CAPA Você chegou a estudar música? Não estudei, não tinha grana. Fui traba- Você também apresentou o Ecoprático, que continua a ser reprisado. Já tinha alguma relação com a sustentabilidade? lhar fora com 14 anos, no Mc Donalds, e nun- Não radicalmente. Eu já separava lixo, tinha lâmpadas econô- ca mais parei. Apesar de não ter nada a ver micas e usava água da chuva para lavar quintal. E foram coisas que com música, foi superimportante porque eu aprendi com meus pais, há mais de 15 anos. Como a gente sempre tinha uma relação de independência com as teve cachorro, minha mãe tinha panela e galões para pegar água coisas, tinha meu dinheiro, ajudava minha da chuva e lavar o quintal. A gente tomava banho em cima de uma mãe a pagar uma conta de luz. E priorizei bacia que, depois, ficava no canto para você jogar isso porque comecei a gostar de ser inde- a água no vaso e dar descarga. Quando a Rubi era pendente, de ter o meu dinheiro. Abri mão bebê e tomava banho na banheira eu fazia isso; de estudar e isso nem foi consciente. Com guardava a água da banheira para usar no vaso. meus pais sempre foi muita dureza, no limite. Então, aprendi várias coisas assim. Mas nunca fui radical. Por outro lado, tem muita coisa E a televisão, como entrou na sua vida? Teve um espetáculo chamado Banquete dos Mendigos e convidaram artistas para de- que não consigo mais deixar de fazer, como reaproveitar comida e comprar produtos com menos embalagem possível. clamar os artigos da Declaração Universal dos Direitos do Homem. Meu pai foi convidado Estar na televisão é fundamental? para fazer um dos artigos e não quis falar, só Eu não sei se a televisão é tão impor- tocar. Então ele me convidou. Ele e o Herme- tante assim. E acho que vai muito do to Pascoal tocando e eu declamando o artigo. que a pessoa quer. Se você quer ser o Gostaram e me convidaram para um trabalho Luan Santana, com certeza é importante. no Itaú cultural que chamava Quarta Pop. Era em formato de programa de televisão, mas Você esteve à frente do projeto Caixa não era televisionado. Fui fazer e esse proje- Preta, que relançou os discos de Itamar to virou o Guerrilha, programa da TV Cultura Assumpção. Como foi esse trabalho? que eu apresentei. Tudo aconteceu sem muita programação, mas eu gosto muito. Meu pai já tinha esse projeto, que era o relançamento dos discos dele numa caixa que chamaria Caixa Preta. Quando ele fa- Hoje você apresenta o Manos e Minas, um leceu, aquilo ficou na cabeça. A gente que- programa de hip hop. Já tinha relação com ria fazer porque não tinha disco dele em loja esse tipo de música? nenhuma. Eu e minha família começamos a Sempre admirei a cultura hip hop. Musical- correr atrás das masters dos discos, até por- mente não tenho nada a ver. Na verdade, não que precisamos fazer isso para o inventário, faço parte de nicho algum. Mas é interessante que, no caso dele, foi um inventário de obra. porque é uma cultura de resistência e estou Nesse processo, decidimos fazer aquilo que conhecendo o trabalho de bandas muito le- ele queria tanto, e que é tão digno. gais. Tem muita gente que já lançou quatro discos e você nunca ouviu falar porque está na periferia e ninguém conhece. 30 Revista do Tatuapé \\ Abril 2011 Gostou da matéria? Comente pelo twitter @revistatatuape ou pelo e-mail [email protected]