Guimarães Apontamentos para a sua História Padre António José Ferreira Caldas 2.ª Edição, Guimarães, CMG/SMS, 1996, parte II, pp. 346/347 IGREJA E CONVENTO DO CARMO Em 26 de Março de 1685 foi lançada a primeira pedra para a edificação desta igreja e convento na rua de Santa Maria; dizendo-se ali a primeira missa, apesar do atraso da obra, a 8 de Abril de 1687. Antes ainda de concluída a mesma obra, e a 13 de Março do mesmo ano, tomaram aqui o hábito carmelitano algumas donzelas, com o título de recolhidas dos carmelitas, frei Pedro da Purificação e do arcebispo de Braga, D. Luís de Sousa. Foi dedicado este convento a Santa Teresa, ignorando-se até hoje o nome do seu fundador; mas no precioso Manuscrito da Costa se declara, a par de outras minuciosidades correlativas, que Guimarães deve tal fundação ao mercador Francisco Antunes - embora o padre Torcato de Azevedo queira alienar-lhe tal glória - que depois falecera pobremente. Passados alguns anos - talvez em 1704 - estando o edifício concluído, chegou a Bula do Papa, que autorizava as recolhidas de Santa Teresa a tomarem o véu das religiosas carmelitas calçadas, trocando então o convento a sua primeira invocação pela nova de S. José. Mas como o lugar de honra, no altar-mor da igreja, era ocupado pela imagem de Nossa Senhora do Carmo, ficou sendo esta a sua invocação mais vulgar e conhecida. Viveu esta religiosa comunidade dos carmelitas até 1743, debaixo da obediência do provincial dos carmelitas calçados; sustentando repetidas e complicadas demandas sobre pontos de © Sociedade Martins Sarmento | Casa de Sarmento 1 jurisdição; muito principalmente no governo do arcebispo de Braga, D. Rodrigo de Moura Teles, que pôs às freiras um interdito, por haverem tomado, independentemente e contra sua vontade, véu preto, a 24 de Junho de 1726. Parecia impossível, que depois de tão renhidas questões, entre esta comunidade e os diferentes arcebispos, fosse um dia aceite de bom grado neste convento a plena jurisdição do Ordinário; mas felizmente assim sucedeu no episcopado de D. José de Bragança, que a instâncias e repetidos rogos das freiras aceitou a sujeição do convento à sua jurisdição em 1748. Em boa hora se acolheu esta comunidade à protecção do régio prelado; pois a este devem as freiras a construção da capela-mor da sua igreja - ainda por concluir a 31 de Maio de 1748 - a edificação do mirante, que tornara mais vistoso o edifício, a maior extensão da cerca e o alargamento do terreiro defronte da igreja. É de muito merecimento e bom gosto toda a talha dos altares, púlpito e sanefas; e divide a capela-mor do corpo da igreja um arco de pedra, tendo abaixo dois altares laterais: o do Evangelho, dedicado a Santa Ana, e o outro a Nossa Senhora do Carmo. No antigo coro de baixo há ainda um altar, modernamente erecto por particular iniciativa e devoção à imagem do Senhor Morto. Perseverou assim o convento até ao ano de 1854, em que falecera a última freira D. Catarina Angélica do Amor Divino; e ficando depois este edifício propriedade nacional, foi a igreja com as respectivas oficinas, dada à irmandade do Carmo, ali erecta, e hoje elevada à categoria de Ordem Terceira do Carmo por Breve apostólico de 27 de Julho de 1866, confirmado pelo geral da Ordem carmelitana em Roma a 30 de Julho de 1868; e o convento foi concedido ao ministério da guerra, para nele estabelecer o hospital militar do batalhão de caçadores 7. Passado algum tempo, deu o governo por quartel a este corpo a praça de Valença; mas o convento ficou ainda pertencendo ao mesmo ministério. Só mais tarde, em 1860, depois de repetidas instâncias, e vencidas muitas dificuldades, foi cedido para casa do Asilo de infância desvalida de Santa Estefânia - Amor de Deus e do próximo, de que mais tarde nos ocuparemos. Tem o decreto real da cedência do convento ao asilo a data de 30 de Maio de 1860, e tomou posse dele a comissão administradora a 27 de Agosto de 1862. © Sociedade Martins Sarmento | Casa de Sarmento 2 © Sociedade Martins Sarmento | Casa de Sarmento 3