~
IlftERACIONAIS 8~_
ESTRUTUR.\
DA
~
Maria LUcia C. V. O. Andrade
Z11da G. Ollveira de
Aquino
PUC!SP
Toc1a conver8~io
e
"uma atividade estruturalrnen-
te organizada,l (cf. MarcuschI, 1988 : 320) e se!Dpresituada em algurna clrcunstancia ou contexto em que os Interloc~
tores estao engajados.
organicidade
0
fato de ser a conversa~ao urnaatlvidade cen
trada, de tal forma que a centracao estabelece-se como con
dic;;aobasica para que haja conversacao (cf. Goffman:1976).
Desse modo, dois ou mals interlocutores interage~ e se alternam constantemente, ~artilhando um minireode conhecimen
tos comuns; observando-se a ocorrencIa de seqUenclas
de
aC;;oesque se inter-relacionam e formam urndiscurso coerente.
Para que a intera<;;aotenha sucesso,
e
preciso que
sejam preenchidas algumas condicoes que abrangem os nivsis:
cognitivo, contextual, social e lingUistlco.
Ha que se observar que, na conversacao, corrigimos a nos mesmos ou aos parceiros,fazendo
reparoe 5intat.!.
cos, lexicais, foneticos, semanticos ou pragmaticos.
Esse
processo funciona tambem como processo de edl~io ou
auto-
edi~ao conversacional e contribui para organizar localmente a conversacao.
t Importante lembrar que, para Goffman, a inter!
ce.osoclal
e
guiada, princip~lmente, pela preocupa~ao
dos
participantes de nao perder a face. 0 carater intrinseca-
1IIeO~ •••••
,~_"".to
segundo esse autor,
na
0
~p.m neutrallzar as amea9as potencla1s
~u~~
que
08S
••
Interloeutores.
dos
Inte~alrao sOCial acarreta.
desenvolvlmento de proo~ssos de f1-
as
f~
A colabora98o estrelta entre os falantes instaura-se oomo uma necessldade em todos os nlveis, seja propoaicionp1 (conteuoos claros),
cOIl\PreenaiveU e
0
0
fonologlco (artlculalr~o bem
prasm.!uco (partllhamento de oonheclmen
toa). A niD ocorrencla de
urn
desass nIvels acarretara enc~
mlnhamentos dlverslficados na estrutura conversaclonal.
Os Interlocutores seguem varios pad roes ou
re-
gras a fim de interagirem ordenadamente. Tais regras podem
ser fooalizadas sob anguloa dlstlntos de acorda com
0
tipo
de analise que se qusira operacionallzar.
Assim. embora se··observem ns conVerSalraO regras
que ordenam: (a) formas l1ngUfsticas; (b)conteudQs; (c)8eqUencias de atos de fa1a; (d) Intera9ao; (e) seqUSnc.ia~ao
a
toplca, abordaremos os aspectos Interacionals1igados
s~
qUencla~ao topica.
Destacamos
centra~ao e
0
0
topico
CuRIO
elemento primordial
de
tomamos numa abordagem discursiva em 'que
0
mesmo se define como aquilo sobre ().que se esth
falando.
Observa-,se um processo colaboratlvo, que envolve
os par-
tlcip~ntes do ate interacional, no estabelecimento
ao to-
pico discursivo.
Keenan e Schierfelin (1976: 349) propoem
~lfuns
pre-reqUiSitos r:tinimospara que falante/ouvlnte possarn determinar a presen9a de um topiCO:
a)
0
falante deve:
-ass_surar a atenQao do ouvinte;
-articular claramente seu ~nunciado;
-elaborar informa9ao suficiente para que oouvinte-identi-
rique os
.i"tos
menclonadOe no toplCO;
-.laborar Inrorma~&o suficiente para q•• 0 OUV,1n,...,
~,le9a as rela90es semant1cas relevantes para reallzar 0 item
anter10r.
b)
0
ouv1nte, por sua vez, deve:
-atentar para 0 enunciado do falante;
-decifrar 0 enunciado do falante;
-identif1car objetos, ind1v!duos, 1deias, eventos,etc.,que
tem urnpapel na determina~ao do topico;
-ident1f1car as rela90es semanticas que se dao entre os r~
ferentes no tOPicO d1scursivo.
O'estsbelecimento do top1co e, portanto, urns at!
vidade interacional.
A
consciencia de que se deve falar s£
bre algo claramente e que a forma de deixar urn
enunciado
claro tem suas marcas sugere que a estrutura9ao topica
po
de servir como f10 condutor da organ1za9ao d1scursiva. Por
iS80 grande parte do espa90 conversaclonal e usado nas tr£
cas em que falante e ouvinte procuram estabelecer um topico d1scursivo.
Parece imprescindlvel elaborar um modelo de org!
n1za9ao da estrutura conversacional a partir da intera9ao '.'
entre os talantes, visto que estes realizam suss contribu!
c;;oesgeralmente base ados numa concatenacao pressuposicional ordenada e naoaleatoria,
Em outras palavras,
ha
urnp~
drao de organiza9ab seqUenc1al dos turnos na intera9ao
e
urnde seus recursos se configura atraves da n09ao que cada
falante tem de seu papel ou "status" na Intera9ao,
Asslm, a partir da analise do inquerito
360
do
Projeto NURC/SP (Dialogo Entre Dols Informantes), constat~
tabelectlillentO do tOpiCO (cont1n\lldade topica) se de:
(1)
L1
10 L2
L1
L2
L1
15 1.2
L1
e ...
apl apl
a proerama~ao ••.
hav1a Sido planeJ,.da•••mas nao deucerto •••
«risos) )
filhos da p1lula nao? «risos»
nao •.•« risos»
nem da tabela? «risos»
nio justamente porque a tabela oao::nao deu
certo e que:: ((risos» vieram ao acaso
ahn ahn
e::nos haviamos programado NOve ou dez
f1
lhos ••• nao 8?
Neste aeamento, peroebe-se urn ped1do de esclarecimento,por
parte do ouvinte (L2), atraves de pergunta (1. 10). Como
0
falante (L1) responde susc1ntaniente ("nao"), sem dar exp1l
cal;oes detalhadas, 0 ouvinte1nsiste
tra pergunta (1. 12); ate que
mals uma vez con: OU-
0 falante. responde com maiop.-
cillreza (1. 1:3-14). Neste·.trecho,.nota-se 0 empenho do ouvinte em·interagir para
0
desenvolvimento
do tOpico.
b) A v1ola~ao de alguns dos pre-requ1si tos propostos
pOl"
Keenan e Sch1ef!el1n - ja cltados anteriormente - pode pr£
vocal" 0 1nsueesso do estabelec1mento
do topico ou a ma com
preensao do topico como tal. Neste caso, sao acionados
as
r;,ecar,lsmos
de cQrrel;8.QOu reparo:
(2)
807
A
L2 ah:: nao ternah tod~-a parte eh pratlcamente toda a parte jur1dica do Estado e fei ta_.
nao espera a1 espera a1 «risos»
estou
exagerando nao e toda a parte Juridlca ..•
auto-corre~ao eVldencla. que
ja
0
falante, (L2) esta preocup~
do nao so em transmit1r urna lnforma9BO clara e precisa,mas
acima de tudo em preservar a sua imagem publica (face pos!
tiva)
•
(3)
L2 ela tambem esta me1a:: ..•desiludida ...
745 L1 nao ela e entuslasta ela esta:: ...
L2 nao sei eu 'nao a conhe90 eu eu oUQo POl" ( )
o reparo semantico felto peloOuvlnte
("l)~f;ra
que
ele esta partlc1pando atlvamente do desenvolvimento do top!
CQ
e que a caracteriza~ao feita por L2 ao referents toplco
nao e adequada.
Segundo M~nnink (1981), as corre~oes ou
sao bastante elucldativos no que se refere aos
reparoe
pr1nclp10~.
~a comun1ca~ao e do pressuposto da compreensao. Quando
falante se auto-carri?,e, observa-se que a correQao se
um
con~
tro1 ordenadamente, sendo introduz1da com bastante pap1dez
e geralmente a seqUencia
do
e
e bem formada sintaticamente.Quan
feita pelo ouv1nte, a corre9ao apresenta-se de
difererite,visto que 0 ouvinte per~ite que
0
forma
falante
con
clua a sua contribui9ao e, geralmente, faz ate uma pausa ~
tes de come~ar.
c) 0 falante 1oforma desnecessariamente, imaF.inandoque
ouvinte nao conhece
0
referente. Neste caso,
0
0
ouvinte pode
tomar/o turno avisando que ja 0 conhece:
(4)
1325
L1 ele segue os salarios dos jogadores .•.atraves da: :revista Placar •.•e uma revlsta::
L2 espeCialitada em esporte ...
Ll
especlalizada em esporte ...
L1 supoe que L2 nao conhe~a 0 referente "rev1sta Placar" e
apos um alongamento de L1, L2 ad1anta-se demonstrando
conhece
0
que
referente. Meemo ass1m, L1 conclul sua expllca-
98.0·("especlallzada em esporte").
d) 0 falante pode questionar se 0 referente e conhecido p~
10 ouvinte e apos uma pausa, como nao obtem resposta, pro!
segue compreendendo que
(5)
1267
0
mesmo ja
e
conhec1do:
L1 talvez ela se encamlnhe para lS50 a nao eer
que haja outras aberturas hoje
eu estive
vendo •••um.llvro ••.edltado pelo:: •••lnst1tu
to RobertoSlmon8en ..•voces conheoem? ••so:
bre as proflss0es NO estado de Sao Paulo ...
OfaJADU(Ll)
•••
de •• nvol~
acIO"~
0 tOPiCO
••
vocac10na1s dos f11hos e faz urna d1gressao para exp11car s2
bre· 0.'"11vro de prof1.sosS". Util1za uma psrgunta "voces C!!
nhecem?" propria para interag1r e,apos pausa, prossegue sua
expl1cac;io.
e) 0 falante pode desconf1ar que
0
referente nao
e
conheci-
do e exp11ca-lo .elhor:
(6)
L1
1363
o menino entao geralmente ele vai com urn tio
.••que ado!o Odecio que adora futebol embora
eles sejaa de times contrario~ •.•
Ll estava desenvolvendo 0 topico sobre as tendencias co f1lho de treze anos, dizendo que ~le gosta de esportes,
mas
como 0 pai nao tern tempo.de l~va-Io a urncampo de futebol,
ele vai com urn tio. Para expllcitar
0
referente, a locutora
interrompe a caracteriza\;ao "que ado!" e reformula a oraCao
denom1nando 0 referente "0 Odecio que adqra futebol".
f) Quando 0 falante recebe uma resposta positiva do ouvin1.e,
esta assegurada a continuidade topica:
Ll bom •••com uns TApas .•.as vezes ela se coloca
L2 r&hn
Ll lmas com palavras ela nao se coloca
,ela
L2 lahn
Ll aurnenta a voz com os 1rmaos .••nao e? ..~ntao
L2
I ahn
Ll .quando 8ai •••aquela folia a88im de urn correr
atras dela entao ela •••~e cala urnpouco
lahn
mas
ahn
nao
nao rsee
Ie
dobra
ahn
se cala mas nao
Neste segmento,observa-se que
0
ouvinte
(L2)
monitora bas-
tante·a fala de Ll e este e urn aspecto positivo para que
0
g) As vezes 0 talante ace1ta a 1nco~raqio
tOpica do ouv1n
te como ocorre nas 1inhas 253 e 256. Entretanto. em outras.
e1e nao aceita a c01aborac;ao do ouvinte. COIIlOse pode notar
nas l1nhas 249 •.
250 e 251:
(8) 249 L2 porque norma1rnente quando ternmuitos ..•e um
corne<;a
..•
L1'a bancar 0 •••
L2 a •.•a a «risoa»
a tornaratitudes mais ou
rnenos autor1tar1as os outros rnesmos se encarrega/se encarregam ~ .•.
L1
e ...
L2[fazer ( ) exatamente
L1 de coloca-lo no lusar ne?
h) Quando oco~~en~ms:~r~~S~~ g~at~~g p'~;~u~~'~~?". cons1d~
rado como urns1nal ut1l1zado pelo falante para f1scalizar
a s1 proprio e ao ouv1nte. observa~se a rea<;aodeste ult1-
(9)
1115
L2 porque eBsa pessoa provave1rnente sera
cliente futuro ••• nao.e?
L1
1sso mesmo
Entretanto este s1nal ("nao e?/ne?") tambem pode ser utili
zado pelo ouv1nte para tentar a lncorporaeao de urnapropoS1eao complementar ao top1co do falante. Se
0
ouv1nte nao
obternurn "feedback" 'posit1vo, e1e insiste ate alcanear seu
lntento:
L2 todo mundo conhece todo mundo quer d1zer
pentro da .••dentro da
L1 Ie urna tarefa diftc1l ne?
L2 A::rea espectf1ca ...
L1 e dUtcH ...
L2 e dUtcH
porque ternque manter •••
i) 0 fa1ante pode lntroduzlr um toplCO ut111zando-se
anafor1cos. Todav1a. por considerar que
preendera
0
0
de
ouvinte nao corn-
referente a que este anafor1co remete.
ja
que
o mesmo naOkapresentou atraves de elementos semanticos ex-
pllC~"'.ID88
8111 pol'
lll810
interrolllper retormulando
tro lllldo, S. 0 ouvlnte
anar&rlco
e. neste
(11)417
caso,
compreendldo
interromper
Interlocutor
falante
para,
10, Interrompe-lo
mantem
no momento
oportuno,
estudo
dos aspectos
interacionais
trabalho .. Haoutros
neste
em pesquisas
futuras.
no que se refere
baslco
nuldade
top1ca.
ter-se
vigilantes
delxar
ao
sobre
seu
refuta-
Para
de 1ntera~ao
tanto,
a centra~ao
(a8sunto),
afirmar
nao se
da
mas coloca-se
para que ocorra
seu papel
ser
pode-se
falante/ouv1nte
e representar
obvla-
que merecem
Entretanto,
ao topico
determinantes
nao se esgota,
pontos
0 "jogo conversacional"
como elemento
0 to-
(1988:229),
apolS-10,
0
nao
..• "
do texto conversacional
apenas
e desenvolver
uma vlgllancla
da e8trutura
que durante
a que se retere
poc Preti
mente,
abordados
Por ou-
esclarecimento
0
desnecessarl0
fato e corrobor~uo
que:"cada
o
pode
("d18/de").
L2 voce .••chegou a trabalhar e depols
de trabalhar POl' causa dls/de::
Ll eu trabalhel 8::0 no Inlclo •.•
Este
ob8ervar
Interld4le. pode
aeu enunclado
tlver
em ~uestao,
sollcltado
de propoalp.
a conti-
precisam
man-
adequadamente.
GOFFJIIAN, E."Replies and. Responses". in: Language in Societx
University of Pennsylvania,
1976, 5: 257-313.
KEENAN, E. «. SCHIEFFELIN,
B. "Topic as a discourse notion:
a study of topic in the conversations
of children
and
adults", in: CHARLES, N. (ed) Subject and Topic, New York
Academic Press, 1976, p.335-384.
MARCUSCHI,
L.A. "LingUistica
de Texto
98.0". in Anais da ANPOLL, Recife,
MONNINK, J. "A Unidade
fado.
e Analise da Conversa
1988, p.319-335.
-
Orac;ao na Interac;ao",
texto mimeogra
PHETI, D. "A lingua oral: a sbbreposi9ao
de vozes como
um
elemento da sintaxe cta intera9ao no ato conversacional".
in: XVI Anaie do GEL, Taubate, 1988. _p. 229-236.
-
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Maria LUcia CVO Andrade Z11da G. Ollveira de Aquino PUC