CAPA Copa digital ou analógica? Cinco capitais brasileiras terão de assistir aos jogos do Brasil em imagens analógicas, porque as transmissões digitais ainda não estão disponíveis. Nas outras 22, resta a dúvida: o que é preciso para receber o sinal digital? S omos o país que mais vezes venceu a Copa do Mundo de futebol. No nosso primeiro título mundial, em 1958, a televisão era uma “criança”. Tinha chegado ao país apenas oito anos antes. As limitações eram inúmeras: imagem em preto e branco, chuviscos, sombras, som de qualidade ruim e, claro, a transmissão não era ao vivo. Os jogos realizados na Suécia chegavam aqui com alguns dias de atraso, graças a um recurso em que a gravação era feita a partir da geração direta das imagens em uma TV com boa resolução. Pouco mais de 50 anos depois, 54,7 milhões de domicílios possuem TV (o que representa 95,13% da população), de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). E os recursos disponíveis atualmente nem se comparam aos anteriores, pois garantem alta qualidade de imagem e som. Hoje, na era digital, a altíssima definição já é uma possibilidade. Mas resta a dúvida: teremos acesso a essa tecnologia em nossas casas? Depende. Se vivermos em uma das 70 cidades que já possuem infraestrutura para captar e transmitir os sinais digitais enviados pelas emissoras, sim, desde que tenhamos uma TV com conversor acoplado ou compremos um para instalar no televisor que já temos em casa. O conversor nada mais é do que um aparelho que “abre os pacotes de códigos digitais” enviados pelas torres de transmissão e os transforma em imagens. A TV PRECISA TER Funciona assim: a emissora pode gravar o programa de forma analógica ou digital. Por exem- TV digital X TV de alta definição Não confunda! O termo TV digital (ou Sistema Brasileiro de TV Digital) não se refere especificamente ao aparelho. Trata-se de uma tecnologia de transmissão de sinais diferente da do sistema analógico. Ela depende de três requisitos básicos para funcionar (gravação digital, infraestrutura e aparelho digital em casa). Já a TV de alta definição (high definition ou HD, em inglês) é o próprio aparelho televisor que tem a resolução HD (seja ele Ready ou Full HD). plo, todos os jogos da Copa serão gravados em tecnologia digital e exibidos com essa qualidade pelas redes Globo e Bandeirantes, as duas emissoras abertas com permissão para transmiti-los. O analógico, em um exemplo bem simplificado, seria o aparelho de fita cassete usado para gravar voz. O digital seria o MP3 e seus sucessores. Já na gravação, portanto, o digital consegue produzir mais sinais (sejam eles imagens ou sons) e com melhor qualidade. Após isso feito, a emissora vai transmitir o programa para os telespectadores. Mas para isso é “O conversor nada mais é do que um aparelho que ‘abre os pacotes de códigos digitais’ enviados pelas torres de transmissão e os transforma em imagens” TV digital: vantagens e desvantagens Vantagens: Melhor definição: imagem da melhor qualidade possível e som sem falhas. ● Múltiplos canais e programas: até seis canais na mesma faixa de frequência empregada por um canal analógico. Possibilita a transmissão de mais de um programa simultaneamente ou de diferentes tomadas da mesma cena. ● Interatividade: é um recurso que ainda não está disponível. Quando chegar, mais informações poderão ser disponibilizadas, tais como menu, dados sobre os programas, detalhes de jogos e filmes etc. Além disso, ligando-se a TV a um serviço de banda larga, por exemplo, será possível interagir com a emissora ou com o provedor que disponibiliza o conteú- EVANDRO LIMA ● 16 Revista do Idec | Maio 2010 do. A interatividade depende de um tipo de software capaz de fazer essa interface. No Brasil, esse programa chama-se Ginga e está em fase de teste e implementação. Desvantagens: A pesquisa feita pela Century do Brasil e divulgada no meio do ano passado mostrou que o principal problema da TV digital ainda é a falta ou as falhas de sinal, segundo avaliação dos consumidores. Foram consultados moradores das cidades de São Paulo, Campinas e Rio de Janeiro, onde a nova tecnologia já está disponível. De acordo com a pesquisa, 55% das pessoas que utilizam a TV digital reclamaram do congelamento das imagens, problema que pode ocorrer por falhas na transmissão do sinal. Revista do Idec | Maio 2010 17 preciso criar infraestrutura para a transmissão digital, tarefa que cabe ao governo, e adaptar a estrutura das emissoras, como antenas, torres e redes de cabos. A terceira etapa depende do consumidor – e de quanto ele quer ou pode gastar. Isso porque a sua casa também precisa estar preparada para receber o sinal digital, que é captado por meio de um conversor que pode vir acoplado em alguns aparelhos ou ser comprado separadamente. Se uma dessas etapas – gravação em digital, infraestrutura para transmissão e aparelhos digitais em casa – não for cumprida, o que será visto na telinha serão os sinais analógicos. Para os assinantes de TV paga uma boa notícia: é bem provável que as operadoras de TV por assinatura, ao disponibilizarem seus programas em sinal digital, troquem os conversores analógicos por digitais. Esse é um direito do consumidor! Para dar uma mãozinha aos consumidores, o Idec elaborou um miniguia com os principais pontos que devem ser observados na hora de comprar um televisor. TIPOS DE TV ● Tubo: os aparelhos grandões e “gordinhos” que a maioria dos brasileiros ainda tem em casa até podem transmitir sinais digitais – quando um conversor é ligado a eles –, mas a definição, mesmo que o aparelho tenha tela plana, nunca será como as dos modelos mais modernos de LCD e plasma. ● LCD: esse tipo de tela possui iluminação traseira, feita por uma lâmpada fluorescente através da tela de cristal líquido. É a melhor tecnologia para telas pequenas e boa opção para ambientes claros. Suas vantagens são o brilho da imagem, o baixo consumo de energia e a capacidade de não refletir a luz ambiente. Os pontos negativos são o con- A televisão chega ao Brasil trazida por Assis Chateaubriand, que fundou o primeiro canal, a TV Tupi. A TV Globo do Rio de Janeiro inicia suas transmissões. A Rede Bandeirantes vai ao ar pela primeira vez, em São Paulo. A Copa do Mundo do México é o primeiro evento a ser transmitido em cores no Brasil, mas a maior parte da população “torceu em preto e branco”, pois não possuía aparelho em cores. Ocorre a primeira transmissão oficial em cores: a cobertura da festa da uva de Caxias do Sul (RS). Entra no ar a primeira rede de TV por assinatura — a TVA. Por meio do Decreto no 5.820/2006, o Brasil escolhe o padrão japonês de TV digital e informa os critérios técnicos para a implementação da tecnologia no país. Começa a transmissão da TV digital no Brasil, inicialmente na cidade de São Paulo. A Copa do Mundo na África do Sul será a primeira a ser gravada e transmitida em sinal digital. A partir desse ano só serão outorgados canais para a transmissão em sinal digital. Fim das transmissões analógicas. A partir desse ano todos os brasileiros precisarão ter uma TV compatível com o sinal digital. FOTOS IDEC CAPA traste, que não é tão bom quanto nas de plasma, e o ângulo de visão limitado (se o telespectador se afastar do centro da tela não terá boa visão). Um dos tipos de tela de LCD é a com iluminação por LED. Sua definição tem luz intensa, consome menos energia e o nível do contraste pode ser programado, o que significa uma definição melhor que a de LCD convencionais. ● Plasma: possui um gás localizado entre duas placas de vidro. Quando uma corrente elétrica passa pelo gás, ele é excitado e passa para o estado de plasma, gerando luz. Essa tecnologia costuma ser encontrada em TVs de tamanho bem grande – no mínimo 42 polegadas – e é ótima para ambientes escuros, pois as imagens têm Televisores Full HD (1.920 X 1.080 pixels) com entradas HDMI e conversor para TV digital embutido (DTV) LG Samsung Philips Semp Toshiba Sony LCD – Scarlet II 42LH70YD – 42” LCD – série 5 LN40B530 – 40” LCD – série 7000 PFL7404D – 42” LCD – XV600da – 42” LCD – KDL EX505 - 40” Preço médio (R$) Consumo energia (W) Preço médio (R$) Consumo energia (W) Preço médio (R$) Consumo energia (W) Preço médio (R$) Consumo energia (W) Preço médio (R$) Consumo energia (W) 3.832,33 270 2.617,00 198 3.449,00 220 3.199,00 185 3.599,00 170 Plasma – 50PS80BD – 50” Plasma – PL 50B650 – 50” LCD – série 7000 52 PFL74040D – 52” LCD – 52XV 550 DA – 52” LCD – Bravia KDL 52W 5100 – 52” Preço médio (R$) Consumo energia (W) Preço médio (R$) Consumo energia (W) Preço médio (R$) Consumo energia (W) Preço médio (R$) Consumo energia (W) Preço médio (R$) Consumo energia (W) 5.324,00 381 4.699,00 420 5.546,50 280 5.299,00 252 6.482,33 300 LCD – Scarlet 70YD – 52” LCD – Ln52B550K1VXD – 52” Preço médio (R$) Consumo energia (W) Preço médio (R$) Consumo energia (W) 7.999,00 350 6.299,00 270 O levantamento de preços foi realizado entre os dias 28/04 e 3/05 nas lojas virtuais mais bem avaliadas segundo o ranking da E-bit (acesso em 7/4/10): Ponto Frio, Extra, Magazine Luiza, Carrefour e Americanas. Muitos modelos não estavam mais disponíveis em estoque, sobretudo os de plasma de 50” Na pesquisa de preços realizada nas cinco lojas virtuais, não encontramos variação muito significativa dos preços dos mesmos modelos, mas ela pode ocorrer entre modelos e marcas. Uma TV de tela tipo LCD de 42” da Semp Toshiba pode custar 83% do preço de uma do mesmo tamanho da marca LG; ou, ainda, uma TV de 40” da Samsung chega a ser 27% mais barata que uma de tamanho igual da marca Sony. Se considerarmos a variação de preço entre aparelhos de 40” e 42”, cuja diferença da tela é desprezível, a economia pode ser significativa: a TV da Samsung custa 31% a menos que a da LG. Nos modelos de LCD maiores, de 52”, as variações podem ser ainda mais importantes: um modelo da LG pode custar 44% a mais que um aparelho da Philips. Outro aspecto a se considerar na escolha entre os tipos de tela é o consumo de energia dos aparelhos. Muito embora as TVs de plasma estejam se tornando cada vez mais econômicas, ainda gastam mais. Essa distância tende a aumentar agora que estão chegando ao mercado os aparelhos do tipo LED (variação da tela de LCD convencional), ainda mais econômicos. Talvez por essa razão, os preços das TVs de plasma de 50” – comparáveis em tamanho aos aparelhos de 52” de LCD – sejam mais atraentes hoje que há certo tempo. A TV de plasma de 50” da Samsung chega a custar 74% do preço de um aparelho de 52” da mesma marca ou 58% do preço de um modelo de 52” da LG. Obviamente, o consumidor escolherá seu aparelho não apenas em função do preço, mas muitas vezes pela marca de preferência. Mas a velha dica de fazer uma boa pesquisa prévia continua valendo. Fontes: websites da TV Gazeta <www.tvgazeta.com.br> e da Info Escola <www.infoescola.com> 18 Revista do Idec | Maio 2010 Revista do Idec | Maio 2010 19 FAZENDO JUSTIÇA CAPA TAMANHO DA TELA É importante ter em mente que o tamanho do aparelho não está relacionado à resolução, ou seja, uma TV grande não tem, necessariamente, melhor resolução que uma pequena. RESOLUÇÃO Não é só olhar para a TV e achar que ela combina com a sala. Observe bem qual a sua resolução. Em ordem crescente de qualidade, estão: Standard Television (SD), High Definition (HD) e Full High Definition (Full HD). Entretanto, independentemente da resolução, qualquer TV precisa de um conversor acoplado para transmitir o sinal digital. Fique atento a isso! ENTRADA HDMI Se o aparelho não tiver um conversor acoplado, será preciso comprar um. Para conectá-lo à TV as entradas de ambos precisam ser compatíveis. A entrada HDMI é a mais comum nos Opinião de especialista A REVISTA DO IDEC conversou com o engenheiro e pesquisador-chefe do Laboratório de TV Digital da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Gunnar Bedicks, sobre a situação atual da TV digital no Brasil. Confira trechos da entrevista. Idec: Algumas capitais não terão acesso à TV digital na Copa do Mundo. O Brasil está caminhando devagar na implementação dessa nova tecnologia? Gunnar Bedicks: Em nenhum outro país a implementação foi tão rápida quanto está sendo aqui no Brasil. Hoje são 80 milhões de brasileiros com acesso à TV digital. Em nenhum outro país também se vendeu tantos aparelhos de TV na fase de implantação quanto aqui. Se continuar nesse ritmo, em cinco anos vamos ter substituído todo o parque de televisões analógicas. Idec: O consumidor que quer ver a Copa em sinal digital deve comprar um conversor ou uma TV com conversor acoplado? Qual o melhor? GB: O conversor não transforma a TV analógica [sem conversor] em imagem de alta definição, porque nesses aparelhos a definição será sempre de 480 linhas (enquanto nos novos modelos de plasma e LCD pode chegar a mais de 720). Quem quer investir em alguma coisa, tem de ser numa TV compatível com o sinal digital, e não no conversor. 20 Revista do Idec | Maio 2010 Capitais analógicas Maceió, Rio Branco, Macapá, Boa Vista e Porto Velho são as cinco capitais que terão de ver a Copa do Mundo da África do Sul com sinal analógico. Havia promessas de que nenhuma cidade ficaria fora da transmissão digital até junho, quando começa o campeonato, mas o cronograma está atrasado. Há até boatos de que o final da implantação, previsto para 2016, pode demorar um pouco mais. televisores compatíveis com a tecnologia digital e deverá ser o padrão nos próximos anos. Por isso, vale a pena dar preferência a produtos com esse tipo de entrada. POTÊNCIA DE ÁUDIO Varia de 14 W a 20 W. Os aparelhos aptos a receber o sinal digital terão som sem qualquer chiado ou ruído. CONVERSOR INTERNO A partir de 2016, a única maneira de ver programas de televisão será por meio de aparelhos que recebam o sinal digital. Se a sua TV é nova e você não pretende trocá-la tão cedo, o jeito é comprar um conversor. O Idec avaliou o preço em algumas lojas e encontrou aparelhos entre R$ 200 e R$ 650, das marcas Semp Toshiba, Sony, Proview, Cromus e Century. Se a ideia é trocar de TV, opte por uma que já venha com o conversor acoplado. CONSUMO DE ENERGIA Para decidir que modelo comprar, leve em conta o gasto de energia e compare aparelhos de diferentes marcas. A economia na conta de energia elétrica pode ser grande. “O consumo varia de acordo com o modelo. Um televisor mais leve, fino e com tela de LCD geralmente consome menos que um de plasma, por exemplo”, explica Guilherme Varella, advogado do Idec. Saiba mais: Veja outras informações sobre TV digital nas edições no 96 (fevereiro de 2006), no 113 (agosto de 2007), no 117 (dezembro de 2007) e no 135 (agosto de 2009) ou acesse o site oficial da TV digital brasileira <www.dtv.org.br> Dinheiro ou cartão de crédito? STJ proíbe posto de combustível do Rio Grande do Sul de diferenciar o preço de acordo com a forma de pagamento. Idec comemora a decisão S e você conhece algum estabelecimento comercial que cobra mais caro quando o cliente opta por pagar o produto ou serviço com cartão de crédito, saiba que essa prática fere o artigo 39, I, do Código de Defesa do Consumidor (CDC), pois implica desvantagem onerosa ao consumidor. Felizmente, em março último o Superior Tribunal de Justiça (STJ) tomou decisão favorável aos consumidores. Pelo menos aos que abastecem seus veículos em um posto de combustível do Rio Grande do Sul, que foi proibido de cobrar preços diferenciados para pagamentos em dinheiro e em cartão de crédito não parcelado. Se desrespeitar a norma, o posto terá de pagar multa de R$ 500 por dia. O caso chegou ao Poder Judiciário por meio de ação coletiva promovida pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul. Todos os ministros da Terceira Turma entenderam que o pagamento efetuado com cartão de crédito é pagamento à vista. O Idec concorda com a decisão e comemora, pois segundo a advogada do Instituto Maíra Feltrin Alves ela “ressalta os aspectos principais que justificam o cartão de crédito como forma de pagamento à vista”. Para o ministro Massami Uyeda, relator do recurso no STJ, a prática de preços diferenciados de acordo com a forma de pagamento é abusiva, pois o consumidor já paga à administradora uma taxa para utilizar o cartão. Além disso, oferecer a opção de pagar com cartão de crédito é escolha do empresário e não deixa de ser uma estratégia para atrair mais clientes. PODE VIRAR LEI O Projeto de Lei do Senado (PLS) no 492/2009 pretende alterar o CDC “para permitir a fixação de preço diferenciado na venda de bens ou na prestação de serviços pagos com cartão de crédito em relação ao preço à vista”. Ele é do senador Adelmir Santana (DEM/DF) e se encontra na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) aguardando parecer do relator, o senador Roberto Cavalcanti (PRB/PB). Após apreciação, o projeto seguirá para a Comissão de Meio Ambiente e Defesa do Consumidor (CMA). PHOTOS.COM/MONTAGEM IDEC mais contraste e o ângulo de visão é maior que nas TVs de LCD. Um dos problemas dessa tecnologia costuma ser o alto consumo de energia (maior que o das de LCD). Revista do Idec | Maio 2010 21