Arduino Heitor Morando Brodowski, 09 de maio de 2011. Estamos aqui com o menino de Brodowski. Boa Tarde! Boa Tarde. Por favor, qual que é o nome do senhor, completo? Arduino Heitor Morando Senhor Arduino, qual é a idade do senhor? 73 anos, vou fazer 74. Senhor Arduino, quando o senhor pensa no Museu Casa de Portinari, o quê que vem a primeira coisa na cabeça do senhor, o que o senhor lembra, a primeira imagem que vem? Bem, eu lembro na época que eu era menino, eu tinha 10 anos na época, que o Candinho mandava a gente comprar as coisas pra ele, quando ele vinha aí, né? A dona Tata. Eu lembro muito do João Candido, que ele que me ensinou a andar de bicicleta, que não existia bicicleta aqui, o Candinho que trazia muita bicicleta. Então é o que a gente lembra. Na hora da comida que a dona Domingas me chamava. Eu de criança, à noite, a minha mãe, eu saía da escola, ajudava meu pai, à noite, a minha mãe vinha fazer crochê, tricô com a dona Domingas. Não morava aqui, morava ali embaixo. Eu fazia a lição da escola, então a dona Domingas colocava um tapetão ali pra mim, eu deitava ali, então quando minha mãe ia embora ela me chamava. Mas quando o Candinho vinha pra cá, aí minha mãe não ia, que a dona Domingas então ficava por conta do Candinho. Tudo que o Candinho queria..., Fazia. Fazia. Ah, tem lembrança boa daqui. Lembrava o tempo de, lembra o tempo de menino, volta...? Isso. Varria às vezes aí pra eles. Pra ganhar uma bala, dava volta de bicicleta. Senhor Arduino, com que cheiro o senhor se lembra do museu, o senhor relaciona o museu com algum cheiro? Aí naquela época que eu tinha 10 anos, tinha o cheiro meio de curral, assim, porque é, eles tinham ali embaixo, ali era um campo aí, né? Um cerradinho, onde o Candinho dava as voltas dele, e tinha duas vaquinhas, um boizinho, tava sempre lá limpando, ajudando e tal, né? Então vinha aquele cheirinho de curral, assim... E porque não era, não tinha essa, não tinha rua, né? Era um tempo mesmo, terra batida? É aqui era uma rua de terra batida, a praça era terra, tudo. Entendi. E tem um som, o cheiro o senhor falou que era, que o senhor sente o cheirinho de curral. E o som, alguma música, algum som, algum barulho, alguma coisa que lembra o museu? Não. Barulho não me lembro. Senhor Arduino, aconteceu alguma coisa na época que o senhor né? Viveu aqui na praça, viveu com a família. Aconteceu alguma coisa que o senhor se lembra, que alguma coisa interessante, alguma coisa curiosa que o senhor lembra, e fala nossa isso me lembra? Eu lembro muito, aliás, quando inaugurou o museu, na época eu era vereador também, né? O Senhor Mário Fabbri era o prefeito, e veio o Zancaner, veio muito político, né? Isso aí marcou. Foi muito bonito, a dona Domingas abrindo a fita ali, né? Bonito, foi bonito. O museu aí, quando passou a museu, foi bonito. Aquela festa toda? É aquela festa, é. Entendi. Qual que é, senhor Arduino, a assim, na sua opinião, essa importância do museu Casa de Portinari na vida do senhor, né? E a importância do museu pra cidade e para o cidadão brodowskiano? Ah, eu achava que eles deviam dar mais valor, o povo de Brodowski não dá muito valor ao museu. Isso aí, queira ou não queira, é o cartão de visita da cidade. Queira ou não queira, é o cartão de visita, eu acho que devia dar mais valor, ajudar mais. Entendi. Agora, senhor Arduino, conta uma coisa pra mim, como que o senhor se sente sendo o menino de Brodowski, como que, como que é isso, conta pra mim? Ah, hoje, hoje eu me sinto orgulhoso. Olha, todo lugar que eu vou, eu me sinto orgulhoso. Vê as revistas que a gente sai, você chega em algum lugar, “Ah Arduino, eu vi você na revista”. Outro recebeu a revista lá em São Paulo, aquela, a última revista que saiu aí, que caía só na mão de milionário, que você não encontra nas bancas, né? É, é difícil de achar. E, eu, um rapaz lá em São Paulo, ele falou “um milionário me deu essa revista, Arduino. Tem um negócio teu, lá da tua sua cidade”. Então quando ele viu aquilo lá, ele falou: “Arduino, me arrepiou”. Eu até fiz uma dedicatória na revista. E ele me mandou, ele trouxe a revista, que aqui do Flávio Prudente de Correia, dono da Ponto da Serra, da fazenda aí. Sei. E a gente fica orgulhoso. De tá sempre, né? De tá sempre aí, todo mundo... Como o senhor se sente quando o pessoal da mídia, assim, o jornalista, o pessoal que vem aqui fazer reportagem, senhor Arduino vem aqui fazer uma reportagem pra gente, como que é isso, como o senhor lida com isso, senhor Arduino? Eu acho... (risos). Eu acho bom. É bonito, é gostoso. Porque na época você não dava bola, na época mesmo que eu fiquei servindo de modelo pra eles três vezes. Uma vez em cima da mureta e lá na janela. Fazia um rascunho, qualquer coisa, e às vezes até sumia. Aí depois uma vez, soltando uma pipa aqui, ele me pôs no chão ajoelhado e, lá do portão ele... Fez. ...também não saí. Depois ele me pôs lá na cadeira onde hoje estão aquelas fotos do pai e da mãe dele. E ele sentou naquela muretinha quadradinha de azulejo ali, aí ali foi aonde eu saí. Mas na época você não dava bola. “Oh, fica aí, assim, não se mexe, e fica quieto”. Aí você ficava quieto. Isso pra uma criança, né, senhor Arduino? “Acabou?” “Acabou, pode ir brincar”. Ah, você nem dava bola. Já pensou se fosse hoje? Você ficava, você queria ver, você queria fazer, você queria ajudar, você queria fazer de tudo, né? É verdade. Na época não, na época você ia lá, te davam um dinheiro pra você comprar um doce, era assim. Que legal. Bom, senhor Arduino, obrigado pela entrevista do senhor, foi muito legal saber que o senhor foi um modelo ali, que viveu com o Portinari, né? Obrigado pela entrevista do senhor. Eu é que agradeço, bem. Estamos sempre às ordens.