Era uma vez uma árvore muito grande que
não tinha folha nenhuma. Não ter folha nenhuma
era, embora pareça o contrário, até muito natural,
pois o tempo era de pleno inverno. Os seus ramos e
pequeninos galhos estendiam-se pelo espaço fora,
a desenhar graça nenhuma.
O inverno faz destas coisas, mas lá tem as
suas razões. E também os seus ventos e
tempestades.
Esta árvore de que estamos a falar, não
gostava nada de ventos nem de tempestades.
Tinha medo dos relâmpagos que, em noites de
trovoada, a iluminavam toda, e tinha medo dos
raios que ameaçavam rachá-la a toda a altura.
O inverno metia-lhe realmente uma certa
confusão.
Quando chegava a primavera, as coisas
mudavam de figura. Começavam a despontar-lhe
nos braços pequeninas pulseiras de folhas verdes e
tenrinhas que nasciam enroladas mas, a pouco e
pouco, se iam desenrolando ao calor do Sol. E
quando ela menos esperava, estava coberta de
milhares de folhas a cantar.
- Então as folhas cantam? – já me parece
ouvir tantas vozes a perguntar.
- Não, as folhas não cantam. Mas escondidos
entre as folhas novas, cantam os passarinhos que
poisam nos seus ramos de árvore forte, cantam
mais baixinho os que ainda não saíram dos seus
ninhos nos galhos baloiçantes.
Já não tinha medo de nada, esta árvore.
Com a chegada do verão, os ninhos vazios
foram secando, e muitos caíram na terra gretada
e seca. As folhas aprenderam a agarrar-se com
toda a sua força ao pequenino lugar onde tinham
nascido, e assim se foram aguentando.
Havia nesta árvore, uma folha muito
especial: era uma folha larga e finalmente
recortada, que parecia estar sempre a rir para
tudo e para todos. Ela lá teria as suas amarguras,
mas o certo é que não as mostrava a ninguém.
Tinha sido das primeiras a empalidecer, no verão.
Mas gostava de viver e de conviver com as outras,
em dias de ventania, era ela quem fazia as pazes
entre todas.
Ora quando chegou o outono, a árvore
começou a ficar mais despenteada, mais despida,
naquele ano muito mais triste.
No chão, junto do seu tronco enorme que
parecia brotar da terra com a força de uma rocha,
uma camada de folhas secas dormia
silenciosamente.
Já, uma a uma, haviam tombado as folhas
desta árvore. Todas menos uma: a tal folhinha
muito especial.
No seu íntimo, ela sentia que era capaz de
aguentar a passagem daquele outono recémnascido, e depois a bravura do inverno que
haveria de chegar, e depois a aparição da nova
primavera, e depois a quentura de outro verão, e
depois…
- «Donde virá tanta força que eu sinto?» perguntava ela a si própria.
De repente, lembrou-se das suas irmãs folhas
que já ali não estavam a seu lado. Lembrou-se das
alegrias e dos ninhos que tinham vivido ao mesmo
tempo. Lembrou-se de tudo o que de bom tinha
acontecido quando estavam todas juntas e a
gostar de viver na companhia umas das outras, e
sentiu-se agradecida. Por tão belas coisas para
recordar.
Devagarinho, abriu as suas pequeninas mãos de
folha e deixou-se cair suavemente.
Maria Alberta Menéres, “A folha agradecida”, in A
Gaveta das Histórias
ANO: _______________ TURMA: _________________
PROFESSOR-LEITOR: ____________________________
Texto convertido pelo conversor da Porto Editora, respeitando o Acordo Ortográfico de
1990.
Quinta-feira,
8 de março
Todos os dias
Caro colega,
No âmbito das comemorações da Semana da
Leitura 2012, a Equipa da Biblioteca vem
solicitar-lhe que, caso não prejudique as
atividades que tem programadas, leia aos
alunos o texto que se segue.
Após a leitura, agradecemos que assine o
documento para evitar duplicações
Grata,
A equipa
Download

Era uma vez uma árvore muito grande que não tinha folha nenhuma