Porque para mim ele é... Pururuca: Quer dizer que um deputado, um senador, é ridículo? Zabobrim: Sim. Pururuca: Deixa para lá. Zabobrim: Vá, vá, vá. Pururuca: Vou falar. Zabobrim: Vai, responde. Pururuca: Ser humano. Palhaço. O pejorativo palhaço não cabe entre as minhas palavras. Eu considero o palhaço uma profissão. Como qualquer profissão, qualquer uma. Médico, doutor, engenheiro. Com uma diferença, que eu disse, no começo: alma. Eu sofro como todos sofrem, mas eu tenho alma, coração, alegria. Eu posso estar morrendo ali, mas se eu tiver que vir aqui, eu vou tentar alegrar. Então eu sou um camarada um pouco diferente, só um pouquinho. A diferença que você aponta: "Ah, o palhaço!" Beleza. Mas eu estudei, eu aprendi, eu vi. Não vejo diferença do ser humano para o palhaço. Eu sinto dor, você sente dor. Eu sinto amor, você sente amor. Com uma pequena diferença. O sorriso de uma criança. Essa é a maior diferença que existe. É você ver que está fazendo alguma coisa, principalmente nos dias de hoje em que tudo parece ser mais terrível ou mais violento. E você leva alegria para a criança. Aquele amor puro, aquela alegria pura, aquele jeito de ser puro. Sem mexer com religião, com credo, com política, que é o que eu aprendi na minha época. Hoje em dia a gente até palavrão fala. E a criança até aceita isso. Mas não é o meu negócio. Lógico, quando a gente tem uma plateia de mais adultos, se você não der uma apeladinha também não vai, né? Então você dá. Mas eu acho que é isso: palhaço é alegria, palhaço é amor, palhaço é vontade. E a alegria. Quanto mais alegria e mais inteligência você tiver, melhor palhaço você será. E o circo, você quer saber do circo? Zabobrim: Vá lá. Pururuca: O circo é o circo. Uma casa de espetáculos. Tá legal? (Aplausos) Zabobrim: Manda brasa! Bem, eu tenho uma série de perguntas, na verdade eu fico querendo passar um pouco para vocês, porque... Pururuca: Eu to vendo que o pessoal tá preocupado, já está levantando, indo embora... Tô brincando. Zabobrim: Não. Então assim, eu quero dividir um pouco. Porque eu tenho um monte de perguntas mas enfim, alguém quer fazer alguma pergunta? Público (Ana Luisa Cardoso - Palhaça Margarita): Eu gostaria... Pururuca: Não, não pergunta não, vai. Estou brincando. Fala, meu amor. Público1 (Ana Luisa Cardoso - Palhaça Margarita): Primeiro eu quero dizer que eu estou super feliz de te conhecer. Bom, depois a gente conversa. Eu acho interessante você contar para gente o que é uma reprise, o que é uma esquete, o que é uma peça cômica. Já você estava falando... Só para dar uma definiçãozinha. Se tem diferença, se não tem... Pururuca: Tem. E como tem. Como tem de palhaços também. Tem palhaços que fazem esquetes, tem palhaços que fazem comédias, tem palhaços que fazem malabarismo, tem palhaços que andam de bicicleta torta. Vamos lá. Você permite? Zabobrim: Claro. Pururuca: Segura aqui um pouquinho." (Abre uma bolsa e tira alguns acessórios e o nariz de palhaço. Veste o chapéu, a gravata, coloca o nariz e fala como Pururuca): "Hahaha."(Risos do público). "Oi, pessoal. Boa noite! Eu vim agora no lugar daquele cara lá, que só sabe me explorar, viu?" Zabobrim: Que bom que você chegou. Pururuca: Aquele cara que tava sentado aqui, ele me explora a vida toda. Eu ganho dinheiro, ele gasta tudo. E não me dá nada. Zabobrim: É mesmo? Pururuca: É. Diz que é meu criador. Hahaha. Com criador, ou só, eu entro bem. Bom, então vamos responder a pergunta. É... Uma entrada cômica. Zabobrim: Uma entrada cômica. Pururuca: Giovanna, vem cá. (Chama a filha Giovanna que atende como palhaça Pituca) Pituca: A Giovanna não vai, mas a Pituca vai. Pururuca: Ah, é. Eu me esqueci. (Risos) Ô, Pituca. Como vai a senhorita?! Pituca: Boa noite, pessoal. Pururuca: Isso. Seja mais simpática. Cumprimenta de novo que esse boa noite aí tá xôxo. Pituca. Mais alto então. Boa noite, pessoal! Pururuca: Ô, Pituca. É um prazer estar aqui com você um pouquinho, tá? Isso aqui não estava no programa não, viu? É... Você tem alguma pergunta para me fazer? Vou fazer a esquete. Pituca: Olha, Pururuca. Tenho mais do que uma pergunta. Tenho uma aposta para te fazer. Pururuca: O quê? Pituca: Aposta. Pururuca: Aposta? Pituca: Aposta! Pururuca: Aposta, aposta? Pituca: Aposta, aposta! Pururuca: Então vamos fazer uma aposta, aposta, aposta! Pituca: É o seguinte. Pururuca: O preço do arroz é cento e vinte. Pituca: Pururuca, vamos fazer um jogo de perguntas. Pururuca: Jogo do quê? Pituca: Perguntas! Pururuca: É coisa que tem que usar o miolo da cachola da cabeça? Pituca: Exatamente. Pururuca: Deixa comigo. Você vai ver como eu sou inteligente pra burro, rapaz! Vai, pergunta! Pituca: Vamos fazer o seguinte: eu vou fazer perguntas pra você. Pururuca: Sim. Pituca: Se você não souber me responder ou responder errado, você vai me dar um real. Pururuca: Quer dizer que você vai me fazer umas perguntas. Pituca: Isso. Pururuca: E se eu não te responder certo as perguntas, eu te pago um real. Pituca: Um real. Pururuca: Coitadinha dela. Ela acha que o pai dela, quer dizer, que o Pururuca é burro! Tá, vai! Pituca: Bom, e você também vai fazer perguntas pra mim. Pururuca: Ah, é? Pituca: Lógico. É justo, é justo. Pururuca: E se você não responder? Pituca: Se eu não responder ou errar a resposta, eu vou te pagar dez reais." Pururuca: "Mulherzinha confiante. Tá se achando, hein? Quer dizer então que eu faço uma pergunta, se você não acertar você me paga dez reais. Comecemos o debate! Ah, antes deixa eu falar uma coisa. Pessoal, eu vou fazer uma pequena campanha política aqui. É o seguinte: tá cheio de gente lá em Brasília querendo tomar o nosso lugar, viu? Eu acho melhor a gente começar a querer tomar o lugar deles pra ver se eles ficam contentes. Então vote em mim. Vote no Pururuca. Palhaço por palhaço, ele é profissional. Pituca: Bom, Pururuca. Certa a aposta, então? Pururuca: Certa a aposta, vai!" Pituca: Então eu vou começar te perguntando. Pururuca: Primeira pergunta! Pituca: Primeira pergunta. Pururuca, por que o cachorro entrou na igreja? Pururuca: "Que pergunta, meu... Eu acho que o cachorro deve ter entrado na igreja porque o padre devia ser o dono do cachorrinho, né? Então o cachorrinho entrou na igreja, foi lá ficar com o padre na sacristia. Certo? Pituca: Errado. Pururuca: Errado por quê? Pituca: Porque tá errado. Me paga um real. Pururuca: Começou... Pronto, um real. Pituca: Muito obrigada. Pururuca: Ei, ei, psiu! Por que que o cachorro entrou na igreja? Pituca: Porque a porta estava aberta. Pururuca: Quer dizer que a porta... É. No fundo, no fundo ela tem razão, né? A porta estava aberta, o cachorro entrou. Tá bom, tá bom! Vamos! Pituca: Tá certo, próxima pergunta. Pururuca: Vai! Pituca: Por que o cachorro saiu da igreja? Pururuca: (...) Porque o padre não gostou do cachorro e botou ele pra fora! Pituca: Tá errado. Pururuca: Tá errado por quê? Pituca: Me paga um real. Pururuca: Ãhn... Ô, Ana. Daqui a pouco o cachê não cobre... Tá bom, mais um real. Agora me diz: por que que o cachorro saiu da igreja? Pituca: Porque a porta estava aberta. Pururuca: Mais uma vez... O cachorro entrou... saiu... Tá, tá, tá, tá. Gostei! Pituca: Gostou? Eu vou pra próxima pergunta. Por que meu pai casou com a minha mãe? Pururuca: Porque a porta estava aberta. Pituca: Que isso!!! (Aplausos) Claro que não, tá errado! Me paga um real. Pururuca: Ah... Toma, um real. Por que que a sua mãe casou com o seu pai? Pituca: Porque eles se amavam. Pururuca: Ah, é. Que bonitinho. Historinha de amor... Peraí. Você já levou minha grana, agora quem vai perguntar sou eu. Pituca: Pode perguntar. Pururuca: Presta atenção. Pituca: Presto atenção. Pururuca: Pituca. O trem sai da estação. Chega na primeira estação, descem dois passageiros. Aí vai pra outra estação, sai mais um passageiro. Aí vai pra outra estação, entram três passageiros. Aí ele vai pra outra estação, descem dois passageiros. Aí ele para na outra estação, descem mais dois passageiros. Aí ele vai pra outra estação, entra um passageiro. Aí ele vai pra outra estação, desce outro passageiro. Aí ele vai pra outra estação, entram dois passageiros. Aí ele vai pra estação final, entram quatro passageiros. Pergunta. Pituca : Ah, tá na ponta da língua, pode fazer. (Ela estava contando o número de passageiros durante a pergunta.) Pururuca: Posso fazer? Pituca: Pode. Pururuca: Em quantas estações o trem parou? (Aplausos. Pituca não sabe responder.) Pururuca: Dez merréis aqui, ó. (Bate na palma da mão.) Pituca: Tá amassadinho... Pururuca: Tá bom, não tem problema, não. Pô, meu. Você molhou o dinheiro... Pituca. Brigada. Até logo, tchau! Pituca: Ô, Pururuca! Pururuca: O que é? Pituca: Volta aqui. Pururuca: Por quê? Pituca: Você não me respondeu. Em quantas estações o trem parou? (Silêncio. Risos do público.) Pururuca: Pituca... Pituca: Oi? Pururuca: Toma um real. Também não sei. (Risos. Aplausos. Pituca sai.) Pururuca: Isso é um esquete. Certo? Então foi feito o esquete. A senhora perguntou o que que é uma reprise. A reprise é quase sempre um musical. O palhaço entra tocando uma trombeta ou outra coisa e faz uma apresentação. Esse é o esquete de dois. A reprise dá para se fazer em três. Diferente. O que mais a senhora perguntou? Público1 (Ana Luisa Cardoso - Palhaça Margarita): Uma entrada... Pururuca: Entrada? Entrada é a gente entrar no palco. (Risos) Zabobrim: E a saída? Pururuca: Depende da tijolada. (Risos) Pururuca: Brincadeira. Olha, há muitas variedades. Não se preocupem nunca, vocês que estão aprendendo, porque a única diferença entre entrada, reprise... É a comédia. Entradas, reprises... Tem todas mais ou menos o mesmo formato. Reprise é uma piadinha rápida. É isso aqui que nós fizemos. Entrada: uma coisa um pouco mais complicada, usando aparelhos. Um apito, um macaco, um bicho... né? E a comédia já é um teatro feito pelo palhaço. Tendo como ator principal o palhaço. Essa é mais ou menos a formação que a gente tem sobre isso. E nada mais que isso. Tá bom assim? Deu para entender? Público (Ana Luisa Cardoso - Palhaça Margarita): Tá ótimo. Pururuca: Vamos lá. Zabobrim: Alguma pergunta mais? Pururuca: Alguém quer perguntar mais alguma coisa? Zabobrim: Vá lá. Ali em cima tem uma. Tem ali e lá em cima. Pururuca: Pergunta alto no microfone aí para poder gravar. Público 2: Oi, oi. Boa noite. Eu gostaria de saber a principal diferença, e se ela existe, entre o clown e o palhaço. Porque eu tive uma iniciação com o clown, e tem essa coisa da brincadeira, de sempre estar disposto ao sim... de você se entregar à cena, de ter essa disposição de tentar jogar com a primeira coisa que vier na sua cabeça. Se aquilo não funcionar você tenta outra, e vai fazendo essas experiências consigo. Isso no grupo de teatro. Mas eu queria saber se existe essa diferença entre o clown e o palhaço ou se um emenda no outro. E qual seria a principal diferença entre os dois, se é que existe. Pururuca: Tá bom. Tem mais um que você não sabe. É o Toni. E tem o Toni de pista também. Vamos lá. "Pagliacci" vem da Itália. O palhaço, pela definição antiga que eu tenho, – podem não concordar comigo – mas eu acho que o palhaço era aquele que se vestia de cara branca, roupa bufante, bengala, cartola. Elegante. Pintava a cara toda branca, cabelo penteadinho assim, meio aberto. Uma cartola, uma bengala, roupa com lantejoulas, sapatilha. Era o escada. O Toni, o Excêntrico... Como foi que ela perguntou? O Clown. O Clown é um linguajar americano: clown. Que quer dizer palhaço, a mesma coisa." (Risos) O Toni – a gente chama Toni de pista – é aquele palhaço que faz os intervalos dos números com pequenas entradas. Ou reprises. Então enquanto vão montar o trapézio, o Toni (Toni de pista) entra, faz algo rapidinho enquanto eles estão montando ali atrás. Ele faz um negócio, agrada, vai embora, sai e já vem outro número. É porque o circo mudou muito hoje. Hoje, infelizmente, o palhaço não é mais atração do espetáculo. Antigamente palhaço era palco central. Hoje não. Hoje ele já serve mais para fazer esses intervalos. Então a gente chama de Toni. Toni de pista. Entra, vai lá, faz, e cai fora enquanto monta o número. Público 3: Posso perguntar uma coisa, Pururuca? Pururuca: Não. (Risos.) Público 3: Só sobre isso, sobre isso. Pururuca: Sobre quem? Público 3: Sobre essa questão que você colocou. Que o palhaço não é mais tão importante. Você tem alguma explicação, você sabe porque isso aconteceu? Pururuca: Olha, eu acho que o circo se modificou muito. Por exemplo, esses grandes artistas, artistas não, atletas. Esses grandes atletas de olimpíadas, depois que deixam de conseguir as medalhas, não deixam de ser grandes atletas, e podem apresentar números circenses. Se eu faço um trapézio, aquele cara que faz as argolas faz um trapézio. Se eu faço cama elástica, ele faz cama elástica. Só que a qualidade desses artistas começou superar os outros. E os palhaços começaram a não acompanhar a modernidade dos circos. Então, acredito eu, que essa seja uma das razões de o palhaço não ser mais a atração principal. A gente procura acompanhar. Mas tá difícil. Por quê? Você pega um "Cirque du Soleil". Poxa, você vai lá ver e o que você assiste lá? Acrobacias, águas, natação, mergulho. O circo virou um "tem tudo". Até saltos ornamentais. Mas tem também o palhaço. Chama-se palhaço de cara limpa. Fulano põe um narizinho, pinta aqui de vermelhinho, vai lá, e faz a entrada... O último que eu assisti, por sinal, achei legal. Ele fazia o número de um táxi. Mas não tinha táxi nenhum, era uma coordenação com a equipe de som fabulosa. Para mim esse não é o palhaço. Para mim esse é o cômico, que tá lá fazendo o sistema palhaço, só para dizer: "Ó, tem algum cara engraçado aqui. Tá?" Zabobrim: Mas deixa eu te perguntar uma coisa: você falou do palhaço como o elegante? Pururuca: Veja bem, eu não estou te dando uma razão. Até hoje acredito que ninguém saiba a definição. Não confunda com Pierrot. Zabobrim: Mas e o Torresmo? Era o que? Pururuca: Era um Toni. Zabobrim: Era um Toni. Tá. Pururuca: Ou como queira, um Clown. Zabobrim: Aham. Público 4: Queria te fazer uma pergunta, Pururuca. Sobre a questão da ingenuidade da criança hoje em dia. No meu ponto de vista, o riso, hoje em dia, na modernidade, está muito difícil. Eu vejo na televisão brasileira que o humorismo está cada vez mais decadente. Não tem espaço. O palhaço, tem a função principal de fazer a criança ou o adulto rirem. E eu acho que o mundo hoje em dia está muito carente de sorriso. As pessoas não riem umas para as outras, a violência ganha proporções... O que dá ibope é a violência. Eu estou com 54 anos. Na minha época – não quero ser saudosista – eu acho que a criança era mais ingênua. E eu acho que essa questão do palhaço é resultado da carência do próprio modernismo, do próprio mundo de hoje em dia. É difícil rir. É um mundo que faz com que a pessoa chore. Porque o que dá ibope é desgraça, é coisa violenta. Na grade de televisão, praticamente não tem programas humorísticos. Eu curti Os Trapalhões, Os Três Patetas... Mas hoje em dia há uma carência de palhaço, de humor na televisão... E eu acho que o circo está decadente exatamente por essa situação. O palhaço serve como intervalo, porque a atração tem que ser uma coisa mirabolante. O palhaço tem a função de fazer o outro rir. E o sorriso, no mundo atual, está muito difícil. Eu acho que por isso o palhaço está meio esquecido, infelizmente. Pururuca: Posso responder ao senhor? Público 4: O senhor está no céu. Pururuca: Desculpa. Você. Eu discordo um pouco do que o senhor falou. Desculpa. Do que você falou. Quem é o maior culpado pela criança ser mais violenta hoje em dia? Quem?" Público 4: Acho que o adulto. Pururuca: São os pais, não é? Inventaram uma coisa na televisão que antigamente chamava-se seletor. Hoje em dia se chama controle remoto. O senhor tem seu filho em casa. O pai e a mãe trabalham, ele não tem o que fazer. O que que ele faz? "Tique". Ou senão: "Toque, toque, toque, toque." O que falta hoje... Não culpo os pais, hein. Porque na situação em que vivemos os coitados do pai e da mãe precisam trabalhar e a criança realmente às vezes fica esquecida. A criança fica "A Deus verá o que vai acontecer". Poxa, se eu não tenho ninguém para me olhar eu vou assistir aquilo que não presta. Segundo problema: massificação. Nós agradecemos aos japoneses pela violência na televisão. "Nacional Kid", "Jaspion", "Ninja"... Esses coloridinhos manezinhos que tem por aí. Bom, se você deixa o seu filho ver uma coisa dessas e começa a deixar ele ver "Jornal Nacional", que espreme sangue... Porque logo-logo já vai ser assim, né? Você vai assistir e o sangue já vai jorrar da tela 3D. (Risos) Ou senão você vai ver a bala vindo em cima de você. Meu Deus! Se a massificação da mídia não se comporta, não é o palhaço que tem culpa, gente. Os palhaços, infelizmente, não surgiram muitos. Ou não tiveram chance de aparecer como eu tive, como meu pai teve. Como o Carequinha, como o Arrelia, como o Piollin tiveram. Esses tiveram chance de se mostrar. E aí, eu pergunto para você: é fácil entrar numa televisão? Fazer um programa de televisão? Alguém te chamar para fazer um programa de televisão? Não interessa. Eu tenho um aparelho ali chamado Ibope. Se eu não mostrar porcaria o meu Ibope cai. Então eu tenho que mostrar coisa ruim. E como a criança não dorme mais cedo, fica lá assistindo. É onde as coisas pegam. Culpados? Pais, mídia, diretores excêntricos de televisão... Zabobrim: Mas deixa eu perguntar mais uma coisa... Público 4: A série "Chaves" está há anos na TV. É de setenta e pouco, mexicana, e passa no SBT. Acho que são só 40 episódios que se repetem e ainda dá alguma audiência. Pururuca: E quem disse pro senhor que o Chaves não é violento? É lindo, é maravilhoso. Eu gosto para caramba. Mas quem disse que não é violento o seu Madruga puxando cigarro, dando porrada na cabeça do Chaves?... Eles se chutando... Hoje em dia a gente aprendeu que não pode nem dar um "clac", um tapa. Coisa que era normal. E a criança não repetia, não. Porque a gente terminava o espetáculo e falava "Não faça isso”... Humor limpo é o nosso. Zabobrim: "Agora deixa eu te perguntar uma coisa. A figura do palhaço, com essa função de trabalhar com humor, não é, historicamente, um personagem infantil. Isso é do século vinte. Antes, o palhaço no circo era voltado para um público adulto. Eu não acho que é uma coisa ou outra. De jeito nenhum. Eu acho que a criança adora o palhaço. Mas, por exemplo, os meus espetáculos não são para um público infantil. As crianças adoram, mas eu não falo muito para elas. Agora me passam muitas coisas pela cabeça por conta de uma coisa que você falou no começo, em relação à comunicação. O seu pai dizia: "O que comunica é a televisão, então vamos para televisão." E você diz, sobretudo agora, nessa fala, que a televisão continua comunicando. A minha questão é: o que tirou do palhaço – falando assim parece que eu estou rebaixando, mas não é isso – mas o que que fez com que o palhaço, na televisão, não falasse pro adulto? Porque o palhaço, antes da televisão, também falava para os adultos. Por exemplo, no circo-teatro..." Pururuca: "Você já ouviu falar em matinê?" Zabobrim: "Sim." Pururuca: "Desde que eu me conheço por gente o circo sempre teve matinê. A matinê é dedicada a quem? Às crianças. O circo às nove horas da noite, como a própria televisão, é dedicado a quem? Ao adulto. Fazer graça não é soltar palavrão. Tem muita coisa feita para público infantil, e que adulto morre de dar risada. Por que eu vou apelar se eu posso não apelar? Cada um tem o seu jeito. Tem palhaço que apela tanto que a gente fica até com as orelhas vermelhas. Tem. Mas é o jeito dele. Ele quer trabalhar para adulto, vai trabalhar. Agora eu pergunto para você: ser palhaço para adulto? Não é melhor ser um cômico para adulto? Zabobrim: E qual seria a diferença? Pururuca: Nenhuma. A única coisa que você não vai fazer é pintar a cara. Porque eu, na minha fraca opinião, acho que hoje em dia até os palhaços estão virando cômicos. Eu faço uma bolinha aqui, faço um tracinho aqui. Eu sou o quê? Eu sou um palhaço, ou sou um cômico? Eu estou no meio do caminho? Eu estou tentando para ver o que vou fazer? A minha definição é essa. Você diz que o palhaço antigamente trabalhava para adultos. Só que os palhaços antigamente não faziam essas bobagens que os palhaços de hoje fazem. Eles eram centrais e apresentavam números. Eles faziam entradas cômicas. Então entrava no aviãozinho, entrava com a violeta... Eles não apelavam assim para adultos também, não. Isso não existia. E tem outra coisa: nós tivemos uma censura aqui no Brasil que você não podia abrir a boca para falar bobagem." Ana Achcar: "Eu queria dar um aviso e falar umas coisinhas ainda. A gente está perto de terminar e tem algumas pessoas em pé esperando para fazer umas perguntas ali... Parece que tem alguém aí que quer fazer uma pergunta... Quer fazer? Então, por favor, vem aqui. Se alguém quiser ainda ficar por aqui, eu acho que dá tempo para mais umas três ou quatro perguntas..." Pururuca: "Sabe o que que é? É que eu falo demais." Ana Achcar: "Não, está ótimo. Eu só queria falar uma coisinha que na minha ansiedade de início de apresentação eu não falei e é imperdoável. Me referir à produção de toda essa residência, de toda essa empreitada, de toda essa aventura, nas pessoas da diretora de produção que é a Dadá Maia e na produção executiva que é a Ana Wiltgen. Se elas não estivessem aqui para organizar tudo isso, para concatenar os horários de avião, de comida, de logística... Nada disso estaria acontecendo por mais bonito, belo e emocionante que possa ser. Então é isso. Eu estava angustiada o tempo inteiro por não ter falado... Vamos nos encaminhando então para as últimas perguntas. (Aplausos.) Público 5: Boa noite. Eu queria saber basicamente sobre a relação do ator, do palhaço, com o nariz. Eu vejo um ritual muito íntimo nessa relação com o nariz. Eu queria saber se existe algum tipo de aquecimento particular que você faça antes do espetáculo... Porque normalmente quando se coloca o nariz já se traz a palhaçaria. Pururuca: Você já ouviu falar em dupla personalidade? (Risos) Precisa responder mais? (Aplausos) Olha, eu vou te responder uma coisa. Dois minutinhos. A gente quando se transforma... No meu caso, não sei o dos outros, eu viro um moleque. Eu tenho sessenta e seis anos e eu já ando devagar. Só que quando eu me visto... não aqui. O que eu fiz aqui não me transformou no Pururuca. O Pururuca é outro cara. Eu não misturo o Pururuca com o cidadão. Então, a cada vez que eu "zapt!" - dou aquela acalmada, abaixo o nariz, então é: "vamos ver o que dá". Essa é a diferença que eu vejo entre o cidadão e o palhaço: dupla personalidade. O palhaço ali esquece do problema financeiro que ele tem, do problema de doença da mãe dele, do problema do país que ele vive e vai ser o palhaço. Depois que termina, que você tira tudo aquilo, que você está suado... Aí você volta a ser o cidadão. Então a gente procura não misturar as coisas. Minha mulher sabe. Eu fico muito nervoso antes de atuar. Mas não é nervoso porque eu vou atuar, é nervoso porque as coisas às vezes não andam certas. Mas quando eu pego a menina, e "Pirulito que bate-bate...", vamos nós. Acabou, morreu, terminou. Saiu de novo? Aí vai ver os problemas no cidadão que é outro, não tem nada a ver com o Pururuca. Pururuca é um, cidadão é outro. Mais alguma pergunta, gente? Público 6: "Bom, eu queria... Eu tenho uma pergunta prática e uma emocional. A prática é: aonde você se apresenta hoje em dia? Se é no circo, qual é o lugar em que você se apresenta frequentemente... E, na verdade eu tinha várias, mas a gente pode conversar depois. (Risos) Puruurca: "Pode perguntar que eu vou procurar te responder bem rápido." Público 6: "Se tem diferença entre a plateia que você tinha com o seu pai e da que você tem hoje em dia, e quais são as mudanças que você fez para acompanhá-la... E a outra é: qual a lembrança mais forte que você tem, de um acontecimento em cena que te transformou." Pururuca: Bom, transformar não transformou. Mas vamos lá. A primeira pergunta que você fez. Eu faço shows. Tenho um projeto em São Paulo que chama-se "Projeto Arte Infantil". É um projeto que levamos em várias escolas de São Paulo e é patrocinado por grandes amigos, que eu tenho desde a época do Torresmo e Pururuca. Então esse projeto, nós levamos duas vezes ao mês em escolas. Nós fazemos as visitas, as crianças fazem uns desenhos, são escolhidos alguns, e aí no dia de entrega dos prêmios nós vamos lá e fazemos um show dentro da escola e tocamos nossa vida. Fazemos alguns aniversários, e fazemos muitas festas fora... E eu, acima de tudo, ainda sou um professor. Dou aulas de arte... Então eu levo uma vida tranquila, gente. Quando eu digo para vocês que eu sou um palhacinho que deu certo... Eu tenho que agradecer a Deus. Porque a gente vê... Sabe que é difícil a vida do palhaço. É para quem quer ser mesmo persistente. A chuva, o sol... Às vezes a fome. E eu... Deus não fez isso comigo. Me deu sorte. Eu acho que todo mundo tem uma estrela. Umas estrelas brilham mais, outras estrelas brilham menos, outras estrelas vão devagar. Então eu não reclamo da minha vida. Eu consegui. Aí você me perguntou...? Público 6: Se você vê diferença entre a plateia que você tinha com seu pai e a plateia de hoje. Se você teve que se adaptar de alguma forma a isso. Pururuca: Nenhuma. Como vocês dizem eu sou um tradicional. Eu não mudei e nem vou mudar. As crianças estão rindo de mim, pô. Eu vou mudar o quê? Se você perguntar se eu mudo alguma coisa do meu show - ah, pronto! É lógico. Eu não posso ir na mesma escola e fazer a mesma coisa. Eu não posso ter um circo e fazer todo dia a mesma coisa. Então eu tenho que mudar os shows, os esquetes, as entradas cômicas. Por quê? Porque você tem que renovar também. Você não pode estar fazendo sempre a mesma coisa. Então para mim as crianças são iguaizinhas às que eram. Porque quando a gente se apresenta, a coisa mais linda do mundo é o brilho no olhar das crianças quando estão vendo e participando. Isso que é o bonito. Então eu não vou mudar nada, não vou procurar fazer nada. Criança é criança em qualquer parte do mundo. Público 6: Bom, e a última, é se você tem alguma lembrança muito forte de algo que tenha acontecido com você em cena, sozinho ou com o seu pai, que tenha te transformado. Pururuca: Olha, coisa triste? O que eu disse da dupla personalidade? Não levo a tristeza pro palco. Mas tem. Me lembro muito bem que o meu pai fazia o programa "Festa Matinal" na TV Tupi, e eu já participava com ele. No dia anterior, a mãe do meu pai, que morava na casa dele, tinha falecido. E naquela época os velórios eram feitos em casa. Só que no dia seguinte a televisão era ao vivo. E o meu pai sempre foi um homem de compromisso. Como eu também me considero um homem de compromisso. Eu sou meio britânico, ou mais do que britânico: eu sou chato. O que que ele fez? Era o velório da minha avó... As pessoas estavam lá. Ele me chamou num canto: "Filho, vamos para TV Tupi." Eu falei: "Pô, pai. A vó..." – "Compromisso com o público que eu tenho. E sei que minha mãe me aprova. Estou indo lá para trabalhar." Eu olhei aquilo, aquilo me travou. Ele pegou o "fordinho" dele, sentou, e fomos para TV Tupi. Chegando lá ele começou a se maquiar para fazer o programa. Veio o dono da TV Tupi: "O que que você está fazendo aqui?" – " Vim cumprir minha obrigação artística." – "O senhor faça o favor, se o senhor entrar em cena será mandado embora agora." Ele voltou. Chegou em casa, e já estavam fechando o caixão para levar minha avó. Ele chorava que nem criança. Mas não deixou de cumprir a sua obrigação. Aquilo me emocionou demais. Poxa, ele amava a mãe dele. O meu avô era meio sacana... Mas minha avó era um doce de criatura. Eu acho que muitas coisas aconteceram, muitas, mas é aquilo que eu disse: quando a gente faz o cidadão é uma coisa, quando você parte pro compromisso é outra coisa. E acho que todos vocês têm que pensar assim. Aí eu vou chegar para você, me levantar e falar: "Você, você, você, você... Vocês são profissionais". Essa é a palavra. "Eu vou fazer, aconteça o que acontecer!" E não perder a esperança nunca. Eu torço por vocês. Sabe por quê? Porque eu não vou levar nada daqui pro caixão. Mas eu quero deixar para vocês alguma coisa que vocês vão aproveitar. E torço, mas torço de todo o coração, que tenham sorte naquilo que queiram fazer, seja o que for. Certo? Obrigado, gente. Valeu! (Aplausos). Pururuca: Eu queria antes de terminar, fazer um agradecimento ao meu amigo aqui. Que coitado, tentou fazer um montão de perguntas para mim. Zabobrim: Eu vou mandar por email, hein. (Risos) Pururuca: Manda por email. Agradecer às duas Anas. Agradecer a vocês, pelo convite e pela oportunidade da gente poder se expressar de alguma forma levando a palavra do palhaço. Então muito obrigado a vocês. Ana Achcar: A gente que agradece a vocês. Pururuca: Agradeço de coração. Espero que não tenha falado muita bobagem... (Risos) Zabobrim: Não. Porque você fala devagar. (Risos) Pururuca: É que eu estou acostumado a pensar antes de responder. (Risos) Mas muito obrigado pela presença, principalmente de vocês. O que seria de nós se não fossem vocês, o nosso público? Tchau, pessoal! (Aplausos)