QUEREMOS RESPEITO, QUEREMOS MUDANÇAS!
PRONUNCIAMENTO DE ATLETAS DE HÓQUEI SOBRE GRAMA FEMININO
Nós, as atletas de Hóquei sobre Grama do Brasil, queremos mostrar nossa indignação e
lamentar a forma como a Confederação Brasileira de Hóquei sobre Grama (CBHG) conduz o
esporte no país, em especial sua conduta e descaso com a seleção feminina. Podemos
considerar esse desabafo como a última tentativa de sermos ouvidas por uma Confederação
que se mostra omissa a todo e qualquer questionamento que vá de encontro às suas
determinações.
A preferência pela equipe masculina é vista há muito, sendo seus atletas tratados
como uma equipe de verdade. Para o feminino, restou a total falta de planejamento, de
comprometimento, de respeito. A última vez em que a seleção feminina esteve reunida foi
cerca de um ano e meio. Em 2014, nós participaríamos do Round 1 da World League, em
Guadalajara, no México. A competição era importantíssima para melhor posicionamento da
equipe no ranking da Federação Internacional (FIH) e, a princípio, seria a última chance da
classificação para as Olimpíadas no nosso país. Mas o que de fato aconteceu foi um aviso sem
explicação de que já estávamos fora das Olimpíadas e a decisão da CBHG de usar todos os
recursos financeiros apenas para a equipe masculina.
Essa decisão de abandonar a seleção feminina desnorteou e praticamente desmontou
o time. Apesar disso, atletas, por meio da Federação Catarinense de Hóquei sobre Grama
(FHESC) conseguiram patrocínio privado para a primeira etapa da World League, mas devido a
uma série de questionamentos sem repostas por parte da Confederação – como uma lista de
atletas já convocadas, mesmo sem haver uma comissão técnica e sem nenhum tipo de
avaliação anterior - que causou estranhamento junto aos patrocinadores, o acordo não foi
firmado.
Vale lembrar que em 2014 a seleção feminina estava em 41º no ranking da FIH. Se
participássemos da primeira etapa da World League, ganharíamos além de mais experiência e
crescimento como equipe, também pontuação no ranking e a chance de passar para o Round
2. Nesta etapa, teríamos jogos no início de 2015 com seleções mais fortes e novas chances de
melhorar nosso posicionamento. Mas sem competir, já que a CBGH nos privou até da tentativa
de brigar pela vaga olímpica, despencamos no Ranking. Estávamos em 41º e agora somos 49º,
ultrapassadas até por Barbados, seleção que estava 6 posições abaixo do Brasil, adversário
direto do Feminino no Pan Challenge, em outubro.
Enquanto a seleção feminina era comunicada que estava fora das Olimpíadas, a equipe
masculina era convocada para três meses de treinamento na Europa. Esse treinamento visava
a World League, campeonato com peso determinante apenas para a seleção feminina. O time
masculino àquela altura apenas podia esperar por outros resultados que os levassem a uma
vaga para os Jogos Pan-Americanos de 2015. Ou seja, para eles a briga por uma vaga nas
Olimpíadas também não era concreta.
Agora, após três meses de preparação na Europa para a World League – com a
combinação de resultados de outras seleções, a vaga para os Jogos Pan-Americanos foi
confirmada para o Brasil, a seleção masculina segue com seu intenso e muito dispendioso
treinamento. Há um cronograma estabelecido até o final do ano, envolvendo Pan-Americano,
Pan-American Challenge, Evento Teste paras as Olimpíadas de 2016 e treinamentos na Europa
entre estas competições. A verba utilizada foi liberada pelo Ministério dos esportes, onde o
convênio inicial seria para as duas equipes, mas foi destinada EXCLUSIVAMENTE para o
masculino. Um total de R$ 4,9 milhões voltados apenas para a seleção masculina e NENHUM
CENTAVO para a seleção feminina!
A equipe Feminina ficou e segue sem nenhum planejamento. A pouco menos de cinco
meses do início do Pan Challenge em Chiclayo, no Peru, a CBHG faz uma convocação
totalmente diferente e descabida para as atletas dos times femininos do país, repassando aos
clubes a responsabilidade de indicar atletas para o selecionado. Dez dias depois, faz publicação
no Facebook procurando um técnico, onde os interessados teriam que enviar um currículo. E
depois de mais de um mês sem se pronunciar sobre a lista de atletas indicadas por cada clube,
a CBHG divulga datas para testes físicos de atletas que moram no país, e ainda pede para que
as federações estaduais enviem novamente uma lista das atletas “interessadas”. As atletas que
residem no exterior não precisarão fazer os testes físicos para serem convocadas para um
futuro treinamento, isso foi entendido no e-mail passado a elas pela CBHG, onde também
constava informações que não foram divulgadas para as demais.
Com muitas dúvidas, enviamos questionamentos a fim de entender a real situação da
seleção feminina, como por exemplo, o conhecimento do cronograma e se já havia sido
definida uma Comissão Técnica. Mas, infelizmente, mais uma vez, o que recebemos foram
respostas vazias que mostram que nada mudou. Sabemos que quem faz o time são as atletas,
mas não ter essas respostas a tão pouco tempo de um campeonato importante mostra como
nossa Confederação conduz a sua equipe feminina.
Infelizmente o descaso com a Seleção Feminina não mudou. Ser a 3ª força da América
do Sul como objetiva a CBHG, será impossível com o tipo de tratamento que recebemos. Não
há investimento, não há planejamento. Aliás, são coisas que nunca vimos nossa Confederação
fazer por nós.
Vivíamos a meio de comentários vulgares sobre a estética de algumas atletas e
discriminação pelas diferenças físicas entre o masculino e feminino, fora o julgamento de
comportamento das atletas na interação com a equipe masculina e outras equipes durante as
competições, o que nunca aconteceu com o masculino, com um tom machista de uma
comissão técnica onde quase toda sua totalidade são homens.
Nosso país não nos dá recursos para evolução. Tínhamos apenas UM campo em todo o
país, que agora está sendo reconstruído para as Olimpíadas de 2016, sem falar na falta de
investimentos para o desenvolvimento e formação de novos atletas. Em pleno julho de 2015,
ainda não temos sequer a confirmação sobre a disputa do Campeonato Brasileiro. A
quantidade de competições diminui e a certeza de uma péssima gestão do esporte no país só
aumenta.
Tiraram nossa chance de conseguir classificação para as Olimpíadas Rio2016, tiraram
nossos recursos, nos calaram por mais de um ano e o que vemos é tudo voltando a se repetir.
Queremos uma Confederação que pense e planeje o hóquei em sua totalidade, desde
o desenvolvimento até o alto rendimento, que tenha um plano de trabalho, com profissionais
qualificados e separados para selecionado, sem preferências entre o masculino e feminino.
Precisamos de treinamentos, amistosos, competições. Apenas QUATRO jogos por ano no
Campeonato Brasileiro é ínfimo. A grande maioria de nossas atletas só possuem contato com
um campo de hóquei nas pouquíssimas partidas do Campeonato Brasileiro. A Seleção
Brasileira Feminina precisa de uma Confederação!
O esporte em si tem mais praticantes mulheres que homens em todo o mundo. Mas
não é pro isso que queremos privilégios. Queremos um tratamento igualitário! Dar mais apoio
ao masculino é um reflexo do machismo que temos dentro da nossa Comissão, pois no cenário
de hóquei internacional, assim como na maioria dos esportes, ter uma equipe feminina tão
competitiva quanto à masculina demonstra o nível real do esporte no país e o leva ao
desenvolvimento de fato.
Aceitarmos caladas e ficarmos reféns do nosso sonho de integrar a Seleção Brasileira,
com medo de represálias, não mudará a realidade do Hóquei no Brasil. É por isso protestamos!
NÓS, ATLETAS DE HÓQUEI SOBRE GRAMA FEMININO, QUEREMOS RESPEITO.
QUEREMOS MUDANÇAS!
1.
Ágata Barradas – atleta do Macau Esporte Clube
2.
Alessandra Flores – atleta do Florianópolis Hóquei Clube
3.
Alice Aschermann – atleta do Florianópolis Hóquei Clube
4.
Anaí Prestes – atleta do Florianópolis Hóquei Clube
5.
Andressa Kruger – atleta do Hóquei Clube Desterro
6.
Anna Luiza Silva de Souza – atleta do Florianópolis Hóquei Clube
7.
Beatriz Veras – atleta do Florianópolis Hóquei Clube
8.
Bibiana Carreño – atleta do Macau Esporte Clube
9.
Bruna Ferraro – atleta do Florianópolis Hóquei Clube
10.
Camila Lemos – atleta do Carioca Hóquei Clube
11.
Camila Oliveira – atleta do Hóquei Clube Desterro
12.
Carolina Costa – atleta do Macau Esporte Clube
13.
Caroline Marson – atleta do Macau Esporte Clube
14.
Cristiana Vergueiro – atleta do Macau Esporte Clube
15.
Desiree Ribeiro – atleta do Carioca Hóquei Clube
16.
Djane Robsen – atleta do Macau Esporte Clube
17.
Eloisa Peyloubet – atleta do Florianópolis Hóquei Clube
18.
Jacqueline Peyloubet – atleta do Florianópolis Hóquei Clube
19.
Jessica Rodrigues – atleta do Macau Esporte Clube
20.
Juliana Gelbcke – ganhadora de 2 Prêmios Brasil Olímpico – atleta do Florianópolis
Hóquei Clube
21.
Kenia de Andrade Martins – atleta do Hóquei Clube Desterro
22.
Lais Bernardino – ganhadora do Prêmio Brasil Olímpico – atleta do Florianópolis
Hóquei Clube
23.
Lisandra Souza – ganhadora do Prêmio Brasil Olímpico – atleta do Hóquei Clube
Desterro
24.
Liz Meneghello de Abreu – atleta do Hóquei Clube Desterro
25.
Luana Rech – atleta do Hóquei Clube Desterro
26.
Lucila Vazquez – atleta do Macau Esporte Clube
27.
Lulica Rocha – atleta do Macau Esporte Clube
28.
Marina Boos – atleta do Hóquei Clube Desterro
29.
Mayara Eiko Fedrizzi – atleta do Hóquei Clube Desterro
30.
Mayara Meurer – atleta do Hóquei Clube Desterro
31.
Michele Xavier – atleta do Carioca Hóquei Clube
32.
Najla Fawakhiri – atleta do Florianópolis Hóquei Clube
33.
Nathália Marques – atleta do Carioca Hóquei Clube
34.
Paloma Simon – atleta do Macau Esporte Clube
35.
Patricia Boos – atleta do Hóquei Clube Desterro
36.
Patrícia Vieira – atleta do Florianópolis Hóquei Clube
37.
Paula Batistela – atleta do Florianópolis Hóquei Clube
38.
Priscila Marques – atleta do Macau Esporte Clube
39.
Renata Simon – atleta do Macau Esporte Clube
40.
Roberta Flores – atleta do Florianópolis Hóquei Clube
41.
Soraya Mercez – atleta do Macau Esporte Clube
42.
Thalita Cabral – ganhadora do Prêmio Brasil Olímpico – atleta do Hóquei Clube
Desterro
43.
Tiene Moraes – atleta do Macau Esporte Clube
44.
Ursula Santos – atleta do Carioca Hóquei Clube
45.
Vanessa Stahelin – atleta do Hóquei Clube Desterro
46.
Victoria Larraín – atleta do Macau Esporte Clube
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