CENTRO HISTÓRICO EMBRAER Entrevista: Flavio Rímoli São José dos Campos – SP Março de 2007 Privatização No final dos anos 80, já começava a se ver a crise, a percepção que se tinha era que a empresa estava inchada, mas não se sabia de onde vinha exatamente os problemas, não conseguia se determinar o problema, mas começava a ver que tinha muita gente por pouco resultado, mas a identificação do problema, não se conseguia ver. Nessa época, teve vários “Qualidade Total”, vários programas foram feitos internamente, mas nada que conseguisse configurar e determinar o que se tinha que fazer para fazer uma virada no jogo que, nós sabíamos, que estávamos começando a perder. O sindicato naquela época era percebido como um sindicato muito forte que tinha na Empresa, entrava na Empresa, realmente conseguia fazer greves, era uma época muito difícil. Quando começou a crise de demissão, o sindicato atuou contra as demissões, - lógico, era o papel dele –, mas a crise estava tão feia e a escassez de recursos, que não tinha outro jeito. O que foi marcante é como foram feitas as demissões. Na verdade, nós estávamos em casa e começou a passar numa telinha azul – a famosa telinha azul, tudo mundo que passou por isso, recorda –, “Que vocês ficam em casa, não vão trabalhar porque a empresa está se reestruturando” e daí começaram os boatos na cidade inteira. A cidade sempre viveu muito em função da Embraer, a Embraer sempre foi o termômetro de como a cidade estava boa ou não e isso já foi uma crise para a Embraer. Crise no comércio total, já começaram parar de aceitar cheque da empresa, porque não sabia quem ia poder pagar, quem não ia poder pagar, quem continuava empregado e, a 1 primeira demissão, acho que foi, não me lembro, mas foi 3 mil e poucos empregados, amplificava toda uma especulação para isso. A Empresa definiu rapidamente quem seriam os empregados – e rapidamente foi uma semana – as pessoas recebiam por telegrama “Você está demitido!”, então, foi um negócio realmente, talvez não tivesse outro modo de fazer, mas foi um negócio realmente chocante para os empregados e a comunidade. Então, aquela sensação que nós tínhamos de empresa grande, de trabalhar pela a Embraer – a gente brinca, quem entra na Embraer recebe um “aerococus”, um vírus que se instala e as pessoas não querem mais sair da empresa, vivenciam a aeronáutica e ficam vivenciando esse clima, que é tão peculiar no mundo aeronáutico –, nessa época, caiu um pouco, ou seja, os ânimos das pessoas caíram - as pessoas que ficaram tiveram que se desdobrar porque tinha um monte de funções que você tinha que fazer pelas outras e não tinha dinheiro, não tinha dinheiro para pagar os empregados. Então, era só uma luta constante. A credibilidade, também em função disso, no mercado caiu. A briga pelo mercado era muito grande, tinha muitas companhias – naquela época tinha Fairchild Dornier, tinha a SAAB – ou seja, nós tínhamos vários concorrentes, então, a credibilidade no mercado também caiu e os próprios pedidos de compra começaram a diminuir nesse período. E nós tínhamos a preocupação de continuar entregando aeronaves, mas também nós tínhamos crise, sem dinheiro, não tínhamos como pagar os nossos fornecedores, não tínhamos nem como pagar empregados e nem pagar fornecedores. Os fornecedores pararam totalmente de fornecer materiais para nós, e nós tínhamos, na época eu estava na gestão de contrato, tinha uma reunião de área, o que a gente tem que conseguir e como conseguir em termos de caixa, priorizar caixa, priorizar a produção, priorizar compras e que prioridade nós temos que 2 dar para o cliente para poder entregar os aviões. E cada entrega de aviões, significava entrada de caixa que podia aliviar, pelo menos um pouco, o problema da Empresa. E, nós chegávamos, muitas vezes, a pedir para o nosso cliente que ele viesse com uma peça para poder completar o avião dele, para poder entregar o avião para ele. Então, nós tínhamos vários clientes, nós pedíamos e, as vezes, vinha até na mala do piloto, ele vinha com o equipamento para na hora você instalar, fazer o voo de aceitação e fazer a entrega da aeronave. Então foi um período muito difícil onde você procurava os colegas que você tinha perdido, lógico, eram todos profissionais, tínhamos que continuar a Empresa, sabíamos que isso tinha que ser feito, mas o processo que foi feito, foi um processo realmente traumático para muita gente, pelo entendimento, pelas escolhas, mas era uma coisa que tinha que ser feito naquela época. Então, esse foi o começo dos anos 90 que causaram um estremecimento muito grande e várias demissões sucessivas, em função disso e até que teve a privatização. Foi um processo longo para quem estava aqui dentro, foi realmente preocupante, você não tinha recursos, você não tinha visão do que ia acontecer, o over não tinha mais como investir dinheiro, tinha outras prioridades, não tinha como investir na empresa, se não havia dinheiro do governo, tínhamos que ter alguém que tivesse um pensamento de como empresariar esse negócio, que é o que viria acontecer com a própria privatização. Aviação Comercial O programa 170 (EMBRAER 170) levou a Embraer a outro patamar de atendimento ao mercado. O que nós tínhamos do 145 (ERJ 145) - 3 tinha um mercado regional que atendia também as grandes linhas aéreas - o patamar já modificou. Inicialmente, a previsão era para atender mais ao mercado regional, mas o próprio programa, após modificações da legislação americana, levaram o 170 ao nível de serviço que, talvez, no início, não fosse tão percebido, mas que trouxe para a Embraer também, um nível de exigência muito maior que o próprio programa 145. Então, o nível de exigência, seja de contrato, seja de negociações, começamos a negociar e a buscar negociações com as próprias grandes companhias: negociações com Northwest, negociações com a Alitália que já foi comentado, com outras companhias de grande porte que eram enormes. Então, isso trouxe também um grande desafio para nós, de superação em termos de aprendizado, de melhoria e de qualidade cada vez mais de serviços de atendimento ao cliente, mesmo do processo de desenvolvimento de interação com o cliente, foi um processo muito maior do que o processo que tivemos no 145. Então, colocou a própria Empresa, pela própria exigência num outro patamar de atendimento, num outro patamar de sofisticação de seus produtos. Então, é sempre um novo desafio, sempre um novo aprendizado com o programa 170. 4