O D A Hoje eu me lembrei de um caso que eu presenciei em vida, e como esse caso tem alguma conotação com shows, com festa, pipoca de São João... eu me lembrei desse jovem. Ele era um rapaz culto, lia francês muito bem, era de uma família abastada e morava em Laranjeiras. Um dia, eu o encontrei num cortiço onde tinha ido dar assistência a uma senhora. Ela era portadora de um câncer no útero, que chamavam de tumor maligno; e a sua filhinha, muito desnutrida. Nós encontramos com esse rapaz e o reconhecemos pela sua voz, não pelo seu rosto, mesmo porque o local era iluminado a lamparina e ele estava caracterizado de palhaço. Já havia passado por algumas casas, já estava morrendo a tarde, quando ele chegou à casa dessa senhora. Havia um cheiro muito forte da decomposição física das suas células cancerígenas. E a sua filhinha, com anemia muito grave, desnutrida, e eu, com pouquíssimos recursos a não ser esse que Deus nos oferece, que é o da boa vontade, da oração, e da certeza de sabermos que cada pessoa está resgatando com a sua provação os débitos do ontem e adquirindo os méritos de amanhã. Mas quando eu cheguei, havia grande riso dentro da casa. Mesmo essa senhora, com muitas dores, ela comprimia o abdômen e ria muito, e a sua filhinha anêmica, que eu já havia visitado algumas vezes, também ria muito enquanto o outro menorzinho, ela tinha cinco aninhos e o outro três; e o outro menininho chorava assustado. E ele, então, me recebendo na porta, disse: - Pode entrar doutor Bezerra de Menezes, eu sou o palhaço Pipoca. O senhor não me conhece de lugar nenhum, porque eu não pertenço a lugar nenhum. Eu o reconheci pela voz, mas, como ele estava mascarado, pintado, com o rosto branco, lábio muito grande pintado de vermelho, os olhos riscados de creom, eu respeitei o desejo do palhaço pipoca que na realidade se chamava Daniel, que era de uma família abastada, e estava se preparando também para ser um médico. E eu perguntei: - O quê o palhaço Pipoca está fazendo aqui? - Eu não estou fazendo nada, o senhor, que é o médico, é que vai poder fazer. Mas, eu trouxe para eles, que estão aqui, alguns agrados. E quando eu fui ver, havia muito material para higiene, havia toalhas de saco branco, porque naquela época eram aquelas toalhas de saco; havia material para curativos e havia muita comida, o que é básico: arroz, feijão, fubá, rapadura, havia também um pote grande que agente via que era cocada, goiabada cascão, dois queijos. Eu vi que aquele rapaz, aquele rapaz risonho, aquele rapaz pintado de palhaço para não ser reconhecido talvez no hospital, como alguém que estava se preparando para ser médico. Seus irmãos faziam direito, e eu conhecia a família. Uma família arraigadamente católica, preconceituosa, e eu perguntei para ele, depois que saímos, inclusive ele no seu carro, que na verdade não era um carro, era um caminhãozinho daqueles bem saltimbancos mesmo, e ele foi me contando: - Na minha casa eu posso rir muito pouco, porque lá eles acham que tudo deve ser feito com muita elegância. Eu estou me formando em medicina, mas eu acho que essas pessoas estão precisando entrar em contato com a alegria, porque a tristeza faz parte do seu dia a dia. E eu falei: - E por que, Daniel, você escolheu, você resolveu exatamente procurar se mascarar assim? - Pra minha alegria não tornar ninguém triste, e nem haver uma barreira entre eu e eles, porque se eu viesse aqui como futuro doutor Daniel, ao chegar no hospital, bem poucas pessoas entenderiam a pureza da minha alegria, nem minha família. Assim eu deixo o caminhão na casa de um dos enfermeiros, no final de semana ele pode levar as pessoas na praia. Então eles vão, passeiam, e eu, quando chega sábado, eu venho ao cortiço. Eu soube que o senhor estava tratando dessa família e fiz tudo pra sair antes da hora, porque me disseram que o senhor chegava depois que o sol se punha, e o senhor chegou exatamente com o sol na linha do horizonte. E eu, então, percebi a grandeza daquele jovem que se preparava para ajudar a curar as doenças do corpo com os poucos recursos que tínhamos, mas que já estava ajudando a saúde da alma no riso franco, na alegria. Palhaço Pipoca! É tão fácil fazer uma pipoca, é tão fácil lembrar do palhaço Pipoca. E hoje, com a exuberância de tudo que vocês falaram, eu fui abrir o meu baú de recordações e me lembrei desse rapaz tão bonito, que falava francês, conhecia Paris, de uma família importante, família de advogados, ele seria o único médico, destoando totalmente de toda rigidez de comportamento da sua família, que achava que a pessoa só é levada a sério se estiver com uma carranca afivelada no rosto. Não é bem assim, o sorriso conquista a simpatia e impõe tanto respeito, muito mais, talvez, do que uma cara sempre amarga, quase que as pessoas tendo que passar e bater continência. É preferível, sim, uma alegria pura das pessoas que confiam uma nas outras, que sabem entender a filosofia do bem viver, a ter esperança, a ter alegria, não julgar com precipitação, não julgar pelas aparências e ir além da capacidade que um ser humano traz no interior do seu amor, do seu viver, das suas ações, que vão muito além do que qualquer palavra proferida em qualquer discurso bem elaborado, mas que, na verdade, não dizem verdades. Mensagem recebida por psicofonia, pela médium Shyrlene Soares Campos, no Núcleo Servos Maria de Nazaré, queé uma Instituição Filantrópica reconhecida como Utilidade Pública: *Municipal (Lei nº 4362 de 11/07/86), *Estadual (Lei nº 12.877 de 17/06/98) e *Federal (Lei nº 485 de 15/06/2000). Av. Dr. Arnaldo Godoy de Souza, 2275 – Caixa Postal 320, CEP 38412-970 Uberlândia-MG – Fone: (0xx34) 3238-4551.