Ano I # 7 Reforma Agrária Qual o papel do MP? Torneio Esportivo Um evento do tamanho do MP Maria Lúcia Alckmin Solidariedade e carisma Palavra do Presidente SOLIDARIEDADE DOS ASSOCIADOS DA APMP Com a chegada do inverno, a atenção das pessoas se volta com maior intensidade para os mais carentes. E a nós do Ministério Público de São Paulo são dirigidas ainda mais responsabilidades. Temos, por exemplo, a missão de fiscalizar e evitar a falta de assistência médica, as precárias condições de muitos idosos em asilos e outros tantos interesses difusos da população excluída. Além dessa inestimável contribuição de cunho social que o próprio trabalho dos nossos associados já traz para a sociedade, a APMP procura ampliar a sua participação em diversas campanhas. Convocados pelo Fundo Social de Solidariedade de São Paulo, a APMP aderiu imediatamente à Campanha do Agasalho 2005, do mesmo modo que havíamos feito na do tsunami que varreu parte da Ásia. Um projeto do Fundo Social de Solidariedade que desperta grande interesse para os promotores e procuradores de justiça é o das Padarias Artesanais. A idéia é introduzir nas penas alternativas a obrigação da doação por parte do infrator de farinha para a fabricação de pães. Com isso a pena alcança dois objetivos importantíssimos: a inibição da prática delitiva e, de outro lado, propicia a profissionalização de pessoas carentes - com geração de renda e trabalho. Ainda na esteira de ajudar o próximo, a APMP em breve firmará parcerias com algumas ONG’s que se dedicam ao cuidado de pessoas portadoras de deficiências. Porque entendemos válidos todos os esforços para a reinserção das pessoas que, por falta de acesso às condições sociais básicas ou por serem portadoras de deficiência, foram injustamente excluídas do seio da sociedade. Além dessa preocupação social, a APMP continua se dedicando a acompanhar de perto assuntos de grande importância para o MP e, conseqüentemente, para nossos associados. O andamento da PEC paralela da Reforma Previdenciária no Congresso, o projeto de elevação dos subsídios dos ministros do Supremo e a proposta de Reestruturação de Carreira têm exigido intenso trabalho da APMP. Nesta edição da nossa APMP em Reflexão temos uma entrevista exclusiva com a primeira-dama do Estado de São Paulo e presidente do Fundo Social de Solidariedade, Maria Lúcia Alckmin, um artigo assinado pelo destacado promotor de justiça Arthur Pinto Filho tratando da reforma agrária, a cobertura completa do nosso Torneio Esportivo, discussão sobre o futuro do MP e tantos outros assuntos de interesse dos associados. Boa leitura a todos! Conselho Gestor 04 10 16 24 26 Tudo sobre o maior Torneio Esportivo 27 Contraponto | Maria Lúcia Alckmin Maxima Venia | O Ministério Público e a questão agrária MP em foco | Futuro do MP X MP do Futuro Evento ESMP | 20 anos da Lei da Ação Civil Pública APMP Saúde | Primeira reunião do APMP Destinos| Machu João Antonio Garreta Prats Presidente Picchu 36 Cultura e Lazer| OSESP - Erudição musical 42 Cidade Perdida com toque brasileiro Revista APMP EM REFLEXÃO Veículo mensal de comunicação da Associação Paulista do Ministério Público Ano I (2005), Número 7. Tiragem: 4.000 exemplares. Conselho Editorial João Antonio Garreta Prats Cláudia Jeck Garcia de Souza Eliana Montemagni Paulo Roberto Dias Júnior Sérgio de Araújo Prado Júnior Coordenação Geral Luciano Ayres Jornalista Responsável Cristiane Billis – MTB 26.193 Redação Ayres.PP – Comunicação e MKT Estratégico (19) 3242-1180 Assessoria de Imprensa ReDe Comunicação (11) 3061-3353 Fotos Vision Press (19) 3241-7498 Leandro Irmão Jantar dos Aposentados| Justa Homenagem Gastronomia| Marcos Guardabassi 48 50 Contraponto Como os formadores de opinião enxergam o MP A seção Contraponto deste mês traz uma personalidade que participa ativamente das mudanças do foco da política assistencial do Brasil. Adepta da teoria de que é “melhor ensinar a pescar do que dar o peixe”, Maria Lúcia Alckmin imprime estilo próprio no Fundo Social de Solidariedade do Estado de São Paulo. A ternura e a simpatia, sempre estampadas no sorriso cativante e no olhar atencioso, não impediram que a primeira-dama imprimisse alterações radicais no modo de diminuir as mazelas sociais: investimento pesado no resgate da cidadania das pessoas carentes. O amplo espectro das campanhas desenvolvidas pelo Fundo Social de Solidariedade, que contam com a ativa participação da APMP, demonstra ser um dos caminhos para reverter as mazelas sociais. Dona Lu Alckmin, maneira carinhosa como é conhecida pelas pessoas mais próximas, narra os projetos do Fundo Social de Solidariedade como uma mãe fala dos filhos: com carinho genuíno e energia contagiante. Das diversas ações, três se destacam: as Padarias Artesanais, a Campanha do Agasalho e os Jogos Regionais dos Idosos. É com grande honra que a APMP em Reflexão traz entrevista com Maria Lúcia Alckmin. 4 www.apmp.com.br APMP em Reflexão: O que é o Fundo Social de Solidariedade e qual sua história? Maria Lúcia Alckmin: O Fundo Social de Solidariedade começou há décadas em Campos do Jordão, com Leonor Mendes de Barros, por meio de uma campanha de arrecadação de agasalhos para crianças de lá. Depois disso, foi crescendo, crescendo... Hoje o nosso objetivo é a capacitação para a geração de emprego e renda. Também queremos levar noções de ética, cidadania, saúde e higiene. Este é o nosso foco. Não adianta darmos, por exemplo, apenas a cesta básica, porque no mês que vem as pessoas estarão de novo com fome. APMP: O assistencialismo, então, foi abandonado? MLA: Não totalmente, pois é lógico que as doações são muito bem-vindas. Nós as recebemos e levamos aos locais mais carentes, onde as pessoas não têm nem o que comer. Fazemos isso para que em um segundo momento possamos levar a capacitação e o projeto de geração de renda, por meio de parcerias com a iniciativa privada. APMP: Pode dar um exemplo dessas parcerias? MLA: Sim. As “Padarias Artesanais”. Hoje são 7 mil funcionando em todo o Estado de São Paulo, em 645 municípios, por meio das primeiras-damas, que são presidentes dos fundos municipais. Agora estamos levando as “Padarias Artesanais” às favelas por meio das líderes comunitárias. Ficamos muito felizes quando chegamos a esses locais e vemos a mesa repleta de pães. Levamos a alimentação e também noções de cidadania para as pessoas. APMP: Qual o resultado desse tipo de projeto? MLA: O resgate da auto-estima das pessoas que estão desempregadas. Elas acabam achando que não sabem fazer nada, mas o que lhes falta é qualificação. No caso das “Padarias Artesanais”, por exemplo, nós temos no Fundo Social três cozinhas nas quais cada entidade envia dois multiplicadores para fazerem os cursos. Também ensinamos, nas outras salas, costura – para a confecção de edredons, almofadas, bolsas... – bordados com linha e com pedraria, confecção e forração de caixas etc. Há casos de moradores de rua que hoje já possuem a sua padaria. E vemos que com tão pouco uma pessoa pode transformar a sua vida. www.apmp.com.br 5 Contraponto APMP: Voltando às favelas, e se a comunidade não estiver organizada? MLA: Se não houver uma associação, nós auxiliamos na sua criação, ensinamos a tirar o CNPJ... Ajudamos também a formação de parcerias entre a comunidade e empresas que possam fornecer a farinha (com um quilo se produz em torno de 80 pãezinhos). As pessoas que recebem essa aprendizagem nas favelas conseguem alimentar seus filhos e vender o excedente para os vizinhos. Além disso, sabendo utilizar equipamentos de cozinha e com as noções de higiene que transmitimos, fica muito mais fácil conseguir emprego em restaurantes, supermercados ou mesmo como doméstica. APMP: Como está sendo a repercussão dessas padarias na vida das pessoas? MLA: Há um exemplo lindo de um rapaz que cometeu um crime e, como pena alternativa, foi obrigado a entregar 290 quilos de farinha para um dos estabelecimentos participantes do projeto. Chamado para conhecer a padaria, ele se encan- Penas Alternativas e Padarias Artesanais. Mais do que punir, capacitar. Inegavelmente a pena imposta pelo Poder Judiciário deve adquirir contornos repressivos com intuito de inibir a prática de condutas ilícitas. Diante do grave problema da superlotação das cadeias e do alto custo de manutenção dos presos, surgiu a política de aplicação de penas alternativas aos crimes menos graves. Um aperfeiçoamento dessa idéia e que ganha cada vez mais destaque é a doação de insumos para as Padarias Artesanais. Além do caráter punitivo, com o desembolso de pecúnia por parte do infrator, há o elemento de transformação social por meio da capacitação da comunidade carente. 6 www.apmp.com.br Há um exemplo lindo de um rapaz que cometeu um crime e, como pena alternativa, foi obrigado a entregar 290 quilos de farinha para um dos estabelecimentos participantes do projeto. Chamado para conhecer a padaria, ele se encantou. Pediu para fazer o curso junto com a esposa e ficamos sabendo que hoje ele está no ramo da alimentação. Certamente ele está recuperado, não vai voltar a delinqüir. tou. Pediu para fazer o curso junto com a esposa e ficamos sabendo que hoje ele está no ramo da alimentação. Certamente ele está recuperado, não vai voltar a delinqüir. O que muitas pessoas precisam é conhecer o trabalho social, conhecer o que é fazer o bem. Nós temos muitas histórias de transformação dessas pessoas. APMP: A Associação Paulista do Ministério Público imediatamente aceitou seu chamado para participar da Campanha do Agasalho. Fale um pouco sobre a campanha e a meta para este ano. MLA: Mais do que agasalhar, essa campanha busca vestir um ser humano. Nesses anos que se passaram, quando eu ia inaugurar uma padaria e as pessoas recebiam as roupas, elas diziam: “nossa, essa roupa vai servir para eu procurar um emprego”. Estamos pedindo nesta campanha que as pessoas doem com amor. O que é doar com amor? É doar roupas novas, não aquela roupa que a pessoa tirou do armário e não vai mais usar. É tirar uma roupa que você tem coragem de usar, uma roupa lavada, passada, cheirosa, ou até mesmo comprar uma roupa para doar. Isso vai levar dignidade às pessoas carentes. Imagine receber uma roupa com etiqueta de loja, ou então uma roupa lavada. Isso é importantíssimo para o resgate da auto-estima dessas pessoas. Estou pedindo a doação de meias, calças, camisas etc. Não só para agasalhar, mas para vestir. APMP: Quais são os outros projetos prioritários para o Fundo Social de Solidariedade no Estado? MLA: Há outro projeto lindo chamado Jogos Regionais dos Idosos, que procuramos realizar em todo o Estado de São Paulo. Começamos em poucas cidades, mas hoje já são 500 municípios que participam dessa olimpíada. Durante o ano inteiro os idosos se preparam para competir em 11 modalidades. Há dança de salão, coreografia, atletismo, natação, voleibol e jogos como truco, buraco, dominó e gamão. Estive em Batatais recentemente, onde havia 1.360 jovens atletas com mais de 60 anos. Ouvi das famílias que, no momento em que eles saíram de suas casa para praticar esportes, pararam de tomar remédios. APMP: Que mensagem a senhora deixaria para os promotores e procuradores de justiça do Estado de São Paulo? MLA: Minha mensagem é de agradecimento por estarem colaborando com o Fundo Social de Solidariedade. Gostaria de chamá-los para conhecer o Fundo, onde fazemos a capacitação de mais de 50 pessoas por dia, que vêm inclusive de outros Estados do país. Mais do que agasalhar, essa campanha busca vestir um ser humano. Nesses anos que se passaram, quando eu ia inaugurar uma padaria e as pessoas recebiam as roupas, elas diziam: “nossa, essa roupa vai servir para eu procurar um emprego”. Estamos pedindo nesta campanha que as pessoas doem com amor. www.apmp.com.br 7 Contraponto APMP e Fundo Social de Solidariedade: uma parceria quente! Duas camisas oficiais do São Paulo F.C. autografadas por todo o elenco: Valcir Paulo Kobori (33 cobertores) e Claudemir Ap. Oliveira (33 cobertores) Camisa oficial do Santos F.C. autografada pelo atacante Robinho: Carlos Henrique Mund (40 cobertores) A APMP participa ativamente da Campanha do Agasalho de 2005. Postos de coleta foram espalhados em todas as sedes da APMP para receber cobertores, agasalhos e roupas novas ou seminovas. Um dos pontos altos da campanha se deu durante a realização do Torneio Esportivo da APMP. Além dos postos de coleta colocados nas dependências do Blue Tree Park de Mogi das Cruzes, foi realizado na noite do sábado, durante o tão aguardado “Churrasco do Bassi”, leilão beneficente de camisas autografadas por grandes ídolos do esporte nacional. O leiloeiro Luiz Antonio Casarré emprestou sua experiência para animar os associados a fazerem seus lances. O ponto alto ocorreu na disputa pela camisa oficial da seleção brasileira de futebol, autografada por jogadores consagrados como Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo Fenômeno, Robinho, Cafu, Kaká, Roberto Carlos etc. Após emocionante seqüência de lances, a preciosidade foi arrematada pelo associado Paulo Kishi por valor suficiente para a compra de 75 cobertores. Camisa oficial do São Paulo F.C. autografada pelo goleiro Rogério Ceni: Claudemir Ap. Oliveira (42 cobertores) Escultura em Petit Bronze: Vera Lúcia de C. Braga Tabert (20 cobertores) A APMP agradece aos associados Carlos Eduardo de Barros Brissola e Paulo Roberto Dias Júnior pela cessão, respectivamente, das camisas do São Paulo F.C. e do Santos F.C, ao Sr. Jean Tchorbadjian, proprietário da Procopio Sports, que cedeu as demais camisas, e à Sra. Anna Mehoudar pela doação da Escultura em Petit Bronze. Vejam os demais associados que ajudaram a aquecer o inverno de centenas de pessoas carentes e os respectivos lances: Camisa autografada pelo velejador Robert Scheidt: (15 cobertores) Manoel Sérgio R. Monteiro Duas camisas autografadas pelo jogador da seleção brasileira de vôlei, Nalbert: (15 cobertores) Luiz Antonio Miguel Ferreira e Luiz Henrique Dal Poz 8 www.apmp.com.br www.apmp.com.br 9 Maxima Venia Contribuição de nossos associados para a Sociedade A Revista APMP em Reflexão abre espaço para os seus associados divulgarem artigos de interesse da comunidade e com isso aproximar nossa Instituição do destinatário final de nossas ações: o cidadão. As condições para a publicação estão disponíveis na página: www.apmp.com.br/apmpemreflexao/maximavenia. Colabore e escreva para: [email protected], com sugestões de matérias ou artigos. O Ministério Público e a questão agrária Arthur Pinto Filho Promotor de Justiça Criminal da Capital Pós-graduando em História Social pela PUC/SP A questão agrária tem sido uma chaga nacional por toda a nossa História, uma vez que o Brasil jamais promoveu uma reforma agrária em suas terras improdutivas. A situação tem merecido atenção de sociólogos, historiadores, juristas e intelectuais preocupados com os destinos do País. Contudo, o nosso Ministério Público não tem uma política institucional clara e democraticamente discutida para o enfrentamento do grave problema, revelando um descompromisso da Instituição com esta questão candente. E isto num Brasil que sangra com graves conflitos agrários, mercê de uma concentração fundiária sem paralelo com qualquer País civilizado. O absurdo quadro agrário Segundo dados do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), oriundos de recadastramento realizado no ano de 1992, há no Brasil 10 www.apmp.com.br 3,4 milhões de propriedades rurais, num total de 325 milhões de hectares de terras. Entre elas, 35.083 são latifúndios considerados improdutivos, com área superior a 1.000 hectares, num total de 153 milhões de hectares de terras improdutivas. Assim, em resumo, 47% do total das terras rurais brasileiras são consideradas improdutivas. A questão da terra, mais especificadamente em nossa região, não é diversa daquela encontrada no País. No Sudeste, 50,45% das propriedades rurais são tidas como improdutivas, num total de 7 milhões de hectares de terras não utilizadas. A distribuição da propriedade da terra no Brasil é escandalosa: 0,9% dos proprietários detém 35% das propriedades rurais. O índice GINI, que mede a concentração da terra no Brasil, cujo valor máximo é 1,0, apontava que, em 1940, a concentração de terras era de 0,83. Em 1992, o mesmo índice indicava a concentração de 0,80. Ou seja, depois de 52 anos de lutas de vários movimentos sociais que buscavam a reforma agrária, o panorama da propriedade da terra no Brasil quase nada se alterou. Desde 1940, o Brasil experimentou vários textos constitucionais, de diversos matizes políticos e ideológicos. No início da medição do referido índice, em 1940, estávamos em plena ditadura do Estado Novo, sob a égide da carta constitucional autoritária de 1937. Logo depois, em pleno pós-guerra, com os ventos da liberdade varrendo o autoritarismo, o Brasil aprovou a Constituição democrática de 1946. Com o advento do novo ciclo autoritário de 1964, tivemos duas outras cartas constitucionais: 1967 e 1969. E, agora, com o novo ciclo de democratização, temos a atual Constituição cidadã de 1988. E quase nada se alterou na concentração da terra no Brasil. E não mudou o panorama do campo nem mesmo diante de movimentos sociais organizados que lutam pela implementação da reforma agrária. Neste aspecto, devemos lembrar Ruy Barbosa, para quem “os conservadores recusam-se a fazer mudanças quando o povo pressiona, porque não se pode mudar sob pressão. E recusam-se a fazer mudanças quando o povo não pressiona, porque, se o povo está quieto, por que mudar?”. Um quadro agrário deste tipo tem reflexo direto no panorama social: alta densidade populacional na área urbana, baixa produção agrícola, elevadíssima mortalidade infantil, baixa expectativa de vida, altíssimo índice de analfabetismo, violência nos centros urbanos e no campo. Em 2003, foram assassinados no Brasil 73 trabalhadores rurais (dentre os mortos, três mulheres). 1.127.205 de pessoas tiveram envolvimento em conflitos rurais. Em São Paulo houve 129 conflitos, com o envolvimento direto de 150.616 pessoas, conforme dados da Comissão Pastoral da Terra. Em nosso Estado, existem conflitos rurais em 46 localidades, de 26 Municípios, envolvendo 30.419 famílias. As áreas em litígio somam 1.378.213 hectares. Só no ano de 2003, 33 imóveis rurais paulistas foram ocupados por 6.329 famílias, numa área total de 17.913 hectares. Além das ocupações, inúmeras famílias estão em situação ainda mais precária. São aquelas que vivem nos acampamentos de lonas pretas espalhados pelo nosso Estado. Nesta situação, só no ano de 2003, foram colocadas mais 11.422 famílias, distribuídas em 31 acampamentos. Embora o constituinte originário tenha fornecido mecanismos bastante eficientes para a promoção da reforma agrária, constata-se que a realidade nacional aponta para caminho inverso. Segundo dados do Incra, entre 1992 e 2003 as grandes propriedades rurais aumentaram em 60 milhões de hectares, enquanto que as propriedades familiares cresceram somente 30 milhões de hectares. A concentração da terra, portanto, se agrava, ao contrário do querer do constituinte originário. É evidente que a mantença de uma situação explosiva como a anteriormente relatada, sem resolução ou, ao menos, encaminhamento de uma política que aponte para a eliminação do problema, coloca em risco o próprio sistema democrático. Porque é inaceitável que o Brasil, sendo a 15a economia do mundo, tenha a pior concentração de terras e a segunda pior concentração de rendas do planeta. O sistema democrático não se sustentará se causar mais miséria, indignidade e sofrimento para ampla parcela da população brasileira. Aliás, já em 1985 o Papa João Paulo II alertava para o fato de que a reforma agrária era necessária para possibilitar a consolidação da democracia em nosso País. A advertência não foi levada em conta pelos inúmeros governantes que desde então comandaram o Brasil. www.apmp.com.br 11 Maxima Venia Segundo estudos da ONU, 55% dos latino-americanos aceitariam a ditadura se isso melhorasse a economia de seus Países. 56,3% acreditam que o desenvolvimento econômico é mais importante que a democracia. E 43,9% acham que democracia não resolve os seus problemas. Tais dados, assustadores, têm causa no fato de que 44% da população latinoamericana vive abaixo da linha de pobreza, mais de 225 milhões de pessoas. O papel do MP neste dramático quadro A atual Constituição entregou ao Ministério Público, dentre outras tarefas, a de defender a ordem jurídica e o regime democrático. Tais missões foram as mais relevantes cometidas pelo Constituinte originário para qualquer Instituição. Embora todas as Instituições e poderes tenham sido alterados pelo Constituinte de 88, coube ao Ministério Público uma tal carga de tarefas novas, que lhe deram um novo e diferente perfil constitucional. Não se tratou de simplesmente alterar uma Instituição. Mas, sim, de lhe traçar natureza completamente diversa daquela oriunda da carta de 69. Aliás, em sede da carta autoritária de 1969, o Ministério Público, inserido no capítulo do Poder Executivo, sequer tinha um arquétipo constitucional, pois não havia uma linha sequer que explicitasse ou mesmo sugerisse qualquer função institucional que pudesse ter estatura constitucional. Numa demonstração de que a Instituição tem vocação e destino para atuar de forma 12 www.apmp.com.br relevante na democracia. Na área cível, por exemplo, o dizer constitucional trouxe mudança completa do perfil de nossa Instituição. O Constituinte buscou fazer com que o Ministério Público atuasse, fundamentalmente, como órgão agente, incumbindo-o da defesa dos interesses sociais, da defesa do patrimônio público, do meio ambiente, do interesse social e, ainda, de outros direitos difusos e coletivos. Isto é: cabe ao Ministério Público instaurar o inquérito civil público e a ação civil pública em todas as situações em que direitos difusos ou coletivos forem atingidos. Em tema de interesses individuais, o único que, agora, merece a atenção ministerial, é o indisponível. Isto é: aquele interesse tido como central para a vida social, elevado à categoria de indisponível. Ele está para além do mero interesse individual, porque, na verdade, sob o título de interesse pessoal, há, de fato, o interesse de toda a sociedade na preservação de seus valores mais profundos. Os direitos individuais, neste caso, ganham dimensão de ordem pública. O Ministério Público, porém, recebeu missão que poucos teóricos percebem, fundamental para o próprio destino da Constituição e do processo democrático: fazer valer a Constituição por inteiro. Ser o guardião ativo dos direitos constitucionais. Promover as medidas necessárias para que o texto constitucional tenha vida na realidade cotidiana dos brasileiros. Cabe ao Poder Judiciário impedir que normas infraconstitucionais violem a Constituição. Mas não cabe ao Poder Judiciário tomar providências para que o texto constitucional tenha valia em sua inteireza. Este papel fundamental foi entregue ao Ministério Público. Esta é a nossa maior, mais árdua, gloriosa e grandiosa tarefa. Dela, evidentemente, depende mesmo o sucesso do processo democrático. A Constituição não pode ser somente um articulado de expectativas não realizadas. Porque exatamente não realizados serão, no caso brasileiro, sempre os direitos das classes menos favorecidas. Especificamente no Brasil, em que existe uma das maiores desigualdades sociais entre todos os países da Terra, quando estiver em jogo um direito constitucional que beneficia fortemente as classes dominantes, estas poderão fazer valer seus direitos através do aparelho judicial. Têm amplas possibilidades de contratação de bons profissionais para eventual litígio judicial, têm livre acesso aos meios de comunicação, são mais organizadas etc. Agora, situação mais complexa surge sempre que as classes populares buscam o reconhecimento de seus direitos constitucionais. Não conseguem profissionais de boa qualidade para o embate judicial, não têm fácil acesso aos meios de comunicação. E, como regra, a organização de tal parcela da sociedade não é tão sofisticada quanto aquela das classes dominantes. Então, o Constituinte necessitava encontrar uma Instituição que pudesse garantir o cumprimento da Constituição por inteiro. Uma Instituição que tivesse um quadro de profissionais com bom preparo, enraizada em todas as Comarcas e que, embora dentro do aparelho do Estado, fosse um braço da sociedade e tivesse como tarefa principal vivificar integralmente a Constituição. É claro que nossa Instituição, mercê de esforços pessoais, conseguiu enormes avanços em áreas importantes: na área da educação, da saúde, do idoso, do meio ambiente, na defesa do patrimônio público etc. Mas na área agrária nossa atuação, quando ocorre, é, como regra, contrária ao conjunto do texto constitucional. Cabe ao Ministério Público, por força do art. 82, inciso III, do CPC, com a modificação que lhe deu a Lei 9.415, de dezembro de 1996, intervir nas ações que envolvam litígios coletivos pela posse da terra rural. Levando em conta a realidade brasileira, dramática no campo, o legislador ordinário entendeu que o Ministério Público haveria de intervir em litígios rurais. Evidente que o legislador ordinário não alterou o CPC para que o Promotor de Justiça somente atuasse como mero “fiscal da lei”, oferecendo ao Poder Judiciário seu parecer sobre a lide. Porque esta forma de atuação, além de ter baixa eficácia social, pouco alteraria a situação. O legislador constatou que a atuação do Poder Judiciário, nesta área, não é eficiente. A própria natureza do Poder Judiciário não lhe tem permitido tratar do tema com a complexidade que a situação exige. Ele tenta solucionar o conflito por meio de sentenças. E tem falhado na maior parte das vezes. O Poder Judiciário, não obstante esforços individuais heróicos, tem tratado o tema de forma completamente equivo- cada. Em 2003, por ordem judicial, foram despejadas 35.292 famílias no Brasil rural, num total de 176.485 pessoas. Foram determinadas 380 prisões de camponeses. E as pessoas que foram despejadas, foram para onde? Quais foram os seus direitos constitucionais violados? Para o Poder Judiciário estas questões refogem de sua atuação, que finda com a prolação da sentença. Mas evidentemente devem receber atenção do Ministério Público. O Ministério Público deveria agir de forma bastante diversa daquela forma tradicional de atuação do Poder Judiciário. Até porque seu perfil constitucional exige, por assim dizer, um desempenho holístico, que leve em conta todas as questões imbricadas na ação judicial. Perceberia, ao atuar no processo, o profundo descumprimento de inúmeros direitos constitucionais por parte dos poderes públicos. Desde logo, na maior parte das situações, perceberia o descumprimento do capítulo constitucional que trata da política de reforma agrária. O Poder constituinte originário, representando o conjunto da sociedade, por meio de eleições absolutamente democráticas, afirmou que a propriedade não produtiva é repudiada pelos brasileiros. E foi além: estabeleceu uma desapropriação-sanção para as propriedades sem função social, pois o pagamento da desapropriação será feito por meio de títulos da dívida agrária, resgatáveis no prazo de até 20 anos. Estabeleceu, ainda, de forma minudente, que a propriedade rural com função social será aquela que, concomitantemente, apresentar os seguintes requisitos: aproveitamento racional e adequado da propriedade, utilização adequada dos recursos naturais, preservação do meio am- O Ministério Público (...) recebeu missão (...) fundamental para o próprio destino da Constituição e do processo democrático: fazer valer a Constituição por inteiro. Ser o guardião ativo dos direitos constitucionais. Promover as medidas necessárias para que o texto constitucional tenha vida na realidade cotidiana dos brasileiros. www.apmp.com.br 13 Maxima Venia biente, respeito à legislação trabalhista e exploração que favoreça proprietários e trabalhadores. Remarque-se: seguindo tais critérios, 50,45% das terras do sudeste são improdutivas. E não são desapropriadas, numa violação grave do mandamento constitucional. Ocorre que, embora com instrumentos tão poderosos para a realização de uma reforma agrária profunda, já se passaram quase 17 anos da entrada em vigor do texto constitucional e não houve qualquer alteração na distribuição (ou melhor, na não distribuição) de terras no Brasil. Em 2003, o programa de reforma agrária brasileiro assentou pouco mais de 36 mil famílias. Ao atuar na questão agrária, o promotor de justiça que tiver olhos de ver logo perceberá que parte da população que busca a efetivação da reforma agrária não recebe dos poderes e órgãos públicos os direitos sentido inverso do texto constitucional. Cabe, pois, ao Ministério Público questioná-las com todas as suas forças e recursos, porque são elas que jogam na miséria grande parte da população brasileira. O Brasil pagou, no ano passado, em juros da dívida externa, mais de cento e setenta bilhões de reais. E o principal da dívida ainda aumentou. Em contrapartida, o orçamento do Ministério do Desenvolvimento Agrário para o ano de 2005 é de três bilhões e setecentos milhões de reais. Não bastasse a irrisória cifra, logo no início do ano, o governo bloqueou dois bilhões do orçamento, para aumentar o denominado “superávit primário”, ou, em dizer mais explícito, aumentar o montante de dinheiro que “economizará” para pagar os credores externos. Diante de um orçamento ministerial de menos de dois bilhões de reais, é evidente que a reforma agrária não terá qualquer avanço significativo. O orçamento para o Ministério da Saúde prevê somente dois bilhões e seiscentos milhões de investimentos. A sangria dos cofres públicos para o pagamento de juros da dívida externa impede, sem a menor dúvida, que os objetivos brasileiros, definidos pelo Constituinte originário, se tornem realidade na vida cotidiana de grande parte da nossa população. Um caso polêmico e a falta de política institucional lhe são assegurados pela Constituição: escola, saúde, emprego, salário mínimo capaz de atender às suas necessidades vitais básicas e às de sua família. Logo perceberá que as políticas públicas têm sido rigorosamente inconstitucionais, por violarem os princípios gizados no art. 3o da Lei das leis. Os objetivos fundamentais do Brasil, no preciso dizer do texto constitucional, são: construir uma sociedade justa, livre e democrática, garantir o desenvolvimento nacional, erradicar a pobreza e reduzir as desigualdades sociais. Todas as políticas públicas, dos sucessivos governos, deveriam ter uma única direção: cumprir os objetivos generosos da República brasileira. Dir-se-á que o artigo em exame é “mera” norma constitucional de eficácia programática. Entretanto, a norma programática, como se sabe, não poder ser contrariada por políticas públicas que apontem em 14 www.apmp.com.br Tomemos um exemplo concreto: o dramático caso de Pirapozinho, comarca situada no Pontal do Paranapanema, em nosso Estado. As terras da região, em grande parte, não têm proprietários inquestionáveis, são devolutas. Conforme ensina o grande promotor de justiça, cassado em sua vocação pelo golpe de 1964, Plínio de Arruda Sampaio, “em 1886, o governador de São Paulo, Visconde de Parnaíba, mandou processar criminalmente o pretenso dono dessas terras e o escrivão que lhe forneceu os documentos falsos para fundamentar a pretensão. Em 1923, o desembargador Alcides Ferrari julgou imprestáveis todo os títulos de propriedade referentes à área, por se tratar, toda ela, de terras devolutas”. A Comarca de Pirapozinho ficou tristemente notabilizada por algumas ações judiciais de grande repercussão. Basta lembrar ação penal que tipificou como quadrilha a atuação de alguns líderes de movimentos sociais que lutam para a efetivação da reforma agrária e que foi severamente criticada por juristas do porte Os dados disponíveis na Fundação Seade demonsde Fábio Konder Comparato e Arruda Sampaio. Inú- tram que as ações judiciais encaminhadas na Comarca meras outras ações judiciais foram desfechadas na não alteraram para melhor o quadro social de sua poreferida Comarca, tentando judicializar e criminalizar pulação desassistida. o desempenho de lideranças de trabalhadores rurais. A referida Fundação criou o Índice Paulista de VulEvidente que eventuais delitos praticados devem ser nerabilidade Social, que demonstra o grau de acesso coibidos nos termos legais. que a população tem aos seus direitos constitucionais Entretanto, já com um certo distanciamento his- básicos. A situação da população rural de Pirapozinho tórico dos episódios, é possível tentar verificar se a é péssima. A população rural é composta de 1.389 linha de atuação adotada na Comarca trouxe algum pessoas. Destas, 1.234 estão com alta taxa de vulbenefício real para o conjunto da população e se ações nerabilidade Outras 130 pessoas estão com altíssima judiciais desencadeadas tiveram qualquer efeito no taxa de vulnerabilidade. Numa demonstração clara de sentido de garantir os direitos constitucionais básicos que os direitos constitucionais não têm vida real na (moradia, saúde, educação etc) para a população da área rural da cidade. Numa demonstração evidente e Comarca. Ou, ainda, se as ações judiciais foram pro- inequívoca de que as ações desencadeadas na Comarpostas depois de uma análise de conjuntura da rea- ca não serviram para criar cidadania e usufruto dos lidade local, dentro de uma política institucional de direitos constitucionais na população rural. atuação na localidade e na região. A realidade social, Eventuais acertos no trato da questão devem ser principalmente para a população mais pobre, foi alte- creditados à atuação individual do promotor. Conturada para melhor após a judicialização e criminaliza- do, as falhas só podem ser debitadas à Instituição, que ção dos conflitos? não tem uma política democraticamente traçada para Não há qualquer dúvida que as ações foram pro- enfrentar o gravíssimo problema agrário em nosso Espostas sem qualquer análise política por parte da tado. Instituição. E isto em cidade com graves e enormes É urgente e imprescindível que as chefias de nossa questões rurais. Instituição criem fóruns adequados para a discussão Evidentemente não se quer discutir ações individu- da questão agrária. Para que, a partir destas discussões, ais de promotores de justiça ou juízes de Direito, que em conjunto com a sociedade civil organizada, possa têm ampla e livre liberdade de atuação. Busca-se, isto traçar linhas de atuação, sempre respeitando opções sim, alertar para o grave fato de nossa Instituição não individuais contrárias. Mas o nosso Ministério Público ter um acúmulo de discussão nesta área, com políticas precisa dizer para a sociedade, com clareza, quais são democraticamente estabelecidas, sem desrespeitar as suas políticas para a questão agrária, sob pena de posições individuais tomadas em casos concretos. grave omissão, que violenta o texto constitucional, o Entretanto, uma Instituição não pode deixar de ter processo democrático e a nossa própria diretrizes, linhas gerais de atuação que possam orien- história institucional. tar seus agentes públicos na ação concreta. Tramitam aproximadamente 5 mil processos na Ao atuar na Comarca. Estão instaurados mais de 40 protocolados questão agrária, o cíveis. Além disso, há o atendimento ao público, para o qual foram destinados três dias da semana, em razão promotor de justiça da elevada procura. Anote-se que a Comarca opera que tiver olhos de ver com um único Promotor de Justiça, que atua no limite de suas forças. logo perceberá que parte da A cidade tem 23.004 habitantes, com alta taxa de população que busca a efetivação analfabetismo, 10,87% (sendo de 6,64% a média no Estado). Grande parte de sua população somente da reforma agrária não recebe dos tem o ensino fundamental. poderes e órgãos públicos os direitos Como imaginar possível que um único Promotor de Justiça, sem qualquer vetor lhe são assegurados pela Constituição: traçado pela Instituição, possa cuidar escola, saúde, emprego, salário mínimo de forma exemplar da questão agrária? Ou mesmo de outras questões capaz de atender às suas necessidades igualmente candentes? vitais básicas e às de sua família. www.apmp.com.br 15 MP em Foco X Futuro do MP Uma opção perigosa, mas acertada Nos anos anteriores à promulgação da Carta de 1988, as lideranças do Ministério Público de São Paulo sabiam exatamente o que queriam: construir uma Instituição forte e independente, além de sedimentar no texto constitucional instrumentos fundamentais previstos na legislação ordinária (como o inquérito civil e a ação civil pública, surgidos em 1985). À época, O MP paulista era inegavelmente a “locomotiva” do Ministério Público nacional. Dos seus órgãos de Administração Superior e da APMP brotavam as idéias mais avançadas para o desenvolvimento institucional. O conceito de promotoria, o controle externo da atividade policial, os planos de atuação, os Centros de Apoio Operacionais, os grupos de atuação especial, enfim, tudo isto brotou e frutificou em nosso Estado, até se espalhar pelo país. Da mesma forma que tinham plena consciência do destino que almejávamos, nossos líderes de então sabiam também do risco que encerrava a opção que estávamos prestes a adotar. De fato, escolher a sociedade, sobretudo sua parcela menos incluída, como destinatária de nossas ações traria duas espécies de perigos, que nem mesmo a classe política se apercebeu (pois, do contrário, não nos teria brindado com tamanha gama de atribuições e poderes). O primeiro risco seria justamente o de trabalharmos bem, de acordo com o texto constitucional que acabava de nascer. Defender os menos favorecidos implica desagradar, não raro, a elite econômica e política, gerando adversários de grande poder de fogo. Por outro lado, se não cumpríssemos nossa missão, a pressão da sociedade por outras instituições que melhor a representassem não tardaria. E não nos iludamos: em um país com tantas desigualdades, 16 www.apmp.com.br mas com imprensa livre, essa pressão tende a ser tremenda e não há político que a ela não seja sensível, até por questão de sobrevivência. Uma terceira possibilidade, híbrida, seria o Ministério Público cumprir apenas razoavelmente seu mister e conseguir, ao mesmo tempo, desagradar a elite política e financeira e não agradar suficientemente a parcela da sociedade composta pelos formadores de opinião. É o pior dos quadros e, infelizmente, o que mais se aproxima daquele para o qual caminhamos. Pois bem. Apesar dos riscos antevistos, nossas lideranças não titubearam em seguir o projeto mais ousado, que desaguou no arcabouço constitucional do MP. Porque perceberam também que, se optássemos pelo modelo antigo, de atuação meramente interveniente (mesmo na área criminal, na prática), fatalmente nos tornaríamos obsoletos dentro de uma sociedade injusta, dinâmica e, em vários setores, efervescente. E assim foi feito. No texto maior foi construído um novo Ministério Público, que transformou o promotor de justiça, ao menos em tese, em autêntico agente político. Por agente político entenda-se o servidor público que, dotado de prerrogativas, garantias e poderes diferençados, pode, com sua atuação, interferir ou influenciar a adoção de políticas públicas que transformem a realidade social. Conseqüência disso: do conjunto de atos inerentes à autuação do agente político, tudo é delegável, menos a decisão política de como e em que direção atuar (ou até mesmo a opção de deixar de atuar, se não for prioritário para a Instituição). Dissemos há pouco que a Constituição de 1988 em tese erigiu o promotor à categoria de agente político. A função MP do Futuro Discussão sobre fatos que repercutirão nos rumos de nossa Instituição. Por agente político entenda-se o servidor público que, dotado de prerrogativas, garantias e poderes diferençados, pode, com sua atuação, interferir ou influenciar a adoção de políticas públicas que transformem a realidade social. do legislador terminava aí. Transformar a teoria em prática dependia unicamente do próprio Ministério Público. E nessa tarefa falhamos. Falhamos por vários motivos. Dois deles, porém, determinantes. Primeiramente, perdemos muito tempo até deixarmos para trás o “antigo” Ministério Público, meramente interveniente. Em segundo lugar, era preciso ampliar o debate institucional. Mas aconteceu justamente o contrário. A classe passou a discutir cada vez menos os problemas e dilemas do Ministério Público e, conseqüentemente, influenciar muito pouco nas decisões da cúpula. A superficialidade do debate, em regra obscurecido pela mera disputa dos espaços de poder, fez com que, em momento crucial, tomássemos o caminho oposto à consagração do promotor como agente político. Esse caminho pode ser assim resumido: fracionamento de atribuições e atuação heterogênea (quando o correto seria uma atuação especializada, abrangente e homogênea). Um novo modelo de gestão poderia reverter essa opção equivocada? Sim. É o que tentaremos demonstrar nas páginas seguintes. www.apmp.com.br 17 MP em Foco Na Contramão da História Fracionar atribuições é enfraquecer a Instituição Principalmente na última década, o expressivo crescimento numérico do quadro de promotores e procuradores de justiça originou algo cujas conseqüências nefastas ainda estão por se revelar inteiramente. A partir do instante em que se tornou tendência o número de promotores criminais ser superior ao de Varas e juízes criminais e a quantidade de promotores cíveis ser inferior à de Varas e juízes cíveis, a solução adotada foi a mais cômoda: dividir a atuação de cada membro do Ministério Público por finais de autos. A simplicidade da solução esconde um fato preocupante: esse modelo impede que o promotor seja, na prática, um agente político. O agente político precisa conhecer a realidade e ser capaz de, com sua atuação, modificá-la em prol da sociedade menos favorecida. Ora, como um promotor conhecerá a realidade se atuar, por exemplo, apenas nos finais pares de uma determinada Vara Judicial? E a realidade contida nos feitos de final ímpar dessa Vara ou em todos os autos das demais Varas? Chegará ao conhecimento desse promotor? Do mesmo modo, a atuação desse promotor, ainda que eficaz, terá efeitos restritos à parcela da sociedade envolvida nos processos em que atua. Ampliemos esse quadro para todo o Estado e perceberemos como o modelo adotado destrói a unidade e a credibilidade da Instituição. Como explicar para a sociedade que a linha de atuação do Ministério Público é uma na Comarca “A” e outra na Comarca “B”? E que na Comarca “B” a atuação do MP na 1ª Vara difere daquela desenvolvida na 2ª. Vara? E que na 2ª Vara da Comarca “B” a forma de atuar dependerá da numeração do feito? Se multiplicarmos esse exemplo pelo total de Comarcas do Estado e pelo número de Varas Judiciais e de promotores, o resultado, para a sociedade, será incompreensível. Evidente que não se advoga a adoção de uma forma única e pasteurizada de atuar, o que engessaria a Instituição e afrontaria a independência funcional de cada membro do Ministério Público. Mas a independência funcional pode perfeitamente se coadunar com princípios mais amplos debatidos democraticamente dentro da Instituição. Por essa razão surgiu o conceito de “promotoria”. As diretrizes estabelecidas no plano de atuação devem ser seguidas pela promotoria e seu integrante que porventura entender de modo diverso não se verá obrigado a violentar sua convicção. Repetimos: se a Instituição discutir de forma ampla e democrática suas diretrizes e prioridades, Como um promotor conhecerá a realidade se atuar, por exemplo, apenas nos finais pares de uma determinada Vara Judicial? Mas a independência funcional pode perfeitamente se coadunar com princípios mais amplos debatidos democraticamente dentro da Instituição 18 www.apmp.com.br Se a Instituição discutir de forma ampla e democrática suas diretrizes e prioridades, nossa atuação será mais uniforme, abrangente e eficaz, pois a realidade da Comarca será apreendida por toda a promotoria. nossa atuação será mais uniforme, abrangente e eficaz, pois a realidade da Comarca será apreendida por toda a promotoria. É possível, claro, a especialização, sobretudo nas cidades maiores e de problemas mais complexos. Especialização, porém, não se confunde com divisão de atribuições por finais de autos. É imperiosa uma solução que não faça o promotor ou procurador de justiça perder a visão abrangente que deve ter da realidade que o cerca. Como sair dos gabinetes sem deixar o gabinete? O melhor exemplo de como um novo modelo de gestão pode fazer com que o promotor se comporte como autêntico agente político está na forma de exercer o controle externo da atividade policial. O disposto no inciso VII do art. 129 da Constituição Federal foi uma grande conquista institucional. Não só pelo peso em si da nova atribuição, mas pelos fortes interesses contrariados. Em São Paulo, o controle externo da atividade policial está atualmente disciplinado pelo Ato Normativo nº. 98-CPJ, de 30/9/96, sem embargo de normas posteriores que modificaram parte do regramento, como, por exemplo, os Atos Normativos nº. 238-PGJ, de 8/8/2000 (que regulamenta as visitas a estabelecimentos prisionais), nº. 314-PGJ-CPJ, de 27/6/2003 (que regulamenta o procedimento administrativo criminal), e nº. 324-PGJ-CGMP-CPJ, de 29/8/2003 (que cria o Grupo de Atuação Especial de Controle Externo da Atividade Policial - GECEP). Toda a disciplina dessa atribuição, contudo, apequena o promotor de justiça e de modo algum traz eficácia à atuação institucional. Quem já exerceu, na prática, esse controle externo, na capital ou no interior, sabe o porquê de tão dura afirmação. Em regra, após comunicação prévia ao delegado titular, um ou dois promotores comparecem ao distrito policial, sem nenhum dado concreto e objetivo a pautar a visita. Sabem, por empirismo, que naquele distrito, por exemplo, há poucos flagrantes de tráfico de entorpecentes ou de “jogo do bicho”. Ou que os inquéritos policiais custam a se encerrar. Nada mais, porém, do que impressões tiradas do dia-a-dia forense. No momento da visita à repartição policial, entretanto, nenhuma estatística possuem para amparar essa desconfiança, muito menos dados comparativos com outros distritos da cidade ou do Estado. Quando existem detentos no distrito e dois promotores o visitam, normalmente um permanece examinando os livros e registros policiais, enquanto o outro inspeciona o local de recolhimento dos presos, ouvindo os reclamos de praxe (quase sempre relacionados às situações processuais dos encarcerados). Funcionários do MP? No máximo um oficial de promotoria apenas para lavrar a ata da visita. Quantas vezes, contudo, o promotor, instalado em uma sala improvisada cedida pelo delegado de polícia, não lavra, ele próprio, a referida ata? Isso é função de agente político? Claro que não. Mas ter de lavrar uma ata não é a maior queixa dos promotores. Preocupa-os o fato de, sem dados prévios que orientem a fiscalização, correrem o risco de chancelarem eventuais irregularidades que, embora presentes, acabam não sendo detectadas. Sempre ouvimos que o novo perfil constitucional exige dos promotores e procuradores de justiça que “saiam de seus gabinetes”. Evidente que o sentido dessa previsão é o de que os membros do www.apmp.com.br 19 MP em Foco Quantas vezes o promotor, instalado em uma sala improvisada cedida pelo delegado de polícia, não lavra, ele próprio, a ata de visita a um distrito policial? Isso é função de agente político? Claro que não. Ministério Público passem a conhecer a realidade social de uma maneira ampla, não aquela estampada unicamente nos autos judiciais. “Sair do gabinete”, todavia, não significa a realização de visitas e diligências sem dados e planejamento prévios, sob pena de estes atos caírem no descrédito aos olhos da comunidade e das autoridades visitadas ou fiscalizadas. O novo modelo de gestão poderia melhorar, e muito, a eficiência institucional nesse particular. Como? Fazendo com que o promotor de justiça saia do seu gabinete sem deixá-lo fisicamente. Parece uma afirmação desconexa, mas tem todo o sentido em uma gestão profissional e moderna. Dispondo de um banco de dados tal como o proposto pelo Departamento de Estudos Institucionais da APMP, o promotor não precisa comparecer ao distrito policial para perceber alguma irregularidade. Segundo informação da Secretária Estadual de Segurança Pública, há alguns anos o Ministério Público tem acesso ao INFOCRIM. Não o utiliza por razões desconhecidas. Temos, portanto, condições de acompanhar todas as informações relacionadas aos registros de ocorrências policiais. Como os dados gerados pelos inquéritos instaurados passam diariamente por nossas mãos, qualquer espécie de cruzamento e simulação que se queira fazer é extremamente simples. Qual a média para o encerramento de um inquérito policial em cada um dos distritos policiais do Estado? Qual o percentual de inquéritos sobre tráfico de entorpecentes dentro do universo de procedimentos de determinada delegacia? Houve algum inquérito de roubo instaurado que não fosse decorrente de prisão em flagrante? Qualquer indagação que se imagine poderá ser respondida na tela do computador do promotor de justiça. E a informação obtida de um distrito policial poderá ser comparada com a média da cidade ou do Estado. Verificada uma distorção, então terá chegado o momento de deixar o gabinete – fisicamente – e comparecer à delegacia. Não mais para uma fiscalização empírica ou por amostragem. Mas para uma investigação precisa e direcionada, amparada em elementos concretos e confiáveis. “Sair do gabinete” não significa a realização de visitas e diligências sem dados e planejamento prévios, sob pena de estes atos caírem no descrédito ao olhos da comunidade e das autoridades visitadas ou fiscalizadas. 20 www.apmp.com.br Essa é uma atuação típica de agente político? Criar grupos especializados para determinada atribuição tem seus aspectos positivos. É o caso do GECEP. Todavia, sem estrutura moderna e científica para amparar sua atuação, estaremos fadados a repetir os erros do passado. Em razão disso, não é nada alentador o fato de a proposta de ato normativo enviada em 5 de janeiro deste ano pela Procuradoria-Geral de Justiça ao Órgão Especial do Colégio de Procuradores, estabelecendo novas normas para o exercício do controle externo da atividade policial, insistir em exigir do promotor que encontre irregularidades no momento da visita (agora trimestral), obrigando-o a: a) examinar “quaisquer documentos, expedientes e procedimentos relacionados com a atividade de polícia judiciária, bem como os livros que as delegacias de polícia e os distritos policiais mantêm para esse fim” (art. 6º. da proposta); b) “verificar as cópias dos boletins de ocorrência que não geraram instauração de inquérito policial e a motivação do despacho da autoridade policial” (art. 7º.) c) “observar a destinação das armas, dinheiro, entorpecentes, veículos e outros objetos de especial interesse apreendidos, principalmente nos casos em que não tenha sido instaurado inquérito policial” (art. 8º.). Sobre um banco de dados a direcionar a atuação ministerial, nenhuma palavra. E, ao invés de poderoso agente político, continuaremos vendo um atônito promotor de justiça perdido na montanha de papéis produzidos pela polícia, negando sua própria destinação constitucional. Sem que ao promotor de justiça, individualmente considerado, caiba qualquer parcela de culpa. Ao invés de poderoso agente político, continuaremos vendo um atônito promotor de justiça perdido na montanha de papéis produzidos pela polícia, negando sua própria destinação constitucional. www.apmp.com.br 21 MP em Foco Mais transparência sim! Mas e a motivação? Democracia, transparência, ética. São princípios que as pessoas de bem e as que buscam o progresso de um país ou instituição defendem de modo incondicional. Para o leitor, o eleitor e o espectador, difícil é distinguir quando essa defesa é sincera ou quando busca escamotear a falta de exercício prático desses princípios. Tomemos o exemplo da transparência. Cantada em verso e prosa por todos os que se dizem democratas convictos, nem sempre é verdadeiramente adotada. Ou o é pela metade. Muitos confundem transparência com publicidade. Se eu tornar público determinado ato ou decisão, serei transparente, certo? Errado, se você fizer parte da Administração Pública, em que a publicidade é uma exigência constitucional (art. 37, “caput”). Então, como devem agir os órgãos da Administração Superior do Ministério Público para que sejam “transparentes”? Mais do que pela publicidade de seus atos, devem zelar pela motivação de suas decisões! É louvável, por exemplo, que o Conselho Superior abra suas reuniões na parte em que não for obrigatório o sigilo. Mas se não motivar todas as suas decisões, transparência não haverá! Expliquemos de outra forma: um promotor que pretenda ser promovido ou removido por merecimento não fará tanta questão de saber o resultado de sua pretensão na hora, pouco depois do final da reunião do CSMP ou, dias após, pelas páginas do Diário Oficial. E do que ele não abrirá mão? No caso de não ter sido sequer indicado, de saber o motivo. Em que aspecto, objetivamente, seu mérito era inferior ao dos colegas indicados? No que sua atuação profissional e sua participação institucional deixaram a desejar? Isso é motivação. Isso é transparência. Cenas do próximo capítulo AFERIÇÃO OBJETIVA DO MERECIMENTO - MELHORIA NO ORÇAMENTO DO MP - INTER-RELACIONAMENTO COM A SOCIEDADE - INCLUSÃO DO MP NO CENTRO DO DEBATE DAS GRANDES QUESTÕES INSTITUCIONAIS - ESTABELECIMENTO DE PRIORIDADES E METAS - TRANSFORMAÇÃO DO PROMOTOR EM AGENTE POLÍTICO - DESPOLITIZAÇÃO DAS DECISÕES ADMINISTRATIVAS E GERENCIAIS - AVALIAÇÕES CORRECIONAIS MAIS JUSTAS - REDISTRIBUIÇÃO EQUÂNIME DO SERVIÇO - CRITÉRIOS OBJETIVOS PARA A CRIAÇÃO E DESNOMENCLATURAÇÃO DE CARGOS - MODERNIZAÇÃO DA ESTRUTURA DE APOIO SAIBA POR QUE... ...a avaliação do merecimento não é objetiva nem transparente! SAIBA POR QUE... ...é equivocado preferir a antigüidade ao merecimento! TENTE ENTENDER ... ...por que a proposta da APMP de avaliação do merecimento não vingou no CSMP! ... e saiba muito mais na próxima edição da Revista APMP em Reflexão. A APMP agradece a colaboração de todos os associados com críticas e sugestões. Aproveite, também, para sanar eventuais dúvidas sobre o novo modelo de gestão: [email protected] 22 www.apmp.com.br www.apmp.com.br 23 A MP em Foco lei que mudou o Ministério Público Evento da ESMP comemora os 20 anos da Lei da Ação Civil Pública Quando se fala na transformação do Ministério Público em advogado da sociedade sempre é citada a Constituição cidadã de 1988. Citação justa, mas que ofusca um diploma legal que talvez tenha a mesma importância nessa transformação, surgido três anos antes. Em 24 de julho de 1985 era promulgada a Lei nº. 7.347, que introduziu no ordenamento jurídico brasileiro a ação civil pública de responsabilidade No começo dos anos 80 foi elaborado pelos eminentes juristas Ada Pellegrini Grinover, Cândido Rangel Dinamarco, Kazuo Watanabe e Waldemar Mariz de Oliveira anteprojeto de lei que buscava uma disciplina específica para a tutela de interesses difusos. O anteprojeto, que não previa participação ampla do Ministério Público e sequer cogitava a figura do inquérito civil, foi apresentado pelo então pelos danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valores artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico. Importante salientar que essa conquista foi fruto de muita luta do Ministério Público de São Paulo e, principalmente, da contribuição da APMP e de seus Grupos de Estudos. Cabe uma explicação mais detalhada, até por dever de justiça histórica. deputado federal Flávio Bierrenbach à Câmara dos Deputados, gerando o Projeto de Lei nº. 3.034/84. Entretanto, mostrando a vocação histórica de vanguarda dos promotores e procuradores de justiça paulistas, no final do ano de 1983, Édis Milaré, Antonio Augusto Mello de Camargo Ferraz e Nelson Nery Júnior apresentaram no XI Seminário Jurídico dos Grupos de Estudos tese intitulada “Ação Civil Pública”, em que propunham modificações naquele anteprojeto de lei, destacando-se: a) a introdução da expressão “ação civil pública”; b) a inclusão da defesa do consumidor e de todos os “outros interesses difusos”; c) a ampliação da participação do Ministério Público; d) a criação do inquérito civil, a cargo do Ministério Público; e) a possibilidade do Ministério Público requisitar certidões, informações, exames e perícias. Em 1984 o teor dessa tese foi ampliado no livro “A ação civil pública e a tutela jurisdicional dos 24 www.apmp.com.br interesses difusos”, dos mesmos autores. A tese e o livro originaram o Projeto de Lei nº. 4.984/85, encaminhado ao Congresso Nacional pelo Poder Executivo e que, com pequenas alterações, culminou com o texto final da Lei nº. 7.347/85. Vinte anos depois, ninguém duvida que, mais do que a própria ação civil pública, foi a criação do inquérito civil que alavancou a revolução do Ministério Público consubstanciada por inteiro na Carta de 1988. Por essa razão, a Escola Superior do Ministério Público de São Paulo promoveu, nos dias 16 e 17 de junho, o “Seminário Comemorativo de Aniversário de 20 anos da Lei de Ação Civil Pública”. Diversos juristas do Ministério Público e de outras instituições fizeram um balanço das duas décadas de vigência da lei, destacando-se a presença do Ministro do STF Sepúlveda Pertence, do ex-Procurador-Geral de Justiça Paulo Salvador Frontini, do Deputado Federal Luiz Antonio Fleury Filho e dos três autores da tese de Grupo de Estudos que gerou a Lei nº. 7.437/85. ...mostrando a vocação histórica de vanguarda dos promotores e procuradores de justiça paulistas, no final do ano de 1983 Édis Milaré, Antonio Augusto Mello de Camargo Ferraz e Nelson Nery Júnior apresentaram no XI Seminário Jurídico dos Grupos de Estudos tese intitulada “Ação Civil Pública”... A Revista APMP em Reflexão parabeniza o diretor do Centro de Estudos e Aperfeiçoamento Funcional – Escola Superior do Ministério Público de São Paulo, Luís Daniel Pereira Cintra, pela feliz iniciativa. www.apmp.com.br 25 P APMP Saúde Maior evento esportivo de todos os tempos rimeira reunião do Conselho Gestor Transparência e democracia. Na prática. A idéia de aumentar a participação dos associados nos processos decisórios é meta inegociável da APMP. Em todos os setores, a Diretoria procura o debate, ouve as críticas com atenção e carinho. Afinal, democracia é isso mesmo: discussão, debates e idéias variadas. Tudo com classe, elegância e bons propósitos. Desde a criação do nosso Plano de Saúde, nós ouvimos várias críticas. Umas se revelaram absolutamente desprovidas de fundamentação. Outras, porém, ajudaram a melhorar (e muito) o Plano. Imagine se a Diretoria simplesmente desqualificasse as críticas? Se não debatesse com os associados? Quantas soluções para alguns ajustes que se fizeram (se fazem e se farão) necessários teriam total! Participação sido desperdiçadas? Feitas essas considerações iniciais, uma idéia que surgiu dessas saudáveis discussões começa a dar os primeiros resultados: o Conselho Gestor que se reuniu com a Diretoria da APMP em 13/06/2005. Os membros - de todos os níveis da Carreira - debateram, indagaram sobre alguns problemas pontuais e tiveram acesso a todos os dados do Plano. Dessa primeira reunião uma certeza absoluta: transparência se faz com atitude. Logo na primeira reunião, algumas sugestões foram incorporadas ao Plano, como disponibilizar mensalmente o extrato individual aos usuários para que eles possam ajudar na fiscalização. Não é bem mais fácil quando todos participam? Sabe aquelas horas em que imaginamos: “Será que vale a pena tanto esforço?”. Trata-se daquele momento da jornada em que nos esforçamos, lutamos e corremos sem saber se tudo vai dar certo. No entanto, logo vem a linha de chegada e olhamos todo o trajeto com a certeza de termos cumprido a missão da melhor maneira, a ponto de nem importar muito a colocação. Quando o resultado é a vitória, aí a sensação é verdadeiramente fabulosa! Assim estavam os nossos atletas e, também, a APMP nessa jornada maravilhosa: o Torneio Esportivo. Durante meses, a nossa equipe - funcionários, colaboradores e diretores da APMP - deu o máximo de suas forças para que tudo corresse bem. Todos buscaram novidades como o churrasco do Bassi, o show de jazz, o curso de mergulho autônomo, o test drive da Harley Davidson, a exposição de jogos antigos e tantas outras atrações. Nos esportes então a luta foi ainda maior. Várias parcerias de sucesso com empresas especializadas como a Phisio Trainer, a Tacolândia e a Personal Tennis. O cuidado com a saúde dos participantes foi total, disponibilizando-se, inclusive, UTI móvel durante todo o evento. Veja um pouco de tudo o que aconteceu no maior Torneio Esportivo da APMP. A APMP agradece, de coração, aos nossos atletas e aproveita a oportunidade para convidar os que não puderam comparecer para a edição do ano que vem! Mais de 450 participantes lotaram o Blue Tree de Mogi das Cruzes 26 www.apmp.com.br www.apmp.com.br 27 Maior evento esportivo de todos os tempos Futebol: clima de copa do mundo! Melhor distribuição das equipes trouxe mais emoção às partidas A APMP busca sempre o melhor para os seus associados. Nesta edição do Torneio Esportivo, a organização foi impecável. A política de distribuição de jogadores para nivelar as equipes equilibrou as partidas, que foram emocionantes. Os jogadores tiveram comportamento exemplar em campo, merecendo - todos eles - o título de fair play. A competição Os jogos foram iniciados na noite da sexta-feira (03/06). Os atletas disputaram duas partidas, todas marcadas por muita disposição e lealdade nas jogadas. No sábado, o campeonato de futebol pegou fogo com quatro partidas acirradas. A torcida presente pôde conferir lances de grande habilidade, outros pitorescos como “gols mágicos” e alguns engraçados. Domingo, além da disputa pela terceira colocação, o momento mais esperado: a grande final. 28 www.apmp.com.br Easy Rider Toda a emoção das lendárias Harley Davidson Imagine-se pilotando uma moto de mais de mil cilindradas... Bem, quem esteve no Torneio Esportivo pôde experimentar toda a força que o ícone Harley Davidson possui. O ronco dos motores, o vento suave e a sensação de liberdade em meio a um cenário deslumbrante deram aos nossos pilotos a sensação de estarem na famosa Rota 66. No final do test drive, diversos brindes da Harley Davidson foram sorteados. www.apmp.com.br 29 Maior evento esportivo de todos os tempos APMP até debaixo d’água Curso de mergulho supera todas as expectativas O curso de mergulho ministrado pela Dive Buddy foi um verdadeiro show. Aproximadamente 60 pessoas - entre associados e familiares - puderam aprender técnicas de mergulho autônomo! Os instrutores se surpreenderam com a disposição e fôlego dos participantes que lotaram as piscinas no sábado e domingo. Natação e Biribol agitaram o Blue Tree Competição e lazer nas águas aquecidas Mais de 30 atletas competiram nas provas de natação e biribol realizadas no dia 04 de junho (sábado). Foram sorteados pela Dive Buddy dois cursos completos de mergulho para os participantes. “O curso foi ótimo. Eu, minha cunhada Vivian e meu marido Flávio fizemos. Quando eu soube que ganhara o curso completo, eles também se interessaram em ir. O melhor do evento foi a qualidade do hotel e a variedade de atrações. Parabéns a todos.” Isabel Cristina Dias Wallis 30 www.apmp.com.br Acredit e Reza a l se quiser! e de todo nda que o maio so r modalid s tempos na m campeão ade é o esma “at Cardoso Dal Poz, leta” Luiz Henr i biribol. Será me pentacampeão que no smo? www.apmp.com.br 31 Maior evento esportivo de todos os tempos Jogos de salão Astúcia e show de interpretação no “pano verde” Os campeonatos de Truco e Tranca foram espetaculares, com os competidores se assemelhando a concorrentes ao Oscar. Blefes, sinais indecifráveis e muitas gargalhadas no final. Uma diversão e tanto! 32 www.apmp.com.br Nem o Guga segura os nossos tenistas Esforço e habilidade nas quadras de Mogi O tênis foi o segundo esporte em número de inscrições, perdendo apenas para o futebol. A maioria das partidas foi eletrizante, com várias jogadas dignas de final de Roland Garros. Houve, é claro, momentos cômicos e algumas bolinhas continuam sua jornada em direção à órbita lunar. No entanto, os parceiros da Personal Tennis ficaram surpresos com o nível técnico dos nossos atletas e sugeriram à Diretoria da APMP que incorpore uma competição de tênis no Seminário Jurídico de Comandatuba. www.apmp.com.br 33 Maior evento esportivo de todos os tempos Haja disposição! Atletas mostram garra e fibra A Phisio Trainer trouxe uma equipe para organizar as provas de corrida. A preparação dos atletas começou logo cedo, com aulas táticas e sessões de alongamento. Quando a largada foi dada, viu-se um batalhão de corredores em busca da vitória. O percurso de 4.000 metros (com várias subidas e descidas) era desgastante e trouxe ainda mais emoção à prova. Dizem as más línguas que alguns atletas foram estimulados pelo cheiro do churrasco que vinha sendo preparado pelo Bassi... Bola na caçapa! Maestria nas tacadas As partidas de snooker foram realmente sensacionais. Os participantes - com material gentilmente cedido pela Tacolândia - fizeram jogadas dignas de Rui Chapéu. Um verdadeiro show de habilidade. 34 www.apmp.com.br www.apmp.com.br 35 APMP Destinos Aventure-se pela cidade perdida Uma cidade construída, há mais de 500 anos, com blocos de pedras, perfeitamente encaixados, sem a utilização de cimento ou qualquer tipo de cola. É possível? Assim é Machu Picchu (velho pico), símbolo do Império Inca, que fica a cerca de 2.400 metros de altitude e está localizada bem no meio da cordilheira dos Andes, no centro-sul do Peru, na América do Sul. Não sem motivo o local de antigas ruínas foi considerado “Patrimônio Cultural da Humanidade”, tombado pela Unesco em 1983. A “cidade sagrada dos incas”, como ficou conhecida, é o mais grandioso exemplo de desenvolvimento da arquitetura e de técnicas de construção dos antigos habitantes das Américas. Saber que tudo isso só foi descoberto em 1911, pelo arqueólogo americano Hiram Bingham, da Universidade de Yale, dá um toque especial à viagem. Tudo indica que as construções em pedra de Machu Picchu foram feitas provavelmente entre os séculos 15 e 16, embora haja divergências. Alguns pesquisadores colocam em dúvida, inclusive, se Machu Picchu foi realmente uma cidade, uma fortaleza ou um palácio por acreditar ser insuficiente o suprimento de água para uma grande população. Mas o certo é que, com méri- 36 www.apmp.com.br to, a cidade perdida dos Incas, escondida entre montanhas, se tornou a principal atração turística do Peru, seja pelas ruínas, seja pela beleza natural inigualável ao seu redor. Pedra sobre pedra Toda de pedra, Machu Picchu possui casas, torres, escadarias e altares para sacrifícios aos deuses. No centro da cidade está uma grande praça chamada Inti-Pampa, que significa campo do Sol e onde se localiza uma imensa torre redonda, o Torreão, o mais belo monumento de Machu Picchu. Grandes degraus levam ao alto da torre, onde se encontra uma pedra achatada, que seria o local dos sacrifícios. Abaixo da praça, comunicando-se com ela por meio de escadas e patamares, podem ser vistos jardins, palácios, fortificações e outras construções. Uma escadaria construída entre abismos, com 64 patamares e milhares de degraus – um dos integrantes da expedição de Hiram Bingham parou de contá-los quando chegou aos 3.200 – conduz ao Mirante do Sol, o ponto mais alto da cidade, de onde se pode ver toda a região: as planícies, os vales e as montanhas com suas geleiras. www.apmp.com.br 37 APMP Destinos Dicas de viagem • Para fugir das chuvas, que acontecem praticamente durante todo o ano, a melhor época é no inverno andino, de abril a setembro. O resto do ano, considerado baixa temporada, conta com preços mais baratos. A dica para enfrentar o período de chuvas é adquirir uma boa capa impermeável, à venda em todas as esquinas da cidade de Cuzco, e uma proteção para equipamentos fotográficos ou filmadora. • Você escolhe como quer conhecer con Machu Picchu: de trem, a partir de Cuzco, ou seguindo a trilha inca em uma caminhada de três a quatro dias. Para a trilha inca, é necessário deixar a bagagem no hotel após o pagamento de uma taxa. Na caminhada, use roupas grossas e confortáveis, tênis e leve saco de dormir, capa de chuva, cantil e máquina fotográfica, além de chocolates e frutas secas. Os pacotes das agências de turismo costumam incluir guias turísticos, alimentação e alojamento (em barracas), além do trem de volta para Cuzco. • A trilha dura quatro dias e três noites, numa distância total de aproximadamente 48 km. À primeira vista parece loucura, mas a paisagem torna o percurso muito mais interessante do que realizá-lo de trem. • Cuzco é o centro de partida para várias expedições a Machu Picchu. Vale a pena curtir a noite na cidade. Os turistas, na maioria europeus, chegam no fim de tarde das excursões e aproveitam a entrada franca nos bares e danceterias. • Uma breve saída às compras pode render bons negócios. Nas ruas, são oferecidos desde agasalhos de lã até prata da melhor qualidade. • A culinária peruana é baseada em legumes, cereais e carnes brancas. Não deixe de provar uma porção de ceviche, prato típico da região que consiste em cortes de peixes crus variados, levemente cozidos por um toque de limão espremido, temperados com pimenta e cebola. O acompanhamento natural é a Cusqueña, cerveja peruana consumida muitas vezes na temperatura ambiente. 38 www.apmp.com.br Civilização Inca Os incas viveram na região da Cordilheira dos Andes, nos atuais Peru, Bolívia, Chile e Equador. Fundaram, no século 13, a capital do império: a cidade sagrada de Cuzco. O imperador, conhecido por Sapa Inca, era considerado um deus na Terra. A sociedade era hierarquizada e formada por nobres (governantes, chefes militares, juízes e sacerdotes), camada média (funcionários públicos e trabalhadores especializados) e classe mais baixa (artesãos e camponeses). Na arquitetura, desenvolveram várias construções com enormes blocos de pedras encaixadas, como templos, casas e palácios. A cidade de Macchu Picchu revelou toda a eficiente estrutura urbana daquela sociedade, por meio da agricultura extremamente desenvolvida, canais de irrigação e da arte – destacada também pela qualidade dos objetos de ouro, prata, tecidos e jóias. Triste desfecho O Império Inca, que chegou a estender-se por quatro mil quilômetros da América do Sul, foi incendiado e saqueado no século 16 pelos conquistadores espanhóis. Numa sede de exploração selvagem, eles destruíram e roubaram o tesouro dos incas, mataram seus líderes e escravizaram seu povo, assim como foi feito com os astecas e outros povos do continente americano. Em pouco tempo o Império Inca transformou-se numa simples província da Espanha. www.apmp.com.br 39 Diário de Bordo Dicas e sugestões de nossos associados Viagem inesquecível... Leste Europeu e Escan- e n a i t Cris ilascio, D dea a r o t o m o r iç p just dinávia. Pelo “museu a céu aberto” que é a cidade de Praga, pelos cafés de Viena, pelo passeio no Rio Danúbio que divide a cidade de Budapeste e pela beleza de Estocolmo. Eu recomendo... viajar pela Itália. Veneza é um lugar diferente de todos. Roma é maravilhosa e ainda se pode visitar o Vaticano e apreciar muitas obras de arte. Costa Amalfitana e Sicília combinam belas praias, boa comida, sol e descanso. Eu trago das viagens... objetos típicos do lo- cal. Da Índia, por exemplo, eu consegui trazer na mala uma mesa de mármore com um trabalho manual único, feita em Agra, que é a região do monumental Taj Mahal. Viajar é... aprender um pouco da história e da cultura de cada povo. Aventurar-se por lugares desafiadores. Minha última viagem foi... para a Índia, país que mistura exotismo, diversas religiões, bela arquitetura dos palácios dos marajás, ricas e milenares formas de arte e hábitos totalmente diferentes dos ocidentais. A extrema pobreza da maioria da população convive com a riqueza de poucos, em um espetáculo às vezes chocante até para brasileiros. Maior mico... uma vez esta- va em Madri quando houve um “overbooking” nos hotéis da cidade. Mesmo com o hotel reservado, a excursão foi parar numa “cidade dormitório”, a quarenta minutos do centro de Madri. Pela manhã, tomamos um ônibus lotado de espanhóis, que não entendiam o que aquele grupo fazia ali, com máquinas fotográficas e filmadoras. Mesmo assim, a guia insistia em nos enganar, dizendo que aquela cidadezinha era um ponto de “interesse turístico”. 40 www.apmp.com.br O Cultura & Lazer RQUESTRA SINFÔNICA DO ESTADO DE SÃO PAULO Erudição musical com toque brasileiro Talvez poucos saibam: a mais destacada orquestra da América Latina está localizada no Brasil. Trata-se da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (OSESP), que tem sede na Sala São Paulo. Os amantes da música erudita a tem prestigiado na medida. Basta dizer que nos seus concertos, os 1.500 ingressos esgotam-se em praticamente todas as apresentações e, 42 www.apmp.com.br ano após ano, as séries de assinatura disponibilizadas têm sua capacidade máxima ampliada. No repertório, peças dos períodos clássico e romântico continuam sendo as preferidas do público, mas os compositores dos séculos 19 a 21 têm um espaço crescente nos palcos brasileiros. “Na OSESP fazemos anualmente primeiras audições mundiais, tra- zemos compositores para reger suas obras (como é o caso do compositor Krzysztof Penderecki, que rege este ano seu Réquiem polonês) e tocamos também muita música brasileira”, diz o maestro John Neschling, que está à frente da Orquestra desde 1997. São mais de 100 apresentações anuais em sua temporada de concertos, que inclui turnês nacionais e interna- cionais. Este ano, o foco está voltado para os países do Cone Sul, com apresentações em Buenos Aires, Córdoba, Santiago e Montevidéu. Em 2004, festejando seus 50 anos de existência, a OSESP realizou turnê que abrangeu 14 capitais brasileiras. Em 2003, a Orquestra se apresentou em cidades alemãs e suíças. Houve também uma turnê norte-americana em 2002. www.apmp.com.br 43 Cultura & Lazer Novo fôlego desde 1997 44 Serviço de assinaturas Por que o oboé afina a Orquestra? Após a entrada do spalla, a orquestra espera a nota Lá do oboé para começar a afinar. A tradição surgiu no século XVII, época em que esse instrumento, diferentemente dos outros sopros, estava presente em quase todas as orquestras e repertórios. Além disso, o timbre, o volume e o posicionamento do oboé na orquestra fazem com que ele seja facilmente ouvido por todos os músicos, sem se fundir com o som dos demais instumentos. Por último, uma vez feita a palheta, a afinação do oboé é dificilmente modificada, garantindo a precisão da freqüência de 442 Hz. Por esses motivos, o oboé foi eleito o ‘diapasão’ da orquestra. Fonte: Maestro John Neschling Fundada pelo maestro Souza Lima em 1954, a OSESP é mantida pelo governo estadual. No entanto, alternou períodos de sucesso e de grande dificuldade, inclusive com paralisações nas atividades. Após a passagem do maestro italiano Bruno Roccela, o grupo esteve por 24 anos sob o comando do maestro Eleazar de Carvalho, até sua morte, em 1996. Desde 1997 sob a direção do maestro John Neschling, a Orquestra passou por transformações que a colocaram como novo referencial de qualidade e excelência nos campos da arte, cultura e educação no Brasil e no mundo. Com o apoio do Governo do Estado, Neschling e os diretores executivos da OSESP, Clodoaldo Medi- na, Cláudia Toni e Cláudio Gaiarsa, criaram o Centro de Documentação Musical Maestro Eleazar de Carvalho, o Serviço de Assinaturas, a Coordenadoria de Programas Educacionais, o Serviço de Voluntários e a editora de partituras Criadores do Brasil. Para hospedar projeto desse porte, foi restaurada e reformada a antiga Estação Júlio Prestes, idéia do então Secretário Estadual da Cultura Marcos Mendonça. O projeto foi levado adiante pelo Governador Mário Covas e deu origem à sede da OSESP, a Sala São Paulo, considerada um dos melhores locais para concertos do mundo, que foi inaugurada em 9 de julho de 1999. As séries de assinaturas da OSESP, identificadas por nomes de árvores brasileiras, são ‘pacotes’ de ingressos, para, em média, um concerto por mês, de diferentes programas dentro da temporada. A escolha dos concertos que compõem cada série é feita de modo a contemplar harmoniosa e equilibradamente música sinfônica, concertos para diferentes instrumentos, oratórios, peças corais e camerísticas. Ao adquirir a assinatura, o espectador terá garantido sempre o mesmo lugar nos concertos daquela série. Fique por dentro Desde 1997 sob a direção do maestro John Neschling, a Orquestra passou por transformações que a colocaram como novo referencial de qualidade e excelência nos campos da arte, cultura e educação no Brasil e no mundo. O antigo Coro Sinfônico do Estado de São Paulo foi incorporado pela OSESP, dando origem aos Coros Sinfônico e de Câmara (regente Naomi Munakata). Foram criados ainda o Coro Infantil (regente Teruo Yoshida) e, em 2004, o Coro Juvenil da OSESP (regente Michel de Souza). Desde 2001, a OSESP mantém ainda uma parceria com a gravadora sueca BIS, para a produção de mais de 25 CDs de música brasileira. “A música erudita certamente tem um público segmentado e, mesmo para grandes orquestras, a venda de CDs não representa a fonte de sua subsistência. Mesmo assim, vender CD é um ótimo negócio. Com eles, registramos um momento da música brasileira, vivido pela OSESP, que nunca existiu em nosso país. Mesmo que daqui a alguns anos tudo isso acabe, haverá uma prova do que fizemos aqui. Com os CDs, podemos levar nossa música a todo o Brasil e mostrar ao mundo que somos uma orquestra de nível internacional, mas com ‘cara’ e som de orquestra brasileira”, diz o maestro John Neschling, nascido no Rio de Janeiro e filho de austríacos. www.apmp.com.br Quem é aquele violinista que recebe o cumprimento do maestro? O spalla (leader na Inglaterra, concertmaster nos Estados Unidos, Konzertmeister nos países de língua germânica) é o primeiro violino da orquestra. Ele executa passagens solistas, serve como regente substituto e repassa aos outros músicos as determinações do maestro. Até meados do século XIX, grande parte das apresentações eram regidas pelo spalla, que utilizava o arco para marcar o tempo da música. O termo italiano pode indicar tanto a região do colo onde é apoiado o violino, quanto o personagem que, no teatro de revista, dá suporte ao ator principal. De onde vieram os nomes das notas musicais? Apesar de registros de notações musicais na Grécia Antiga e entre os chineses do século III, apenas em St. Gall (Suíça), quase mil anos mais tarde, as notas passaram a ser marcadas com maior precisão. Para os nomes das notas, os povos de língua anglo-germânica adotaram letras (A lá; B si; C dó; D ré; E mi; F fá; G sol; H si bemol), enquanto os de língua latina seguiram o processo proposto por Guido d’Arezzo, no século XI. Usando um recurso mnemônico, d’Arezzo nomeou as notas a partir da primeira sílaba de cada verso de um Hino a São João: UT queant laxis, REsonare fibris, MIra gestorum, FAmuli tuorum, SOLve polluti, LAbii reatum, Sancte Ioannes. (Para que possam ressoar as maravilhas de teus feitos com largos cantos, apaga os erros dos lábios impuros, ó São João). No século XVII, em homenagem ao papa João Batista Doni, muitos países adotaram o DO no lugar do UT. www.apmp.com.br 45 Cultura & Lazer Arcádio Minczuk Talento de família Um pouco da história dos Minczuk APMP: Por que? AM: Porque todos tiveram que fazer testes novamente, com bancas de avaliadores internacionais para cada instrumento. Eu já estava há 17 anos na orquestra e tive que fazê-los. Isso era facultativo, mas quem não realizava o teste ficava na antiga estrutura da orquestra – a Sinfonia Cultura, ligada à Fundação Padre Anchieta até sua recente extinção. Lobos, que todo mundo já conhece lá fora, mas outros compositores como Camargo Guarnieri e Guerra Peixe, por exemplo. Não tínhamos gravações de qualidade nem de Villa-Lobos e a OSESP está fornecendo algo novo no mundo fonográfico. APMP: E qual a importância do maestro John Neschling no renascimento da orquestra? AM: Muito grande. Neschling já tinha muita experiência como maestro em outras instituições brasileiras. No Teatro Municipal de São Paulo, por exemplo, ele conheceu os problemas que envolvem a administração pública. E a experiência internacional conta muito. Ele trabalhara na Itália, na França e em Portugal. Para além do seu valor como maestro, porém, o projeto deu certo pelo lado empreendedor, que é o forte dele. ças do governo estadual ou da própria direção artística, corre-se o risco de novo retrocesso? AM: Eu acho que não há risco de retrocesso. A orquestra está partindo para uma nova fase, que é a da institucionalização. Isso vai resolver alguns problemas que ainda perduram, como a dificuldade para contratar músicos estrangeiros. Vai ser também criada a Fundação Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, que firmará um contrato de gestão com o Governo do Estado de cinco anos para administrar a orquestra. A partir daí teremos contratos melhores e a possibilidade de angariar recursos junto à iniciativa privada, garantindo maior autonomia em relação ao governo. APMP: Você citou o período de decadência e o áureo da OSESP. Acha que a fase atual da orquestra é irreversível ou, dependendo de mudan- Se a OSESP é, hoje, sinônimo de excelência no universo das orquestras sinfônicas, o sobrenome Minczuk é sinônimo de música. José Minczuk, maestro do Coral da Polícia Militar de São Paulo, viu cinco de seus oito filhos transformarem o gosto pelas partituras, adquirido na infância, em profissão. Nesta matéria, porém, nosso destaque é para Arcádio Minczuk, marido da promotora de justiça e associada da APMP Tatiana Viggiani Bicudo. Arcádio é o 1º oboísta da OSESP desde 1981. Ganhador de diversos prêmios e pós-graduado no Conservatório de Oberlin (EUA), leciona na UNESP e é diretor pedagógico do Centro de Estudos Musicais Tom Jobim (antiga Universidade Livre de Música) e coordenador pedagógico do Festival de Inverno de Campos do Jordão na área de música erudita. Foi presidente da Associação dos Músicos da OSESP e hoje ocupa a vice-presidência. Na sede da OSESP, na Sala São Paulo, Arcádio falou para a APMP em Reflexão. APMP em Reflexão: Por ter se iniciado tão cedo na música, a sua infância foi igual à de qualquer outra criança? Arcádio Minczuk: Somos oitos irmãos e tivemos sim uma infância normal. Claro que todos estudaram música e, em casa, tínhamos uma “orquestra”. A primeira formação foi com bandolim, violão e meus pais cantando. Juntávamos todos os irmãos e nos apresentávamos em casas de amigos e na nossa igreja, a Assembléia de Deus Russa. APMP: Qual a importância de uma orquestra ter uma sede, no caso da OSESP, a Sala São Paulo? Você acha que isso é um diferencial? AM: Para a OSESP se tornar um grande projeto foi fundamental que houvesse essa sala. Lembro-me da grande fase da orquestra na época do maestro Eleazar de Carvalho, quando nos apresentávamos no Teatro de Cultura Artística, que era a nossa sede. Fazíamos gravações pela TV Cultura e tocávamos duas vezes por semana, com grande público. Acabou o contrato da Secretaria de Cultura e nós nos mudamos. Foi o começo da decadência, porque a orquestra não tinha mais casa própria. 46 www.apmp.com.br APMP: E veio o afastamento do Eleazar... AM: É verdade. Além dos problemas de saúde do maestro, ele se afastara antes, por ter assumido uma cátedra regência fora do país. APMP: Falando no maestro Eleazar, ele era considerado um dos melhores do mundo, não é mesmo? AM: Sim, no exterior ele era considerado assim, tanto que regeu as grandes orquestras do mundo. Toquei com ele profissionalmente por 17 anos e posso afirmar que em certos repertórios, como os do século 20, ele era inigualável. Ninguém, por exemplo, regia a “Sagração da Primavera” de Stravinsky como ele. APMP: Investimento é tudo para melhorar e manter o nível de uma orquestra ou há mais algum segredo? AM: No caso, o investimento financeiro não é tudo. Não adianta investir milhões em uma orquestra em que os músicos não são bem qualificados. Esse projeto da OSESP é completo porque os músicos foram re-qualificados. A re-qualificação, aliás, foi uma fase bem traumática. APMP: Qual a importância de uma carreira internacional para uma orquestra? Como avalia a da OSESP? AM: Uma orquestra que não excursiona é uma orquestra em que falta alguma coisa. A OSESP tem seu público, sua sede, possui programação bem elaborada, faz gravações. Mas as excursões divulgam o nome da orquestra no exterior. APMP: E o que representa isso? AM: A possibilidade de apresentar e gravar um repertório novo e que ainda não foi muito explorado: o da música erudita brasileira. Não só Villa- APMP: Para terminar, conte-nos sobre o projeto social/musical realizado por seu pai. AM: Meu pai teve um derrame que afetou muito a sua fala. Desde então, ele começou a freqüentar sessões de fonoaudiologia e a ter contato com outras pessoas com o mesmo problema. Por ser alguém com muita força de vontade e energia, resolveu formar um coral na Universidade Bandeirante (UNIBAN) com pessoas que tiveram também um AVC. A auto-estima delas cresceu muito e as ajudou a superar esse problema de saúde. www.apmp.com.br 47 A Jantar dos Aposentados posentados usta Homenagem J APMP enaltece os que ajudaram a construir o Ministério Público de São Paulo. No último dia 20 de maio realizou-se o tradicional Jantar de Confraternização dos Aposentados. Foram homenageados os promotores e procuradores de justiça que se aposentaram no período compreendido entre maio de 2004 e maio de 2005. Mais de 200 pessoas - dentre elas autoridades como o Secretário de Segurança Pública, Saulo de Castro Abreu Filho, e o representante do ProcuradorGeral de Justiça, o Procurador José Benedito Tarifa - lotaram o Buffet Baiúca. Também a pista de dança do salão principal foi palco de rodopios e passos bem sincronizados, ao som da Orquestra Sylvio Mazzucca. A homenagem, as palavras do orador José Juarez Staut Mustafá e o poutpourri dos Trovadores Urbanos ao final do jantar emocionaram a todos, especialmente Ruy Alberto Gatto e Antonio Duarte, que também se aposentaram recentemente. Não foram poucas as pessoas que verteram copiosas lágrimas. No encerramento da festa, uma certeza: o sucesso do evento, comentado por todos os presentes, foi mais uma demonstração do compromisso da APMP com o respeito aos aposentados. 48 www.apmp.com.br Trovadores Herança medieval sobrevive em tempos de MP3 Amores não correspondidos, saudades... Alguns dos temas que mais fazem sucesso nas músicas românticas da atualidade não deixam de ser uma herança das antigas cantigas medievais originárias do século 12 em Portugal. Naquele tempo, iniciou-se o movimento poético denominado Trovadorismo. Nele, os trovadores produziam os poemas feitos para serem cantados ao som de instrumentos musicais como a flauta e a viola. Quem cantava as obras – que abordavam principalmente o amor – eram os chamados Jograis, por meio de apresentações líricas ocorridas ao ar livre. O movimento se difundiu pela Europa e ganhou o mundo. A tradição das trovas dos cantores ambulantes chegou ao Brasil com a vinda dos colonizadores portugueses. No país, os seresteiros guardaram esse espírito em suas músicas melodiosas e apaixonadas, executadas sob a luz da lua, embaixo de uma janela. E veio a serenata Em tempos de MP3 e música eletrônica, as serenatas continuam nos dias de hoje. Há mais de 10 anos, um quarteto de cantores e músicos faz sucesso resgatando o charme e romantismo dessas apresentações: Os Trovadores Urbanos. Tendo na composição original Maída Novaes, Juca Novaes, Edu Santana e Valéria Caram, o grupo difunde o hábito das serenatas realizando shows por todo o Brasil. Com vários CDs gravados, mostra que o sertanejo de raiz não é o único representante da autêntica música paulista. Além das mais de trinta mil apresentações, os Trovadores Urbanos já participaram de reportagens, programas e novelas - como “Vila Madalena”, da TV Globo. Hoje, o projeto conta com 50 músicos que se juntaram aos cantores originais para fazer serenatas a qualquer hora do dia e nos mais inusitados locais, tudo ao gosto do cliente. As apresentações também acontecem fora do país. Em 1993, apresentaram-se, durante 20 dias, em Paris, Madri e na região dos Pirineus, com um show que divulgava grandes momentos da música popular brasileira. Já na Expo 98, em Lisboa, a última exposição mundial do século 20, eles se apresentaram representando São Paulo, com um repertório de grandes autores da MPB, em especial o paulistano Adoniran Barbosa. Os Trovadores reúnem um repertório de grandes compositores nacionais de marchas, valsas, serestas, choros e sambas, como Braguinha, Geraldo Filme, Ari Barroso, Pixinguinha, Noel Rosa, Eduardo Gudin, Jorge Faraj, Orestes Barbosa e o seresteiro n.º 1 do Brasil, Sílvio Caldas. Um fato é certo. A herança medieval tem razão de perdurar. Seja qual for o motivo - aniversário, Dia das Mães, casamento, formatura ou reconciliação - a serenata é um presente inesquecível! www.apmp.com.br 49 M Gastronomia Especial arcos Guardabassi Maior expert em carnes no maior evento esportivo de todos os tempos A APMP queria inovar no Torneio Esportivo deste ano. A organização escolheu como ponto alto dos eventos sociais a realização de um churrasco de confraternização. Alguém então lembra que estamos falando do maior evento esportivo que a APMP jamais realizara. Outro, em tom de brincadeira, fala: “Isso merece o Bassi...”. Desta conversa descontraída surge a idéia de unir duas referências indiscutíveis em seus respectivos setores. A APMP é a maior e melhor entidade congênere da América Latina. E quando o assunto é “carnes”, não tem para ninguém: Marcos Guardabassi é um dos melhores no mundo. 50 www.apmp.com.br Não é para menos. Aos 8 anos de idade já saía pelas ruas de São Paulo vendendo, com sua mãe, miúdos de boi. Aos 14, mostrou que tinha feeling para o comércio quando abriu um açougue à rua Humaitá. Não satisfeito, quis agregar valor ao seu negócio. Diferenciou-se no atendimento e na qualidade dos serviços oferecidos. “O ambiente do açougue era requintado com mármore e vidros. Minha mãe trazia para mim, diariamente, cinco aventais de linho impecáveis para uso”, conta. Além disso, pesquisou a culinária dos descendentes de várias nacionalidades que viviam no bairro da Bela Vista e passou a estudar profunda- mente a anatomia bovina. Tanto empenho surtiu resultados: Bassi criou 150 diferentes cortes de carne. Basta dizer que ele batizou a nossa famosa fraldinha e o steak do açougueiro. Depois de conquistar a alta-sociedade paulistana com seus “cortes especiais”, alçou novos vôos. Abriu o Espaço Marcos Guardabassi, em 1975, que representa um novo conceito de restaurante: uma sala privada, que comporta de 12 a 20 pessoas, onde é apreciado o preparo das carnes especiais e feita a sua degustação. Depois disso, veio a churrascaria Marcos Guardabassi na década de 80 onde também funciona a atual “boutique de carnes”. Conheça um pouco mais desse verdadeiro “doutor” em carnes: Raio X Nome: Marcos Guardabassi Idade: 57 anos Estado Civil: casado há 33 anos, duas filhas Time: Corinthians Hobby: cozinhar. “Faço tudo na churrasqueira, até arroz e massas” Comida favorita: o que importa é a companhia e não a comida Bebida: vinho. “E quem disse que vinho branco com churrasco não combina?” Viagem: já fiz muitas... “Quero conhecer o Tibet e Santiago de Compostela” Filme: Perfume de Mulher. “A interpretação de Al Pacino é simplesmente estupenda” Livro: Bíblia. “Que releio sempre”. E O Monge e o Executivo Música: a que expresse grandes sentimentos Um passeio por São Paulo: Mercado Municipal, Catedral da Sé, Museu do Ipiranga... “São Paulo tem muita coisa para ser vista” Espaço Marcos Guardabassi Rua Treze de Maio, 659 – São Paulo Reservas pelos Tels. (11) 3253-4307 Churrascaria e Loja de Carnes Rua Treze de Maio, 668 – São Paulo Tels. (11) 3288-7045 - 0800 7711922 www.apmp.com.br 51