Sustentabilidade, Bancos e cidadania.
Kátia Silene de Oliveira Maia1
Para melhor ilustrarmos o conceito de sustentabilidade precisamos descrever quais
variáveis são consideradas nas decisões econômicas e administrativas convencionais
vis-à-vis aquelas pautadas pelo conceito, considerando suas implicações no tempo, no
espaço e no ambiente.
A decisão econômica convencional considera o tempo como o tempo econômico do
negócio; compreende o espaço na dimensão de seus custos territoriais de instalação e/ou
produção e o ambiente como uma variável universal ilimitada e portanto gratuita.
Como exemplo, o tempo para a existência de uma usina siderúrgica; o plantio e colheita
da soja ou a abertura de um shopping, tem como referências a produção do primeiro e
do último lingote de ferro; a temporada de plantio até a colheita da safra; a abertura das
lojas até o fechamento dos estabelecimentos.
Já o espaço será expresso pelo custo da área sobre a qual uma usina se instala; ou pela
área de plantio ou ainda pelo preço do metro quadrado comercial. Quanto as variáveis
ambientais, se reduzirão simplesmente àquelas que impactam os custos de instalação ou
produção, até que se encerre o negócio.
Neste conceito, tempo, espaço e ambiente, dizem respeito somente as pessoas que
lucram ou trabalham com estas atividades. Entretanto, se nada for pensado ou feito a
respeito, uma usina siderúrgica alterará permanentemente a geografia da região onde se
encontra, deixará resíduos químicos definitivos no ar e impactará as condições de
trabalho e renda da região.
Uma plantação de soja, ocupará o espaço de áreas reflorestáveis ou ainda, áreas que
antes possuíam florestas nativas; utilizará agrotóxicos que poluem perigosamente os
rios e os mananciais de água e por fim, implicará a ocupação concentrada de terras que
poderiam ser utilizados para outros cultivos, por outras pessoas.
Quanto a um shopping, sua arquitetura pode simplesmente destruir o planejamento
urbano verde de uma cidade por décadas; exigirá sistemas de água e luz que
sobrecarregarão as redes disponíveis, gerará resíduos e lixo em quantidades
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Assessora da Diretoria Relações com Funcionário e Responsabilidade Socioambiental. Graduada em
Direito, especialista em Direito Ambiental e Desenvolvimento Sustentável, Mestre em Gestão e
Planejamento Ambiental.
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devastadoras e por fim, implicará o fechamento de centenas de estabelecimentos que
por sua vez empregavam milhares de pessoas.
Por outro lado, a decisão econômica pensada à luz da sustentabilidade considera o
tempo do negócio apenas como um ponto de partida; compreende o espaço como uma
territorialidade coletiva independente de sua apropriação econômica individual e o
ambiente como um conjunto de recursos escassos compartilhados pela comunidade.
Além disso, sob a ótica da sustentabilidade, o máximo econômico não é
necessariamente o ótimo social.
Sendo um banco por definição o espaço onde transitam, direta ou indiretamente, todas
as decisões administrativas ou econômicas da sociedade, podemos imaginar como
seriam interpretadas estas decisões a partir dos exemplos anteriores, em um banco
pautado pela perspectiva da sustentabilidade.
Um projeto de usina siderúrgica levaria em conta as obras e a infraestrutura necessárias
para que a usina, uma vez concluído o tempo de seu ciclo econômico, pudesse ser
readaptado para funções sociais, culturais ou econômicas alternativas por tempo
indeterminado. O espaço ocupado seria considerado em função de todas as suas
externalidades considerando o projeto urbano ou rural da comunidade na qual estivesse
inserido, discutindo por exemplo parques, jardins e áreas de lazer necessárias para
neutralizar o impacto do projeto sobre a qualidade de vida dos moradores. O tratamento
e eliminação de todos os produtos, resíduos e materiais poluidores seriam parte
integrante do projeto, bem como seus mecanismos de fiscalização e controle.
O financiamento agrícola pensaria o tempo da terra antes de pensar o tempo do plantio e
colheita, vinculando a extensão de áreas cultiváveis à extensão de áreas reflorestáveis
ou a serem preservadas com sua natureza nativa. O uso de adubos e pesticidas seria
desestimulado em favor de técnicas mais sofisticadas de plantio bionatural. Os
financiamentos subsidiariam cultivares e módulos rurais que conciliassem as
necessidades alimentares comunitárias com os sistemas exportadores ou consumidores
dos grandes centros e finalmente a desconcentração fundiária seria estimulada acoplada
ao financiamento direto ou indireto dos mecanismos de treinamento dos novos
agricultores.
O financiamento de um shopping pensaria seu impacto urbanístico observando a
necessidade de preservação de áreas de importância histórica (o tempo anterior ao
projeto) e da criação de áreas como jardins, praças e áreas verdes (o tempo posterior ao
projeto) necessários para reduzir eventuais impactos na qualidade de vida dos
moradores da região. A arquitetura deveria privilegiar projetos que minimizassem o uso
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de energia (como por exemplo soluções de refrigeração que aproveitassem o vento e as
condições climáticas locais) e as áreas comerciais seriam incentivadas a adotarem
mecanismos para o uso e tratamento de materiais recicláveis. O aproveitamento do
comércio local seria pensado no bojo do projeto, incluindo aí as exigências de emprego
comunitário bem como as atividades culturais necessárias para a inclusão social dos
moradores.
Duas visões de mundo, duas visões de banco e um desafio: escolher nossa forma de
pensar o conceito de sustentabilidade dentro do contexto do Banco do Brasil.
O Banco do Brasil, enquanto instituição está inserido no contexto da sociedade
brasileira, com suas contradições, sua cultura específica, seus desequilíbrios e suas
aspirações.
A combinação de sua missão institucional e sua perspectiva de mercado – como missão
social somos uma instituição, como dinâmica operacional somos uma empresa – faz
com que todas as representações da sociedade, os chamados stakeholders, tenham
interesses diretos ou indiretos no Banco do Brasil.
Tal heterogeneidade poderia ser vista como um obstáculo. Na verdade, visto como a
expressão de uma diversidade – que caracteriza a própria identidade de nossa sociedade
– o Banco do Brasil pode de maneira singular integrar tais interesses, transformando o
todo social em algo muito maior que a soma das partes econômicas.
O papel social dos funcionários do Banco do Brasil reflete esta singularidade.
Espalhados por todo o Brasil, da serra geral à planície amazônica, da chapada dos
Parecís ao planalto da Borborema, falando muitas linguagens em uma só língua (a do
trigo, a da soja, a do metal ou do garimpo, a das máquinas ou das florestas) os
funcionários do Banco do Brasil vivenciam em cada comunidade a expectativa de que o
banco compreenda seus problemas específicos: e que os responda, sem exclusão de
nenhum ator político ou social, de maneira única conforme cada comunidade ou grupo
social.
Tal perspectiva constitui a essência da dinâmica de sustentabilidade: oferecer soluções
sem exclusão, no tempo, no espaço ou no ambiente. Para implementá-la o Banco do
Brasil teria como desafio capturar e integrar em uma só política consistente a vivência
de cada funcionário em relação às expectativas de suas respectivas comunidades.
A soma destas múltiplas vivências permitiria a construção de uma nova lógica para o
Banco do Brasil: a lógica de um banco inserido em uma proposta de desenvolvimento
sustentável, onde os questionamentos dos funcionários se traduzam em respostas
cidadãs.
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Artigo Sustentabilidade, Bancos e cidadania - Kátia Silene