Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 2 ISBN 92-9223-032-8 © UNESCO 2004 Publicado por: UNESCO Asia and Pacific Regional Bureau for Education 920 Sukhumvit Rd., Prakanong Bangkok 10110, Thailand Impresso na Tailândia As designações utilizadas e a apresentação do material ao longo da publicação não implicam, de modo algum, a expressão de qualquer opinião por parte da UNESCO sobre o estatuto jurídico de qualquer país, território, cidade ou área ou das suas autoridades ou sobre as suas fronteiras ou limites. Texto traduzido do Inglês pelos alunos José Miguel Cruz Fernandes e Tiago Gonçalo Faustino, do Curso de Tradução e Interpretação Multimédia – Universidade do Algarve Revisão da tradução e Arranjo gráfico de José Vaz Pinto Capa de Valdemar Lopes Associação Cidadãos do Mundo – Rede Inclusão - Portugal Ano de 2012 Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 3 GUIA DE FERRAMENTAS Este Manual de apoio irá ajudá-lo a compreender como o conceito de aprendizagem se tem vindo a alterar ao longo dos tempos em grande parte como resultado das aulas se centraram mais nas crianças. Irá também fornecer-lhe as ferramentas e ideias para lidar com crianças de diferentes origens e com diferentes capacidades que frequentam a sua aula, assim como pode tornar a aprendizagem significativa para todos. ÍNDICE/Ferramentas 4.1 Aprender sobre o que é a aprendizagem e quem são os alunos ........... 4 Aprendizagem e Ensino ......................................................................................... 4 Como Aprendem as Crianças ................................................................................. 6 4.2 Lidando com a diversidade na sala de aula ................................ 18 Valorizar e encorajar a diversidade................................................................... 18 Incluir diferentes formas de pensar, de aprender e de saber na sala de aula.. ...............................................................................................................................20 Desafios à diversidade ........................................................................................23 Preconceito no programa e nos materiais de ensino ......................................... 31 Género e Ensino ...................................................................................................36 Diversidade e Deficiência .................................................................................38 VIH/SIDA e Discriminação ...............................................................................46 4.3 Organizar a aprendizagem de forma significativa para TODOS! ........ 48 Aprendizagem para a vida ...................................................................................48 Criar um ambiente amigo-da-aprendizagem para uma aprendizagem significativa ..........................................................................................................50 Criar experiências de aprendizagem adequadas ao género ..............................53 Aprendizagem activa e participativa..................................................................57 Tornar a Matemática, as Ciências e a Língua significativas para todos ......... 61 4.4 O que aprendemos? ......................................................... 78 Conhecer o que é a aprendizagem e quem aprende ...........................................78 Lidar com a diversidade numa sala de aula ........................................................78 Criar uma aprendizagem significativa para todos .............................................80 Onde pode aprender mais? ................................................................................. 81 Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 4 Ferramenta 4.1 Aprender sobre o que é a aprendizagem e quem são os alunos Aprendizagem e Ensino Na introdução deste livro de ferramentas, dissemos que "inclusão" incluía não só as crianças com deficiências que existem numa sala de aula, mas também TODAS as crianças com diferentes origens e capacidades. Hoje em dia, trazer essas crianças para as nossas salas de aula é apenas metade do desafio. A outra metade é ir ao encontro de todas as suas diferentes necessidades de aprendizagem, assim como dar uma atenção especial àquelas que são, por norma, quer excluídas quer impedidas de participar e/ou aprender na sala de aula. As nossas salas de aula são diversificadas no tipo de crianças que ensinamos e na forma como elas aprendem. Novas pesquisas dizem-nos que as crianças aprendem de forma diferente devido a vários fatores como por exemplo: fatores hereditários, experiências, ambiente, ou personalidades. Como consequência, devemos utilizar uma variedade de metodologias de ensino e de atividades para ir ao encontro das várias necessidades de aprendizagem das nossas crianças. No princípio, pode parecer uma ideia assustadora. Muitos de vós podem estar a trabalhar em salas enormes e pensar. "Como posso eu usar diferentes metodologias de ensino que sejam adequadas a cada criança, quando tenho mais de 50 crianças diferentes na sala de aula?" Essa é uma das razões que faz com que muitos de nós recorramos ao "rote learning" (aprendizagem mecânica): limitamo-nos a repetir a informação vezes e vezes sem conta e fazemos com que as crianças a repitam também, esperando que elas se lembrem dela no futuro. Embora esta seja uma abordagem fácil, TORNA-SE aborrecida tanto para elas como para nós. Mais tarde ou mais cedo, acabamos por não ter nenhum prazer ou desafio no ensino e na aprendizagem. Para alterar esta situação, precisamos de aprender novas metodologias de ensino e precisamos de usá-las regularmente com TODAS as crianças. Elas irão então desfrutar de diferentes formas de poderem aprender e TODAS as crianças serão capazes de aprender. Alguns professores já utilizam uma Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 5 gama variada de diferentes metodologias e estão a chegar à conclusão de que o ensino se está a tornar mais recompensador para eles. Shikha Chanda é professora na escola primária pública de Kanchijhuli no distrito de Mymenshingh, a cerca de 120 km da cidade de Daca, a capital do Bangladesh. Já exerce a sua atividade há vários anos, mas recentemente ficou espantada ao ver o entusiasmo dos seus pupilos, de 6 a 10 anos, quando enchiam a sala de aula todas as manhãs. Ela tem estado em formação sobre a aprendizagem no projeto IDEAL e está a tentar aplicar os seus conhecimentos sobre as novas abordagens de aprendizagem na sua sala de aula. Está bastante satisfeita com os resultados. "O projeto IDEAL formou-me nesta nova abordagem de ensinoaprendizagem e imediatamente reparei na diferença. Antes, as minhas crianças estavam apáticas e cansavam-se com facilidade com as constantes palestras e repetições da lição. Agora, estão mais alertas, falam mais e não são tão tímidas." Multiple Ways of Teaching and Learning in Bangladesh. http://www.unicef.org/teachers/forum/0301.htm Atividade de Reflexão: Como TE ensinaram? Pensa como te ensinaram na escola e como te ensinaram a ser professor. Escreve o que pensas sobre estes métodos/metodologias de ensino. Método(s)/metodologias de ensino utilizado(s) Comentários. Foram métodos centrados no professor (como a "rote memorization") ou centrados na relação professor-aluno? Quando andavas na escola Durante a formação de professor Quais destes métodos de ensino te ajudaram a aprender melhor? Está a usá-los na sua sala aula? Como estão os seus alunos a responder a estas metodologias? Estão a aprender de uma forma activa e mostram-se Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 6 satisfeitos? Quais as suas avaliações nos testes, questionários e outros trabalhos? Como Aprendem as Crianças Nenhuma criança tem "dificuldades de aprendizagem", desde que estejam reunidas as condições certas. TODAS as crianças, rapazes e meninas, podem aprender de forma efetiva, especialmente quando aprendem através da prática. Muitos de nós aprendemos através da prática, isto é, através do ato de realizar atividades ganhando experiência. Isto é o que realmente queremos dizer quando falamos em "aprendizagem ativa", "participação das crianças na aprendizagem" ou "aprendizagem participativa". É levar as crianças a adquirir informação nova através de várias atividades e de várias metodologias de ensino. Estas atividades estão muitas das vezes interligadas com as experiências práticas do quotidiano? Esta ligação ajudaas a compreender e lembrar o que estão a aprender e depois a usar essa informação numa fase posterior da sua vida? Quais serão algumas dessas diferentes formas de as crianças aprenderem? Conhecê-las, ajudar-nos-á a desenvolver atividades de aprendizagem mais significativas para as crianças e para nós. Estas atividades irão ajudar, em particular, as crianças que tradicionalmente são excluídas da aprendizagem, mas que nós queremos incluir nas nossas salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem. Aprendizagem Sensorial: Visão, Som e Movimento O que as suas crianças fazem assim que chegam à sua sala de aula pela manhã? Provavelmente estão a olhar para si (visão), estão a ouvi-lo (som) e estão a ver o que você e os colegas fazem (movimento). ELAS ESTÃO A APRENDER! Estes três sentidos - visão, som e movimento - são todos importantes para ajudar a criança a aprender. As crianças com deficiência aprendem do mesmo modo que as crianças sem deficiência, embora algumas dessas crianças possam aprender de forma mais lenta que os seus pares por possuírem limitações num desses sentidos - audição, visão, e movimento. Ao longo dos anos, vimos que 30% das crianças aprendem melhor quando ouvem algo, 33% quando veem algo e 37% através do movimento. Como diz o Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 7 velho ditado "Eu ouço e esqueço; eu vejo e lembro-me; eu faço e percebo". Isto é muito importante! Se apenas ensinamos as crianças quando elas nos ouvem, então apenas 1/3 dos nossos alunos está a aprender algo. A mesma situação verifica-se quando lhes dizemos apenas para escrever algo nos seus blocos. Shikha, no Bangladesh, compreende que diferentes crianças aprendem de formas diferentes e, por isso, varia o seu ensino: "Não usamos apenas uma método do quadro e giz. Ensinando através da canção, dança, recital e teatro é muito mais divertido, e é bastante mais fácil porque as crianças estão realmente concentradas/focalizadas e sentem que estão a aprender através de atividades de que gostam. Para os professores isto significa que quando estamos a planificar as aulas, devemos planear o uso de materiais visuais (posters, desenhos, etc.), de realizar tarefas que envolvam o debate, (ouvir) e que providenciem oportunidades para algum tipo de movimento (por exemplo, o teatro ou a dança que seja possível ligar às diferentes culturas representadas na sua sala de aula). Lembre-se que algumas crianças podem ter algumas dificuldades de visão ou de audição e não irão receber o mesmo input sensorial como as outras crianças. Pergunte a si mesmo: "Que atividades serão relevantes para eles e como posso eu, como professor, adaptar uma atividade de forma a ser mais relevante para a aprendizagem de TODAS as minhas crianças". Diferentes formas de aprender Sabemos que algumas crianças aprendem melhor através da leitura e de apontamentos, outras através do estudo de materiais visuais e outras através do movimento corporal (dança, desporto) ou atividades musicais. Algumas preferem resolver problemas individualmente, enquanto outras preferem a interação com outros para chegarem a uma solução. Portanto, as crianças aprendem de muitas formas. Se observarmos e descobrirmos as várias formas pelas quais as crianças aprendem nas nossas salas de aula inclusivas, podemos ajudar TODAS as crianças a aprender melhor e iremos obter uma maior satisfação do ensino. Shikha, do Bangladesh, reparou que antes de começar a alterar a sua abordagem ao ensino, a frequências às aulas era baixa, mas agora, aumentou e mais crianças vão à escola regularmente. “Agora estão ansiosos por ir para Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 8 a escola. Antes do novo sistema, os professores chegavam à sala de aula e diziam às crianças para lerem, tendo como objetivo o estudo e o silencia dos alunos. Agora a maioria do ensino é através de técnicas participativas e atividades baseadas na aprendizagem. Uma aprendizagem activa e participativa usa diversas técnicas que ajudam as crianças a aprender. As sete vias pelas quais as crianças podem aprender incluem as seguintes. Verbal ou linguística, onde algumas das crianças pensam e aprendem através da escrita e leitura das palavras, e através da memorização. Lógica ou matemática, onde algumas crianças pensam e aprendem através da resolução de problemas e cálculos. Conseguem usar números com facilidade, reconhecer padrões abstratos, e fazer medições precisas. Visual ou Espacial, onde algumas crianças preferem a arte, como o desenho, a pintura ou a escultura. E podem mais facilmente ler mapas, cartas e diagramas. Corporal ou cinestésica onde algumas crianças aprendem através do movimento corporal, jogos e teatro. Musical ou rítmico, onde algumas crianças aprendem melhor através do som, rima, ritmo e repetição. Interpessoal, onde algumas crianças aprendem com mais facilidade em grupos, através de trabalho cooperativo. Elas preferem atividades de grupo, podem facilmente perceber situações sociais e desenvolvem relações interpessoais com facilidade. Intrapessoal, onde algumas crianças aprendem melhor através da concentração e autorreflexão. Elas podem trabalhar sozinhas, estão cientes dos seus sentimentos e conhecem os seus pontos fortes e fracos. Quando as crianças aprendem, podem usar diversas vias de forma a ajudálas na compreensão e na memorização. Sendo assim, é importante que usemos diferentes estratégias de ensino que abranjam a maioria dessas mesmas vias de aprendizagem. Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 9 Shikra tentou aplicar os seus conhecimentos às múltiplas vias de aprendizagem: "A partir do tema da aula e do que as crianças necessitam de aprender, eu tomo em consideração as sete vias para a aprendizagem e tento criar atividades que sejam relevantes para o tema. Por exemplo, um tema numa das minhas aulas de estudos sociais foi as estações do ano e os frutos próprios de cada estação. Eu e as crianças escrevemos um poema sobre os frutos, enquanto outros desenharam e produziram coloridas máscaras de frutos. Cada criança escolheu um fruto favorito, colocou a máscara e representou o papel de um fruto. As crianças trabalharam em grupos, mas também escreveram e leram um pouco. Uma abordagem semelhante foi utilizada no tema ” Profissões na nossa comunidade”. As crianças enumeraram as diferentes profissões, imaginaram e representaram o papel da personagem que gostariam de ser, discutiramnas em grupo, leram histórias sobre elas e jogaram um jogo em que tinham que juntar as profissões às ferramentas utilizadas. Eu tento sempre combinar as competências linguísticas nas aulas de estudos sociais. Ainda estou na fase da experimentação e preciso de fazer compreender à nossa comunidade local que a aprendizagem não se restringe somente à sala de aula." Precisamos de desenvolver planos de aula e orientar salas de aula de forma a assegurar uma aprendizagem activa e efetiva para todas as crianças. Aprenderemos mais sobre planificação de aulas no próximo manual de apoio sobre como gerir salas aulas inclusivas e amigas da aprendizagem. Mas Shikha sabe a importância da planificação de aulas. "Sem qualquer dúvida que a planificação de aulas consome mais tempo hoje em dia, mas é divertido e é um desafio para a minha criatividade. É por vezes difícil conseguir os recursos apropriados de que necessito, mas aprendi a envolver as crianças na planificação das aulas. Sabendo o que é necessário, elas trazem materiais de casa. Desenvolvemos também materiais em conjunto na sala de aula, como máscaras para peças de teatro e ferramentas para as diferentes atividades, jogos e poemas. Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 10 Atividade de reflexão: Melhorando as suas aulas Escolha uma aula que lhe dê prazer lecionar, mas na qual, porventura os seus alunos não correspondem às suas expectativas. Ou, em contra partida, escolha uma aula de que goste que lhe dê mais prazer lecionar. Quais são os pontos fulcrais (informação) que você quer que os seus alunos aprendam? Que métodos está a utilizar para comunicar essa informação? Porque é que acha que não está a resultar? Por exemplo, estão as crianças a utilizar apenas uma das vias para a aprendizagem? Quais as diferentes atividades que pode usar no ensino para que as crianças possam utilizar os diferentes sentidos (visão, audição e movimento) na aprendizagem? Quais são as diferentes vias para a aprendizagem que estas atividades implicam? (Ver as ideias de Shika acima.) Como pode incorporar estas atividades na sua planificação da aula? Como podem as suas crianças contribuir para planear a aula, especialmente aquelas crianças que geralmente não participam na mesma, ou aquelas crianças com diferentes origens e capacidades. Experimente essa aula! Se se sentir confortável ao fazê-lo, pergunte aos seus alunos se gostaram da aula. Quais as atividades de que gostaram mais? Pode usar essas atividades noutras aulas? Barreiras à aprendizagem Lembra-se de uma criança que numa das suas aulas era demasiado tímida, não gostava de participar, nunca punha o dedo no ar na sala de aula, e que também não aprendia? Uma das razões para o comportamento dessa criança pode estar relacionado com o facto de ele ou ela possuir uma baixa autoestima. Esta criança não estava confiante nas suas capacidades, ou/e ele ou ela poderia pensar que não era um membro valioso da turma. Estudos demonstraram uma estreita ligação entre a forma como as crianças se veem a si mesmas e a sua performance na aprendizagem. Descobriram Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 11 que uma criança que possui uma baixa autoestima, resultante de um comentário negativo (críticas), interioriza -o de tal forma que prefere evitar a tarefa com medo de falhar. Atividade Prática: O valor da autoestima Pegue num pedaço de papel e desenhe uma cara. Isso representa uma das suas crianças/alunos. Pense nas coisas que adultos podem dizer-lhe que façam com que ele ou ela se sinta mal consigo mesmo. Para cada exemplo que encontre, ou observe durante a semana, rasgue uma parte do papel. És burro! Repara no número de respostas que erraste! Bastam apenas três ou quatro comentários destes para acabar com a autoestima de uma criança. NOTA: Você pode fazer esta atividade em conjunto com as crianças de forma a ajudá-las a perceber os sentimentos dos outros e como as suas ações podem afetar esses mesmos sentimentos. Quando ouvimos comentários depreciativos feitos a crianças, precisamos de transformá-los em comentários positivos. Por exemplo, um comentário depreciativo, “Repara no número de respostas que erraste!” pode ser alterado para “Repara no número de respostas que acertaste!”, “Vamos fazer com que acertes ainda mais da próxima vez”, “O que é que te ajudou a lembrar as respostas que acertaste?” Antes de participarem por inteiro no processo de aprendizagem, as crianças precisam de acreditar que podem aprender. As crianças desenvolvem a sua auto estima e identidade à medida que crescem, e os adultos desempenham um papel fundamental nesse mesmo crescimento. Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 12 As crianças podem ser prejudicadas quando o seu sexo, passado étnico ou capacidades não são valorizados, ou quando são usadas para as inferiorizar. Não conseguimos dar às crianças uma boa autoestima mas podemos, no ambiente certo e com as condições certas, desenvolvê-la. TODAS as crianças devem: Sentir que elas e as suas contribuições são valorizadas; Sentir-se seguras (física e psicologicamente) no ambiente de aprendizagem; e Sentir que são únicas e as suas ideias são valorizadas. Por outras palavras, as crianças devem ser valorizadas pelo que são. Devem sentir-se seguras, e devem poder expressar as suas ideias e ter sucesso na sua aprendizagem. Isto ajuda as crianças a gostar de aprender e os professores podem reforçar esse prazer através da criação de uma sala de aula mais divertida onde a autoestima das crianças seja promovida através do elogio; onde a cooperação e a amizade dentro dos grupos seja encorajada, e onde as crianças tenham sucesso e se divirtam a aprender coisas novas. Atividade prática: Melhorar a auto estima Esta atividade pode ser feita por professores, alunos, pais ou outras pessoas. Divida uma folha de cartolina grande ou outra superfície de escrita em 3 colunas iguais. Na coluna da esquerda, enumere as situações que ocorrem na sua sala de aula em que os alunos NÃO se sentem valorizados, seguros ou únicos. Na coluna do meio, na mesma linha, explique a razão pela qual acha que o ambiente externo ou as pessoas provocam esse sentimento nas crianças. Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 13 Na coluna da direita enumere o que pode ser alterado para que as crianças se sintam valorizadas, seguras e únicas, assim como deve processar essas mudanças. Use esta atividade como um ponto de partida para desenvolver planos de Acão que permitam melhorar a autoestima das crianças e a aprendizagem na sua sala de aula, na escola e na comunidade. As crianças criam o seu próprio conhecimento e significado de forma activa As crianças aprendem através da ligação de novas informações a informações que já conhecem. Isto tem o nome de construção mental. Falar e colocar perguntas em conjunto (interação social) pode melhorar a aprendizagem, é por essa razão que o trabalho em pares e pequenos grupos é tão importante. O nosso papel como professores não é o de despejar informação na mente das crianças, mas também não é correto deixar que a criança descubra tudo por si mesma. Devemos procurar ativamente formas que suportem a aprendizagem, recorrendo a informações que as crianças sabem de antemão (resultantes de uma aprendizagem anterior). A criança pode ser lenta a ajustar-se à aprendizagem na escola e pode não saber o que responder quando lhe fizerem uma pergunta. Neste caso, deverá estabelecer uma boa relação com a criança de modo a perceber a melhor forma de a ensinar. Por exemplo, quais são as tarefas simples que esta criança consegue fazer? Quais as letras do seu nome que ela conhece e consegue copiar de forma legível? Quais os números que conhece e consegue associar a objetos numa sala? Quais as coisas especiais de que esta criança gosta e consegue dialogar com o professor, outra criança, ou mesmo com uma simples marioneta na sala de aula? Consegue esta criança cantar ou jogar jogos? E para mais como podemos nós relacionar a escola com o sítio onde a criança mora ou com a sua comunidade? Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 14 Atividade Prática: Ligando a casa à sala de aula Na tabela em baixo, enumere as atividades que as suas crianças possam ter aprendido em casa e que também podem utilizar na escola. Como pode incorporar essa informação na sua planificação das aulas? Como pode envolver as suas crianças na planificação das aulas? Nome da criança O que está criança aprendeu em casa? Como pode ser usado na escola? Nenhuma criança chega à escola sem ter aprendido algo em casa ou na sua comunidade. Quer dentro ou fora da escola, as crianças respondem a situações novas de muitas maneiras diferentes. Algumas dessas maneiras serão úteis na escola, enquanto outras não. É nossa responsabilidade descobrir o que a criança sabe e as competências que já adquiriu até agora. Podemos depois aumentar esse mesmo conhecimento e essas competências ensinando-lhes coisas novas. Mas para fazer isso, devemos observar com atenção como é que as nossas crianças aprendem ideias novas, competências e valores. Em muitos casos, as experiências das meninas serão bastante distintas das dos rapazes. Na escola, as nossas crianças enfrentam muitas tarefas que podem ser muito diferentes das tarefas e problemas que resolveram fora da escola. Algumas crianças podem nunca ter segurado num lápis; outras podem nunca ter visto um livro; enquanto outras podem não falar a mesma língua do professor ou dos seus colegas. Por isso, é muito importante estabelecer ligações entre o que as crianças já sabem de antemão e conseguem fazer, e as novas tarefas que são exigidas na sua sala de aula. Como pode isto ser feito? Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 15 Atividade prática: Criando relações para os alunos A um nível básico, é esperado que as escolas ensinem as crianças a ler e a usar números. Quando as crianças vão para a escola, e mesmo no seu primeiro dia de aulas, quais são as atividades simples que podem realizar, de forma a terem mais sucesso na aprendizagem dos números? Aqui estão alguns exemplos. Lembra-se de outros? Com a ajuda das crianças, coloque etiquetas nos objetos da sala, com os nomes que lhes damos (na língua ou línguas que as crianças usam), por exemplo, secretária, cadeira, as carteiras com os nomes das crianças, quadro, números em grupos de objetos, etc. Quais as crianças que conseguem associar os objetos às palavras que os designam? Certifique-se de dizer a cada uma das crianças pelo menos uma coisa que ela tenha feito bem. Sublinhe as palavras de uma canção que as crianças já sabem ou que possam facilmente aprender. Veja quem consegue adivinhar o significado das palavras. Pode introduzir palavras novas numa canção que as crianças já saibam de cor. Cantar é uma parte importante da aprendizagem, porque ajuda as crianças a respirar, a aumentar o vocabulário e o ritmo; e desenvolve a solidariedade no seio da turma. Seja claro quando dá indicações na sala de aula. Organize as crianças mais velhas de forma a ajudar os mais pequenos a compreender as indicações que lhes deu. Pode ter uma criança recém-chegada à sua sala de aula que não consegue falar a língua. Neste caso, é muito importante descobrir o que esta criança consegue fazer. É muito útil se conseguir falar com a criança individualmente, usando o seu nome, na sua língua materna. Se isto não for possível, procure outras crianças ou até mesmo outros membros da comunidade que podem ajudá-lo(a) a comunicar e a estabelecer laços entre a língua dele ou dela e as atividades na sua sala de aula. Por exemplo, consegue usar uma canção na língua nativa da criança para ensinar-lhe palavras novas que são utilizadas como língua de instrução na sua sala de aula? Pode substituir as palavras de uma canção que a criança já sabe de antemão na sua língua nativa, de forma gradual, para as utilizadas na língua da sala de aula? Pode utilizar esta canção para ensinar a todas as suas crianças o valor das diferentes línguas? Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 16 É através da criação destas simples tarefas que as crianças podem atingir o sucesso, e especialmente no princípio do ano escolar até as crianças mais tímidas irão começar com o pé direito. Elas estarão confiantes de que a escola é um bom lugar para estar, um lugar onde se sentem seguras, e um lugar para explorar e aprender. É AMIGO DA PRENDIZAGEM! Dicas para o ensino e aprendizagem As aulas precisam de ser estruturadas à volta de "grandes ideias" em vez de pedaços de informações desconexas. Desta forma, as crianças têm um guarda-chuva debaixo do qual podem associar novas informações às que já têm. Uma grande ideia pode ser algo como "a água é importante para a vida", e o tópico pode ser "hoje iremos aprender como manter a água limpa." Precisamos de ter em conta as necessidades de desenvolvimento das crianças. Algumas crianças necessitarão de mais tempo para progredir do que outras. Precisamos de ser os facilitadores da aprendizagem e reconhecer as características únicas dos nossos alunos. O ambiente de aprendizagem deverá compreender todos os alunos. Os alunos precisam de falar em conjunto com o seu professor e entre eles, durante as atividades, quer de carácter individual, quer de grupo. Precisamos de planear atividades que encorajem TODAS as crianças a trabalhar em equipa, tais como trabalhar em pares ou pequenos grupos em tarefas relevantes. Os alunos devem achar que o programa é útil para eles, devem ser encorajados a fazer perguntas e a trabalhar a informação, e serem capazes de construir o seu próprio conhecimento da matéria em questão. Precisamos de fazer as perguntas certas que permitam aos alunos explicar as suas ideias. Em vez de fazer perguntas que necessitam apenas uma resposta de "Sim" ou "Não", precisamos de fazer perguntas abertas à interpretação, permitindo que os alunos expressem a sua visão, as suas ideias e as suas opiniões; por exemplo, podemos fazer perguntas do género "o que é que tu pensas sobre isto?" Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 17 Perguntas cuidadas feitas pelo professor e discutidas ativamente pelos alunos irão estimular nas crianças a procura de mais informação. Interagindo com outras, recebendo informações novas e refletindo ideias, ajudam as crianças a construir novos conhecimentos. LEMBRE-SE: Antes de iniciar um novo tópico, necessita de perguntar a todas as crianças o que elas já sabem sobre o mesmo. Fazendo esta pergunta irá ajudar as crianças a relacionarem-se com o assunto. Se for algo familiar, irá ajudá-las a compreendê-lo e a aprendê-lo mais rapidamente. Muito do seu conhecimento pode ter sido aprendido fora da sala de aula, por exemplo, em casa ou nas comunidades. Esta informação irá ajudar-nos a ligar o que elas já sabem de antemão da sua vida quotidiana, com o novo conhecimento que estamos a tentar transmitir-lhes. Além do mais, algumas crianças podem ser "especialistas" em certos assuntos, como pesca ou cultivo de vegetais, e deverão ser dadas oportunidades a estas crianças para apresentar o seu conhecimento para o benefício dos outros colegas de turma. Além do mais, as crianças irão aprender melhor através de uma aprendizagem cooperativa (“podemos fazer isto em conjunto”) em vez de uma aprendizagem competitiva (“sou melhor nesta tarefa do que tu, porque tu és..."). Se bem organizado, trabalhar em grupos mais pequenos encoraja as crianças a aprender em conjunto. Esta interação é especialmente importante quando os grupos são constituídos por rapazes e meninas, ou quando têm crianças com diferentes origens e capacidades. Além disso, a aprendizagem cooperativa pode melhorar a disciplina na sala, porque as crianças estão a trabalhar em conjunto em vez de causarem distúrbios. Isto dá-nos tempo para ajudar as crianças individualmente ou em pequenos grupos. Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 18 Ferramenta 4.2 Lidando com a diversidade na sala de aula Valorizar e encorajar a diversidade Todas as salas de aula são diferentes porque todas as crianças são únicas. Uma sala de aula heterogénea pode ter efeitos positivos para todos os alunos. As crianças têm diferentes experiências, capacidades, conhecimentos e atitudes. Todas as crianças podem contribuir e adicionar alguns ingredientes ao "pote" de aprendizagem. O professor serve como um facilitador que providencia o ambiente certo e as oportunidades para todas as crianças aprenderem ativamente. As crianças (e por vezes adultos) precisam de aprender que a diversidade é uma dádiva e não um fardo. No livro de apoio 2 sob a ferramenta 2.2, aprendemos uma atividade chamada "Nomear Favoritos" onde os pais e até as crianças aprendem o que significa ser excluído e a razão pela qual a inclusão é importante para todos. Atividades semelhantes à que se segue, podem ser realizadas de forma a ajudar, quer as crianças, quer os seus pais, a compreender o valor da diversidade. Atividade Prática: Troca de prendas - Conhecimento mútuo Os professores em conjunto podem usar esta atividade quando se encontram pela primeira vez. Podem também usá-la quando conhecem os seus alunos no princípio do ano letivo ou até mesmo na primeira reunião entre Pais e Professores. Para esta atividade, os participantes trabalham em pares. Devem fazer perguntas livres mutuamente de forma a descobrir quais as qualidades especiais de cada um, que pode vir a beneficiar o grupo no seu todo. A declaração final deverá ser escrita num pequeno cartão oferta e deve dizer algo como: “O nome do meu amigo é... ……. e ele tem o dom da paciência.” “O nome do meu amigo é ……..e ela tem o dom do sentido de humor” Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 19 Cada par de participantes apresenta à vez o seu colega, apresentando as suas competências ao grupo. Deverão mencionar como essas competências podem beneficiar todo o grupo. O professor, ou outro participante em causa, deverá ter decorado uma caixa na qual cada um dos participantes deposita o seu cartão, após apresentar o seu parceiro a todo o grupo. Esta atividade pode realçar a necessidade da valorização de todas as crianças na sala de aula, bem como salientar as qualidades pessoais que nem sempre são assim tão óbvias para o observador casual. A nossa responsabilidade é ir mais além, e descobrir a qualidade única que cada criança possui. Podemos depois criar experiências de aprendizagem que permitam que essas qualidades sejam usadas e desenvolvidas. Atividade Prática: Páginas Amarelas - Conhecer-se e aprender em conjunto Nesta atividade, os participantes organizam-se aos pares e é-lhes pedido para refletirem sobre os seus talentos, interesses, ou passatempos. Depois cada elemento comunica ao seu parceiro alguns aspetos que lhe interesse e ensinam-lhe algo que não saiba. Se possível, cada participante deverá ter um pedaço de papel amarelo para escrever. Deverão ouvir o seu parceiro em primeiro lugar, para depois escrever o talento ou habilidade no topo, seguido do nome do seu parceiro e de algumas das coisas que aprenderam sobre essa competência. Por exemplo, Competência: Pesca Jan Mouzinho O que aprendi. É melhor pescar à noite. Águas paradas é bom. Esperar pela Lua certa. Iscos diferentes para peixes diferentes Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 20 Depois de os parceiros terem terminado de falar sobre os seus interesses e dependendo do tempo disponível, o orientador da sessão pode pedir a um voluntário para se dirigir à plateia. Os outros participantes podem então fazer até 5 perguntas, de forma a descobrirem o talento do seu parceiro. Ou, um voluntário pode representar o talento do seu parceiro, e os outros podem tentar adivinhar qual é. As páginas amarelas podem depois ser agrupadas num quadro conforme a capacidade expressa, por exemplo, todas as capacidades de jardinagem são agrupadas num grupo, todas as capacidades nas artes noutro, todas as capacidades desportivas noutro e por ai adiante. O que podemos aprender com estas atividades? Em Timor Leste, os professores mencionaram que: Aprenderam a ouvirem-se mutuamente, Acabaram por se conhecer melhor; Aprenderam a comunicar melhor, de forma verbal e não-verbal; Que são uma equipa boa com muitos talentos; Aprenderam a fazer perguntas livres, e Aprenderam uns com os outros. O orientador da sessão pode referir que uma das lições mais importantes é o facto de podermos ver que todos nós temos um talento, e esses talentos podem ser usados no nosso trabalho como professores e alunos. Os professores devem assumir que toda a criança contribui com algo positivo. Embora o professor tenha que descobrir o que é. As crianças podem também adotar o papel de professores, ensinando e aprendendo umas com às outras. Incluir diferentes formas de pensar, de aprender e de saber na sala de aula No manual anterior, ficámos a saber que as crianças aprendem de muitas formas diferentes e a vários níveis; isto é, existe uma diversidade na aprendizagem. Como consequência, nós como professores precisamos de conceber diferentes formas de aprendizagem, recorrendo a diferentes Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 21 métodos, de forma que todas as crianças consigam perceber a informação que lhes é proporcionada e possam aprender de uma forma significativa, especialmente aquelas que têm diferentes origens e capacidades. A variedade das atividades de ensino e aprendizagem na sala de aula vai desde a memorização e repetição, até à resolução de problemas e pensamento criativo. ∞ Memorização Análise Síntese Resolução de Problemas Nas nossas salas de aula, podemos ver as várias formas que nos permitem lidar com este intervalo no seu todo. Por exemplo, podemos: Usar blocos, modelos, e outros objetos para ensinar matemática, que vão despoletar as capacidades motoras e reconhecimento visual das crianças; Convidar as crianças a falar sobre (ou escrever sobre) ideias e processos matemáticos, que ligam o seu pensamento verbal ao reconhecimento de certos conceitos matemáticos. Pedir às crianças para ilustrarem as histórias que lhes lemos, que liga o seu pensamento visual às palavras e eventos na história, e Ajudar as crianças a criar mapas da área que rodeia a escola, que liga a sua experiência de deslocação no espaço a conceitos visuais e matemáticos. Quando as crianças observam a sua comunidade, identificam problemas e usam as suas capacidades de forma cooperativa, na solução desses mesmos problemas, elas estão a aprender a aplicar o que aprenderam na escola. Para além de ser uma prática de boa educação, este processo ajuda a comunidade a perceber o papel da escola e a sentir-se mais motivada na ajuda ao trabalho dos professores (ver o Manual de Apoio 3 e 6). Para que a sua sala de aula seja totalmente inclusiva, tem de tornar o programa acessível e relevante para TODAS as crianças, nomeadamente no que diz respeito às matérias que ensina (conteúdo), à forma como ensina, ao processo de aprendizagem e à forma como se relaciona com o meio onde as crianças vivem e aprendem. Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 22 Devemos também considerar as crianças que possuem dificuldades na aprendizagem ou falhas no processo de aprendizagem. Estaremos a ter em conta que estas crianças podem sentir dificuldades com o programa inicial, como por exemplo as crianças com deficiências visíveis quer a nível físico, quer aos níveis sensorial e intelectual? Será o programa acessível a estas crianças de igual modo que o é para as restantes? O que podemos fazer em relação a isto? Atividade Prática: Observar a diversidade 1. Anote numa página o nome das crianças que estão na sua sala de aula que têm mais facilidade em certos assuntos, tais como, a matemática, a escrita, a discussão, etc. Descreva como são demonstradas essas mesmas capacidades na sala. 2. Anote numa página o nome das crianças que possuem outros talentos que podem estar indiretamente ligados à aprendizagem na sala de aula. Tem alguma criança mais jeito para a construção de modelos? Uma outra apresenta boa coordenação motora ideal para o desporto e jogos? Possui, uma outra, capacidades sociais muito boas? Por exemplo, as crianças com a síndrome de Down costumam ter por norma capacidades sociais acima da média. 3. Agora desenhe um círculo na página de forma a representar as restantes crianças da sua sala de aula, aquelas nas quais não vislumbra nenhum talento ou capacidade especial. Na semana seguinte observe mais atentamente essas crianças. Se reparar que uma delas prefere uma determinada atividade, anote num papel. Como é que esta atividade ou como é que o desempenho desta criança nessa atividade pode refletir-se na sua forma de aprender? Como podem ser estas capacidades incorporadas nas suas aulas/lições? Ao observar e lidar com a diversidade, precisamos de identificar o que precisamos de fazer, isto é, as formas positivas de ajudar as crianças a aprender, especialmente aquelas que possuem dificuldades na aprendizagem. Não nos devemos focar no que devemos "pôr de parte" (concessões), como o nosso tempo, mas sim nos benefícios para a aprendizagem para as nossas crianças. Por exemplo, podemos pedir a uma outra criança que leia e escreva para ela? Ao mesmo tempo, podemos identificar quais as capacidades que Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 23 possui a criança com dificuldades e de que forma o seu parceiro pode beneficiar com essas capacidades? Por outras palavras, precisamos de criar uma ligação entre ambas que contribua para uma aprendizagem mútua. Desafios à diversidade Ter muitas crianças com diferentes origens e capacidades numa sala de aula única e inclusiva tem os seus problemas. Temos que considerar que cada criança necessita de aprender e como ele ou ela aprende melhor. Precisamos de arranjar uma forma a partir da qual todas as crianças trabalhem alegremente e em conjunto. Existem 3 problemas que podem impedir as crianças de aprender eles são: Bullying, preconceito e a discriminação. Aprender a lidar com estes problemas numa sala de aula inclusiva é uma das tarefas mais importantes que o professor deve fazer. Bullying O Bullying é uma forma de violência. No Manual de Apoio 6 - Criar um ambiente escolar protegido e saudável, iremos aprender outras formas de violência que podem existir numa escola, como reconhecê-las e como desenvolver políticas escolares efetivas contra a violência. Neste manual de apoio iremos olhar para o bullying em particular, visto que as ameaças e o medo poderem vir a impedir a aprendizagem das crianças nas nossas salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem. Quando pensamos no bullying, geralmente pensamos numa criança ou um grupo de crianças (os agressores) que ameaçam outra criança (a vítima) na maioria das vezes, porque a vítima é diferente deles de alguma forma. Elas podem ser melhores na escola que os agressores em termos de aprendizagem (têm melhores notas); podem pertencer a um grupo cultural diferente, tal como uma religião diferente; ou podem ser mais pobres. O comportamento dos adultos e professores, e não apenas das crianças, também pode ser considerado bullying. Existem vários tipos de bullying; por exemplo: Bullying físico: violência entre pares, por parte de um professor ou da pessoa que cuida da criança; Bullying psicológico: desprezo pelas ideias da criança; Bullying emocional: baixa autoestima, perseguição, momentos embaraçosos na escola, ou ausência de recompensas, que pode estar relacionado com ameaças psicológicas; Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 24 Bullying verbal: insultos, chacotas e comentários racistas; Bullying indireto: boatos ou exclusão de grupos sociais; Cultural ou bullying social: preconceito ou descriminação social (grupo étnico, casta, géneroetc.) Bullying usa por norma um tipo de comportamento agressivo que tem o propósito de magoar as outras pessoas de forma deliberada. Pode continuar por semanas, meses ou até mesmo anos. Sem ajuda, é muito difícil para as vítimas defenderem-se. Em muitas sociedades, aqueles que são diferentes são muitas das vezes as vítimas. Podem ser diferenças devido ao sexo, etnia, uma deficiência ou outra característica pessoal. Embora os rapazes estejam na maioria envolvidos em atividades de bullying físico, as meninas tendem a usar formas mais subtis e indiretas de bullying como troçar de alguém e podem juntar-se para atormentar as vítimas, em vez de o fazerem de forma individual. A vítima muitas vezes não admite estar a ser alvo de bullying porque tem medo que isso traga repercussões. Para as crianças vítimas de um adulto, muitas não estão dispostas a admiti-lo, devido ao medo desse adulto e dos outros adultos no geral. Para os professores é muito difícil lidar com o bullying, porque na maioria das vezes acontece fora da sala de aula, como no caminho para casa ou no recreio. No entanto, os efeitos do bullying geralmente influenciam a aprendizagem da vítima na nossa sala de aula. Não podemos menosprezar o bullying e precisamos de encontrar maneiras de saber qual a sua extensão nas nossas salas de aula. A observação é uma capacidade chave, e precisamos de observar as crianças quando estão no recreio assim como na sala de aula. As crianças que estão sempre sozinhas ou têm poucos amigos, ou são diferentes de alguma forma, podem ser os alvos de bullying. Sinais de bullying incluem: Crianças que perdem a confiança de repente; Crianças que evitam o contacto visual e estão muito quietas; Aquelas que não estão bem na escola, mas que anteriormente aprendiam facilmente; Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 25 Aquelas que começam a faltar à escola, ou começam a ter dores de cabeça inexplicáveis ou estranhas dores de estômago. É preciso dialogar com os pais e os encarregados de educação, mas devemos estar atentos a alterações de comportamento das crianças. Devemos tomar notas, de forma a identificar alterações do padrão de comportamento das crianças que possam indicar bullying. É também possível realizar um inquérito, de forma a ter uma melhor perspetiva das relações dentro da sala de aula ou da escola. Abaixo são apresentados dois questionários. O primeiro é uma lista de controlo sobre comportamento de bullying. O segundo é um questionário mais extenso que visa recolher respostas sobre as relações dentro e fora da escola, mas 1 também nas nossas aulas. Pode pedir aos seus alunos para preencherem os questionários de forma anónima. 1. Ocorrência do bullying Nunca ocorreu Ocorreu uma vez Ocorreu mais do que uma vez Empurraram-me, pontapearam-me, ou atingiram-me de propósito. As outras crianças inventaram histórias más sobre mim. Tiraram-me coisas. Chamaram-me nomes porque sou diferente das outras crianças. 1 Esta lista de controlo foi adaptada de listas de controlo originalmente feitas por Tiny Arora e publicadas no livro “Tackling Bullying in Your School: A Practical Handbook for Teachers,” S. Sharp and PK Smith, editors. Routledge. 1994. Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 26 Nunca ocorreu Ocorreu uma vez Ocorreu mais do que uma vez Chamaram-me nomes por outras razões. Riram-se de mim ou insultaram-me por nenhuma razão em particular. Puseram-me de parte de um jogo de propósito. De alguma forma, alguém foi mau para mim. 2. Questionários sobre relações Género: masculino ____ feminino ____ Idade ___ Ano ___ Durante esta semana na escola, outra criança: Chamou-me nomes que não gostei Disse algo gentil sobre mim Tentou pontapear-me Deu-me um presente Nunca ocorreu Ocorreu uma vez Ocorreu mais do que uma vez Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 27 Durante esta semana na escola, outra criança: Foi má para mim, porque sou diferente Disse que me ia magoar Tentou que eu lhe desse o meu dinheiro Tentou assustar-me Não me deixou jogar com ela Contou-me uma piada e depois riu-se de mim Tentou fazer com que eu aleijasse outras crianças Disse-me uma mentira e fez com que eu ficasse em apuros Ajudou-me a carregar algo Ajudou-me nos trabalhos de casa Foi grosseiro no modo como eu ando Foi mau devido à cor da minha pele Jogou um jogo comigo Nunca ocorreu Ocorreu uma vez Ocorreu mais do que uma vez Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 28 Durante esta semana na escola, outra criança: Nunca ocorreu Ocorreu uma vez Ocorreu mais do que uma vez Tentou partir um brinquedo meu Após analisar os resultados dos inquéritos, podemos identificar aqueles que estão dispostos a referir se são alvo de bullying e aqueles que provavelmente praticam tais atos. Mas seja cuidadoso, embora algumas crianças possam ser alvo de bullying, podem não estar dispostas a referi-lo neste inquérito. Embora o inquérito seja anónimo, poderá mesmo assim ajudá-lo a perceber a extensão do bullying na sua sala de aula. Com esta informação, poderá começar a planear ações com outros professores, pais, encarregados de educação e as próprias crianças. Medidas contra o Bullying De forma a reduzir o bullying, os professores devem tomar várias medidas, tais como: Conduzir exercícios que ajudem as crianças a relaxar e a reduzir tensão; Aumentar a aprendizagem cooperativa dentro da sala de aula (crianças ajudando-se mutuamente na aprendizagem); Melhorar a assertividade das crianças, dando a todos os estudantes mais responsabilidades, permitindo-lhes criar regras e ganhar responsabilidades no seio de um comité de estudantes; Aumentar a responsabilidade dentro da sala de aula através da criação de comités que permitam trabalhar de forma mais próxima com os pais e a comunidade local; Desenvolver estratégias de interação criança-criança que permitam lidar com conflitos; e Permitir que as nossas crianças identifiquem quais as medidas disciplinares que devem ser tomadas face às pessoas que praticam o bullying. Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 29 Os professores também podem recorrer ao teatro ou a marionetas de forma a explorar a extensão do bullying, as suas causas e as soluções quando ocorre no interior ou no exterior da escola. Por exemplo, professores na Guyana criaram marionetas e construíram pequenas peças de teatro para ilustrar os aspetos mais importantes do bullying racial. Depois, desenvolveram planos de Acão que lhes permitiam ajudar as crianças que eram alvo dessas situações. Também se podem usar discussões ou debates sobre assuntos sensíveis assim como histórias ou a troca de papéis que permitam às crianças tentar dizer “NÃO!” de forma assertiva assim como encontrar a linguagem certa que possam utilizar contra os bullies e os abusadores. Preconceito e Discriminação Muitas vezes o bullying nasce do preconceito (comportamento injusto ou opiniões sobre as pessoas) e da discriminação (distinções injustas entre diferentes grupos de pessoas: “eles” contra “nós”). Uma forma de compreender como o preconceito e a discriminação têm lugar nas nossas salas de aula e escolas é explorando as nossas próprias experiências. Atividade prática: Compreender a Discriminação Esta atividade pode ser feita com professores, pais, ou outras crianças. O objetivo é desenvolver a capacidade de compreensão face às diferentes formas de opressão que afetam os indivíduos (preconceito e discriminação) nas escolas. Além disso, esta atividade encoraja a pessoa a refletir sobre o seu caso, se foi alvo de preconceito ou discriminação. Podem-se retirar importantes lições desta atividade, como as que seguem: Toda a gente pode ser ao mesmo tempo o opressor e a vítima de opressão. Todos os indivíduos reconhecem o preconceito e discriminação quando deles são vítimas, mesmo numa tenra idade. Instruções: O tempo necessário para esta atividade depende do tamanho da turma ou do grupo. Dê pelo menos dez minutos a cada aluno, ou a cada pequeno grupo de alunos. Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 30 Divida os participantes em grupos de cinco ou seis. Diga-lhes para partilharem uma história em que viram preconceito ou experienciaram discriminação, num ambiente escolar. Algumas dicas e orientações podem ajudar. 1. A prática prejudicial ou discriminatória pode não ter sido intencional. 2. As suas experiências podem envolver estudantes, professores, administrativos, ou o próprio ambiente escolar em si. 3. Mencione o que eles possam pensar do currículo, métodos de ensino, materiais educacionais, relações e outros aspetos do ambiente escolar. 4. Lembre aos participantes que a identidade é multidimensional. Por norma as pessoas pensam logo em raça ou etnia nesta atividade. Tente ajudá-los a ver outras dimensões/formas de discriminação ou de preconceito, tais como a crença de que as meninas não são tão boas a ciências ou que as pessoas com deficiências não podem praticar desporto. 5. Finalmente, sugira que as suas experiências podem ser enquanto oprimido ou opressor. Poucas pessoas irão escolher o último, mas quando alguém o escolher, fornece-nos um poderoso indício para reflexão. Dê a cada participante cinco minutos para poderem partilhar a sua história, e mais cinco minutos, se necessário, para que possam responder às questões sobre a mesma. É importante aprender sobre as experiências de todos e chegar a conclusões de como essas mesmas experiências as fizeram sentir, quando ocorreram. Pode também perguntar aos participantes como é que as suas experiências afetaram as suas atitudes, ou como é que a situação poderia ter sido evitada. Quando todos tiveram uma oportunidade de contar a sua história, pode colocar várias questões de forma a dar início a uma discussão sobre preconceito e discriminação nas salas de aula e nas escolas: 1. Como se sentiu ao partilhar a sua história pessoal sobre preconceito e discriminação. 2. O que aprendeu quer da sua própria experiência ou da história de outra pessoa que se possa refletir em mudanças, quer na sua forma de ensino quer na sua vida diária? Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 31 3. Quais foram algumas das conexões que encontrou entre as histórias? Descobriu alguns padrões interessantes? 4. Alguém teve dificuldade em recordar-se de um incidente ou a lembrar-se quando foi a primeira vez que reconheceu o preconceito ou discriminação num ambiente escolar? Se sim, porquê? 5. As histórias que as outras pessoas contaram, lembraram-lhe outros incidentes da sua própria experiência? Preconceito no programa e nos materiais de ensino O preconceito e a discriminação podem refletir-se intencionalmente no nosso programa e nos nossos materiais de aprendizagem. Este é especialmente o caso das meninas, das crianças afetadas com o VIH/SIDA, assim como outras crianças que possuem diferentes origens e capacidades. Por exemplo, as crianças que vivem ou trabalham nas ruas podem ser retratadas nos livros escolares ou livros de histórias para crianças como carteiristas ou ladrões, e as crianças que trabalham podem ser retratadas como pobres, apesar de possuírem muitas qualidades, tais como excelentes capacidades sociais assim como capacidades de sobrevivência. Se os nossos materiais curriculares forem inclusivos para crianças com diferentes origens e capacidades, elas ficarão mais sensibilizadas para a diversidade e as suas circunstâncias. Estes materiais serão também mais relevantes na aprendizagem da criança. O mesmo se passa com os materiais inclusivos para meninas. Como aprendemos no manual de apoio 3, os papéis sociais afetos a mulheres e homens (papéis de género) podem ser diferentes dentro da sociedade. Crenças tradicionais sobre o estatuto e os papéis dos homens face às mulheres podem restringir a acesso de uma meninaà educação. Em comunidades onde se acredita que as mulheres são inferiores aos homens, as meninas, por norma, ficam em casa, não indo à escola, de forma a fazerem trabalhos domésticos. Estes papéis, crenças e ações que discriminam as meninas podem refletir-se nos materiais de ensino que estamos a usar. Quando as meninas se veem representadas em livros como sendo passivas e os rapazes ativos, podem assumir que elas também devem ser passivas. Na maioria dos casos, isto reflete-se num fraco desempenho escolar, especialmente na matemática e nas ciências. Por exemplo, as meninas podem sentir-se desencorajadas a utilizar materiais matemáticos ou renitentes a tomar parte em investigações científicas porque podem ser vistas como "marias-rapazes." Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 32 A igualdade no desenho curricular é muito importante como forma de assegurar uma sala de aula inclusiva. Os materiais de ensino que usamos são inclusivos quando: Incluem TODAS as crianças, mesmo aquelas com diferentes origens e capacidades; São relevantes para as necessidades e capacidades de aprendizagem da criança; São adequadas à cultura; Valorizam a diversidade social (por exemplo, diversidade económicosocial: famílias pobres podem ser excelentes famílias para as crianças; podem arranjar soluções criativas para os problemas, e podem ser vistas como inventivas); São úteis para a sua vida futura; Incluem os homens e mulheres numa variedade de papéis; Utilizam uma linguagem adequada que inclui todos estes aspetos de igualdade. Como pode verificar se os materiais que está a usar refletem o género e a igualdade étnica? 1. Veja as ilustrações. Procure estereótipos, isto é, imagens ou ideias sobre pessoas que são apresentadas como dados adquiridos, embora possam não ser totalmente verdadeiras, tais como homens como “chefes de família” e mulheres como “encarregadas de educação ou educadoras”. Nas ilustrações, existe um grupo cultural dominante ou são os homens as personagens dominantes? Quem está a fazer o quê? As crianças com deficiência são apenas espectadores passivos, ou estão envolvidos nas atividades como jogar à bola com os outros? Parecem-lhe felizes? 6. Veja a fio condutor da história. Como são apresentados, concebidos e resolvidos os problemas na história? O fio condutor encoraja uma aceitação passiva ou uma resistência activa por parte das personagens da "minoria" (como tribos ou pessoas com deficiências)? Os sucessos das meninas e mulheres são baseados na sua própria iniciativa e inteligência, ou são devidos à beleza? Poderia contar-se a Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 33 mesma história se os papéis de homens e mulheres fossem invertidos? 7. Veja o estilo de vida. Observe se as ilustrações e o texto tentam mostrar uma cultura diferente, tentam simplificá-la ou dão uma visão genuína sobre outros estilos de vida? 8. Veja as relações. Quem possui o poder? Quem toma as decisões? As mulheres desempenham essencialmente um papel de suporte ou mesmo subordinado? 9. Repare nos heróis. São os heróis normalmente de um grupo cultural específico? São as pessoas com deficiência alguma vez retratadas como heróis? São as mulheres vistas como heróis? 2. Considere os efeitos na autoimagem da criança. Existem algumas sugestões que possam limitar as aspirações da criança? Isto pode afetar as perceções da criança sobre si mesma. O que acontece à autoestima de uma meninas quando ela lê que os rapazes fazem todas as tarefas importantes mas as meninas não?2 Como forma de olhar para estes problemas, use a seguinte lista de verificação para confirmar se os materiais de aprendizagem são equitativos e inclusivos. Lista de verificação para a igualdade nos materiais de aprendizagem Critério: Conteúdo Ilustrações Sim Não Sim Não Estão os papéis dos rapazes e meninas equilibrados? (tais como, médico, professor, operário, comerciante)? São os tipos de atividades para rapazes e meninas iguais (tais como atividades desportivas, ler, falar, trabalhar)? Possuem os rapazes e as meninas comportamentos semelhantes? (tais como ativo, solidário, feliz, forte, 2 Council on Interracial Books for Children. (1980) Guidelines for Selecting Bias-Free Textbooks and Storybooks. New York. Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 34 Critério: Conteúdo Ilustrações Sim Não Sim Não produtivo)? Tomam as meninas por vezes o papel de líder? São as meninas retratadas como pessoas confiantes e capazes de tomar decisões? Agem as meninas de forma "inteligente" como os rapazes? São as meninas incluídas em tantas atividades ao ar livre como os rapazes? Nos textos, tanto as meninas como os rapazes resolvem os problemas? Estão as meninas e os rapazes a trabalhar em conjunto de maneira apropriada à sua cultura? São os conteúdos interessantes para as meninas? São os conteúdos interessantes para as crianças de uma minoria? Existe um balanço de géneros em histórias sobre animais? São as mulheres descritas na história? São as mulheres incluídas na literatura e na arte? São as minorias étnicas incluídas na história, literatura e arte? A linguagem inclui as meninas (ou são usados termos como "ele" ou "dele") É a linguagem apropriada para o uso na comunidade local (como objetos ou ações que podem ser facilmente Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 35 Critério: Conteúdo Ilustrações Sim Não Sim Não reconhecidos)? Será que a linguagem encoraja o interesse pelo texto de minorias étnicas de rapazes ou meninas? Será que as palavras não são discriminatórias face a uma minoria étnica de pessoas ou de meninas? Os livros devem refletir a diversidade de papéis de género, e origens raciais e culturais, necessidades e capacidades especiais, assim como as várias ocupações, idades, e tipos de família (por exemplo famílias de pais solteiros). Se existe uma escolha reduzida de livros disponíveis na nossa escola, então devemos "corrigir" essa situação e adicionar detalhes que estão em falta no texto. Talvez possa desenhar ilustrações adicionais, com os seus colegas e os seus alunos, para depois serem adicionados aos livros de forma a melhor espelhar os papéis da mulher, dos grupos minoritários, e dos que possuam diferentes origens e capacidades. Atividade Prática: Verificar a igualdade nos materiais de ensino Agora que sabemos do que estamos à procura, pegue num texto de um manual ou um manual de referência e tente analisá-lo usando os pontos mencionados acima. Isto seria uma boa atividade de reflexão para os professores. Além disso, a partir do momento de que os conceitos são explicados de forma clara, até as crianças mais velhas podem ajudar a analisar os materiais, fazendo recomendações de como podem ser adaptados de forma a serem mais inclusivos. Os pais ou encarregados de educação podem ajudar a desenhar novas ilustrações e corrigir alguma discriminação sobre os materiais de ensino, usando informação e exemplos da cultura local. Use a seguinte tabela para a sua análise. Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 36 Áreas de análise Qual a evidência? Em que página? Que ação se deve tomar para melhorar o material? É preciso alguma ajuda? Veja as ilustrações Veja a história Veja os estilos de vida? Veja as relações? Repare nos heróis Considere os efeitos na autoimagem da criança Diversidade nos personagens Linguagem Género e Ensino Os professores e as escolas podem, de forma não intencional, reforçar estereótipos de género. Nós podemos: Pedir mais vezes aos rapazes do que pedimos às meninas; para responder a perguntas Atribuir tarefas domésticas a meninas e tarefas relacionadas com o uso de ferramentas a rapazes; Compensar os rapazes quando respondem corretamente e não fazer os mesmos elogios para as meninas; Criticar as meninas quando dão respostas erradas; Dar mais responsabilidades a rapazes do que a meninas (tais como, ser o delegado de turma ou chefe de grupo); Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 37 Utilizar livros ou outros materiais de ensino que reforcem os estereótipos de género de forma maliciosa. Além disso, muitos professores podem de forma inconsciente, tratar as meninas e os rapazes de forma diferente. Como professores, temos uma responsabilidade clara de criar oportunidades para todas as crianças, rapazes ou meninas, de forma a aprenderem o melhor que podem. Lembre-se de que não é necessário hostilizar ideias importantes para uma cultura local ou comunidade. Contudo, é necessário compreender como tais ideias podem influenciar as nossas práticas de ensino e as oportunidades de aprendizagem que todas as crianças devem ter. Atividade Prática: Igualdade de Géneros Seja num trabalho individual ou numa atividade na sala de aula, elabore um pequeno inquérito para obter um melhor conhecimento da sua escola e da sua comunidade. Na tabela em baixo, escreva as tarefas mais recorrentes, quer dos rapazes quer das meninas, nas suas casas ou comunidade (tais como ir buscar água, cozinhar, tomar conta de outras crianças, ou tomar conta de animais) e aquelas tarefas que os professores esperam que façam na escola (tais como varrer o chão, ou ajudar a mover as secretárias). São as tarefas que estamos a dar aos rapazes e meninas na escola semelhantes àquelas que realizam em casa ou na sua comunidade? Será que essas tarefas refletem as crenças tradicionais sobre os papéis dos homens e mulheres? Será que elas restringem a possibilidade das meninas realizarem atividades que podem desempenhar. Rapazes Meninas Comentários Casa ou comunidade Escola Baseado no seu inquérito, quais são as ações que pode tomar em conjunto com os seus alunos que visam assegurar que TODAS as crianças tenham a oportunidade de aprender a fazer certas tarefas e ganhem responsabilidade? Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 38 Quais são as ações que pode tomar em conjunto com os seus alunos dentro da escola e na comunidade que permitam encorajar os funcionários da escola e os membros da comunidade solicitarem uma participação equitativa de todas as crianças, contribuindo para o seu desenvolvimento pessoal, para o desenvolvimento da sua escola e para o desenvolvimento da sua comunidade? Diversidade e Deficiência Estratégias para alunos com Deficiências3 Quando criamos salas de aula inclusivas e tentamos incluir crianças com diferentes capacidades precisamos de estratégias que permitam ajudar essas crianças a aprender da melhor forma. Algumas dessas estratégias incluem: Sequência - Divida as tarefas e dê instruções passo a passo. Repetição e resposta - Avalie diariamente as aptidões, a repetição das atividades e as respostas diárias obtidas. Comece do mais elementar e construa - Escolha uma aptidão e desconstrua-a em unidades mais pequenas ou comportamentos, e depois agregue tudo. Reduza a dificuldade - Organize as tarefas da mais fácil para mais difícil e dê apenas as dicas necessárias. Questione - Faça perguntas relacionadas com o processo ("como") ou relacionadas com o conteúdo (o que é). Ilustre - Enfatize as imagens e outras representações gráficas. Dê instruções ao grupo - Forneça instruções ou conselhos para pequenos grupos de estudantes. Ajude o professor e a envolvência de pares - Use os trabalhos para casa, os pais, ou outros para ajudar no ensino. 3 Excerto de: Swanson HL. (1999). Instructional components that predict treatment outcomes for students with learning disabilities: Support for a combined strategy and direct instruction model. Learning Disabilities Research and Practice, 14 (3), 129-140. Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 39 Além disso, pode encorajar outras crianças a assumir responsabilidade pelos colegas com deficiências, associando uma criança deficiente a outra que não tenha deficiência. Diga ao parceiro para ajudar nas tarefas mais importantes; por exemplo, ajudando a pessoa com deficiência a deslocar-se a sítios onde deseja ir, como a biblioteca, WC etc. Assim como, ajudá-lo numa visita de estudo ou durante jogos de equipa. Explique aos parceiros que podem existir situações em que têm que proteger a criança com deficiência de abusos quer verbais quer físicos, e diga-lhes como devem atuar. Fale com as suas crianças sobre várias deficiências, especialmente aquelas que possam ser vistas em crianças da sua escola ou na comunidade. Uma forma de fazer isto é convidar um adulto com uma deficiência para ir à sua sala para falar com as suas crianças. Explique às crianças que algumas deficiências acontecem devido a doenças, acidentes, ou genes. Por exemplo, pode explicar-lhes que uma infeção no olho ou no ouvido pode fazer com que uma pessoa tenha dificuldades na visão ou na audição. De forma a ajudar as crianças que não possuem deficiências a aceitarem as crianças com deficiência conte-lhes histórias descrevendo o que as pessoas com deficiência podem fazer. Crianças que possuem dificuldades de visão Identificar Crianças que não conseguem ver bem Algumas crianças não veem tão bem como as outras. Se identificarmos o problema atempadamente, podemos fazer algo para o ultrapassar. As crianças mais atingidas podem ser aquelas que, tendo já diferentes origens e capacidades, o que já por si é uma situação difícil, veem juntar-se a esta a sua dificuldade de visão, criando uma situação que os exclua do resto da turma. Correm maior risco de serem gozadas, assediadas e de serem alvo de "bullying". Portanto é muito importante descobrir precocemente se uma criança consegue ver bem. Existem diferentes formas de detetar a falta de vista. As outras crianças podem ajudar a descobrir se uma outra criança vê bem e podem aprender a ajudá-la. Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 40 Alguns dos sinais de uma criança que não vê bem poderão ser:4 Esbarrar com objetos; Ter dificuldade em ler, quer ao perto quer ao longe; Ter dificuldade em escrever em linhas direitas; Ter dificuldade em acertar com o fio no buraco da agulha; Segurar os livros muito próximo da sua cara quando os lê, podendo ter lágrimas nos olhos; Queixar-se de dores de cabeça ou comichão nos olhos; Não conseguir agarrar uma bola quando está a jogar; Usar as roupas pelo avesso; Organizar os objetos incorretamente; Trazer os objetos errados quando lhe pedem para trazer algo. Verificar os problemas de visão nas crianças A identificação precoce das crianças que não conseguem ver bem é importantíssima para as ajudar a aprender e a não abandonar a escola. Existem muitas técnicas, bastante simples, que se podem utilizar, em conjunto com os alunos, para identificar essas crianças, tais como: Construir uma tabela de Snellen 1º Passo. Crie um stencil que contenha 6 formas com a letra "E" cada uma delas com a altura de, respetivamente: 6 cm, 4.5 cm, 3 cm, 1.5 cm, 0.5 cm e 0.25 cm. É deveras importante dar a cada letra a forma correta, desenhando proporcionalmente cada perna do "E" e cada espaço entre as letras do mesmo tamanho. 2º Passo. Usando o stencil ou stencils, solicite a cada criança para fazer um "E" com a mesma forma e tamanho e colori-lo de preto. 3º Passo. Cole cada "E" num quadro branco de madeira ou numa folha de cartolina. O quadro deve ser semelhante ao apresentado abaixo. 4 Esta secção sobre “Children Who Have Difficulty Seeing” foi adaptada de: Baily D, Hawes H and Bonati B. (1994) Child-to-Child: A Resource Book. Part 2: The Child-to- Child Activity Sheets. London: The Childto-Child Trust Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 41 4º Passo. Deixe que as crianças façam o teste entre elas. Pendure o quadro numa zona com boa iluminação. Desenhe uma linha no chão a seis metros de distância. A criança que está a fazer o teste deve estar atrás dessa linha, segurando num grande cartão com o desenho da letra "E". Teste cada olho separadamente, mantendo o outro olho tapado. Outra criança aponta para as formas no quadro. A criança deve apontar para as letras maiores, em primeiro lugar, e depois, progressivamente, para as letras mais pequenas. A criança que está a fazer o teste deve segurar o seu "E" na mesma posição das letras que a outra criança for indicando. 5º Passo. Depois das crianças aprenderam a fazer o teste, ajude-as a pensar em formas de fazer o teste a crianças mais pequenas, especialmente aquelas que estão prestes a entrar para a escola. Na escola as crianças que estão num grau superior podem testar a visão daquelas que estão num grau inferior. Consulte também técnicos de saúde locais e especialistas em oftalmologia para ver se é possível desenvolver uma atividade que permita testar a visão e que possa ser adotada na sua comunidade local. Ajudar as crianças que não veem bem Quando uma criança que possui dificuldades de visão entra para a escola, reúna-se com a criança e os pais desta. Tente criar uma certa empatia dizendo-lhe quem é e o que faz. Deixe que a criança lhe toque. A seguir, apresente-a aos seus colegas de turma. Explique que esta criança vai à escola como todas as outras e que pode fazer muitas outras coisas usando os outros sentidos, como o tato, a audição e o olfato. Sugira que embora a criança possa necessitar de ajuda em certas tarefas específicas, pode aprender com as outras. Apresente os colegas de turma à criança. Se esta não os consegue ver, digalhe os nomes de alguns dos colegas. Deixe que a criança fale com cada um deles até que consiga distingui-los pela voz. Deixe que a criança lhes toque. Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 42 Depois diga-lhe o nome das outras crianças para que ele comece a conhecer todos os colegas da turma. As crianças com dificuldades de visão geralmente não se apercebem da presença dos outros., por isso, quando estiver com uma criança que não consegue ver bem, fale com ele/a, para que ela saiba que está por perto. Diga às crianças da sua sala de aula para fazerem o mesmo. Escreva no quadro com letras grandes, e ensine as suas crianças a escrever da mesma forma. Leia as instruções em voz alta; não pressuponha que toda a gente as consegue ler do quadro. Especifique o que está a mostrar, recorrendo a ajudas (tais como "no lado esquerdo podemos ver..."). Permita que as crianças toquem nos materiais se não os conseguem ver; por exemplo, os mapas podem ter um cordel em seu redor. Cada criança que tenha dificuldades de visão necessita de ajuda de um pessoa que consegue ler. O leitor irá ler e explicar os livros à criança ajudando-o/a a aprender. O leitor pode ser um colega de turma, uma criança mais velha, um amigo ou um professor estagiário. Uma criança que consiga ver de forma parcial pode ser capaz de aprender a ler e escrever da mesma maneira que as outras crianças aprendem. Ensine primeiro a criança a escrever letras e números. Pode começar por ensinar a criança a escrever com giz num quadro. Fixe um cordel em redor do quadro que a criança possa tocar e usar como guia enquanto escreve. Quando a criança começa a escrever numa folha de papel utilize o mesmo método. Ensine a criança a colocar o papel entre os cordéis. Crianças que têm dificuldades em ouvir ou falar As crianças que têm dificuldades em ouvir ou em falar não comunicam, na maioria dos casos, ou comunicam mal. Isto porque, apesar de usarmos diferentes formas de comunicação, recorremos geralmente à audição e a fala. Identificar crianças que não conseguem ouvir bem Alguns dos sinais que nos permitem ver se uma criança tem algumas dificuldades auditivas são:5 Não reparar nas vozes ou ruídos se não souber de onde vêm; 5 Adaptado de: Baily D, Hawes H and Bonati B. (1994) Child-to-Child: A Resource Book. Part 2: The Childto-Child Activity Sheets. London: The Child-to-Child Trust. Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 43 Ser desobediente ou ser a última pessoa a atender a um pedido; Ter uma infeção nos ouvidos, ou líquido ou pus a escorrer deles; Olhar para os lábios da pessoa quando esta está a falar; Virar a cabeça numa direção particular de forma a ouvir melhor; Falar muito alto e de forma não muito clara; Por vezes a criança aparenta estar ora quieta ora algo rude e prefere estar sozinha. Não ter bom aproveitamento escolar. Comunicar com uma criança com dificuldades auditivas Algumas crianças que nascem surdas podem nunca aprender a falar e devese ensinar-lhes outras formas de expressar os seus pensamentos, necessidades e sentimentos, quer através da arte quer através dos gestos. Se existir uma criança na sua sala de aula, que não consiga ouvir ou falar, utilize outros modos de comunicação, tais como o gesto, a expressão facial, os movimentos corporais, ou a escrita. Ensine as outras crianças a usar essas diferentes formas de comunicação com a criança. Antes de falar com a criança, chame a sua atenção, para que ela aperceba que está a falar com ela. Tenha a certeza de que a criança consegue vê-lo/a. Coloque-se perto da luz para que esta incida sobre a sua face. As crianças que têm dificuldades auditivas ou de fala, por vezes, irritam-se facilmente. Tanto podem estar a prestar atenção, como podem não estar a ouvir nada do que está a ser dito. Observe-as cuidadosamente. Se elas não estão a prestar atenção, arranje formas de mantê-las interessadas no que está a dizer. Por exemplo, sente-se em círculo com as suas crianças de forma a toda a gente poder ver a cara do próximo. Isto irá ajudar a audição e a compreensão. Utilize ajudas visuais para introduzir a aula, tais como: uma imagem, um objeto ou uma palavra-chave. Algumas das crianças que têm dificuldades auditivas podem ouvir de forma mais clara se lhes falar ao ouvido. Descubra se isto ajuda a criança e, se for o caso, fale ao seu ouvido quando comunica com ela. Diga às outras crianças para fazerem o mesmo. Quando comunica com a criança dê-lhe tempo para ouvir e pensar. Se a criança responder fazendo sons que não são palavras bem articuladas, Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 44 repita corretamente e devagar as palavras que a criança tentou dizer. Assegure-se de que criança vê a sua face quando diz as palavras corretamente. Quando falar use movimentos corporais que ilustrem o que está a dizer. Use também as suas mãos para demonstrar o tamanho dos objetos. Use movimentos e expressões mais amiúde, quando está com uma criança que possui dificuldades auditivas. A criança irá aprender o seu significado. Ensine as outras crianças a usar movimentos e expressões para comunicar com a criança que tem dificuldades auditivas. As crianças que conseguem ouvir algumas palavras devem ser ensinadas a falar. Algumas crianças aprendem a falar de forma clara, enquanto outras apenas conseguem emitir certos sons compreensíveis. Pode ter alguém que o ajude a desenvolver capacidades referentes à língua gestual, através de organizações não-governamentais, fundações, ou instituições educativas especializadas no apoio a pessoas com deficiência auditiva. Se forem usados aparelhos auditivos, lembre-se que estes amplificam todos os sons, incluindo o barulho de fundo. Pode também ser difícil nestes casos a distinção de uma só voz, quando várias pessoas falam ao mesmo tempo. Por isso, encoraje as crianças com dificuldades auditivas a sentarem-se com um amigo que possa tirar notas por elas, para que se concentrem na leitura dos lábios. Atividades Práticas: Jogos e Exercícios Os jogos e exercícios podem ser oportunidades ideais para criar uma sala de aula inclusiva. Tente introduzir jogos em que toda a gente possa participar, como os que apresentamos a seguir. O exercício físico ajuda todas as crianças a serem saudáveis. Quando organizar períodos para exercício na sua sala, certifique-se que as crianças com diferentes origens e deficiências participam. Por exemplo, nos jogos que implicarem o uso de uma bola coloque-lhe um gizo para que as crianças com dificuldades visuais a possam ouvir à medida que se move. Algumas crianças não são capazes de jogar jogos muito ativos. Inclua jogos que exijam um menor esforço ou nos quais os alunos estejam sentados, para que estas crianças possam participar. Recorra à música. A maioria das crianças e, mais ainda, as que têm dificuldades de aprendizagem, gosta de Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 45 música mesmo que não consiga cantar ou dançar devido a uma deficiência. Mesmo as crianças que não conseguem ouvir podem desfrutar da música, especialmente se esta tiver um ritmo detetável através de movimentos corporais (tal como a dança), ou se os instrumentos musicais com que a música é tocada produzirem vibrações rítmicas que elas podem sentir. Exemplos de Jogos Jogo 1. Aprender através da visão Uma criança tapa os ouvidos com os seus dedos, enquanto outra conta uma história engraçada para o grupo. Depois, uma das outras crianças faz de professor. O "professor" faz perguntas sobre a história a cada uma das crianças. Quando o assumido "professor" acabar de fazer as perguntas, pede ao colega que tinha os ouvidos tapados para os destapar e para dizer ao resto do grupo o que sentiu, uma vez que não conseguiu ouvir bem a história. A criança deve explicar o que conseguiu compreender das expressões faciais e dos gestos do “professor” e das outras crianças. A criança que consiga contar a maior parte da história através dos meios descritos ganha o jogo. Todas as crianças deverão ter a oportunidade de jogar. Isto irá ajudá-las a perceber os problemas de uma pessoa que tem dificuldades auditivas, permitindo-lhes também perceber melhor o problema do colega. Jogo 2. Aprender através do toque Uma criança venda os olhos e fica de pé, no meio de um círculo criado pelas outras crianças. Uma a uma, as crianças do círculo aproximam-se da que tem os olhos vendados. A criança então toca na face de cada uma delas e tenta adivinhar quem são. Tem apenas um minuto para adivinhar o nome da cada colega. A criança que conseguir identificar o maior número de colegas ganha o jogo. Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 46 Todas as crianças deverão ter a oportunidade de jogar, pois assim terão a possibilidade de perceber os problemas de uma criança com dificuldades de visão. VIH/SIDA e Discriminação Hoje em dia existe um número crescente de crianças que nascem infetadas com o vírus da sida, vírus herdado das suas mães, também elas infetadas. Outras crianças podem ser discriminadas ou totalmente excluídas da escola por terem alguém na família infetado com o vírus. A acrescentar a estes problemas, muitas crianças seropositivas perderam prematuramente os seus pais podendo ter sido obrigadas a viver com os seus avós, com outros parentes ou nas ruas. Existem dois grandes problemas que os professores têm de enfrentar nas escolas onde existem alunos com o VIH/SIDA. O primeiro prende-se com os possíveis problemas práticos relacionados com a saúde desses alunos. Para abordar o tema, os professores têm de estar bem informados sobre todas as doenças infeciosas, podendo informar-se junto de técnicos de saúde local e obter informações atualizadas, especialmente sobre a prevalência de todas as doenças infeciosas na sua área. Pode também obter materiais informativos importantes sobre a SIDA e partilhá-los com os seus colegas e com estudantes. Esta partilha de informação pode ajudar a corrigir a falta de conhecimento sobre a doença e aqueles que ela afetou. Quanto à vertente prática, toda a gente na sua escola deve contribuir para fazer da escola um lugar limpo, seguro e saudável para as crianças. Será necessário ter disponíveis luvas de látex e cloro para limpar o sangue, vómito e fezes. O segundo problema é como responder às questões colocadas pelas crianças sobre o VIH/SIDA, incluindo perguntas sobre sexo, saúde sexual e doença. Irá sentir-se mais à vontade no diálogo com as crianças se tiver pensado sobre algumas das questões que elas lhe possam colocar numa discussão, como por exemplo "Como é que as pessoas apanham o SIDA?" e "O que é um preservativo?" Quando uma criança lhe coloca uma questão destas tente: Ouvir com atenção; Levar a sério o que elas dizem; Responder para que percebam; Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 47 Ser o mais natural possível.6 Se não souber a resposta a uma pergunta de uma criança, não tenha medo de dizer que precisa de tempo para procurar a resposta certa. Se for professor numa escola onde existem crianças afetadas com o vírus do VIH/SIDA, por favor leia cuidadosamente o manual de apoio 6 neste guia de ferramentas, visto ter muitas sugestões e atividades que ensinam a desenvolver capacidades importantes que irão ajudar a compreender o VIH/SIDA, assim como deve ensinar as crianças a prevenir a sua transmissão. 6 http://www.avert.org/children.htm Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 48 Ferramenta 4.3 Organizar a aprendizagem de forma significativa para TODOS! Aprendizagem para a vida Aprendemos anteriormente, neste guia de ferramentas, que uma potencial barreira para uma aprendizagem inclusiva e que todas as crianças frequentem a escola é o que se pode denominar de "o valor da educação". É verdade que, tanto os pais como as crianças podem não perceber a importância, para a sua vida do dia-a-dia, da informação que recebem na escola, pois os pais que dependem dos seus filhos e da sua ajuda a nível financeiro, e até mesmo as crianças, podem sentir que "aprender a trabalhar" é mais importante do que estar na escola. As crianças que não precisam de trabalhar para ajudar as suas famílias, podem sentir-se aborrecidos na sala de aula, se não conseguirem fazer a ligação entre o que estão a aprender AGORA e aquilo em que se tornarão no futuro. Por isso, podem não dar tanto valor à escola e podem deixar de frequentá-la com regularidade, ou até mesmo deixar de a frequentar. O nosso desafio centra-se, portanto, na criação de um ambiente facilitador da aprendizagem, que motive as crianças a aprender, ligando o que elas estão a aprender com os seus interesses pessoais e a sua vida quotidiana. Esta ligação é importante, porque à medida as crianças aprendem, estão a tentar ligar, nas suas mentes, o que estão a aprender AGORA com o que JÁ aprenderam na vida, seja na sala de aula, seja com a sua família, ou com a sua comunidade. Como podemos criar esta ligação? Vamos ver um exemplo. Enquanto conduzíamos por Manatuto, Timor leste, três meninas tentaram parar o nosso veículo, chamando a nossa atenção, acenando com peixes frescos presos num fio. Parámos. As crianças, com idades compreendidas entre os 8 e os 11, apressaram-se a vender a sua pescaria por uns míseros cêntimos. Eram 11 horas da manhã de uma segunda-feira. Não é dia feriado nacional. Não deveriam estas crianças estar na escola? Elas estão a aprender de forma ativa... Estão a aprender através da prática... Estão a ajudar as suas famílias com proteínas vitais ou um pouco de dinheiro se conseguirem vender o peixe. Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 49 O supervisor do distrito, que também se encontrava no veículo, estava desapontado por as meninas não estarem na escola, mas explicou que se estivessem na escola, teriam de enfrentar uma língua estrangeira, porque a sua língua materna não é lecionada na escola. As escolas possuem poucos livros e poucos materiais de ensino, por isso, as crianças passam a maioria do tempo a ouvir o professor ou a copiar do quadro. O único livro de que o professor dispõe está impresso em português. Ele continuou, dizendo que muitos professores não tinham formação, e não tendo casas onde ficar, não vivem na comunidade local. Os professores podem não saber que as crianças passam o seu tempo a brincar na praia e a pescar. Sendo manuais feitos para Portugal, apresentam exemplos de atividades descontextualizadas, como a pesca em Portugal em vez da pesca em Manatuto, e na maioria das vezes apenas são representados os rapazes a pescar, enquanto as meninas cozinham. O supervisor do distrito disse que estão a tentar fazer mudanças que tornem as escolas mais "acolhedoras" tanto para os rapazes, como para as meninas, mas que essa tarefa era difícil e Demorada. Se os professores em Manatuto conhecessem melhor as crianças e o ambiente de onde elas vêm, poderiam então, adaptar o currículo de forma a incluir mais conteúdos e exemplos locais. Poderiam convidar os pais a comparecerem na escola e a explicarem como pescam, poderiam trazer redes de pesca e outros equipamentos que utilizam. As crianças podiam desenhar em casa os diferentes peixes que se apanham na região e fazer um cartaz para a afixar ma parede da sala de aula. Podiam medir o comprimento e o peso dos peixes e fazer uma tabela para mostrar os vários tamanhos de peixes pescados. A partir destas e outras atividades práticas de aprendizagem, as crianças estariam mais motivadas para ir à escola e a sua aprendizagem faria sentido, tanto para elas como para os seus pais. Atividades Práticas: Associar a Aprendizagem à Vida da Comunidade. Reveja o programa oficial e enumere os conteúdos mais importantes, tendo por base o que as suas crianças já aprenderam e o que pensa que elas devem saber em relação à sua vida quotidiana. Tente ligar os conteúdos que se enquadram com o ciclo anual da comunidade, como o calendário de pesca ou o Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 50 calendário de agricultura, ou os conteúdos que irão ajudá-los a sobreviver, como os conteúdos relativos à saúde. Pense nas crianças da sua sala e na sua comunidade. Conhece as profissões dos seus pais? Sabe onde a maioria das crianças vive? Faltam muitas crianças à escola? Quando é que faltam? Sabe o porquê? Possui a sua escola um perfil de aprendizagem dos alunos que contemple esta informação? (ver ferramenta 3) Reveja os conteúdos que irá ensinar neste período e preencha uma tabela como a que se apresentada em baixo. Enumere os conteúdos, veja o quão relevantes são para a vida diária das crianças e pense em formas de tornálos mais aliciantes e significativos. Tópico Ligação com a vida diária das crianças Exemplo: árvores da A comunidade onde floresta tropical habitam as crianças tem bastantes árvores ou localiza-se perto de uma floresta, que não é uma floresta tropical. O seu exemplo: Formas de adaptar o tópico Primeiro estude as florestas locais, observando e fazendo atividades práticas que liguem a ciência, a matemática, e a língua. Estabeleça depois uma ligação entre as florestas da região e finalmente passe para o global como, por exemplo, as florestas tropicais. Criar um ambiente amigo-da-aprendizagem aprendizagem significativa para uma Preparar-se para uma aprendizagem significativa “Uma Aprendizagem significativa” implica a ligação entre o que está a ser aprendido (o tópico ou conteúdo) e como é ensinado com a vida do dia-a-dia das crianças e das suas famílias. Como todos nós sabemos, o ensino é uma atividade complexa. Devemos considerar vários aspetos quando nos estamos Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 51 a preparar para uma aprendizagem significativa. Acima de tudo, ninguém pode forçar uma criança a aprender. As crianças irão aprender quando estiverem motivadas para tal. Irão aprender quando lhes derem oportunidades de aprender de forma efetiva e quando sentirem que as competências que possuem levá-las-ão ao sucesso. Elas irão aprender quando receberem "feedback" positivo dos seus amigos, dos seus professores e dos seus pais que as encorajam a aprender. Como nos podemos preparar para uma aprendizagem significativa? Apresentam-se algumas questões que deve colocar si mesmo, aquando da preparação das suas aulas. Motivação. O assunto é significativo e relevante para as crianças? Estão elas interessadas no que esperamos que aprendam? Circunstâncias. Estão as condições em conformidade com o nível de desenvolvimento da criança? Por exemplo, o tópico é demasiado difícil ou demasiado fácil para muitas das crianças? As atividades são apropriadas para os rapazes e para as meninas? As atividades são adequadas às diferentes origens e capacidades das crianças? Competências. Possuem as crianças as competências necessárias para atingir o resultado esperado? Feedback. Será que o tipo de avaliação e o feedback dado às crianças está concebido no sentido de aumentar a motivação e a vontade de aprender? Atividade Prática: Ligar o ensino à vida das crianças Pense novamente num tópico que irá ensinar. Adicione-o à tabela anterior. Consegue estabelecer ligações com alguma das atividades diárias da criança? Por exemplo: Trabalho doméstico (preparar a comida, tomar conta dos irmãos e irmãs, limpeza); Tomar conta de animais: Encontrar comida através da caça, da pesca ou da recolha; Cultivar comida e trabalho no campo. Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 52 Criar um ambiente amigo da aprendizagem Para que ocorra uma aprendizagem significativa, a sala de aula deve ser amiga da aprendizagem, porque isso encoraja os alunos a colocar questões, identificar problemas, iniciar diálogos e discutir as soluções com os professores, os amigos e a família. TODAS as crianças - rapazes ou meninas, assim como as crianças que possuem diferentes origens e capacidades - ficam mais confiantes e confortáveis para participarem plenamente. Numa sala de aula amiga da aprendizagem, o professor deve desempenhar vários papéis. No passado, esse papel passava pela "transmissão da informação". Mas, para ajudar as nossas crianças a aprender melhor, devemos estender o nosso papel ao de facilitador, gestor, observador e aprendiz. O que está implícito nestes papéis? Facilitador. Precisamos de providenciar oportunidades adequadas ao ensino das crianças e encorajá-las a apresentar as suas ideias de forma livre, mas também a falar sobre temas importantes de forma construtiva. Gestor. Para ser um facilitador de sucesso, devemos planear bem e moderar os debates com muito cuidado, dando a cada criança a oportunidade de expressar o seu ponto de vista. Observador. A monitorização das crianças quando trabalham em grupo, em pares, ou sozinhos irá ajudar-nos a compreender a criança e a planear um maior número de atividades de aprendizagem significativa. Por exemplo, pode uma atividade que um par de crianças está a fazer muito bem, expandir-se para uma atividade de grupo? Podem essas crianças ser as líderes do grupo? Aprendiz. Tornamo-nos alunos quando refletimos sobre as nossas aulas e a aprendizagem das crianças. Podemos, então, desenvolver formas que permitam que o que estamos a ensinar seja ainda mais significativo. Por exemplo, a atividade selecionada ajudou as crianças a compreenderem um tópico ou um conceito mais difícil? Pode-se aplicar esta atividade a outros conteúdos e conceitos? Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 53 Criar experiências de aprendizagem adequadas ao género Na introdução deste livro de ferramentas, aprendemos que "género" se refere aos papéis sociais que são atribuídos aos homens e mulheres numa dada cultura: os homens como chefes de família” e as mulheres como "educadoras"). Os papéis de género são criados pela sociedade e passados de geração em geração como parte da herança cultural da sociedade. Os papéis de género não são estáticos, vão-se alterando ao longo dos tempos, assim como outras tradições culturais e perceções culturais. Infelizmente, estes papéis podem prejudicar a aprendizagem das nossas crianças por restringirem muitas vezes a forma como os rapazes ou meninas se devem comportar e o que podem aprender. O seguinte estudo de caso é um exemplo de como isto pode ocorrer. A história de Suan Suan vivia numa aldeia perto de Pakse, no Sudoeste do Laos. Tinha nove anos e estava no 3º ano. Gostava de ir para a escola com os seus dois irmãos, Lee e Hing. Era uma boa estudante e muito trabalhadora, mas tinha dificuldades. As dificuldades prendiam-se com o que tinha de fazer em casa depois da escola, pois desempenhava muitas tarefas. A irmã de Suan pisou uma mina enquanto brincava e perdeu uma das pernas. Muitas vezes acordava Suan para que ela a confortasse, porque ainda sentia muitas dores. Todas as manhãs, Suan era a primeira a acordar para carregar madeira e acender o fogo. Tinha de preparar o arroz para ser cozinhado e lavar e alimentar a sua irmã mais nova. Quando Suan chegava à escola estava já muito cansada. Nunca era pedido aos seus irmãos que ajudassem em casa. Eles apenas iam à pesca com o seu pai aos fins-de-semana, por isso tinham tempo para fazer os trabalhos de casa. Quando Suan ia à escola, tentava a muito a custo concentrar-se. Mas achava muito difícil estar sempre atenta, por causa do cansaço, e as matérias que estudava eram muito diferentes da sua vida diária. O professor, às vezes, zangava-se com ela, em particular, num dia em que ela adormeceu durante a aula. Após ter sido repreendida pelo professor, Suan decidiu abandonar a escola. Ela pensou que ajudaria mais os seus pais se ficasse sempre em casa, para ir buscar água e lenha, cuidar da sua irmã e a cuidar dos animais. Então Suan começou a faltar mais vezes à escola, acabando por abandonar. Ela ficava em casa todos os dias a ajudar a sua mãe. Não acabou o 3º ano, mas os seus irmãos Lee e Hing acabaram a escola primária. Conseguem ler e escrever e em condições de continuar os estudos. Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 54 Suan é apenas um dos exemplos de como os papéis de género podem conduzir à marginalização e ao abandono escolar das meninas. O género pode também afetar a aprendizagem dos rapazes, quando sentem que a escola não tem sentido e é mais importante para eles ajudar e sustentar as suas famílias. Além disso, meninas e rapazes são condicionados socialmente a pensar em si mesmos e no que podem fazer. Por exemplo, pode já ter ouvido a expressão "os homens não choram" ou "as mulheres não devem fazer jogos violentos". Da mesma forma, algumas meninas podem não estar tão à vontade nas matemáticas ou nas ciências porque lhes foi dito que são "disciplinas para rapazes". Apesar disso, todas as crianças podem ter sucesso se lhes foram dadas as oportunidades certas. Se quisermos incluir todas as crianças nas nossas salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem, devemos questionar-nos: "Será que todas as minhas crianças dispõem do tempo e da energia necessários à consecução das tarefas que lhes atribuí?"Uma das formas para ajudar a esclarecer esta questão é realizar um pequeno projeto na sua sala de aula sobre a quantidade de trabalho que as meninas e rapazes fazem em casa. Peça às suas crianças que falem sobre isso ou escrevam uma pequena história com o tema "O que faço em casa". Poderá ficar surpreendido com a quantidade de trabalho que as suas crianças, especialmente as meninas, têm que fazer para as suas famílias. Depois, pode ajustar os seus planos de aprendizagem consoante as necessidades das crianças. Atividade prática: Sensibilizar para as questões de género Eis duas atividades, que pode fazer na sala de aula, com o objetivo de sensibilizar as crianças para as questões de género. 1. Discuta em grupo com as crianças (meninas com meninas, rapazes com rapazes, assim como grupos mistos) sobre o que pensam que é esperado deles, face ao género a que pertencem. O que pensam os rapazes e as meninas dos papéis e expectativas uns dos outros? Eles apercebem-se das diferenças? 2. Peça às crianças para identificarem características do género masculino e do género feminino. Faça duas colunas. Numa coluna liste o que se subentende como características femininas. Na segunda coluna o que se subentende como características masculinas. Quando acabar troque a palavra "feminino" para a coluna das características Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 55 masculinas e a palavra "masculino" para a coluna das características femininas. Pergunte às crianças se pensam que esses papéis se podem aplicar também ao outro sexo? Todos eles ou apenas alguns deles? Porquê? Esperemos que as crianças cheguem à conclusão que todos os papéis de género podem ser trocados, exceto aqueles puramente biológicos. Atividade de Reflexão: Consciencialização de géneros no Ensino Considere algumas das seguintes declarações. Complete a tabela e pense no tipo de ações que possam ser necessárias para melhorar a situação na sua sala de aula. Declaração Muitas Às Nunca Ações vezes vezes necessárias Examino os meus materiais de aprendizagem para ver se existem modelos positivos para meninas e rapazes Encorajo as meninas a terem bons resultados na matemática e nas ciências Uso métodos de aprendizagem cooperativos; não existe motivo para uma disciplina rígida. As meninas mais velhas que estão a ter bons resultados irão ajudar as meninas mais novas na matemática e nas ciências. TODAS as crianças na minha sala de aula têm as mesmas oportunidades de se expressar e de obter bons resultados em disciplinas chave Para ajudar as meninas a sentirem-se mais à vontade na escola e de forma a assegurar uma igualdade de oportunidades para todos, trabalhe com os seus colegas e administradores escolares no sentido de empreender as seguintes ações. Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 56 Ajude a revisão de materiais de aprendizagem e a eliminação de preconceitos de género e outras parcialidades (ver Ferramenta 4.2), tais como a falta de referências nos textos a pessoas com deficiências ou a crianças pertencentes a minorias étnicas, ou a estigmatização de crianças pobres, crianças de rua, e crianças que trabalham. Esta é uma tarefa que toda a escola deve empreender, mas os professores a título individual precisam de estar cientes da situação, assim como das ações que precisam de tomar. Um mero autocolante num livro pode indicar que o livro é parcial de alguma forma, e pode dar azo a uma discussão construtiva na sala de aula sobre inclusão. (ver Manual de Apoio 1) Introduza um programa mais flexível e materiais de aprendizagem que os alunos possam monitorizar, visto que algumas meninas podem ter muitas tarefas para realizar no seu tempo disponível, tais como trabalho doméstico e cuidar dos irmãos. Tanto os rapazes com as meninas de famílias pobres têm, muitas das vezes, pouco tempo para fazer os trabalhos da escola, porque a sua família precisa da ajuda de todos para sobreviver. Tente completar todas as atividades de aprendizagem durante as aulas, e permita alguma flexibilidade na distribuição dos trabalhos para casa. Por norma, os professores de muitas escolas primárias falam mais com os rapazes do que com as meninas. Lembre-se de dar tempo, "tempo de espera" para as crianças responderem às suas perguntas. Se não tiver um colega para observá-lo na sala de aula, pode tentar uma atividade de participação com as crianças de forma a verificar se trata os rapazes e as meninas de forma diferente, Por exemplo, peça a cada criança para recolher 5 pedras (pode já ter uma coleção para uso na matemática). Peça a cada criança para colocar uma pedra no canto da secretária cada vez que fala com ele ou ela, quando lhes faz uma pergunta, ou quando deixa que eles respondam. Juntos podem verificar o padrão de interação e discutir a razão deste comportamento. Que outras estratégias pode usar para tratar as crianças de forma mais equitativa? De que competências precisam as crianças para participarem de forma mais igualitária? Todos estes componentes irão fortalecer a sua capacidade para criar um ambiente facilitador da aprendizagem para os rapazes e para as meninas. Poderemos necessitar de usar grupos do mesmo sexo para algumas atividades práticas, nomeadamente com as meninas para poderem aumentar os seus níveis de confiança e não sejam dominadas pelos rapazes. Depois, os Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 57 grupos mistos serão mais adequados para que as meninas e os rapazes aprendam a trabalhar em conjunto. Muitas das atividades acima mencionadas irão necessitar do apoio dos pais ou encarregados de educação. Por esta razão, estes assuntos deverão ser discutidos em reuniões do conselho escolar e deverá ser desenvolvido um plano de ação prático que irá ajudar todos os professores e pais na discussão e acordo sobre as políticas escolares relativas a assuntos tão variados como a disciplina e a parcialidade no género. Aprendizagem activa e participativa As crianças estão sempre a aprender, dentro ou fora da sala de aula. Elas devem ser ativas na sua aprendizagem, de forma a usar o que aprenderam e a tornarem-se mais competentes. Devem, também, ser encorajadas a trabalhar com TODAS as outras crianças na sua sala de aula, mesmo aquelas que possuem diferentes origens e capacidades. A cooperação encoraja a compreensão e a aceitação. O trabalho em pares ou pequenos grupos permite uma melhor participação e interação entre as crianças e ajuda-as a tornarem-se mais independentes, assim como a trabalhar de forma construtiva com os outros. Alguns exemplos de boas oportunidades de aprendizagem são as visitas de estudo e jogos didáticos. Atividades Práticas: Visitas de Estudo Nas visitas de estudo, as crianças saem da sua sala de aula, por exemplo, para ir ao jardim da escola, a um poço ou uma barragem na sua comunidade, ou mesmo a um centro comunitário. Elas podem observar organismos específicos ou fenómenos naturais e aprenderem com especialistas. (Saiba mais sobre como estas visitas podem promover melhores práticas de saúde e higiene no Manual de Apoio 6). Visitas de Estudo que apoiam o trabalho em grupo Por exemplo, numa visita a uma barragem comunitária, pode ser dado a cada grupo do 5º Ano um número específico de tarefas. Antes de visitar a barragem, os membros do grupo podem aprender a importância da água para a vida humana e para a agricultura. Na barragem, pode pedir a cada grupo uma estimativa sobre a sua largura, pode pedir para fazer um mapa da área, para desenhar os diferentes tipos de árvore à volta da barragem, ou para Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 58 fazer perguntas, enquanto ouvem a informação que lhes é disponibilizada por um engenheiro estatal. Quando a turma volta da visita, cada grupo pode usar a informação que recolheu para preparar apresentações, ou fazer um relatório das suas observações. Podem também, discutir a importância da barragem com as suas famílias. Nas visitas ao jardim da escola, cada grupo pode desempenhar uma tarefa específica, que contribua para a elaboração de um trabalho mais extenso. Por exemplo: podem catalogar os tipos e a quantidade de insetos; podem catalogar as várias espécies de plantas, podem procurar por sinais de mamíferos, tais como buracos, tocas, ou raízes roídas, ou podem fazer um mapa e medir o jardim. Na sala de aula, os grupos podem juntar os seus relatórios num trabalho de turma sobre "relatórios do jardim" ou criar uma maquete do jardim. Dependendo da natureza da visita de estudo, pode realizar várias ações antes da visita, para que as crianças compreendam melhor a razão de estarem numa visita de estudo. As ações a realizar em antecipação podem ser: Realizar uma pesquisa preparatória, uma discussão entre a turma, ou um inquérito sobre o que as crianças poderão ver durante a visita de estudo; Obter a ajuda de voluntários ou membros da família para a organização da visita de estudo, assim como a sua participação nela; Acordar momentos para ouvir e entrevistar vários peritos; Atribuir atividades específicas para grupos, pares, ou estudantes a nível individual que os irão ajudar a compreender o que irão ver durante a visita de estudo. A visita de estudo permite uma aprendizagem significativa. É também um exemplo de uma aprendizagem integrada, isto é, a pesquisa na barragem envolve várias disciplinas como a matemática, as ciências, a língua e os estudos sociais. Círculos de Aprendizagem Esta também é uma excelente atividade para fazer por si mesmo, de modo a planear as suas lições. É também uma, que pode realizar em conjunto com os seus alunos! Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 59 Identifique todas as diferentes oportunidades de realizar visitas de estudo perto da sua sala de aula. Desenhe um círculo ou uma elipse no meio de uma folha de papel que represente a sua sala de aula. Em redor, desenhe um círculo que represente a sua escola. Em redor da escola, desenhe um círculo maior que represente a sua comunidade, cidade ou distrito. Comece pelo círculo da escola. A escola possui animais de quinta ou outro tipo de animais? A escola tem um jardim? Existem árvores ou campos? Existem ninhos de pássaros ou formigueiros? Dentro do círculo da escola, enumere os nomes de cada uma das oportunidades de aprendizagem fora da sala de aula. É capaz de criar um novo ambiente de aprendizagem para as crianças, por exemplo, um jardim na escola? Sala de aula Escola Comunidade Em seguida, avance para o círculo referente à sua comunidade, cidade ou distrito. Considere as lojas e negócios que possam ser interessantes para a aprendizagem das crianças. Existe algum agricultor que possua plantações especiais, como árvores de citrinos, ou animais especiais? Existe algum museu, floresta, parque ou campo? Escreva os nomes destas oportunidades de aprendizagem num círculo. Utilize os espaços em redor da sua escola para ajudar a sua classe a aprender como comportar-se fora da sala de aula, assim como aprender a trabalhar em grupo. Não se esqueça das crianças que possuem dificuldades motoras ou outros impedimentos. Como irão elas ter acesso a estas oportunidades de aprendizagem? Poderá necessitar de verificar o roteiro antecipadamente. Poderá também necessitar da ajuda dos pais ou de outros estudantes. Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 60 Atividades Práticas: Jogos Educativos As crianças adoram jogar, e tendo oportunidade, criarão regras para jogos novos. Nesses jogos, eles podem utilizar bolas, caricas, pedras, fios, folhas ou outros materiais. Os jogos que envolvem o role-play, a resolução de problemas, ou o uso de competências e informações específicas são excelentes formas das crianças ficarem interessadas no que estão a aprender. Os jogos podem incorporar uma aprendizagem activa, facto que pode melhorar as capacidades de comunicação das crianças, assim como, as suas capacidades de análise e tomada de decisões. Exemplos de tais jogos podem incluir: dominós, bingo e "5 perguntas" (em que as crianças tentam adivinhar qual é o objeto fazendo apenas 5 perguntas). Pode, em conjunto com as suas crianças, criar os materiais para muitos jogos e pode adaptar o mesmo jogo para diferentes propósitos e diferentes níveis de ensino. Estes jogos e os seus materiais podem ser modificados para melhor se integrarem no programa. Pode, por exemplo, criar peças de dominó com formas geométricas que emparelha com formas semelhantes. Por exemplo, uma peça de dominó com o desenho de um quadrado pode ser emparelhada com uma peça que tem escrito o nome da forma (quadrado). Aprendendo com jogos. Será que consegue criar, juntamente com os seus alunos, atividades de aprendizagem baseadas em jogos simples? Vamos-lhe dizer como! Observe ou discuta com os seus alunos, quais os jogos que eles jogam no exterior. Quais as regras que usam para apontarem o resultado? Cantam ou usam rimas? Existem jogos diferentes para meninas e rapazes? Porquê? Peça às crianças para criarem um livro de jogos, para que as outras crianças possam também aprendê-los. Conseguem as crianças fazer uma pesquisa sobre os jogos que os seus familiares jogavam quando andavam na escola, ou aqueles que fazem parte da cultura ou culturas locais? Relacione um desses jogos ou atividades, a um dos tópicos que ensine, por exemplo, a matemática. Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 61 Tanto as viagens de estudo como os jogos podem motivar todas as crianças a aprender. Eis algumas formas de aumentar a sua motivação. Utilize exemplos concretos do local, que tenham, ao mesmo tempo, significado para os rapazes, para as meninas e para as crianças com diferentes origens e capacidades. Crie oportunidades para que essas crianças utilizem o que aprendem nas suas atividades diárias, como a pesca, a plantação de arroz, ou a recolha de água. Utilize uma variedade de metodologias de ensino que sejam interessantes e envolvam uma participação activa das crianças na aprendizagem. Tornar a Matemática, as Ciências e a Língua significativas para todos A matemática, as ciências e a língua (escrita e falada) são as disciplinas chave na maioria das nossas escolas. São também, as disciplinas mais difíceis para as crianças. Em todas elas, as crianças aprendem conceitos abstratos que podem ser difíceis de compreender, a não ser que consigam fazer a ligação desses conceitos abstratos, com o que fazem na sua vida diária. Quando conseguem fazer esta ligação e conseguem compreender um conceito abstrato, podem começar a aplicá-lo através de uma ou várias das suas competências. As secções que se seguem, irão dar-lhe algumas ideias de como pode tornar estas disciplinas mais amigas da aprendizagem para todos os seus alunos, e mais divertidas de ensinar para si. Matemática amiga da aprendizagem Usamos a matemática para sabermos quanto iremos demorar a chegar a casa. Usamos a matemática para termos uma ideia da quantidade de água que é necessária para encher um balde e quanto irão custar três quilos de batatas no mercado. Usamos a matemática quando estamos a vender peixe no passeio. Usamos a matemática quando dançamos (o número dos passos), quando ouvimos música, e quando cantamos (uso do ritmo e do tempo). No entanto, na escola, a matemática parece, na maioria das vezes, não estar relacionada com as atividades que fazemos diariamente. Se tentarmos, podemos ajudar as crianças a estabelecer ligações entre as competências matemáticas, os conceitos matemáticos, o raciocínio matemático, e a matemática que usamos diariamente. Por exemplo, um jogo em que a criança Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 62 faz de conta que vai ao mercado, pode ser uma forma divertida e eficiente de aprender matemática. É também uma oportunidade para as crianças ganharem confiança quando falam para a turma. Construir competências básicas, usando objetos concretos As crianças mais novas podem mais facilmente compreender a adição, a subtração, a multiplicação e a divisão quando usam objetos, tais como pequenas pedras, feijões, conchas, palhinhas, ou sementes de frutos. Estes objetos, podem ajudá-las a tornar a matemática em algo que podem ver e sentir (por exemplo, para aquelas crianças com problemas de visão) e não apenas algo que tenham que refletir sobre. Quando as crianças veem ou tocam e depois manipulam os objetos, elas experienciam os processos fisicamente, passo a passo, assim como mentalmente. As pessoas que aprendem através da visão e aquelas que aprendem através do toque podem beneficiar, e muito, do uso desses materiais práticos. Lembre-se, contudo, que as meninas podem ter menos experiência no uso de determinados materiais do que os rapazes, por exemplo, materiais mais pesados. Certifique-se que, tanto os rapazes como as meninas manipulam materiais macios e duros (como tecido e pedra) assim como materiais leves ou pesados. As meninas e os rapazes devem ser encorajados a participar em todas as atividades de forma a ganhar confiança no uso dos seus conhecimentos e competências. Irão também, assim, melhorar as suas capacidades de trabalho com outras pessoas diferentes. Use objetos com formas diferentes Os objetos com formas diferentes ajudam as crianças a perceber o volume, a dimensão e a geometria. Estes objetos podem incluir cubos, pirâmides, blocos retangulares, cilindros e outras formas esculpidas em madeira ou por dobragem de papel ou cartolina. Peça a grupos de crianças para explorar a escola e o seu ambiente para descobrir a variedade de formas usadas na vida quotidiana. Por exemplo, uma lata é um cilindro, um tijolo tem lados retangulares, os triângulos têm a forma de um telhado, etc. Professores de Timor Leste passaram meia hora, durante uma sessão de trabalho, a explorar a área em redor da escola à procura de formas geométricas. Encontraram caixas, chapéus, latas, bolas etc. e usaram-nas para ilustrar a variedade de formas que podem ser vistas dentro e em redor da escola. Em grupos pegaram num exemplo e tentaram ver a relação entre a Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 63 altura e a largura, a área e o volume. Desenvolveram depois uma fórmula que pudesse ser aplicada a outros exemplos com a mesma forma. Um grupo encheu um cone com água para comparar o seu volume com um de um cilindro. Na formação docente, aprender só a teoria não é suficiente. Os professores precisam de aplicar a teoria através de exemplos práticos, de forma a criar planos de aulas significativos. Use diferentes estratégias de ensino: FAÇA, FALE e REGISTE Para desenvolver as suas competências matemáticas, as crianças precisam de se envolver em atividades práticas; precisam de aprender a falar sobre a matemática; e precisam de registar (escrever) como tentaram resolver os problemas matemáticos. FAZER implica atividade (por exemplo, contar os feijões e depois subtrair alguns) FALAR implica a discussão com o parceiro ou num pequeno grupo, do tipo "acho que deveriam ser 6 e não 5, porque…” REGISTAR implica deixar escrito o processo que usou para chegar a uma resposta, para que o professor possa falar com a criança sobre as outras maneiras de resolver o problema. Por exemplo, pode-se pedir às crianças que meçam determinadas formas e descubram os perímetros e áreas (FAZER). Cada grupo pode discutir as suas medições (FALAR). Os resultados de cada grupo podem ser combinados com os resultados de outros grupos e registados para depois mostrar os resultados à turma (REGISTAR). Isto poderá resultar num debate na sala de aula. Para as frações podem dar-se às crianças pedaços de fruta ou de vegetais para as ajudar a visualizar melhor e a compreender o conceito de metade e um quarto (FAZER). Podem depois discutir entre eles, se uma metade é maior que um quarto (FALAR) e podem aprender como se escreve uma fração, por exemplo (REGISTAR). Uma vez mais, o uso de materiais reais, como a fruta ou os vegetais permite às crianças usar vários dos seus sentidos, como a visão, o toque e permite-lhes ligar a matemática às atividades do quotidiano. Ligar a Matemática à vida do quotidiano Transformar a matemática numa matéria prática, permite às crianças estabelecer conexões entre operações simples e operações mais complexas. Repare nas funções matemáticas da vida do quotidiano, como o cálculo do Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 64 tempo e a distância que demora a chegar à escola, calcular o espaço necessário para construir um recinto desportivo e fazer uma estimativa do custo dos vegetais que comprou no mercado. Visto serem atividades práticas e porque se focam em elementos familiares para os estudantes, estes problemas permitem desenvolver competências matemáticas através do uso de objetos reais e não apenas de conceitos abstratos. As crianças podem aumentar ainda mais o seu conhecimento sobre conceitos matemáticos, quando usam a linguagem para descrever a forma como aplicam a matemática. Dê às meninas e aos rapazes várias oportunidades para tomar notas ou apresentar oralmente, nas suas próprias palavras, cada passo das suas soluções e qual o seu significado. Assim, como em outras disciplinas, necessitará de observar as crianças a trabalhar, de falar com elas para saber como chegaram às respostas. Precisa de ser paciente e de tentar diferentes abordagens, se uma criança está a ter dificuldades. Pode ajudar as crianças com diferentes estilos e necessidades de aprendizagem, baseando os seus conhecimentos matemáticos noutras atividades, tais como aquelas que fazem regularmente durante o dia. Pode ajudá-los a usar objetos concretos e fazer a descrição de conceitos matemáticos de forma verbal, visual e através do tato. Com isso, asseguramos que a aprendizagem da matemática é significativa para TODAS as crianças. Atividade Prática: a Matemática e a Comunidade Enumere as diferentes formas de como a sua comunidade utiliza a matemática; por exemplo, peça às suas crianças para realizarem um simples questionário para saber como usam a matemática nos seus lares. Isto é uma boa forma de pô-los a pensar. Comece com as suas próprias rotinas e atividades e enumere todas as formas em que utilizou a matemática durante a última semana. Fale com as suas crianças ou membros da comunidade e descubra se existem algumas histórias locais ou lendas que envolvam tempo e distância, ou se existem algumas canções ou danças com um ritmo interessante ou um tempo interessante. Inclua-as nos seus planos de aula. Use nomes locais e sítios para que as crianças possam melhor compreender as suas questões. Por exemplo, o João anda cerca de 800 metros para Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 65 trazer para casa água do poço comunitário. O seu balde leva 5 litros de água. Que distância percorre o João com o balde cheio? (Usando este exemplo, pode haver também uma discussão sobre as tarefas que os rapazes e as meninas fazem em família ou para a sua comunidade). Atividade Prática: a Matemática e a Saúde Existem muitas oportunidades para as crianças aprenderem coisas sobre a sua saúde e o seu desenvolvimento, através de atividades matemáticas práticas. As crianças podem medir-se e pesar-se. Estas medidas são passadas a gráficos que todas as crianças atualizam regularmente. Na Tailândia, no âmbito do projeto CHILD, as crianças do 5º e 6º ano foram ensinadas a ser "Promotores na Monitorização do Crescimento"; mediam, monitorizavam e davam recomendações para melhorar as suas necessidades nutricionais assim como a dos outros.7 As suas informações ajudaram a escola e os profissionais de saúde locais a identificar crianças subnutridas, de forma a encaminhá-las para o programa de almoço escolar. (ver Manual de Apoio 6). Pode-se realizar um levantamento das doenças na sala de aula ou na escola. Por exemplo, as crianças podem registar o número de colegas de turma que já tiveram sarampo, doenças de pele, malária, ou outro problema de saúde durante um certo período de tempo. Os resultados são disponibilizados em gráficos. Pode-se depois tomar providências de forma a prevenir algumas dessas doenças. Atividade de Reflexão: Como é que ensino matemática? Analise a forma como ensina matemática, através do preenchimento do seguinte quadro. 7 Para mais informações, veja http://www.inmu.mahidol.ac.th/CHILD/ Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 66 Métodos/atividades Faço com frequência Não faço Preciso de muito fazer mais Motivo os rapazes e meninas a usar materiais práticos. Faço a ligação entre as questões matemáticas e a saúde ou a comunidade Tenho uma zona específica da sala para estudo da matemática Verifico se os materiais são preconceituosos no que se refere ao género Ciência amiga da aprendizagem Quando estudamos ciências exploramos os materiais de construção mais ínfimos da matéria e da vida, como os átomos, ou as mais recônditas profundezas do espaço. A dificuldade é que, embora saibamos que os átomos e as galáxias existem, nós - incluindo as nossas crianças - não os vemos diariamente e não pensamos neles regularmente. Também não falamos deles diariamente. Consequentemente, e de forma a tornar a ciência mais amiga da aprendizagem, precisamos de chegar a um ponto de equilíbrio entre o que é real (o que vemos, tocamos ou cheiramos regularmente) e o que é conhecido (coisas abstratas como os átomos e as galáxias). Começando por o que é real e fazendo a ligação entre o que as crianças veem ou fazem diariamente e a ciência, iremos permitir que as crianças desenvolvam melhores capacidades comunicativas. Podem, assim, falar com mais facilidade sobre ciência e o "real". Seguidamente, podem começar a trabalhar com vista a um maior conhecimento, discutindo ideias ou conceitos científicos mais abstratos. Assim como a matemática, a aprendizagem da ciência pode ser encorajada com recurso a atividades concretas com conteúdos tão variados como os animais e as plantas, o corpo humano, a água e a superfície da terra, os ambientes naturais ou as construções humanas, o som e a música, o sistema solar, etc. Além disso, legendar um desenho de uma planta, é uma forma de integrar as capacidades de escrita com as de desenho e uma excelente Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 67 forma de comunicação em ciência. É também um importante passo para rotular coisas mais abstratas como planetas ou órgãos internos do corpo. Em todas estas áreas, a chave é descobrir formas para que as crianças possam explorar as matérias tendo por referência as suas próprias experiências. Por exemplo, na aprendizagem do som e da música elas podem experimentar o tom e vibração usando instrumentos de corda, mesmo aqueles feitos em casa. Na aprendizagem sobre o sistema solar elas podem observar as fases da lua, ou criar um diagrama sobre o movimento do sol, usando um pau e medindo o ângulo da sombra a cada hora do dia. Este tipo de experiências concretas pode ser auxiliado por uma boa introdução aos processos científicos. Na aprendizagem da ciência os estudantes podem praticar as suas capacidades de observação e de reflexão, podendo também construir experiências de forma a responder às suas questões. As crianças podem ser postas em contacto com o papel do método científico. Por exemplo, quando os rapazes e meninas experimentam a secagem de frutos, num simples secador solar, ou fazendo compostagem, estão a aprender boa ciência, enquanto descobrem soluções práticas para problemas da comunidade. É importante que nós, como professores aprendamos conceitos científicos importantes de forma a conseguirmos relacionar, com relativa facilidade, as atividades diárias das nossas crianças com esses mesmos conceitos, ajudando-as a aprender. Por exemplo, a classificação é um conceito chave na ciência. A classificação de seres vivos ou seres inanimados é um bom ponto de partida. Podemos usar pedras ou vegetais como exemplos práticos. Podemos utilizar o modelo que se segue para ajudar as crianças a aprender como funciona o processo de classificação. Passos para ajudar as crianças mais novas com a classificação 1. O que é que eu quero classificar? 2. Que coisas são semelhantes nos objetos para os poder colocar num grupo? 3. Em que é que estas coisas são parecidas? 4. Posso criar outros grupos? Quais são as coisas semelhanças entre os objetos de cada grupo? 5. Todos os objetos encaixam num grupo? Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 68 6. Seria melhor dividir alguns dos grupos ou seria melhor juntá-los? 7. Posso desenhar um esquema para representar a forma como classifiquei os objetos? Outras formas de pensar e de saber Em muitas comunidades e culturas, as pessoas desenvolveram várias formas de compreender a natureza e o mundo que as rodeia. Estas formas de compreensão podem ser ligadas a experiências sociais ou à observação em vez da experimentação científica. Algumas crianças podem ficar confusas com a forma como certas coisas são explicadas na escola, visto serem diferentes das histórias que ouvem em casa. Por exemplo, alguns membros da comunidade podem ter conhecimentos especiais sobre ervas ou outros métodos curativos, ou podem contar histórias que explicam como foi criado o lugar em que vivem, que podem não coincidir com as informações dos nossos manuais. Contudo, estas histórias são uma parte importante da cultura da comunidade e são passadas de geração em geração. Em Timor Leste existe uma história sobre um jacaré (lafaik) que está ligado à origem da ilha que tem a forma de um jacaré. Na aula, esta história originou discussões sobre a paisagem, o habitat e os ciclos de vida, assim como outros conceitos como o medo e o perigo. Uma aprendizagem inclusiva é aquela que abraça uma diversidade de ideias assim como uma diversidade de crianças e dos seus estilos de aprendizagem. As crianças precisam de perceber que existem muitas formas de explicar objetos ou eventos, e nós devemos estar dispostos a aceitar as várias explicações sem tecer julgamentos. Os jovens podem ter já aprendido histórias, ditados e até mesmo diferentes formas de conhecimento e de cura. Como professores precisamos de respeitar essas formas de pensar, ajudando ao mesmo tempo os alunos a compreender a ciência como uma forma específica do saber. Atividade Prática: Ciência e a vida quotidiana Identifique algumas das formas em que o saber específico possa contribuir para a compreensão da forma como vivemos as nossas vidas. Por exemplo, a água é um tópico que pode ser explorado de diferentes formas e é vital para a vida quotidiana de todos nós. Através do estudo da água podemos integrar as diferentes formas de saber científico, assim como a ligação com outros Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 69 conteúdos como a matemática, a língua e os estudos sociais. Quando fervemos água para a purificar, por exemplo, estamos a matar organismos invisíveis a olho nu que eram desconhecidos até os cientistas os terem descoberto. Quando usamos uma bomba manual para tirar água de um poço, estamos a usar uma máquina simples, a alavanca, para criar vácuo. Quando as nuvens se formam, os raios atingem a terra e começa a chover, experienciamos as forças da natureza. Planeie uma aula que ligue o saber científico e a investigação à vida quotidiana Que recursos irá utilizar no ensino dos seus alunos? Irá pedir aos alunos para enquadrar uma questão? Por exemplo, será que a sombra projetada por um pau às 9 da manhã será maior do que ao meio dia? Que atividade podem fazer para testar as suas questões? Que recursos de informação, como manuais, podem usar? Como irá avaliar os seus conhecimentos resultantes desta atividade? Assunto Investigação prática Materiais locais usados Ligação à vida quotidiana Método de avaliação Planificação de aulas e ensino A ciência prática exige um planeamento cuidado, para que todas as crianças possam tomar parte de forma segura. Considere alguns dos conteúdos, dentro do seu programa para a disciplina de ciências, que podem ser facilmente relacionados com a vida quotidiana das crianças. Quando planifica as aulas é importante que pense como as crianças irão participar na sua aprendizagem. Geralmente, isto depende das diferentes metodologias de ensino que selecionamos. Um exemplo de uma abordagem de ensino eficaz é a seguinte: Pensar, Escrever, Comparar, Partilhar, porque encoraja a participação mesmo daqueles estudantes que são mais tímidos ou aqueles que se sentem mais “postos de parte”. Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 70 Coloque questões em aberto às crianças, tais como as requerem a sua decisão sobre algo, ou as expressam o seu pensamento. Peça-lhes para PENSAR na resposta. Peça-lhes para ESCREVER notas sobre a sua resposta (quando utiliza esta abordagem, as folhas em branco são muito úteis para se escreverem pequenas notas). Peça-lhes para trocarem ideias com um parceiro - COMPARAR Peça a voluntários (meninas ou rapazes) para PARTILHAR os resultados das suas discussões com a turma. Este método assegura que todas as crianças têm a oportunidade de responder e discutir as suas ideias ou respostas. Isto é muito importante. Pergunte a si mesmo, "Existem na minha sala de aula crianças que estão sempre a levantar a mão em primeiro lugar para responder à minha questão?" O problema é que, a partir do momento em que essas crianças levantam a mão para lhe responder, as outras crianças param de pensar. Elas podem necessitar de mais tempo para preparar as suas respostas, ou assumem que as outras crianças irão responder à sua questão. Além disso, existem muitas crianças com medo de se expressar, em particular se a sua língua nativa não é utilizada na sala de aula. Por vezes as meninas partem em desvantagem devido ao modo como o professor coloca as questões, ou se este pede por norma aos rapazes para responderem, como nas questões relacionadas com a matemática ou as ciências. Por isso, tanto os rapazes como as meninas necessitam das mesmas oportunidades para perceber a questão e ganhar confiança para responder. O trabalho em pares, apresentado na metodologia de ensino acima mencionada, permite a todas as crianças a prática do vocabulário correto e a expressão dos seus pontos de vista com outra pessoa. Esta troca vai aumentar a sua confiança e encorajar a sua participação. Associar a ciência à vida do quotidiano A ligação da ciência à vida do quotidiano torna a aprendizagem significativa para as crianças. Ajuda-nos a planificar as nossas aulas e a organizar as turmas. Uma excelente forma de fazer isto é começar por coisas que as crianças já sabem utilizando o método SQAC. Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 71 S Q A C S - Serve para ajudar os estudantes a relembrar o que já SABEM sobre o assunto. Q - Serve para ajudar os estudantes a identificar o que QUEREM aprender. A - Serve para ajudar os estudantes a identificar o que eles já APRENDERAM com o que leram e com as atividades que fizeram. C- Serve para ajudar os estudantes a saber COMO podem aprender mais (outras fontes onde podem encontrar informações adicionais sobre o tópico ou outras questões que podem ser formuladas). Competências linguísticas amigas da aprendizagem As competências linguísticas são muito importantes porque afetam as capacidades das crianças na aprendizagem de todos os outros assuntos. A aprendizagem significativa acontecerá se a língua de instrução for significativa. Por vezes dever-se-á usar o idioma local para que todas as crianças tenham acesso à informação, possam comunicar as suas ideias e possam ser percebidas de forma significativa. Falar, ouvir, ler e escrever são competências que precisam de ser usadas e combinadas para que as crianças desenvolvam a competência comunicativa. Duas ações que podem ajudá-la: Crie oportunidades para ouvir e ler, porque os alunos compreendem a informação e construem saberes através das duas formas; Utilize pares e pequenos grupos de forma a ajudar as crianças a ouvirem e a expressarem-se. Por exemplo, peça às crianças para criarem pequenas peças de teatro. Essas peças irão ajudá-las a expressarem-se melhor na sua própria língua e a aprenderem a organizar sequencialmente uma história (isto é: aconteceu isto, depois aconteceu aquilo e, finalmente, aconteceu o outro). Pode criar oportunidades para as crianças ouvirem, através da leitura em voz alta de histórias para a turma. Pode também convidar pessoas da sua Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 72 comunidade para visitarem a escola e falarem sobre o seu trabalho, as suas vidas, ou a história local. Não se esqueça de convidar pessoas mais velhas, visto que, na maioria das vezes, têm mais histórias para contar e mais tempo para contá-las. Quando convida alguém, fale primeiro com a pessoa de forma a explicar-lhe o propósito da sua visita. Ajude as meninas e os rapazes a desenvolver as suas competências sociais. Quem irá receber o convidado? Como recebemos alguém que não conhecemos? Como falamos com alguém mais velho? Como agradecemos a alguém que nos ajudou? Estas são boas formas de praticar a comunicação assim como as competências sociais. Como abordar a leitura Muitos pais preocupam-se com a forma como as suas crianças aprendem a ler. Esta ansiedade coloca, por vezes, mais pressão nas crianças e pode fazer com que a leitura se torne um castigo em vez de ser um prazer. Ler é complicado e existem muitas formas diferentes de ajudar as crianças a aprender a ler. Os dois métodos mais usados são o método analítico (fonético) e o global. No método analítico, uma palavra escrita é decomposta nas letras que a compõem. Estas letras escritas são associadas aos sons correspondentes e depois misturadas em conjunto para produzir a palavra. O método global envolve a descoberta do significado da palavra inteira relacionando-a com a palavra falada, normalmente em contexto. A palavra pode ser apresentada numa pequena frase, tal como "Uma bola azul...". Devem-se usar as duas abordagens, porque os diferentes alunos irão aprender a ler de maneiras diferentes. Para ensinar diversos aprendentes com diferentes estilos de aprendizagem e origens: Utilize várias abordagens; Nunca separe competências (para a leitura) do significado; Lembre-se que os leitores aprendem a ler e a escrever porque querem comunicar; Não se esqueça que aprender a ler deve realizar-se num ambiente estimulador, onde as crianças construam atitudes positivas sobre elas e a linguagem; Leia diariamente para crianças mais pequenas para as sensibilizar para a leitura como forma de obter informação e como fonte de prazer e para lhes mostrar que também gosta de ler. Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 73 Outras formas de suporte à leitura As crianças devem ter livros e artigos apropriados para ler, podendo estar disponíveis numa área especial dedicada à leitura e à escrita. Se não tiver livros disponíveis, poderá ter de criar os seus próprios livros que apresentem histórias locais ou lendas locais. (Pode também criar livros maiores para ler a grupos de estudantes). Outras ideias poderão ser: Convide as crianças mais pequenas a contar histórias das suas observações do mundo que as rodeia e dos eventos da sua vida, como férias ou celebrações familiares. Elas irão aprender a formar sequências de eventos numa história, assim como a mudar o tipo de linguagem que utilizam, dependendo do propósito da história e da sua audiência. Se elas tiverem dificuldades em escrever, alguém (talvez uma criança mais velha ou um familiar) pode anotar a história à medida que ela fala. A criança pode depois ilustrar a sua própria história. Crie uma sala de aula com um espaço dedicado à leitura e à escrita, colocando quadros com alfabetos, imagens, listas de palavras e outras informações. Estas podem ir desde histórias, a aulas ou até mesmo trabalhos dos alunos. Pode também colocar etiquetas nos diferentes objetos da sala. Se não existe muito espaço na parede, pode pendurar letras, palavras e imagens num fio ao longo da sala. Se existir um jornal local, os títulos, artigos e imagens podem ser expostos para ilustrar os diferentes usos da língua. Misture a prática linguística com outros assuntos. Por exemplo, quando as crianças já tiverem adquirido boas competências na escrita, podem escrever descrições de plantas ou de fontes de água potável para a disciplina de ciências. Convide-as a escrever enunciados de problemas matemáticos entre elas, ou podem escrever como resolveram uma questão científica. Oriente os alunos mais velhos em pequenos grupos de discussão, assim como dramatizações de histórias da turma, para lhes dar a oportunidade de enquadrar as ideias na sua própria língua. Através da dramatização de acontecimentos escolares ou através do uso de marionetas para focarem problemas sociais, tais como o bullying, as crianças irão também desenvolver o seu “bem-estar emocional”, assim como irão aprender, mais facilmente, a lidar com situações difíceis. Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 74 Dê a todos os alunos a oportunidade de escrever, de partilhar a sua escrita para a turma, e de falar sobre a sua escrita. Todos os escritores beneficiam do facto de lerem o seu trabalho para si mesmo, enquanto trabalham nele, assim como os outros. Trabalhar em "pares de escrita" pode ajudar os seus alunos a tentar novas ideias e a decidir qual o melhor vocabulário a usar. Todos, exceto os escritores menos experientes (crianças mais novas que estão no início) podem beneficiar de grupos de pares que leem o seu trabalho, partilham críticas construtivas e planeiam revisões. Dicas para ensinar a escrever Ensinar a escrever é importante, mas também é algo difícil. Se der oportunidade às suas crianças de escreverem muito, e a possibilidade de rever e refinar a sua escrita, estará a construir as fundações de um futuro sucesso na escrita. Acima de tudo, torne a escrita significativa! Os jovens escritores, tanto meninas como rapazes, podem exprimir-se sobre conteúdos que são importantes para eles. Estes podem incluir as suas famílias, eventos especiais na comunidade, conteúdos de estudos sociais e por aí adiante. A escrita das crianças deverá ter um propósito específico e um público-alvo. As crianças, por norma, escrevem apenas para o professor, mas na vida usamos a escrita para muitos tipos de pessoas. Precisamos de alterar o nosso tipo de escrita consoante os destinatários, por exemplo, uma lista, uma carta, ou uma nota pessoal; ou um póster ou uma história para crianças. Isto é uma escrita significativa. Seguem-se mais algumas dicas: Convide os jovens a escrever de forma livre sem se preocuparem com a correção. As crianças que estão ainda a aprender a escrever podem construir estruturas linguísticas e expressões em que usam palavras inventadas e uma pontuação invulgar. A escrita imaginada ou inventada é uma parte normal no processo de escrita. A criança está a "ouvir" e tenta decidir como a palavra se pode apresentar. Elas precisam de usar em primeiro lugar as suas próprias estratégias. As crianças precisam de tentar e trabalhar a ortografia por si mesmas. Ao mesmo tempo, deverão aprender a memorizar e a utilizar o dicionário. As palavras devem ser aprendidas de forma contextualizada, quer através da imagem da palavra, tal como "casa ou bola" ou utilizando a palavra numa frase "a casa amarela" ou a "bola roxa" Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 75 Pode ensinar as crianças a soletrar de várias formas: em voz alta, em jogos, em palavras cruzadas. Quando escrevem, estão demasiado concentradas na ortografia correta e na pontuação, podendo ter dificuldades na construção de uma relação mais íntima com a língua. Em vez de corrigir a ortografia, deverá observar e tomar notas dos problemas da escrita das crianças. Pode depois diagnosticar as suas dificuldades e ajudá-las naquela área específica, tal como o bom uso de adjetivos ou a criação de comparações significativas (analogias). O objetivo da escrita é o de comunicar uma ideia de forma que todos a percebam. A regra base que os professores devem observar é a criação de oportunidades de comunicação significativa, tais como as seguintes: Convide os seus jovens alunos a ditar uma história para um "escrivão" que pode ser o professor, um voluntário da comunidade, ou um estudante mais velho. (Avise os alunos para serem pacientes e falarem de forma pausada para a pessoa que está a escrever). Os jovens contadores de histórias podem depois ilustrar os seus textos. Este exercício constrói uma ponte entre a parte falada e a parte escrita. É também uma das atividades que podemos utilizar para ajudar as crianças que veem a perceber o problema dos que não veem. Peça aos jovens alunos para escrever sobre as suas vidas e as suas experiências. Quer seja uma visita à casa dos seus avós ou outra experiência fora da sala de aula, os jovens escritores escrevem melhor quando o fazem sobre algo que conhecem bem. Organize pequenos períodos para a escrita. As crianças com menos de 8 ou 9 anos podem ficar muito cansadas ao segurar o lápis ou um pedaço de giz, ao mesmo tempo que tentam manter a concentração na mensagem que querem comunicar. Escrever várias vezes, durante períodos curtos, é muito mais efetivo do que tentar escrever durante um longo período de tempo. Encoraje os jovens escritores a usar blocos de notas ou diários para os ajudar a melhor estruturar os seus pensamentos. A escrita num diário é importante, porque não é público. Para o escritor pode ser uma hipótese de escrever de uma forma mais livre. Assim, se pensa recolher e ver os diários das crianças, deverá dizer-lhes com antecedência. Dê aos escritores a possibilidade de rever a sua escrita. Os escritores profissionais podem passar até 85% do seu tempo a rever Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 76 o seu primeiro esboço. Em trabalhos de escrita para a turma, é importante encorajar os estudantes a escrever de forma livre, usando as suas próprias palavras. Eles deverão tentar expor tudo o que pensam de uma dada matéria. (A revisão é mais importante para os estudantes com idades superiores a 8 ou 9 anos que já começaram a escrever com mais naturalidade, de forma a expressarem-se melhor). Comente as suas ideias e a sequência das suas histórias. Mostre-lhes como se deve utilizar um dicionário para que possam aprender a corrigir os seus erros de ortografia, ou a fazê-lo com ajuda de um colega. Possibilite todo o tipo de escrita imaginável. Quando os alunos mais velhos escrevem sobre como resolveram um problema de matemática ou de ciências, ou como o tempo afeta a vida dos membros da sua família, estão a usar efetivamente a escrita como uma ferramenta. Publique os textos para os tornar mais significativos. Os textos das meninas e rapazes podem ser "publicados" nas paredes da sala de aula ou podem ser compilados em pequenos livros. Podem também ser partilhados com alunos de outras turmas, com as famílias e com a comunidade e amigos. Quando os alunos escrevem cartas para um líder da comunidade ou um convidado - o colocar questões, dar opiniões, ou um simples agradecimento da visita - eles têm a oportunidade de escrever sobre coisas que são importantes para eles e que têm uma finalidade e um interlocutor reais. Atividade Reflexão: Ensinar linguagem significativa Pense nas suas práticas de ensino e nas suas crianças. Quais as formas do uso da linguagem que recebem menos atenção nas suas aulas? Como pode melhorar esta situação? Proporciona que as crianças falem em conjunto, em pares e discutam em grupos de quatro? Como pode tornar a aprendizagem e o uso da língua mais interessante, relevante e significativa? Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 77 Uma ONG no Bangladesh, a trabalhar para o Working for Better Life (WBL), organiza debates de estudantes sobre os problemas que as crianças acham que são importantes e que afetam as suas vidas. Eles aprendem a debater; levantam os problemas; escrevem sobre eles (ou fazem desenhos e cartazes); e informam outras crianças mais jovens das suas escolas. Por vezes, os pais participam nos debates; por vezes os professores e escolas debatem entre si. Um grupo de estudantes conseguiu que os professores deixassem de fumar na escola e nas suas salas de aula! Baseado em artigos no http://www.workingforbetterlife.org/index.htm Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 78 Ferramenta 4.4 O que aprendemos? Conhecer o que é a aprendizagem e quem aprende Todas as crianças podem aprender, mas elas aprendem de formas diferentes e a ritmos diferentes. Como professores, precisamos de proporcionar oportunidades variadas de aprendizagem e experiências diversas para as crianças. As crianças aprendem ligando informação nova àquela que sabem de antemão. Isto tem o nome de construção mental. Também devemos ajudar os pais e outros prestadores de cuidados no apoio à aprendizagem das crianças, para que saibam ligar o que elas aprendem na escola com a sua vida familiar, assim como a ligação entre o que aprendem na sua vida familiar e o que estão a aprender na escola. Falar e colocar questões em conjunto (interação social) fortalece a aprendizagem. É por isso que, se bem organizados, os trabalhos em pares ou em pequenos grupos são tão importantes. Tentámos, ao mesmo tempo, perceber como as crianças aprendem a as barreiras que se levantam na aprendizagem. Uma das maiores barreiras é a autoestima baixa que reduz a motivação das crianças na aprendizagem e pode ter efeitos nocivos no seu desenvolvimento cognitivo e social. Pode-se promover a autoestima através de um melhor ambiente de aprendizagem, onde as crianças sejam elogiadas quando têm sucesso, onde seja encorajada uma cooperação amigável em grupo, onde as crianças saibam que se preocupam com elas e, finalmente, um ambiente onde exista interajuda. Lidar com a diversidade numa sala de aula Neste manual de apoio explorámos formas de elaborar um programa acessível e relevante para TODAS as crianças em termos daquilo que se ensina (conteúdo), a forma como se processa o ensino e como as crianças aprendem melhor (processo) e o meio em que as crianças vivem e aprendem. Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 79 Quando planifica as aulas é necessário pensar nestas 3 áreas: conteúdo, processo (métodos de ensino) e o meio. Referimos, também, as ameaças ao processo de aprendizagem e o bullying em particular. Não nos devemos esquecer que: As ameaças e o medo dos outros (professores, pais, e outras crianças) podem fazer com que a criança não aprenda; Diferenças como a etnia, religião e classe social podem ser utilizadas pelos bullies para justificar os seus atos; A observação é uma competência chave para qualquer professor; precisamos de observar as crianças durante o recreio e nas aulas, de forma a identificar relacionamentos sociais mais débeis entre as crianças que possam prejudicar a sua aprendizagem; Uma vez feita a avaliação da situação pelos professores, estes deverão agir de forma a prevenir oportunidades de bullying, em vez de reagir à situação depois de ela ter ocorrido. O preconceito e a discriminação são também barreiras à aprendizagem das crianças. Elas podem refletir-se de forma involuntária no nosso programa e nos nossos materiais de ensino. Pode ser o caso das meninas, assim como o das crianças com diferentes origens e capacidades. Também incluímos uma lista de verificação para detetar manuais preconceituosos. Será capaz de identificar nos seus manuais e materiais de aprendizagem situações preconceituosas ou discriminação involuntária? Que ações irá tomar quando encontrar situações desse tipo? Por exemplo, será capaz de elaborar figuras ou ilustrações novas? Pode proporcionar-se às crianças com dificuldades na aprendizagem condições ambientais para que elas aprendam a ajudar-se a si próprias. Tem consciência da problemática destas crianças que, por qualquer razão, têm dificuldades em aprender? Que ações pode tomar para as ajudar? Algumas necessitarão da compreensão e apoio das outras crianças, mas o objetivo é arranjar-lhes atividades de aprendizagem às quais possam facilmente aceder, sem terem de pedir a ajuda. Em muitos países, as crianças com VIH/SIDA ou aquelas que tem uma familiar atingido por essa doença, podem ser discriminadas. Sabe o que passa sobre o VIH/SIDA na sua comunidade? Discutiu assuntos sensíveis como este, com outros professores? Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 80 Criar uma aprendizagem significativa para todos A ideia chave deste manual de apoio é tornar a aprendizagem mais significativa para todas as crianças. Precisamos de tornar a aprendizagem significativa para que todas as crianças queiram ir à escola, estejam motivadas para aprender e saibam que o que aprendem é relevante para elas. Precisará de relacionar os problemas da sua localidade com o programa e os conteúdos que esteja a ensinar. Permita que as crianças usem na sala de aula o seu conhecimento e os conhecimentos que adquiriram dos seus pais. As atividades significativas abrangem o trabalho entre pares ou pequenos grupos fora da sala de aula, onde as crianças podem explorar e compreender o seu próprio meio. Tornar a aprendizagem significativa pode requerer uma adaptação do programa nacional para estar de acordo com o contexto da sua escola. Isto pode ser feito de forma mais efetiva através do trabalho conjunto com outros professores locais. Conseguiu adaptar os exemplos dos manuais e as atividades de forma a serem mais facilmente relacionados com a sua área local? As disciplinas mais importantes na escola são a matemática, as ciências e a língua. Pode motivar as crianças a quererem aprender estas disciplinas através do desenvolvimento e da prática de jogos. Jogos de matemática e jogos de língua podem fazer com que a aprendizagem seja divertida, assim como significativa. Se conseguir trabalhar com um grupo de professores ou de pais, será mais fácil conceber vários jogos a usar na sala de aula. A Matemática pode ser mais significativa através do uso de materiais práticos e da resolução de problemas comuns do quotidiano. Estes problemas podem estar relacionados com medidas e cálculos sobre a escola, em casa ou no mercado. Em ciências, as experiências concretas podem ajudar as crianças a compreender certos conceitos científicos. Ao aprenderem ciência os alunos podem praticar as suas capacidades de observação. Eles podem ser estimulados a colocar questões e a planear experiências de forma a explorar diferentes respostas paras as suas questões. Através da investigação do seu espaço local, as crianças podem ver qual o papel que a ciência desempenha na sociedade. Podem encontrar soluções Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 81 práticas para problemas da comunidade, ao mesmo tempo que aprendem importantes conceitos e competências científicas. Já alguma vez dedicou algum tempo para permitir que as crianças investigassem os problemas, em vez de simplesmente aprenderem as respostas do manual? Considerámos diferentes metodologias de ensino, tais como o “faça, fale, e registe” ou o “Pense, escreva, compare, partilhe.” Estas metodologias ajudam as crianças a interpretar as suas ideias em conjunto, melhoram a compreensão e aumentam a sua participação na aula. É capaz de utilizar várias metodologias de ensino nas ciências e na matemática? Tem materiais práticos na sua sala de aula que permitam às crianças explorar conceitos matemáticos e científicos? A Língua não é somente uma disciplina; são várias competências que as crianças precisam de dominar para acederem ao currículo e as ajudem a pensar e a aprender. Elas precisam de saber falar, ouvir, ler e escrever no maior número de situações possíveis. Nós podemos desenvolver essas competências em todas as disciplinas. Sente-se capaz de tornar a aprendizagem da língua significativa facilitando oportunidades para a sua aprendizagem nas aulas de ciência e matemática? Onde pode aprender mais? As publicações e páginas web seguintes são valiosos recursos na criação de salas de aula inclusivas. Publicações BAILY D, Hawes H and Bonati B. (1994) Child-to-Child: A Resource Book. Part 2: The Child-to-Child Activity Sheets. London: The Child-to-Child Trust. This is an excellent resource for activities that children can undertake in terms of understanding child growth and development, nutrition, personal and community hygiene, safety, recognizing and helping those with disabilities, disease prevention, safe lifestyles and understanding children in difficult circumstances. Council on Interracial Books for Children. (1980) Guidelines for Selecting Bias-Free Textbooks and Storybooks. New York. O’Gara, C and Kendall N. (1996) Beyond Enrollment: A Handbook for Improving Girls’ Experiences in Primary Classrooms. Washington, DC: Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 82 Creative Associates International, Inc. for the ABEL 2 Project, US Agency for International Development. Seel A and Power L. (2003) Active Learning: A Self-Training Module. Save the Children UK, London. Sharp S and Smith PK (Eds.). (1994) Tackling Bullying in Your School: A Practical Handbook for Teachers. Routledge. Swanson HL. (1999) Instructional components that predict treatment outcomes for students with learning disabilities: Support for a combined strategy and direct instruction model. Learning Disabilities Research and Practice, 14 (3), 129-140. UNESCO. Guides for Special Education. Paris. UNESCO (1993) Teacher Education Resource Pack: Special Needs in the Classroom. Paris. UNESCO (2001) Understanding and Responding to Children’s Needs in Inclusive Classrooms: A Guide for Teachers. Paris. UNESCO Asia and Pacific Regional Bureau for Education (2003) Gender in Education Network in Asia (GENIA) A Toolkit for Promoting Gender Equality in Education. Bangkok. Web Sites Bullying. No Way! http://www.bullyingnoway.com.au BULLYING—the no-blame approach. http://www.luckyduck.co.uk/approach/NoBlame-HowItWorks.pdf Bullying and gender. http://www.bullyingnoway.com.au/issues/gender.html Countering discrimination. http://www.esrnational.org/sp/we/end/ stereotypes.htm#prejudicesituations Diversity and disability. Inclusive Education Training in Cambodia. http://www.eenet.org.uk/key_issues/teached/cambodia_contents.shtml Gender in Education Network in Asia (GENIA) A Toolkit for Promoting Gender Equality in Education. Manual de Apoio para a criação de salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem Criar salas de aula inclusivas e amigas da aprendizagem - 83 http://www.unescobkk.org/gender/gender/genianetwork.htm#toolkit Meaningful, engaged learning. http://www.ncrel.org/sdrs/engaged.htm Multiple intelligences. Pathways to learning. http://www.thomasarmstrong.com/multiple_intelligences.htm. http://www.educationalvoyage.com/multiintell.html Partnership on Sustainable Strategies for Girls’ Education. http://www.girlseducation.org UNICEF Teachers Talking about Learning. http://www.unicef.org/teachers Working for Better Life. http://www.workingforbetterlife.org/index: