CENTRO SOCIAL CULTURAL e RECREATIVO ABEL VARZIM, FORUM ABEL VARZIM - Desenvolvimento e Solidariedade, e LOC/MTC - MOVIMENTO de TRABALHADORES CRISTÃOS COMEMORAÇÕES do 50.º ANIVERSÁRIO da MORTE do PADRE ABEL VARZIM Celebrações Nacionais «CERIMÓNIAS de ENCERRAMENTO» 16 de novembro de 2014 CRISTELO / Barcelos Conferência/Debate «ABEL VARZIM RETRATO VIVO do EVANGELHO» C. A. T. do Centro Social Cultural e Recreativo Abel Varzim Intervenção do Representante da Família, Adelino Mário Varzim Miranda A todos saúdo, e em particular ao Sr. D. Manuel Martins, pelas palavras que teve, que não me admiraram. Estou aqui com gosto e registo, com muita admiração, que tanta gente, após 50 da morte do Padre Abel Varzim, ainda decidiu vir aqui gastar o seu tempo, para ouvir falar dele. Também me apraz registar e agradecer, ou melhor, admirar as pessoas que deram inicio a esta homenagem ao Padre Abel. Começaria por recordar, que foi o Sr. Bispo, D. Serafim Ferreira da Silva, na altura Bispo de Leiria/Fátima, a primeira pessoa que levantou a sua voz, depois de dez anos de silêncio, para dizer que o Padre Abel (o Apóstolo da Justiça Social, o que ele não disse na altura, mas que usou a expressão “advogado dos trabalhadores), estava muito esquecido. Falou-me ao telefone, por indicação do Sr. Padre José Carvalho que me pregou duas partidas: indicar-me ao Sr. Bispo e depois ao Sr. Dr. João Gomes, com mais duas pessoas. O Padre Carvalho e o Sr. Bispo de Leiria, desafiaram-nos a fazermos uma corrida para encontrarmos elementos sobre o Padre Abel Varzim. Eu tinha muitos elementos na cabeça e também tinha alguns escritos, porque tinha por ele muita admiração. Outras pessoas têm de ser lembradas, como o Sr. Dr. Domingues Rodrigues que fez a biografia, trabalho precioso para que não se perca a obra do Pe. Abel. Também não posso deixar de expressar aqui a minha admiração à coragem, ao voluntariado, à competência das pessoas que, tão generosamente, dirigem o Forum Abel Varzim, e também às que tão sacrificadamente gerem e administram o Centro Social de Cristelo. Forum Abel Varzim Também agradeço ao António Miranda, pela partida que me pregou de me convidar para representar a família, talvez por ser o mais velho. Já disse tudo o que queria dizer sobre o que está para trás. Esqueci-me de falar em muitas outras, mas não é possível indicar todas. Registei que não estava cá, e tive pena, o Dr. João Gomes. Disseram-me que ele tinha sido internado por qualquer razão de saúde. Deus queira que não seja nada. E agora se falarmos um pouco sobre o Padre Abel Varzim. Eu preciso sempre de muito tempo para falar. Tenho muitas histórias sobre o Padre Abel Varzim. Provavelmente algumas pessoas que vão ter a paciência de me ouvir, já me ouviram, noutras alturas. O Padre Abel Varzim não morreu, deixou-nos. Quem disse isto foi o Professor Cruz Fontes, da Póvoa de Varzim, e disse muito bem. Já uns anitos atrás, Camões no seu poema épico disse “Aqueles que por obras valorosas, se vão da lei da morte libertando”. O Padre Abel Varzim, foi amigo de muita gente. Quem o procurou foi atendido da mesma maneira, com a mesma consideração, com a mesma dignidade, fosse ele rico, pobre, bêbado, desgraçado, etc. Eu sei disso por algumas provas, muitas testemunhadas por mim. Salvou muita gente de se suicidar, de se separar de casamento. Salvou muita gente de revoltas contra a Igreja e contra o Governo. Ele não tinha inimigos, tinha muitas famas, porque não perdia tempo a fazer o que tinha a fazer. E não tinha respeitos por regras que eram impostas, até pela própria Igreja. Passava-lhes por cima para atingir os objetivos. Eu não tenho nenhuma dificuldade em dizer isto sobre o Padre Abel, apesar de ser da família. Ao elogiar a vida inteira do Padre Abel Varzim, eu estou a prestar um serviço cívico e fazer um ato de cidadania, porque é preciso fazer isso, para que os bons deem exemplo aos outros. O Padre Abel Varzim foi um anjo na terra, um homem que lutou pelos trabalhadores. Quando veio de Lovaina, trazia na bagagem a marca da sua atuação. O berço foi bom. Através da sua mãe, em Cristelo, viveu um bom ambiente familiar. Também na Póvoa de Varzim onde tinha grande parte das suas raízes encontrou amigos e viveu um ambiente sadio. O seu pai era um armador de prestígio, com amigos influentes não só na Póvoa, mas em toda a zona norte. O Padre Abel Varzim não era um padre igual aos outros, apesar de ter lido pela mesma cartilha, estudado nos mesmos Seminários e recebido as mesmas ordens. Então em que é que ele era diferente de muitos? Ele voava mais baixo que os outros, rezava e actuava ainda mais. E voava baixo porque ele achava que Deus estava em cada homem e cada um tinha um sacrário dentro de si. Muitos não viam - como eu aprendi na minha catequese e nas minhas confissões - que a gente não vê Deus que tem dentro de nós, porque temos os espelhos sujos. Diziam-me que eram sujos do pecado. O Padre Abel achava que Deus estava nas pessoas, e depois nos altares. Isto é, depois de fazer o que deve ser feito pelo irmão, depois disso, Deus está nele com certeza. Ele tinha uma Fé enorme nisto e nunca deixava ninguém para trás. O Padre Abel não falava connosco sobre isso. E também nunca se queixou. As queixas que nós ficamos a saber que ele tinha foi por termos apanhado, depois dele morrer, uns livrinhos e uns papéis onde ele escreveu uns desabafos para não escandalizar ninguém nem a Igreja. Ele sempre serviu a Igreja com dignidade. Queria outra Igreja, queria outra atenção da Igreja. Teve muitas conversas com o seu amigo, Monsenhor Lopes da Cruz, que andou na escola com ele nas primeiras classes, por que era mais «ABEL VARZIM RETRATO VIVO do EVANGELHO» 2 Forum Abel Varzim velho. Ficaram amigos porque mesmo nas férias vinha para aqui, para Cristelo. Creio que Monsenhor Lopes da Cruz até o ajudou financeiramente. Mais tarde o Pe. Abel Varzim ajudou-o a fundar a Rádio Renascença. E disso eu já me lembro porque eu vivi paralelamente, com o Padre Abel Varzim 28 anos. Nunca vivi com ele, mas estive perto dele porque ele migrou para Lisboa após o Seminário, e depois foi para Serpa, para Beja, e depois para Lovaina, e finalmente para Lisboa. E naquela miséria, que havia por lá por Lisboa no tempo da Guerra, o Padre Abel tinha uma Fé enorme no Espírito Santo. E dizia, até por graça, aos amigos, como um deles me contou, um tio. O Padre Abel Varzim dizia, por graça, que tinha muita confiança no Espírito Santo porque este tinha dado muitas provas. Que tinha dois Espírito Santo, um que era o verdadeiro Espírito Santo e o outro que era o «Espírito Santo da PIDE», que era o homem do lápis azul, que não deixava pôr no jornal «O Trabalhador» citações do Evangelho. “Essa não, que é revolucionária”. Para terminar a Sessão vou abreviar, porque senão nunca mais acabava. O Padre Abel era uma lição para muita gente. Quem se chegava a ele sabia, em poucos segundos, que estava na presença de um homem são. Se era santo ou não, a Igreja há-de dizê-lo, ainda não disse. Agora vou fazer uma crítica. A Igreja, quanto a mim, privilegia para a atribuição de “Santo” aqueles que atuaram politicamente correto com a Instituição. O Padre Abel incomodou muito a Igreja, mas também a dignificou muito. E por isso é que a Igreja foi muito ingrata para com ele, porque ele fez uma Igreja nobre. O povo não vai esquecelo. Passaram-se 50 anos sobre a sua morte. Vamos aguardar. Ele é necessário hoje, já foi dito por muita gente. O profeta que ele era… No seu tempo já havia o liberalismo económico. Ele não condenava o capitalismo, mas para ele o liberalismo económico iria ser a desgraça deste país. O facto de os trabalhadores terem uma mentalidade escrava, dizia ele, é mau e é preciso mudar. Pôr-se de pé para saberem estar de pé perante os homens e perante Deus. Saberem da dignidade que têm, pois são eles que produziam a riqueza, por sua vez mal distribuída. O Padre Abel lutava pela distribuição correta da riqueza. Hoje há indivíduos, que não têm cara, que não têm rosto, e que fazem as crises para obter benefício disso. (Texto retirado de gravação - Editado) «ABEL VARZIM RETRATO VIVO do EVANGELHO» 3