ANO: 44 * N.º 298 Março /Abril 2013 Na Vida da Igreja UM PAPA SEGUNDO O CORAÇÃO DE DEUS (Jr 3,15) Temos um novo papa cujos primeiros atos nos autorizam pensar que se esforçará para ser um “pastor segundo o coração bondoso de Deus”, pag. 03 PENSANDO BRASIL Eleições 2014: a força das corporações e os movimentos sociais O desmoronamento do socialismo soviético, em 1990, não foi apenas uma vitória econômica e política das grandes corporações transnacionais mas também uma vitória ideológica: pag. 04 Canto do Galo Dom Adriano faz visita ao regional Vila Rica e crisma dezenas de jovens e adultos pag. 06 e 07 R$ 2,00 PRELAZIA DE SÃO FELIX DO ARAGUAIA O NOVO ALENTO QUE EMANA DO CRISTO RESSUSCITADO Caros irmãos e irmãs, V ivemos nestas semanas a alegria da Páscoa; o Cristo ressuscitado nos dá novo alento para continuarmos em nossa caminhada de Povo de Deus em nossas comunidades, organizadas em grupos, pastorais, movimentos e serviços. Neste primeiro ano tive a alegria de visitar as comunidades, regional por regional, e foi muito bom conhecer tantos irmãos e irmãs, celebrar com cada comunidade e sentir de perto as lutas e esperanças que as animam. Na segunda parte do ano o meu desejo é de dedicar todo o tempo necessário para o encontro com os povos indígenas, visitando sem pressa as aldeias situadas no território da Prelazia. Logo depois da Páscoa, como é costume, acontecerá o encontro de todos os agentes de pastoral da Prelazia. Neste encontro teremos muitos assuntos importantes a ser discutidos. Entre eles o projeto de formação permanente para a nossa Prelazia. Peço a todos e a todas que renovemos nosso compromisso com o Cristo ressuscitado para que possamos ser um Dom Adriano foto: internet bispo da Prelazia de São Félix do NOTA DA CNBB SOBRE A RETIRADA DOS PODERES INVESTIGATIVOS DO MINISTÉRIO PÚBLICO 2 PEC Nº 37/2011 “Todo o que pratica o mal odeia a luz e não se aproxima da luz, para que suas ações não sejam denunciadas!” (Jo 3,20) O Conselho Episcopal Pastoral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, reunido em Brasília-DF, de 5 a 7 de fevereiro, vem manifestar sua opinião sobre Proposta de Emenda à Constituição (PEC) n.º 37/2011, que acrescenta o §10º ao art. 144 da Constituição Federal, estabelecendo que a apuração das infrações penais de que tratam os §§ 1º e 4º do mesmo artigo caberá “privativamente” às Polícias Federal e Civis dos Estados e do Distrito Federal. A consequência prática de tal acréscimo significa a exclusividade de investigação criminal pelas Polícias Civil e Federal, que hoje têm o poder de investigar, mas sem que tal poder seja “privativo”. Tal exclusividade não garantiria uma melhor preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio (Art. 144). Ao contrário, poderia criar um clima de insegurança pública e jurídica, limitando ou impedindo uma ação civil dos cidadãos. Essa exclusividade, além disso, resultará na indesejável restrição do poder investigativo de outros entes, em especial, do Ministério Público. No momento em que os valores e as convicções democráticas da sociedade brasileira passam por uma preocupante crise, custa-nos entender a razão de tal vedação. A importância do Ministério Público em diversas investigações essenciais ao interesse da coletividade é fundamental para o combate eficaz da impunidade que grassa no país. Não se deve, portanto, privar a sociedade brasileira de nenhum instrumento ou órgão cuja Equipe de Gestão do Jornal Alvorada Publicação da Prelazia de São Félix do Araguaia www.prelaziasaofelixdoaraguaia.org.br [email protected] Brasília, 6 de fevereiro de 2013. Dom Raymundo Damasceno Assis Arcebispo de Aparecida Presidente da CNBB Dom José Belisário da Silva Arcebispo de São Luís Vice-presidente da CNBB Faça sua assinatura do Jornal Alvorada Pe. Paulo Adolfo Simões Região ..............................R$ 10,00 Brasil ..............................R$ 20,00 Avulso ........................... R$ 2,00 outros países .................. U$$ 20,00 Eliana Rodrigues Silva Claudia Alves Araujo Ir.Sebastião Camargo Impressão: LSV Produções Gráficas. Ltda missão precípua seja a de garantir transparência no trato com a coisa pública e segurança ao povo. A PEC é danosa ao interesse do povo devendo ser, por isso, rejeitada. Que Deus, por intercessão de Nossa Senhora Aparecida, nos inspire a todos no compromisso com a construção de uma sociedade de irmãos em que prevaleçam a justiça e a paz. Alvorada N.º 298 Março/Abril 13 Dom Leonardo Ulrich Steiner Bispo Auxiliar de Brasília Secretário Geral da CNBB Pagamento pode ser feito através de deposito: Agencia: 618-1/C.C: 11916 Banco do Bradesco Prelazia de São Félix UM PAPA SEGUNDO O CORAÇÃO DE DEUS (Jr 3,15) Um papa pobre Temos um novo papa cujos primeiros atos nos autorizam pensar que se esforçará para ser um “pastor segundo o coração bondoso de Deus”, conforme a profecia de Jeremias, destinado para um rebanho carente de espiritualidade autêntica que é a humanidade pós moderna, vítima dos desencantos da modernidade. Um papa que quer uma Igreja pobre e para os pobres. Desde que foi eleito bispo de Roma e, consequentemente, chefe da Igreja Católica, o arcebispo de Buenos Aires na Argentina, tem surpreendido, positivamente, aos católicos e ao mundo. Até então desconhecido da grande mídia, tendo a idade conspirando contra sua eleição, como ele mesmo disse, e o desejo pes-soal em não ser papa, Jorge Mario Bergoglio, inovou começando pela própria eleição no colégio de cardeais. É o primeiro papa latino americano e o primeiro papa da conhecida e renomada Companhia de Jesus, confrade de Pe. João Bosco Burnier, morto em Ribeirão Bonito na Prelazia de São Félix – MT em 1976, quando defendia duas mulheres que eram torturadas pela polícia. Inovou, pela escolha do nome inédito para um papa: Francisco, lembrando o santo de Assis, amigo dos pobres. Seu nome lembra também o santo confrade e cofundador da ordem a que pertence, o Xavier, missionário do oriente. O próprio papa contaria depois que essa escolha foi motivada por uma frase do cardeal brasileiro Dom Claudio Hummes, arcebispo emérito de São Paulo, franciscano como o nosso segundo bispo, Dom Leonardo, dita assim que ele foi eleito: “Não se esqueça dos pobres”. Primeiros atos que ganharam a simpatia do mundo O papa Bergoglio, como os italianos gostam de chamar o papa: pelo sobrenome, tão logo foi apresentado ao mundo, ganhou a simpatia dos católicos, dos fiéis de outras denominações e da grande Alvorada N.º 298 mídia. Isto se deu por alguns gestos simbólicos que demonstram sua humildade e simplicidade: não usou todos os paramentos pedidos pelo protocolo na apresentação oficial, iniciou sua fala desejando à multidão um “boa noite” e ao terminar desejou “bom descanso” a todos, isso em italiano, língua local. Parecia mais um bom pai falando a seus/as filhos/ as. Pediu ao povo que rezasse por ele antes que desse sua primeira bênção e lembrou-se de Bento XVI, seu antecessor com respeito e ternura. Nos dias seguintes realizou atividades comuns: pagar a conta do hotel onde se hospedara, celebrar as Missas e falar ao povo com a mesma simplicidade de antes, abdicando de qualquer privilégio com a quebra de outros protocolos. Em suas falas sempre usou do improviso, mas foi sempre forte, claro e falou ao coração das pessoas. Na raiz do seu discurso está o amor a Jesus e ao Evangelho, a preferência pelos pobres e a exigência evangélica de uma vida simples. Na homilia da missa inaugural do pontificado falou de “não ter medo da ternura e de acolher os pobres e excluídos”. E já tinha falado antes em outra Missa da missão da Igreja como: caminhar, edificar e confessar (Jesus Cristo). Esse parece ser o seu programa de governo: uma Igreja Missionária e fiel a Jesus, conforme o ideário jesuíta. Para onde aponta o pontificado de Francisco Se os primeiros gestos e palavras de Francisco apontam os rumos de seu pontificado no sentido da humildade, simplicidade e pobreza, seu brasão vem confirmar: é simples, despojado de símbolos de poder e traz elementos de sua vida anterior como jesuíta Março/Abril 13 e bispo de Buenos Aires. O lema escolhido mostra também a ternura de Deus: “Olhou-o com misericórdia e o escolheu”. Ternura esta que Francisco tem demonstrado com gestos e Palavras no seu dia a dia. Francisco também optou por um anel de prata com banho dourado no lugar de um de ouro e continua usando a cruz de ferro de arcebispo de Buenos Aires. Uma Igreja dos pobres: sonho do Beato João XXIII e caminho apontado pelo Concílio Vaticano II. Sonho partilhado com muitos bispos, inclusive do Brasil, e particularmente pelo bispo Pedro Casaldáliga, primeiro pastor de São Félix do Araguaia, construindo aqui uma bonita história, quiçá seguida agora por Francisco. O provincial dos Jesuítas, assim se referiu ao papa em uma mensagem pública: Pe. Carlos Palácio, sobre Francisco: “A alegria e o entusiasmo que os seus primeiros gestos têm despertado em todos nós, são um sinal de esperança e uma lufada de Espírito para a Igreja no momento atual. Como jesuítas, nos alegramos por ter este nosso irmão e companheiro, agora como Papa Francisco; iremos sustentar diante de Deus com a oração a ingente tarefa que se lhe apresenta neste serviço à Igreja para o qual foi escolhido; e nos dispomos, “com renovado impulso e fervor”, a viver ao lado dele o que constitui uma das características da Companhia de Jesus: servir ao Senhor e à sua Igreja”. As atitudes de Francisco nos alegram, mas também nos interpelam: até onde cada um de nós e de nossas instituições católicas estamos dispostos a acompanhá-lo na simplicidade, na humildade, na pobreza e na fidelidade a Jesus Cristo? Santa inquietação, esta! 3 Eleições 2014: a força das corporações e os movimentos sociais O 4 desmoronamento do socialismo soviético, em 1990, não foi apenas uma vitória econômica e política das grandes corporações transnacionais mas também uma vitória ideológica: derrotada a alternativa socialista esboçada pela revolução russa em 1917, o pensamento dominante proclamou ser o capitalismo a meta enfim atingida pela história humana. A crise financeira de 2008 poderia ter abalado seu poder, mas o socorro público aos bancos privados evitou sua falência e acabou por inverter a situação: eles saíram da crise na condição de credores dos governos. Passada a maré baixa, os milionários e bilionários do mundo estão hoje mais ricos do que antes de 2008. Este é o resultado da globalização neoliberal sustentada pelo mercado que, sem as restrições legais da regulamentação estatal, sempre favorece os mais fortes – as empresas capazes de operar em qualquer parte do mundo. Os governos Collor e FHC abriram o Brasil para essa globalização e os governos Lula e Dilma a consolidaram, contrabalançando seus excessos por meio de políticas sociais favoráveis aos setores de menor poder aquisitivo. Contra o poderio das grandes corporações levantam-se os movimentos sociais, que desde o ano 2000 proclamam que “outro mundo é possível”. Embora tenham força moral e sejam capazes de convocar muita gente, eles não conseguem impedir que as corporacões imponham aos governos sua política. Nem mesmo quando elegem um governo popular os movimentos sociais conseguem traduzir sua crítica à dominação das corporações em políticas de contenção de seu poder. Conclusão: poucas mas enormes empresas, controladas por fundos de investimentos que aplicam o capital de pessoas protegidas por total anonimato, impõem ao Estado as políticas que beneficiem seus negócios como se fossem de interesse público. São, por exemplo, o apoio ao agronegócio e à mineração, as isenções fiscais para empresas, os empréstimos subsidiados, e principalmente o pontual pagamento de juros da dívida pública que sangra os cofres da União, dos Estados e dos Municípios. Essa submissão dos governantes às grandes corporações tem o nome elegante de governabilidade. Dirigentes políticos que se sentem incapazes de defender o bem geral e os bens comuns quando isso contraria os interesses empresariais, justificam-se dizendo que “não podem realizar tudo que foi sonhado, mas realizam o que é possível”. É o que faz o governo Dilma: ao mesmo tempo que serve os interesses das grandes empresas, implementa políticas sociais e de redistribuição de renda que efetivamente favorecem aos setores sociais de menor poder aquisitivo. Assim fazendo, o governo concilia interesses de ambos os lados e enfraquece os partidos de oposição. Assistimos agora os primeiros movimentos do processo eleitoral que em 2014 definirá o cenário político para os próximos anos na Presidência da República, nos governos estaduais, no Congresso e nas Assembleias legislativas. Essa definição será a resultante das diversas forças em confronto. Nesse jogo de forças há espaço também para conquistas sociais, pois as grandes empresas têm o poder econômico e de mobilização política. Não se trata de entrar no jogo imoral das barganhas de favores para receber benefícios pontuais, mas sim de aproveitar o foto: mundodasdicas.com.br conseguem impor seus interesses ao governo, mas lhes falta a força eleitoral que está nas mãos de cem milhões de cidadãos e cidadãs. Aí reside o poder dos movimentos sociais: sua capacidade de atingir “corações e mentes”. Essa capacidade de mobilizar pessoas por meio de ideias e de exemplos práticos transforma-se em poder político na medida em que se multiplicam os grupos de pressão em favor da concretização de seus projetos. O período pré-eleitoral que estamos vivendo é tempo muito favorável a essa mobilização de pessoas que, ao tomarem consciência de seus direitos, os inscrevam no programa de governo ou de mandato de seus candidatos ou candidatas. Os encontros e debates em torno à temática da 5ª Semana Social Brasileira são excelentes oportunidades para esse trabalho de conscientização e Alvorada N.º 298 Março/Abril 13 momento eleitoral para mobilizar a sociedade em defesa de seus direitos e traduzir essa mobilização social em projetos políticos viáveis. É preciso ter presente que, apesar de todos os defeitos no atual processo eleitoral, ele é um dos raros momentos em que os movimentos sociais podem ter mais força do que as grandes corporações. Saber ler os sinais dos tempos e aproveitar as oportunidades em aberto é o grande desafio para todas as pessoas que hoje lutam por Justiça, Paz, Liberdade e Equilíbrio ecológico em escala planetária. Pedro A. Ribeiro de Oliveira Sociólogo, Professor no Mestrado em Ciências da Religião da PUC-Minas e Colaborador de ISER-Assessoria Juiz de Fora, 12 / abril 2013 O SENTIDO DO 08 DE MARÇO “Mulher, se Deus não criasse você Ele próprio custava a crer...” Vinícius de Moraes O Dia Internacional da Mulher: o 08 de Março, é fruto de lutas (e que lutas!) das mulheres. Quem conhece História sabe que no início da chamada “Revolução Industrial”, as mulheres que trabalhavam em fábricas não só eram submetidas a longas jornadas de trabalho como também eram submetidas ao vexame de nem poderem parar para as necessidades fisiológicas; sem falar na baixa remuneração que recebiam. Em 1857, as operárias de uma indústria de tecidos nos Estados Unidos rebelaram-se contra as más condições de trabalho, a baixa remuneração e deram um basta, cruzando os braços. A história é conhecida: um incêndio, provocado, nas dependências onde as operárias se encontravam, tirou a vida de muitas delas. O fato ocor- reu num 08 de março. A data ficou como marco do martírio daquelas mulheres, lembradas a cada mobilização; a cada luta. O Dia Internacional da Mulher Os Grupos Feministas, que se formaram ao longo do tempo, passaram a reivindicar a instituição do Dia 08 de março como Dia Internacional da Mulher. A mobilização foi intensa e longa e o primeiro resultado foi que a ONU instituiu o ano de 1975 como Ano Internacional da Mulher até que em 1977, a Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu o Dia Internacional da Mulher, tendo como marco o Dia 08 de Março, em referência aquelas mulheres e a tantas outras exploradas e violentadas no trabalho e em outros ambientes, inclusive o doméstico fa- miliar.Para os que ainda não sabem, a instituição do 08 de Março como Dia Internacional da Mulher originouse da luta das mulheres por direitos e dignidade. A ONU ao instituir e oficializar este Dia reconheceu a luta e a realidade das várias espécies de violência de que são alvo as mulheres. Ao instituir uma data, como data Internacional, a ONU, além de reconhecer a legitimidade da reivindicação, quer chamar a atenção da comunidade internacional para a situação de violação de direitos a que determinado segmento (mulheres, indígenas, crianças...) está submetido, alertando para a sua gravidade e exigindo reparação. Desde a década de 1990 organizações de mulheres reivindicam da ONU a aprovação da Declaração dos Direitos Humanos da Mulher. As Lutas de Hoje Em junho de 1995, cerca de 850 mulheres percorreram 200 Km, de Quebec a Montreal (Canadá). Elas marchavam contra a pobreza; pelos direitos das mulheres; e por apoio à economia solidária. O lema da marcha: “Pão e Flores”. Em Montreal elas foram recebidas por mais de 15 mil pessoas. No ano de 2000 iniciou-se um Movimento, inspirado naquela Marcha de 1995. No período entre 08 de março e 17 de outubro, seis mil grupos de 159 países, incluindo o Brasil, aderiram ao que se chamou de “Marcha Mundial das Mulheres” com o lema; “Temos 2000 razões para marchar.” A Marcha Mundial das Mulheres é um movimento social femi- nista internacional; suas principais bandeiras são as lutas contra a pobreza, a violência sexista, incorporando a luta contra a mercantilização do corpo da mulher e outras lutas. Este ano, para marcar o 08 de Março, ocorreram várias mobilizações como a das 660 mulheres do campo e da cidade que ocuparam empresa multinacional de agrotóxicos em Taquari, Rio Grande do Sul; no Mato Grosso 159 mulheres camponesas, ligadas ao MST, marcharam pelas ruas de Cuiabá e fizeram acampamento em frente ao INCRA. Elas reivindicam: crédito rural em nome delas; centros de saúde e escola de qualidade nos assentamentos. Aqui, na nossa região não ocorreram grandes mobilizações, mas a data não passou em branco. Em vias públicas foram afixadas fai-xas alusivas ao dia, além de outras atividades. Em todas essas lutas, que são as lutas nossas de cada dia, o 08 de Março é um momento forte; de denúncia e de reverência às mártires de 1857. Como diz a palavra de ordem do Movimento de Mulheres Camponesas: “O 08 DE MARÇO É DIA DE LUTA! TODAS AS MULHERES! TODOS OS DIREITOS! TODOS OS DIAS!” E para quem ainda não sabe, este é o sentido e o espírito do 08 de março; 5 “DIA INTERNACIONAL DA MULHER”. Maria José Souza Moraes Alvorada N.º 298 Março/Abril 13 A Prelazia se renova com a c hegad a de novos missionários e missionárias A 6 Dom Adriano faz visita ao regional Vila Rica e crisma dezenas de jovens e adultos Dos dias 14 de fevereiro a 10 de março aconteceu a primeira visita pastoral de Dom Adriano, à paróquia São Pedro Apóstolo, em Vila Rica (MT). O bispo visitou as 34 comunidades do regional, sendo 25 rurais e 9 na zona urbana sempre acompanhado por um padre da paróquia. Este trabalho consistiu em visitas às famílias das comunidades, reunião com as lideranças e Celebrações Eucarísticas. Tratou-se de um momento de orientação pastoral e partilha da caminhada da Igreja de Vila Rica. No dia 17 de fevereiro, dom Adriano ministrou o Sacramento da Crisma a 64 jovens e adultos na Matriz de São Pedro lotada por fami- liares dos crismandos e pessoas da comunidade. “A visita pastoral é um ato de apostolado do bispo diocesano, um ato de presença daquele que é o responsável pelo anúncio da salvação para todos; é uma intervenção dirigida pelo pastor, para tornar sensível e operante o desígnio divino da redenção, desígnio esse que é uma visita completamente diferente e surpreendente de Deus à humanidade. É precisamente nesta perspectiva que emerge em toda a sua importância a visita pastoral, verdadeiro tempo de graça e momento especial para o encontro e o diálogo do bispo com os fiéis”, explica o pároco, Pe. Sidney, redentorista. Alvorada N.º 298 lém dos padres que já chegaram para somar forças nos regionais Xingu, Cascalheira e Nossa Senhora Aparecida, a Prelazia de São Félix recebe com muita alegria aos Diáconos Nildo, redentorista que ajudará no regional Confresa e Zenildo, de Floresta PE, que fará seus trabalhos em Porto Alegre do Norte. O regional PAN também acolhe a religiosa Sineide Sacaion, Francis- cana de São José. Os leigos Edycarlos de Floresta PE, formado em teologia se somará à equipe de Querência e Maria Durans, leiga associa passará a integrar a equipe do Alto Boa Vista. A esses chegantes, que virão com seu jeito próprio robustecer as equipes pastorais da prelazia, nossas boas vindas e desejos de bons trabalhos entre nós. Reunião da Equipe de Formação do seminário Dom Adriano realizou a sua primeira reunião do ano com a equipe de formação do seminário. Foi no dia 11 de março, em Porto Alegre do Norte e contou com a presença, pela primeira vez da Ir. Gilma, de Cascalheira. Na ocasião o grupo começou a elaborar a proposta de um Itinerário Vocacional para acompanhamento dos jovens da prelazia. Esse itinerário será apresentado para discussão e aprovação no Bolão. Março/Abril 13 cide de fo O ev agen do p Vasi resg ta P seria que para citar form quis past para Prel refle to d toda a for torai à fo nos virá fund dest defin form de p mos dro abun seu PLANO DE FORMAÇÃO PARA A PRELAZIA Nos dias 21 e 22 de fevereiro último, frei Ares participou do encontro para elaborar um projeto ormação para a Prelazia de São Félix do Araguaia. vento aconteceu na cidade de São Félix e reuniu 15 ntes de pastoral e sete assessores de diversas partes país. Sob a coordenação de Dom Adriano Ciocca ino, bispo da Prelazia, num primeiro momento foi gatada a caminhada formativa feita nos 40 anos desPrelazia. Depois, partiu-se para a projeção de como a a formação no futuro. Foi esboçada uma proposta contempla três dimensões: a) a formação capilar, a toda a comunidade, a base, visando também susr novas lideranças para renovar os quadros; b) a mação para lideranças das comunidades, tipo catestas, ministros, conselheiros e coordenadores das torais e serviços; c) formação teológico-pastoral a os candidatos (seminaristas) ao sacerdócio na lazia. A reflexão está em andamento e a proposta será etida nos diversos encontros, tanto com o conjundos agentes de pastoral como com as lideranças de a a Prelazia.Há concordância sobre alguns pontos: rmação para as lideranças será feita por áreas pasis, agregando dois ou mais regionais; os candidatos ormação teológico-pastoral irão trabalhar e residir regionais e haverá uma equipe de assessores que á periodicamente para reunir o grupo e fazer o aprodamento e encaminhar os próximos passos. Alguns tes assessores estiveram presentes no encontro e irão nir melhor a proposta referente ao terceiro nível de mação.O encontro transcorreu num clima fraterno e profunda comunhão com os anseios da Prelazia. Fos acompanhados pela amizade e oração de Dom PeCasaldáliga, bispo emérito da Prelazia. E as águas ndantes e límpidas do Araguaia, transbordando do leito, nos contemplavam placidamente. Frei Arcides Luiz Favaretto, OFM CATEQUESE DE INICIAÇÃO CRISTà DE ADULTOS “A Catequese de Iniciação Cristã de Adultos” foi o tema do curso de catequistas realizado em Porto Alegre do Norte nos dias 15, 16 e 17 de Março. D. Eugênio Rixen de Goiás – GO e padre Leandro, da mesma diocese, trabalharam o tema partilhando a experiência realizada em uma da paróquias da diocese. Estiveram presentes mais de oitenta catequistas de todos os regionais, entre eles seis padres e os dois diáconos permanentes da prelazia além da ir. Benedita do regional Xingu. O grupo mostrou-se interessado sobre o tema devido ao grande número de pessoas da região que ainda não recebeu os sacramentos da iniciação ou os tendo recebido têm dificuldades em vivenciá-los. No entanto, foAlvorada N.º 298 ram apontados diversos desafios para a implantação deste modelo catecumenal na prelazia. A proposta de assumir a Catequese com Adultos será levada ao “Bolão” para ser avaliada pelos agentes de pastoral. O material usado por Pe. Leandro para esta experiência será brevemente publicado pela editora Vozes. Durante o encontro aconteceu também mais uma reunião da Equipe de Coordenação da Pastoral Catequética da prelazia que conta agora, também, com a assessoria dos padres José Joli (Xingu) e André (Confresa), além do Pe. Paulo Adolfo e Ir. Rosa. A próxima reunião das equipes de coordenação da Pastoral Catequética nos regionais ficou agendada para os dias 13 a 15 de setembro próximo. Março/Abril 13 7 “SENHOR DÁ-ME DESSA ÁGUA!” (Jo 4,15). 8 A ÁGUA E A COMUNIDADE Na liturgia da Semana Santa, na noite do Sábado, cantamos: Banhados em Cristo somos uma nova criatura! De fato, naquela madrugada, ao renovar as promessas e compromissos do nosso batismo, aspergidos pela agua da vida, confirmamos nossa fé em Cristo que renova todas as coisas na sua Ressurreição. E porque esta é nossa fé, neste ano, quando as Comunidades Eclesiais de Base estão a caminho do 13º Intereclesial de CEBs, queremos agradecer a Deus pela água viva que as CEBs são para nós! Perguntei na minha comunidade como entendem atualmente as CEBs. Aos poucos as pessoas foram respondendo: “Comunidades, somos pessoas unidas na procura do bem comum, na comunhão e participação. Nossa vida une oração e ação”. “Queremos e devemos ser rede de comunidades.” “Somos eclesiais porque nascemos na história da própria Igreja de Jesus”. “Da fonte de água cristalina, que é Jesus, nasceu um rio que perpassou a história e foi mudando segundo os contextos históricos. Rio que secava na falta de chuva, rio que enchia na época de enchentes...”. “Rio que já ficou poluído e também foi purificado graças aos santos e santas que apareceram na historia. Por meio de pessoas, dos Concílios, das reuniões de Bispos etc. a Igreja foi renovando. Aqui, concretamente na América-Latina, nas Conferencias de Medellín, de Puebla, de Santo Domingos e de Aparecida”. “Somos base que sustenta e segura a estrutura da Igreja, na organização de gente sofrida, muitas vezes pobre, a partir da vida cotidiana. Somos o Povo de Deus!” As CEBs do ponto de vista das mulheres Nestes dias de chuva, na reunião das comadres, eu fiz a mesma per- gunta sobre o que são as CEBs para nós, mulheres. Dona Maria começou puxando e as colegas continuaram comparando as CEBs com as aguas. “As aguas abrem passagens, criam novos rumos. Assim, as CEBs abrem caminhos até criaram rios onde podemos navegar. Por isso, as comunidades vão até lugares isolados, pobres, onde a boa nova do Reino ainda cientes da existência da corrupção na sociedade neoliberal, no mundo da politica onde parece todos preocupam, só, do lucro. Estamos também amedrontados pela violência na nossa sociedade e até pelos problemas e escândalos nas nossas Igrejas. Assim sendo, lembramos dos textos bíblicos da Criação do mundo. Sabemos que a comtinpreensão que os antigos ções caóticas e de desordem, as CEBs vivemos uma fé encarnada que nos pede acreditar, lutar e criar um mundo novo. Gritamos com o profeta: “Que o direito corra como água e a justiça como um rio caudaloso!” (Am 5,24). Com frequência escutamos que as CEBs estão mortas, que elas acabaram, que aquela Igreja viva já se foi. Porém, nos sabemos e vivemos que as CEBs estamos vivas e atuantes. Nossa identidade foi renovada e nossa diversidade também. Nossa fé conhece e afirma que a história está cheia de viradas, porque os ventos começam a soprar em outras direções e a vida renasce. É o ruah, o Espírito do Senhor, que paira sobre nós! E assim, agradecemos a Deus pelo novo Papa Francisco que conhece bem as CEBs e já manifestou seu carinho e apoio aos mais pobres! Louvado seja Deus! não tinha chegado”. ham do mundo e do universo era “Muita agua concentrada produz que Deus, na “criação”, cumpriu a energia e força. As CEBs tem a tarefa de pôr ordem, de organizar o força da união para conseguir mu- universo. Por isso, quando o ambi- ente original que a Bíblia apresenta danças”. “As aguas limpam a sujeira, es- como um ambiente de águas caótiSim, acreditamos nas CEBs. quentam, apagam o fogo. As CEBs cas, aparecem nossos pais na fé Senhor, dá-nos dessa água! limpam a inveja e o ódio, esquen- manifestando a crença num Deus tam o coração para o perdão e apa- criador que ordenou o caos. Hoje, gam o fogo da briga e malquerença quando no mundo moderno e na Mercedes de Budallés Diez sociedade aparecem tantas situana comunidade”. “Agua parada apodrece. As CEBs paradas, abafadas ou proibidas REFLEXÃO NA COMUNIDADE numa Paroquia são presságio de morte dessa freguesia”. “Sem • Rezemos o Salmo 104,1-24 cantando: Quando Tu Seagua, as pessoas morrem. As plannhor teu Espírito envias, todo mundo renasce, é grande tas murcham. Tudo fica triste. Sem a alegria! as CEBs, a Igreja more”. Como fortalecer e consolidar as conquistas das CEBs? • • Como continuar a reforçar a pertença das crianças e A água na Bíblia dos jovens a este jeito de ser igreja e que ela seja o espaço Nossa reflexão continuou: Diante das dificuldades atuais nas famípara alimentar sua fé e compromisso, com criatividade e lias, na educação, na saúde, somos expressões próprias? Alvorada N.º 298 Março/Abril 13 O PIONEIRO ARMANDO MENIN, UMA LIDERANÇA EM QUERÊNCIA Q uando em 1986, a Coopercana – Cooperativa de Colonização Canarana iniciou o projeto Querência, Armando Menin comprou uma chácara próxima ao futuro perímetro urbano. Mas foi só no ano seguinte que veio de mala e cuia, trazendo a esposa e os quatro filhos e mais um enteado. Líder nato, do alto dos seus 1.80m, Armando vai desfiando, com voz pausada e sotaque sulista, uma longa história de compromissos, iniciativas e realizações. São lutas coletivas, envolvendo associações de trabalhadores, comunidades, escolas etc. Armando Menin nasceu aos 12 de março de 1954, filho de pequenos agricultores, no interior de Getúlio Vargas (RS). De família católica, o jovem Armando foi se inteirando da vida da Igreja, participando da comunidade e grupo de jovens, que oferecia formação para quem vivia da agricultura e queria ficar na roça. Em julho de 1975, Armando casou-se com Lurdes Romano e naquele mesmo ano foi morar em Xanxerê (SC), em busca de terras melhores para a agricultura. Ali o casal teve seus quatro filhos: Rosane, Sirlei, André e Cleusa e adotou o enteado Ari, que tinha seis anos. A dura lida de trabalhar a terra e criar os filhos não impediu que Armando se tornasse uma liderança eclesial de Baliza, no interior do município, fazendo parte da coordenação da comunidade e da escola. Estavam no auge as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e sua forte atuação nas questões sociais. ARES QUERENCIANOS Quando a família de Armando Menin, nos idos de 1987, chegou em Querência (MT), o povoado tinha 44 famílias. Na chácara que havia comprado no ano anterior, Armando instalou um pequeno abatedouro e um alambique, criava animais e tirava boa produção agrícola da chácara. A liderança forte de Armando logo foi colocada a serviço da comunidade Imaculada Conceição. Esteve junto quando católicos e luteranos construíram o primeiro centro comunitário para uso comum. E também, mais tarde, quando os católicos fizeram sua primeira igreja, onde hoje é o velho barracão de festas. Compôs o conselho por dois mandatos na época em que foi feita a atual igreja (1998-2002). Já nos idos de 1990, participava de assembleias pastorais em São Félix do Araguaia, perdendo a conta de quantas vezes esteve nestes eventos. Em 2003, Armando vendeu sua chácara próxima à cidade e adquiriu um lote no Assentamento Brasil Novo, a 135 quilômetros de Querência. O lote de 51 hectares, longe quatro quilômetros da agrovila, é bem servido de água e logo virou uma referência para ambientalistas e agentes de pastoral, lideranças populares e admiradores da cachaça pura que é feita no alambique instalado logo ao chegar. Aí tabaleciam na casa da equipe no Coutinho União. Em 2007, vieram as Franciscanas de Siessen, de hábito e véu, e, neste ano de 2012, em abril, aportaram no Coutinho as Franciscanas Filhas da Divina Providência. Todas aprenderam logo o caminho do lote 130, onde à entrada lê-se: Sítio Modelo, Menin. Os frades franciscanos, a partir de 2007, também entram nesta procissão. Ali acontecem cursos, retiros, reuniões e dias de lazer. Em 2006, sob a liderança do seu Armando, uma parceria com a Comissão Pastoral da Terra (CPT) e o Instituto Socio-Ambiental (ISA) deu início à implantação do projeto Nascentes do Xingu. Envolveu 42 famílias de assentados que, através da coleta das sementes e forLEGENDA DA FOTO: ARMANDO MENIN E SUA ESPOSA LURmação de mudas, estão reflorestando as cabeçeiras dos córregos formadores da bacia do Rio Xingu. também produz rapadura e farinha Atualmente Armando está envolvido de mandioca. Para agilizar esta em mais uma iniciativa popular: a agroindústria familiar fez parceria formação do Conselho Deliberativo com a Associação Estrela da Paz, do Brasil Novo, com representantes fundada em 1999, tornando-se um das Igrejas, entidades de classe, dos sócios e em 2005 já fazia parte associações, funcionários públicos da diretoria da mesma. Não demoe outros, num total de 38 pessoas. rou muito para compor o conselho Este conselho irá definir prioridada comunidade católica e da esdes para o assentamento e encacola municipal do assentamento. minhá-las aos órgãos competentes. Ao chegar no Brasil Novo, a coQuando o casal Armando e Lurmunidade católica propôs a consdes aparece na cidade a bordo de trução do atual barracão, todo em uma camionete enlonada, visita os madeira, só o piso de concreto. filhos e mata a saudade dos sete Com a aprovação do bispo Penetos que vem crescendo robusdro Casaldáliga, logo foi iniciada tos e sadios. Mas, feitos os negóa obra, que seria inaugurada em cios e as entregas de rapadura e 2004 com a celebração da Crisma. cachaça, no dia seguinte toma o Data daquela época sua presença rumo de volta. Afinal, quem trano conselho, só mudando a funbalha com o povo não tem tréção. Hoje, a igreja nova está quaguas e nem se aposenta da luta. se pronta, tendo sido “inaugurada” na festa da padroeira Nossa Senhora da Guia em agosto de 2012. LUGAR ACONCHEGANTE. A família Menin chegou ao Brasil Novo no mesmo ano em que as Irmãs Missionárias Capuchinhas se es- Frei Arcides Luiz Favaretto OFM 9 A LUTA POR UMA SAÚDE INDÍGENA DIFERENCIADA O 10 s Indígenas das etnias Inỹ, Tapirapé, Kanela, Krenak Maxacali e representantes usuários das comunidades se reuniram em caráter extraordinário no dia 14 de março no Anfiteatro “Tia Irene” do Centro Comunitário em São Félix do Araguaia (MT). Aproximadamente 40 pessoas entre conselheiros, funcionários e representantes das comunidades estiveram presentes. Para realizarem a reunião os indígenas tiveram ajuda de apoiadores como a Prelazia de São Félix, o DSEI, a Funai, as Prefeituras de Confresa e São Félix, e o espaço do Currupira. A iniciativa foi protagonizada pelo Presidente do CONDISI Genivaldo Tapirapé e do vice Edmilson Karajá em razão da mudança de coordenador do Distrito Sanitário Especial de Saúde Indígena do Araguaia feita pela SESAI de Brasília que nomeou temporariamente o Sr. Milton Martins de Sousa. Nas discussões os indígenas avaliaram e criticaram o modo de funcionamento do DSEI; destacaram a falta de controle social, a desatenção da saúde indígena, o descrédito na população indígena, sobretudo dos conselheiros. Com relação à mudança foram firmes em dizer que a mesma deveria ser geral, não somente da chefia, mas de funcionários e de outros setores. Além dessas insatisfações mencionaram ainda a falta de capacitação de profissionais para atuarem junto a eles; a ausência de medicamentos e a compra daqueles que não constam na lista do RENAME. Os indígenas a partir dos debates decidiram encaminhar uma lista nominal de funcionários para o chefe do distrito que deverá proceder conforme suas reivindicações quais sejam: fazer advertência daqueles cuja forma de trabalhar não satisfaz as comunidades, o remanejamento nos setores e a saída de alguns. A Conferencia Nacional de Saúde que acontecerá em novembro deste ano foi mencionada pela senhora Vera Bogéa (chefe do Diasi), quando lembrou da sua preparação mediante a conferência local de saúde nas aldeias e a distrital das quais saírão os delegados para a nacional. Esta mobilização dos grupos indígenas do Araguaia é uma das reações da permanente crise da assistência de saúde às populações indígenas. O grito por melhoria e qualidade da saúde dessas populações se faz ouvir por todos os cantos do país, e ainda assim as respostas não tem sido satisfatóAlvorada N.º 298 Março/ rias como a criação da Secretaria Especial de Saúde Indígena - SESAI – em 2010, decorrente da forte mobilização nacional do movimento indígena causada pela deficiente atuação da antiga FUNASA no exercício do seu papel. A convocação para a 5ª Conferência Nacional de Saúde Indígena que acontecerá este ano é também resultante da mobilização nacional do movimento indígena realizada em 2012. Essa reivindicação foi motivada pela morosidade do Governo Federal em promover o cumprimento efetivo da Política Nacional de Atenção à Saúde Indígena. No presente se faz necessário que esta ação política, de cidadania e de direitos dos povos indígenas aconteça em torno da 5ª Conferência Nacional de Saúde Indígena, pois é muito importante a participação e o envolvimento dos usuários indígenas nas conferências (reuniões) que deverão acontecer nas aldeias, nos distritos e depois em Brasília ao longo deste ano. De acordo com o calendário aprovado, a 5ª Conferência Nacional de Saúde Indígena prevê a realização das etapas locais de janeiro a junho, das distritais de julho a outubro e da nacional nos dias 26 a 30 de novembro em Brasília. Através do tema “Subsistema de Saúde Indígena e SUS: Direito, Acesso, Diversidade e Atenção Diferenciada” as conferências local, distrital e nacional discutirão alguns princípios desta Atenção Diferenciada à Saúde Indígena estabelecidos no decorrer das conferências anteriores que são: O Modelo de Gestão e Autonomia dos Distritos Sanitários Indígenas, O Modelo Assistencial e Diálogo Intercultural em Saúde, A Formação e Valorização dos Profissionais Indígenas de Saúde e O Controle Social e Autêntica Gestão Participativa. Este é um grande momento para os povos indígenas cuja participação nestas discussões que começarão nas comunidades, em seguida nos distritos e depois em Brasília manifesta o seu protagonismo. Para que a 5ª Conferencia Nacional de Saúde Indígena possa representar os reais anseios, interesses e direitos desses povos garantidos na Constituição Federal é preciso se envolver e participar conformando a intensa caminhada na luta por uma Atenção Diferenciada na Saúde Indígena. Ir. Maria José de Sousa Cruz TENHO SEDE! Brasil, o país da água mal distribuída Nosso Brasil tem 12% da água potável do mundo, fala-se que esse índice seja ainda maior, podendo, segundo algumas fontes, oscilar entre 20% a 23%, sendo que 80% desse recurso está na Amazônia Legal. Como é feita a distribuição de tanta riqueza? Como pode em um país de tamanha riqueza hídrica, cerca de 40% de nossa população não ter acesso a água tratada? Em outros tempos, os investimentos em tratamento de água / esgoto estavam ao encargo do Estado (ex: SANEMAT/MT) e nunca aconteciam de fato: passo a passo, município a município, foram sendo privatizados, de forma absurda, irregular e injusta, empresários conseguem na “calada da noite” que seus interesses sejam aprovados por Câmaras Municipais à base de propina, em processos fraudulentos. Alguns exemplos para entender a situação Em Porto Alegre do Norte – MT, um desses processos está na Suprema Corte, enquanto a maioria, não tem água de qualidade alguma. A rede de água existente, feita a muito tempo, está comprometida e a população triplicou. Não há tratamento adequado, existem fortes indícios de contaminação das águas, através de venenos (defensivos agrícolas) e de utilização na agroindústria de fortes solventes químicos, ácidos que tem seus resíduos depositados a céu aberto, contaminando lençóis freáticos e lagos. O município de Ribeirão Cascalheira, é banhado por duas Bacias: a do Araguaia e a do Xingu, havendo um grande lixão saturado, bem ao lado, de um dos pequenos córregos que abastece o Ribeirão Bonito, que abastece o Rio Suiá (Bacia do Xingu), que abastece muita gente. Também como em Porto Alegre do Norte, a rede é muito antiga, não atende a demanda. Foi feito um aterro sanitário que nunca entrou em foto:[email protected] funcionamento, estando condenado por irregularidades na obra, nunca solucionadas. Através de um certo “cacique” político, foi conseguida Emenda Parlamentar de cerca de 2 milhões para ampliação da rede de água, junto à FUNASA. Até esses dias, o que havia era uma grande placa anunciando a tão esperada obra. Em Bom Jesus do Araguaia, recentemente, no Distrito de Vila Campinas, houve o desmoronamento de quase todos os poços locais de água. Após meses de dificuldades, a prefeitura havia instalado uma precária caixa d água e uma pequena bomba em área plana e sem queda livre suficiente, para o fornecimento de água. Na sede do município, outro caos social, em área de varjão, fossas transbordam, resíduos sólidos se misturam aos poços perfurados próximo às privadas, com as pessoas morando nessa área, em situação agravada pelas chuvas, sujeitas a inúmeras zoonoses, contaminação. Em Santa Terezinha, Luciara, São Félix, houve indício de contaminação do rio Araguaia, por fortes venenos utilizados nas lavouras de soja, com grande morAlvorada N.º 298 tandade de peixes e a população continuou consumindo água contaminada, sem alternativas. Denúncias quanto a esses quadros vieram a público, sem resultado aparente. Órgãos públicos estaduais de vigilância são inoperantes, muitas vezes coniventes em dizer que não há contaminação alguma. Economia verde, sustentabilidade, avanços, novos conceitos que chegam para o que e para quem? Que outro bicho que você conhece joga “merda” na água que bebe e que outro bicho joga veneno na comida que come, além do “bicho” homem? Dos 5.565 municípios brasileiros, 55% desses municípios apresentarão em seus sistemas produtores de água, mananciais, lagos, nascentes, adutoras, estações de tratamento, algum problema até 2015, segundo o governo. A todos nós no Araguaia, isso já é uma realidade! A irrigação é responsável por 69% do consumo de água no Brasil. O que nos leva a pensar que, se esses sistemas de irrigação serMarço/Abril 13 vem aos grandes empreendimentos agrícolas em sua maioria, o Governo será capaz de remanejamento necessário em uma previsível situação de falta de água ao consumo humano? Não se questiona o gasto de água em grandes monoculturas, no gado confinado, onde pivôs mantém o pasto deles verdinho. Calcula se que uma vaca ingere 90 litros de água por semana, são 212,8 milhões de bovinos brasileiros, segundo IBGE/ PPM2011, os quais como a soja a “rainha do mercado”, visam o mercado internacional e a que preço? Economia verde, susten-tabilidade, avanços, novos conceitos que chegam para o que e para quem? No ano passado 1.317 municípios brasileiros declararam estado de emergência, ou de calamidade pública, pela falta de água. Na região de Pernambuco, o Povo não pode festejar seu são João, na pior seca dos últimos 30 anos. Durante milênios, a água foi bem comum e direito fundamental de todos os seres vivos… até que o modelo consumista e predador da civilização decidiu que apenas os que podem pagar têm acesso à água. De bem comum a água tornou se commodity e instrumento de domínio: quem controla nascentes e mananciais, controla a Vida! Quem falou que a água tem dono? E quem falou que o dono, ou melhor, os que se acham donos são justamente esses “caras”? Fica essa sede por respostas em nossa boca! Dia 22 de março é come-morado o dia mundial da água, temos algo pra comemorar? Luis Claudio CPT de Porto Alegre do Norte 11 A PASTORAL DA CRIANÇA REFLETE E SE ORGANIZA... 12 N os dias 01 a 03 de março no Centro Comunitário Pe. Josimo, em Porto Alegre do Norte – MT, reuniram-se em assembleia as coordenadoras e coordenadores da Pastoral da Criança dos Ramos (Regionais) e áreas da Prelazia de São Felix do Araguaia. Contamos com a presença da coordenadora do estado de Mato Grasso, Lucia Schuster, de Água Boa, com Pe. Angelo Altair, de Santo Antonio do Fontoura, e o lider capacitador, Wuramani Karajá da aldeia Macauba – Tocantins, que enriqueceu ainda mais o encontro. É a Pastoral da Criança se reunindo para, estudar, avaliar e programar. No dia 02, aos raios do bonito sol, rezamos a partir da campanha da fraternidade, que reforçou em cada uma e em cada um a disposição para dizer: “Eis-me aqui, envia-me!” Em seguida Pe. Angelo, de um jeito dinâmico nos ajudou a melhor entender as cinco urgências da ação evangelizadora. Pe. Nicola Silvestri, se fez presente e em poucas palavras fez uma profunda colocação sobre o ano da fé. A partir dos principais indicadores acenados pela Pastoral da Criança Nacional, durante esses dias nos alegramos com as bonitas partilhas dos trabalhos realizados nas pequenas comunidades. Com emoção constatamos de que é o esforço e dedicação dos lideres e apoios, que os tornam agentes de transforma- ção junto às famílias das crianças e gestantes acompanhadas. A metodologia do ver, julgar, agir, avaliar e celebrar, foi luz para intensificar a Missão da Pastoral da Criança: “Para que todas as crianças tenham vida e vida em abundancia”. Na força da frase motivadora proposta para fortalecer as atividades mensais da Pastoral da Criança: “Senhor, envia-me para acompanhar crianças e gestantes”, em grupos foram elaborados os objetivos e metas para 2013 assim como o cronograma anual. A realidade das gestantes, crianças e famílias em situação de vulnerabilidade, nos inquieta e desafia a aprofundar a mística e a metodologia da Pastoral da Criança, juntamente com nossas lideres e apoios, pois é ela que nos une na missão, “Para que todas as crianças tenham vida e vida em abundância”. MATERIAL QUE CONTEM O ARQUIVO © © LIVROS E REVISTA DE DOM PEDRO CASALDALIGA PARTICIPAÇÃO DE DOM PEDRO © SOBRE DOM PEDRO © DA EQUIPE DA PRELAZIA © © OUTRO AUTORES © © © © © TESES AUDIOVISUAIS FITA CASSETES E CD CD´s DE DOM PEDRO CASALDALIGA DOCUMENTARIOS SOBRE DOM PEDRO EM DVD FOTOGRAFIAS SLIDES DOCUMENTOS © SOBRE DOM PEDRO © DA EQUIPE PASTORAL © OUTROS AUTORES © MAPAS E DADOS GEOGRAFICOS Colaboração: Ivanete Rimoldi Assine ou renove sua assinatura Cidade_________________ Endereço_________________ CEP______________ Nome:_________________ Assinatura Anual Região: ...... R$ 10,00 Brasil ..........R$ 20,00 Avulso .........R$ 2,00 Outros Países U$$ 20,00 mais informaçoes: Agência: 0618-1 C.C: 1191-6 Banco do Bradesco Prelazia de São Félix do Araguaia [email protected]