8 MÉTODO PARA A OBTENÇÃO DA TRAJETÓRIA DE PRIMEIRO MOMENTO DOS SISTEMAS LINEARES SINGULARES SUJEITOS A SALTOS MARKOVIANOS Amanda Liz Pacı́fico Manfrim1 , Eduardo Fontoura Costa2 , Marco Henrique Terra3 , João Yoshiyuki Ishihara4 1 2 UNESP, FCAV, Depto. de Ciências Exatas, Jaboticabal, SP, Brasil, [email protected] USP, ICMC, Depto. de Matemática Aplicada e Estatı́stica, São Carlos, SP, Brasil, [email protected] 3 USP, EESC, Depto. de Engenharia Elétrica, São Carlos, SP, Brasil, [email protected] 4 UNB, ENE, Depto. de Engenharia Elétrica, Brası́lia, DF, Brasil, [email protected] Resumo: Este artigo apresenta um método para determinar uma trajetória de primeiro momento para os sistemas lineares singulares sujeitos a saltos Markovianos regulares, que leva em consideração as matrizes de parâmetro do sistema, a matriz de probabilidade de transição da cadeia de Markov e a distribuição desta cadeia. Palavras-chave: Sistemas singulares, dinâmica estocástica, regularidade. 1. INTRODUÇÃO Os sistemas singulares têm despertado interesse considerável na literatura devido ao fato desta classe ser apropriada para modelar sistemas que são muito utilizados em diversas áreas. Exemplos clássicos de aplicação são encontrados em modelagem de sistemas: aeronáuticos [12], de circuitos [9], econômicos [8], interconectados em larga escala [7], robóticos [6] e com processos quı́micos [3]. Outra classe de sistemas que tem recebido grande atenção é a dos sistemas estocásticos, cuja evolução é influenciada por fatores aleatórios. Falhas, reparos em máquinas e modificações em parâmetros de sistemas são exemplos clássicos em que o uso exclusivo de argumentos determinı́sticos não é apropriado. Uma abordagem importante dessa classe de sistemas é baseada em modelos com saltos Markovianos nos parâmetros, que vem se tornando muito popular por possuı́rem propriedades eficientes para descrever este tipo de comportamento em sua dinâmica, veja [1], [13], e as suas referências. Exemplos de aplicação podem ser encontrados em [2] e [11]. Ao incorporar saltos de Markov nos parâmetros de um sistema singular convencional, obtém-se uma classe bastante ampla de sistemas, denominada de sistemas lineares singulares sujeitos a saltos Markovianos (SLSSM). Esta classe tem grande potencial de aplicações em sistemas fı́sicos e econômicos, veja por exemplo [4] e [10]. Os SLSSM, a tempo discreto, descrito em um espaço de probabilidade apropriado dado por (Ω, F̄, P ), podem ser modelados como: ( Sθ(k+1) x(k + 1) = Fθ(k) x(k) + Gθ(k) u(k) Ψ: y(k) = Hθ(k) x(k), (1) para k = 0, 1, . . ., sendo o par (x(k), θ(k)) o estado do sistema, com θ ∈ T = {1, . . . , N }, chamado de variável de salto ou modo e x(k) a variável do sistema dinâmico associado a cada modo θ(k), y(k) a saı́da do sistema e u(k) a entrada de controle do sistema. θ(k) é o estado de uma cadeia de Markov discreta no tempo com espaço de estado finito e com matriz de probabilidade de transição P = [pij ], i, j = 1, . . . , N , tal que pij := P (θ(k + 1) = j | θ(k) = i) é a probabilidade do sistema passar do modo de operação i para j; portanto pij ≥ 0 deve ser satisfeita, para i, j ∈ T e, para cada PN i, j=1 pij = 1. Define-se a distribuição da cadeia de Markov, dada por πi (k), com πi (k) = P (θ(k) = i) sempre que i ∈ T. Uma vez que θ(k) = i e θ(k + 1) = j, Sθ(k+1) = Sj , Fθ(k) = Fi , Gθ(k) = Gi e Hθ(k) = Hi , sendo Sj uma matriz singular. Considera-se os seguintes conjuntos de matrizes conhecidas de dimensões apropriadas F = (F1 , ..., FN ), G = (G1 , ..., GN ) e H = (H1 , ..., HN ). Tendo em vista que os SLSSM são sistemas estocásticos, observamos que é possı́vel definir a regularidade de diversas maneiras. Neste artigo, propomos uma noção de regularidade que envolve a existência e unicidade de solução para cada realização da cadeia de Markov. Isto nos permite definir valores esperados associados ao SLSSM, como E {x(k)}. Desta maneira, apresentamos dois conceitos de regularidade para os SLSSM denominados de regularidade estocástica e regularidade estocástica em horizonte finito T (ou T -regularidade). Propomos, ainda, um algoritmo para determinar uma trajetória de primeiro momento para esta classe de sistema. 2. NOTAÇÕES Nesta seção, apresentamos as notações para referência posterior. Rn denota o espaço linear Euclidiano 9 de dimensão n, Rr,n (respectivamente, Rn ) o espaço linear normado formado por todas as matrizes reais de dimensão r × n (respectivamente, n × n) e Rn0 (Rn+ ) o cone convexo fechado das matrizes simétricas semidefinidas positivas (o cone aberto das matrizes simétricas definidas positivas); U ′ denota o transposto de U , U ≥ V (U > V ) significa que U − V ∈ Rn0 (U − V ∈ Rn+ ). Seja Mn,q o espaço linear formado por um número N de matrizes tais que Mn,q = U = (U1 , . . . , UN ) : Ui ∈ Rn,q , i = 1, . . . , N ; ainda, Mn ≡ Mn,n . Denotamos como Mn0 (Mn+ ) o conjunto Mn quando ele é constituı́do de Ui ∈ Rn0 (Ui ∈ Rn+ ) para todo i = 1, . . . N . Define-se, também, como U ≥ V (U > V ) a representação de Ui ≥ Vi (Ui > Vi ), para cada i = 1, . . . , N ; estendemos, de forma análoga, esta representação para as outras relações matemáticas. Para U ∈ Mn0 , definimos ||U || = max0≤i≤N σ(Ui ), sendo σ (Ui ) o maior valor singular de Ui . Denotamos, sempre que não houver risco de confusão, o valor esperado condicional E{·|x0 , θ0 } simplesmente por E{·} e a variância por V ar (·). Para A ∈ F̄, a função indicador 1A é definida de maneira usual, ou seja, para w ∈ Ω, ( 1 se w ∈ A 1A(w) = 0 caso contrário. de probabilidade não nula, existir uma única trajetória X = {x(0), x(1), . . . , x(T )} satisfazendo o Sistema Ψ. Note que para cada i = 1, . . . , N , 1{θ(k)=i} = 1 se θ(k) = i, e 0 caso contrário. No tempo k , assumindo θ(k) = i, a dinâmica do SLSSM apresentado em Ψ é determinada por E {|| (x(k)) ||r } ≤ ||Lk ||r . Sj x(k + 1) = Fi x(k) + Gi u(k), (2) sendo x ∈ Rn , u(k) ∈ Rm , e as matrizes de parâmetros Sj , Fi ∈ Rn e Gi ∈ Rq×m , para todo i, j = 1, . . . , N . Sempre que os valores de x(t) e θ(t) forem conhecidos para 0 ≤ t ≤ k, denotaremos o conjunto desses valores por Ft , ou seja, Ft = {x(0), θ(0), · · · , x(t), θ(t)} e consideramos P ∈ RN . 3. REGULARIDADE ESTOCÁSTICA Considere o SLSSM em horizonte T satisfazendo (2), com 0 ≤ k ≤ T − 1 e condições de contorno, que podem ser (c1 ) x(0) = x0 , com x0 admissı́vel; (c2 ) x(0) = x0 e x(T ) = xT , com x0 e xT admissı́veis, sendo que xm é admissı́vel sempre que o Sistema Ψ admite solução no instante m. Definição 3.1. Dizemos que o Sistema Ψ, ou equivalentemente (S, F, P), é regular estocasticamente de horizonte finito T (ou T -regular) sempre que para cada sequência de controle U = {u(0), u(1), . . . , u(T − 1)} e distribuição inicial da cadeia, π(0), existirem condições de contorno (i) ou (ii), tal que para cada realização da cadeia Θ, dada por Θ (ω) = {θ(0), θ(1), . . . , θ(T − 1)}, Observe que a existência da condição de contorno (i), ou seja, x(0) admissı́vel está associada à ação de controle U e à distribuição inicial da cadeia, π(0). De forma análoga, a existência da condição de contorno (ii), ou seja, x(0) e x(T ) admissı́veis dependem tanto da ação de controle U quanto da distribuição inicial da cadeia, π(0). Definição 3.2. Dizemos que o Sistema Ψ, ou equivalentemente (S, F, P), é regular estocasticamente quando o Sistema Ψ for T -regular para todo T ≥ 0. 4. CONDIÇÃO PARA DETERMINAR UMA TRAJETÓRIA DE PRIMEIRO MOMENTO DOS SLSSM Nesta seção vamos apresentar alguns resultados com o objetivo de construir condições para determinar uma trajetória de primeiro momento de um SLSSM regular estocasticamente. Lema 4.1. Seja r um número inteiro positivo. Se o Sistema Ψ é T -regular, então o processo X é limitado quase certamente e, além disso, existem Lk ∈ Rn , 0 ≤ k ≤ T tais que (3) Observação 4.1. Note que a Definição 3.1, de T regularidade, implica na existência de uma única trajetória X para cada realização distinta da trajetória Θ. Uma vez que o Sistema Ψ possui todos seus momentos bem definidos, podemos empregar o Teorema Central do Limite para fazer uma aproximação destes momentos, pois o cálculo direto pode ser uma tarefa difı́cil. O próximo resultado é uma extensão direta dos resultados apresentados em [5], desta maneira a prova é omitida. Proposição 4.1. Considere o Sistema Ψ T -regular. Se 0 ≤ || (x(k)) ||r ≤ ||Lk ||r , então Var (|| (x(k)) ||r ) ≤ ||Lk ||2r . 4 Lema 4.2. Considere o Sistema Ψ T -regular. Sejam µk = E {||x(k)||r }, sendo r um inteiro positivo, X̄k,M a média para uma amostra de tamanho M , ou seja, PM ||x(k, wb )||r X̄k,M = b=1 , M e Σk,M = Var X̄k,M então existe Lk tal que 2r k || Σk,M ≤ ||L4M , e a distribuição de X̄k,M converge para N (µk , Σk,M ), quando M tende a infinito. Em particular, X̄k,M converge em probabilidade para µk . O próximo resultado é uma consequência direta do Lema 4.1, que nos permite impor uma condição de primeiro momento para o Sistema Ψ e com isso obter um 10 método computacional para determinar uma trajetória de um SLSSM regular estocasticamente. Outras podem ser obtidas através de diversas relações de equivalência para E {x(k)}. Lema 4.3. Considere as seguintes equações nas variáveis qi (k) ∈ Rn , sendo i ∈ T e k ≥ 0, Sj qj (k + 1) = N X pij Fi qi (k) + i=1 N X pij πi (k)Gi u(k), (4) i=1 j ∈ T. Se o Sistema Ψ é T -regular com condição de contorno (c1 ) ou (c2 ), como apropriado, então qi (k) = E x (k) 1{θ(k)=i} satisfaz (4). Proof. Pré-multiplicando (2) por 1{θ(k+1)=j} e aplicando o valor esperado em ambos os lados da igualdade obtemos E Sθ(k+1) x(k + 1)1{θ(k+1)=j} = = E Fθ(k) x(k)1{θ(k+1)=j} (5) + E Gθ(k) u(k)1{θ(k+1)=j} . Assim, aplicando propriedades básicas de valor esperado, temos que Sj E x(k + 1) 1{θ(k+1)=j} = = N X E Fθ(k) x(k)1{θ(k+1)=j} 1{θ(k)=i} i=1 + N X i=1 (6) E Gθ(k) u(k)1{θ(k+1)=j} 1{θ(k)=i} . N X i=1 pij Fi E x(k) 1{θ(k)=i} + N X (7) pij πi (k) Gi u(k). qi (k) := E x(k) 1{θ(k)=i} ∈ Rn ; ′ (k) ∈ RN n ; q(k) := q1′ (k) · · · qN ′ q := q ′ (0) · · · q ′ (T ) ∈ R(T +1)N n ; ′ u := u′ (0) · · · u′ (T − 1) ∈ RT n ; S1 0 · · · 0 0 S2 · · · 0 Nn S := . . .. ∈ R ; . .. .. .. . 0 0 · · · SN p11 F1 p21 F2 · · · pN 1 FN p12 F1 p22 F2 · · · pN 2 FN Nn F := ∈R ; .. .. .. .. . . . . p1N F1 p2N F2 · · · pN N FN p11 π1 (k)G1 + · · · + pN 1 πN (k)GN p12 π1 (k)G1 + · · · + pN 2 πN (k)GN N n×n Ḡk := ; ∈R .. . p1N π1 (k)G1 + · · · + pN N πN (k)GN −F S ··· 0 0 0 −F · · · 0 0 T N n×(T +1)N n H= . ; ∈R . . . .. .. . . ... .. G= 0 Ḡ(0) 0 .. . 0 ··· 0 Ḡ(1) .. . 0 −F ··· ··· .. . ··· S 0 0 .. . Ḡ(T − 1) (8) T N n×T n . ∈R Utilizando as notações apresentadas anteriormente, obtemos uma representação para o Sistema (4) como segue. Lema 5.1. O Sistema (4) dado por i=1 Nesta seção propomos um método para determinar uma da trjetória de primeiro momento dos SLSSM regular em um horizonte T . Inicialmente vamos escrever o sistema (4) na forma matricial, para isso introduzimos a seguinte notação considerando 0 ≤ k ≤ T : 0 Sabendo que u(k) é independente de 1{θ(k)=i} , podemos reescrever (6) como Sj E x(k + 1) 1{θ(k+1)=j} = = 5. MÉTODO PARA A TRAJETÓRIA DE PRIMEIRO MOMENTO DOS SLSSM T REGULARES Definindo qi (k) := E x(k) 1{θ(k)=i} , podemos reescrever (7) como (4). Observação 4.2. Note que (4) pode ter multiplicidade de soluções. O Lema 4.3afirma que uma dessas soluções coincide com qi (k) := E x(k) 1{θ(k)=i} . O Lema 4.3 fornece uma condição necessária testável para a T -regularidade, como destacamos no próximo resultado. Teorema 4.1. Se o Sistema Ψ é T -regular então existe solução para o Sistema (4). Proof. Uma vez que o Sistema Ψ é T -regular, através do Lema 4.2 temos que a variável aleatória x(k) está bem definida e tem momentos finitos, logo qi (k) = E x(k) 1{θ(k)=i} está bem definido. Aplicando o Lema 4.3 segue o resultado. Sj qj (k + 1) = N X pij Fi qi (k) + i=1 N X pij πi (k) Gi u(k), i=1 j ∈ T, pode ser reescrito como H q = G u. (9) Proof. Considere o Sistema (4), sempre que j = m, m ∈ T, Sm qm (k + 1) = N X i=1 pim Fi qi (k) + N X pim πi (k)u(k) i=1 = p1m F1 q1 (k) + · · · + pN m FN qN (k) + p1m π1 (k)G1 u(k) + · · · + pN m πN (k)GN u(k) ou seja, S q(k + 1) = F q(k) + Ḡ(k) u(k) (10) 11 assim, segue o resultado. Com o objetivo de encontrar uma trajetória de primeiro momento para os SLSSM propostos, apresentamos o seguinte algoritmo Passo 1. Entre com as matrizes Sj , Fi , Gi e P, com a distribuição inicial da cadeia π0 , com o vetor de controle u(k), com o vetor x(0) e com o horizonte T . Considerando i, j ∈ T, construa as matrizes S e F como em (8). Passo 2. Para k = 1, . . . , T , construa a matriz H e o vetor b = Gu, e resolva a seguinte equação em q: H q = b. Passo 3. Para determinar a trajetória de meiro momento dos SLSSM, dada X̄ = {x̄(0), x̄(1), . . . , x̄(T )}, faça x̄(k) = N X pripor qi (k), k = 1, . . . , T. i=1 6. EXEMPLO NUMÉRICO Nesta seção ilustramos eficiencia do método proposto na Seção 5 através de um exemplo numérico. [2] do Val, J. B. R. e T. Basar (1999). Receding horizon control of jump linear systems and a macroeconomic policy problem. Journal of Economic Dynamics & Control 23, 1099–1131. [3]DOI Gilles, E. D. (1998). Network theory for chemical processes. Chemical Engineering and Technology 21(2), 121–132. [4] J. Lam, Z. Shu, S. X. e E. K. Boukas (2007). Robust H∞ control of descriptor discrete-time Markovian jump systems. International Journal of Control 80(3), 374 – 385. [5] James, B. (1996). 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